Este documento discute três principais tópicos: 1) O escritor brasileiro Rubem Fonseca venceu o Prémio Literário Casino da Póvoa. 2) O autor angolano Roderick Nehone lançou seu novo livro "O Catador de Bufunfa" em Luanda. 3) O secretário de estado da cultura português admite rever o acordo ortográfico do português.
1. Literatas
PROPRIEDADE DO
Director: Nelson Lineu | Editor: Eduardo Quive | Maputo, 02 de Março de 2012 | Ano II | N°20 | E-mail: r.literatas@gmail.com
Portugal
Acordo Ortográfico entre o aceitar e o ignorar
Rita Dahl
“Escrevo
textos
Híbridos” Entrevista—Páginas 8 e 9
Lançado nesta sexta-feira em Luanda
2. SEXTA-FEIRA, 02 DE MARÇO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 2
Editori@l
Depois duma incursão pela objectiva…
H
á uma coisa que sempre nos preocupou entre nós – cá entre nós - (se
assim pode-se dizer): Afinal, o que se passa com a Literatura Brasilei-
ra?
Antes que entremos em saturantes linhas de reflexão, não se trata de “um pro-
blema” que a literatura daquele país enfrenta, mas é a sua grandeza que nos faz
questionar. Agora pode-se reformular a questão: que segredos norteiam a bem-
feição da literatura Brasileira?
É que esses brasileiros são bons para receber prémios. Agora foi a vez do Madala (velho) Rubem
Fonseca que arrancou (e diz-se em Changana, barrabatissou) dos outros escritores de língua por-
tuguesa, o Prémio Casino da Póvoa, inserido no Correntes d’Escrita, edição 2012. Estamos a falar
de um prémio que vale 20 mil euros que eram cobiçados por outros grandes cérebros da escrita,
como Teolinda Gersão, Maria Teresa Horta e Hélia Correia.
Perante os factos, resta-nos dizer como eles: “só falta o Prémio Nobel para o Brasil”. Uns recla-
mam-no para Manuel Bandeira e Carlos Drumond de Andrade, outros para Jorge Amado, este
último a ser digno de uma homenagem pelo seu centenário, iniciativa para qual a nossa revista
também contribui. Quanto a isso, só nos vale dizer que tudo tem hora certa para acontecer. Um
prémio não se reclama, ele nos é dado por merecer.
Já em Angola, Roderick Nehone, lança para as ruas de Luanda ou até dos Musseques (favelas), “O
Catador de Bufunfa”, uma necessidade imediata de se evacuar da terra a preguiça e ir-se atrás
duma via para se ter dinheiro. Pena que Maputo só precisa de Catadores de Lixo!
Contudo Nehone, que é jurista de profissão e exercendo actualmente o cargo de Vice-presidente
da União dos Escritores Angolanos (UEA), está decidido a enriquecer a literatura do seu país, mas
sem substituir “O Ano de Cão” obra que lançara em 1998 e que será posta novamente em circula-
ção.
Mas o grande assunto mesmo, nesta edição vigésima, é a “perturbadora” conversa com Rita Dahl.
De Maputo, galgamos até Finlândia e com os depoimentos desta escritora, passamos a desmistifi-
car os rótulos literários desse país onde a lusofonia se faz sentir. Uma entrevista inspiradora. É
caso para dizer que a lusofonia é diversidade na plenitude. Na altitude. Na literacia e na tertúlia.
Assim celebramos o retorno às edições mistas, depois duma incursão pela objectiva.
Vem mais novidades por aí, mas vender peixe a barato não é de bom feitio, por isso, deixemos
para as próximas páginas tais novidades. Até lá.
Eduardo Quive
eduardoquive@gmail.com
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Destaque Notícias
Rubem Fonseca vence Prémio Literário Casino da Póvoa
O
brasileiro Rubem Fonseca foi distinguido com o Prémio
Literário Correntes D’Escritas | Casino da Póvoa pelo seu
livro Bufo & Spallanzani, uma edição Sextante. O prémio foi
entregue no sábado, 25 de Fevereiro, na Sessão de Encerramento do
evento, às 18h30. Bufo e Spallanzani é, segundo a editora, «um livro
de perfil policial com muita literatura dentro: uma mulher da alta
sociedade aparece morta, tem uma relação com um escritor que está
escrever um livro, o detective é uma espécie de Columbo e o marido
um rico mafioso. Vários suspeitos, uma história complexa, lírica e
dura».
José Rubem Fonseca nasceu a 11 de Maio de 1925 em Juiz de Fora, em
Minas Gerais.
É formado em Direito, tendo exercido várias actividades antes de dedicar-
se inteiramente à literatura. Em 2003 venceu o Prémio Camões, o mais
prestigiado galardão literário para a língua portuguesa, uma espécie
de Prémio Nobel para escritores lusófonos.
As obras de Rubem Fonseca geralmente retratam, em estilo seco e direc-
to, a luxúria e a violência urbana, em um mundo onde marginais, assassi- Outros vencedores
nos, prostitutas, miseráveis e delegados se misturam. A história através da
ficção é também uma marca de Rubem Fonseca, como nos roman- 1.º – “O sonho do professor Jorge”, da turma SP do 4º. Ano da Séction
ces Agosto (seu livro mais famoso) em que retratou as conspirações que Portugaise du Lycée de Saint-Germain-en-Laye – França
resultaram no suicídio de Getúlio Vargas, e em O Selvagem da Ópera em 2.º – “Martinho descobre que as mãos que falam”, da turma E da EB
que retrata a vida de Carlos Gomes, ou ainda A Cavalaria Vermelha, livro Bairro Duarte Pacheco, S. Victor, Braga
de Isaac Babel retratado em Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos. 3.º - “No Reino da Alfabetária”, da Turma B da EB1/JI Condes da Lou-
sã/Damaia – Amadora
Criou, para protagonizar alguns de seus contos e romances, um persona-
gem antológico: o advogado Mandrake, mulherengo, cínico e imoral, Menções Honrosas
além de profundo conhecedor do submundo carioca. Mandrake foi trans-
formado em série para a rede de televisão HBO, com roteiros de José Texto: ―Um Feiticeiro Infeliz‖, da Turma 4B da Escola Comendador
Henrique Fonseca, filho de Rubem, e o actor Marcos Palmeira no papel- Ângelo Azevedo, de S. Roque – Oliveira de Azeméis
título. Ilustração: ―Futebol Planetário‖, da Turma 4D da EB1 n.º 1 de Sines
Roderick Nehone lança “O Catador de Bufunfa”
Livro lançado Hoje as 18:30 minutos na União dos Escritores Angolanos, em Luanda. Na ocasião será
posta em circulação a nova edição de O Ano do Cão (romance de consagração, 1998), do mesmo autor.
O
livro a ser apresentado por Sílvia Ochôa Arez e João Melo, este Apesar de estupefacto,
último jornalista, escritor e ensaísta, retrata a história, contada em incrédulo, Nazaré entra, e
primeira mão, de Nazaré dos Relâmpagos de Abril, um estafeta e o que lá acontece faz com
autodidacta, que pede uma licença sem vencimento no órgão público em que a sua vida mude para
que trabalha, para tentar a sua sorte como trabalhador por conta própria. sempre. Deixando-se
levar pelo sensível farejo
Semanas depois, do seu nariz, o homem
sem conseguir um começa a intermediar sem
novo emprego pruridos morais os mais
regular, quando esquisitos negócios até
começou a faltar finalmente converter-se
até o pouco a que numa pessoa que conse-
já se habituara, o gue sustentar-se, com
homem se desespe- confiança, sobre os seus
ra e vê não chegar próprios dois pés, os de
luz alguma no fun- carne e ossos e os dos
do do túnel em que negócios.
se aventurara.
RODERICK NEHO-
Decide então NE, pseudónimo de Fre-
tomar de assalto a derico Manuel dos Santos
rua em busca de e Silva Cardoso, nasceu
ideias, já que quase em Luanda, Angola, a 26 de Março de 1965. Em 1989 concluiu a
nada tinha para vender e muito menos para comprar. Quando lhe parecia Licenciatura em Direito na Universidad Central de Las Villas, Cuba, e
não poder agarrar sequer a última esperança ambulante na multidão, um foi docente da Universidade Agostinho Neto, em Luanda, de 1991 a
vendedor de rua mostra-lhe um lugar onde poderia encontrar as ideias que 2004. É membro da Ordem dos Advogados de Angola e Vice-
procurava. Presidente da União dos Escritores Angolanos.
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Destaque Notícias
Em Portugal
Governo admite rever Acordo Ortográfico
Depois da decisão de Vasco Graça Moura de ignorar o Acordo Ortográfico nas comunicações do CCB,
foi ontem a vez de o secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, vir olhar com cautelas
para os imperativos da nova escrita do Português. A três anos da implementação definitiva da nova
ortografia unificada às nações da Língua, Viegas diz que há trabalho a fazer para afinar as palavras.
Fonte: RTP Com um desagrado
Foto: Lusa pessoal ontem confes-
sado durante um pro-
grama da TVI face ao novo acordo ortográfico e
à forma como foi conduzida a sua implementa-
ção, o secretário de Estado da Cultura admite
que até 2015 cada um use o português escrito
como muito bem entender, dentro das possibili-
dades abertas entre a velha ortografia e o novo
acordo.
―Gosto de algumas regras, outras não. O proces-
so não foi bem encaminhado. O acordo ortográ-
fico está em discussão há 20 anos. Discutiram-
se as coisas à última da hora‖, lamentava o
governante.
Depois, defende Viegas que, sendo ―do ponto de
vista teórico (…) uma coisa artificial‖, a orto-
grafia pode ser alvo de trabalho: ―Portanto, podemos mudá-la. Até 2015 da nossa Língua, escreverá como lhe apetecer‖, sublinhou Francisco
podemos corrigi-la, temos essa possibilidade e vamos usá-la. Nós temos que José Viegas.
aperfeiçoar o que há para aperfeiçoar. Temos três anos para o fazer‖.―O que
é bom considerar é o seguinte: do ponto de vista teórico, a ortografia é uma
―Vasco Graça Moura é uma das pessoas que mais refletiu sobre a ques-
coisa artificial, provavelmente, e portanto, se é artificial, nós podemos mudá
tão do acordo ortográfico. É uma das pessoas que mais se empenhou no
-la. Mas temos uma vantagem. É que até 2015, podemos corrigi-la. Temos combate contra o acordo, em termos pessoais. Vasco Graça Moura é um
essa possibilidade e eu acho que vamos usá-la‖. grande criador da nossa língua‖, acrescentou, para considerar
―absolutamente ridículo que várias pessoas que não têm qualquer inti-
―Temos de aperfeiçoar aquilo que há para aperfeiçoar. Temos algum tempo, midade nem com a escrita, nem ortografia, nem com a nova, nem com a
temos três anos para o fazer‖ velha, terem vindo criticar e pedir sanções‖.
Um dos casos que nos últimos tempos voltou a colocar o acordo ortográfico
nas páginas da atualidade foi a decisão do recentemente nomeado presidente Fazendo uso da ironia, o secretário de Estado da tutela lembrou que
do CCB (Centro Cultural de Belém), Vasco Graça Moura, de mandar retirar ―todos os portugueses têm a possibilidade de escolher a sua ortografia.
o corretor ortográfico dos computadores da Fundação CCB. Não há uma polícia da língua, há um acordo que não implica sanções
graves para ninguém‖.
Já se sabia a posição de Vasco Graça Moura em relação ao acordo. Agora, o Dava Viegas o exemplo do seu próprio caso, que, enquanto escritor,
presidente do CCB conta com o apoio oficial do Governo: ―Os materiais ofi- tem dúvidas e fará assim ―uso dessa possibilidade, como todos os portu-
ciais do CCB obedecem à norma geral que vigora desde 1 de Janeiro em gueses podem fazer uso dessa possibilidade, isto é, a competência que
todos os organismo do Estado. Vasco Graça Moura, um dos grandes autores têm para escolher a sua ortografia‖.
“Rapunzel e outros poemas da infância”
D
epois de ―Escritos no Ônibus‖ livro lançado em 2010, o escritor Jairo Rinaldo de Fernandes, Linaldo Guedes, Fábio Cardoso, Roberto Denser, entre
Cézar trás para a Literatura Brasileira o seu mais recente trabalho intitu- outros.
lado ―Rapunzel e outros poemas da infância. Segundo o autor, o livro foi concebido para ser uma ponte para outras leituras,
Programado para estar nas mãos do público a partir do dia 17 de Março, o livro a pois provoca o leitor com poemas curtos que descrevem cenas recortadas de
ser lançado na última hora da tarde, na Livraria Leitura, no Manaíra Shopping, histórias como Rapunzel, os Três Porquinhos, Pinóquio, A Bela e a Fera etc.
em João Pessoa, é composto por 25 poemas escritos para o público infantil e, Biografia
aliando a alma aos interesses dos bons olhos, a obra conta com ilustrações colori- Jairo Cézar é escritor e professor. Nasceu em João Pessoa em 1977, mas é
das de Tônio e João Baptista, por sinal, o pai do poeta. radicado em Sapé desde os primeiros dias de vida. Lançou, em 2010, Escritos
Assim, Jairo Cézar, reafirma o seu compromisso com a arte de escrita, trazendo a no Ônibus, livro de poemas que levou o prémio Novos Escritos da Fundação
sua criação poética ―fingida‖ para o imaginário mundo infantil, com a apresenta- Cultural de João Pessoa – FUNJOPE. Em 2011, foi um dos vencedores do
ção, no acto de lançamento, da professora e Crítica literária da Fundação Nacio- Prémio Nacional Canon de poesia, pelo poema O Maestro, e integra antologia
nal do Livro Infantil e Juvenil na Paraíba, Neide Medeiros. com mais 49 poetas de todo país. Foi o primeiro director do Memorial Augus-
A poesia de Jairo Cézar em ―Rapunzel e outros poemas da infância‖ vai desde a to dos Anjos em Sapé, realizando trabalhos voltados à formação de leitores.
releitura de grandes clássicos infantis até aos animais que povoam o mundo fan- Edita o blog literário http://escritosnoonibus.blogspot.com/ e mantém forte
tasioso dos pequenos e pequenas. Rapunzel tem prefácio do professor Fábio Viei- actividade cultural através do Núcleo Literário CAIXA BAIXA, grupo de
ra e conta ainda, com depoimentos de Sérgio de Castro Pinto, Águia Mendes, jovens escritores paraibanos, do qual é membro fundador.
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Livros & Leitores
Nome: Chico Carneiro Hérlio da Conceição Manjate
Estudante: I ano do curso Física UEM
Profissão: Cineasta
19 anos, residente na cidade Matola
Está a ler: Marcha Para Oeste
Da autoria dos irmãos Cláudio e Leonardo Villas Boas Actualmente lê José Craveirinha (Xigubo), o poema que
Estou a ler dois livros em simultâneo um de dia e um de noite. Um é moçambi- mais o interessou foi “Quero ser Tambor”, para ele o livro é
cano, João Paulo Borges Coelho - sobre a Guerra em Moçambique -O Olho de viajar no tempo e ver o mundo como era. Ao ler cada poe-
Hertzog, um livro diferente mais denso em relação a primeira obra do mesmo ma sente uma coisa a tocar-lhe em relação a o que lê. Esse
autor que já li, refiro-me à As Visitas do Dr Valdez, comprei recentemente e leitor, chama-se Hérlio Manjate.
estou nas primeiras 20 páginas.
Em relação a outra obra (brasileira), que na verdade estou a reler é o livro da
epopeia para quem conhece o Brasil. Foi na década de 40 quando o Brasil foi
desestranhado ou seja foi feita uma expedição para entrar Brasil adentro para
realmente se conhecer, pois nessa altura era pouco conhecido, e esses irmãos
Maputo Blues
Villas Boas que estavam a frente dessa expedição que era uma expedição feita
ou financiada pelo governo brasileiro com o objectivo principal de ocupar o bra- AUTOR: Nelson Saúte -
sileiro das terras brasileiras, e também conhecer o que tinha dentro das mesmas. Moçambique
Estou a falar da floresta Amazónica que na altura era completamente desconhe-
cida, e as tribos indígenas que viviam naquela região, a expedição demorou “Maputo Blues é uma notícia sem
vários anos, a chamada expedição Muka do xingu, e foi registada num livro dúvida importante no cenário da
poesia moçambicana (…)
pelos dois irmãos (…)
A proposta de Nelson Saúte corre
noutra direcção, perseguindo notas
Géssica Cardoso, estudante de II ano do curso de tradu- capazes de combinar a marrabenta
ção em Francês na Universidade Eduardo Mondlane, 21 de Fanny Mpfumo com o jazz de
anos, residente da cidade de Maputo Billie Holiday , fazendo da escrita
literária a travessia entre os muitos
Géssica Carsoso, está a ler Niketche de Paulina Chiziane, gostou da
pontos do planeta. E é nesse compasso que ele investe na sua
união das mulheres, mas não da relação da família do homem, com
a nora. Sublinha que o que acontece muito entre nós ao morrer o relação com as matrizes que compõem o que para o autor é a
chefe da família os seus familiares virem levar todos pertences do sua tradição literária‖
falecido.
“As pessoas deve ler Niketche de Paulina Chiziane por trazer coisas Rita Chaves
vividas no nosso dia-a-dia, principalmente as mulheres, porque
podem aprender a conviver com estas situações”, diz Géssica.
O Útero da Casa
Inventário das AUTOR: Conceição
Angústias ou Lima – São Tomé e
Príncipe
Apoteose do Nada
(…) «O Útero da Casa é um livro
diferente. Obra de análise íntima,
AUTOR: Sangare Okapi — traz-nos por vezes a meia voz, atra-
Moçambique vés da saudade e da mistificação
das coisas amadas, a cor e a alma da
ilha mãe de São Tomé, a sua den-
―Da leitura que fiz dos poemas, reparei que, gue beleza, sua viuvez, seus palma-
á semelhança de um Rui Knopfil, Okapi insiste numa determinada res, o cantar dos búzios, a casa (o
identidade e / ou naturalidade (…) A estratégia poética com que Oka- útero) centro do mundo, presente e
pi aborda a matéria do seu livro lembra a provocação com que Fili- futuro. Alta, perpétua claridade,
mone Meigos celebra o absurdo ate a exaustão. A filosofia de que pedra de reunião.
assuntos deprimentes poderão também ser cantados, marca que carac- Nestes versos em que se confrontam criaturas e lugares do outrora, que o
teriza Eduardo White, por exemplo, parece ser a filosofia adoptada tempo magnifica, com a nitidez do hoje, ouvimos a brisa nos canaviais,
por Okapi. Neste contexto, pode-se afirmar que Sangare Okapi pode sentimos o odor do café e do cacau, vemos os ibiscos e o barro verme-
ser inscrito na mesma temática e estratégia de escrita dos três autores lho, o perfil da mesquita, a cidade morta, o mar.
Lê-se a mátria na terra sensual, até na luz da fruta, no sangue da lua, nas
a que me referi, ou seja, os outros <<Prometeus>> do nosso Moçam-
mãos de húmus e basalto.
bique (…).‖ Conceição Lima escreve-se, em ideia e corpo, na carne viva da ilha.»
Sara Jonas (Urbano Tavares Rodrigues)
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Cartas
Espaço aberto para debate e comentários sobre assun-
tos literários. Mande-nos uma carta pelo e-mail:
r.literatas@gmail.com
Prezados amigos moçambicanos,
FICHA TÉCNICA
nova mente a revis- fiquei muito satisfeito com a homena-
Ei Am osse, adorei receber
ativa, como sem- gem ao Madala José Craveirinha. Mais
ta. Está muito bonita e inform que merecida e sempre um nome a ser
possa contribuir
pre. Es pero que em breve eu reverenciado. Foi uma ótima escolha o
paralelo entre a
com escrita, fazendo um texto da Rita Chaves, um dos melhores
to e Paulina Chi- de nossas ensaístas. Parabéns! Aproveito
escrita de Conceição Evaris
stante apertada, para congratular o prestidigitador eméri-
Propriedade do Movimento Literário Kuphaluxa
Direcção e Redacção ziane. N esse momento estou ba to Eduardo Quive, que fez um belo poe-
um momento de
do a tese, mas espero
Centro Cultural Brasil - Mocambique
Av. 25 de Setembro, N°1728,
escreven ma para o Velho Zé, assim como dignos
é abril?
C. Postal: 1167, Maputo intervalo quem sabe at de notas os textos produzidos por Amos-
e do Brasil. se Mucavele e Japone Arijuane (valeu
Um forte abraço, meu arriscar a espacialidade da palavra na
Tel: +258 82 27 17 645 / +258 84 07 46
folha em branco).
603
Meu grande abraço para todos e um bom
Fax: +258 21 02 05 84
Horizonte
E-mail: kuphaluxa@sapo.mz Rosália Diogo/ Belo final de semana.
Blogue: literatas.blogs.sapo.mz
Ricardo Riso/ Rio de Janeiro
DIRECTOR GERAL
Nelson Lineu
(nelsonlineu@gmail.com)
Cel: +258 82 27 61 184 Queiram receber antes meu abraço. Com letras.
DIRECTOR COMERCIAL
Andei um tempo sem cabeça para os outros, e sei que isso não é bom. Hoje abro meu email e
Japone Arijuane vejo a vossa revista, vinda de um gesto ao qual agradeço.
(jarijuane@gmail.com) Provavelmente não poderei tecer um comentário sólido sobre o que li, mas posso avançar
Cel: +258 82 35 63 201
que este desafio tem alma, uma alma que não é pequena e, quando a alma não é pequena,
EDITOR concretiza, tudo vale a pena.
Eduardo Quive
(eduardoquive@gmail.com)
Resido agora em Inhambane, que tal uma colaboração minha! Uma coluna! Algumas coisas
Cel: +258 82 27 17 645 sobre os poetas que andam por aqui!
De grão a grão enche a galinha o papo.
CHEFE DA REDACÇÃO
Amosse Mucavele Dou-vos a maior força.
(amosse1987@yahoo.com.br) Abraço. Com letras.
Cel: +258 82 57 03 750
REPRESENTANTES PROVINCIAIS Alexandre Chaúque / Inhambane
Dany Wambire—Sofala
Lino Sousa Mucuruza—Niassa
COLABORADORES FIXOS Projecto LITERABRINCANDO do KUPHALUXA leva o escritor e contador de estórias
Izidine Jaime, Pedro Do Bois (Saranta Cata-
rina-Brasil) , Victor Eustáquio (Lisboa —
Rafo Diaz para a Escola Comunitária Imaculada Conceição, aredores da cidade de
Portugal), Mauro Brito. Maputo.
COLUNISTA
Marcelo Soriano (Brasil)
FOTOGRAFIA
Arquivo — Kuphaluxa
PARCEIROS
Centro Cultural Brasil—Mocambique
Portal Cronopios
www.cronopios.com.br
Revista Blecaute
Revista Culturas & Afectos Lusofonos
culturaseafectoslusofonos.blogspot.com
7. SEXTA-FEIRA, 02 DE MARÇO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 7
18 (Dezoito)
Poesia No meio da confusão
Ouviu-se Quincas dizer: Mukurruza—Lichinga
“- Me enterro como entender
À eterna memória da Celina Sousa Mucuruza
Na hora que resolver.
Podem guardar seu caixão
Pra melhor ocasião.
Não vou deixar me prender … almoço, e colho o nojo
Em cova rasa no chão.” Dopado pelo V
E
E foi impossível saber N
T
O resto de sua oração. O, em poesia
Na divina tatuagem
Tatuada no tempo que (colho),
Kha tembe-Moçambique
Um Sonho Poético
No longo mar da divina
no meu país a fome Esperança!
cai oblíqua Desesperada, oh! … … … … … … V
E
como um sol de dentes Dhiogo Caetano-Brasil N
desnutridos
que faz muita sombra Naquela noite... T
O, que
Participei de um banquete dos deuses... rubra,
mas o meu país de boca aberta
tem aves na garganta O espírito grego romano preparou a mesa onde Incasável ao sopro eterno!
e o céu mais limpo do mundo
os mais diversos paladares estavam presentes,
quando do Olímpio ouvi aos ecos o som dos
meus poemas.
Senhora dos Sois Segredos do voo
Dionísio pessoalmente bebeu vinho do saber,
quando repetia seguidas vezes os meus versos,
HIPÓTESES
Eliseu Armando
Miriam Alves-Brasil poemas e letras como cânticos líricos...
Sou Sarcasticamente as musas brincavam com as Zeferino Massingue
chama
Na escuridão
lama rimas. duas aves
magna moldado partilham segredos
Na terra os homens invocam os deuses. Não há reajuste
endurecido concentram-se
A paz, a igualdade social avassaladoramente Senão hipóteses do Faustino partem
Sou
A vida de metralha na África sem destino.
invadia as ruas, cidades e guetos.
naturalidade O destino de negro milenar
vento esfriamento dos tempos Os versos pairam no ar e se tornam insufladores Hélder Macedo-Portugal
dos excessos através da história. Voando com o pedaço de
Esquecer panos Tempo houve
meu rosto Vejo a luz de um novo mundo, que se inspira quando ainda havia tempo
Um autêntico escândalo de presos
gosto nos versos de libertação, amor e igualdade entre Uma pedagogia semanal em que a morte estava perto
Não posso!
Mas dizem: produzimos, porque esta longe
Sangro os irmãos.
emvermelho Algodão e citrinos podia sabê-la
empreto Aquele momento era tão real, tão concreto... no desconhecido
o choro de todos os dias dos corpos que eu fosse
a dor Mas tudo se findou em um simples desperta... Leite e sumo para não serem meus
Esquecer? Mal nutridos são as nossas no sabor a mar
DEDICAÇÕES
Não posso! mangueiras dos ventres pulsando
Sou Nudez de palha vão vestindo no sangue e no mostro
o azul infinito A roupa usada de cheiro de qundo o deserto
Arco-Íris
onde o grito Arroboboi risca um J.A.S. Lopito feijóo K.-Angola característico que quase já sou
na sombra que seja
Sois me guiam
I Hipóteses de Faustino
do que não serei
Zanzi bar de bar em bar nos colava em rios
É uma vergonha
Sou luz a fonte e a foge
aura da incandescência rubra negra cheiras no ar De quem produz algodão
sem morte e sem tempo
Sou pedra Se beneficiar de roupa usada.
bruta gema diamante engastada na
imensas noites ao luar sem perto e nem longe
rocha sólida teu sublime aspecto lunar sem mim e sem ti
Ergui voz, cabeça, espada de me para ti
A palavra basta ressoou embriaga minhas contas de somar de ti para me
estourou as paredes Zanzibar de intensos copos ou eterna a dar a morte ao tempo
divisórias a dar tempo à morte
maneira de amar! no tempo que sobra
do nada que é tudo
8. SEXTA-FEIRA, 02 DE MARÇO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 8
Entrevista por Eduardo Quive
Uma Poesia Híbrida
E screver poesia é ser mais do que si
própria, é ser muitas vezes algo que
desconhece. Mas da sua palavra acredita
que o mundo sobrevive, tal como a semente
que gera os frutos que saciam barrigas
vazias. E é mesmo assim “escrevo textos
híbridos que atravessam as fronteiras da
poesia”, talvez porque “acho que textos
híbridos se relacionam também com a escri-
ta africana”. Estamos no meio duma viagem
literária para fora. Fora de Moçambique e
dos países da CPLP. Transgredimos a regra
editorial? Não. Estamos fora dos países de
expressão portuguesa, mas estamos dentro
da lusofonia, estamos dentro do horizonte
de falantes do português. Uma entrevista a
escritora finlandesa Rita Dahl. Poetisa,
ensaísta, contista e descrevista de embarca-
ções. Uma viajante de múltiplas falácias.
Fala e escreve em sete línguas e tem maior
influência nos países de expressão portu-
guesa. Rita Dahl é uma proposta para inspi-
rar gentes.
Literatas: Como é o seu processo de criação? Como surgem os textos? não - ficção, e as vezes especialmente a minha poesia poderia ser definida
Rita Dahl (R.D) - Não há nenhuma resposta digamos ―regular‖ nessa pergunta. como textos híbridos, que atravessam as fronteiras da poesia, prosa e ensaios.
Os textos surgem como surgem. As vezes estou inspirada pelos lugares que visi- Por alguma razão textos híbridos, que vem bem facilmente de mim. Acho que
tei ao todo mundo da Europa até América Latina, outras vezes me fascina escre- textos híbridos se relacionam também com a escrita africana.
ver ensaios sobre coisas bem mais vastas como poesia/política.
Literatas: Quais são as questões que mais procura levantar nas suas
Literatas: E como define a sua literatura? obras?
R.D - A minha escrita varia. Escrevo poesia, ensaios, livros de viagem, contos, R.D - Não há só uma única resposta nessa questão. Quero em primeiro lugar
9. SEXTA-FEIRA, 02 DE MARÇO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 9
Entrevista por Eduardo Quive
Continuação
levantar muitas questões variadas na minha obra. Até agora tem sido por exemplo paí- Literatas: No início da sua carreira, terá escrito algo que achou não
ses lusófonos, a justiça e responsabilidade social, a liberdade da palavra, poesia/s em ter qualidade?
línguas lusófonas (e outras línguas também, explorando principalmente as sete línguas R.D - Bom, eu comecei a ler a literatura (Dostojevcki, T.S. Eliot) e escre-
que falo), questões sobre a minha própria poética/política e poética/politica/s pelos ver aos 11 anos. Com certeza escrevi – e ainda escrevo – algo sem tanta
outros poetas lusófonos (exemplos do poeta brasileiro Wilmar Silva que escreve usan- qualidade, mas eu fui desde início, ambiciosa quanto a escrita e estudos:
do na sua linguagem de amor, e poeta português Alberto Pimenta). quero exprimir em primeiro lugar minhas facetas várias numa maneira
literária.
Literatas: Será a poesia o género que mais gosta de escrever? Porquê?
R.D - Não só. Eu procuro sempre ser ―múltipla‖ como disse Walt Whitman. Vou ain- Literatas: Qual é a sua maior preocupação antes e depois de lançar
da escrever prosa, gostaria de escrever também romance/s, publicar livro/s de ensaio/s um livro?
R.D - Eu queria que o meu livro fosse lido por profissionais e que o criti-
e mais livros sobre temas sociais. Vejo se um dia chego lá.
cassem e pelos júris, podendo o nomear como candidato de diversos pré-
Literatas: Embora finlandesa, tem procurado se evidenciar nos países falantes de mios (preferivelmente com prémios de dinheiro) e finalmente pelos leito-
língua portuguesa, no caso concreto de Portugal e
Brasil. O que a leva a pautar por esses caminhos?
R.D - Não só Brasil e Portugal. Tenho traduzido dois
poetas de Angola e Cabo Verde também. Bom, curto
dito, eu fiz a segunda licenciatura (Master's Thesis)
sobre heterónimos de Fernando Pessoa e por isso che-
guei a Universidade Clássica de Lisboa para estudar
linguística por um ano. A primeira licenciatura fiz sobre
Ciências Politicas. Depois tirei ainda mais alguns cur-
sos de verão, comecei a traduzir a poesia escrita na lín-
gua portuguesa, embora que tenha traduzido poesia
escrita em outros idiomas. Também organizo antologia
da poesia finlandesa em português (será lançada no
Brasil ainda este ano) e em espanhol (espero que seja
lançada pelo menos em México, talvez em Argentina
também).
Literatas: O que tem feito concretamente nesses paí-
ses?
R.D - Para além do que já tinha me referido anterior-
mente, tenho participado aos encontros (Encontro Inter-
nacional dos Poetas na Universidade de Coimbra, onde
encontrei com poeta-performer brasileiro Márcio
André, António Jacinto Pascoal, João Rasteiro e José
Luís Tavares de Cabo Verde e leituras dedicados a
minha poesia – ultimamente cantei Sibelius, Faure, em
Coimbra, uma vez que sou soprano clássica. Participei
no evento PORTUGUESIA ambos em Belo Horizonte,
Brasil, e Vila Nova de Famalicão, Portugal, neste ano. res digamos ―inferiores‖. Para o livro (da poesia) chegar às mãos deles é
preciso se obter boa crítica.
Literatas: Entende que o que escreve carrega a universalidade?
Depende do leitor. Espero que carregue, mas também somos criadores das nossas pró- Literatas: Quando se fala de literatura no mundo, pouco tem se des-
prias culturas: isso é inevitável. Nem podemos, nem temos que nos adoptar completa- tacado a Finlândia. O que acha sobre isso? O que origina o anonima-
mente às outras culturas. to da Literatura desse país?
R.D - Finlândia é um país com 5 milhões de habitantes. O facto do país
Literatas: Tem livros traduzidos para português? ser tão pequeno pode constituir um dos motivos. Por outro lado, não
R.D - Ainda não. Espero de o tiver ainda no ano próximo. Será lançado pelo Anome temos muitos faladores da língua portuguesa que poderiam transmitir a
Livros de Wilmar Silva. Tenho alguns poemas publicados nas revistas brasileiras, informação e seu tempo para esta causa.
como antiga revista de Confraria do Vento.
Literatas: Que referências literárias tem de Moçambique?
Literatas: Dentre vários livros seus, qual você considera o mais importante da R.D - Mia Couto, no primeiro lugar. Não conheço mais referências. Infe-
sua carreira? Porquê? lizmente.
R.D - Gosto muito do meu livro de viagem sobre Portugal e o último sobre Brasil, por- A literatura moçambicana é conhecida, em primeiro lugar, pelos roman-
que ambos, são bem ambiciosos, muito mais do que guias, querem entender um pouco ces e contos de Mia Couto, que – quanto a mim – é um dos melhores,
da mentalidade da gente e levantar questões críticas sobre temas como a justiça e res- senão o melhor, na língua portuguesa em África.
ponsabilidade social (especialmente quanto aos povos originais).
Literatas: Tem contacto com a Literatura Africana? O que sabe
Literatas: Quais são os autores de língua portuguesa que conhece? Com quem dela?
tem mais contacto? R.D - Claro que tenho contacto com a literatura africana pela leitura e
R.D - Teria que mencionar uma lista demasiado longa. Basta dizer que conheço mui- pelas visitas a Nigéria (em Book and Art – festival no ano 2006 e na con-
tos. Tenho mais contacto com alguns poetas brasileiros e alguns portugueses. Já men- ferência entre escritoras de Saudi-Arabia e escandinavas no ano 2008).
cionei alguns deles. Organizei também um projecto com escritores africanos dos vários países
anglófonos e escritores finlandeses. Como vice-presidente de PEN Clube
Literatas: Quais foram os seus melhores momentos na vida como escritora? da Finlândia e presidente do comité das escritoras (2006-2009, 2005-
R.D - Ainda não posso responder essa questão. Ainda estou a espera do momento 2009) organizei um evento internacional para escritoras de Ásia Central e
melhor. O momento último. duas antologias, uma das quais bilingue.
Literatas: O que é um escritor? O que o diferencia de outros na sociedade? O que Literatas: O que podemos esperar da Rita nos próximos tempos?
é essencial para se ser bom escritor? R.D - Espero que um livro de poesia. A antologia da poesia portuguesa
R.D - Para mim, o escritor é alguém que escreve de obrigação interna numa maneira editada e traduzida por mim com 10 poetas. O livro de ensaios sobre poe-
mais ambiciosa e variada do que o possível, e quer sempre encontrar mais escritores sia e política. Perfil dum poeta conhecido finlandês. E quem sabe mais
ambiciosos que pertençam ou não ao cânon literário. coisas!
10. SEXTA-FEIRA, 02 DE MARÇO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 10
Filosofonias
Colunistas Marcelo Soriano — Brasil
m.m.soriano@gmail.com
O passo certo
no caminho errado
Nelson Lineu - Maputo
nelsonlineu@gmail.com
A careca e a (Foto: Berkeley T. Compton, from http://bit.ly/yOBy53 )
Conto Poético da Loucura Infantil
barriga Horizonte... Lá onde as aventuras nadam nuas... Aos olhos do peixe vermelho,
as pessoas vão e vêm, mergulhadas na prisão de paredes transparentes, do lado
de fora do aquário. É amando que se sabe. Se não sei, talvez não ame. As
H
abitualmente prende-se pessoas são para prote- nuvens... Garças brancas a debandar sonhos... Passarinhos não choram.
ger a sociedade, e o Fernando Paulo encontra-se Passarinhos cantam no desespero das próprias penas. Vejam! Eu posso voar!
naquele local para se proteger daquela socieda- Fui criança!■
de. Também não era para menos, tanta gente a fazer baru-
.........................................................................................................................................
lho na sua casa, panfletos pendurados, assobios, insultos, a
Sobre o Fim do Mundo em 12-12-12
população queria acabar a pobreza com as suas próprias
mãos, o que não devia ser, como o fazer justiça tinha pes- Quando menino, aos sete ou oito de idade, escondia-me atrás da barra da saia da minha mãe
sempre que uma cigana batia à porta para pedir um copo d'água que, na verdade, acabava em
soas capacitadas para tal assim também devia ser com a
uma moeda de pagamento para que fosse embora, de volta ao mundo que a criou como, ao que
pobreza, era isso que defendia o chefe da polícia quando
diziam as más línguas, ladrona de meninos para transformá-los em sabão. Volto àquela idade
conversava com a população enfurecida.
em que eu era um reles alvo de bruxas e ciganas raptoras de crianças, porque, naquela época
Fernando Paulo que chegara no bairro há um mês, com a (pelos idos de 1973), também houve este rumor de que o mundo acabaria em um prazo de sete
dias. Esperei escondido dentro de um roupeiro a data anunciada por nossos vizinhos que eram
sua chegada a população local sentia que o nada que justi-
fervorosos freqüentadores da Igreja Testemunhas de Jeová. O mundo não acabou conforme o
ficava a existência deles tinha dias contados.
anúncio da apocalíptica vizinhança. Depois daquilo, várias vezes, no transcorrer desta minha
Fazia-se transportar por um Mercedes que multiplicando o existência, o fim do mundo foi anunciado e, já, quase um incrédulo, aguardei com um certo
salário da população daquela zona durante um ano não risinho debochado no semblante. Nunca veio o tal "Fim do Mundo". Desta vez, desculpem-me
compraria, por isso comentário como esses: - a nossa histó- os céticos, eu creio. Pia e cegamente, acredito que o mundo será levado a cabo em 12/12/12,
ria começará a ser escrita por uma outra cor. aliás, vou mais longe... Será às doze horas, doze minutos e doze segundos. Não, não será nada
fantástico, apoteótico, cinematográfico... Será simples e corriqueiro. Um evento tão habitual e
Os dias foram passando a mesmice continuava, as dificul- sem graça que a humanidade adormecerá e, simplesmente, apagar-se-á da Face da Terra. O que
dades nadavam a mesma velocidade, as necessidades e as virá depois? Nada. Assim como aconteceu aos dinossauros, os homens estarão extintos e só
faltas brigavam para mais um espaço. As pessoas continua- sobrarão os ossos que, num futuro incerto, contarão de modo fragmentado a história biológica
vam a fazer barulho só que desta vez no posto policial. O deste ser que julgava-se "O Centro do Universo", mesmo depois de saber cientificamente que
homem da lei, pediu silêncio para resolver o problema ele, o Universo, não girava em torno de si, digo, o Universo sequer percebia a sua existência
depois de ouvir ambas partes, cada por sua vez, e foi sen- em meio aos bilhões de galáxias perdidas no espaço sideral. O que faremos depois que o
tenciando já com todos juntos, dizendo que o novo vizinho mundo acabar? Esta é a resposta a ser sanada. Eu, por exemplo, por via das dúvidas, já tracei
meu Plano B para o caso de, como nas oportunidades anteriores, ele nos trair e, de novo, não
era um motorista, o casaco e gravata que usava sempre era
acabar. Vejam três mensagens que estarão escritas na minha agenda no dia 13/12/12:
como ele devia apresentar-se no trabalho, a careca era
1. É. O mundo não acabou, logo, levanta e vai trabalhar, vagabundo!
natural, o mesmo acontecia com a barriga, aquele senhor
2. Postar nas redes sociais alguma piadinha infame sobre "O Mundo não Acabou, e agora?!"
não tem nada a ver com aqueles eles.
Ligar para a Agência Bancária pedindo, "pelo amor de Deus!", ao gerente para que aumente o
meu crédito, pois todos os cheques emitidos ontem, em meio à embriaguez da festa de
Pelos nossos políticos que é quase impossível distinguir "saideira" do Planeta Terra precisarão ser compensados e, infelizmente, não têm fundos.
com empresários, apresentarem-se com casaco e gravata Sobre o meu Plano A, caso o mundo realmente acabe em 12/12/12? Não há que se fazer
não obstante a elevada temperatura que se faz nesse canto planejamento algum sobre isso, pois, como diz a sabedoria popular, "o que não tem solução,
do mundo, terem carecas e barrigas grande, as pessoas solucionado está". Ou, então, como diz o Ditado Popular: " Quando o estupro é inevitável, o
jeito é relaxar e aproveitar!".
quando viram o Paulo naquela zona em que pessoas com
....................................................................
os seus aspectos físicos e aparências só passavam de cinco
E TENHO DITO!
em cinco anos, os populares pensaram que as promessas
teriam saltado das gavetas. HÁ O TRIDIMENSIONAL E O TRISTEMENSIONAL.
11. SEXTA-FEIRA, 02 DE MARÇO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 11
Publicidade
Em Agosto de 2012
Maputo será a capital da Literatura
Festival Literário de Maputo
Saiba como participar em:
http://festivalliterariodemaputo.blogspot.com
festivalliterario.maputo@gmail.com
Para ser parceiro ligue:
+258 82 57 03 750
+258 82 35 63 201
12. SEXTA-FEIRA, 02 DE MARÇO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 12
Personagem Guiné-Bissau
Tony Tcheka (António Soares Lopes)
N
os primeiros momentos da independência da Guiné-Bissau, a
cultura apresentava-se com contornos de autêntico suporte da
Nação a construir. Casa da Cultura, Instituto do Livro e do
Disco, Escola de Musica, Ateliers de pintura, tudo acontecia numa agenda
recheada de frenesim nacionalista que tinha por meta a incontornável
reconstrução nacional.
É neste contexto que pela vez primeira, um grupo de jovens (14) identifi-
cados com o movimento de libertação nacional, viu os seus textos poéti-
cos editados pelo Conselho Nacional de Cultura, sob o titulo ―mantenhas
para quem luta‖. Numa terra sem tradição editorial e pouco habituada a
ver os seus filhos a tratar dos seus assuntos sob forma literária, a dimensão
e o impacto do evento foram enormes e sem dúvidas marcou para sempre
a literatura do país das bolanhas e dos poilões sagrados .
Uma obra colectiva dos ―Meninos da Hora de Pindjiguiti‖ (assim chamou Durante três anos foi funcionário da UNICEF para Comunicação Social e Advo-
Mário Pinto de Andrade aos jovens poetas autores do Mantenhas para cacy. Na Swedish Save The Children – Radda Barnen, trabalhou como respon-
sável de Programas e Projectos e Representante Nacional. Foi ―Focal Point‖ da
quem Luta).
IRIN (ONU) na Guiné Bissau e pertenceu à Comissão Nacional da UNESCO.
Tony Tcheka, natural de Bissau, poeta e jornalista, considerado por alguns
Hoje é colunista da revista LUSOGRAFIAS, comentador da RTP, Freelancer,
especialistas da literatura guineense como um dos nomes que tem marca-
funções que acumula com as de consultor para projectos de desenvolvimento e
do a poesia que faz no seu país, era um dos meninos... e pode ser lido em
formador de jornalistas.
todas as antologias produzidas na Guiné-Bissau. CANTO À GUINÉ
Autor de ―Noites de Insónia na Terra Adormecida‖ (1987), foi coordena-
POVO ADORMECIDO
Guiné
dor de três antologias poéticas editadas na Guiné-Bissau (Mantenhas para
sou eu
quem Luta; Antologia da Poesia Moderna Guineense; Eco do Pranto) inte- Há chuvas até depois da esperança
que o meu povo não canta
gra diferentes antologias publicadas em várias partes do mundo: Há chuvas Guiné
―Anthologie Littéraire de l´Afrique de l´Ouest‖ Paris-França); Antologia que o meu povo não ri és tu
camponês de Bedanda teimosa-
Brasileira ―No Ritmo dos Tantãs‖; ―Na Liberdade (Lisboa Portugal); Perdeu a alma mente
na parede alta do macaréu
―Rumos dos Ventos‖ (Fundão-Portugal); ―Anna‖ (Alemanha); Poesia da procurando a bianda na bolanha
que só encontra água na mágoa
Guiné – Bissau (Grã Bretanha) e é citado no ―Dicionário temático da Fala calado da tua
e canta magoado lágrima
Lusofonia‖ (Lisboa-Portugal) e no ―Além-Mar‖ (Lisboa-Portugal)
Entre prémios e distinções que lhe foram atribuídos destaca-se: Diploma Vinga-se no tambor Guiné
na palma e no caju és tu
de Honra concedido pelo ISCE – Instituto Superior das Ciências da Edu- mas o ritmo não sai criança sem tempo de ser
cação de Lisboa, pelo conjunto das suas obras; ―Diploma de Mérito Grau menino
Dobra-se sob o sikó
de Engenheiro de Almas atribuído pela Sociedade de Autores Guineenses como o guerreiro vergado Guiné
(SGA) pela contribuição dada à literatura guineense; Ainda do “SGA” cala o sofrimento no peito és tu
mulher-bidera
recebeu mais três Diplomas na área de Jornalismo (televisão, rádio e O meu povo em filas de insónia
imprensa escrita). chora no canto noites di kumpra pon
canta no choro (mafé di aos)
Enquanto jornalista fez parte do primeiro grupo de jornalistas que traba- e fala na garganta do bombolon
lhou e lançou os alicerces da Rádio nacional (RDN) como Redactor- Guiné
Grei silêncio
Produtor e mais tarde seu director. Foi Chefe de Redacção e Director do quebrado é um grito
nas gargalhadas de Kussilintra saído de mil ais
Jornal Nô Pintcha. Foi durante muitos anos correspondente da BBC de
em quedas de água que se acolhe n calcanhar
Londres, da TSF de Lisboa; Analista e comentador da Voz da América, moldando pedras da terra adormecida
esfriando corpos
BBC, Voz da Alemanha e RDP África. Na área da imprensa escrita, foi esculpidos Mas
correspondente do Público; LUSA, Tanjug; ANOP, NP… Em Lisboa no corpo do bissilão
durante três anos foi editor da Revista África Lusófona. Na Televisão foi Guiné somos todos mesmo depois
da
produtor e apresentador do programa Fórum-RTP. esperança
13. SEXTA-FEIRA, 02 DE MARÇO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 13
Ensaio Carmen Lucia Tindó Ribeiro Secco - UFRJ
Conceição Lima: a Vigília e um outro Olhar sobre a História
M
aria da Conceição Costa de Deus Lima nasceu na Ilha de São Tomé em submerso na memória histórica. É um ser cindido, que se debate entre as
1961, trinta e cinco anos depois de D. Alda que poderia ser sua mãe. reminiscências do outrora e a fratura do presente. Nos primeiros poemas, conforme
Pertence, portanto, a uma geração poética bem mais jovem, tendo palavras de Inocência Mata no prefácio ao livro, há a procura "de um lugar matricial
escrito e publicado após a independência. Estudou jornalismo em Portugal e em que assenta a busca da utopia e do sonho" ( O Útero da casa, p. 12). No entanto,
a utopia e o sonho, no universo poético de Conceição Lima, não mais apresentam as
licenciou-se em Estudos Afro-Portugueses e Brasileiros pelo King´s College de
conotações encontradas nos poemas de Alda do Espírito Santo. Na poiesis de
Londres. É mestre em Estudos Africanos pela School of Oriental and African Conceição, há o pleno conhecimento de que o templo mátrio se transformou num
Studies. Atualmente, trabalha na BBC de Londres em programas que dizem castelo melancólico (O Útero da casa, p.18), de que as quimeras sociais foram
respeito à Língua Portuguesa. Tem muitos poemas em antologias, jornais e interrompidas e se encontram soterradas, sob as ruínas da História. Há, portanto,
revistas. Até o presente momento, possui apenas dois livros de poesia publicados absoluta consciência de que tudo, atualmente, é fugaz, transitório, não havendo mais
pela Editora Caminho de Lisboa: O Útero da casa (2004) e A Dolorosa raiz do crenças proféticas no futuro, nem certezas em relação a projetos acabados. Como
micondó ( 2006). tecelã do precário, a voz enunciadora vai tecendo o poema e a reescrita da casa,
Nossa análise privilegiará O Útero da casa, cujo lirismo intimista não impede, permeada por forte sentimento de inconclusão.
contudo, um olhar vigilante sobre o passado e o presente do país. Nesse livro, a
voz lírica enunciadora dos poemas, situada na encruzilhada de esgarçadas Sobre os escombros da cidade morta
Projectei a minha casa
lembranças pessoais e coletivas, tem plena consciência tanto do outrora histórico,
Recortada contra o mar.
como do atual contexto político-social de São Tomé, onde os antigos sonhos se Aqui.
encontram desfigurados. Após o ardor da independência, Conceição Lima procura Sonho ainda o pilar
reabitar, com lucidez, não só a casa, metáfora da mátria e da nação3, mas Uma rectidão de torre, de altar.
também o poema, espaço discursivo sobredeterminado, onde a linguagem se faz Ouço murmúrios de barcos
morada do ser e reflexão sobre a História. Na varanda azul.
E reinvento em cada rosto fio
Após o ardor da reconquista A fio
não caíram manás sobre os nossos campos As linhas inacabadas do projecto.
E na dura travessia do deserto ( O Útero da casa, p. 20).
aprendemos que a terra prometida era aqui
Em A Dolorosa raiz do micondó, publicado em 2006, Conceição Lima continua na
Ainda aqui e sempre aqui. senda de revisitar criticamente a história de São Tomé e Príncipe. Contudo, como
Duas ilhas indómitas a desbravar. "uma aracne4 dos tempos atuais", conhece a própria limitação de sua tecelagem:
O padrão a ser erguido
pela nudez insepulta dos nossos punhos. Eu e a minha tábua de conjugações lentas
Este avaro, inconstruído agora
(Apud: Sonha Mamana África, p.227-228) Eu e a constante inconclusão do meu porvir
Depois da euforia provocada logo a seguir à libertação de São Tomé e Príncipe do jugo (A Dolorosa raiz do micondó, p. 13)
colonial, a poética de Conceição Lima emerge com forte singularidade, apresentando um
olhar vigilante, cujo compromisso se estabelece, em primeiro plano, com a reescrita da A proposta de um olhar corrosivo em relação à História5, presente desde O Útero da
terra natal, "duas ilhas indómitas a desbravar", segundo versos da própria autora. Para que casa, se mantém e é aprofundada no segundo livro de Conceição Lima, onde um dos
a capacidade de sonhar não se perca totalmente, a poetisa usa a consciência crítica. Sabe poemas reescreve poeticamente o massacre ocorrido, em 1953, nas Ilhas de São
que, no litoral da aurora da liberdade de seu país, há ainda muitas pedras amargas. Por Tomé e Príncipe, quando o governador Carlos de Sousa Gorgulho reprimiu
isso, um clima de melancolia envolve seus poemas. A transitoriedade percorre a obra da violentamente as populações rebeldes, tendo provocado muitas mortes. A dolorosa
autora, onde, em vários de seus textos, os sujeitos líricos se assumem peregrinos, buscando raiz do micondó é uma alegoria das dores vividas pelos habitantes das Ilhas em
a transparência dos tempos ancestrais, anteriores ao colonialismo e à luta armada. Esses decorrência da opressão colonial; alude a uma árvore da flora local que viu chegarem
sujeitos poéticos exorcizam a memória da violência vivenciada por São Tomé e Príncipe ao Arquipélago, em 1470, João de Santarém e Pedro Escobar, mas que resistiu
através dos séculos. Procuram livrar-se, dessa forma, do sangue das palavras para que o através dos séculos.
país e os poemas possam ser reabitados.
Emergiremos do canto Em O Útero da casa, a par da corrosiva vigília na reescrita da História, há um
como do chão emerge o milho jovem profundo lirismo na captação de lembranças e paisagens do presente e do outrora das
e nús, inteiros, recuperaremos Ilhas. Um forte erotismo sinestésico domina a memória que vai evocando ruídos e
a transparência do tempo inicial odores característicos do Arquipélago: a beleza das praias e a limpidez das águas do
Puros reabitaremos o poema e a claridade mar, o canto dos pássaros (mesmo que, atualmente, em pânico, atormentados), a cor
Para que a palavra amanheça e o sonho não se perca. vermelha do barro e dos ibiscos, o marulho das ondas, o aroma desprendido das
plantações de café e cacau, o zunido da brisa fazendo farfalhar as folhas das
(Apud: Sonha Mamana África, p.227-228) palmeiras e das canas-de-açúcar. Uma profunda sensualidade impulsiona os sujeitos
líricos dos poemas em direção ao útero das Ilhas, metáfora, por excelência, do centro
Memória e linguagem se instituem como instâncias privilegiadas em O Útero da casa. das raízes culturais santomenses. Há um intenso desejo de reabitar a terra, a cultura, a
Segundo Ecléa Bosi, a linguagem é o elemento socializador da memória; é ela que História. Porém, a voz lírica enunciadora pressente que, para tal, é preciso,
"unifica, reduz e aproxima o sonho, a imagem lembrada, as imagens da vigília primeiramente, reabitar o poema. Não aquele que se revestiu de euforia e alimentou o
atual" (BOSI, Eclea. Memória e sociedade, p.18). Ora, é, desse modo, por seu intermédio, sonho libertário de jovens inocentes (cf. O Útero da casa, p. 24), mas o que é agora
que o reabitar da casa, na poesia de Conceição Lima, ganha corpo. É pelo intercâmbio tecido, na fratura dos sonhos, no entrelugar da paixão e da vigília das palavras.
criativo entre o discurso poético e o processo evocativo que se erige a construção da casa- Depreende-se, então, nos poemas um percurso rumo ao seio da linguagem, a um
nação e da casa-poema, ambas intimamente relacionadas ao útero das Ilhas, local espaço metapoético que, uterinamente, repensa o antigo ethos umbilical com as Ilhas,
placentário das origens identitárias. reavaliando, de dentro, as estereotipadas visões exóticas e/ou paradisíacas que a
colonização sempre imputou a São Tomé e Príncipe.
Quero-me desperta
Se ao útero da casa retorno Sempre desperto, insone, em permanente vigília, o sujeito lírico de O Útero da casa
Para tactear a diurna penumbra efetua um profundo e consciente mergulho no passado, revendo "a herança saquea-
Das paredes da", "o sangue da lua e as línguas decepadas", as figuras heróicas forjadas pelo colo-
Na pele dos dedos reviver a maciez nialismo. Questiona esses vultos históricos e denuncia São Tomé como uma nação
Dos dias subterrâneos ainda sedenta de heróis (O Útero da casa, p. 31). Poeticamente rasura as memórias
Os momentos idos dolorosas das roças - dos cacauzais, canaviais e cafezais -, onde o sangue de escravos
e contratados deixou nódoas que impregnaram o solo das Ilhas. Surreais imagens de
( O Útero da casa, p. 17) raízes e pétalas de cacaueiros sangrando das unhas dos mortos (O Útero da casa, p.
30) se apresentam como alegorias de releitura crítica e corrosiva da história de São
Logo de saída, a voz lírica, no feminino, se quer desperta, optando por um estado de Tomé. Fantasmas do outrora assombram a memória poética que faz a catarse das
vigília da linguagem, por meio da qual vai, acordada, reocupando as entranhas da casa dores sofridas por seu povo durante mais de quatro séculos.
para traçar uma nova geografia das Ilhas. Seu intento é passar a limpo o que se encontra
14. SEXTA-FEIRA, 02 DE MARÇO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 14
Concursos
Prêmio Literário Valdeck será em homenagem a Jorge Amado
E
FOTO: Ampliar
FONTE: Radar Notícias stão abertas, até o dia 30 de
maio de 2012, as inscrições
para a oitava edição do
―Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus‖, o qual faz homenagem ao
escritor Jorge Amado, que completaria 100 anos em 10 de agosto de 2012.
Autor de dezenas de obras traduzidas pelo mundo todo, Amado é o autor
baiano mais famoso e lido por pessoas de todas as idades. O Núcleo Baiano
da União Brasileira de Escritores (UBE), na pessoa do coordenador Carlos
Souza, se junta a esta ação, com o objetivo de fortalecer a literatura do esta-
do da Bahia e prestar um tributo a Jorge Amado, um dos fundadores da
União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro.
Neste ano, serão aceitos textos inéditos (artigos, crônicas ou resenhas) ou já
publicadas sobre a vida e/ou obra de Jorge Amado ou de escritores e poetas
de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portu-
gal, São
Tomé e
Príncipe bol de 2014 e sobre escritores de outras partes do mundo, desde que os
e Timor- textos sejam escritos em língua portuguesa.
Leste.
Outros O concurso literário promovido pelo jornalista Valdeck Almeida de
temas Jesus é uma iniciativa divulgada no Eixo 4 do Plano Nacional do Livro
serão e Leitura, do Ministério da Cultura e já publicou quase 1100 poetas do
aceitos mundo todo, desde 2005.
como:
redações As inscrições - Para participar, os interessados deverão enviar seus tex-
sobre tos de até 50 linhas; minibiografia de no máximo cinco linhas; endere-
assuntos ço completo, com CEP e telefone de contato e DDD para o e-
africa- mail valdeck2007@gmail.com. Os trabalhos devem vir dentro do cor-
nos, Em 2012, comemora-se o centenário do nascimento de Jorge po do e-mail e anexados em formato Word. Inscrições incompletas
Copa do serão desclassificadas. Vale a data de postagem no e-mail. Não serão
Amado e passam 110 anos do nascimento de Drummond de
Mundo aceitas inscrições pelos correios.
Andrade. No Brasil, prepara-se um filme, exposições e novas edições
de Fute-
Antologia:Brazilians Days
Divulgado e lançado na Expo-America em New York – EUA
Regulamento Paper: OFF SET
1.7. A presente antologia será confeccionada pela Editora Literarte, será
Prazo para envio dos textos: 03 de abril de 2012
registrada , receberá ISBN , mas cada autor é responsável por registrar
suas obras, a antologia tem como finalidade estimular a produção de
DA PARTICIPAÇÃO
contos, formação e divulgação de novos autores.
1.1. A presente antologia é promovida pela Literarte- Associação Internacio-
nal de escritores e artistas . 2)DA ACEITAÇÃO DOS CONTOS, CRÔNICAS E POESIAS
2.1. Serão aceitos apenas contos , crônicas e poesias em língua portu-
1.2. Poderão participar da antologia todas as pessoas físicas maiores de 18
guesa, de temática pertinente a antologia, com limite de cinco mil
anos, ou menores com permissão do responsável, residentes legais no Brasil,
caracteres por texto com espaços, em formato A4, espaços de 1,5 entre
bem como brasileiros residentes no exterior. Também poderão participar da
linhas, fontes times ou arial tamanho 12, acompanhados dos dados de
Antologia escritores de outras nacionalidades, desde que a língua mantida
inscrição que constam no parágrafo 5.5 desse regulamento.
seja a língua portuguesa.
2.2. Não serão aceitos fanfics nem contos que pertençam ao universo de
1.3. Das características da antologia: A Antologia , receberá única e exclusi-
personagens já existentes criados por outro autor.
vamente contos, poesias, trovas, haikais,sonetos e crônicas, sendo que a
2.3. Os contos devidamente formatados deverão ser enviados para o
criatividade e imaginação do escritor darão o toque e estilo ao trabalho. 1.4.
email:literarte@grupoliterarte.com.br ou atendimento@grupoliterarte.c
Poderão participar da antologia autores com menos de vinte e um
om.br ou enviados diretamente pelo
anos,mediante autorização por escrito de um responsável legal, acompanha-
site: www.grupoliterarte.com.br Assunto: Antologia New York , junto
da de fotocópia do original de documento de identidade do mesmo para con-
com os dados de inscrição e demais documentos de autorização.
ferência e registro de inscrição.
2.4. Os contos inscritos deverão contemplar, obrigatoriamente, os
1.5. A participação se dará no sistema de cotas, sendo que cada autor deverá
seguintes elementos: (a) narrativa em primeira pessoa ou terceira pes-
proceder ao pagamento da seguinte forma:
soa; (b) O tratamento dado ao tema será de exclusividade de cada autor.
Cada autor pagará o valor de R$ 500,00 (quinhentos reais) que podem ser
2.5. Caso o autor deseje que seu conto tenha mais do que o espaço
pagos em duas parcelas, por cota de publicação com o primeiro pagamento
reservado de ele terá a opção de adquirir o valor de duas cotas, assim
até 10 de abril e o segundo até 10 de maio.·
podendo ampliar seu espaço na antologia. Os procedimentos são os
(Caso receba notificação que seu texto foi aprovado)·
mesmo citados no item 1.5 desse regulamento, caso haja espaço na
1.6 Os participantes receberão um total de 12 exemplares da Antologia por
antologia liberaremos alguns autores que excedam sem custo extra.
participação.
5.2. Sobre este concurso pode-se obter informacoes no site
Título;
www.grupoliterarte.com.br .
Formato: 230 X 160 mm (fechado)