1. Universidade Presbiteriana Mackenzie
LIBRAS E ENSINO TÉCNICO: A NECESSIDADE DE NOVOS SINAIS
Irinete Maria dos Santos Silva (IC) e Beatriz Pereira de Santana (Orientadora)
Apoio: PIVIC Mackenzie/MackPesquisa
Resumo
Este artigo tem como propósito mostrar a necessidade da criação de novos sinais em LIBRAS
(Língua Brasileira de Sinais) para os termos técnicos utilizados nos cursos de mecânica e, assim,
proporcionar de fato um ensino pautado em práticas bilíngües para Surdos, para os quais a Língua de
Sinais é considerada a primeira língua, e a Língua Portuguesa escrita segunda língua; mostrar
também as diferenças existentes em relação as modalidades utilizadas, sendo a primeira visual
espacial e a segunda oral auditiva. . Para tanto, inicialmente procura explicar a estrutura da LIBRAS
que é uma língua oficial e os benefícios que esta traz para o Surdo, sendo esta um código linguístico
privilegiado de interação, que depende de um estado de atenção em diversos sentidos para ser
compreendido. Para tanto, baseia-se nos estudos de Carlos Skliar, Lucinda Ferreira Brito e outros. A
partir de uma pesquisa de campo demonstra as dificuldades dos interpretes de cursos técnicos em
conhecer e traduzir palavras técnicas de áreas específicas e suas habilidades em transformar
palavras desconhecidas em sinais compreensíveis aos alunos surdos. Como resultado, observa-se
que somente a partir da interação entre alunos surdos, interpretes e professores é possível a criação
de novos sinais e que apenas com a aprovação da comunidade surda os sinais criados se tornem
definitivos. Dessa forma, a fim de exemplificar, são apresentadas fotos de algumas máquinas e
ferramentas utilizadas do curso de mecânica e seus respectivos sinais. .Por fim, conclui-se que
criação e elaboração de novos sinais em LIBRAS poderá constituir, no futuro, o início de um glossário
lúdico.
Palavras-chave: LIBRAS; interpretes; palavras técnicas; novos sinais
Abstract
This article aims to show the necessity of creating new signs in LIBRAS (Brazilian Sign Language) for
the technical terms used in courses on mechanics and thus provide a truly bilingual education process
based on practices for the Deaf, for which Sign Language is considered the first language, Portuguese
language and second language writing; also show differences regarding the methods used, the first
visual space and the second oral hearing. . For much initially seeks to explain the structure of LIBRAS
which is an official language and the benefits that this brings for the Deaf, which is a privileged
language code interaction, which depends on a state of attention in many ways to be understood. To
do so, based on the studies of Carlos Skliar, Lucinda Ferreira Brito and others. From a field study
demonstrates the difficulties of the interpreters of technical courses in learning and translating
technical terms of specific areas and their ability to turn unfamiliar words into signals understandable
to deaf students. As a result, it is observed only from the interaction between deaf students,
interpreters and teachers is possible to create new signs and that only with the approval of the deaf
community created the signs become permanent. Thus, to exemplify, we present pictures of some
machines and tools used in mechanics course and their signs. . Finally, we conclude that the creation
and development of new signs at LIBRAS will be in the future, the beginning of a glossary of play.
Key-words: LIBRAS, interpreters; technical words, new signs
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Introdução
LIBRAS, Língua Brasileira de Sinais, também conhecida como LSB (Língua de Sinais
Brasileira), é a língua natural das comunidades surdas do Brasil. Ao contrário do que muitos
pensam as Línguas de Sinais (LS) não são simplesmente mímicas e gestos soltos,
utilizados pelos Surdos1 para facilitar a comunicação. São línguas com estruturas
gramaticais próprias.
LIBRAS não é o português nas mãos, em que os sinais substituem as palavras. O que é
denominado de palavra ou item lexical nas línguas oral-auditivas são denominados sinais
nas línguas de sinais. O que diferencia as Línguas de Sinais das demais línguas é a sua
modalidade visual-gestual. Isto é se distinguem das línguas orais porque se utilizam do
canal visual-espacial e não oral-auditivo. Por este motivo, são denominadas línguas de
modalidade gestual-visual (ou visual-espacial), uma vez que a informação linguística é
recebida pelos olhos e produzida no espaço pelas mãos, pelo movimento do corpo e pela
expressão facial.
Os surdos utilizam a língua de sinais pura entre eles, e não compreendem o significado de
determinadas palavras do português, gerando conceitos complexos e abstratos. O que faz
com que informações dadas por professores nos cursos técnicos de formação profissional
sejam difíceis de compreender, deste modo, aprender uma nova informação é tarefa árdua
para estudantes surdos, e a carência de sinais específicos de determinadas áreas de
estudos torna a interpretação da aula igualmente difícil, para o profissional interprete.
As dificuldades enfrentadas por esses profissionais são inúmeras no processo de ensino
profissional. E devido o fato de a LIBRAS ser ainda uma língua em construção, apresenta
lacunas ao se tratar de sinais específicos de algumas profissões.
Desta forma, o presente artigo tem como questão principal investigar as dificuldades e
limitações vividas por estudantes surdos, intérpretes educacionais e professores no que se
refere ao ensino técnico de mecânica e, principalmente, a terminologia específica; e, dentro
disso, verificar a possibilidade da criação de novos sinais em Libras para determinados
termos da área; avaliar os termos em uso, analisar a forma como o intérprete de Libras
expõe um novo sinal diante de uma palavra técnica e complexa no processo de construção
da aprendizagem de alunos surdos, futuros profissionais, inseridos numa sala de aula com
alunos ouvintes, dentro de uma escola que se encontra em processo de construção da
inclusão.
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Surdos: neste trabalho o termo Surdo com “S” maiúsculo designa um grupo cultural e uma comunidade
lingüística. Assim como Skliar (2001).
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Referencial Teórico
A estrutura da LIBRAS
Apesar da diferença existente entre línguas de sinais e línguas orais, ambas seguem os
mesmos princípios no sentido de que têm um léxico, isto é, um conjunto de símbolos
convencionais, e uma gramática, ou seja, um sistema de regras que rege o uso desses
símbolos. A LIBRAS apresenta regras que respondem pela formação dos sinais e pela
organização dos mesmos nas estruturas frasais e no discurso.
Mesmo tendo uma Gramática própria (Sacks, 1990, p76), as línguas de sinais, dentre elas a
LIBRAS, possuem um rico sistema de classificadores, possibilitando aos nativos dessas
línguas a construção de uma estrutura sintática cheia de relações gramaticais altamente
abstratas. Segundo Fernandes e Strobel (1998: 30), classificador (Cl):
é uma forma que estabelece um tipo de concordância em uma língua.
Na LIBRAS, os classificadores são formas representadas por
configurações de mão que, relacionadas à coisas, pessoas e animais,
funcionam como marcadores de concordância.
Os classificadores são usados para designar a forma e o tamanho dos referentes, bem
como as características dos movimentos dos seres em uma determinada situação. Nesses
casos, apresentam-se “com a função de descrever o referente do nome (adjetivo), substituir
o referente do nome ou localizar os referentes (locativos)” (Fernandes e Strobel, 1998: 30).
Os sinais são formados a partir da combinação da forma e do movimento das mãos e do
ponto no corpo ou no espaço onde esses sinais são feitos. Na LIBRAS podemos encontrar
os seguintes parâmetros que formarão os sinais: configuração das mãos, ponto de
articulação, movimento, expressão facial e/ou corporal e orientação/direção. Segundo Brito
(1995, p. 36) a estrutura da LSB é constituída a partir de parâmetros primários e
secundários que se combinam de forma sequencial ou simultânea.
Os parâmetros primários são:
a) As configurações de mãos, que são as diversas formas que as mão adquirem na
realização de sinais, são 46 configurações de mão;
b) O ponto de articulação é o espaço em frente ao corpo ou uma região do próprio corpo,
onde os sinais são articulados.
c) O movimento é um parâmetro complexo que pode envolver uma vasta rede de formas
e direções, desde os movimentos internos da mão, os movimentos do pulso, os
movimentos direcionais no espaço até conjuntos de movimentos no mesmo sinal.
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Os parâmetros secundários
secundários:
a) Disposição das mãos em que as articulações dos sinais podem ser feitas apenas
mãos,
pela mão dominante ou pelas duas mãos.
b) Orientação da(s) mão(s) é a direção da palma da mão durante o sinal: voltada para
cima, para baixo,para o corpo, para frente, para a esquerda ou para a direita.
c) Região de contato refere se à parte da mão que entra em contato com o corpo. Esse
refere-se
contato pode-se dar de maneiras diferentes: através de um toque, de um risco, de um
se
deslizamento, etc.
Existem 46 configurações de mão diferentes para L
xistem LIBRAS, e elas podem ser diferenciados quanto
odem
às posições, número de dedos estendidos, o contato e a contração (mãos fechadas ou
compactas) dos dedos. Conforme quadro abaixo
abaixo:
Figura 1 - Configurações de mãos
Ponto de articulação é o local do corpo do sinalizador em que o sinal é realizado; assim,
uma maior especificação da posição é necessária, já que a região no espaço é muito ampla.
Esse espaço é limitado e vai desde o topo da cabeça até a cintura sendo alguns pontos
até
mais precisos, tais como a ponta do nariz, e outros, mais abrangentes, como a frente do
ais
tórax.
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Figura 2 – pontos de articulação, BRITO 1995
O movimento, para que seja realizado, é preciso haver um objeto e um espaço. Nas línguas
de sinais, a(s) mão(s) do enunciador representa(m) o objeto, enquanto o espaço em que o
movimento se realiza é a área em torno do corpo do enunciador.
Já a maneira descreve a qualidade, a tensão e a velocidade, podendo, assim, haver
movimentos mais rápidos, mais tensos, mais frouxos, enquanto a freqüência indica se os
movimentos são simples ou repetidos.
Existe outro parâmetro, que são os traços não-manuais, que envolvem a expressão facial, o
movimento corporal e o olhar.
Como ocorre em outras línguas de sinais, a Língua Brasileira de Sinais apresenta regras
que estabelecem combinações possíveis e não possíveis entre os parâmetros de
configuração das mãos, movimento, localização e orientação das palmas das mãos na
formação dos sinais. Assim, se um sinal for produzido com as duas mãos e ambas se
moverem, elas devem ter a mesma configuração,a localização deve ser a mesma ou
simétrica e o movimento deve ser simultâneo ou alternado. Trata-se da Condição de
Simetria. Exemplos são: TRABALHAR, FAMÍLIA e BRINCAR.
Figura 3 – sinais de trabalhar, família e brincar
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Se, no entanto, a configuração das mãos for diferente, aplica-se a Condição de Dominância,
ou seja, apenas uma mão, a ativa, se move; a outra serve de apoio. Exemplos: ÁRVORE,
PAPEL e VERDADE. (BRASIL, 2008)
Figura 4 – sinais de arvore, papel e verdade. (Imagens: Lira e Souza, 2005)
Os sinais não devem ser construídos de forma aleatória, mas, a utilização de sinais unidos
em frase é a forma certa de se comunicar com os Surdos, pois os sinais em conjunto
formam o contexto que facilita o entendimento.
A LIBRAS foi reconhecida oficialmente em nosso país, como língua oficial dos Surdos pela
Lei nº 10.436 de 24 de abril de 2002 e regulamentada pelo Decreto nº 5626, de 22 de
dezembro de 2005, que não só regulamenta a Lei de LIBRAS, mas também tem como
objetivo a inclusão do Surdo.
Oficialmente a LIBRAS é considerada a primeira língua do Surdo, a segunda, é o idioma
oficial do país de origem, no Brasil, a Língua Portuguesa, em sua modalidade escrita
(BRASIL, 2005a).
Esta é a única língua que possibilita à pessoa surda entrar em contato com todas as
características linguísticas. O Ministério da Educação (MEC), pela Secretaria de Educação
Especial, afirma que:
[...] as línguas de sinais devem ter o mesmo status das línguas orais, uma
vez que se prestam às mesmas funções: podem expressar os pensamentos
mais complexos, as idéias mais abstratas e as emoções mais profundas,
sendo adequadas para transmitir informações e para ensinar. São tão
completas quanto as línguas orais e estão sendo estudadas cientificamente
em todo o mundo. Coexistem com as línguas orais, mas são independentes
e possuem estrutura gramatical própria e complexa, com regras fonológicas,
morfológicas, semânticas, sintáticas e pragmáticas (BRASIL, 2005b, p.76).
Então, a lei estabelece que a LIBRAS é língua, uma vez que apresenta estruturas sintática e
semântica próprias de uma língua. Observa-se que o decreto confirma isto, ao instituir o
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ensino de LIBRAS nos cursos de licenciatura, o que demonstra que a LIBRAS pode e deve
fazer parte do cotidiano dos futuros educadores, bem como de alunos surdos.
Conforme Gesser (2009), LIBRAS passou a ser considerada uma língua na década de 60,
quando lhe foi conferida o status linguístico e, ainda hoje, continuamos a afirmar e reafirmar
essa legitimidade. É a legitimidade da língua que confere ao surdo alguma “libertação”. Ou
seja, é por meio da sua própria maneira de ser e se comunicar que o surdo se estabelece
como sujeito.
A LIBRAS é uma língua viva, o que a torna capaz de mudanças e criações, “pode-se dizer
que as línguas de sinais são ilimitadas no sentido de que não há restrição quanto as
possibilidades de expressão.” SME 2008. Então, a LIBRAS é uma língua natural que nasceu
da interação de pessoas surdas e atende as necessidades de comunicação destas pessoas,
que podem aumentar seu vocabulário com novos sinais introduzidos pelas comunidades
surdas de acordo com as mudanças culturais e as tecnológicas, ou seja, de acordo com as
necessidades pode surgir um novo sinal e, se este for aceito pela comunidade poderá ser
utilizado pela mesma.
Cursos técnicos e seus termos específicos
Os cursos técnicos trazem palavras complexas, condizentes com as suas especificidades, o
que torna uma aula muitas vezes desconfortante para os alunos surdos e seus interpretes,
tornando assim necessária a criação de sinais correspondentes para essas palavras.
Falaremos aqui,do curso técnico de mecânica, com suas expressões próprias de uma área
especifica, nomes de maquinas e ferramentas, equipamentos e peças variadas. As palavras
técnicas utilizadas no início das atividades de ensino e de aprendizagem da disciplina em
questão não faziam parte do léxico mental da maioria dos alunos. Por serem palavras
técnicas e de pouco uso pelos alunos do curso, inicialmente professor e alunos utilizaram-se
da datilologia2 soletração manual, que vai formando a palavra através das configurações de
mãos correspondentes à sequência de letras escritas da palavra na língua portuguesa.
Os textos interpretados em sala de aula são de conteúdos diferentes e variam de grau de
complexidade conforme o vocabulário, a extensão, os jogos de linguagem, o discurso e a
lógica (Barthes, 1977). No caso dos conteúdos pertencentes a mecânica, que abrigam
termos específicos, é frequente a inexistência de equivalentes em LIBRAS, o que transforma
a interpretação numa difícil tarefa.
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Datilologia: soletração manual do alfabeto.
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Vejamos a seguir alguns exemplos de maquinas e peças utilizadas nos cursos técnicos e
que não possuem sinais correspondentes em LIBRAS.
Figura 5 - Maquina fresadora – muito utilizada no curso de mecânica para fresar as peças.
Figura 6 - Torno mecânico – também utilizado nas aulas praticas nas oficinas.
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Figura 7 - Morsa de mesa utilizada para retifica e usinagem e garante afixação das peças.
Figura 8 - Diversas peças usinadas, torneadas e fresadas.
Em vista deste problema, algumas medidas devem ser tomadas pelo interprete a fim de
poupar o tempo e diminuir os obstáculos de comunicação. Então, alguns sinais são
combinados entre o interprete e os alunos, podendo cada turma gerar um sinal distinto para
o mesmo termo referente. No entanto os recursos mais empregados são a datilologia, a
indicação de palavras no quadro negro e a apresentação de ilustrações, imagens e figuras e
ainda a demonstração de maquinas e peças utilizadas no processo de aprendizagem (as
quais nem sempre estão disponíveis no ato da interpretação).
Método
Para confirmar a necessidade da criação de sinais foi feita uma pesquisa de campo entre
alunos surdos, professores e interpretes de Libras do curso técnico de mecânica na escola
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SENAI, com a coleta de dados por meio de questionários/entrevista com os informantes
(alunos, interpretes e professores) com o intuito de captar suas explicações sobre o
problema. O estudo de campo foi realizado por meio de entrevista a alunos surdos, maiores
de dezoito anos que cursam curso técnico de mecânica; interpretes de Libras da área
educacional em questão e, atuantes em comunidades surdas e professores responsáveis
por ministrarem aulas de mecânica para turmas inclusivas, da Escola SENAI Roberto
Simonsen.
A entrevista foi o procedimento escolhido por se tratar de um método flexível para obtenção
de dados de pesquisa qualitativo. Ressalta-se que todos participaram da atividade proposta
de forma satisfatória, expressando opiniões, respondendo as questões e mostrando muito
interesse pelo assunto. Foram criados três roteiros de perguntas: um para guiar a entrevista
com alunos surdos, um para os intérpretes e outro para os professores, elaborados com
enunciados tentando enfocar as opiniões de quem fala, de quem interpreta e de quem
recebe a interpretação. A seleção de perguntas procurou direcionar os entrevistados para o
aspecto relevante da pesquisa, ou seja, a necessidade da criação de novos sinais.
Para o conhecimento do conteúdo da entrevista, o quadro abaixo apresenta as perguntas
aplicadas.
Perguntas para alunos surdos. Perguntas para os interpretes de Libras.
1. Como o seu intérprete traduz os termos técnicos de
1. Como você traduz um termo técnico de mecânica?
mecânica?
2. Quando você não conhece o termo, você pede para 2. Depois de traduzir um termo empregado pelo
o interprete explicar o seu significado? professor, você explica o seu significado?
3. Os termos técnicos utilizados na sua apostila têm 3. Você acha que a explicação de um termo atrapalha
sinais correspondentes em Libras? a fluidez da interpretação?
4. Quando você esta estudando você lembra-se da 4. Geralmente você conhece os sinais dos termos
explicação ou do sinal usado pelo interprete? utilizados na mecânica?
5. Quando você não conhece o significado ou esquece 5. Como você procede quando o termo é desconhecido
o sinal você procura a palavra no dicionário? pelo aluno?
6. Você encontra a palavra em dicionários de 6. Como você procede quando o termo é desconhecido
português? por você?
7. Você entende a explicação do dicionário de 7. Se você utiliza um sinal especifico, qual é a sua
português? fonte de informação?
8. Os dicionários de Libras satisfazem as necessidades
8. Você encontra a palavra no dicionário de Libras?
de informações sobre termos específicos?
9. Em sua opinião as definições determos técnicos em
9. Você entende a explicação do dicionário de Libras? dicionários de português são compreensíveis para
os surdos?
10. Você acha que é possível criar um sinal para cada 10. Em sua opinião como poderia ser facilitada a
termo técnico? compreensão dos termos pelos surdos?
11. Como você acha que os surdos entenderiam melhor 11. Você conhece sinais referentes a termos específicos
os termos próprios dos cursos de mecânica? cujo conceito já foi interiorizado por surdos?
12. Você acredita que a criação de sinais em LIBRAS 12. Você acredita que a criação de sinais para os termos
para os termos técnicos facilitaria o entendimento da técnicos facilitaria a interpretação e o entendimento
matéria? do aluno surdo?
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Perguntas para os professores
1. Quando tem aluno surdo na sala de aula você se preocupa em usar palavras que facilitam o entendimento?
2. No caso dos termos técnicos, o que você faz para facilitar o entendimento do aluno surdo?
3. Qual o seu procedimento quando o aluno não entende um termo técnico, e este é desconhecido também pelo
interprete?
4. Você percebe quando o interprete tem dificuldades de explicar um termo técnico ao aluno? Caso afirmativo, qual
sua atitude?
5. Você acha que a criação de novos sinais em Libras para os termos específicos da mecânica sanaria esta
dificuldade?
As perguntas dirigidas aos alunos Surdos foram devidamente traduzidas para LIBRAS.
Resultados e Discussão
A pesquisa para os alunos nos forneceu as seguintes informações:
Para a forma mais utilizada para a interpretação de termos técnicos, os Surdos
responderam ser a soletração manual (datilologia) o recurso mais utilizado pelos
interpretes, os sinais em LIBRAS o segundo recurso, e o terceiro a demonstração de
figuras ou a representação da peça. Os alunos normalmente pedem para o interprete
explicar o significado dos termos.
As apostilas não têm sinais correspondentes em LIBRAS, foi a maioria das
respostas, cerca de 50% dos entrevistados disseram não se lembrar da explicação
ou do sinal utilizado pelo interprete, e destes, apenas 30% procuram o significado
nos dicionários de português.80% não encontram os termos em nenhum dos
dicionários, e quando encontram não compreendem o que está escrito.
80% acreditam que é possível a criação de sinais para os termos técnicos de
mecânica. E 100% acreditam que esta criação facilitaria o entendimento da matéria
em questão.
As respostas coletados dos interpretes foram as seguintes:
Os recursos mais utilizados na interpretação de termos técnicos são os sinais em
LIBRAS, a datilologia e por ultimo figuras/desenhos e apresentação das peças.
80% dos interpretes complementam a interpretação fazendo a explicação dos termos
técnicos e afirmaram que esse procedimento melhora a compreensão do aluno.
Porem, as opiniões se dividem quando perguntados se tal procedimento atrapalha a
fluidez da interpretação.
80% não conhecem os sinais equivalentes aos termos técnicos e por isso se utilizam
da datilologia ou combinam sinais com os alunos. Quando o termo é desconhecido
por ambos (interprete e aluno), procuram o professor para mais informações a
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respeito do assunto. Buscam também se informar com outros interpretes/colegas da
área, que lhes fornecem explicações e alguns sinais já conhecidos pelos alunos.
Os interpretes entrevistados disseram que os dicionários de LIBRAS são
insatisfatórios e todos concordam que as definições dos termos encontrados no
dicionário de Língua Portuguesa são incompreensíveis para os Surdos.
100% dos entrevistados acreditam que a criação de novos sinais na área da
mecânica facilitaria o entendimento e a compreensão dos alunos surdos.
Nas respostas dos professores obtivemos os seguintes resultados:
Apenas 60% dos professores entrevistados se preocupam em usar palavras que
facilitam o entendimento tendo alunos surdos em sala de aula.
Para facilitar o entendimento do aluno surdo, 40% dos professores se utilizam de
desenhos e representações visuais, 40% explicam os termos de formas
diversificadas, se aproveitando dos termos usados no dia a dia do aluno e 20%
deixam esta responsabilidade para o interprete.
Quando o aluno não entende o termo e este também é desconhecido pelo interprete,
80% dos professores mudam a técnica de explicação, ou seja, se utilizam de
desenhos/figuras ou apresentam a peça correspondente ao termo; e 20% explicam
ao interprete para que este trabalhe o conceito junto ao aluno.
Apenas 20% dos entrevistados não percebem as dificuldades dos interprete; os80%
tentam ajudar o interprete, reforçando a explicação e utilizam de demonstrações
visuais, fazendo um bom trabalho junto com o interprete. Muita das vezes o próprio
interprete é quem pede a ajuda ao professor.
100% dos entrevistados acreditam que a criação de sinais técnicos facilitariam a
compreensão e o entendimento da matéria por parte do aluno e também o trabalho
do interprete.
A criação de sinais
Os Surdos são compreendidos atualmente como pessoas que se comunicam, interagem e
se posicionam na “experiência visual”. Experiência visual envolve todo tipo de significações,
representações e/ou produções, seja no campo intelectual, linguístico, ético, estético,
artístico, cognitivo, cultural, etc.” (SKLIAR, 1999)
O Surdo é uma pessoa que tem a própria língua e cultura própria (SKLIAR, 1998), isto é,
possui a sua língua, a de sinais e tem a sua cultura, porquanto, além da primeira língua, o
surdo constitui-se em um grupo cultural. A característica inicial deste grupo é estimular a
criação cultural surda e possibilitar a existência. Criar envolve toda uma simbologia e
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criatividades humanas: “todos os grupos humanos desenvolvem padrões culturais que
tornam possível sua existência” (Souza e Fleuri, 2003, p. 67), sobretudo, na língua. A cultura
é uma tradição que se renova e que está em contínuo movimento. Busca sempre o novo,
acrescentando valores, descobertas, signos e significados.
Como em outras línguas, a Libras aumenta o vocabulário com novos sinais introduzidos pela
comunidade surda em resposta a mudança cultural e técnica.
Para o Surdo, o acesso ao conhecimento está “intimamente ligado ao uso comum de um
código linguístico prioritariamente visual, uma vez que, de outra forma, “[...] poderá apenas
ter acesso às características físicas do objeto e não as conceituais” (BRASIL, 2005b, p. 83).
A experiência visual dos Surdos produz uma predisposição mental em que a realidade é
percebida prioritariamente a partir da totalidade em vez de sê-lo por partes. O conhecimento
visual se caracteriza pela lógica da conexão e não da separação. Essa característica visual
dos surdos permite-lhes um processamento mental em que o todo passa a ser a principal
estratégia para a produção do conhecimento.
A soletração manual é utilizada nas disciplinas num intervalo curto, até que o aluno se
familiarize com as palavras e então os alunos, interpretes e professores chegam à
conclusão de que esse procedimento lingüístico não é produtivo. A alternativa encontrada,
então, é a de criação de sinais para as palavras técnicas que eram representadas pela
soletração manual.
Vejamos : no inicio usamos as palavras em datilologia
;
;
;
Figura 9 – soletração manual para as palavras fresadora, torno, morsa e peças.
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Cada letra da palavra é soletrada manualmente, com as configurações de mãos
correspondentes. Com o tempo vamos criando sinais combinando forma e conteúdo, pois a
formação de sinais deve ser feita por processos que a própria língua de sinais oferece.
Lulkin (2006) afirma que o surdo possui uma linguagem dramática, constituindo assim uma
comunidade portadora de um código linguístico diferenciado, que deve ser respeitado. E,
assim, a formação e a informação compartilhada, também devem obedecer este código.
Desta forma os conteúdos específicos terão resultados positivos.(p.32)
Temos então, alguns sinais criados em sala de aula por alunos surdos e seus interpretes3.
Mão esquerda em b, palma da
mão voltada para o corpo, Mao
direita em B voltada para baixo,
fazendo movimento de vai e vem.
Figura 10 - Sinal criado para a maquina fresadora, em que a peça permanece parada enquanto a ferramenta se
move.
Mão esquerda em configuração
C e mão direita em d inclinado,
fazendo movimento em espiral.
Figura 11 - Sinal criado para torno mecânico, maquina com placa e ferramentas paradas e a peça se
movimenta.
3
As figuras 10,11, 12, 13 e 14 têm como Fonte: A autora, 2011.
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Figura 12 - Sinal de peça
Figura 13 - Sinal utilizado para eixo Figura 14 - Sinal utilizado para técnico
Ao deixarmos a Língua de Sinais ou as expressões viso gestuais em segundo plano,
ignoramos os processos que os sujeitos surdos desenvolvem na criação de enunciados e
conceitos para as suas experiências de vida e seus significado cultural, os quais sustentam
um pensamento abstrato e complexo.
Conclusão
Percebemos que a necessidade de novos sinais na área técnica é real e a criação desses
sinais é imprescindível e urgente pois o mercado de trabalho tem aberto suas portas para os
portadores de necessidades especiais e dentre eles estão os Surdos que procuram os
cursos de mecânica cada vez mais, aumentando muito essa demanda.
Sabendo-se que há poucos sinais registrados na LIBRAS que são equivalentes a termos em
português para os termos técnicos, vemos que os recursos empregados pelos interpretes
para contornar essa escassez são de muita importância.
Contudo,os sinais criados pelos alunos, interpretes e professores, no decorrer das aulas
técnicas de mecânica, são espontâneos e de formação esporádica, ou seja, uma
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combinação entre ambas as partes “sob um impulso do momento, apenas para satisfazer
uma necessidade imediata”, conforme Rocha (1998) e se restringem a um grupo pequeno
de usuários, e somente no decorrer do tempo é que poderemos ter a certeza de que foram
internalizados pelos alunos, ou seja, se tornarão familiarizados e aceitos pela comunidade
surda.
Diante do exposto, propõe-se aqui para o futuro a continuação da pesquisa para a formação
de um glossário lúdico em LIBRAS.
Referências
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PERLIN, G. Identidades surdas. In SKLIAR, C. (org.). Um olhar sobre as diferenças. Porto
Alegre: Ed. Mediação, 1998.
SKLIAR, Carlos. Atualidade da educação bilíngüe para surdos: processos e projetos
pedagógicos. Vol.1. Porto Alegre: Mediação. 1999.
Contato: nete.santos1@yahoo.com.br e biapsantana@mackenzie.br
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