4. Literatura Brasileira, UFMG-2012
“Ora
(direis)
ouvir
estrelas!
Certo
Perdeste
o
senso!”
E
eu
vos
direi,
no
entanto,
Que,
para
ouvi-‐Ias,
muita
vez
desperto
E
abro
as
janelas,
pálido
de
espanto
...
E
conversamos
toda
a
noite,
enquanto
A
via
láctea,
como
um
pálio
aberto,
CinIla.
E,
ao
vir
do
sol,
saudoso
e
em
pranto,
Inda
as
procuro
pelo
céu
deserto.
Direis
agora:
"Tresloucado
amigo!
Que
conversas
com
elas?
Que
senIdo
Tem
o
que
dizem,
quando
estão
conIgo?"
E
eu
vos
direi:
"Amai
para
entendê-‐las!
Pois
só
quem
ama
pode
ter
ouvido
Capaz
de
ouvir
e
de
entender
estrelas."
BILAC,
O.
Via
Láctea
XIII.
Obra
reunida.
Organização
e
introdução
de
Alexei
Bueno.
RJ:
Nova
Aguilar,
1996.
p.
117.
5. Literatura Brasileira, UFMG-2012
Ora!
–
direis
–
ouvir
panelas!
Certo
Ficaste
louco.
E
eu
vos
direito,
no
entanto,
Que
muitas
vezes
paro,
boquiaberto,
Para
escutá-‐las
pálido
de
espanto.
Direis
agora:
–
Mas
meu
louco
amigo,
Que
poderão
dizer
umas
panelas?
O
que
é
que
dizem
quando
estão
conIgo
E
que
senIdo
têm
as
frases
delas?
E
direi
mais:
–
Isso
quanto
ao
senIdo,
Só
quem
tem
fome
pode
ter
ouvido
Capaz
de
ouvir
e
entender
panelas.
TORELLY,
A.
–
Barão
de
Itararé.
In:
SALIBA,
Elias
Thomé.
Raízes
do
riso.
SP:
Companhia
das
Letras,
2002.
p.
217.
6. Literatura Brasileira, UFMG-2012
a)
Iden&fique
a relação intertextual que o segundo poema estabelece com o primeiro.
b)
Justifique sua resposta.
7. Literatura Brasileira, UFMG-2012
A
relação
que
o
segundo
poema
estabelece
com
o
primeiro
é
paródica.
Se,
no
poema
de
Bilac,
o
assunto
é
elevado
–
amor
–,
no
de
Torelly,
por
intermédio
de
uma
uma
palavra
prosaica
[panelas],
promove-‐se
não
só
uma
ruptura
com
o
tratamento
elevado
dado
ao
texto
poéIco
em
geral,
mas
também
se
traz
a
poesia
para
o
coIdiano,
para
o
comum,
para
o
prosaico.
Ademais,
enquanto
no
poema
01
adota-‐se
uma
perspecIva
elevada,
poéIca,
sublime,
o
poema
02
revela-‐se
prosaico,
social,
engajado.
9. Literatura Brasileira, UFMG-2012
O
céu,
transparente
que
doía,
vibrava,
tremendo
feito
uma
gaze
repuxada.
Vicente
senIa
por
toda
parte
uma
impressão
ressequida
de
calor
e
aspereza.
Verde,
na
monotonia
cinzenta
da
paisagem,
só
algum
juazeiro
ainda
escapo
à
devastação
da
rama;
mas
em
geral
as
pobres
árvores
apareciam
lamentáveis,
mostrando
os
cotos
dos
galhos
como
membros
amputados
e
a
casca
toda
raspada
em
grandes
zonas
brancas.
E
o
chão,
que
em
outro
tempo
a
sombra
cobria,
era
uma
confusão
desolada
de
galhos
secos,
cuja
agressividade
ainda
mais
se
acentuava
pelos
espinhos.
QUEIROZ,
Rachel
de.
O
quinze.
São
Paulo:
Círculo
do
Livro,
1992.
p.17-‐18.
10. Literatura Brasileira, UFMG-2012
Nesse
texto,
o
narrador
refere-‐se
à
seca
nordesIna.
IDENTIFIQUE
e
EXPLIQUE
a
tendência,
na
literatura
brasileira,
de
os
romancistas
se
disporem
a
escrever
sobre
essa
temáIca.
11. Literatura Brasileira, UFMG-2012
A
seca
nordesIna
é
temáIca
tendência
regionalista
[neonaturalista
ou
de
tensão
exteriorizada]
da
Segunda
Geração
do
Modernismo
Brasileiro.
Nesta
tendência
são
apresentadas
as
condições
de
vida
do
homem
do
sertão
–
a
opressão
promovida
pelo
laIfúndio,
a
exclusão
social,
a
vida
dos
reIrantes,
o
coronelismo,
a
fome
e
a
seca
vivenciadas
pelo
homem
nordesIno.
13. Literatura Brasileira, UFMG-2012
Minha
pátria
é
minha
infância:
Por
isso
vivo
no
exílio.
CACASO
[Antônio
Carlos
de
Brito].
Beijo
na
boca
e
outros
poemas.
SP:
Brasiliense,
1985.
p.83.
14. Literatura Brasileira, UFMG-2012
é
sempre
mais
divcil
ancorar
um
navio
no
espaço
CESAR,
Ana
CrisIna.
A
teus
pés.
SP:
Brasiliense,
1987.
p.57.
16. Literatura Brasileira, UFMG-2012
Os
dois
poemas
apresentam
temáIca
filosófico-‐existencial.
Por
intermédio
do
lirismo
metavsico,
os
locutores
revelam-‐se
deslocados
temporal
e
espacialmente.
No
primeiro
texto,
o
locutor,
no
primeiro
verso,
qualifica
posiIvamente
o
período
da
infância
[=
pátria]
e,
no
segundo,
indica
a
angúsIa
e
o
deslocamento
em
que
vive
no
"presente"
[vivo]
da
enunciação
[=
exílio].
No
segundo
poema,
a
adolescência,
referida
no
ytulo,
aparece
como
a
época
das
grandes
realizações
[=
ancorar
navio
no
espaço],
o
que
permite
ao
leitor
inferir
que,
no
momento
da
enunciação,
a
vida
do
locutor
não
é/era
tão
emocionante.
18. Literatura Brasileira, UFMG-2012
Colombo
sabe
perfeitamente
que
as
ilhas
já
têm
nome,
de
uma
certa
forma,
nomes
naturais
(mas
em
outra
acepção
do
termo);
as
palavras
dos
outros,
entretanto,
não
lhe
interessam
muito,
e
ele
quer
rebaIzar
os
lugares
em
função
do
lugar
que
ocupam
em
sua
descoberta,
dar-‐
lhes
nomes
justos;
a
nomeação,
além
disso,
equivale
a
tomar
posse.
TODOROV,
Tzevetan.
A
conquista
da
América.
SP:
MarIns
Fontes,
1993.
p.27.
19. Literatura Brasileira, UFMG-2012
[...]
e
a
quarta-‐feira
seguinte,
pela
manhã,
topamos
aves
a
que
chamam
fura-‐buchos
e
neste
dia,
a
horas
de
véspera,
houvemos
vista
de
terra,
a
saber:
primeiramente
dum
grande
monte
mui
alto
e
redondo,
e
de
outras
serras
mais
baixas
ao
sul
dele,
e
de
terra
chã
com
grandes
arvoredos;
ao
qual
monte
alto
o
Capitão
pôs
nome
o
Monte
Pascoal,
e
à
terra
a
Terra
de
Vera
Cruz.
CAMINHA,
Pero
Vaz
de.
Carta
ao
Rei
Dom
Manuel.
Belo
Horizonte:
Crisálida,
2002.
p.17.
21. Literatura Brasileira, UFMG-2012
O
vocábulo
"nomear",
em
uma
de
suas
acepções,
significa
"exercer
direito
de
posse".
É
nesse
senIdo
que
se
deve
entender
a
relação
existente
entre
as
circunstâncias
da
"conquista
da
América"
por
Colombo
e
da
Carta
sobre
o
"descobrimento
do
Brasil".
Os
viajantes,
no
contexto
em
que
se
encontravam,
preferiram
ignorar
que
as
terras
encontradas
já
estavam
nomeadas
e
ocupadas
por
seus
"nomeadores".
Trata-‐se,
evidentemente,
de
um
exercício
de
poder
que
emprega
a
língua
como
instrumento
de
dominação.
Como
se
sabe,
a
parIr
da
nomeação
das
terras,
os
conquistadores
recomendaram
aos
seus
reis
que
promovessem
o
ensino
das
línguas
espanhola
e
portuguesa
para
os
naIvos,
a
fim
de
"civilizá-‐los".