Este documento descreve diferentes tipos de orações subordinadas no português, incluindo subordinadas substantivas completivas e relativas. Discutem-se conjunções e formas verbais finitas e não finitas nestas orações. Exemplos ilustram como estas orações funcionam na linguagem.
Apresentação para décimo ano de 2017 8, aula 33-34
Apresentação para décimo primeiro ano de 2012 3, aula 97-98
1.
2.
3. Subordinante | Subordinada substantiva completiva
A porteira disse-me | que o vizinho do sétimo
andar tem um gato.
| complemento direto
[nota que a oração é substituível
pelo pronome «o»: ‘A porteira
disse-mo’.]
4. Todos sabemos que os animais não são
permitidos neste prédio.
complemento direto
Não quer que eu ponha o gatinho na rua...
complemento direto
Acho que é em Ermesinde.
complemento direto
6. É um escândalo que me falem em gritos.
[ = Isso é um escândalo. ]
sujeito predicativo do sujeito
sujeito
7. Conjunções subordinativas completivas
Todos sabemos que os animais não são
permitidos neste prédio.
Não quer que eu ponha o gatinho na rua...
Acho que é em Ermesinde.
Perguntou-lhe se vira uma gaja ou um homem
em Ermesinde.
8. As subordinadas substantivas
completivas FINITAS são introduzidas
pelas conjunções completivas que ou se.
Mas também há subordinadas
substantivas completivas NÃO FINITAS,
com o verbo no infinitivo, e essas não
precisam de conjunção.
14. Quem sobe pela escada fica com as cabeças dos
cadáveres todas moídas.
Sujeito
15. Subordinante | Subordinada substantiva relativa sem antecedente não finita
Sabes onde encontrar gajas boas?
16. Sabes onde há gajas boas?
advérbio relativo
quantificador relativo
Fugiam-lhe quantas velhas ou crianças
acorrentasse à parede.
pronome relativo
Quem sobe pela escada fica com as
cabeças dos cadáveres todas moídas.
17. Só lhe digo isto: «animais dentro de casa é nojento»!
Só lhe digo que animais dentro de casa é nojento.
Subordinante | Subordinada substantiva completiva finita
Só lhe digo ser um nojo os animais dentro de casa.
Subordinante | Subordinada substantiva completiva não finita
18. Subordinante | Subordinada adjetiva relativa restritiva
É um cheiro que se entranha nas rendas.
modificador restritivo do nome
19. Subordinante | Subordinada substantiva completiva não finita
Eu preciso | de dormir.
complemento oblíquo
20.
21.
22.
23. Põe na ordem correta os dezasseis
versos do poema (em quatro estrofes: 4
+ 4 + 4 + 4) de Cesário Verde dentro do
sobrescrito.
Desenho dos fragmentos de papel
não é indicativo (versos já estavam
misturados quando os recortei).
Ao contrário, as rimas são úteis.
24. DE TARDE
Naquele pic-nic de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
25. Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
26. Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.
27. Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
28. Logo o título, «De tarde», que é um
modificador temporal, remete para um
momento, uma coisa «simplesmente
bela», que merecia ser registado numa
«aguarela», apesar de aparentemente
irrelevante.
29. Poderíamos dizer que o momento em
causa era susceptível de ser fixado numa
polaroid (se no século XX) ou numa imagem
em instagram (atualmente), mas a pintura
coaduna-se bem com as várias referências
cromáticas: o «granzoal azul», o «ramalhete
rubro» ou, quando sai da renda, «púrpuro».
30. Quanto ao sol a pôr-se («inda o sol se via»),
é uma notação de ordem visual e mais um
elemento que aproxima o poema das
pinturas impressionistas (vem à lembrança,
por exemplo, o quadro «Déjeuner sur
l’herbe», de Edouard Manet).
31. Além das cores, há pormenores figurativos:
o rendilhado do decote por onde saem
«duas rolas» (com que se comparam os
«teus dois seios»).
32. Nem só o sentido da visão é convocado,
outros sentidos estão presentes: o olfato e
o gosto, a propósito das «talhadas de
melão», dos «damascos», do «pão-de-ló»
embebido em vinho doce; e não será
forçado vermos algo de táctil na alusão às
«duas rolas» que saem do decote da
rapariga.
33. Muito característica do poema (e de
Cesário Verde) é a sua narratividade. O
poeta parece ser um observador que faz
parte do grupo (vejam-se os deíticos
pessoais «tu», «nós», o demonstrativo
«[n]aquele» e o possessivo «teus»).
34. Relata um episódio cuja protagonista é uma
rapariga (uma burguesa?) capaz de colher
ramalhetes de papoulas «sem imposturas
tolas». As ações estão demarcadas em
função dos espaços («a um granzoal», «em
cima duns penhascos») e do tempo («foi
quando tu», «pouco depois»).
35. A última quadra (não, não é um soneto:
são quatro quartetos) apresenta-nos o
sujeito poético (o «narrador») embevecido
com o supremo encanto do «pic-nic» (e
não é interessante o uso do
estrangeirismo?).
36. Esse primeiro plano da câmara termina com
o verso «O ramalhete rubro das papoulas!»,
que quase repete o v. 8 («Um ramalhete
rubro de papoulas»).
37. Os artigos definidos no último verso do
poema («O», em vez do indefinido «Um»,
que estava no v. 8; e «[d]as», em vez da
preposição simples «de») mostram que a
observação se foi aproximando e que o
ramalhete de que se fala já é inconfundível.
A outra diferença entre os versos é o v. 16
terminar com um ponto de exclamação.
38. E, se atentarmos no som, perceberemos
que há nesse verso uma aliteração,
conseguida pela repetição da consoante
«r». (Já na segunda estrofe havia uma
figura fónica idêntica, entre a assonância e
a literação, no verso «A um granzoal azul de
grão-de bico», em que predominam as
nasais e a consoante z.)
39. Acerca da quadra final é ainda preciso
referir que a alteração da ordem natural da
frase, um hipérbato, faz que o último verso
seja o sintagma nominal que se pretende
destacar («o ramalhete rubro das
papoulas»). Por outro lado, por marcar uma
oposição, uma reorientação, a conjunção
adversativa «mas» valoriza o que depois
será o foco da quadra.
40. Também o tempo verbal usado nesta
quarta estrofe, o imperfeito do indicativo
(«era»), marca a perenidade daquela visão
singular, por contraste com o incidente,
efémero, que era a merenda de burguesas
(a que convinha o perfeito do indicativo:
«houve», «foi», «foste», «acampámos»,
«houve»).
41.
42. Escreve, em prosa, sobre um momento que
devesse ficar fixado (realçado dentro de um
incidente que tudo destinasse ao esquecimento).
Só as partes que dou seguem o modelo de
Cesário. No resto, apenas aconselho que a
descrição seja bastante sensorial.
___________________________________
{sintagma preposicional, como é De tarde}
Naquele/a __________________________________
______, houve uma coisa simplesmente bela. Foi quando
_________________________________________________
43. sensação principal (que torna o
momento memorável) pode ser visual,
de olfacto, de gosto, auditiva, táctil.
dar o enquadramento (os momentos que
precedem) até ao exacto momento de
êxtase