O documento discute a origem do universo segundo a visão bíblica e científica, abordando tópicos como cosmogonia, antropogênese e catastrofismo. O objetivo é fazer uma reconstrução histórica dos eventos descritos em Gênesis 1-11 e usar evidências científicas para defender a fé cristã.
2. História e Arqueologia Bíblica FÉ E CIÊNCIA: da Criação a Babel
PRELETOR:
LeialdoPulz
Conteúdo
INTRODUÇÃO ..........................................................................................................................................................................................3
COSMOGONIA .........................................................................................................................................................................................5
MITOLOGIA..........................................................................................................................................................................................8
Chave para o passado..............................................................................................................................................................................8
ANTROPOGÊNESE...........................................................................................................................Error! Bookmark not defined.
3. História e Arqueologia Bíblica FÉ E CIÊNCIA: da Criação a Babel
INTRODUÇÃO
O avanço das Ciências nos últimos tempos
é um fenômeno realmente impressionante. As
barreiras do "impossível" estão sendo transpostas
constantemente. Muitas pessoas neste campo,
levados pela interpretação materialista da
realidade, acabaram abandonando a fé em um
Criador, mesmo que os grandes cientistas do
passado, como Newton, Paster Morse, Mendel e
muitos outros sempre enfatizavam as suas crenças
no divino.
Com o tempo, as "Academias do Saber"
viraram redutos de incrédulos, e os cristãos
acabaram sendo ridicularizados e banidos dos
meios acadêmicos. Começaram a prevalecer nestes
círculos intelectuais a visão de uma origem
espontânea do Universo, da vida e do Homem. A
Fé e a Ciência estavam se divorciando.
Contudo, apesar dos esforços dos
materialistas ateus, suas teorias que descartam um
Criador, vêm se mostrando cada vez mais
enfraquecidas diante de evidências que a própria
ciência têm trazido à luz.
O que a Antropologia, Geologia, História,
Arqueologia, Genética Astronomia, Física e outras
ciências estão nos revelando? Será que elas negam
ou endossam a existência de uma Razão Criadora
por trás de tudo?
Através das evidências observáveis em
campo e na literatura mundial, faremos uma
reconstrução do que aconteceu há milhares de
anos atrás, que compreende a História Universal
Comum a todos, sendo ela composta de: Criação,
Queda, Dilúvio Universal e Dispersão dos povos
descritos em Gênesis 1-11. Com esta reconstrução
histórica realizada, obteremos elementos para uma
apologética cristã (Defesa da Fé).
Trataremos desta forma dos seguintes
assuntos em nosso curso:
1. Cosmogonia: A Origem do Universo
2. Antropogênese: Princípio da Humanidade
3. Catastrofismo: O Dilúvio Universal
4. Dispersão: Do Ararate à Babel
Partindo das mais novas visões da origem
do Universo, segundo a ótica das ciências,
analisaremos nosso conhecimento que temos sobre
o Universo. Buscaremos então em relatos dos
povos espalhados pela linha de tempo de nossa
História e pelas distâncias geográficas de nosso
planeta, como o homem tem compreendido o Todo
(Universo e seu mundo) que o envolve.
Depois passaremos à questão da biogênese,
ou seja, a origem da vida em si, e a Antropogênese,
que é a origem de nossa raça.
Veremos depois como os relatos de uma
Catástrofe universal se repetem por milhares de
culturas, em todo o mundo. Analisaremos este
fenômeno sob o prisma de algumas Ciências, e
reconstruiremos, através de evidências colhidas
em campo, o que ocorreu em nosso planeta há
alguns milhares de anos.
Passaremos então para a reconstrução
Histórica dos primeiros passos de nossa raça no
sentido da estruturação social, econômica e
religiosa, percebendo os estágios que levaram ao
episódio conhecido como Torre de Babel e suas
consequências, em especial, a dispersão dos povos
e formação dos ramos étnicos que hoje observamos
em tribos, povos e culturas em todos os
continentes.
Por fim, teremos o desafio de estudarmos
com mais profundidade as Escrituras para
estarmos "sempre preparados para responder com
mansidão e temor a todo aquele que vos pedir a
razão da esperança que há em vós". (1Pe 3.15)
Leialdo Pulz
4. História e Arqueologia Bíblica FÉ E CIÊNCIA: da Criação a Babel
PROPOSTA:
Através das evidências observáveis em campo e na literatura
mundial, fazer uma reconstrução do que aconteceu em nosso planeta
há milhares de anos atrás, que compreende a História Universal
Comum a todos, sendo: Criação, Queda, Dilúvio Universal e Dispersão
dos povos descrito em Gênesis 1-11. Com esta reconstrução histórica
realizada, obter elementos para uma apologética cristã (Defesa da Fé).
5. História e Arqueologia Bíblica FÉ E CIÊNCIA: da Criação a Babel
COSMOGONIA
A Origem do Universo
O que é Cosmogonia?
Segundo a definição do dicionário,
Cosmogonia é:
1. Criação ou origem do universo, especialmente
como objeto de estudo ou de especulação.
2. Cada uma das diferentes teorias filosófico-
religiosas, criadas pelo homem, através dos tempos, que
pretendem explicar a origem do universo.
3 Astronomia: Estudo da origem e
desenvolvimento do universo e dos seus componentes.
4 Visão de mundo, conceito pessoal de realidade.
A Cosmogonia é um assunto que permeia
toda a história humana. Desde as mais antigas
civilizações, até o mundo moderno, nós temos
buscado uma explicação para a existência do
universo que nos rodeia.
Várias tentativas foram feitas ao longo de
milhares de anos. A maioria delas, atualmente,
podem ser encaixadas dentro de categorias
Mitológicas. Contudo, a ciência moderna ainda
sente dificuldades em poder apresentar um modelo
satisfatório para a questão.
TEORIAS COSMOGÔNICAS
Basicamente existem duas linhas de
explicação para a origem do nosso universo, o
sistema de um Universo Estático e o do Universo
em expansão.
UNIVERSO ESTÁTICO
Esta teoria sustenta que o universo é
imutável, infinito, que sempre existiu e sempre
existirá. Alguns dos defensores desta posição foram
Tales de Mileto, Aristóteles, Galileu Galilei e Albert
Einstein.
UNIVERSO EM EXPANÇÃO
Segundo esta posição, o Universo avança em
todas as direções, ou seja, ele é mutável, teve um
início e terá um fim.
Este conceito, apesar de encontrar paralelos
em Cosmogonias antigas, recebeu sua ropagem
moderna depois das descobertas de Edwin Hubble
em 1929. O universo, de acordo com o modelo, tem
suas galáxias se afastando umas das outras, o que
foi comprovada pela constante de Hubble.
O próprio Einstein, após verificar os
trabalhos de Hubble acaba por adotar o sistema de
um Universo em expansão.
BIG-BANG
O passo seguinte à descoberta de Hubble foi:
se o universo está se expandindo, então, ao
"voltarmos o filme" no tempo, deveríamos chegar a
um ponto de onde tudo começou. Coube a George
Gamow, em 1948, sugerir uma nova teoria, que veio
a ficar conhecida como Teoria do Big-Bang. O
universo então teria surgido de uma grande
explosão cósmica, que criou o espaço e o tempo.
Este modelo acabou por se popularizar nos
meios acadêmicos, sendo atualmente o mais aceito
para explicar a origem do Universo, apesar de não
ser o único modelo existente.
CONCEITOS BÍBLICO-TEOLÓGICOS
Muitos estudiosos têm buscado uma
correlação das narrativas cosmogônicas bíblicas e a
teoria do Big-Bang.
A primeira questão que nos sobressai é que o
Universo não seria eterno, mas teria um princípio e
um possível fim, como afirma o próprio texto
bíblico (Ge 1.1), que relaciona a criação do espaço-
tempo à pessoa do Criador.
Com esta descoberta, a expansão do
universo, era enfraquecida as acusações contra as
Escrituras de uma inconsistência científica , pois a
própria ciência agora estava apontando para a
exatidão da premissa bíblica sobre a origem do
Universo.
Em relação à expansão, pode-se notar
algumas "curiosidades" bíblicas sobre o assunto.
"...é ele (Deus) o que estende os céus como
cortina, e os desenrola como tenda, para neles
habitar." Is 40.22
6. História e Arqueologia Bíblica FÉ E CIÊNCIA: da Criação a Babel
"Eu sou o Senhor que faço tudo, que sozinho
estendo os céus, e espraio a terra por mim
mesmo;" Is44.24
"Ele fez a terra com o seu poder; ele
estabeleceu o mundo com a sua sabedoria, e com a
sua inteligência estendeu os céus." Jr 10.12
Podemos ainda ver: Is 48.13; 51.13; Jr 51.15;
Zc 12.1.
Todos estes textos trazem a palavra ה ֶּנֹוטַה
(haNoteh), que significa "ele está estendendo".
Segundo alguns estudiosos, os textos
mencionados confirmam a ideia de que o Universo
realmente expandiu e ainda pode estar neste
processo.
QUAL É A CAUSA DO UNIVERSO
Se o Universo teve um início, como explica a
teoria vigente, então cabe a pergunta: Este início
teve uma Inteligência que o causou, ou tudo foi uma
ação arbitrária, ditada pela total casualidade?
Questões fundamentais:
Se foi causal, como explicar a assimetria
balanceada perfeitamente para que tudo viesse a
existir ao invés do colapso? (Matéria e
AntiMatéria)
Por que existe algo ao invés do NADA?
Segundo a lei das probabilidades, o
Universo não deveria existir, se fosse fruto do acaso.
Para tentar explicar esta casualidade, surgem
algumas teorias "científicas". Mas quanto mais se
"explica", mais se vai percebendo que seria
impossível termos um universo como o
conhecemos, apenas por forças aleatórias do acaso.
Einstein mesmo teria reconhecido que "Deus não
joga dados com o Universo".
Uma das tentativas de explicar o Universo,
apega-se à denominada "matéria e energia escura".
Elas receberam esta nomenclatura por não terem
ainda sido explicadas, formando uma espécie de
caixa preta na Cosmologia. Atualmente calcula-se
que cerca de 96% de todo o Universo conhecido é
formado por "matéria e energia escura", e apenas 4$
do que identificamos como matéria e energia
"visível" ao nossos sentidos.
Apesar de não podermos perceber estas
"matéria e energia escura", elas são conhecidas no
mundo científico. Usando estas "desconhecidas",
alguns apontam para elas na tentativa de explicar o
Universo.
Para que haja uma inflação em aceleração do
Universo (expansão do Espaço) como apontam as
pesquisas de Hubble e posteriores, precisamos, por
exemplo que a quantidade de Energia Escura que
faça com que este universo esteja expandindo de
forma acelerada (ela age como um acelerador num
carro).
Para termos esta expansão nos níveis que
temos, precisaríamos de uma medida exata desta
energia escura atuando, nem mais, nem menos. A
quantidade necessária é de 1X 10-122 !!! Se tirarmos 4
zeros, teríamos a inexistência do Universo que
conhecemos.
Esta precisão assustou os cientistas, pois era
um número muito específico para ser aleatório.
Por que existe o nosso Universo então?
Quem colocou esta quantidade de Energia?
MULTIVERSOS:
A Teoria do Multiverso surge, entre outros
fatores, para ajudar a explicar tamanha
"coincidência" nos números. de forma resumida, o
raciocínio é o seguinte: se existem muitos universos,
um dos infinitos Universos deveria ter a quantidade
necessária de Energia Escura que observamos no
nosso. em outras palavras, tivemos muita sorte de
estarmos neste aqui que não se autoaniquilou.
Contudo, a teoria do Multiverso acaba
aumentando uma necessidade de um Criador e
Organizador.
O exemplo do caso do Violonista Divino pode
ilustrar (ainda que opacamente) como isto é
grandioso.
A Cosmologia necessita cada vez mais de
um Violonista, e é isto que o texto bíblico vem
afirmar, que "no princípio Deus criou os céus e a
terra" (Ge 1.1).
A CRIAÇÃO EX-NIHILO
7. História e Arqueologia Bíblica FÉ E CIÊNCIA: da Criação a Babel
“Desde que o Universo tivesse um início,
poderíamos supor a existência de um criador. “
Stephen Hawking, A Brief History of the Time, p.
156.
Hawkings, ateu professo, sempre se debate
com a grande questão das origens do Universo,
dedicando páginas e mais páginas ao assunto.
contudo, seu dogma ateísta não o deixa reconhecer
aberta e definitivamente a necessidade de uma
mente criadora para o cosmos e a descrição dos atos
criativos descritos na Bíblia.
Mas, por mais que nos esforcemos para
entender o texto cosmogônico de Gênesis, sua
interpretação tem gerado algumas teorias
explicativas sobre o processo da criação. Vejamos as
mais importantes:
Teoria da Interpretação Literal
Teoria do Dia-Era
Teoria da Lacuna
Segundo a Teoria da Interpretação Literal,
devemos interpretar o texto de Ge 1 de forma literal,
onde cada "dia" deve ser interpretado como um
período de 24 horas. Desta forma, o Universo teria
sido criado, tomando as genealogias descritas em
Gênesis de forma literal, em 4004 a.C. Ou seja, o
Universo todo teria uma idade de cerca de 6.000
anos.
A Teoria do Dia-Era propõe que a palavra
"dia" seja interpretada como uma Era, cujo tempo
exato não pode ser determinado. Ainda se apela
para o texto de 2 Pedro: 3.8: "Não se esqueçam disto,
amados: Para o Senhorum dia é como mil anose mil anos
com um dia". Desta forma, o universo seria um
pouco mais velho, algo ao redor de 13.000 anos. Mas
poderia ser mais velho, se a palavra "dia" for
entendido como "Era" indefinida.
A Teoria da Lacuna nos diz que existe um
hiato de tempo entre o verso 1 e 2 de Gênesis 1. Este
"tempo perdido" não pode ser calculado, justamente
por não termos informações sobre o assunto.
Basicamente a argumentação se dá em cima da
tradução do verbo "era" do verso 2. Esta palavra
ה ָתְי ָה (HAYETÁ) pode ser traduzida de outra
forma: ser, tornar-se, existir, acontecer.
Assim sendo, o verso "A terra era sem forma
e vazia; trevas cobriam a face do abismo..." (Ge 1.2ª)
poderia se traduzido como: "A terra tornou-se sem
forma e vazia; trevas cobriam a face do abismo..."
E isto mudaria completamente o sentido do
texto!
Há muito tempo que os estudiosos notaram
um especificidade na estrutura do texto de Ge 1.
Percebeu-se que existe uma espécie de
simetria hebraica no texto sobre os 6 dias da criação,
conforme vemos abaixo:
Dia 1- Luz
Dia 2 - Água
Dia 3 - Terra
Esta particularidade levou muitos a
suspeitarem que o texto busca uma forma didática
(não absolutamente literal) de transmissão da
história da origem de tudo.
Chama a atenção ainda ao fato de o
Universo (céus e a terra) serem mencionados no
verso 1. O que vem abaixo está relacionado
exclusivamente ao nosso planeta. Em outras
palavras, o universo é laconicamente descrito como
criado por Deus numa única sentença, e depois vêm
o trabalho moldurador de Deus do nosso mundo.
Enfim, não há consenso sobre este tema da
interpretação de Gênesis 1. Apenas podemos
afirmar que o texto aponta para um Criador de tudo
que existe, sem detalhar os processos
cientificamente.
► Dia 4 - Luzeiros (Estrelas)
► Dia 5 - Animais marinhos
► Dia 6 - Animais terrestres
8. História e Arqueologia Bíblica FÉ E CIÊNCIA: da Criação a Babel
MITOLOGIA: Chave para o
passado
O que é Mito?
Nos últimos séculos, após a ascensão da
hegemonia da "Ciência", a palavra Mito acabou por
tomar uma ideia de algo negativo, se tornando
pejorativo, no sentido de uma fábula, história
inventada, algo não real, inexistente, etc. Um olhar
evolucionista sobre os “primitivos” povos afetou
esta visão dos mitos antigos. Segundo esta ideologia
evolucionistas, nossa sociedade atual é mais
desenvolvida e sábia do que as supersticiosas e
atrasadas do passado.
Porém, após a descoberta de uma Tróia
verdadeira por Schliemann, este conceito teve que
ser revisto. Atualmente, apesar de popularmente a
palavra Mito ainda carregar uma conotação
negativa, existem muitas pessoas acadêmicas que
levam os Mitos muito a sério.
O Mito passou a ser entendido pelos
especialistas no assunto como um reflexo de uma
realidade. O trabalho destes estudiosos é encontrar
o que há por trás dos mitos. O que os mitos estão
tentando transmitir, qual sua história?
E parece sempre haver alguns assuntos que
se sempre repetem ao redor de todo o nosso
planeta. Seria muita coincidência todos estarem
interessados pelos mesmos assuntos, e de forma
razoavelmente homogênea estarem relatando os
mesmos casos em seus mitos?
Um dos assuntos mais recorrentes são os
relatos cosmogônicos. Este assunto não é uma
exclusividade dos judeus, mas aparece em todas as
culturas que conhecemos, que de alguma forma
preservaram por tradições orais ou escritas. O que
impressiona qualquer estudioso é o fato de termos
assuntos semelhantes onde, segundo o relato
bíblico, deveríamos esperar que eles realmente
aparecessem, ou seja, os assuntos de relevância
universal. Este conteúdo de conhecimento histórico
universal é o que está descrito entre Gênesis 1 e 11.
Após isto, os povos se dispersam e vão trilhar seus
caminhos, e suas histórias e mitos começam então a
tomar rumos próprios.
Um fenômeno comum quando tratamos com
esta questão de Mitos são as distorções
proporcionadas pelo deslocamento na linha tempo-
espaço. Ou seja, quanto mais longe geograficamente
e temporalmente da fonte primária da história em
questão, maiores são as distorções que ela
apresentará. Isto pode ser exemplificado pela
brincadeira "telefone sem fio".
No caso do nosso estudo, quanto mais nos
aprofundamos no tempo, maiores são as evidências
de um começo comum.
Neste sentido, podemos verificar igualmente
que os Mitos adaptam-se à realidade de quem os
conta (geografia, cultura, alimentação, etc.).
Com isto em mente, podemos vasculhar
algumas culturas separadas por enormes distâncias
geográficas e temporais para buscar uma resposta a
questão de como os povos contavam suas
cosmogonias.
EGITO
Começamos por uma das sociedades
organizadas mais antigas e ricas culturalmente, a
egípcia.
Eles acreditavam que o mundo teve um
começo. E este começo era ligado com uma
divindade, que era conhecida por diferentes nomes
ao longo do vale do rio Nilo. Esta divindade (Atum,
Rá, Amon ou Ptah) havia formado tudo a partir de
Nun, o oceano cósmico, e das trevas infinitas. Foi
deste "oceano" que surgiu, pela palavra divina, a
porção de terra (Ben-ben). Depois disto são criados
os 8 deuses, que são Shu, deusa do ar; Tefnut, o
deus da umidade. Eles, por sua vez, fizeram Geb,
deus da terra, e Nut, a deusa do céu. Geb e Nut
eram os pais de Osíris, Set, Ísis e Néftis, os
primeiros deuses a habitarem na terra.
Poderíamos dizer que o deus X, criou por
sua palavra e Espírito o espaço (ar), o céu (Nut) e a
9. História e Arqueologia Bíblica FÉ E CIÊNCIA: da Criação a Babel
Terra (Geb). Da união do céu com a terra temos a
formação dos primeiros pares divinos na terra.
Um hino egípcio traz as seguintes palavras
sobre a criação:
O Senhor de todos, depois de passar a existir,
disse: Eu sou aquele que passou a existir como Quepri
(isto é aquele que se transformou). Quando eu passei a
existir, aí vocês passaram a existir, e todos os seres
passaram a existir. Depois que eu vim a ser, muitos são
aqueles que vieram a ser, que saíram da minha boca
(palavra).Antes do céu existir, a terra não existia. Nem
gatos, nem cobras existiam neste lugar. Em estado de
tédio eu me encontrava, atado a elesno abismo dasÁguas
(Nun). Eu não encontrava lugar onde ficar de pé. Eu
pensava em meu coração e sozinho no meu pensamento
fiz todas as formas. Antes de eu cuspir qualquer outro
que estava em mim para queviesse a existir, planejei tudo
em meu coração. E muitas formas de seres passaram a
existir. Fui eu quem os criou. E o meu olho os
acompanhava enquanto ele se distanciavam de mim.
Como se pode ver, existem elementos
comuns à narrativa de Gênesis. você consegue
alista-las?
Outro fato curioso é o monoteísmo primitivo
dos primeiros egípcios. Apesar de seu efervecente
politeísmo posterior, hoje sabe-se que a crença num
único Deus dominava os primórdios da religião
local.
De acordo com Wallis Budge, os egípcios "
acreditavam em um Deus supremo, auto -nascido,
todo-poderoso e eterno, que criou os outros deuses,
o sol , a lua, a terra e tudo o que nela há, incluindo
os seres humanos, animais, aves, peixes e répteis".
"Este Deus, Budge disse, nunca se tentou
representar por qualquer forma, figura,
similaridade ou semelhança, pois os egípcios
entendiam que uma pessoa não pode desenhá-lo ou
descrevê-lo, e que todos os seus atributos estão além
dos limites da compreensão humana. Nas raras
ocasiões em que mencionavam este Deus supremo
em seus textos, eles sempre o chamavam de NE-
TER, ou seja, DEUS, e não lhe deram quaisquer
nomes". O significado primário da palavra NE-TER
ainda é desconhecido.
Em grego, a palavra equivalente é theos, e
em inscrições bilíngües posteriores as palavras
theos e nTrand aparecem mais ou menos lado a
lado, deixando claro que a tradução correta para
NE-TER é "deus" (Dunard & Zivie-Coche 2004: 8).
A antiga palavra NE-TER
sobreviveu através da história
faraônica e já durante o período do
cristianismo copta, ela se tornou o
vocabulário para o Deus cristão
(Faulkner, 1962: 143)
LIVRO MAIA DO POPOL-VUH
”Livro da comunidade”, livro da cultura
maia, cujo tema é a criação do mundo. O
manuscrito original do Popol vuh pode ter sido
escrito por volta de 1554-1558, usando o alfabeto
latino no idioma quiché. O documento foi traduzido
para o espanhol em 1701, e encontra-se hoje em
Chicago, EUA.
Vejamos o trecho da Cosmogonia, segundo o
Popol-Vuh:
"Esta é a história do tempo em que tudo
estava em suspensão, calmo e silencioso,
tudo estava imóvel e o céu estava vazio. Esta
é a primeira palavra, a primeira narrativa:
não havia homens, nem animais, pássaros,
peixes, lagostas, árvores, pedras, cavernas,
barrancos moitas ou Florestas. Só havia o
céu. Em lado algum se via a terra; todo o
mar se espalhava no céu; nenhum corpo
existia; nada havia terminado no céu; nada
se movia; era tudo absorção; era tudo
imobilidade quando o céu ficou terminado.
Nada emergiu.
Só havia o mar imóvel e o céu que se
estende por cima... A Face da Terra ainda
não existia para ser vista. Só o Mar sereno e a
vastidão dos céus. Nada ainda se formara
em um corpo. Nada se unira a nada. Não
havia equilíbrio nem sussurro. Nada havia
em posição vertical no mar, solitário dentro
dos seus limites pois até então nada existia.
Só havia imobilidade e silêncio na
escuridão da noite. Sozinhos estavam o
Hieróglifoegípciopara
a palavra "Deus"
10. História e Arqueologia Bíblica FÉ E CIÊNCIA: da Criação a Babel
Criador, o Autor Tepeu, o Senhor e
Gucumatz, a serpente Emplumada. Aqueles
que geram, sozinhos sobre as águas como
uma luz crescente..."
AS TÁBUAS DO ENUMA ELISH
O texto cosmogônico sumeriano conhecido
como Enuma Elish, cujo significado é ”Quando lá
no alto”, deve seu nome às primeiras palavras
encontradas na Tábua 1. O texto, em algumas partes
fragmentadas, é composto por 7 tábuas, cada uma
delas contando a etapas na criação do Universo.
Muitas semelhanças são apontadas com a narrativa
de Gênesis, como o fato de serem 7 tábuas,
correspondendo aos dias da criação bíblico, mais o
descanso. Chama atenção ainda que a narrativa da
formação do ser humano é descrita na sexta tábua, e
no sétimo dia as divindades descansaram de seu
labor.
Contudo, são apontadas diferenças
importantes dentro do texto, como as batalhas entre
divindades, que não ocorrem no texto bíblico, ao
menos em Ge 1.
Entretanto, uma rápida olhada no texto nos
faz perceber esta história primitiva comum que brota
de num passado distante.
TÁBUA I
Quando no alto o céu não era nomeado,
que embaixo a terra não tinha nome; que o
primordial Apsu (abismo), de quem
nascerão os Deuses; a genetriz Tiamat
(oceanos/Espaço), que os parirá; todos
misturavam em um só todas as suas águas;
que aglomeradas não estavam às pastagens,
nem visíveis, os canaviais; enquanto que dos
Deuses nenhum ainda aparecera, não era
dotado de nome nem provido de destino,
então, de seu seio, os Deuses foram criados.
Lahmu, Lahamu (Sol e Lua)
apareceram. Eles, os primeiros, tiveram um
nome. Após terem crescido e se
desenvolvido, Anshar, Kishar (Céu –
atmosfera - e Terra) foram criados,
superiores àqueles. Tiveram longos dias,
ajuntaram anos, depois Anu (Céu, abóboda)
foi seu filho, igual a seus pais. Anshar fizera
semelhante a ele Anu, seu primogênito.
Igualmente, Anu, à sua imagem, gerou
Nudimmud. Nudimmud, por seus pais, foi o
soberano: de vasto entendimento, sábio e de
forças, robusto, mais potente ainda que
Anshar que gerou seu pai. Ele era sem rival
entre os Deuses, seus companheiros.
Novamente, retirando as camadas de
distorções e adaptações que mencionamos
anteriormente, que são nitidamente detectadas, e
termos centro axial, ao redor do qual a narrativa
suméria e de outras culturas antigas giram.
RIG VEDA - Livro dos Hinos,
O documento mais antigo da literatura
hindu, composto de hinos, rituais e oferendas
às divindades. Possui 1.028 hinos e foram
compostos no idioma sânscrito védico, Estima-se
que foi escrito por volta de 1700–1100 a.C.
A parte que nos interessa neste estudo é a
narração sobre a criação do mundo. Vejamos o texto
e façamos nossas observações sobre a sua
singularidade e pontos de contato com a
cosmogonia bíblica.
Rig Veda 10.129
1. No começo, nem o não-ser nem o ser
eram. Também não havia o espaço obs-curo
nem a abóbada luminosa. O que se ocultava?
Onde? Sob que protecção? O que era a água?
Abismo profundo?
2. No começo, não havia nem morte
nem imortalidade. Não havia nenhum signo
distintivo da noite ou do dia. O uno res-
pirava, sem agitação e sustinha-se a si
próprio. Nenhum outro estava para além.
3. No começo, as trevas estavam escon-
didas pelas trevas; sem nenhum traço
distintivo tudo era um fluir indistinto.
Aquele princípio vital, aquele fluir envolto
na obscuridade, surgiu finalmen-te através
do poder do calor.
4. No começo, o desejo intenso surgiu
tornando-se a primeira semente do
pensamento. Poetas sábios que procura-ram
11. História e Arqueologia Bíblica FÉ E CIÊNCIA: da Criação a Babel
mentalmente no seu coração desco-briram a
unidade do ser e do não-ser.
5. O raio de luz que estava estendido
nas trevas; Mas o que é que estava em cima e
o que estava em baixo? Poderes seminais
tornavam férteis forças poderosas; Por baixo
estava a força e em cima a infinita extensão.
6. Mas, afinal, quem sabe? Quem o pode
assegurar donde é que tudo veio? Como a
criação se deu? Os próprios deuses surgiram
depois da criação quem sabe realmente de
onde tudo surgiu?
7. Desde que a criação surgiu - aquele
que a formou ou talvez não, aquele que a
contempla na abóbada do céu, Só ele sa-be -
ou talvez não.“
Não se pode deixar de notar semelhanças
impressionantes com Gênesis. Fazendo o processo
de desmistificação e remoção das camadas
mitológicas provocadas pelo tempo e a distância da
história original, encontramos em suas palavras
ecos claros de uma História comum.
TEOGONIA - Nascimento dos deuses
Os gregos também preservaram uma
tradição sobre a criação do mundo. Ela está contida
nos escritos de Hesíodo, conhecida como
TEOGONIA.
Sobre a criação, ele escreve o seguinte:
"Certamente, muito antes de tudo existia
Caos. Somente depois surgiram: Geia
(Terra), de amplo seio, sólido sustento de
todos os imortais que habitam o cume
nevado do Olimpo, o tenebroso Tártaro,
(“Inferno”) nas profundezas da terra, de
vastos caminhos, e Eros (desejo), o mais belo
dos deuses imortais, aquele que enfraquece
os membros, dominando o espírito e a
vontade prudente no íntimo de todos os
deuses e de todos os mortais. Também de
Caos nasceram Érebo e a negra Nix. Então
por sua vez, de Nix nasceram Éter e Hêmera,
aos quais ela concebeu e pariu após sua
união amorosa com Érebo".
Como podemos ver, os gregos também
compartilhavam de uma narrativa muito parecida
com o descrito em Gênesis. Mas isto só é perceptivel
se retirarmos as camadas mitológicas depositadas
ao longo do tempo e no processo de distanciamento
geográfico. Contudo, o núcleo do conceito
primordial sobre a criação continua ali presente.
TAOÍSMO
A China, uma das mais antigas civilizações
humanas conta com sua própria narrativa sobre a
criação. Nos escritos taoístas, podemos ler o
seguinte:
No princípio era o Caos. Do Caos veio
apura luz que construiu o Céu. As partes
mais concentradas juntaram-se para formar
a Terra. Céu e Terra deram vida às 10 mil
criações [Natureza], o começo, que contém
em si o crescimento, usando sempre o Céu e
a Terra como seu modelo.
A formula "princípio" mais "caos" se faz
presente na narrativa, como percebemos em
Gênesis. Outro elemento crucial é a "luz" (Ge
1.3). O aparecimento do "céu" e da "terra"
igualmente se fazem presentes como no
texto bíblico. Após isto, se encontra a criação
da natureza, resultado de um ato criativo
num mundo preparado para a vida.
CONCLUSÃO:
Como explicar todas estas coincidências
nas narrativas ao redor do mundo, se não
por uma proto-história comum? Como
justificar tantas semelhanças
embaraçosamente universalmente presentes
nas narrativas?
A resposta nos parece óbvia, ao olhar
pelos olhos da lógica: Houve um começo
comum à todos os humanos. Eles ouviram a
narração da criação de uma única fonte, e
passaram ao longo das eras para as gerações
que vinham. As distorções são um fenômeno
que vai ocorrendo conforme o tempo e o
espaço vão se ampliando entre a fonte e as
gerações que vieram.