Direito fundamental da proteção em face da automação
Depoimento da Juíza Samantha Fonseca Steil Santos e Mello
1. Depoimento da Juíza Samantha Fonseca Steil Santos e Mello
“Vai ter caos, vai ter parente doente, vai ter
choro porque tem renuncia todo dia. Vai doer o
braço, o pulso, as costas. Você se irritará
porque não cabe bem o lazer nessa rotina.
Sigam firmes e tenham a certeza: É
POSSÍVEL!”
É preciso agradecer.
E é preciso agradecer a tanta gente que fica até difícil começar.
Começo pelo meu marido, sujeito incrível, parceiro de vida. Deu conta de aguentar
mulher concurseira, e olha, é para os fortes.
Queria agradecer também aos meus anjos e meus anjos, sabe, merecem menção
honrosa. Vamos por ordem de chegada. Rezoca (também conhecida por Renata Raiser)
chegou no domingo e ficou 05 horas com a bunda quadrada no aeroporto me esperando
chegar, apenas e tão somente para que chegássemos juntas. Nas 24 horas estudou – SEM
ESMORECER POR UM MINUTO SEQUER – por 15 horas seguidas, lado a lado. Loris
(Lorena Bosi) chegou na segunda trazendo coxinhas. Veja, ela veio de Vitória, comprou,
congelou e trouxe as bichinhas. Me diz se não é amor? Depois tem o Zé (José Antônio), não
chegou a tempo de ver a prova, mas a companhia no momento da leitura da nota foi
essencial. Amigo, gratidão por ter vindo, mesmo mal tendo encerrado teu ano letivo (Zé é
professor da PUC). Emanuel (Emanuel Moura) foi anjo remoto. Diretor de secretaria tratou
de pesquisar meu ponto enquanto dava conta do próprio trabalho e mandar tudo que fosse
possível para me preparar para a prova.
Ah! Loris também cuidou do cabelo e da comida. Rezoca cuidou da maquiagem e Zé
me mostrou vídeos bagaceira no youtube quando a ansiedade comia minha alma. NÃO
TERIA SIDO POSSÍVEL SEM VOCÊS.
2. Queria agradecer ao grupo de whats (juntos na pendura). Nós não dividimos só o
jantar, o taxi, o hotel. Dividimos juntamente a caminhada. Minha gratidão.
Agradeço aos 17.378 mil membros do juntos somos fortes. Não tínhamos – eu e os
administradores – a menor ideia do quanto o grupo seria importante. Conheci pessoas
incríveis aqui. E pessoas incríveis nos tornam melhores. Tenham total consciência de que
vocês me ajudaram muitíssimo mais do que podem imaginar que eu os ajudei.
Agradeço ao Fabre, mestre querido, que me ensinou que a subida da Luis Antônio é
que define a São Silvestre. Um abraço do Fabre equivale a alguns meses de estudo (rs).
Registrados os agradecimentos – e com as devidas escusas por eventuais
esquecimentos – conto um pouco da minha trajetória.
Em fevereiro de 2014 comecei a estudar para a Magistratura. Eu trabalhava como
advogada trabalhista, numa rotina aproximada de 10h diárias. Eu estava formada desde
2007, ligeiramente enferrujada e sabia que jamais poderia deixar de trabalhar por conta de
compromissos pessoais. Aliás, registro que continuo trabalhando, só adequei a minha vida
para que nela coubesse meu sonho.
No primeiro ano, após tentativa e erro, MUITA TENTATIVA E ERRO, consegui um
cronograma (eu mesma fiz e sugiro fortemente que vocês façam os vossos, ninguém melhor
conhece a nossa jornada) que me atendia para a primeira, segunda e terceira fase. Eu sempre
estudei pra todas juntas, não dava tempo de ir aos poucos.
Passei sete vezes na primeira fase, algumas no corte. Outras vezes reprovei na
objetiva, cheguei a ficar por um ponto em Campinas e dois no Rio. Para a sentença eu só
passei agora no Sul, reprovei SEIS VEZES NA SEGUNDA FASE. Doeu, mas após um dia
de choro eu voltava pro famoso bunda na cadeira. É triste passar in loco por “lay off” em
SP, “rapport” em MA e novamente “vistos etc” em SP. Mas era o jeito. É preciso ser
resiliente. Eu era única pessoa que me aprovaria. ISSO PRECISA ESTAR CLARO. Você é
o único responsável pela sua jornada.
3. Eu viajei boa parte do Brasil, fiz 12 provas desde 2014, inúmeros cursos (e sobre as
fases do concurso eu contarei individualmente – em breve), conheci gente de muitos cantos,
gastei dinheiro que eu não tinha, chorei, me desesperei porque meu casamento passou por
momentos difíceis, chorei de novo porque eu não pude estar com a minha tia querida de 78
anos no aniversário dela. Mas sabe, eu sempre fui EXTRAMAMENTE GRATA POR
PODER ESTUDAR.
Eu venho de família humilde. Meu pai foi caminhoneiro a vida toda. Hoje cuida de
galinhas. Minha mãe foi doméstica (aos 14 anos), depois cozinheira e atualmente não
trabalha por conta de problemas de saúde. Dez dias depois do resultado da sentença no sul
ela caiu em depressão (uma de tantas).
Conto hoje partes tão íntimas da minha vida para que vocês tenham a certeza: É
POSSÍVEL!
Vai ter caos, vai ter parente doente, vai ter choro porque tem renuncia todo dia. Vai
doer o braço, o pulso, as costas. Você se irritará porque não cabe bem o lazer nessa rotina.
Sigam firmes e tenham a certeza: É POSSÍVEL!
Eu estudei a vida toda em escola pública. Mudei de faculdade três vezes por não poder
pagar, mas SEMPRE, SEMPRE, SEMPRE e tive plena certeza que a única forma de dar
certo era estudar. E eu estudei. Barbaramente, por todos esses anos.
Não existe cara na magistratura. Somente coração!
Samantha Fonseca Steil Santos e Mello, aprovada no concurso da magistratura do
Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região de 2016