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A HISTÓRIA DO
DELEGADO LUÍS
FLÁVIO ZAMPRONHA
Política
As respostas a três questões mostram por que foi punido o principal investigador do
mensalão, que se colocou contra os rumos definidos por dois procuradores-gerais da
República e pelo presidente do STF
por Lia Imanishi
NO ÚLTIMO 11 de junho, o delegado
Luís Flávio Zampronha foi punido com
dois dias de suspensão, pela Corregedoria-
-Geral de Polícia Federal (PF), por ter, em
agosto do ano passado, dado entrevistas
aos diários Folha de S.Paulo e O Estado de S.
Paulosobreojulgamentodomensalão,criti-
candoa“faltadehumildade”doMinistério
Público, que, segundo ele, teria cerceado e
desconsideradootrabalhodaPF.Comose
sabe, a sentença básica do mensalão, cujos
embargosdeclaratóriosestãoparaserjulga-
dospeloSupremoTribunalFederal(STF)a
partirdestemêsdeagosto,éadequeforam
formadas três quadrilhas – comandadas
por José Dirceu, o ex-chefe da Casa Civil
dogovernodopresidenteLuizInácioLula
da Silva –, que desviaram dinheiro público,
73,8 milhões de reais do Banco do Brasil
(BB), com os quais compraram apoio
político para o governo do Partido dos
Trabalhadores(PT).Paraencobrirodesvio,
teriamsimuladoempréstimoscomempre-
sários mineiros, dirigentes do Banco Rural
e de agências de publicidade. Zampronha,
nas entrevistas, resumidamente, disse que
a acusação de quadrilha era “motivo de
piada” na PF, que os empréstimos eram
verdadeirosequeodesviode73,8milhões
de reais não procedia.
Zampronha tem 39 anos, é casado, pai
Universidade Federal de Goiás e está na
PF há 13 anos. Está ligado à investigação
do mensalão desde o início. Apareceu pela
primeira vez no noticiário nacional em
17 de junho de 2005, quando entregou à
Comissão Parlamentar Mista de Inquérito
(CPMI) do Congresso Nacional um re-
latório da PF sobre corrupção na estatal
Correios. A revista semanal Veja havia
publicado, um mês antes, no dia 14 de
maio, cenas de um vídeo em que Maurício
Marinho, funcionário da estatal, negociava
favores em troca de propina com um su-
posto empresário. Na gravação, Marinho
a supervisão de Roberto Jefferson, então
deputado federal e presidente do PTB,
partidodabasedesustentaçãodogoverno.
LogoapósadenúnciadeVeja,Zampronha
foidesignadopeloentãodiretor-geraldaPF,
Paulo Lacerda, para investigar a história.
No dia 6 de junho, Jefferson atacou o PT.
Segundo ele, o partido, sob o comando de
Dirceu, teria criado o que o petebista bati-
zou, com sucesso, de “mensalão”.
AhistóriadacorrupçãonosCorreiose
adomensalão,então,seembaralharam.Por
essa razão, quando entregou seu relatório
sobre a investigação na estatal à CPMI dos
Correios, que havia sido instalada em 9 de
junho, Zampronha passou a investigar, em
seguida, o “mensalão”. Essa investigação
foi aberta em Minas Gerais pelo fato de
ser o publicitário Marcos Valério, diretor
de agências de publicidade com sede em
Belo Horizonte, apontado por Jefferson
comoumhomem-chavenadistribuiçãode
dinheiro pelo PT em Brasília. Zampronha
começou pelo depoimento e pela agenda
de uma secretária de Valério, Karina So-
maggio, que deu entrevistas a revistas e
jornais no começo de junho e falou em
malasdedinheirosendodistribuídasapartir
da agência do Banco Rural em Brasília.
Zampronha logo localizou o tesoureiro da
agência do Rural na capital, José Francisco
de Almeida Rego. Este disse que a agência
do banco mineiro em Brasília era, de fato,
a distribuidora de dinheiro vindo da conta
da SMP&B (uma das empresas de publici-
para os políticos indicados pelo tesoureiro
do PT, Delúbio Soares. A partir dessas
informações, Zampronha conseguiu que
o juiz federal Jorge Gustavo Costa, da 4ª
Vara Penal de Minas Gerais, responsável
por acompanhar o inquérito, autorizasse
uma operação de busca e apreensão no
Banco Rural, em Belo Horizonte, onde
estariamosdocumentosdeautorizaçãodas
transferências de dinheiro e o nome dos
destinatários. Com o mandado judicial, no
dia 13 de julho, sete agentes comandados
por ele foram à sede do banco na capital
mineira em busca dos documentos.
Asede do Rural em Belo Horizonte
tem seis andares, inúmeras salas e
arquivos. Logo a equipe de Zam-
pronha descobriu que, sem a ajuda do
banco,seriadifícillocalizarosdocumentos
pretendidos. Isso só aconteceu no dia
seguinte, 14 de julho, quando funcioná-
rios do banco lhe entregaram, em outro
endereço, no arquivo central do Rural,
localizado no número 380 da avenida João
Azeredo, faxes, e-mails, cheques e notas
com ordens de pagamento enviadas pelos
2973 retratodoBRASIL |
gerentes de Valério à agência do Rural
em Brasília. De posse dos documentos,
Zampronha e sua equipe dirigiram-se ao
aviãodaPFqueosaguardavanoaeroporto
da Pampulha para levar o material à sede
da PF, em Brasília. Antes da partida, no
entanto, Zampronha recebeu um tele-
fonema do juiz Costa, que disse que o
material deveria ser lacrado e entregue a
ele. Os documentos “subiriam” para o
Supremo por envolverem pessoas com
foro privilegiado, disse o juiz. Isso porque
o advogado de Marcos Valério, Marcelo
Leonardo, tinha estado no mesmo dia 14,
acompanhado de seu cliente, com o então
procurador-geral da República, Antonio
Fernando de Souza, para entregar cópias
distribuído pelo Rural, na qual constavam
com foro privilegiado, o que obrigava as
investigações a saírem da 4ª Vara de Minas
Geraisepassaremparaoforosuperior,do
STF. Souza despachou favoravelmente à
petição de Leonardo, o juiz Costa foi avi-
sado,ligouparaoentãopresidentedoSTF,
Nelson Jobim, e deste partiu a ordem para
os documentos serem lacrados e levados
pessoalmente pelo juiz ao STF.
Os autos, isto é, a documentação for-
maldeuminquéritopolicial,passeiamentre
odelegadoqueopreside,oprocuradorque
Justiça se considera os indícios de crime
por supervisionar o inquérito e por enca-
eventualaceitaçãodadenúnciaeoposterior
julgamento. Zampronha só recuperou o
material do inquérito policial que presidia,
Costa levou a documentação para o STF
uma semana depois. Como era julho, mês
estocada na corte suprema. No começo de
agosto, houve o sorteio para a escolha do
juizrelatoreoinquérito,então,passoupara
asupervisãodoministroJoaquimBarbosa.
Quando chegou de volta às mãos de
vazado para a imprensa e o escândalo
ganhara um novo ingrediente. No dia
3 de agosto, além dos nomes de depu-
tados que haviam recebido dinheiro do
esquema Marcos Valério–Delúbio Soa-
res, apareceu nas manchetes dos jornais
o diretor de Marketing e Comunicação
do Banco do Brasil, o petista Henrique
Pizzolato, como tendo recebido do
esquema a quantia de 326.660,27 reais
em dinheiro, a partir de um cheque da
empresa SMP&B, do esquema Valério,
descontado na agência do Banco Rural
no Rio de Janeiro. Zampronha não quis
dar entrevistas e só aceitou falar infor-
malmente, depois de muita insistência.
Nas duas longas conversas que a repórter
das quais ele se queixa é de não ter po-
dido investigar melhor toda a história.
O caso Pizzolato é um dos aspectos que
ele acha mal investigados. O consenso
aprovado no STF, pela unanimidade dos
11 juízes, é o de que aquela quantia era
propina recebida pelo petista por favores
prestados a Valério, para lhe facilitar o
desvio de dinheiro do BB. Além disso,
Zampronha, no inquérito 2474, uma
nova investigação que fez, por quatro
anos, entre 2007 e 2011, a pedido do
mesmo procurador-geral da República,
Antonio Fernando de Souza, encontrou,
vindo da conta de outra das empresas
das quais Valério era diretor, a DNA,
mais um saque em dinheiro no valor de
326.660,27 reais. Na época, no relató-
Zampronha: o delegado da Polícia Federal foi
punido por dar entrevistas nas quais declarou
que a acusação de formação de quadrilha
contra os “mensaleiros” era “motivo de piada”
MarcioLima/EditoraGlobo
30
rio que entregou a Roberto Gurgel, novo
procurador-geral, que passou a cuidar do
caso em meados de 2009, supôs tratar-
-se de uma segunda parcela da propina
a Pizzolato. Hoje, escaldado por vários
reveses, pela punição recebida, pelas
divergências com os dois procuradores,
pelos rumos que o julgamento tomou,
Zampronha acha, entre muitas outras
coisas, por exemplo, que o caso do su-
borno de Pizzolato foi mal investigado
e ainda não está provado.
Resumidamente, o trabalho de investi-
gação do mensalão por Zampronha pode
ser dividido em três fases: a primeira, cujo
início foi descrito acima, com a apreensão
dos documentos da conta da SMP&B no
Rural em meados de julho de 2005 e que
seguinte, quando o procurador Souza faz
a denúncia do mensalão sem esperar pelo
relatóriodeZampronha,adespeitodeseus
pedidos para prorrogar a investigação; a
segunda, que se estende dos últimos dias
de2005atéoutubrode2006,quandoZam-
pronha acompanha as operações voltadas
para conseguir os documentos da Visanet,
nome fantasia da Companhia Brasileira de
MeiosdePagamento,aempresaquedepo-
sitou na conta da DNA os 73,8 milhões de
reais considerados pelo STF como tendo
sido desviados do Banco do Brasil para o
esquema de corrupção petista; e a terceira,
a investigação da qual falamos há pouco e
na qual Zampronha trabalhou com laudos
que ele próprio pediu aos órgãos técnicos
da PF sobre o funcionamento da Visanet
e com as contas de todas as empresas das
quais Marcos Valério participava, e não
apenas a SMP&B.
DoexamedotrabalhodeZampronha,
ser extraídas três perguntas que este texto
procurará responder:
1. Por que, sendo ele o principal dele-
gado da PF na investigação do mensalão,
Zampronha foi dispensado, pelo procura-
2. Por que ele foi afastado das inves-
tigações sobre as relações entre o BB e a
Visanet se é justamente o suposto desvio
de dinheiro do banco estatal a viga mestra
da teoria da existência do chamado “maior
política da história do País”, no dizer do
As primeiras duas perguntas têm
uma resposta única e simples.
Quandofezsuadenúnciadomen-
salão a 30 de março de 2006, o procurador
mas comandado a investigação de muito
pouco e chegado a uma conclusão absolu-
tamente precipitada em relação ao grande
crime concreto que denunciava: os 73,8
milhões de reais do Fundo de Incentivos
Visanet (FIV), dinheiro público, do Banco
do Brasil, que teria sido desviado para
comprar deputados.
Em sua denúncia, Souza, no fundo,
adota a tese de que o desvio teria sido
provadopelofatodePizzolatoterrecebido
a propina de cerca de 330 mil reais. Des-
prezou a investigação minuciosa e ampla
Pizzolato, que a Receita Federal acabou
fazendo, de certo modo animada pelas
primeiras impressões da mídia, que ligava
o recebimento do dinheiro à compra do
apartamento no qual o petista mora em
Copacabana. Essa investigação acabou
provandoque,detodososdefeitosdesuas
declarações de rendimentos em 20 anos –
pelos quais pagou 15 mil reais, sendo 5 mil
apunição,3milamultaemais7milreaisde
jurosdemora–,omaiortinhasidoofatode
terdeclaradocomodependenteamadrasta
que o criara desde os nove anos. Em 29 de
dezembro de 2011, a investigação de suas
Souza, Gurgel e Barbosa aferraram-se à tese de
2006 e desprezaram em grande parte os laudos
periciais pedidos por Zampronha
Zampronha entrega relatório à CPMI dos Correios (17/6/2005): a seguir, o “mensalão”
ABr
31
ABr
contas terminou, Pizzolato pagou esses 15
acusação de que usou os tais 300 mil para
comprar o apartamento em Copacabana
nem sequer foi usada na Ação Penal 470
(AP 470), que se seguiu ao inquérito 2245.
Souza também desconsiderou com-
pletamente a amplíssima auditoria feita ao
longo de quatro meses por 20 auditores
do Banco do Brasil no uso do Fundo de
Incentivos Visanet e concluída a 7 de de-
zembrode2005semqualquerprovadeque
tivessehavidoodesviodenunciadooucoi-
saparecida.Souzaapresentousuadenúncia
culpando pelo desvio, do qual não buscara
provas, apenas os petistas Pizzolato e Luiz
Gushiken, o ministro responsável, então,
pelos gastos da propaganda oficial do
governo. Não esperou pela grande inves-
tigação que Zampronha e peritos da PF, a
seu pedido, faziam na Visanet. A empresa
estava,claramente,nocentrodoproblema.
Era a depositante do dinheiro nas contas
da empresa DNA, a partir da qual teria
havido o desvio. Era sócia do BB desde
2001,pormeiodecontratosemecanismos
de repasse de dinheiro que deveriam ser,
evidentemente, investigados. A Visanet
montou uma comissão de acompanha-
mento da crise. Em um e-mail de Mariluce
Vilella, que fazia parte dessa comissão,
encaminhado aos diretores da Visanet, ela
dizquetudoandavaacontentonaCPMIe
que“quemvaisecomplicaréoPizzolato”.
Mais do que relações públicas, a Visanet
armouumaparatojurídicocomdezenasde
advogados para manter-se fora da CPMI e
dasinvestigações.Váriascorrespondências
nos autos, entre a Procuradoria-Geral, o
ministro Barbosa, o delegado Zampronha
e os advogados da Visanet, mostram que
a empresa resistiu até o último momento
a entregar documentos importantes para
a investigação. Desde o início de janeiro
de 2006, o procurador Souza tentava ob-
ter da companhia os papéis originais das
prestações de contas feitas pela agência
DNAarespeitodosserviços,seusedeseus
fornecedores, contratados para fazer os
trabalhos de promoção da venda dos car-
tões de bandeira Visa. No dia 30 de junho,
a busca e apreensão na empresa, para a
qual Zampronha escalou uma equipe co-
mandadapelodelegadoFragosoPraxedes.
Oito agentes apreenderam quatro malotes
de documentos e os lacraram. Praxedes
relata a diligência à então presidente do
STF, Ellen Gracie, e diz que lhe foi co-
municado informalmente que os malotes
deveriampermanecerlacradosatésegunda
ordem. Isso porque a Visanet entrou com
açãopararecuperarpartedosdocumentos
contidos nos malotes. A disputa durou até
9 de outubro de 2006. Os advogados da
Visanet requeriam que fossem devolvidos
ao menos os documentos protegidos pelo
princípio de inviolabilidade das relações
advogados–cliente. Finalmente, a 10 de
outubro, Barbosa deferiu o pedido de de-
volver esses documentos. Entre eles, havia
um (ver RB nº 65, dezembro de 2012),
elaborado por um dos maiores escritórios
de advocacia do País, a serviço da Visanet,
para ser apresentado à Receita Federal. A
-
devidospelacompanhia,oescritórioargu-
mentavaquetodasasaçõesdeincentivoao
uso dos cartões Visa contratadas pelo BB
foramrealizadaspelaDNA.Odocumento
trata dos comprovantes da realização de
99 ações feitas com os recursos do fundo
da Visanet pela DNA, a mando do BB.
Descreve o tipo de comprovante – notas
em shopping centers, aeroportos, pontos
deônibus,etc.etrazplanilhasdeveiculação
deanúncios.Elasmostramqueforamgas-
tosaproximadamente73,8milhõesdereais
nessas ações – e que, portanto, não houve
o desvio de dinheiro do Banco do Brasil.
Otratamento dado pelos dois pro-
curadores-gerais da República e
pelorelatordaAP470aoslaudos
periciaispedidosàPFporZampronhaeos
inquéritosparalelosao2245queelesmon-
taram são outra prova clara de que os três
– Souza, Gurgel e Barbosa – aferraram-se
à tese construída na denúncia de março de
2006 e foram jogando fora ou para baixo
de tapetes convenientes tudo que poderia
contrariar essa tese. Um exemplo típico é
o laudo 2828/2006, do Instituto Nacional
de Criminalística (INC). Ele visava obter
o nome dos responsáveis pelo uso dos re-
cursosdofundodaVisanetdistribuídosao
BB. Tinha sido pedido pela Procuradoria
e foi aberto por Zampronha no INC a 22
de dezembro de 2005. Ficou pronto em
dezembro de 2006. Apresenta vários res-
ponsáveis pelas relações BB–Visanet: três
diretores de Varejo do BB no período
Souza, Gurgel e Barbosa: eles deixaram de lado o que podia contrariar a ideia de que houve desvio de recursos públicos
ABr
32
a ser investigado, de 2001 a meados de
2005, e quatro gestores do próprio fundo
de incentivos, todos eles da área de Varejo
do BB, e não da área de Comunicação e
Marketing, que era a de Pizzolato.
Pizzolato,oúnicodenunciadoporSou-
za,nãoapareceemnenhumadas43páginas
do laudo. O procurador não apensa o 2828
aos autos da AP 470 a não ser depois de a
denúnciadomensalão,apontandoPizzolato
e Gushiken como responsáveis pelos des-
viosnousodoFIV,tersidoaceitapeloSTF,
em agosto de 2007. Apenas em novembro
desseanotalapensamentoéfeito.Emesmo
sem que, em qualquer momento, o laudo
2828 faça referência a Pizzolato, na carta
que serviu para encaminhá-lo aos autos,
o procurador diz: “Em que pese seu teor
completo ser de leitura obrigatória, ante
a profundidade da análise empreendida,
alguns trechos do Laudo Pericial nº 2828-
INC merecem destaque, pois a imputação
feitanadenúnciadequeHenriquePizzolato
de Marcos Valério, ao fazer adiantamentos
em valores sem a devida contraprestação
levantados”. Essa carta está na folha 20 do
apenso 142, dos autos da AP 470. Ela é
do laudo 2828, feita pelo procurador-geral
Barbosa chegou a indeferir, no dia 24 de
setembro de 2007, o pedido do Banco do
Brasil para ver o laudo 2828.
Tal laudo foi apartado do inquérito
2245 e incluído em outro inquéri-
to, aberto no STF. Um ofício do
procurador-geral endereçado ao ministro
Joaquim Barbosa lhe pede que sejam
separados os documentos que continua-
vam sendo enviados por Zampronha dos
documentos que já estavam no inquérito
2245, porque eles versariam sobre “outros
fatos” e supostamente poderiam gerar
“confusão” ou “questionamentos”. Esse
inquérito foi aberto no início de 2007,
com o número 2474, e também foi pre-
sidido pelo delegado Zampronha. Sobre
Antes, outro inquérito. Como era evi-
dente, para qualquer um que investigasse
minimamente os fatos, que havia muito
mais gente envolvida num suposto desvio
dedinheirodoBancodoBrasilpormeiodo
fundoVisanetequeSouzasóhaviapedido
o indiciamento de Pizzolato e Gushiken,
numa nota de rodapé da denúncia ele diz
que outros possíveis envolvidos no desvio
derecursosdoBBatravésdofundoseriam
-
tentes. Mandou então abrir, na Delegacia
Regional da PF em Brasília, um inquérito
protegido por sigilo, o 0555/2006, e des-
tacou para sua supervisão o procurador
da República José Robalinho, da 12ª Vara
Penal de Brasília. No dia 17 de maio deste
ano, a repórter conversou por telefone
com ele. Queria saber a quantas andava a
investigação do 0555/2006. O procurador
disse, entre outras coisas, o seguinte: “Veja
bem,nãoqueremosaquiperseguirestafetas,
pessoasqueapenasassinampapéissemim-
nãoestavaandandobem,porqueopróprio
Henrique Pizzolato bateu a bola no peito
e disse com todas as letras que ele é que
tinha adiantado o dinheiro para a DNA do
Marcos Valério. Esse processo estava ca-
minhando para ser arquivado. Como é que
eu podia dizer que os outros membros do
banco participaram desses adiantamentos
se o próprio Pizzolato disse que adiantou
Só que aí veio a público o inquérito do
Zampronha.Eleatéestásendoinvestigado
dentro da Polícia Federal por isso. Eu não
tenho nada contra ele, que é meu amigo,
mas ele tornou público o inquérito dele”.
A repórter disse a Robalinho que em
nenhum momento de seus depoimentos
antecipaçõesparaaDNA.Mesmoporque,
completou, como mostrou o laudo 2828,
Pizzolato não tinha competência para au-
torizar a transferência de nenhum recurso
dos cofres da Visanet para a DNA. Para
sua surpresa, Robalinho mostrou que não
conhecia o laudo 2828.
Comojásedisse,Zampronhapresidiu,
apartirde2007,maisuminquéritosobreo
mensalão,aoqualfoiapensado,inclusive,o
laudo 2828, embora com a recomendação
explícita de que a questão de saber quem
eram os responsáveis, na Visanet e no BB,
pelo suposto desvio de recursos não esti-
vesse entre os fatos a serem investigados.
Com esse novo mandado, Zampronha
estudou a movimentação dos recursos
por Marcos Valério em várias contas, e
não apenas aquela da SMP&B no Banco
Rural da qual obtivera a documentação a
14dejulhode2005,duranteaoperaçãode
buscaeapreensãonobancoemBeloHori-
zonte. Com base no exame dessas contas,
Zampronha foi em busca de pessoas
envolvidas em casos suspeitos e examinou
vários aspectos paralelos ao “mensalão”.
Analisou as 17 visitas de Valério ao Banco
Central para tentar apressar – sem sucesso
– a liquidação do Banco Mercantil de Per-
nambuco, na qual o Rural tinha interesse.
Analisou a hipótese de o mensalão ter
sido sustentado por recursos do Banco
-
tas, que na época controlava a Telemig e a
Brasil Telecom, servidas por empresas de
publicidade ligadas a Valério – e chegou à
conclusãodequehaviasidopreparadoum
acordo entre as empresas de Dantas e as
de Valério para a veiculação de 50 milhões
de reais em publicidade, mas o estouro do
cancelaraonegócio.Descobriu,ainda,que
maispolíticostinhamrecebidodinheirode
Valério, não pela famosa conta do Rural,
mas pelas da DNA, e citou quatro casos
que pediu ao procurador-geral que fossem
investigados.
Foi aí que, no meio de suas inves-
tigações, no final de março de 2008,
Zampronha achou aquela que seria a
testemunha-bomba na acusação contra
Pizzolato,DanévitaMagalhães,queacabou
sendo uma prova em sentido contrário.
Danévita era contratada por uma agência
de publicidade que mantinha, junto com
outras agências que tinham contrato com
o BB, um núcleo de mídia em Brasília. Em
seu depoimento, tomado pelo delegado
Zampronhanasugestivadatade1ºdeabril
de2008,eladissequeteriasidodemitidado
Zampronha alertou sobre Danévita. Mas ela
era o que faltava para tornar verossímil a
história do desvio de dinheiro do BB
33
BB porque, em 2003, o diretor de mídia da
DNA, Fernando Braga, teria lhe pedido
para assinar um falso plano de mídia no
valor de 60 milhões de reais que, segundo
ela,Bragainformouquenãotinhasidonem
seriarealizado.Serviriaapenasparasimular
serviço e desviar dinheiro.
No depoimento, ela não cita o
nome de Pizzolato, mas, sim, o
do gerente de Mídia do Banco
do Brasil à época, Roberto Messias, que,
segundo ela, teria lhe oferecido dinheiro
para pedir demissão voluntária. O depoi-
mento chamou a atenção de Zampronha,
que o encaminhou ao procurador Souza.
Porém, prosseguindo suas investigações,
Zampronha descobriu um depósito de 25
milreaisnacontadeDanévita,proveniente
daDNA,mascompassagempelaempresa
Diretorial,deumempresáriopernambuca-
no genro do ex-vice-presidente da Repú-
blica Marco Maciel. A Diretorial aparecia
na planilha das 15 empresas que mais
receberam dinheiro da DNA proveniente
do fundo Visanet. Segundo apurou RB,
Zampronha alertou o procurador Souza.
“Danévita não contou tudo. É uma teste-
munhafria.”Masjáeratarde.Danévitaera
o que faltava para que a história do desvio
no BB parecesse verídica.
Messiastrabalhahojecomosecretário-
-executivo de Comunicação Social do
governo da presidente Dilma Rousseff.
Um de seus assessores informou a RB
que Messias, de fato, pediu à agencia de
publicidade que contratou Danévita que
a demitisse, mas isso porque ela era uma
“criadoradecaso”.Segundoesseassessor,
outros sete funcionários do núcleo de
mídia do BB, que eram bancados pelas
e disseram que não voltariam ao trabalho
enquanto Danévita não fosse dispensada.
Outro laudo encomendado por Zam-
pronha,o1866/2009-INC,tambémserviu
para a acusação da Procuradoria, a essa
altura já comandada por Roberto Gurgel,
mas de modo estranho. O laudo mostra
que em 22 de abril de 2004 a DNA sacou
10 milhões de reais da conta 602000-3 no
BB, na qual recebeu adiantamentos por
serviçosdepublicidadeprestadosaobanco.
Essesrecursosforamtransferidosparauma
aplicação da DNA no BMG: a compra de
Esse CDB depois serviu de lastro para um
empréstimo de valor equivalente no BMG,
doisdiasdepois,porumaempresadeRogé-
rio Lanza Tolentino, sócio de Valério. Essa
transação, para Gurgel, teria sido a “prova
que seria formada por Tolentino, Valério,
Cristiano Paz e Ramon Hollerbach para,
e a dos banqueiros, promover o desvio de
recursos do Banco do Brasil.
Apesar da conclusão de Gurgel, lê-se
no laudo 1866/2009, do INC, o seguinte:
“Os peritos entendem que o contrato está
acobertado por garantias adequadas, vez
e liquidez exigidas pelas normas. Destaca-
-se que essa conclusão diz respeito ao
aspecto formal do negócio, não tendo
sido avaliado o seu aspecto ideológico,
como a motivação da DNA Propaganda
Ltda. em fornecer a garantia ou mesmo a
origem dos recursos que a constituíram”.
Evidentemente, o procurador Gurgel fez
uma escolha ideológica e caracterizou o
crime do desvio.
Quanto à resposta da terceira per-
gunta, o que se sabe é que Zampronha
foi punido disciplinarmente pela PF por
duas razões: porque o ministro Barbosa
manifestou-se dizendo que ele deveria
ser punido e porque, em suas conclusões
contestou frontalmente o que viria a ser
o resultado do julgamento ao dizer que os
empréstimos eram verdadeiros, dinheiro
limpo que os banqueiros haviam empres-
tado ao PT com a expectativa de que o
partidoodevolvesselimpo,mesmosaben-
do que sua movimentação seria por meio
do famoso caixa dois. A consideração de
que a acusação de formação de quadrilha
era uma “piada” só agravou a contundên-
cia de sua conclusão e, de certa forma, foi
longo desses cinco anos e oito meses de
investigações, de julho de 2005 a feverei-
ro de 2011, nem sempre formulando as
hipóteses mais corretas, mas sempre de
espírito aberto, procurando provas que
Danévita e Pizzolato: no depoimento em que falou do desvio de R$ 60 milhões, ela não citou o diretor do BB, que foi acusado
Reprodução
SergioBondioni

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  • 3. 28 A HISTÓRIA DO DELEGADO LUÍS FLÁVIO ZAMPRONHA Política As respostas a três questões mostram por que foi punido o principal investigador do mensalão, que se colocou contra os rumos definidos por dois procuradores-gerais da República e pelo presidente do STF por Lia Imanishi NO ÚLTIMO 11 de junho, o delegado Luís Flávio Zampronha foi punido com dois dias de suspensão, pela Corregedoria- -Geral de Polícia Federal (PF), por ter, em agosto do ano passado, dado entrevistas aos diários Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulosobreojulgamentodomensalão,criti- candoa“faltadehumildade”doMinistério Público, que, segundo ele, teria cerceado e desconsideradootrabalhodaPF.Comose sabe, a sentença básica do mensalão, cujos embargosdeclaratóriosestãoparaserjulga- dospeloSupremoTribunalFederal(STF)a partirdestemêsdeagosto,éadequeforam formadas três quadrilhas – comandadas por José Dirceu, o ex-chefe da Casa Civil dogovernodopresidenteLuizInácioLula da Silva –, que desviaram dinheiro público, 73,8 milhões de reais do Banco do Brasil (BB), com os quais compraram apoio político para o governo do Partido dos Trabalhadores(PT).Paraencobrirodesvio, teriamsimuladoempréstimoscomempre- sários mineiros, dirigentes do Banco Rural e de agências de publicidade. Zampronha, nas entrevistas, resumidamente, disse que a acusação de quadrilha era “motivo de piada” na PF, que os empréstimos eram verdadeirosequeodesviode73,8milhões de reais não procedia. Zampronha tem 39 anos, é casado, pai Universidade Federal de Goiás e está na PF há 13 anos. Está ligado à investigação do mensalão desde o início. Apareceu pela primeira vez no noticiário nacional em 17 de junho de 2005, quando entregou à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Congresso Nacional um re- latório da PF sobre corrupção na estatal Correios. A revista semanal Veja havia publicado, um mês antes, no dia 14 de maio, cenas de um vídeo em que Maurício Marinho, funcionário da estatal, negociava favores em troca de propina com um su- posto empresário. Na gravação, Marinho a supervisão de Roberto Jefferson, então deputado federal e presidente do PTB, partidodabasedesustentaçãodogoverno. LogoapósadenúnciadeVeja,Zampronha foidesignadopeloentãodiretor-geraldaPF, Paulo Lacerda, para investigar a história. No dia 6 de junho, Jefferson atacou o PT. Segundo ele, o partido, sob o comando de Dirceu, teria criado o que o petebista bati- zou, com sucesso, de “mensalão”. AhistóriadacorrupçãonosCorreiose adomensalão,então,seembaralharam.Por essa razão, quando entregou seu relatório sobre a investigação na estatal à CPMI dos Correios, que havia sido instalada em 9 de junho, Zampronha passou a investigar, em seguida, o “mensalão”. Essa investigação foi aberta em Minas Gerais pelo fato de ser o publicitário Marcos Valério, diretor de agências de publicidade com sede em Belo Horizonte, apontado por Jefferson comoumhomem-chavenadistribuiçãode dinheiro pelo PT em Brasília. Zampronha começou pelo depoimento e pela agenda de uma secretária de Valério, Karina So- maggio, que deu entrevistas a revistas e jornais no começo de junho e falou em malasdedinheirosendodistribuídasapartir da agência do Banco Rural em Brasília. Zampronha logo localizou o tesoureiro da agência do Rural na capital, José Francisco de Almeida Rego. Este disse que a agência do banco mineiro em Brasília era, de fato, a distribuidora de dinheiro vindo da conta da SMP&B (uma das empresas de publici- para os políticos indicados pelo tesoureiro do PT, Delúbio Soares. A partir dessas informações, Zampronha conseguiu que o juiz federal Jorge Gustavo Costa, da 4ª Vara Penal de Minas Gerais, responsável por acompanhar o inquérito, autorizasse uma operação de busca e apreensão no Banco Rural, em Belo Horizonte, onde estariamosdocumentosdeautorizaçãodas transferências de dinheiro e o nome dos destinatários. Com o mandado judicial, no dia 13 de julho, sete agentes comandados por ele foram à sede do banco na capital mineira em busca dos documentos. Asede do Rural em Belo Horizonte tem seis andares, inúmeras salas e arquivos. Logo a equipe de Zam- pronha descobriu que, sem a ajuda do banco,seriadifícillocalizarosdocumentos pretendidos. Isso só aconteceu no dia seguinte, 14 de julho, quando funcioná- rios do banco lhe entregaram, em outro endereço, no arquivo central do Rural, localizado no número 380 da avenida João Azeredo, faxes, e-mails, cheques e notas com ordens de pagamento enviadas pelos
  • 4. 2973 retratodoBRASIL | gerentes de Valério à agência do Rural em Brasília. De posse dos documentos, Zampronha e sua equipe dirigiram-se ao aviãodaPFqueosaguardavanoaeroporto da Pampulha para levar o material à sede da PF, em Brasília. Antes da partida, no entanto, Zampronha recebeu um tele- fonema do juiz Costa, que disse que o material deveria ser lacrado e entregue a ele. Os documentos “subiriam” para o Supremo por envolverem pessoas com foro privilegiado, disse o juiz. Isso porque o advogado de Marcos Valério, Marcelo Leonardo, tinha estado no mesmo dia 14, acompanhado de seu cliente, com o então procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, para entregar cópias distribuído pelo Rural, na qual constavam com foro privilegiado, o que obrigava as investigações a saírem da 4ª Vara de Minas Geraisepassaremparaoforosuperior,do STF. Souza despachou favoravelmente à petição de Leonardo, o juiz Costa foi avi- sado,ligouparaoentãopresidentedoSTF, Nelson Jobim, e deste partiu a ordem para os documentos serem lacrados e levados pessoalmente pelo juiz ao STF. Os autos, isto é, a documentação for- maldeuminquéritopolicial,passeiamentre odelegadoqueopreside,oprocuradorque Justiça se considera os indícios de crime por supervisionar o inquérito e por enca- eventualaceitaçãodadenúnciaeoposterior julgamento. Zampronha só recuperou o material do inquérito policial que presidia, Costa levou a documentação para o STF uma semana depois. Como era julho, mês estocada na corte suprema. No começo de agosto, houve o sorteio para a escolha do juizrelatoreoinquérito,então,passoupara asupervisãodoministroJoaquimBarbosa. Quando chegou de volta às mãos de vazado para a imprensa e o escândalo ganhara um novo ingrediente. No dia 3 de agosto, além dos nomes de depu- tados que haviam recebido dinheiro do esquema Marcos Valério–Delúbio Soa- res, apareceu nas manchetes dos jornais o diretor de Marketing e Comunicação do Banco do Brasil, o petista Henrique Pizzolato, como tendo recebido do esquema a quantia de 326.660,27 reais em dinheiro, a partir de um cheque da empresa SMP&B, do esquema Valério, descontado na agência do Banco Rural no Rio de Janeiro. Zampronha não quis dar entrevistas e só aceitou falar infor- malmente, depois de muita insistência. Nas duas longas conversas que a repórter das quais ele se queixa é de não ter po- dido investigar melhor toda a história. O caso Pizzolato é um dos aspectos que ele acha mal investigados. O consenso aprovado no STF, pela unanimidade dos 11 juízes, é o de que aquela quantia era propina recebida pelo petista por favores prestados a Valério, para lhe facilitar o desvio de dinheiro do BB. Além disso, Zampronha, no inquérito 2474, uma nova investigação que fez, por quatro anos, entre 2007 e 2011, a pedido do mesmo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, encontrou, vindo da conta de outra das empresas das quais Valério era diretor, a DNA, mais um saque em dinheiro no valor de 326.660,27 reais. Na época, no relató- Zampronha: o delegado da Polícia Federal foi punido por dar entrevistas nas quais declarou que a acusação de formação de quadrilha contra os “mensaleiros” era “motivo de piada” MarcioLima/EditoraGlobo
  • 5. 30 rio que entregou a Roberto Gurgel, novo procurador-geral, que passou a cuidar do caso em meados de 2009, supôs tratar- -se de uma segunda parcela da propina a Pizzolato. Hoje, escaldado por vários reveses, pela punição recebida, pelas divergências com os dois procuradores, pelos rumos que o julgamento tomou, Zampronha acha, entre muitas outras coisas, por exemplo, que o caso do su- borno de Pizzolato foi mal investigado e ainda não está provado. Resumidamente, o trabalho de investi- gação do mensalão por Zampronha pode ser dividido em três fases: a primeira, cujo início foi descrito acima, com a apreensão dos documentos da conta da SMP&B no Rural em meados de julho de 2005 e que seguinte, quando o procurador Souza faz a denúncia do mensalão sem esperar pelo relatóriodeZampronha,adespeitodeseus pedidos para prorrogar a investigação; a segunda, que se estende dos últimos dias de2005atéoutubrode2006,quandoZam- pronha acompanha as operações voltadas para conseguir os documentos da Visanet, nome fantasia da Companhia Brasileira de MeiosdePagamento,aempresaquedepo- sitou na conta da DNA os 73,8 milhões de reais considerados pelo STF como tendo sido desviados do Banco do Brasil para o esquema de corrupção petista; e a terceira, a investigação da qual falamos há pouco e na qual Zampronha trabalhou com laudos que ele próprio pediu aos órgãos técnicos da PF sobre o funcionamento da Visanet e com as contas de todas as empresas das quais Marcos Valério participava, e não apenas a SMP&B. DoexamedotrabalhodeZampronha, ser extraídas três perguntas que este texto procurará responder: 1. Por que, sendo ele o principal dele- gado da PF na investigação do mensalão, Zampronha foi dispensado, pelo procura- 2. Por que ele foi afastado das inves- tigações sobre as relações entre o BB e a Visanet se é justamente o suposto desvio de dinheiro do banco estatal a viga mestra da teoria da existência do chamado “maior política da história do País”, no dizer do As primeiras duas perguntas têm uma resposta única e simples. Quandofezsuadenúnciadomen- salão a 30 de março de 2006, o procurador mas comandado a investigação de muito pouco e chegado a uma conclusão absolu- tamente precipitada em relação ao grande crime concreto que denunciava: os 73,8 milhões de reais do Fundo de Incentivos Visanet (FIV), dinheiro público, do Banco do Brasil, que teria sido desviado para comprar deputados. Em sua denúncia, Souza, no fundo, adota a tese de que o desvio teria sido provadopelofatodePizzolatoterrecebido a propina de cerca de 330 mil reais. Des- prezou a investigação minuciosa e ampla Pizzolato, que a Receita Federal acabou fazendo, de certo modo animada pelas primeiras impressões da mídia, que ligava o recebimento do dinheiro à compra do apartamento no qual o petista mora em Copacabana. Essa investigação acabou provandoque,detodososdefeitosdesuas declarações de rendimentos em 20 anos – pelos quais pagou 15 mil reais, sendo 5 mil apunição,3milamultaemais7milreaisde jurosdemora–,omaiortinhasidoofatode terdeclaradocomodependenteamadrasta que o criara desde os nove anos. Em 29 de dezembro de 2011, a investigação de suas Souza, Gurgel e Barbosa aferraram-se à tese de 2006 e desprezaram em grande parte os laudos periciais pedidos por Zampronha Zampronha entrega relatório à CPMI dos Correios (17/6/2005): a seguir, o “mensalão” ABr
  • 6. 31 ABr contas terminou, Pizzolato pagou esses 15 acusação de que usou os tais 300 mil para comprar o apartamento em Copacabana nem sequer foi usada na Ação Penal 470 (AP 470), que se seguiu ao inquérito 2245. Souza também desconsiderou com- pletamente a amplíssima auditoria feita ao longo de quatro meses por 20 auditores do Banco do Brasil no uso do Fundo de Incentivos Visanet e concluída a 7 de de- zembrode2005semqualquerprovadeque tivessehavidoodesviodenunciadooucoi- saparecida.Souzaapresentousuadenúncia culpando pelo desvio, do qual não buscara provas, apenas os petistas Pizzolato e Luiz Gushiken, o ministro responsável, então, pelos gastos da propaganda oficial do governo. Não esperou pela grande inves- tigação que Zampronha e peritos da PF, a seu pedido, faziam na Visanet. A empresa estava,claramente,nocentrodoproblema. Era a depositante do dinheiro nas contas da empresa DNA, a partir da qual teria havido o desvio. Era sócia do BB desde 2001,pormeiodecontratosemecanismos de repasse de dinheiro que deveriam ser, evidentemente, investigados. A Visanet montou uma comissão de acompanha- mento da crise. Em um e-mail de Mariluce Vilella, que fazia parte dessa comissão, encaminhado aos diretores da Visanet, ela dizquetudoandavaacontentonaCPMIe que“quemvaisecomplicaréoPizzolato”. Mais do que relações públicas, a Visanet armouumaparatojurídicocomdezenasde advogados para manter-se fora da CPMI e dasinvestigações.Váriascorrespondências nos autos, entre a Procuradoria-Geral, o ministro Barbosa, o delegado Zampronha e os advogados da Visanet, mostram que a empresa resistiu até o último momento a entregar documentos importantes para a investigação. Desde o início de janeiro de 2006, o procurador Souza tentava ob- ter da companhia os papéis originais das prestações de contas feitas pela agência DNAarespeitodosserviços,seusedeseus fornecedores, contratados para fazer os trabalhos de promoção da venda dos car- tões de bandeira Visa. No dia 30 de junho, a busca e apreensão na empresa, para a qual Zampronha escalou uma equipe co- mandadapelodelegadoFragosoPraxedes. Oito agentes apreenderam quatro malotes de documentos e os lacraram. Praxedes relata a diligência à então presidente do STF, Ellen Gracie, e diz que lhe foi co- municado informalmente que os malotes deveriampermanecerlacradosatésegunda ordem. Isso porque a Visanet entrou com açãopararecuperarpartedosdocumentos contidos nos malotes. A disputa durou até 9 de outubro de 2006. Os advogados da Visanet requeriam que fossem devolvidos ao menos os documentos protegidos pelo princípio de inviolabilidade das relações advogados–cliente. Finalmente, a 10 de outubro, Barbosa deferiu o pedido de de- volver esses documentos. Entre eles, havia um (ver RB nº 65, dezembro de 2012), elaborado por um dos maiores escritórios de advocacia do País, a serviço da Visanet, para ser apresentado à Receita Federal. A - devidospelacompanhia,oescritórioargu- mentavaquetodasasaçõesdeincentivoao uso dos cartões Visa contratadas pelo BB foramrealizadaspelaDNA.Odocumento trata dos comprovantes da realização de 99 ações feitas com os recursos do fundo da Visanet pela DNA, a mando do BB. Descreve o tipo de comprovante – notas em shopping centers, aeroportos, pontos deônibus,etc.etrazplanilhasdeveiculação deanúncios.Elasmostramqueforamgas- tosaproximadamente73,8milhõesdereais nessas ações – e que, portanto, não houve o desvio de dinheiro do Banco do Brasil. Otratamento dado pelos dois pro- curadores-gerais da República e pelorelatordaAP470aoslaudos periciaispedidosàPFporZampronhaeos inquéritosparalelosao2245queelesmon- taram são outra prova clara de que os três – Souza, Gurgel e Barbosa – aferraram-se à tese construída na denúncia de março de 2006 e foram jogando fora ou para baixo de tapetes convenientes tudo que poderia contrariar essa tese. Um exemplo típico é o laudo 2828/2006, do Instituto Nacional de Criminalística (INC). Ele visava obter o nome dos responsáveis pelo uso dos re- cursosdofundodaVisanetdistribuídosao BB. Tinha sido pedido pela Procuradoria e foi aberto por Zampronha no INC a 22 de dezembro de 2005. Ficou pronto em dezembro de 2006. Apresenta vários res- ponsáveis pelas relações BB–Visanet: três diretores de Varejo do BB no período Souza, Gurgel e Barbosa: eles deixaram de lado o que podia contrariar a ideia de que houve desvio de recursos públicos ABr
  • 7. 32 a ser investigado, de 2001 a meados de 2005, e quatro gestores do próprio fundo de incentivos, todos eles da área de Varejo do BB, e não da área de Comunicação e Marketing, que era a de Pizzolato. Pizzolato,oúnicodenunciadoporSou- za,nãoapareceemnenhumadas43páginas do laudo. O procurador não apensa o 2828 aos autos da AP 470 a não ser depois de a denúnciadomensalão,apontandoPizzolato e Gushiken como responsáveis pelos des- viosnousodoFIV,tersidoaceitapeloSTF, em agosto de 2007. Apenas em novembro desseanotalapensamentoéfeito.Emesmo sem que, em qualquer momento, o laudo 2828 faça referência a Pizzolato, na carta que serviu para encaminhá-lo aos autos, o procurador diz: “Em que pese seu teor completo ser de leitura obrigatória, ante a profundidade da análise empreendida, alguns trechos do Laudo Pericial nº 2828- INC merecem destaque, pois a imputação feitanadenúnciadequeHenriquePizzolato de Marcos Valério, ao fazer adiantamentos em valores sem a devida contraprestação levantados”. Essa carta está na folha 20 do apenso 142, dos autos da AP 470. Ela é do laudo 2828, feita pelo procurador-geral Barbosa chegou a indeferir, no dia 24 de setembro de 2007, o pedido do Banco do Brasil para ver o laudo 2828. Tal laudo foi apartado do inquérito 2245 e incluído em outro inquéri- to, aberto no STF. Um ofício do procurador-geral endereçado ao ministro Joaquim Barbosa lhe pede que sejam separados os documentos que continua- vam sendo enviados por Zampronha dos documentos que já estavam no inquérito 2245, porque eles versariam sobre “outros fatos” e supostamente poderiam gerar “confusão” ou “questionamentos”. Esse inquérito foi aberto no início de 2007, com o número 2474, e também foi pre- sidido pelo delegado Zampronha. Sobre Antes, outro inquérito. Como era evi- dente, para qualquer um que investigasse minimamente os fatos, que havia muito mais gente envolvida num suposto desvio dedinheirodoBancodoBrasilpormeiodo fundoVisanetequeSouzasóhaviapedido o indiciamento de Pizzolato e Gushiken, numa nota de rodapé da denúncia ele diz que outros possíveis envolvidos no desvio derecursosdoBBatravésdofundoseriam - tentes. Mandou então abrir, na Delegacia Regional da PF em Brasília, um inquérito protegido por sigilo, o 0555/2006, e des- tacou para sua supervisão o procurador da República José Robalinho, da 12ª Vara Penal de Brasília. No dia 17 de maio deste ano, a repórter conversou por telefone com ele. Queria saber a quantas andava a investigação do 0555/2006. O procurador disse, entre outras coisas, o seguinte: “Veja bem,nãoqueremosaquiperseguirestafetas, pessoasqueapenasassinampapéissemim- nãoestavaandandobem,porqueopróprio Henrique Pizzolato bateu a bola no peito e disse com todas as letras que ele é que tinha adiantado o dinheiro para a DNA do Marcos Valério. Esse processo estava ca- minhando para ser arquivado. Como é que eu podia dizer que os outros membros do banco participaram desses adiantamentos se o próprio Pizzolato disse que adiantou Só que aí veio a público o inquérito do Zampronha.Eleatéestásendoinvestigado dentro da Polícia Federal por isso. Eu não tenho nada contra ele, que é meu amigo, mas ele tornou público o inquérito dele”. A repórter disse a Robalinho que em nenhum momento de seus depoimentos antecipaçõesparaaDNA.Mesmoporque, completou, como mostrou o laudo 2828, Pizzolato não tinha competência para au- torizar a transferência de nenhum recurso dos cofres da Visanet para a DNA. Para sua surpresa, Robalinho mostrou que não conhecia o laudo 2828. Comojásedisse,Zampronhapresidiu, apartirde2007,maisuminquéritosobreo mensalão,aoqualfoiapensado,inclusive,o laudo 2828, embora com a recomendação explícita de que a questão de saber quem eram os responsáveis, na Visanet e no BB, pelo suposto desvio de recursos não esti- vesse entre os fatos a serem investigados. Com esse novo mandado, Zampronha estudou a movimentação dos recursos por Marcos Valério em várias contas, e não apenas aquela da SMP&B no Banco Rural da qual obtivera a documentação a 14dejulhode2005,duranteaoperaçãode buscaeapreensãonobancoemBeloHori- zonte. Com base no exame dessas contas, Zampronha foi em busca de pessoas envolvidas em casos suspeitos e examinou vários aspectos paralelos ao “mensalão”. Analisou as 17 visitas de Valério ao Banco Central para tentar apressar – sem sucesso – a liquidação do Banco Mercantil de Per- nambuco, na qual o Rural tinha interesse. Analisou a hipótese de o mensalão ter sido sustentado por recursos do Banco - tas, que na época controlava a Telemig e a Brasil Telecom, servidas por empresas de publicidade ligadas a Valério – e chegou à conclusãodequehaviasidopreparadoum acordo entre as empresas de Dantas e as de Valério para a veiculação de 50 milhões de reais em publicidade, mas o estouro do cancelaraonegócio.Descobriu,ainda,que maispolíticostinhamrecebidodinheirode Valério, não pela famosa conta do Rural, mas pelas da DNA, e citou quatro casos que pediu ao procurador-geral que fossem investigados. Foi aí que, no meio de suas inves- tigações, no final de março de 2008, Zampronha achou aquela que seria a testemunha-bomba na acusação contra Pizzolato,DanévitaMagalhães,queacabou sendo uma prova em sentido contrário. Danévita era contratada por uma agência de publicidade que mantinha, junto com outras agências que tinham contrato com o BB, um núcleo de mídia em Brasília. Em seu depoimento, tomado pelo delegado Zampronhanasugestivadatade1ºdeabril de2008,eladissequeteriasidodemitidado Zampronha alertou sobre Danévita. Mas ela era o que faltava para tornar verossímil a história do desvio de dinheiro do BB
  • 8. 33 BB porque, em 2003, o diretor de mídia da DNA, Fernando Braga, teria lhe pedido para assinar um falso plano de mídia no valor de 60 milhões de reais que, segundo ela,Bragainformouquenãotinhasidonem seriarealizado.Serviriaapenasparasimular serviço e desviar dinheiro. No depoimento, ela não cita o nome de Pizzolato, mas, sim, o do gerente de Mídia do Banco do Brasil à época, Roberto Messias, que, segundo ela, teria lhe oferecido dinheiro para pedir demissão voluntária. O depoi- mento chamou a atenção de Zampronha, que o encaminhou ao procurador Souza. Porém, prosseguindo suas investigações, Zampronha descobriu um depósito de 25 milreaisnacontadeDanévita,proveniente daDNA,mascompassagempelaempresa Diretorial,deumempresáriopernambuca- no genro do ex-vice-presidente da Repú- blica Marco Maciel. A Diretorial aparecia na planilha das 15 empresas que mais receberam dinheiro da DNA proveniente do fundo Visanet. Segundo apurou RB, Zampronha alertou o procurador Souza. “Danévita não contou tudo. É uma teste- munhafria.”Masjáeratarde.Danévitaera o que faltava para que a história do desvio no BB parecesse verídica. Messiastrabalhahojecomosecretário- -executivo de Comunicação Social do governo da presidente Dilma Rousseff. Um de seus assessores informou a RB que Messias, de fato, pediu à agencia de publicidade que contratou Danévita que a demitisse, mas isso porque ela era uma “criadoradecaso”.Segundoesseassessor, outros sete funcionários do núcleo de mídia do BB, que eram bancados pelas e disseram que não voltariam ao trabalho enquanto Danévita não fosse dispensada. Outro laudo encomendado por Zam- pronha,o1866/2009-INC,tambémserviu para a acusação da Procuradoria, a essa altura já comandada por Roberto Gurgel, mas de modo estranho. O laudo mostra que em 22 de abril de 2004 a DNA sacou 10 milhões de reais da conta 602000-3 no BB, na qual recebeu adiantamentos por serviçosdepublicidadeprestadosaobanco. Essesrecursosforamtransferidosparauma aplicação da DNA no BMG: a compra de Esse CDB depois serviu de lastro para um empréstimo de valor equivalente no BMG, doisdiasdepois,porumaempresadeRogé- rio Lanza Tolentino, sócio de Valério. Essa transação, para Gurgel, teria sido a “prova que seria formada por Tolentino, Valério, Cristiano Paz e Ramon Hollerbach para, e a dos banqueiros, promover o desvio de recursos do Banco do Brasil. Apesar da conclusão de Gurgel, lê-se no laudo 1866/2009, do INC, o seguinte: “Os peritos entendem que o contrato está acobertado por garantias adequadas, vez e liquidez exigidas pelas normas. Destaca- -se que essa conclusão diz respeito ao aspecto formal do negócio, não tendo sido avaliado o seu aspecto ideológico, como a motivação da DNA Propaganda Ltda. em fornecer a garantia ou mesmo a origem dos recursos que a constituíram”. Evidentemente, o procurador Gurgel fez uma escolha ideológica e caracterizou o crime do desvio. Quanto à resposta da terceira per- gunta, o que se sabe é que Zampronha foi punido disciplinarmente pela PF por duas razões: porque o ministro Barbosa manifestou-se dizendo que ele deveria ser punido e porque, em suas conclusões contestou frontalmente o que viria a ser o resultado do julgamento ao dizer que os empréstimos eram verdadeiros, dinheiro limpo que os banqueiros haviam empres- tado ao PT com a expectativa de que o partidoodevolvesselimpo,mesmosaben- do que sua movimentação seria por meio do famoso caixa dois. A consideração de que a acusação de formação de quadrilha era uma “piada” só agravou a contundên- cia de sua conclusão e, de certa forma, foi longo desses cinco anos e oito meses de investigações, de julho de 2005 a feverei- ro de 2011, nem sempre formulando as hipóteses mais corretas, mas sempre de espírito aberto, procurando provas que Danévita e Pizzolato: no depoimento em que falou do desvio de R$ 60 milhões, ela não citou o diretor do BB, que foi acusado Reprodução SergioBondioni