3. Folhas de
OUTONO Confesso que no instante que vi
aqueles capatazes esperando por nossa
chegada, meu coração gelou
rapidamente, era como se estivesse
morrido por alguns segundos.
Os homens então pedem por
explicações, confesso que não me vinha
nenhuma desculpa em mente, estava tão
apavorada, mas para minha
surpresa, Sean assumiu a culpa, dizendo
que ele havia escapado e que eu, havia o
seguido para trazê-lo de volta
4. Folhas de
OUTONO
. Por que será que Sean havia
feito aquilo? Éramos completamente
desconhecidos e nem podíamos dialogar
direito, ele havia me protegido, ao
contrario de minha mãe, que me deixou a
mercê da exploração de Kennedy
Mackenzie, mesmo me conhecendo
desde sempre.
Os capatazes acabam por
acreditar na versão de Sean, e os levam
para perto do fogão a lenha, que ficava
em nossa senzala.
5. Folhas de
OUTONO Lá, os capatazes enchem uma
grande panela de água e dentro
dela, colocam meia dúzia de ovos para
cozinhar.
Todos, principalmente
eu, sabíamos que Sean seria punido por
sua fuga, mas não sabíamos que seria de
forma tão horrenda.
6. Folhas de
OUTONO Após cozinhar na água
fervente, os ovos são retirados e postos
dentro de um pequeno vasilhame, após
isto, um capataz segura Sean em seus
braços, enquanto o outro coloca os ovos
cozidos dentro de sua boca, queimando-a
tanto por fora quanto por dentro.
7. Folhas de
OUTONO Confesso que no mesmo
instante, uma grande parcela de culpa
toma meu peito, aliás, ele estava pagando
por uma coisa que não havia feito
sozinho, mas a falta de coragem me
impediu de me impor e confessar minha
culpa.
8. Folhas de
OUTONO Após isto, Sean fica jogado no
chão, tomado pela dor causada pelos
ferimentos em seus lábios, todos deixam
o local, com medo de sofrerem o
mesmo, mas eu fico junto a ele, tentando
lhe oferecer algum conforto, algo
impossível para a ocasião.
9. Folhas de
OUTONO Infelizmente, sou impedida de
permanecer ali por mais tempo, então sou
retirada as forças pelos capatazes e
obrigada a voltar ao trabalho.
A culpa me doía profundamente,
principalmente ao Lembrar-se da terrível
cena da tortura que Sean havia passado
há poucos minutos atrás.
10. Folhas de
OUTONO O dia passa normalmente e a
noite chega para possibilitar nosso
descanso. Corro em direção a senzala a
encontro de Sean, ainda deitado sobre o
chão, com febre causada pela dor de
suas feridas.
Para ajudá-lo, pego um pequeno
pedaço do pano de minha saia, molho, e
coloco sobre seu rosto, ele me responde
com um singelo sorriso, como forma de
agradecimento
11. Folhas de
OUTONO _Por que fez aquilo? Defender-
me diante deles? – Questiono
_Gostar, você, não sofrer por
culpa minha – Responde Sean, com seu
português meio desajeitado, relutando
contra a dor. Confesso que no mesmo
momento, meus olhos se encheram de
lagrimas, confesso que aquela
demonstração de carinho – que não
recebia há muito tempo – me emocionou
muito.
12. Folhas de
OUTONO Os dias, semanas se passaram e
os ferimentos de Sean já haviam se
curado completamente. A cada dia que se
passava, nossa amizade se
fortalecia, fugíamos todas as noites –
claro, tomando mais precauções – para
mergulharmos no rio, era algo tão
maravilhoso, aquela breve sensação de
liberdade, era algo tão
incrível, inexplicável em palavras, que só
eram sentidas pelo corpo e alma.
13. Folhas de
OUTONO Não havia duvidas que Sean
havia me atingido com um intenso sopro
de vida, eu era apenas uma casca seca e
oca, mas Sean mudou isso, com uma
única atitude, mostrar-me a felicidade que
deveria ter por ser criança, parar de me
preocupar com coisas que não dizem
respeito a uma garota de sete anos.
Confesso que o invejava, passava por
situações semelhantes as minhas – e até
piores – e mesmo assim não perdia a
ingenuidade e a alegria de viver.
14. Folhas de
OUTONO Aos poucos ia aprendendo com
Sean a ter fé e esperança novamente, as
coisas pareciam ter melhorado.