1. Eco-design e Embalagens Artesanais: uma experiência com foco na geração de renda
Eco-Design & Craft Packaging: an experience focused on the income generation
Acioly, Angélica de S. G., Msc. Universidade Federal da Paraíba. angelica@ccae.ufpb.br
Quirino, Louise B., Msc. Universidade Federal da Paraíba. louise@ccae.ufpb.br
Freitas, Victor H. F., Universidade Federal da Paraíba. vhffff@gmail.com
Oliveira, Anadelly R., Universidade Federal da Paraíba. anadelly_rocha@hotmail.com
Oliveira, Moema D., Universidade Federal da Paraíba. moema_oliveira@yahoo.com.br
Resumo
O eco-design possui como objetivo principal projetar produtos que minimizem o impacto ambiental, sendo visto como uma ferramenta necessária para atingir o desenvolvimento sustentável. O presente trabalho relata uma experiência de desenvolvimento de embalagens artesanais e ecológicas com um grupo de mulheres de João Pessoa/PB. Alguns pontos direcionaram a demanda da equipe de Design: definição das matérias primas, desenho das embalagens visando diferencial estético/identidade do grupo, e aperfeiçoamento das técnicas de produção já utilizadas por elas. Foram realizadas diversas etapas projetuais que resultaram em uma linha de embalagens confeccionadas em jornal, e melhoria das habilidades técnicas produtivas.
Palavras-chave: embalagem; sustentabilidade; eco-design.
Abstract
The eco-design has the main objective to design products that minimize environmental impact, being seen as a necessary tool for achieving sustainable development. This paper describes an experience of packaging development and ecological craft with a group of women in João Pessoa / PB. Some points guided the design team's demand: definition of raw materials, packaging design aesthetic order differential / group identity, and improvement of production techniques already used by them. Several steps were taken that resulted in a projective line of packaging made of towels, and improving technical skills of production.
Keywords: packaging, sustainability, eco-design.
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Introdução
As embalagens representam cada vez mais, na sociedade atual, um diferencial na produção e comercialização de produtos. Em qualquer categoria a embalagem representa a continuidade do produto.
Mestriner (2002) enfatiza tal importância quando coloca que, a embalagem representa o DNA de um produto.
Sua importância vai além da estética, da funcionalidade, proteção e segurança, envolve questões muitas vezes intangíveis ao usuário – o fascínio, o encanto, a identificação com o produto.
No produto artesanal, onde por vezes a própria embalagem também é artesanal, ela tem um papel de ressaltar os aspectos manuais e culturais da peça. Em muitos aspectos o artesanato tem cada vez mais revelado um mercado potencial para as embalagens, visto que as pessoas têm buscado retornar à personalização do produto, a busca pelo singelo, pelo único.
No que refere aos materiais utilizados para as embalagens de produtos artesanais, em termos gerais, percebe-se um aumento das embalagens plásticas, inclusive na comercialização de artesanatos. Tem-se também a utilização do papel como agente de proteção dos produtos sensíveis à quebra.
Em paralelo à demanda das embalagens, para qualquer tipo de produto, tem-se como uma questão premente nos dias atuais: as matérias-primas utilizadas e sua reciclagem e reutilização.
Nesta questão e em diversas outras que envolvem o design de produto, progressivamente há a inclusão de estratégias que subsidiam as empresas à participação ativa num modo de produção sustentável e economicamente viável. Esta progressão é característica da atual situação global, onde as pessoas têm maior preocupação com o futuro do meio ambiente, seja por força das leis ou pela conscientização em massa. Tais fatores se fazem necessários para a adoção de princípios do Eco-design.
Com base nos princípios da sustentabilidade aplicada ao design, surge a experiência que será relatada neste artigo.
A partir de pesquisas realizadas por um grupo de artesãs de uma comunidade em João Pessoa, durante a comercialização dos produtos do Kit de Cozinha da linha “Mandacaru”, que juntamente com a venda dos produtos era fornecido uma embalagem confeccionada a partir de jornal. Sendo possível perceber a importância que as pessoas atribuíam a esse item, passando a querer comprar só a embalagem ou até mesmo adquirir um produto para poder “levar” a embalagem.
Assim, surgiu a demanda de desenvolver uma linha de embalagens artesanais para o kit já produzidos, com foco na sustentabilidade e identidade do grupo.
Este artigo, portanto relata uma experiência de desenvolvimento de embalagens artesanais e ecológicas com um grupo de artesãs de João Pessoa/PB.
Metodologia
Para a realização do trabalho de desenvolvimento das embalagens, primeiramente foi composta a equipe de trabalho: 2 designers/professoras e 3 alunos do Curso de Design da Universidade Federal da Paraíba, com atuação em um período de 2 meses (abril e maio/2009).
Em termos gerais as atividades da equipe, juntamente com o grupo de mulheres, foram estruturadas da seguinte forma:
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• Realização de uma pesquisa de mercado na Grande João Pessoa, cabendo ao grupo de Design: estruturar o formulário da pesquisa, aplicar o pré-teste do formulário, condução da pesquisa e tabulação dos dados.
Descrição do método: aplicação de formulários em diversos locais da cidade e para possíveis públicos consumidores dos produtos do projeto – atuando diretamente com dois tipos de clientes – o cliente final e o intermediário (lojas). O produto principal investigado na pesquisa foi a embalagem artesanal confeccionada em papel; tendo como produtos secundários embalagens confeccionadas em outros materiais. A pesquisa foi realizada com as empresas de comercialização e produtores de embalagens artesanais (Papelarias, Lojas especializadas, Artesãos). E com o consumidor final (Cliente) - consumidores de produtos artesanais e/ou regionais confeccionados a partir de quaisquer tipos de materiais. Classes A e B. Locais de aplicação do formulário: Centros de Artesanato de João Pessoa: Mercados/Feiras de Artesanato, Instituições de Ensino Superior.
• Desenvolvimento da Linha de produtos, cabendo ao grupo de Design: coleta e análise dos produtos já produzidos pelo grupo; capacitação das técnicas já empregadas; testes de novas técnicas; escolha das linhas de produtos a serem gerados; desenvolvimento e escolha de conceitos; fabricação dos protótipos; elaboração do detalhamento da produção e custo das embalagens.
Descrição do método: vivência, por parte da equipe de Design, das técnicas já utilizadas pelo grupo de mulheres, análise dos produtos já produzidos e materiais utilizados, estudo de matérias-primas a serem utilizadas, capacitação de novas técnicas de produção, condução da produção dos protótipos, e elaboração da descrição de produção de cada embalagem (gabaritos, fluxo de produção, quantitativo de materiais e custos).
Abordagem Teórica
A importância da Embalagem
A embalagem, inicialmente desenvolvida com a função de transportar e proteger produtos vem ganhando destaque e se tornando uma importante ferramenta de marketing, um diferencial do produto e um fator de atração, em um mercado cada vez mais competitivo. Ela está diretamente interligada com o produto, o consumidor e a marca. É o fator bastante relevante que estimula a venda tanto de um produto industrial quanto de um artesanal.
Segundo a Associação Brasileira de Embalagem - ABRE, um estudo efetuado pela CNI (Confederação Nacional das Indústrias) apontou que, quando a embalagem é atraente, a mesma representa o diferencial do produto, onde o consumidor se mostra interessado em adquiri-lo até mesmo quando se trata de um produto desconhecido. Isso ocorre por ter uma analogia direta com a auto-estima do consumidor. (O3 DESIGN, 2010)
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Considerando a grande diversidade de modelos, formas e materiais aplicados às embalagens, elas representam uma ferramenta eficiente de comunicação com o produto. Criando uma necessidade de planejamento do produto e sua embalagem conjuntamente.
Em termos gerais, Etzel et al (2001) apresenta os propósitos de uma embalagem: proteger o produto no seu caminho até o consumidor; fornecer proteção após o produto ter sido comprado; ajudar a ganhar aceitação do produto por parte dos intermediários e a persuadir o consumidor a comprar o produto.
A importância da embalagem quanto aos aspectos de proteção e mercadológicos é algo bastante evidenciado na literatura especializada. Contudo, a produção das embalagens atrelada a questões ambientais também tem sido bastante discutido. São visíveis as mudanças em relação à reciclabilidade dos materiais, e da sua indicação nas embalagens, além de outras ações como redução de itens/materiais, reutilização, desenvolvimento de novas tecnologias dos materiais, dentre outros.
Em relação a essa temática a ABRE (2010) ressalta a importância que a embalagem possui ao afirmar que,
além de fazerem parte do nosso cotidiano, também fazem parte de um mundo complexo no qual a tecnologia, a pesquisa e a ciência trabalham intensamente para evitar o desperdício e maximizar o sucesso dos produtos. A perda de qualquer bem de consumo traz consequências negativas à economia, à sociedade e ao meio ambiente. Qualidade de vida, segurança, integridade, inviolabilidade, informação, manuseio, estocagem, menor desperdício, conservação de recursos naturais e energéticos, distribuição de alimentos e produtos, são base para a sustentabilidade e estão no DNA da embalagem.
Todo o potencial de redução de desperdícios e aumento do acesso a produtos,
fazem da embalagem um instrumento de sustentabilidade social, econômica e
ambiental.
A embalagem sustentável, ainda segundo a ABRE (2010);
• Contempla proporção ideal de embalagem x produto, otimizando o seu peso específico
• Proporciona o melhor uso e distribuição do produto acondicionado, visando maximizar o sucesso de seu uso e minimizar a geração de resíduo e desperdício
• Prevê destinação final adequada, oferecendo o reaproveitamento de seu material
• Não tem efeitos indesejáveis no meio ambiente que possam reduzir a qualidade de vida para gerações futuras
Nestes termos, Peltier e Saporta (2009) enfatizam a grande colaboração do designer no processo de criação de embalagens mais ecológicas, sem alterar sua funcionalidade.
Lobach apud Moraes et al (2008) ressalta a importância do meio ambiente quando apresenta os atributos de valores desejáveis em embalagens:
• A embalagem não deve representar nenhum dano ao meio ambiente quando descartada;
• Após o seu uso a embalagem deve ter um segundo uso;
Tais preocupações são inerentes a qualquer tipo de embalagem, seja ela industrial ou artesanal – primária, secundária, de transporte ou expositora. No produto artesanal, onde por vezes a própria embalagem também é artesanal, ela tem um papel de ressaltar os aspectos manuais e culturais da peça.
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Eco-Design
Gomez e Braum (2008) afirmam que o eco-design é o termo para uma crescente tendência nos campos da arquitetura, engenharia e design em que o objetivo principal é projetar estruturas, habitações, produtos e serviços que de alguma forma reduzam o uso de recursos não-renováveis ou minimizem o impacto ambiental. É visto como uma ferramenta necessária para atingir o desenvolvimento sustentável.
Eco-design possui como objetivo principal projetar produtos que reduzam o uso de recursos não-renováveis e/ou minimizem o impacto ambiental. É vista como uma ferramenta necessária para atingir o desenvolvimento sustentável.
A definição mais aceita para desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro. Essa definição surgiu na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas para discutir e propor meios de harmonizar dois objetivos: o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental. (WWF-Brasil, 2010)
Algumas das políticas adotadas pelo desenvolvimento sustentável são caracterizadas pela: restauração de materiais, geralmente identificados pelo recolhimento após o descarte para recuperação, o ideal é que o material esteja muito próximo do seu estado original para um melhor aproveitamento, caso contrário há um processamento para separação dos componentes originais levando em consideração que não é uma tarefa fácil, pois alguns materiais como os compósitos são de difícil reciclagem.
A adoção de um projeto simples: acarreta na simplificação das partes que formam um produto, diminuindo assim o numero de mecanismos sem perder a qualidade, tornado o custo mais de produção mais barato, menor quantidade no uso de materiais, facilidade na montagem e desmontagem.
Redução de matérias primas na fonte: visa a diminuição do uso de matérias primas para uso do objeto, reduzindo impactos ambientais, diminuindo os resíduos gerados durante o processo de vida útil do produto.
Redução da dispersão de substâncias tóxicas: a substituição de solventes, tintas, e derivados de petróleo por produtos a base de água evita a dispersão de substâncias que possam agredir com maior intensidade o meio ambiente.
Aumento no tempo de vida de um produto: vem de contra partida ao interesse dos fabricantes de um produto, pois haveria uma queda nas vendas, embora seja verificada a criação de uma imagem positiva a empresa, pois os produtos passariam a ter uma maior credibilidade por durar mais, estabilizando suas vendas. Este principio é contrário a redução de materiais para fabricação, pois um produto para durar mais é preciso o uso de mais matéria prima. Fica então a necessidade de um estudo em todo ciclo de produção para verificação de impactos ambientais.
Uso de energias renováveis: uso de energias como solar, eólica, hidroelétrica observando a necessidade que cada equipamento da produção tem de consumir para produção, determinado a viabilidade econômica e ambiental da escolha no tipo de captação de tal energia.
Schneider (2008), afirma que a grande busca pelo desenvolvimento sustentável, visando a preservação dos recursos naturais renováveis e não renováveis tem gerado um maior interesse pelas pesquisas de reciclagem e reutilização de materiais. Segundo Santos (2007),
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a reciclagem é uma das alternativas de tratamento de resíduos sólidos mais vantajosas, tanto do ponto de vista ambiental quanto do social. Além de diminuir o volume de lixo e a poluição, quando há um sistema de coleta seletiva bem estruturada, a reciclagem é uma atividade econômica rentável. Pode gerar emprego e renda para as famílias de catadores de materiais recicláveis, que devem ser os parceiros prioritários na coleta seletiva.
A Experiência
A demanda do projeto de design de embalagens artesanais com foco na geração de renda e desenvolvimento sustentável aqui relatada surgiu de uma necessidade apontada pelo Projeto Tricotando e Gerando Renda, aplicado a um grupo de mulheres/artesãs da comunidade de Mandacaru na cidade de João Pessoa. O referido projeto foi coordenado pela ONG Recife Voluntário e subsidiado pelo Instituto Wal-Mart.
Com o slogan “Transformando mulheres para transformar produtos” o Projeto Tricotando e Gerando Renda, que tem em sua essência a valorização das relações humanas construídas durante o processo artesanal do trabalho no tricote das mulheres sobre suas vidas, é um projeto que busca alcançar o fortalecimento dos três eixos do grupo de artesãs de Mandacaru – Cactáceas da Paraíba: indivíduo, produto e empreendimento coletivo, por meio de metodologia vivencial e norteada pela teoria-prática-teoria. Assim tem seu foco na comercialização e geração de renda a partir da confecção de produtos artesanais.
O grupo, em 2009, contava com a presença e participação efetiva de 15(quinze) mulheres, empenhadas em se profissionalizar na atividade do bordado, tornar seu produto em artesanato de fato, bem como, transformar a atividade produtiva em um negócio sustentável.
Duas premissas foram imprescindíveis na realização desta experiência de intervenção de Design: a sustentabilidade, ou seja, a escolha de materiais e processos de produção visando a reutilização/reciclagem; e a outra, conceitual, onde o design dos produtos seria baseado em elementos identificados a partir da história de vida das mulheres do grupo.
No decorrer dos dois meses de vigência da intervenção, foram realizadas diversas atividades, sendo a maioria desenvolvida em conjunto – equipe de design e grupo de mulheres.
A Pesquisa de mercado
Foi realizada uma pesquisa de mercado no mês de abril de 2009, a fim de subsidiar o desenvolvimento da nova linha de produtos do grupo, e ainda propor uma linha de embalagens (com a função de transporte dos produtos) para suprir a demanda percebida no mercado local, onde foram aplicados formulários em diversos locais da cidade e para possíveis públicos consumidores dos produtos do projeto. A pesquisa forneceu dados que deram suporte também ao Plano de Negócios do Grupo.
Sobre o artesanato local e os consumidores potenciais de produtos artesanais verificou-se que há uma diversidade nos produtos ofertados nos pontos de venda de artesanato visitados, variando de artigos para decoração, lembranças do estado, produtos em cerâmica, camisas, bordados, artigos de couro, artefatos de pedra, gemas, bijuterias, redes, rendas, muitos dos produtos são provenientes de outros estados como Pernambuco, Natal e interior da Paraíba. Como a proposta da linha de embalagens tem como um de seus públicos potenciais os locais de comercialização de produtos artesanais e/ou regionais, os dados apresentados demonstram o tipo de produto que pode ser transportado pelos tipos de embalagens propostas.
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Sobre os consumidores e suas preferências, e atrelando a questão do artesanato, característica básica do produto do Grupo de mulheres quanto à comercialização da Linha de kit para cozinha “Mandacaru”, o público pesquisado versou sobre os freqüentadores de locais ligados ao artesanato, ao turismo local, e com consumidores de peças de Artesanato em geral – entre as classes A e B, além dos próprios pontos comerciais. Sendo assim a amostra da pesquisa foi composta por: 313 pessoas abordadas – representando o consumidor final e por 104 pontos comerciais distribuídos nos principais centros de artesanato de João Pessoa e Região Metropolitana, a saber: o Mercado de Artesanato da Paraíba, a Praia do Jacaré e a Feirinha de Artesanato de Tambaú.
Em termos gerais a pesquisa foi direcionada aos dois públicos indicados, a fim de verificar quais produtos semelhantes são comercializados e a pretensão de compra do consumidor final, e o perfil geral de ambos. Em termos gerais, os resultados a seguir demonstram a indicação do produto analisado e seu direcionamento de mercado.
O perfil dos consumidores pesquisados pode ser definido da seguinte forma: em torno de 90% entre 20 e 50 anos – economicamente ativos, bem equilibrado entre homens e mulheres, com renda em média de 3 a 10 SM (36%), onde 65% residem em João Pessoa e Região Metropolitana.
No que tange à intenção de compra e aos motivos que os levam a comprar um produto artesanal, cerca de 68% dos consumidores declararam comprar às vezes algum produto artesanal; e tem como principais motivos de compra a originalidade e a beleza. Sobre a preferência dos produtos de artesanato tem-se:
Tabela – Produtos artesanais segundo a preferência dos respondentes (podendo haver mais de uma indicação por respondente)
Produto
%
Lembranças do lugar
66,67
Embalagens diversas
8,33
Produtos de decoração para a sala
37,5
Utensílios para cozinha
25
Enfeite de moda
37,5
Moda
15,28
Acessórios para escritórios
30,56
Acessórios de viagem
6,94
Não respondeu
1,39
Ainda sobre a possibilidade de compra, quanto aos produtos artesanais feitos a partir de materiais recicláveis/reutilizáveis e, mais especificamente em papel, em torno de 70% dos respondentes declararam que comprariam.
Sobre o mercado de Embalagem, verificou-se que, em relação às embalagens encontradas nas lojas, não há uma preocupação da maioria dos estabelecimentos em obter um produto com algum diferencial. Muitos fornecem sacos plásticos (cerca de 80% dos pontos pesquisados). Uma minoria concentrada principalmente nas lojas de artigos de malhas como camisas fornece um saquinho de tecido feito industrialmente com a descrição "lembrança de João Pessoa" ou embalagens de TNT. As mesmas são fornecidas ao cliente mediante compra do seu produto. A pesquisa indicou ainda que, cerca de 10% comercializa algum tipo de embalagem.
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A estimativa de lucro embalagem/fornecedor dos pontos e lojistas que responderam à pesquisa é em torno de 40 a 100%. E ainda sobre a estimativa de venda por época do ano respondida por todos os entrevistados, tem seu ápice na alta estação (meses de dezembro a inicio de fevereiro) e declínio nas vendas nas baixas estações.
A Escolha da matéria prima
A proposta do projeto de geração de renda, bem como da equipe de Design através da criação das embalagens, teve como ponto fundamental atender aos preceitos do desenvolvimento sustentável. Então, a primeira grande questão foi a escolha da matéria prima a ser utilizada como base das embalagens, bem como dos seus possíveis tratamentos.
Após algumas pesquisas e testes do grupo de artesãs, e também da equipe de Design, o material escolhido foi o jornal, por alguns motivos. Primeiramente por ser um material que comumente é descartado após o seu uso, e por não ser muito reutilizado ou reciclado. Assim, seria dado outro destino, além de agregar valor, já que em alguns casos ele é subutilizado como envoltório de proteção ou outros fins, contudo com nenhum valor agregado.
Outro importante fator considerado foi a facilidade de aquisição na quantidade possivelmente requerida pela capacidade de produção do grupo. Principalmente através de doações regulares em diversos locais como empresas e domicílios.
O grupo já há algum tempo, estava se capacitando para o trabalho com papel, através de diversas técnicas, e já havia realizado alguns testes com o jornal.
A partir da escolha da matéria prima base das embalagens, foram feitos testes e oficinas sobre: tingimento, corte, dobradura, colagem, resistência, aperfeiçoamento das técnicas já trabalhadas pelo grupo (por exemplo, da trama de papel), otimização do processo de produção e escolha adequada e uso racional dos materiais utilizados.
A Proposta de desenvolvimento de produtos
Para o desenvolvimento das linhas de produtos baseadas na nova proposta do grupo “contar a história de vida das mulheres componentes” foi realizado: a coleta e análise dos produtos já produzidos pelo grupo; capacitação das técnicas já empregadas; testes de novas técnicas; escolha das linhas de produtos a serem gerados; desenvolvimento de conceitos; escolha dos melhores conceitos; fabricação inicial e final dos protótipos; e elaboração do relatório final dos resultados.
As linhas de produtos desenvolvidas foram identificadas através das pesquisas realizadas. O desenvolvimento dos conceitos foi de grande importância, no sentido de geração de novas aplicações para os materiais e técnicas já utilizadas, diversificando assim o mix dos produtos do grupo. Em seguida, com a seleção dos melhores conceitos, os produtos e suas linhas foram desenvolvidos e trabalhados junto com o grupo.
Foram desenvolvidas duas linhas de produtos “Tudo Nosso” e “Mulheres da Paraíba”, sendo as mesmas compostas por kits de cozinha (toalha de prato, capa de água mineral e bate mão) e como proposta complementar, por embalagens (sacolas e sacos/envelopes), que tem como objetivo servir de suporte à venda dos kits e ainda atender à demanda de embalagens de produtos artesanais locais (cerca de 80% - vestuário, decoração e bijuterias e acessórios). Segue então a apresentação – conceituação e descrição técnica das linhas.
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Memorial descritivo dos produtos desenvolvidos - Linha “Tudo Nosso”
A linha de kits de cozinha “Tudo Nosso” foi concebida a partir de ícones identificados na história de vida do grupo das mulheres. A partir das imagens registradas foram evidenciadas formas e cores, gerando assim os ícones que fundamentam a proposta da linha.
A linha de embalagens “Tudo Nosso” também segue o mesmo princípio de concepção, e se apresenta como um produto complementar e opcional à venda dos kits de cozinha.
Figura 1 – Ícones gerados das imagens escolhidas pelo grupo
Como principais ícones identificados têm-se: folhas, flores, o sol, o mandacaru, os quais são representados na linha dos kits de cozinha através de bordados do tipo crochê e vagonete, e também do fuxico. E na linha das sacolas e sacos/envelopes através de carimbos, aplicações em papéis, pintura de papel, mandalas de papel, fuxico e crochê.
(a) (b) (c)
Figura 2 – (a) Acessório feito em jornal prensado a quente e tingido; (b) aplicação dos acessórios e lateral da sacola com trama de jornal tingido; (c) demonstração do tingimento do jornal.
Sobre as cores, foram evidenciados os tons ligados a natureza - à terra, e alguns tons ligados diretamente a algum momento/objeto ligado às mulheres. Foram usadas então cores como tons de verde, amarelo, laranja, vermelho e azul.
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Em cada linha foram detalhados os materiais utilizados (tipo, dimensões, quantidades), confeccionados os molde/gabaritos, e protótipos para parte das embalagens desenvolvidas, além do custo, o modo e o tempo de produção de cada sacola.
Foram desenvolvidas quatro modelos de sacolas para a Linha Tudo Nosso, cujo conceito foi baseado nas formas de flores e folhas escolhidas pelo grupo de mulheres participantes do projeto. Tais formas remetem às lembranças em comum do grupo. Seguem dois modelos desenvolvidos
Modelo 1:
Figura 3 – (a) Imagens escolhidas pelo grupo; (b) Kit de cozinha com o ícone escolhido.
(a) (b) (c) (d)
Figura 4 – Sacola Modelo 1 – (a) Vista frontal; (b) Lateral; (c) Detalhes; (d) Sacola produzida.
(a)
(b)
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Modelo 2:
Figura 5 – (a) Imagens escolhidas pelo grupo; (b) Kit de cozinha com os ícones escolhidos.
(a) (b) (c) (d)
Figura 6 – Sacola Modelo 2 – (a) Vista frontal; (b) Lateral; (c) Detalhes; (d) Sacola produzida.
(a)
(b)
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Memorial descritivo dos produtos desenvolvidos - Linha “Mulheres da Paraíba”
A linha “Mulheres da Paraíba” é a linha individual e é composta por sacolas com a mesma proposta da Linha “Tudo nosso”, e também foi concebida a partir de ícones identificados na história de vida do grupo das mulheres. Sendo um modelo para cada mulher integrante do grupo, e conceituado de acordo com os elementos da história de vida de cada uma delas.
Um dos modelos: Mulher “AM” - seguem alguns trechos da história de “AM” – base do conceito da sacola:
“Todas as fotos que escolhi falam da minha vida”
“Escolhi o Facheiro e Cardeiro porque não tem o pé de Mandacaru que conheci aqui no grupo, aquele que eu bordo. Nunca fui ao Sertão”.
“Papoula lembra quando eu morava em Porto de João Tota e brincava de barra bandeira e baleado com as meninas da vizinhança”.
“Ando muito de trem vou ao centro é rápido e barato”.
“Senti falta de imagens do mangue, onde nos meus 12 anos ia pescar caranguejo com os vizinhos. (Escolheu essa foto por lembrar dos troncos no mangue).
Figura 7 – Imagens escolhidas por “AM”.
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(a) (b) (c)
Figura 8– Sacola – (a) Vista frontal; (b) Lateral; (c) Detalhes.
Considerações Finais
A intervenção aqui relatada transitou sobre questões de design, artesanato e geração de renda, itens que trabalhados juntos sempre trazem experiências positivas. Conhecimentos que adquirimos sobre cultura e a história de vida das pessoas, além de muitos desafios, como por exemplo, trabalhar entre os limites do que propõe o Design e o Artesanato.
Nessa e em diversas outras experiências semelhantes, o resultado na maioria das vezes é compensador. Trata-se, portanto de uma troca, sem a figura do que projeta, define, altera, ou ainda daquele que reproduz, e sim do grupo - o designer e o artesão, que concebem e constroem juntos.
Atualmente o Grupo de Artesãs de Mandacaru – Cactáceas da Paraíba, comercializa parte da linha desenvolvida, e divulga o seu trabalho em feiras e exposições de artesanato na Paraíba e estados vizinhos.
Referências
ABRE. A Embalagem construindo sustentabilidade. Disponível em: http://www.abre.org.br/ meio_ambiente.php. Acesso em 2010.
ETZEL, Michael J; WALKER, Bruce J; STANTON, William J. Marketing. 11 ed. São Paulo: Makron Books. 2001.
GOMEZ, L. S. R; BRAUN, J. R. R. Eco-design como estratégia de valorização e divulgação de entidades ambientais: a atuação do setor gráfico. Disponível em: <http://www.ensus. com.br/tematica3/ Ecodesign%20como%20Estrat %E9gia%20de%20V aloriza%E7%E3o% 20e%20Divulga%E7%E3o%20de%20Enti.pdf>. Acesso em: 2010.
MESTRINER, Fábio. Design de Embalagem – curso avançado. São Paulo: Prentice Hall. 2002.
14. Eco-design e Embalagens Artesanais: uma experiência com foco na geração de renda
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