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Uma Aventura
                                                               na
                                                      Terra dos Direitos




Titulo: Uma Aventura na Terra dos Direitos
Autora: Paula Guimarães
Ilustrações e design: Marcad’água designers, Lda.
Edição: IDS-Instituto para o Desenvolvimento Social
Rua Castilho, nº5 - 3º - 1250-066 Lisboa
Tel. 21 318 49 00 - Fax. 21 313 95 59
                                                         PAULA GUIMARÌES
E-mail: IDS@seg-social.pt
Direitos reservados
Tiragem: 10.000 Exemplares
Impressão e Acabamento: Fernandes & Terceiro, Lda.
Depósito Legal: 00000000000 ???
- Bom dia pai! Bom dia m‹e! Bom dia Guida! - foi o
  Quando acordou achou que era um dia especial. N‹o              Jo‹o dizendo enquanto despia o pijama e entrava
sabia bem porqu•, mas sentia uma enorme excita•‹o                para a banheira.
que o fez levantar-se rapidamente e correr para a casa         Estava quente e cheirava bem. O sabonete deslizava
de banho.                                                    na pele como um tren— na neve e ele come•ou a
  - Ena!!! - atŽ disse o pai quando o viu passar a correr.   cantarolar entusiasmado.
  - Hoje n‹o Ž preciso chamar-te duas vezes.                   S— de regresso ao quarto Ž que come•ou a perceber


                            4                                                         5
Uma Aventura na Terra dos Direitos




a raz‹o porque se sentia t‹o feliz. Empoleirada no
beliche, de cabe•a para baixo, fazendo equil’brios,
estava uma estranha rapariga.
  - Ol‡ Jo‹o!
  Por um triz ele n‹o gritou de surpresa. Foi-se
aproximando devagar ˆ medida que ela se erguia e se
sentava na cama. Estava vestida com um longo vestido
cheio de letras e a sua cara parecia estar sempre a
mudar. T‹o depressa tinha bochechas como ficava
muito magra e os seus olhos mudavam de cor como se
  reflectissem a luz.
     - Quem Žs tu?
       - Sou a Conven•‹o.
         - Concei•‹o?
         - N‹o, Conven•‹o.
        - Mas que nome t‹o esquisito...
        nunca tinha ouvido. Como Ž que apareceste
    aqui? ƒs amiga da minha irm‹ Guida?
      - TambŽm sou, mas desta vez venho por tua
        causa. Sabes, fa•o anos hoje e queria convidar-
        te para uma festa na minha terra.
       - Boa! Eu adoro festas, mas tenho que pedir aos
          meus pais...
       - Claro.
  O Jo‹o encaminhou-se para a cozinha, ainda um
bocado atordoado por tanta novidade.
  O pai punha a manteiga nas torradas e a m‹e dava a
papa ˆ irm‹. Ele n‹o precisou de dizer nada.


                              7
Uma Aventura na Terra dos Direitos




   Eles sorriram para ele de uma forma cœmplice e
disseram:
   - Ent‹o est‡s preparado para a aventura? Podes ir e
     diverte-te...
   - Mas... e a escola...?
   - O que vais aprender hoje com a Conven•‹o
     tambŽm Ž muito importante. Toca a andar e
     goza bem o dia de anivers‡rio.
   A rapariga apareceu ˆ porta e chamou-o.
   - Est‡s pronto?
   - Estou!
   - Ent‹o vamos embora, d‡-me a tua m‹o.
   Depois ele s— viu o sorriso dos pais e um bocado de
papa no queixo da Guida e a seguir ficou tudo
enevoado, a andar ˆ volta muito depressa, como se
estivessem dentro de um tuf‹o.
   Por fim aterraram num espa•o completamente em
branco, que parecia uma enorme folha do seu caderno
de desenho.
   - Onde Ž que estamos? - perguntou o Jo‹o
   - Na terra dos direitos.
   - Mas est‡ tudo vazio.
   - Aqui. Porque Ž o aeroporto dos direitos novos.
     Daqueles que ainda n‹o foram escritos. Anda
     comigo que eu vou mostrar-te o resto...
   E l‡ se puseram a caminho, atravŽs de uma estrada
de letras que apareciam ˆ medida que iam avan•ando


                              8
como se uma grande caneta
invis’vel fosse andando ˆ frente.
   - Mas afinal quem Žs tu?
   A Conven•‹o ia saltitando, com
o longo vestido de palavras...
   - Chamo-me Conven•‹o dos Direitos da Crian•a,                  Direitos das Crian•as nas aulas, mas nunca imaginara que
     mas podes chamar-me S‹o e nasci h‡ 12 anos. Em               fosse divertido conhecer uma lei.
     1989 as Na•›es Unidas resolveram aprovar-me                     - ƒs muito mais gira do que eu pensei...
     para defenderem os direitos de todas as pessoas                 A Conven•‹o sorriu vaidosa. E no espa•o de segundos
     com menos de 18 anos...                                      os seus olhos passaram de azuis a orientais.
   - Hum... ent‹o Žs uma lei?                                        - Como Ž que fazes isso?
   - Exacto! Sou feita de artigos...                                 - Ora, Ž f‡cil... o meu artigo 2¼ diz que as crian•as
   - E cada um deles fala de um direito, n‹o Ž? - insistiu ele.        t•m todos os direitos independentemente da ra•a,
   - Muito bem, sabes disto n‹o h‡ dœvida!                             do sexo, da l’ngua ou da religi‹o. Por isso consigo
   O Jo‹o ficou todo orgulhoso. J‡ ouvira falar dos                    ser igual a todas as crian•as do mundo e sempre


                              10                                                             11
Uma Aventura na Terra dos Direitos


    diferente. Adoro mudar de visual... ora v•...
  E num passe de m‡gica os seus cabelos ficaram
escuros e muito encaracolados como uma crian•a da
NigŽria e depois pretos e lisos, como em Goa, a seguir
presos numa tran•a mexicana e depois de um amarelo
quase branco vindo directamente da Noruega.
  O Jo‹o estava espantado.




  - Oh S‹o... e tu consegues transformar-te em rapaz?
  - Claro. - E num instante ela ficou igual a ele, o
    mesmo cabelo ruivo espetado, o mesmo nariz, os
    mesmos joelhos salientes e cheios de arranh›es.
  - Sou eu!!!
  - Yes, oui, ya, sim, si...
  - Que est‡s a dizer?
  - Estou a demonstrar a minha cultura... porque eu
    falo todas as l’nguas.
    Entretanto a paisagem mudara completamente.                   Logo ˆ entrada do Jardim, por detr‡s de uma grande
    Estavam agora em frente de um grande port‹o                 secret‡ria estava o Juizinho, vestido com um bibe
    dourado.                                                    escuro, —culos redondos, a escrever de forma muito
  - Este Ž o Jardim da Inf‰ncia, a zona da terra dos direitos   concentrada, deixando ver um bocadinho de l’ngua.
    onde as crian•as s‹o as pessoas mais importantes. Anda,       - Bom dia Juizinho... trago comigo o visitante escolhido
    vamos conhecer o Juizinho, que Ž um rapaz muito bem             para o anivers‡rio deste ano. Chama-se Jo‹o.
    comportado que est‡ sempre preocupado em aplicar os           - Hummm. - Ele olhou por cima dos —culos e
    meus artigos. Ele Ž que diz se pode entrar.                     questionou - E tens tido juizinho?


                              12                                                           13
Uma Aventura na Terra dos Direitos




  - Sim, senhor - respondeu o Jo‹o.
  - Bem, Ž que n‹o basta ter direitos, Ž preciso saber
    utiliz‡-los, ser respons‡vel e cumprir os deveres.
    Achas que Žs capaz?
  - Sim... - disse ele com convic•‹o.
  - Ent‹o podes entrar... adeus S‹o, atŽ ˆ pr—xima - e
    o Juizinho mergulhou logo nos papeis.
  A Conven•‹o puxou o Jo‹o por um bra•o e entraram
num bosque com ‡rvores enormes. Andaram por entre
os troncos grossos, cheios de placas coloridas com
nomes, atŽ que pararam em frente a um velho pl‡tano
que tinha escrito o apelido da fam’lia do Jo‹o.
  - AtŽ que enfim... Esta Ž a floresta das ‡rvores
    geneal—gicas. Cada fam’lia tem uma ‡rvore onde
    est‹o registados os nomes de todos os membros, a
    data e o local onde nasceram. Tu tambŽm est‡s aqui
    registado, tal como diz o meu artigo 7¼. Olha.
  E l‡ estava...o seu nome muito bem registado.
  Mas mal teve tempo de gozar esse momento, j‡ a
Conven•‹o o empurrava para dentro de um edif’cio que
parecia a sua escola... que tinha uma tabuleta que dizia
"Escola de Pais".
  O Jo‹o come•ou a rir-se...
  - Ah, ah, ah...n‹o sabia que agora os pais tambŽm


                              14
fugir e t‹o
                                                                                                  depressa estavam
    tinham que aprender a                                                                  escritos em japon•s, como
    ler e a escrever... ah, ah,                                                    em ‡rabe, ou em portugu•s. AlŽm
    ah     e    tambŽm       lhes                                        de queÉ bemÉ era preciso dizer a
    perguntam a tabuada... aposto que n‹o                  verdade, ele ainda n‹o lia muito bem.
    sabem... ah, ah, ah...                                   - S‹o, troca l‡ isso por miœdos...
  - N‹o te rias... olha que isto Ž sŽrio... n‹o aprendem     - Bem, os artigos dizem que um adulto que seja
    isso mas precisam de saber outras coisas. Os               respons‡vel por uma crian•a deve fazer o que for
    direitos das crian•as dependem muito dos pais e,           melhor para ela...e isso significa que devem esfor•ar-se
    por vezes, dos av—s, dos tios e do resto da fam’lia.       para que n‹o lhe falte nada e n‹o podem maltrat‡-la.
  - TambŽm tens isso escrito no teu vestido de               Jo‹o lembrou-se dos seus pais e suspirouÉ pensou
    artigos?                                               que tinha muita sorte.
  - Tenho pois, nos artigos 3¼, 18¼, 19¼ e 27¼...            - E quando os pais n‹o fazem isso?
  O Jo‹o andava volta dela a ver se conseguia ler o que      - TambŽm pensei nisso e por isso tenho aqui no bolso
os artigos diziam, mas era dif’cil pois eles pareciam          os artigos 20¼ e 21¼, que garantem que as crian•as


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Uma Aventura na Terra dos Direitos




    que n‹o t•m pais, ou n‹o podem viver com eles,
    merecem o mesmo respeito.
  - Pensas em tudo...
  - ƒ verdade. Olha como os pais tomam apontamentos
    sobre os vossos direitos. N‹o Ž f‡cil ser m‹e ou pai,
    exige trabalho, tempo, dedica•‹o e amor... e para
    n‹o falharem de vez em quando precisam de aux’lio.
  O Jo‹o prometeu a si pr—prio que se ia lembrar disso
cada vez que n‹o lhe apetecesse obedecer.
  - Bem, vamos continuar a visita... Pr—ximo destino, a
    Arca dos Desejos.
  - Uau!!!
  E largaram os dois a correr atŽ verem uma arca
escura, do tamanho de um prŽdio de cinco andares.
Parecia um baœ do tesouro como ele via nos livros de
aventuras.
  O buraco da fechadura era t‹o grande como uma
porta e muito escuro... metia um bocadinho de medo.
  - Como vamos entrar ali?
  - Vamos escalar, gostas de desportos radicais n‹o
    gostas?
  - Sim... bem... acho que sim.
  - Ent‹o vamos a isto.
  A Conven•‹o iniciou a escalada, agarrando-se aos
rebordos da madeira e subindo cautelosamente.


                               19
Uma Aventura na Terra dos Direitos




Procurando toda a sua coragem, o Jo‹o seguiu-a. Os
seus tŽnis escorregavam e as m‹os come•aram a ficar
doridas. Apesar do desconforto estava a viver uma
aventura... ia fazer um sucesso quando contasse aos
colegas.
   Estava t‹o concentrado no seu exerc’cio de
alpinismo que n‹o se apercebeu de uma sombra negra
que se aproximava silenciosamente. S— deu por isso
quando foi agarrado com for•a e elevado nos ares,
preso por umas garras duras.
   - Socorro Conven•‹o, socorro.... - gritou a plenos
     pulm›es mas ela nada podia fazer, n‹o passava de um
     pontinho branco no meio da Arca muito l‡ em baixo.
   Apesar da S‹o lhe ter dito que os artigos que tinha
nos bra•os, o 11¼ e o 35¼ dizerem que n‹o podia ser
raptado ou vendido, estava a ser raptado por um grande
p‡ssaro mec‰nico. Ao olhar para cima via o corpo feito
de metal prateado com umas asas compridas que
chiavam com falta de —leo.
   Sobrevoaram um campo de trigo, atravessaram um
tra•o azul irregular, que devia ser um rio e come•aram
a descer para um desfiladeiro cheio de cavernas.
   - Socorro!!!
   A ave iniciou um voo picado em direc•‹o ao ch‹o,
fazendo gincana pelo meio das rochas a uma velocidade


                              20
- Iac... que bichos
                                                                                                t‹o feios.
                                                                                               Uma voz baixinha
maior do que qualquer jogo electr—nico. Por fim aterrou                                 ao lado dele explicou:
no meio do p—, depositando o Jo‹o numa espŽcie de               - S‹o os Tortos... n‹o gostam que as crian•as
gaiola.                                                           tenham direitos.
  - Eh! O que Ž isto? N‹o me podem prender assim. Eu          Quem falava era um menino, mas na cara muito suja
    tenho o direito a defender-me...                       s— se percebiam dois grandes olhos.
  NinguŽm lhe ligou nenhuma. Ë sua volta estendia-se          - Quem Žs tu?
uma espŽcie de aldeia feita de ninhos ovais e pelas ruas      - Sou o Rui mas chamam-me o "dedo no ar", porque
estreitas passeavam uns feios p‡ssaros, todos                   estou sempre a pedir a palavra no CCL.
desengon•ados.                                                Eu n‹o me ralo, afinal tenho direito a dizer o que
  Nenhum tinha duas asas iguais, os bicos pareciam         penso, est‡ no artigo 13¼.
narizes esmurrados e os olhos estr‡bicos saiam das            - O que Ž isso do CCL?
—rbitas.                                                      - Clube das Crian•as Livres. Foi criado porque a


                          22                                                        23
Uma Aventura na Terra dos Direitos




conven•‹o dos direitos da crian•a tem o artigo 15¼, que
diz que podemos reunirmo-nos com outras pessoas e
    criar grupos e associa•›es, desde que n‹o violes os
          direitos das outras pessoas. Conheces a
              Conven•‹o, n‹o conheces?
                  - De ginjeira....
                  - Apresento-te os outros membros da
                    Associa•‹o.      A   Marta,    vice-
                    presidente, o RogŽrio, tesoureiro, a
                    Ana e o Pedro. Viemos libertar-te.
                   Um a um foram surgindo os seus novos
                amigos e com eles esgueirou-se por entre
                as grades da gaiola.
                  Atravessaram a cidade e o Jo‹o foi
              vendo muitos rapazes e raparigas,
            carregados com baldes de ‡gua, limpando o
           ch‹o com grandes vassouras.
            Por vezes via-se um menino ou uma menina a
         fugirem de um grupo de p‡ssaros que os
       perseguiam, tirando fotografias e rindo.
       - O que Ž se passa aqui "dedo no ar"?
   - Os Tortos n‹o reconhecem a Conven•‹o nem a
     aceitaram como fez Portugal. Na terra deles as


                               25
Uma Aventura na Terra dos Direitos




     crian•as s‹o exploradas, t•m que trabalhar, n‹o
     t•m acesso a remŽdios quando est‹o doentes.
   - Ent‹o Ž perigoso viver aqui.
   - Muito. Por isso n—s tentamos ajud‡-los a fugir e
     explicamos o que Ž a Conven•‹o e o que ela diz,
     porque temos direito a ser informados.
   - Artigo 17¼ - disse o Jo‹o.
   - Fixe... Žs c‡ dos meus.
   -Sabem o que acho? Que dev’amos chamar a S‹o
para ela acabar com os Tortos.
   Foi s— pedir. Subitamente o cŽu foi tapado por um
len•ol branco, que era nem mais nem menos do que o
vestido da Conven•‹o. E dele choveram centenas de
palavras.
   Palavras bonitas como crian•a, pais, bem, casa,
alimento, p‡tria. Palavras doces que caiam no ch‹o seco
e faziam nascer plantinhas tenras, com nomes de novas
fam’lias. Palavras frescas como saœde, protec•‹o e
ajuda que tombavam nas aves met‡licas e as deixavam
enferrujadas e avariadas. Palavras fortes como
cultura, paz e vida e transformaram o desfiladeiro em
mais um canteiro do Jardim das Crian•as.
   Quando a chuva parou, todas as raparigas e rapazes
se libertaram das pris›es, deixaram as enxadas,


                             26
destru’ram as drogas e correram em direc•‹o ˆ
Conven•‹o, ao Jo‹o e aos membros do Clube, cantando
de alegria.
   - Meus amigos, Ž hora de festejar o meu anivers‡rio      - Olha, eu estou a gostar muito mas acho que agora
     e exercer o direito que tenho aqui escondido no          s‹o horas. Tenho saudades de casa.
     meu cinto.... o Direito a Brincar.                     - Muito bem Jo‹o. Vou fazer a tua vontade... basta
   Todos gritaram de alegria e a festa come•ou cheia          entrar na Arca dos Desejos.
de cor.                                                     - Mas vou ter que escalar?
   O Jo‹o correu, comeu e riu como nunca tinha feito,       A Conven•‹o riu-se.
experimentando coisas diferentes e conhecendo               - N‹o, desta vez poupo-te. Podes ir pelas traseiras,
amigos de todas as idades e todas as ra•as.                   onde h‡ um elevador.
   Ao fim da tarde, afogueado, com o cabelo colado ˆ        O Jo‹o despediu-se de todos, deu um grande abra•o
testa e as pernas cansadas, achou que era altura de se   ˆ sua amiga e num minuto j‡ estava na sala da sua casa
ir embora e foi ter com a sua amiga Conven•‹o.           ao pŽ dos pais e da irm‹ Guida.


                         28                                                        29
12
28¼- A                                              ¼                                                    medidas
       crian•a
               tem dir
                       eito ˆ e
                                                    -A
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   ser-lhe
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                                duca•‹o
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                                                                                           ara impedir o rr pt
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   diverso
           s graus
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               ‹o. orresp a sua o a n‹                                               c liz n•
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                                      a p o ser                                    al a ia         a an•a tnic ing
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                                 ia,
                                      nem                                             r       -   r i
                                                                                         da30¼ pe inor osa
                                          ao     na      a
                                              fen sua f introm
                                                 sas     am     iss
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                                                        ais a, no s es                                m ligi
                                                            ˆs
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                                                                 hon      7¼- A crian•a tem, desde o   re
                                                                     ra
                                                                              nascimento, o direito a um
           - Ent‹o, conta-nos tudo? Foi um dia em cheio, h‹?
           Ele ficou sŽrio e um pouco comovido. Pensou, pensou
                                                                              nome, o direito de conhecer
        e depois disse:
           - Foi bom foi, mas n‹o vou dizer nada. Desculpem
                                                                              os seus pais, cabendo ao
             mas Ž um segredo meu, que vou guardar. Afinal                   Estado promover a realiza•
             tenho direito ˆ minha privacidade... artigo...                                              ‹
                                                                             destes direitos.
           - 16¼- disseram os pais em coro... e riram-se.
                                                          36¼- Cabe ao
           E o Jo‹o pensou, de si para si, que os pais tambŽm
        tinham estado na Terra dos Direitos nesse dia.                 Estado
                                 30                           proteger a c
Fim




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Uma aventura na terra dos direitos

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  • 2. Uma Aventura na Terra dos Direitos Titulo: Uma Aventura na Terra dos Direitos Autora: Paula Guimarães Ilustrações e design: Marcad’água designers, Lda. Edição: IDS-Instituto para o Desenvolvimento Social Rua Castilho, nº5 - 3º - 1250-066 Lisboa Tel. 21 318 49 00 - Fax. 21 313 95 59 PAULA GUIMARÌES E-mail: IDS@seg-social.pt Direitos reservados Tiragem: 10.000 Exemplares Impressão e Acabamento: Fernandes & Terceiro, Lda. Depósito Legal: 00000000000 ???
  • 3. - Bom dia pai! Bom dia m‹e! Bom dia Guida! - foi o Quando acordou achou que era um dia especial. N‹o Jo‹o dizendo enquanto despia o pijama e entrava sabia bem porqu•, mas sentia uma enorme excita•‹o para a banheira. que o fez levantar-se rapidamente e correr para a casa Estava quente e cheirava bem. O sabonete deslizava de banho. na pele como um tren— na neve e ele come•ou a - Ena!!! - atŽ disse o pai quando o viu passar a correr. cantarolar entusiasmado. - Hoje n‹o Ž preciso chamar-te duas vezes. S— de regresso ao quarto Ž que come•ou a perceber 4 5
  • 4. Uma Aventura na Terra dos Direitos a raz‹o porque se sentia t‹o feliz. Empoleirada no beliche, de cabe•a para baixo, fazendo equil’brios, estava uma estranha rapariga. - Ol‡ Jo‹o! Por um triz ele n‹o gritou de surpresa. Foi-se aproximando devagar ˆ medida que ela se erguia e se sentava na cama. Estava vestida com um longo vestido cheio de letras e a sua cara parecia estar sempre a mudar. T‹o depressa tinha bochechas como ficava muito magra e os seus olhos mudavam de cor como se reflectissem a luz. - Quem Žs tu? - Sou a Conven•‹o. - Concei•‹o? - N‹o, Conven•‹o. - Mas que nome t‹o esquisito... nunca tinha ouvido. Como Ž que apareceste aqui? ƒs amiga da minha irm‹ Guida? - TambŽm sou, mas desta vez venho por tua causa. Sabes, fa•o anos hoje e queria convidar- te para uma festa na minha terra. - Boa! Eu adoro festas, mas tenho que pedir aos meus pais... - Claro. O Jo‹o encaminhou-se para a cozinha, ainda um bocado atordoado por tanta novidade. O pai punha a manteiga nas torradas e a m‹e dava a papa ˆ irm‹. Ele n‹o precisou de dizer nada. 7
  • 5. Uma Aventura na Terra dos Direitos Eles sorriram para ele de uma forma cœmplice e disseram: - Ent‹o est‡s preparado para a aventura? Podes ir e diverte-te... - Mas... e a escola...? - O que vais aprender hoje com a Conven•‹o tambŽm Ž muito importante. Toca a andar e goza bem o dia de anivers‡rio. A rapariga apareceu ˆ porta e chamou-o. - Est‡s pronto? - Estou! - Ent‹o vamos embora, d‡-me a tua m‹o. Depois ele s— viu o sorriso dos pais e um bocado de papa no queixo da Guida e a seguir ficou tudo enevoado, a andar ˆ volta muito depressa, como se estivessem dentro de um tuf‹o. Por fim aterraram num espa•o completamente em branco, que parecia uma enorme folha do seu caderno de desenho. - Onde Ž que estamos? - perguntou o Jo‹o - Na terra dos direitos. - Mas est‡ tudo vazio. - Aqui. Porque Ž o aeroporto dos direitos novos. Daqueles que ainda n‹o foram escritos. Anda comigo que eu vou mostrar-te o resto... E l‡ se puseram a caminho, atravŽs de uma estrada de letras que apareciam ˆ medida que iam avan•ando 8
  • 6. como se uma grande caneta invis’vel fosse andando ˆ frente. - Mas afinal quem Žs tu? A Conven•‹o ia saltitando, com o longo vestido de palavras... - Chamo-me Conven•‹o dos Direitos da Crian•a, Direitos das Crian•as nas aulas, mas nunca imaginara que mas podes chamar-me S‹o e nasci h‡ 12 anos. Em fosse divertido conhecer uma lei. 1989 as Na•›es Unidas resolveram aprovar-me - ƒs muito mais gira do que eu pensei... para defenderem os direitos de todas as pessoas A Conven•‹o sorriu vaidosa. E no espa•o de segundos com menos de 18 anos... os seus olhos passaram de azuis a orientais. - Hum... ent‹o Žs uma lei? - Como Ž que fazes isso? - Exacto! Sou feita de artigos... - Ora, Ž f‡cil... o meu artigo 2¼ diz que as crian•as - E cada um deles fala de um direito, n‹o Ž? - insistiu ele. t•m todos os direitos independentemente da ra•a, - Muito bem, sabes disto n‹o h‡ dœvida! do sexo, da l’ngua ou da religi‹o. Por isso consigo O Jo‹o ficou todo orgulhoso. J‡ ouvira falar dos ser igual a todas as crian•as do mundo e sempre 10 11
  • 7. Uma Aventura na Terra dos Direitos diferente. Adoro mudar de visual... ora v•... E num passe de m‡gica os seus cabelos ficaram escuros e muito encaracolados como uma crian•a da NigŽria e depois pretos e lisos, como em Goa, a seguir presos numa tran•a mexicana e depois de um amarelo quase branco vindo directamente da Noruega. O Jo‹o estava espantado. - Oh S‹o... e tu consegues transformar-te em rapaz? - Claro. - E num instante ela ficou igual a ele, o mesmo cabelo ruivo espetado, o mesmo nariz, os mesmos joelhos salientes e cheios de arranh›es. - Sou eu!!! - Yes, oui, ya, sim, si... - Que est‡s a dizer? - Estou a demonstrar a minha cultura... porque eu falo todas as l’nguas. Entretanto a paisagem mudara completamente. Logo ˆ entrada do Jardim, por detr‡s de uma grande Estavam agora em frente de um grande port‹o secret‡ria estava o Juizinho, vestido com um bibe dourado. escuro, —culos redondos, a escrever de forma muito - Este Ž o Jardim da Inf‰ncia, a zona da terra dos direitos concentrada, deixando ver um bocadinho de l’ngua. onde as crian•as s‹o as pessoas mais importantes. Anda, - Bom dia Juizinho... trago comigo o visitante escolhido vamos conhecer o Juizinho, que Ž um rapaz muito bem para o anivers‡rio deste ano. Chama-se Jo‹o. comportado que est‡ sempre preocupado em aplicar os - Hummm. - Ele olhou por cima dos —culos e meus artigos. Ele Ž que diz se pode entrar. questionou - E tens tido juizinho? 12 13
  • 8. Uma Aventura na Terra dos Direitos - Sim, senhor - respondeu o Jo‹o. - Bem, Ž que n‹o basta ter direitos, Ž preciso saber utiliz‡-los, ser respons‡vel e cumprir os deveres. Achas que Žs capaz? - Sim... - disse ele com convic•‹o. - Ent‹o podes entrar... adeus S‹o, atŽ ˆ pr—xima - e o Juizinho mergulhou logo nos papeis. A Conven•‹o puxou o Jo‹o por um bra•o e entraram num bosque com ‡rvores enormes. Andaram por entre os troncos grossos, cheios de placas coloridas com nomes, atŽ que pararam em frente a um velho pl‡tano que tinha escrito o apelido da fam’lia do Jo‹o. - AtŽ que enfim... Esta Ž a floresta das ‡rvores geneal—gicas. Cada fam’lia tem uma ‡rvore onde est‹o registados os nomes de todos os membros, a data e o local onde nasceram. Tu tambŽm est‡s aqui registado, tal como diz o meu artigo 7¼. Olha. E l‡ estava...o seu nome muito bem registado. Mas mal teve tempo de gozar esse momento, j‡ a Conven•‹o o empurrava para dentro de um edif’cio que parecia a sua escola... que tinha uma tabuleta que dizia "Escola de Pais". O Jo‹o come•ou a rir-se... - Ah, ah, ah...n‹o sabia que agora os pais tambŽm 14
  • 9. fugir e t‹o depressa estavam tinham que aprender a escritos em japon•s, como ler e a escrever... ah, ah, em ‡rabe, ou em portugu•s. AlŽm ah e tambŽm lhes de queÉ bemÉ era preciso dizer a perguntam a tabuada... aposto que n‹o verdade, ele ainda n‹o lia muito bem. sabem... ah, ah, ah... - S‹o, troca l‡ isso por miœdos... - N‹o te rias... olha que isto Ž sŽrio... n‹o aprendem - Bem, os artigos dizem que um adulto que seja isso mas precisam de saber outras coisas. Os respons‡vel por uma crian•a deve fazer o que for direitos das crian•as dependem muito dos pais e, melhor para ela...e isso significa que devem esfor•ar-se por vezes, dos av—s, dos tios e do resto da fam’lia. para que n‹o lhe falte nada e n‹o podem maltrat‡-la. - TambŽm tens isso escrito no teu vestido de Jo‹o lembrou-se dos seus pais e suspirouÉ pensou artigos? que tinha muita sorte. - Tenho pois, nos artigos 3¼, 18¼, 19¼ e 27¼... - E quando os pais n‹o fazem isso? O Jo‹o andava volta dela a ver se conseguia ler o que - TambŽm pensei nisso e por isso tenho aqui no bolso os artigos diziam, mas era dif’cil pois eles pareciam os artigos 20¼ e 21¼, que garantem que as crian•as 16 17
  • 10. Uma Aventura na Terra dos Direitos que n‹o t•m pais, ou n‹o podem viver com eles, merecem o mesmo respeito. - Pensas em tudo... - ƒ verdade. Olha como os pais tomam apontamentos sobre os vossos direitos. N‹o Ž f‡cil ser m‹e ou pai, exige trabalho, tempo, dedica•‹o e amor... e para n‹o falharem de vez em quando precisam de aux’lio. O Jo‹o prometeu a si pr—prio que se ia lembrar disso cada vez que n‹o lhe apetecesse obedecer. - Bem, vamos continuar a visita... Pr—ximo destino, a Arca dos Desejos. - Uau!!! E largaram os dois a correr atŽ verem uma arca escura, do tamanho de um prŽdio de cinco andares. Parecia um baœ do tesouro como ele via nos livros de aventuras. O buraco da fechadura era t‹o grande como uma porta e muito escuro... metia um bocadinho de medo. - Como vamos entrar ali? - Vamos escalar, gostas de desportos radicais n‹o gostas? - Sim... bem... acho que sim. - Ent‹o vamos a isto. A Conven•‹o iniciou a escalada, agarrando-se aos rebordos da madeira e subindo cautelosamente. 19
  • 11. Uma Aventura na Terra dos Direitos Procurando toda a sua coragem, o Jo‹o seguiu-a. Os seus tŽnis escorregavam e as m‹os come•aram a ficar doridas. Apesar do desconforto estava a viver uma aventura... ia fazer um sucesso quando contasse aos colegas. Estava t‹o concentrado no seu exerc’cio de alpinismo que n‹o se apercebeu de uma sombra negra que se aproximava silenciosamente. S— deu por isso quando foi agarrado com for•a e elevado nos ares, preso por umas garras duras. - Socorro Conven•‹o, socorro.... - gritou a plenos pulm›es mas ela nada podia fazer, n‹o passava de um pontinho branco no meio da Arca muito l‡ em baixo. Apesar da S‹o lhe ter dito que os artigos que tinha nos bra•os, o 11¼ e o 35¼ dizerem que n‹o podia ser raptado ou vendido, estava a ser raptado por um grande p‡ssaro mec‰nico. Ao olhar para cima via o corpo feito de metal prateado com umas asas compridas que chiavam com falta de —leo. Sobrevoaram um campo de trigo, atravessaram um tra•o azul irregular, que devia ser um rio e come•aram a descer para um desfiladeiro cheio de cavernas. - Socorro!!! A ave iniciou um voo picado em direc•‹o ao ch‹o, fazendo gincana pelo meio das rochas a uma velocidade 20
  • 12. - Iac... que bichos t‹o feios. Uma voz baixinha maior do que qualquer jogo electr—nico. Por fim aterrou ao lado dele explicou: no meio do p—, depositando o Jo‹o numa espŽcie de - S‹o os Tortos... n‹o gostam que as crian•as gaiola. tenham direitos. - Eh! O que Ž isto? N‹o me podem prender assim. Eu Quem falava era um menino, mas na cara muito suja tenho o direito a defender-me... s— se percebiam dois grandes olhos. NinguŽm lhe ligou nenhuma. Ë sua volta estendia-se - Quem Žs tu? uma espŽcie de aldeia feita de ninhos ovais e pelas ruas - Sou o Rui mas chamam-me o "dedo no ar", porque estreitas passeavam uns feios p‡ssaros, todos estou sempre a pedir a palavra no CCL. desengon•ados. Eu n‹o me ralo, afinal tenho direito a dizer o que Nenhum tinha duas asas iguais, os bicos pareciam penso, est‡ no artigo 13¼. narizes esmurrados e os olhos estr‡bicos saiam das - O que Ž isso do CCL? —rbitas. - Clube das Crian•as Livres. Foi criado porque a 22 23
  • 13. Uma Aventura na Terra dos Direitos conven•‹o dos direitos da crian•a tem o artigo 15¼, que diz que podemos reunirmo-nos com outras pessoas e criar grupos e associa•›es, desde que n‹o violes os direitos das outras pessoas. Conheces a Conven•‹o, n‹o conheces? - De ginjeira.... - Apresento-te os outros membros da Associa•‹o. A Marta, vice- presidente, o RogŽrio, tesoureiro, a Ana e o Pedro. Viemos libertar-te. Um a um foram surgindo os seus novos amigos e com eles esgueirou-se por entre as grades da gaiola. Atravessaram a cidade e o Jo‹o foi vendo muitos rapazes e raparigas, carregados com baldes de ‡gua, limpando o ch‹o com grandes vassouras. Por vezes via-se um menino ou uma menina a fugirem de um grupo de p‡ssaros que os perseguiam, tirando fotografias e rindo. - O que Ž se passa aqui "dedo no ar"? - Os Tortos n‹o reconhecem a Conven•‹o nem a aceitaram como fez Portugal. Na terra deles as 25
  • 14. Uma Aventura na Terra dos Direitos crian•as s‹o exploradas, t•m que trabalhar, n‹o t•m acesso a remŽdios quando est‹o doentes. - Ent‹o Ž perigoso viver aqui. - Muito. Por isso n—s tentamos ajud‡-los a fugir e explicamos o que Ž a Conven•‹o e o que ela diz, porque temos direito a ser informados. - Artigo 17¼ - disse o Jo‹o. - Fixe... Žs c‡ dos meus. -Sabem o que acho? Que dev’amos chamar a S‹o para ela acabar com os Tortos. Foi s— pedir. Subitamente o cŽu foi tapado por um len•ol branco, que era nem mais nem menos do que o vestido da Conven•‹o. E dele choveram centenas de palavras. Palavras bonitas como crian•a, pais, bem, casa, alimento, p‡tria. Palavras doces que caiam no ch‹o seco e faziam nascer plantinhas tenras, com nomes de novas fam’lias. Palavras frescas como saœde, protec•‹o e ajuda que tombavam nas aves met‡licas e as deixavam enferrujadas e avariadas. Palavras fortes como cultura, paz e vida e transformaram o desfiladeiro em mais um canteiro do Jardim das Crian•as. Quando a chuva parou, todas as raparigas e rapazes se libertaram das pris›es, deixaram as enxadas, 26
  • 15. destru’ram as drogas e correram em direc•‹o ˆ Conven•‹o, ao Jo‹o e aos membros do Clube, cantando de alegria. - Meus amigos, Ž hora de festejar o meu anivers‡rio - Olha, eu estou a gostar muito mas acho que agora e exercer o direito que tenho aqui escondido no s‹o horas. Tenho saudades de casa. meu cinto.... o Direito a Brincar. - Muito bem Jo‹o. Vou fazer a tua vontade... basta Todos gritaram de alegria e a festa come•ou cheia entrar na Arca dos Desejos. de cor. - Mas vou ter que escalar? O Jo‹o correu, comeu e riu como nunca tinha feito, A Conven•‹o riu-se. experimentando coisas diferentes e conhecendo - N‹o, desta vez poupo-te. Podes ir pelas traseiras, amigos de todas as idades e todas as ra•as. onde h‡ um elevador. Ao fim da tarde, afogueado, com o cabelo colado ˆ O Jo‹o despediu-se de todos, deu um grande abra•o testa e as pernas cansadas, achou que era altura de se ˆ sua amiga e num minuto j‡ estava na sala da sua casa ir embora e foi ter com a sua amiga Conven•‹o. ao pŽ dos pais e da irm‹ Guida. 28 29
  • 16. 12 28¼- A ¼ medidas crian•a tem dir eito ˆ e -A 35¼- Cabe a o Estado tomar as ser-lhe assegur duca•‹o devendo se cr a o, a venda ara impedir o rr pt ado pelo i de ex an• adequadas p diverso s graus Estado os ta eu •as. p s das sua de ensin o, em fu co qu pri a t ou tr‡fico de crian do s capac idades n•‹o q u ns e mi em id a s r a ao ˆ de opor e em ig ualdade e lh era ua livr o ve as ias os de did ‡r it tunidad di es. e da op em re re i sp na ini‹ ent to a do me ess ire st as ec os d e 16¼ ei s q o e de bit -A cria ta u se e E s ,n d qu •a a r dom ‡rias n•a t m es ja O da ce o t› ian um ic’l ou em er epu io ou egais ta• c il n od ire it es 4 ¼- to an a•‹ a. cr a a, ‹o. orresp a sua o a n‹ c liz n• ond vid a p o ser al a ia a an•a tnic ing •nc riva s e cr Tod te l da, ujeita a Ž ou ia, nem r - r i da30¼ pe inor osa ao na a fen sua f introm sas am iss ileg ’li › ais a, no s es m ligi ˆs ua eu hon 7¼- A crian•a tem, desde o re ra nascimento, o direito a um - Ent‹o, conta-nos tudo? Foi um dia em cheio, h‹? Ele ficou sŽrio e um pouco comovido. Pensou, pensou nome, o direito de conhecer e depois disse: - Foi bom foi, mas n‹o vou dizer nada. Desculpem os seus pais, cabendo ao mas Ž um segredo meu, que vou guardar. Afinal Estado promover a realiza• tenho direito ˆ minha privacidade... artigo... ‹ destes direitos. - 16¼- disseram os pais em coro... e riram-se. 36¼- Cabe ao E o Jo‹o pensou, de si para si, que os pais tambŽm tinham estado na Terra dos Direitos nesse dia. Estado 30 proteger a c