Este documento resume um texto sobre a literatura produzida no Brasil colonial no século XVI, conhecida como Literatura Quinhentista. O documento discute a Carta de Pero Vaz de Caminha, que relata o primeiro contato com os povos indígenas, e a Literatura Jesuítica, que tinha como objetivo catequizar os indígenas e instruir os colonos. O documento também apresenta questões sobre esses textos e suas características.
2. INSTRUÇÃO
revisando o quinhentismo
Leia o trecho a seguir, extraído da Carta, de Caminha
3. CARTA DE CAMINHA
revisando o quinhentismo
Ali ficamos um pedaço bebendo e folgando ao longo dela, entre esse arvoredo que é tanto e
tamanho e tão basto e de tantas plumagens que lhe não pode homem dar conta. Há entre ele
muitas palmas, de que colhemos muitos e bons palmitos.
4. QUESTÃO 01
revisando o quinhentismo
Com base no trecho e na obra, é INCORRETO afirmar que:
a terra descoberta é descrita como um espaço edênico, paradisíaco;
a narração e a descrição ocorrem simultaneamente no trecho;
a linguagem figurada é utilizada de forma moderada;
a figura do aborígine é destacada em cada segmento da missiva.
5. QUESTÃO 01
solução comentada
No trecho destacado, o locutor fala sobre os portugueses apenas [ficamos = locutor e seus
iguais] e apresenta a natureza detidamente [arvoredo, palmas, palmito]. Assinale-se, pois, a
alternativa “d”.
6. QUESTÃO 02
revisando o quinhentismo
Qual das afirmações NÃO corresponde à Carta, de Caminha:
Observação do índio como um ser disposto à catequização.
Deslumbramento diante da exuberância da natureza tropical.
Mistura de ingenuidade e malícia na descrição dos índios e seus costumes.
Composição sob forma de diário de bordo.
Aproximações barrocas no tratamento e no lirismo das descrições.
7. QUESTÃO 02
solução comentada
Comentando as alternativas: a) Na Carta, o locutor chega a afirmar que se os índios entenderem
os portugueses, converter-se-ão à fé católica; b) Nota-se a presença do nativismo e do ufanismo
na Carta – deslumbre o Europeu diante da natureza virgem; c) O termo vergonhas é usado
ambiguamente para se referir ao sexo das índias; d) Os eventos transcritos na Carta
compreendem uma cronologia específica – de 24/04 a 01/05 de 1500; e) A influência literária de
Caminha é Clássica – o Barroco é um estilo do século XVII.
8. QUESTÃO 03
revisando o quinhentismo
Sobre a literatura produzida no primeiro século da vida colonial brasileira, é CORRETO afirmar:
É formada principalmente de poemas narrativos e textos dramáticos que visavam à catequese.
Inicia-se com Prosopopeia, de Bento Teixeira.
É constituída por documentos que informam acerca da terra brasileira e pela literatura jesuítica.
Os textos que a constituem apresentam evidente preocupação artística e pedagógica.
Descreve com fidelidade e sem idealizações terra, homem e as condições encontradas.
9. QUESTÃO 03
solução comentada
Comentando as alternativas: a) Há inúmeros textos de caráter documental [literatura de
informação] que retratam a terra nova; b) Prosopopeia é a primeira obra do período do Barroco
brasileiro – 1601; c) O Quinhentismo é formado pela Literatura de Informação e pela Literatura
Jesuítica; d) Há textos sem preocupação artística ou pedagógica [dentre os quais, a Carta, de
Caminha]; e) Os textos quinhentistas apresentam, por vezes, a terra brasileira idealizadamente.
10. QUESTÃO 04
revisando o quinhentismo
A visão etnocêntrica pode ser detectada nos trechos da Carta, EXCETO:
E que melhor e muito melhor informação da terra dariam dois homens destes degredados que
aqui deixassem, do que eles dariam, se os levassem, por ser gente que ninguém entende, nem
eles tão cedo aprenderiam a falar para o saberem tão bem dizer.
E em nos assim vindo, aceram-nos que tomássemos; tornamos e eles mandaram o degredado e
não quiseram que ficasse lá com eles, o qual levava uma bacia pequena e duas ou três
carapuças vermelhas, para lá dar ao senhor, se o lá houvesse.
Os outros dois que o Capitão teve nas naus, a que deu o que já dito é, nunca mais aqui
apareceram, de que tiro ser gente bestial e de pouco saber, e por isso são assim esquivos.
Enquanto ali deste dia andaram sempre ao som dum tamborim nosso, dançaram e bailaram
com os nossos. Em maneira que são muito mais nossos amigos que nós seus.
11. QUESTÃO 04
solução comentada
Em todas as alternativas, exceto na “d”, é fácil perceber que o locutor da Carta acredita ser
superior ao silvícola. Senão, vejamos: a) nem eles tão cedo aprenderiam a falar; b) para lá dar
ao senhor, se o lá houvesse; c) de que tiro ser gente bestial e de pouco saber, e por isso são assim
esquivos.
12. QUESTÃO 05
revisando o quinhentismo
Em relação à Carta de Pero Vaz de Caminha, é INCORRETO afirmar que:
é destinada ao soberano português, dom Manuel, anunciando a descoberta do Brasil;
em nenhum momento, no texto, a palavra “Brasil” é mencionada pelo escrivão;
são transcritos, com precisão, os diálogos travados entre portugueses e nativos;
considerado como certidão de nascimento do país, o texto traz muitas informações históricas.
13. QUESTÃO 05
solução comentada
Na Carta, em momento algum, o silvícola é sujeito do discurso. Pelo contrário, ele é o objeto a
ser analisado pelo olhar eurocêntrico.
14. INSTRUÇÃO
revisando o quinhentismo
Leia atentamente os trechos abaixo e, em seguida, responda às questões de 06 a 08.
15. O GUARANI
fragmento
Em pé, no meio do espaço que formava a grande abóbora das árvores, encostado a um velho
tronco decepado pelo raio, via-se um índio na flor da idade.
Uma simples túnica de algodão, a que os indígenas chamavam aimará, apertada à cintura por
uma faixa de penas escarlates, caía-lhe dos ombros até ao meio da perna, e desenhava o talhe
delgado e esbelto como um junco selvagem.
Sobre a alvura diáfana do algodão, a sua pele, cor de cobre, brilhava como reflexos dourados, os
cabelos pretos cortados rentes, a tez lisa, os olhos grandes com os cantos exteriores erguidos
para a fronte, a pupila negra, móbil cintilante, a boca forte, mas bem modelada e guarnecida de
dentes alvos, davam ao rosto um pouco oval a beleza inculta da graça, da força e da inteligência.
Tinha a cabeça cingida por uma fita de couro, à qual se prendiam do lado esquerdo duas plumas
matizadas, que descrevendo uma longa espiral, vinham roçar com as pontas negras o pescoço
flexível.
Era de alta estatura; tinha as mãos delicadas; a perna ágil e nervosa, ornada com uma axorca de
frutos amarelos, apoiava-se sobre um pé pequeno, mas firme no andar e veloz na corrida.
ALENCAR, José de. O guarani. São Paulo: Ática, 2001.
16. MACUNAÍMA
fragmento
Então os irmãos se descabelaram. Agora não era possível mais irem na Europa não, porque
possuíam só a noite e o dia. Levaram na prantina enquanto o herói [Macunaíma] esfregava ólio
de andiroba no corpo pros mosquitos não amolarem e adormecia bem.
No outro dia amanheceu fazendo um calorão temível e Macunaíma suava mais que suava dum
lado para outro enraivecido com a injustiça do Governo. Quis sair pra espairecer porém aquela
roupa tanta aumentando o calor... Teve mais raiva. Teve raiva por demais e maliciou que ia ficar
com butecaiana que é doença de raiva. Então exclamou:
– Ara! Ande eu quente, ria-se a gente!
Tirou as calças pra refrescar e pisou em cima. A raiva se acalmou no sufragante e até que muito
satisfeito Macunaíma falou pros manos:
– Paciência, manos! Não! Não vou na Europa não. Sou americano e meu lugar é na América. A
civilização européia de-certo esculhamba a inteireza do nosso caráter.
Durante uma semana os três vazaram o Brasil todo pelas restingas de areia marinha, pelas
restingas de mato ralo, barrancas de paranãs abertões, corredeira carrasco carrascões e
chavascais, coras de vazante boqueirões mangas e fundões que eram ninhos de geada,
espraiados pancadas pedrais funis bocainas barroqueiras rasouras, todos esses lugares
campeando nas ruínas dos conventos e na base dos cruzeiros pra ver si não achavam alguma
panela com dinheiro enterrado. Não acharam nada.
ANDRADE, Mário de. Macunaíma. Rio de Janeiro: Vila Rica, 1999.
17. MAÍRA
fragmento
Como saí menino, mas fornido de ossos e coberto de carnes firmes, eles buscarão em mim a
estrutura que houvera tido se não fossem tantas pestes e asmas desses ásperos invernos
romanos. Se não estivesse aí a minha memória para dizer-me que eu sou eu, se não estivesse aí
tanta lembrança me vinculando ao que fui, eu mesmo não me reconheceria no homem
esquálido, vergado, que volta para casa. Excetuando a memória que nos ata aos dois, que temos
nós de comum? [...] Sou apenas o desejo ardente de vir a ser um pouco do que poderia ter sido,
se não fossem tantos desencontros. [...]
Na tarde do dia seguinte o Avá [Isaías] sai com Jaguar para um longa pescaria de dois dias no
Iparanã, seus furos e lagoas. Ajeita-se com gosto na ubá, pensando: águas minhas que me
levarão! Estão encantados um com o outro. O sobrinho com o tio rola-mundo, estranho,
pequeno, débil, mas senhor da palavra e capaz de falar de todas as coisas. O tio com o vigor
jovem, formidável, do sobrinho que certamente assumirá o tuxauato, quando os mairuns
reconhecerem, afinal que ele [Isaías] não dá mesmo para mandos guerreiros.
RIBEIRO, Darcy. Maíra. Rio de Janeiro: Record, 1996.
18. QUESTÃO 06
revisando o quinhentismo
Assinale a alternativa que apresente uma consideração INCORRETA sobre os trechos lidos.
Os trechos abordam a temática indianista, presente em nossa literatura, desde o Quinhentismo.
Cada um dos trechos permite entrever que o índio é apresentado sob uma ótica diferente.
A linguagem utilizada para construir a imagem do índio mantém sempre um mesmo padrão.
A leitura dos fragmentos permite perceber a evolução da temática indianista em nossa literatura.
19. QUESTÃO 06
solução comentada
Os padrões linguísticos variam consoante o estilo do autor e a época de publicação. Marque-se,
pois, a alternativa “c”.
20. QUESTÃO 07
revisando o quinhentismo
Sobre o trecho 01, extraído de O guarani, de José de Alencar, é CORRETO afirmar:
Constrói-se a imagem do indígena sob uma ótica exclusivamente brasileira.
Mostra-se um conflito de identidade do selvagem: que, dividido, oscila entre o mundo primitivo,
indígena, e o mundo civilizado, do branco.
Percebe-se, no trecho citado, que o índio já aderiu à religião e à cultura brancas.
Para construir a imagem do silvícola, o locutor se vale de símiles que servem para aproximar o
índio dos elementos da natureza brasileira.
21. QUESTÃO 07
solução comentada
O silvícola é apresentado por uma ótica nacionalista, brasileira. Tal fato pode ser comprovado
quando se observam as símiles por intermédio das quais sua figura é construída [talhe delgado e
esbelto como um junco selvagem]. Entretanto, ao falar da estatura e do porte do índio, entrevê-
se que o modelo ideal do locutor é o europeu [estatura elevada, índio tem dentes alvos e veste
uma túnica de algodão]. Assinale-se, pois, a alternativa “d”.
22. QUESTÃO 08
revisando o quinhentismo
Marque a opção que traga um comentário INCORRETO sobre o trecho 02, extraído do romance
Macunaíma, de Mário de Andrade:
De certo modo, pode-se afirmar que há uma idealização do herói indígena, na medida em que
este defende que, para manter a inteireza de seu caráter, deve permanecer na América.
Nota-se a incorporação de elementos coloquiais à construção desta narrativa.
O trecho citado mostra a reação do herói à impossibilidade de ir à Europa.
Pode-se afirmar que as ações de Macunaíma confirmam que ele é excessivamente virtuoso.
Trata-se de um trecho que discute elementos da nacionalidade brasileira.
23. QUESTÃO 08
solução comentada
Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, não é virtuoso. Trata-se de um pícaro, cujas ações se
pautam pela esperteza e pela ausência de virtude. Assinale-se, pois, a alternativa “d”.
24. QUESTÃO 09
revisando o quinhentismo
A literatura jesuítica, nos primórdios de nossa história,
Tem grande valor informativo.
Marca nossa maturação clássica.
Visa à catequese do índio, à instrução do colono e à sua assistência religiosa e moral.
Está a serviço do poder real.
Tem fortes doses nacionalistas.
25. QUESTÃO 09
solução comentada
O objetivo da literatura jesuítica é converter o índio e, na medida do possível, dar assistência
religiosa e moral ao colono. Marque-se, pois, a alternativa “c”.
26. INSTRUÇÃO
revisando o quinhentismo
Leia os poemas abaixo, extraídos da seção “Pero Vaz Caminha”, do livro Pau Brasil, de Oswald de
Andrade, representante da primeira geração do modernismo brasileiro.
27. A DESCOBERTA
Oswald de Andrade
Seguimos nosso caminho por esse mar de longo
Até a oitava da Páscoa
Topamos aves
E houvemos vista de terra
28. OS SELVAGENS
Oswald de Andrade
Mostrara-lhes uma galinha
Quase haviam medo dela
E não queriam pôr a mão
E depois a tomaram como espantados
29. AS MENINAS DA GARE
Oswald de Andrade
Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que nós, de as muito bem olharmos,
Não tínhamos nenhuma vergonha
30. QUESTÃO 10
revisando o quinhentismo
Em relação aos poemas abaixo, de Oswald de Andrade, podemos afirmar, EXCETO:
O poeta realiza uma bricolagem.
O poema manifesta um nacionalismo romântico.
O poema utiliza-se da ironia.
O poema revela as entrelinhas da Carta, de Pero Vaz de Caminha.
31. QUESTÃO 10
solução comentada
Os textos extraídos da seção Pero Vaz Caminha” são apropriações [irônicas] da Carta de
Caminha e se articulam como uma tentativa de leitura das entrelinhas do discurso do
colonizador europeu. Normalmente os textos desta parte do livro Pau-Brasil são cópias
[bricolagem] de fragmentos do Carta de Pero Vaz; o comentário [irônico] do autor modernista se
faz por intermédio dos títulos, como podemos ver em “Os selvagens” [que sugere que o
europeu desrespeita a diferença e, por isso, seria o selvagem] e em “As meninas da gare
[estação]” [título que denuncia que o olhar do português é eivado de malícia]. A única opção
que não apresenta uma consideração correta acerca dos poemas lidos é a letra “b”.