Os filósofos pré-socráticos foram os primeiros a
explicarem o mundo sem recorrer ao sobrenatural,
sem recorrer ao místico. Anteriormente a eles, o
mundo era explicado através da mitologia. A
mitologia, no seu tempo, era o que estabelecia as
regras sociais e estabeleciam a unidade do povo
grego.
conforme analisa o historiador francês Pierre Grimal (1912-
1996) em A mitologia grega:
O mito se opõe ao logos como a fantasia à razão, como a
palavra que narra à palavra que demonstra. Logos e mito são as
duas metades da linguagem, duas funções igualmente
fundamentais da vida do espírito.
O logos, sendo uma argumentação, pretende convencer. O logos
é verdadeiro, no caso de ser justo e conforme à “lógica”; é falso
quando dissimula alguma burla secreta (sofisma). Mas o mito
tem por finalidade apenas a si mesmo. Acredita-se ou não nele,
conforme a própria vontade, mediante um ato de fé, caso pareça
“belo” ou verossímil, ou simplesmente porque se quer acreditar.
O mito, assim, atrai em torno de si toda a parcela do irracional
existente no pensamento humano; por sua própria natureza, é
aparentado à arte, em todas as suas criações. (p. 89.)
O surgimento da Pólis, cidade-estado grega
Uma forma de organização
social. A utilização do
logos(a razão)estaria
vinculada ao surgimento
da pólis grega.
Para Vernant, a razão grega é filha da pólis, e o nascimento
da filosofia relaciona-se de maneira direta com o universo
espiritual
O que implica o sistema da pólis é primeiramente uma extraordinária preeminência da
palavra sobre todos os outros instrumentos de poder. [...] A palavra não é mais o termo ritual,
a fórmula justa, mas o debate contraditório, a discussão, a argumentação [...]. A arte política é
essencialmente exercício da linguagem; e o logos, na origem, toma consciência de si mesmo,
de suas regras, de sua eficácia, através de sua função política. [...] Uma segunda característica
da pólis é o cunho de plena publicidade dada às manifestações mais importantes da vida
social. [...] A cultura grega constitui-se, dando a um círculo sempre mais amplo – finalmente
ao demos [povo] todo – o acesso ao mundo espiritual, reservado no início a uma aristocracia
[...]. Tornando-se elementos de uma cultura comum, os conhecimentos, os valores, as técnicas
mentais são levadas à praça pública, sujeitos à crítica e à controvérsia. [...] Doravante, a
discussão, a argumentação, a polêmica tornam-se as regras do jogo intelectual, assim como
do jogo político. Era a palavra que formava, no quadro da cidade, o instrumento da vida
pública; é a escrita que vai fornecer, no plano propriamente intelectual, o meio de uma cultura
comum e permitir uma completa divulgação de conhecimentos previamente reservados ou
interditos.
(Vernant, As origens do pensamento grego, p. 34-36.)
Arché
Cosmologia –explicação racional e sistemática das
características do universo – que substituísse a
antiga cosmogonia – explicação sobre a origem do
universo baseada nos mitos.
O princípio substancial ou substância primordial (a arché, em
grego) existente em todos os seres, a “matéria-prima” de que
são feitas todas as coisas.
Tudo é água
Princípio do universo: a água.
A água se apresenta em vários estados, é imprescindível à vida,
está em todos os lugares. Logo, deve ter sido dela que surgiu o
Universo.
Princípio vital, a água penetraria todos os seres, de tal maneira
que tudo seria animado por ela. Isso quer dizer que tudo teria
alma (isto é, anima ou psyché) e, ao mesmo tempo, tudo seria
também divino (ou “cheio de deuses”), pois não haveria
separação entre o sagrado e o mundano. O universo seria uno e
homogêneo.
ANAXIMANDROFoi discípulo de Tales
Primeiro princípio: apeíron,o ilimitado, indeterminado e infinito.
Todas as coisas que existem são diversas tanto em qualidade
quanto em quantidade. 1º a utilizar o termo técnico arché para
designar o princípio fundamental de tudo.
Anaximandro afirma “de onde é a gênese dos seres, também
para aí devém a sua corrupção”, remete ao destino de todos
eles, diz o como e o exercício da sua existência, mas não
determina esse “onde” porque indeterminável e sem
experiência possível – ápeiron.
Anaxímenes: o ar
“Como nossa alma, que é ar, soberanamente nos mantém
unidos, assim também todo o cosmo sopro e ar o mantêm”
(ANAXÍMENES, em Souza, Pré-socráticos, p. 51).
ANAXÍMENES
Primeiro princípio:
o AR.
Partiu de um princípio material encontrado na
natureza que justificasse a composição,
sustentação e determinação de todo o universo.
O ar pode transforma-se por condensação em
água e terra e, por rarefação, em fogo.
O cosmo é uma respiração
gigante.
Pitágoras: os números
Resposta bastante distinta na busca da arché veio de Pitágoras
de Samos (c. 570-490 a.c.). Profundo estudioso da matemática,
Pitágoras defendeu a tese de que todas as coisas são números.
Mundo teria surgido da fixação de limites para o ilimitado (o
ápeiron), da imposição de formas numéricas sobre o espaço. e
da estrutura numérica da realidade derivariam problemas como
finito e infinito, par e ímpar, unidade e multiplicidade, reta e
curva, círculo e quadrado etc.
Pitágoras de Samos considerou o número como sendo a arché
de todas as coisas. Daí deriva a harmonia da natureza, feita à
imagem da harmonia dos números.
“A evolução é a lei da vida, o número é a lei do Universo, a
unidade é a lei de Deus.” Pitagoras
Influenciou o pensamento platônico.
Heráclito: fogo e devir
Tudo flui e nada permanece.
“Todas as coisas são trocadas em fogo e o fogo se troca em
todas as coisas, como as mercadorias se trocam por ouro e o
ouro é trocado por mercadorias”
“Este mundo, que é o mesmo para todos, nenhum dos deuses ou
dos homens o fez; mas foi sempre, é e será um fogo eternamente
vivo, que se acende com medida e se apaga com medida” -
nessa frase muitos vêem uma das chaves para a decifração do
pensamento de Heráclito de Éfeso, que já na Antiguidade
tornou-se conhecido como “o Obscuro”
Heráclito também observou, como seus predecessores, a atuação
dos opostos na natureza (frio e calor, seco e úmido etc.), mas
radicalizou essa observação, conferindo papel essencial ao
conflito em sua cosmologia. Desenvolveu, assim, uma visão da
realidade profundamente agonística (do grego agonistikós,
“relativo a luta”), pois para ele o fluxo constante da vida seria
impulsionado justamente pela luta de forças contrárias: a ordem
e a desordem, o bem e o mal, o belo e o feio, a construção e a
destruição, a justiça e a injustiça, o racional e o irracional, a
alegria e a tristeza etc.