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AULA 21 – LITERATURA

                                   PROFª Edna Prado

    MODERNISMO EM PORTUGAL

I – CONTEXTO HISTÓRICO
      As primeiras manifestações modernistas começaram a surgir no
período compreendido entre as duas guerras mundiais, período marcado
por profundas transformações político-sociais em toda a Europa, não só
em Portugal.

     Didaticamente, o Modernismo português tem início em 1915,
com o lançamento do primeiro número da Revista Orpheu, revista
que, inspirada pelos movimentos da Vanguarda Européia, desejava
romper com o convencionalismo, com as idealizações românticas,
chocando a sociedade da época.

      Vários artistas participaram da elaboração da revista, entre eles
destacaram-se: Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e Almada
Negreiros. Os escritores do Orfismo, como ficaram conhecidos,
queriam imprimir à literatura portuguesa as inovações européias.

      Anos depois, em 1927, outra importante revista passa a ser
divulgadora dos novos ideais modernistas – A Revista Presença, que
teve como maior representante, o escritor José Régio.

     Veja o principal representante do Modernismo português:
Ilustração de Costa Pinheiro

       Fernando Pessoa é a grande figura da produção modernista em Portugal. Mas
por que será que essa imagem tem o autor ao centro com três sombras ao redor?



      Pessoa criou vários heterônimos que apresentavam características
particulares e que por isso escreviam textos bem diversos. Mas o que é
um heterônimo? É um desdobramento da própria personalidade do
autor, é a criação de outras pessoas. Heterônimo é diferente de
pseudônimo, pois atinge uma maior complexidade, o pseudônimo é
apenas a criação de nomes fictícios para uma mesma pessoa,
heterônimo é mais que um nome diferente, é uma outra pessoa.

      Veja esquematicamente o que significa o fenômeno                       da
heteronímia:




                                               ORTÔNIMO – “Ele mesmo”

          FERNANDO PESSOA

                                                HETERÔNIMOS
                                                *Alberto Caeiro
                                                *Ricardo Reis
                                                *Álvaro de Campos




     Existem outros heterônimos menos conhecidos. Como disse o
próprio escritor, várias foram as personagens que o acompanharam
desde a infância. Segundo ele sua tendência, sua necessidade era
multiplicar-se:


      “Multipliquei-me, para me sentir,
      Para me sentir, precisei sentir tudo,
      Transbordei-me, não fiz senão extravasar-me”.

     Os heterônimos de Pessoa apresentavam uma biografia, ou seja,
tinham data e local de nascimento, profissão e diferentes visões de
mundo.

      Veja a imagem de um de seus heterônimos:




                         Ilustração de Almada Negreiros

      Alberto Caeiro nasceu em 1989 e morreu tuberculoso em 1915, era um
homem simples do campo. Sua estatura era mediana, loiro, de olhos azuis, órfão e
estudou pouco, até o primeiro ano.



       Seus textos são marcados pela ingenuidade e pela linguagem
simples, seus versos são livres e falam do amor à natureza e à
simplicidade da vida no campo. Recusa qualquer explicação filosófica
sobre a vida. Caeiro pensa com os sentidos, não com a razão, para ele a
felicidade reside em não pensar.

     Identifique as características de Alberto Caeiro no próximo
fragmento de um de seus textos:
O Guardador de Rebanhos

“Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.

Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz”.

                      Alberto Caeiro

      Veja a imagem do próximo heterônimo:




                         Ilustração de Almada Negreiros

        Ricardo Reis nasceu em 1887, na cidade do Porto e era médico. Era baixo,
forte, moreno e um monarquista de formação.

     Seus textos caracterizam-se pelo estilo erudito e clássico.
Enquanto Alberto Caeiro era sinônimo de sensibilidade, Ricardo Reis é
extremamente racional. Sua linguagem é rebuscada e complexa. Usa
com muita freqüência a mitologia clássica, principalmente a máximas
horacianas do Carpe Diem (“aproveite o momento”). Tinha plena
consciência da brevidade da vida, o que lhe provocava muito
sofrimento.

     Identifique as características de Ricardo Reis no próximo
fragmento de um de seus textos:



                   Ode VI

“Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
      (Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
        Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
        E sem desassossegos grandes (...)”


                                Ricardo Reis

     Veja a imagem do próximo heterônimo:
Ilustração de Almada Negreiros

      Álvaro de Campos nasceu em outubro de 1890. Era engenheiro naval, alto,
magro, cabelos lisos e assemelhava-se a um judeu português.



      Álvaro de Campos era o poeta do futuro, da velocidade, das
máquinas, do tempo presente, identificado com a Vanguarda Européia.
Seus textos são contraditórios: ora marcados por uma grande energia,
ora revelando a crise dos valores espirituais e a angústia do homem de
seu tempo, inadaptado às condutas sociais Enquanto Alberto Caeiro
pensava com os sentidos e Ricardo Reis com a razão, Álvaro de
Campos, pensava com a emoção.

      Veja suas características no próximo texto:


Lisbon revisited

“Não: não quero nada.
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!

Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) –
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus! (...)”

                  Álvaro de Campos


      Veja agora a imagem de Fernando Pessoa “ele mesmo”:




                          Ilustração de Almada Negreiros

       Fernando Pessoa foi um dos escritores mais complexos da literatura
portuguesa. Começou a se destacar como escritor a partir de seus inúmeros artigos
publicados sobre as novas tendências modernistas em Portugal. Mas foi graças a
criação de seus heterônimos que ganhou notoriedade mundial.
A produção ortônima de Fernando Pessoa apresenta características
bem diferentes das encontradas em seus heterônimos. Fernando Pessoa
“ele-mesmo” expressa um profundo sentimento nacionalista e um apego
à tradição portuguesa. Sua produção literária é comumente dividida em:
lírica e épica. O livro Mensagem é um exemplo da sua obra épica. Nele
Fernando Pessoa, numa clara aproximação com Camões, vai falar dos
grandes feitos portugueses, dos reis e da época das grandes
navegações.

    Veja um exemplo de sua obra lírica, através de um de seus
poemas mais conhecidos:


     Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.

               Fernando Pessoa


      Outra figura importante do Modernismo português é Mário de Sá-
Carneiro, que como vimos, também fez parte do grupo de escritores
responsáveis pela publicação da Revista Orpheu em 1915. Ele era o
responsável pela parte financeira da revista, tanto que após o seu
suicídio, em 1916, com apenas 26 anos, e revista não circulou mais.

     Seus textos são marcados por um forte sentimento de inadaptação
ao mundo e por muito subjetivismo. Mário de Sá-Carneiro buscou
compreender o porquê de sua existência, mas não o encontrou,
acabando se perdendo nele mesmo.
Veja o seu texto mais famoso:


Dispersão

“Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim.

(...)

Não sinto o espaço que encerro
Nem as linhas que projeto:
Se me olho a um espelho, erro –
Não me acho no que projeto.

Regresso dentro de mim
Mas nada me fala, nada!
Tenho a alma amortalhada,
Sequinha, dentro de mim.

(...)

Eu tenho pena de mim,
Pobre menino ideal...
Que me faltou afinal?
Um elo? Um rastro?... Ai de mim!...

(...)

Perdi a morte e a vida,
E, louco, não enlouqueço...
A hora foge vivida
Eu sigo-a, mas permaneço...”


         Mário de Sá-Carneiro

II – EXERCÍCIOS
1) (UM–SP) Assinale a alternativa correta a respeito das três
afirmações abaixo.
I – Os heterônimos de Fernando Pessoa nascem de um múltiplo
desdobramento de sua personalidade.
II – Alberto Caeiro é o poeta que se volta para o campo, procurando
viver em simplicidade.
III – Ricardo Reis é um poeta moderno, que do desespero extrai a
própria razão de ser.

   a)    Apenas a I e a II estão corretas.
   b)    Todas estão corretas.
   c)    Apenas a I e a II estão corretas.
   d)    Nenhuma está correta.
   e)    Apenas a II e a III estão corretas.

R: a

2) (FUVEST)
   I.  “O poeta é um fingidor.
       Finge tão completamente
       Que chega a fingir que é dor
       A dor que deveras sente”.

   II.      “Sonho que sou um cavaleiro andante
            Por desertos, pois sóis, por noite escura,
            Paladino do amor, busco anelante
            O palácio encantado da Ventura!”

As estrofes acima são, respectivamente, dos poetas:

a) Fernando Pessoa e Barbosa du Bocage
b) Cesário Verde e Luís de Camões
c) Guerra Junqueiro e Antero de Quental
d) Sá-Carneiro e Luís de Camões
e) Fernando Pessoa e Antero de Quental

R: e

3) (VUNESP) O texto a seguir pode ser tomado como exemplo
ilustrativo do estilo de um dos heterônimos de Fernando Pessoa:

“Negue-me tudo a sorte, menos vê-la,
Que eu, stóico sem dureza,
Na sentença gravada do Destino
Quero gozar as letras”.

O heterônimo em questão é:
a) Alberto Caeiro
b) Ricardo Reis
c) Bernardo Soares
d) Álvaro de Campos
e) Antônio Mora

R: b

4) (UM–SP) A respeito de Fernando Pessoa, é incorreto afirmar que:

a) não só assimilou o passado lírico de seu povo, como refletiu em si as
grandes inquietações humanas do começo do século.
b) os heterônimos são meios de conhecer a complexidade cósmica
impossível para uma só pessoa.
c) Ricardo Reis simboliza uma forma humanística de ver o mundo
através do espírito da Antigüidade Clássica.
d) junto com Mário de Sá-Carneiro, dirige a publicação do segundo
número do Orpheu, em 1916.
e) a “Tabacaria”, de Alberto Caeiro, mostra seu desejo de deixar o
grande centro em busca da simplicidade do campo.

R: e

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Modernismo português e heterônimos de Fernando Pessoa

  • 1. AULA 21 – LITERATURA PROFª Edna Prado MODERNISMO EM PORTUGAL I – CONTEXTO HISTÓRICO As primeiras manifestações modernistas começaram a surgir no período compreendido entre as duas guerras mundiais, período marcado por profundas transformações político-sociais em toda a Europa, não só em Portugal. Didaticamente, o Modernismo português tem início em 1915, com o lançamento do primeiro número da Revista Orpheu, revista que, inspirada pelos movimentos da Vanguarda Européia, desejava romper com o convencionalismo, com as idealizações românticas, chocando a sociedade da época. Vários artistas participaram da elaboração da revista, entre eles destacaram-se: Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros. Os escritores do Orfismo, como ficaram conhecidos, queriam imprimir à literatura portuguesa as inovações européias. Anos depois, em 1927, outra importante revista passa a ser divulgadora dos novos ideais modernistas – A Revista Presença, que teve como maior representante, o escritor José Régio. Veja o principal representante do Modernismo português:
  • 2. Ilustração de Costa Pinheiro Fernando Pessoa é a grande figura da produção modernista em Portugal. Mas por que será que essa imagem tem o autor ao centro com três sombras ao redor? Pessoa criou vários heterônimos que apresentavam características particulares e que por isso escreviam textos bem diversos. Mas o que é um heterônimo? É um desdobramento da própria personalidade do autor, é a criação de outras pessoas. Heterônimo é diferente de pseudônimo, pois atinge uma maior complexidade, o pseudônimo é apenas a criação de nomes fictícios para uma mesma pessoa, heterônimo é mais que um nome diferente, é uma outra pessoa. Veja esquematicamente o que significa o fenômeno da heteronímia: ORTÔNIMO – “Ele mesmo” FERNANDO PESSOA HETERÔNIMOS *Alberto Caeiro *Ricardo Reis *Álvaro de Campos Existem outros heterônimos menos conhecidos. Como disse o próprio escritor, várias foram as personagens que o acompanharam
  • 3. desde a infância. Segundo ele sua tendência, sua necessidade era multiplicar-se: “Multipliquei-me, para me sentir, Para me sentir, precisei sentir tudo, Transbordei-me, não fiz senão extravasar-me”. Os heterônimos de Pessoa apresentavam uma biografia, ou seja, tinham data e local de nascimento, profissão e diferentes visões de mundo. Veja a imagem de um de seus heterônimos: Ilustração de Almada Negreiros Alberto Caeiro nasceu em 1989 e morreu tuberculoso em 1915, era um homem simples do campo. Sua estatura era mediana, loiro, de olhos azuis, órfão e estudou pouco, até o primeiro ano. Seus textos são marcados pela ingenuidade e pela linguagem simples, seus versos são livres e falam do amor à natureza e à simplicidade da vida no campo. Recusa qualquer explicação filosófica sobre a vida. Caeiro pensa com os sentidos, não com a razão, para ele a felicidade reside em não pensar. Identifique as características de Alberto Caeiro no próximo fragmento de um de seus textos:
  • 4. O Guardador de Rebanhos “Sou um guardador de rebanhos. O rebanho é os meus pensamentos E os meus pensamentos são todos sensações. Penso com os olhos e com os ouvidos E com as mãos e os pés E com o nariz e a boca. Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la E comer um fruto é saber-lhe o sentido. Por isso quando num dia de calor Me sinto triste de gozá-lo tanto. E me deito ao comprido na erva, E fecho os olhos quentes, Sinto todo o meu corpo deitado na realidade, Sei a verdade e sou feliz”. Alberto Caeiro Veja a imagem do próximo heterônimo: Ilustração de Almada Negreiros Ricardo Reis nasceu em 1887, na cidade do Porto e era médico. Era baixo, forte, moreno e um monarquista de formação. Seus textos caracterizam-se pelo estilo erudito e clássico. Enquanto Alberto Caeiro era sinônimo de sensibilidade, Ricardo Reis é
  • 5. extremamente racional. Sua linguagem é rebuscada e complexa. Usa com muita freqüência a mitologia clássica, principalmente a máximas horacianas do Carpe Diem (“aproveite o momento”). Tinha plena consciência da brevidade da vida, o que lhe provocava muito sofrimento. Identifique as características de Ricardo Reis no próximo fragmento de um de seus textos: Ode VI “Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio. Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas. (Enlacemos as mãos.) Depois pensemos, crianças adultas, que a vida Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa, Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado, Mais longe que os deuses. Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos. Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio. Mais vale saber passar silenciosamente E sem desassossegos grandes (...)” Ricardo Reis Veja a imagem do próximo heterônimo:
  • 6. Ilustração de Almada Negreiros Álvaro de Campos nasceu em outubro de 1890. Era engenheiro naval, alto, magro, cabelos lisos e assemelhava-se a um judeu português. Álvaro de Campos era o poeta do futuro, da velocidade, das máquinas, do tempo presente, identificado com a Vanguarda Européia. Seus textos são contraditórios: ora marcados por uma grande energia, ora revelando a crise dos valores espirituais e a angústia do homem de seu tempo, inadaptado às condutas sociais Enquanto Alberto Caeiro pensava com os sentidos e Ricardo Reis com a razão, Álvaro de Campos, pensava com a emoção. Veja suas características no próximo texto: Lisbon revisited “Não: não quero nada. Já disse que não quero nada. Não me venham com conclusões! A única conclusão é morrer. Não me tragam estéticas!
  • 7. Não me falem em moral! Tirem-me daqui a metafísica! Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) – Das ciências, das artes, da civilização moderna! Que mal fiz eu aos deuses todos? Se têm a verdade, guardem-na! Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica. Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo. Com todo direito a sê-lo, ouviram? Não me macem, por amor de Deus! (...)” Álvaro de Campos Veja agora a imagem de Fernando Pessoa “ele mesmo”: Ilustração de Almada Negreiros Fernando Pessoa foi um dos escritores mais complexos da literatura portuguesa. Começou a se destacar como escritor a partir de seus inúmeros artigos publicados sobre as novas tendências modernistas em Portugal. Mas foi graças a criação de seus heterônimos que ganhou notoriedade mundial.
  • 8. A produção ortônima de Fernando Pessoa apresenta características bem diferentes das encontradas em seus heterônimos. Fernando Pessoa “ele-mesmo” expressa um profundo sentimento nacionalista e um apego à tradição portuguesa. Sua produção literária é comumente dividida em: lírica e épica. O livro Mensagem é um exemplo da sua obra épica. Nele Fernando Pessoa, numa clara aproximação com Camões, vai falar dos grandes feitos portugueses, dos reis e da época das grandes navegações. Veja um exemplo de sua obra lírica, através de um de seus poemas mais conhecidos: Autopsicografia O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que lêem o que escreve, Na lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm. E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama o coração. Fernando Pessoa Outra figura importante do Modernismo português é Mário de Sá- Carneiro, que como vimos, também fez parte do grupo de escritores responsáveis pela publicação da Revista Orpheu em 1915. Ele era o responsável pela parte financeira da revista, tanto que após o seu suicídio, em 1916, com apenas 26 anos, e revista não circulou mais. Seus textos são marcados por um forte sentimento de inadaptação ao mundo e por muito subjetivismo. Mário de Sá-Carneiro buscou compreender o porquê de sua existência, mas não o encontrou, acabando se perdendo nele mesmo.
  • 9. Veja o seu texto mais famoso: Dispersão “Perdi-me dentro de mim Porque eu era labirinto, E hoje, quando me sinto, É com saudades de mim. (...) Não sinto o espaço que encerro Nem as linhas que projeto: Se me olho a um espelho, erro – Não me acho no que projeto. Regresso dentro de mim Mas nada me fala, nada! Tenho a alma amortalhada, Sequinha, dentro de mim. (...) Eu tenho pena de mim, Pobre menino ideal... Que me faltou afinal? Um elo? Um rastro?... Ai de mim!... (...) Perdi a morte e a vida, E, louco, não enlouqueço... A hora foge vivida Eu sigo-a, mas permaneço...” Mário de Sá-Carneiro II – EXERCÍCIOS 1) (UM–SP) Assinale a alternativa correta a respeito das três afirmações abaixo.
  • 10. I – Os heterônimos de Fernando Pessoa nascem de um múltiplo desdobramento de sua personalidade. II – Alberto Caeiro é o poeta que se volta para o campo, procurando viver em simplicidade. III – Ricardo Reis é um poeta moderno, que do desespero extrai a própria razão de ser. a) Apenas a I e a II estão corretas. b) Todas estão corretas. c) Apenas a I e a II estão corretas. d) Nenhuma está correta. e) Apenas a II e a III estão corretas. R: a 2) (FUVEST) I. “O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente”. II. “Sonho que sou um cavaleiro andante Por desertos, pois sóis, por noite escura, Paladino do amor, busco anelante O palácio encantado da Ventura!” As estrofes acima são, respectivamente, dos poetas: a) Fernando Pessoa e Barbosa du Bocage b) Cesário Verde e Luís de Camões c) Guerra Junqueiro e Antero de Quental d) Sá-Carneiro e Luís de Camões e) Fernando Pessoa e Antero de Quental R: e 3) (VUNESP) O texto a seguir pode ser tomado como exemplo ilustrativo do estilo de um dos heterônimos de Fernando Pessoa: “Negue-me tudo a sorte, menos vê-la, Que eu, stóico sem dureza, Na sentença gravada do Destino Quero gozar as letras”. O heterônimo em questão é:
  • 11. a) Alberto Caeiro b) Ricardo Reis c) Bernardo Soares d) Álvaro de Campos e) Antônio Mora R: b 4) (UM–SP) A respeito de Fernando Pessoa, é incorreto afirmar que: a) não só assimilou o passado lírico de seu povo, como refletiu em si as grandes inquietações humanas do começo do século. b) os heterônimos são meios de conhecer a complexidade cósmica impossível para uma só pessoa. c) Ricardo Reis simboliza uma forma humanística de ver o mundo através do espírito da Antigüidade Clássica. d) junto com Mário de Sá-Carneiro, dirige a publicação do segundo número do Orpheu, em 1916. e) a “Tabacaria”, de Alberto Caeiro, mostra seu desejo de deixar o grande centro em busca da simplicidade do campo. R: e