1) O documento discute a persistência da violência contra a mulher no Brasil, apesar dos avanços legais e sociais. A violência é fruto de valores machistas enraizados que inferiorizam as mulheres.
2) Há dificuldades em denunciar agressores, especialmente na esfera doméstica, devido a laços familiares. A mídia também reproduz estereótipos de gênero que reforçam a noção de inferioridade feminina.
3) É necessário que o governo, escolas e mídia combatam o pre
Apresentação | Dia da Europa 2024 - Celebremos a União Europeia!
Redações nota 1000 no enem 2015 por Manoel Neves
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ENEM NOTA 1000
Informação e criatividade destacam alunos com a nota 1000 na redação do ENEM
“Folha de S. Paulo”, 20/03/2016
01) “Dói, um tapinha dói”, de Fábio Lopes Júnior
A Revolução Francesa foi responsável por levar ao mundo os ideais de liberdade,
igualdade e fraternidade. Desde lá, de fato, o movimento feminista busca a
universalização dos direitos civis e sociais, promovida pela Revolução.
Entretanto, é notório que os valores patriarcalistas, os quais consideram a
mulher inferior ao homem, insistem em permear as diversas instâncias sociais
brasileiras, inserindo a inverdade de um possível controle masculino sobre o
corpo da mulher, o que desemboca em crimes de violência e assédio contra elas.
Nesse sentido, a educação familiar e escolar oferecida aos meninos difere, ainda,
da oferecida às meninas. Dessa maneira, é possível observar que desde
pequenas, as crianças recebem valores conservadores que separam socialmente
homens e mulheres por diferenças biológicas, oferecendo privilégios aos
primeiros. Assim, quando adultos, os indivíduos ajudam a propagar o machismo,
de modo que a superioridade idealizada pelo homem chega a passar
despercebida pela sociedade civil, como a exemplo do sucesso obtido por
músicas que incitam, claramente, a violência contra as mulheres.
Ademais, as políticas públicas de combate à violência doméstica e ao feminicídio,
por exemplo, encontram dificuldades na falta de denúncias. Nesse contexto, os
diversos assédios morais e físicos sofridos diariamente pelas mulheres não
recebem a devida punição. Isso pode ser ilustrado pela campanha lançada nas
redes sociais, em outubro de 2015, intitulada “#PrimeiroAssédio”, na qual as
mulheres traziam à tona relatos de atos de violência masculina que não foram
devidamente punidos.
Em suma, a violência é fruto de valores machistas persistentes na sociedade.
Portanto, é necessário que a escola e as famílias, como agentes educadores,
mostrem aos seus filhos que as diferenças biológicas entre homens e mulheres
não são fatores de superioridade e inferioridade, consoante o pensamento da
filósofa ilumina Mary Wollstonecraft, “a mente não tem gênero”. Além disso,
ONGs de defesa da mulheres devem, por meio das redes sociais, apresentar as
diversas formas de denúncia e os direitos garantidos a elas pela Constituição. Por
fim, é importante que as grandes mídias apresentem em suas novelas e
programas exemplos de mulheres bem-sucedidas e independentes de uma
presença masculina, de modo a atenuar o machismo.
02) “Sem título”, de Ana Santana Moioli
Figuras como Simone de Beauvoir, pensadora francesa, revolucionaram a
discussão sobre igualdade de gênero em escala global, dando grande força ao
movimento feminista nas últimas décadas. Inspirada na teoria existencialista de
seu parceiro Sartre, Simone propôs que a existência precede a essência em todos
os seres humanos, homens ou mulheres, de modo que a hierarquização ligada ao
sexo biológico fosse uma completa convenção social. Apesar disso, no Brasil, o
gênero feminino ainda encontra grandes dificuldades a serem superadas, com
ênfase na persistente violência contra a mulher.
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Embora já tenha havido notáveis avanços nessa luta, a mulher brasileira ainda é
vítima de diversos tipos de agressões. A Lei Maria da Penha, que estabelece
punições aos agressores, é um exemplo de conquista do movimento, tendo
levado à justiça mais de 330 mil casos entre setembro de 2006 e março de 2011,
segundo dados divulgados pela revista “IstoÉ”. Por outro lado, neste mês de
outubro, discute-se no poder legislativo a ideia de tornar novamente proibido o
aborto em casos de estupro. Isto representa o risco de inúmeras mulheres
(sobretudo as menos favorecidas), cuja dignidade já foi ferida no abuso sexual,
perderem suas vidas em abortos clandestinos. Desse modo, é importante
reconhecer que já houve, sim, vitórias, mas ainda se veem fortes resistências à
batalha feminina.
Algo que contribui para o enraizamento da noção de inferioridade da mulher na
mente dos brasileiros e, portanto, para a persistência de tal violência é a
representação feminina na mídia. Mesmo em 2015, comerciais de cerveja, por
exemplo, reduzem a figura das brasileiras a objetos sexuais, cujo único objetivo é
servir os homens. Ao mesmo tempo, propagandas de produtos de limpeza a
reproduzem a ainda existente relação aparentemente natural entre a mulher e a
cozinha, sendo o marido o único capaz de trabalhar na sociedade e sustentar a
família. Assim, a diferenciação entre gêneros torna-se quase inconsciente, o que
acaba servindo como justificativa para que os números de mulheres agredidas
não sejam levados tão a sério.
Os apontamentos acima evidenciam a necessidade de que sejam tomadas
medidas a fim de proteger a mulher brasileira. O Estado deve ampliar a
legislação voltada para a publicidade que expõe a figura feminina. É também
preciso que escolas públicas e privadas invistam em discussões sobre gêneros,
visando desconstruir convenções sociais. A mídia, na mesma linha, em vez de
reificar a mulher, deveria promover programas de conscientização sobre o tema.
Por fim, cabe à sociedade pressionar o governo em nome da regulamentação da
prática do aborto, cuja proibição representa a falta de reconhecimento de uma
violência em massa contra as mulheres.
03) “Desconstruindo ideologias: sob a égide da democracia”, de Amanda
della Togna Torres
O preconceito contra o sexo feminino é um problema que assola o cotidiano pós-
moderno, sendo inúmeras as formas por meio das quais tal discriminação se
apresenta. Seja por meio da violência física, psicológica, sexual ou patrimonial, as
mulheres têm sofrido nas mãos de agressores que veem no sexo feminino um
elemento "frágil", ideologia que é a completa antítese das democracias
contemporâneas, supostamente liberais e igualitárias. Nesse contexto, deve-se
discutir a persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira.
Desde os primórdios da civilização, foi criado um estereótipo que reservava às
mulheres apenas as funções domésticas e de procriação, excluindo a
possibilidade de seu ingresso nas esferas da política ou mesmo do trabalho.
Todavia, tal estereótipo vem sendo desconstruído, ao passo que as mulheres
conquistam mais espaço nas relações sociais, políticas e econômicas ao redor do
mundo. Toma-se como exemplo as lideranças políticas alemã, argentina e,
principalmente, brasileira: hoje, tais cargos são exercidos por mulheres,
realidade improvável há algumas décadas.
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Todavia, ideologias preconceituosas e agressivas ainda são inerentes à sociedade
brasileira, constituindo um entrave ao progresso da nação como um todo. Este
quadro se torna evidente ao serem apresentados dados disponibilizados no site
da revista "Istoé": no período de setembro de 2006 a março de 2011, mais de
330 mil processos com base na Lei Maria da Penha foram instaurados nos
juizados e varas especializados. É no mínimo incoerente que, em pleno século
XXI, junto a um cenário pautado pelas ideias de igualdade e liberdade como base
fundamental de toda e qualquer democracia, ainda existam milhares de
mulheres sofrendo por agressões de natureza absolutamente injustificável.
Assim, é imprescindível que medidas sejam tomadas para a compleição de uma
democracia justa e igualitária em sua plenitude. Desse modo, cabe ao Governo
tornar mais rígida a legislação concernente ao bem-estar do sexo feminino,
tomando as devidas providências quando algo estiver em desacordo com o que
prega a Lei; às escolas, cabe o dever de instruir as gerações futuras quanto à
igualdade entre os cidadãos de uma democracia, conscientizando-os do caráter
absurdo presente em atos discriminatórios e agressivos. Por fim, lança-se um
apelo às vítimas, ressaltando-se que a denúncia é a forma mais eficiente de se
combater o problema. Afinal, à guisa de Simone de Beauvoir, o opressor não
seria tão forte se não encontrasse cúmplices entre os próprios oprimidos.
04) “Violação à dignidade feminina”, de Cecília Maria Lima
Historicamente, o papel feminino nas sociedades ocidentais foi subjugado aos
interesses masculinos e tal paradigma só começou a ser contestado em meados
do século XX, tendo a francesa Simone de Beauvoir como um dos expoentes do
movimento por igualdade de gênero. Conquanto tenham sido obtidos avanços no
que diz respeito aos direitos civis, a violência contra a mulher é uma
problemática persistente no Brasil, uma vez que ela se dá–na maioria das vezes–
no âmbito doméstico. Esse fato se deve às dificuldades em denunciar o agressor
e à vergonha de se expor e assumir a condição de vítima.
Com efeito, ao longo das últimas décadas, a mulher ganhou notável destaque nas
representações políticas e no mercado de trabalho. As relações na vida privada,
contudo, ainda obedecem a uma lógica machista em muitas famílias. Nesse
contexto, a agressão parte de um pai, irmão, marido ou filho, condição de
parentesco essa que desencoraja a vítima a prestar queixas, visto que há um
vínculo sanguíneo e afetivo que ela teme romper.
Outrossim, é válido salientar que a violência de gênero está presente em todas as
camadas sociais. Ela se revela não apenas nas marcas físicas de um assassinato
ou estupro, mas também nos atos de misoginia e ridicularização da figura
feminina em hábitos culturais como piadas e músicas populares. Essa é a
opressão simbólica da qual trata o sociólogo Pierre Bourdieu: a violação aos
Direitos Humanos não consiste somente no embate físico, ela está, sobretudo, no
ato de perpetuar preconceitos que atentam contra a dignidade de um grupo
social.
Destarte, o Brasil está alguns passos à frente de outros países em relação ao
combate à violência contra mulheres, tendo em vista, por exemplo, a Lei Maria da
Penha. Entretanto, é necessário endurecer as penalidades para coibir essa
prática. Assim, uma iniciativa plausível tomada pelo Congresso Nacional no
intuito de tipificar o feminicídio como crime de ódio e hediondo deve fazer com
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que agressores tenham penas maiores a cumprir. Em contrapartida, o Estado
deve aumentar o número de delegacias de apoio à mulher com turnos de 24
horas para que a sociedade também colabore denunciando. O debate sobre essa
questão deve ser permanente nas escolas e no meio social, pois só assim é
possível transformar maus preconceitos em uma cultura de paz.
05) “Sem título”, de Isadora Furtado
A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira é um
problema muito presente. Isso deve ser enfrentado, uma vez que muitas
mulheres sofrem diariamente com esta questão. Nesse sentido, dois aspectos
fazem-se relevantes: o legado histórico-cultural e o que é previsto por lei.
Segundo a História, a mulher sempre foi vista como inferior e submissa ao
homem. Prova disso é o fato de elas poderem exercer direitos políticos,
ingressarem no mercado de trabalho e escolherem suas próprias roupas muito
tempo depois do gênero oposto. Esse cenário, juntamente aos inúmeros casos de
violência contra as mulheres, corroboram a ideia de que elas são vítimas de um
legado histórico-cultural. Nesse ínterim, a cultura machista foi a que prevaleceu
ao longo dos anos e enraizou-se na sociedade contemporânea, mesmo de forma
implícita à primeira vista.
Conforme previsto pela Constituição Brasileira, todos são iguais perante à lei,
independente de cor, raça e gênero, sendo a isonomia salarial, aquela que prevê
o mesmo salário para os que desempenham a mesma função, também garantida
por lei. No entanto, o que se observa em diversas partes do país é a gritante
diferença entre os salários de homens e mulheres, principalmente se esta for
negra. Esse fato causa extrema decepção e constrangimento a elas, as quais
sentem-se inseguras e sem ter a quem recorrer. Desse modo, medidas fazem-se
necessárias para solucionar a problemática.
Diante dos argumentos supracitados, é dever do Estado proteger as mulheres da
violência, seja física ou moral, criando leis mais rígidas e punições mais severas
para aqueles que cometem agressões contra as mulheres. Some-se a isso
investimentos em educação, valorizando e capacitando os professores, no intuito
de formar cidadãos mais comprometidos com o bem-estar de todos.
06) “Sem título”, de Luana Natália de Sena
Simone de Beauvoir, filósofa francesa e nome importante do feminismo do
século XX, já advertiu: não se nasce mulher, torna-se. Ou seja, não há nada na
biologia feminina que determine sua inferioridade frente aos homens. Essa
submissão, creditada pelo machismo e imposta socialmente às garotas desde a
tenra infância, faz da mulher objeto e, por isso, alvo de inúmeras atrocidades,
como a violência. Tal pensamento arcaico de que mulheres são posses de
terceiros e não seres autônomos é decisivo para a existência dessa realidade. É
preciso uma união entre mulheres cientes de seus direitos e uma sociedade que
preze pelo bem estar dos seus cidadãos para mudar o atual quadro brasileiro.
Ditados populares, como o famoso "em briga de marido e mulher ninguém mete
a colher", demonstram a falta de empatia em relação às mulheres que vivem em
relacionamentos abusivos, tidos por muitos como fato normal. Não raro a
violência chega a ser romantizada, principalmente em novelas: se bateu é porque
ama. Toda essa alienação contribui para a existência de mulheres inseguras e
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assombradas, que não conseguem aproveitar plenamente sua liberdade com
medo de represálias de um parceiro.
Ademais, além da violência física por parte de cônjuges, a mulher é passível de
outros tipos de violência no momento em que sai às ruas, haja vista a cultura do
estupro e do assédio que vigora no país. Apesar de relatar o contexto de outra
nação latino-americana, Isabel Allende, em "A Casa dos Espíritos", demonstra
que, devido ao mesmo passado colonial, o Brasil assemelha-se bastante aos seus
vizinhos, visto que o livro é palco de variados casos de estupros cometidos por
um patrão que pensa ser dono de suas empregadas.
A violência contra a mulher persiste no país, portanto, devido ao sexismo e ao
machismo de suas instituições. Para reverter essa cruel realidade, é possível que
as universidades criem cursos de extensão junto às áreas de Psicologia, Serviço
Social e Filosofia destinados à realização de palestras que versem sobre as
consequências do feminicídio na sociedade. Também, cabe ao governo melhorar
o serviço das delegacias destinadas à mulher, a fim de que a vítima seja acolhida
por profissionais preparados. Por fim, o movimento feminista, aliado à mídia,
deve promover campanhas destinadas a empoderar cada vez mais mulheres,
para que elas não sejam silenciadas como foram suas avós.
07) “Sem título”, de Paula Vitória Macedo
Há algumas décadas, era comum que a mulher estivesse associada apenas aos
papéis de mãe, esposa e dona de casa. Através dos movimentos sociais ocorridos
entre as décadas de 1970 e 1980, essa situação mudou: a mulher conquistou seu
espaço no mercado de trabalho e na sociedade, passando a ter direitos políticos,
por exemplo. Entretanto, apesar das conquistas, entre elas a Lei Maria da Penha,
a mulher continua a sofrer diversos tipos de violência, decorrentes do
pensamento machista e patriarcal que ainda são perpetuados na sociedade
brasileira.
Ainda que a violência física e sexual sejam as mais óbvias, são várias as formas
como se pratica a violência contra a mulher. Um dessas formas é a violência
psicológica, praticada através dos ideais de beleza impostos pela mídia e pela
sociedade, os quais reificam o corpo feminino. Prova disso é que as mulheres
ainda são utilizadas como objetos para a satisfação e admiração masculina em
propagandas de cerveja, por exemplo. Outra forma de violência é a moral:
mulheres continuam sendo assediadas no trabalho, nas ruas e nos transportes
coletivos. Somada ao assédio no trabalho, está ainda a disparidade de salários
entre homens e mulheres: dados do IBGE apontam que o salário da mulher pode
chegar a ser 30% inferior ao de homens que ocupam o mesmo cargo. Já a
violência sexual é justificada socialmente através da cultura de estupro, por meio
da qual a culpa é atribuída a vítima. Dessa maneira, mulheres continuam sendo
privadas de sua liberdade para vestir sair ou ser o que quiserem.
Sendo assim, essas formas de violência, que muitas vezes passam despercebidas
pela sociedade, são frutos de uma cultura machista que ainda prevalece no
Brasil. Afinal, apesar de todas as conquistas que a mulher obteve e das leis que a
protege, não houve quaisquer reformas que possibilitassem a quebra das
estruturas que sustentam e justificam essas violências. Dessa forma, meninos
continuam sendo educados para comandar a mulher enquanto meninas
continuam sendo educadas para serem donas de casa. Esse modelo binário de
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educação de gênero é o principal fator que permite a persistência da violência
contra a mulher.
Nesse contexto, faz-se necessário mudar o pensamento machista sob o qual a
violência se sustenta. Assim, em primeiro lugar, o Estado deve regular as
propagandas que reificam o corpo feminino. Somado a isso, deve promover a
igualdade entre os salários bem como deve garantir segurança das mulheres nos
transportes coletivos e nas ruas, através de investimentos em segurança pública.
Em segundo lugar, deve-se implementar nas escolas e universidades uma
educação de gênero por meio da qual se desconstrua, paulatinamente o
pensamento patriarcal.
08) “Equilíbrio aristotélico”, de Raphael Luan Carvalho de Souza
Ao longo do processo de formação do Estado brasileiro, do século XVI ao XXI, o
pensamento machista consolidou-se e permaneceu forte. A mulher era vista, de
maneira mais intensa na transição entre a Idade Moderna e a Contemporânea,
como inferior ao homem, tendo seu direito ao voto conquistado apenas na
década de 1930, com a chegada da Era Vargas. Com isso, surge a problemática da
violência de gênero dessa lógica excludente que persiste intrinsecamente ligada
à realidade do país, seja pela insuficiência de leis, seja pela lenta mudança de
mentalidade social.
É indubitável que a questão constitucional e sua aplicação estejam entre as
causas do problema. De acordo com Aristóteles, a política deve ser utilizada de
modo que, por meio da justiça, o equilíbrio seja alcançado na sociedade. De
maneira análoga, é possível perceber que, no Brasil, a agressão contra a mulher
rompe essa harmonia, haja vista que, embora a Lei Maria da Penha tenha sido um
grande progresso em relação à proteção feminina, há brechas que permitem a
ocorrência dos crimes, como as muitas vítimas que deixam de efetivar a
denúncia por serem intimidadas. Desse modo, evidencia-se a importância do
reforço da prática da regulamentação como forma de combate à problemática.
Outrossim, destaca-se o machismo como impulsionador da violência contra a
mulher. Segundo Durkheim, o fato social é uma maneira coletiva de agir e de
pensar, dotada de exterioridade, generalidade e coercitividade. Seguindo essa
linha de pensamento, observa-se que o preconceito de gênero pode ser
encaixado na teoria do sociólogo, uma vez que, se uma criança vive em uma
família com esse comportamento, tende a adotá-lo também por conta da vivência
em grupo. Assim, o fortalecimento do pensamento da exclusão feminina,
transmitido de geração a geração, funciona como forte base dessa forma de
agressão, agravando o problema no Brasil.
Entende-se, portanto, que a continuidade da violência contra a mulher na
contemporaneidade é fruto da ainda fraca eficácia das leis e da permanência do
machismo como intenso fato social. A fim de atenuar o problema, o Governo
Federal deve elaborar um plano de implementação de novas delegacias
especializadas nessa forma de agressão, aliado à esfera estadual e municipal do
poder, principalmente nas áreas que mais necessitem, além de aplicar
campanhas de abrangência nacional junto às emissoras abertas de televisão
como forma de estímulo à denúncia desses crimes. Dessa forma, com base no
equilíbrio proposto por Aristóteles, esse fato social será gradativamente
minimizado no país.
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09) “Sem título”, de Valéria Alves
A submissão da mulher em uma sociedade patriarcalista como a brasileira é um
fato que tem origens históricas. Por todo o mundo, a figura feminina teve seus
direitos cerceados e a liberdade limitada devido ao fato de ser considerada mais
"frágil" ou "sensível", ainda que isso não pudesse ser provado cientificamente.
Tal pensamento deu margem a uma maior subjugação da mulher e abriu portas a
atos de violência a ela direcionados.
Nessa perspectiva, a sociedade brasileira é pautada por uma visão machista. A
liberdade feminina chega a ser tão limitada ao ponto que as mulheres que se
vestem de acordo com as próprias vontades, expondo partes do corpo
consideradas irreverentes, correm o risco de serem violentadas sob a
justificativa de que "estavam pedindo por isso". Esse pensamento perdura no
meio social, ainda que muitas conquistas de movimentos feministas –pautados
no existencialismo da filósofa Simone de Beauvoir - tenham contribuído para
diminuir essa percepção arcaica da mulher como objeto.
Diante disso, as famílias brasileiras com acesso restrito à informação globalizada
ou desavisadas a respeito dos Direitos Humanos continuam a pôr em prática atos
atrozes em direção àquela que deveria ser o centro de gravitação do Lar. A
violência doméstica, em especial física e psicológica, é praticada por homens com
necessidade de autoafirmação ou dependentes de drogas (com destaque para o
álcool) e faz milhares de vítimas diariamente no país. Nesse sentido, a criação de
leis como a do feminicídio e Maria da Penha foram essenciais para apaziguar os
conflitos e dar suporte a esse grupo antes marginalizado.
Paralelo a isso, o exemplo dado pelo pai ao violentar mulher tem como
consequência a solidificação de tal prática no psicológico dos filhos. As crianças,
dotadas de pouca capacidade de discernimento, sofrem ao ver a mãe sendo
violentada e tem grandes chances de se tornarem adultos violentos, contribuindo
para a manutenção das práticas abusivas nas gerações em desenvolvimento e
dificultando a extinção desse comportamento na sociedade.
Desde os primórdios, nas primeiras sociedades formadas da Antiguidade até
hoje, a mulher luta por liberdade, representatividade e respeito. O Estado pode
contribuir nessa conquista ao investir em ONGs voltadas à defesa de direitos
femininos e ao mobilizar campanhas e palestras públicas em escolas,
comunidades e na mídia, objetivando a exposição da problemática e o debate
acerca do respeito aos direitos femininos. É importante também a criação de um
projeto de distribuição de histórias em quadrinhos e livros nas escolas,
conscientizando as crianças e jovens sobre igualdade de gênero de forma
divertida e interativa.
Disponível em: http://temas.folha.uol.com.br/enem-nota-mil/redacoes-nota-
mil/volta-aos-estudos-apos-quatro-anos.shtml. Acesso em: 20 mar. 2016.