A Orquestra Filarmônica de Minas Gerais se tornou a segunda maior orquestra sinfônica do Brasil em apenas três anos e meio de existência, graças à sua gestão inovadora e comprometimento com a qualidade musical. Sob a direção do maestro Fabio Mechetti, a Filarmônica se apresenta regularmente em cidades mineiras de todos os tamanhos e atrai um público fiel em Belo Horizonte, além de receber elogios de músicos internacionais. No entanto, a orquestra enfrenta desafios como
1. BRAVOS AMIGOS DA HARMONIA
Lucas Alvarenga
Com três anos e meio de existência, Orquestra Filarmônica de Minas Gerais se torna referência nacional e mostra que
gestão e inovação garantem grandes sinfonias
A execução do “Concerto para piano e
orquestra nº. 2 em Sol maior”, do russo
Tchaikovsky, faz Diomar Silveira regressar à sua
juventude, sobretudo, marcada pela arte. Nas
bancas, o então rapaz comprava long plays de
música clássica que o aproximaram de obras
daquele compositor clássico,
como o balé “O lago dos cisnes”. Natural de
João Pinheiro, no noroeste mineiro, o hoje
presidente do Instituto Cultural Filarmônica
deixa os bastidores para acompanhar de perto
cada apresentação da Orquestra Filarmônica
de Minas Gerais, que em surpreendentes três
anos e meio desponta como a segunda maior executora da música sinfônica no Brasil.
“De dois anos para cá, a Filarmônica cresceu até mais que a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, a Osesp”. A
análise da chefe do naipe de flautas do conjunto mineiro, Cássia Lima, é pertinente. Afinal, a instrumentista natural
de Extrema, no limite entre Minas e terras paulistas, conviveu com músicos da Osesp em seu retorno ao Brasil e não
esconde a satisfação de hoje exercer seu ofício em meio a um ambiente saudável e propício ao desabrochar da
musicalidade. Dominic Desautels, canadense e chefe do naipe de clarinete, acompanha Cássia. Em sonoro
português, aprendido com auxílio de sua esposa e instrumentista da orquestra, Ariana Pedrosa, o clarinetista
ressalta: “Tem o Mechetti, um grande maestro. Acessível e com a cabeça no lugar”.
Sob a direção artística e regência titular de Fabio Mechetti, a Filarmônica se fez ouvir longe. Filho e neto de
maestros, o paulista que trocou o jornalismo pela música clássica recusou inúmeros convites para ser maestro de
orquestras brasileiras, até que o então governador de Minas, Aécio Neves, o chamou para dirigir o novo conjunto
sinfônico mineiro. “Só encontrei na Filarmônica um ambiente político favorável para a música erudita no Brasil. Em
Minas Gerais há uma tradição secular para a música clássica. Basta lembrarmos o barroco ou o Coral Madrigal
Renascentista. A questão é que os últimos anos houve um decréscimo de investimentos em cultura por aqui, fato
que este Governo reconhece e vem resgatando”.
2. Interesse público
A percepção do Governo de que algo poderia
mudar surgiu com a aprovação das
Organizações da Sociedade Civil de Interesse
Público, as Oscips. Por meio delas, o Estado
firmaria termos de parceria com organizações
e deixaria a cargo delas a missão de levar a
cabo um projeto para o Estado. Pensou-se que
esta seria a melhor solução para a Sinfônica de
Minas Gerais. Tanto que a orquestra se dividiu
entre favoráveis ao regime de contratação por
CLT e os adeptos ao funcionalismo público.
Livres para formar uma nova orquestra, o
grupo de 35 músicos em prol da Oscip realizou audições para junto de outros 50 formarem a Filarmônica, do grego,
amiga da harmonia. Em fevereiro de 2008, estreava o novo conjunto sinfônico mineiro.
“O espírito da lei é ‘toque isto para mim’. Afinal, o modus operandi do Estado dificulta a execução de determinadas
tarefas. Eu acredito na lei que regulamenta as Oscips e o Estado confia para mim a tarefa de aplicar com qualidade
os recursos destinados à Fundação”. A certeza de Diomar sobre os benefícios deste formato administrativo é o que
moveu Mechetti para as Gerais. “O modelo trouxe resultados satisfatórios, eu vejo. Outros estados se sentem
influenciados por ele, a exemplo de Sergipe”.
Atualmente, o presidente do Instituto Cultural Filarmônica trabalha no fechamento da temporada 2012. A
antecedência é regra dentre diretores. Afinal, é preciso ter um planejamento minimamente pensado para que o
Estado, parceiro da fundação, aprove o orçamento para a temporada. “A montagem de um concerto envolve vários
elementos. São contratos, montagem de palco, iluminação, sonorização, transporte, seguros. Tudo em prol de uma
programação de qualidade”, ilustra Diomar Silveira.
Toda essa logística de apresentação da Filarmônica nem sempre é compatível com a infra-estrutura das cidades por
onde a Orquestra se apresenta. O local tem que ter capacidade para instalar aproximadamente 100 pessoas. “Nós
temos privilegiar as cidades de pequeno a grande porte. Tanto que uma das nossas estratégias foi, por exemplo, ir
para Montes Claros e também para Pirapora, Janaúba e Buritizeiro. Nestes municípios menores, nós dividimos a
orquestra em grupos de câmara, levando cada naipe para um lugar. A carência é tão grande nesses cantos que gera
fascínio. Tivemos público em todas. É bonito ver o interesse deles pela música clássica”, expressa eufórico o
presidente do Instituto Cultural Filarmônica.
3. Harmonia em palco
Assistir a uma salva de aplausos ao término de
cada concerto da Filarmônica não é algo
restrito às cidades pequenas. No Palácio das
Artes, a plateia, que normalmente lotada as
dependências do Grande Teatro, reflete seu
estado de contentamento da melhor forma
possível. “É gosto ver a receptividade do
público com a Filarmônica. Sempre somos
ovacionados com aplausos longos no final dos
concertos em Belo Horizonte. O público daqui
tem sede por cultura”, revela a flautista Cássia
Lima. Na mesma linha, o clarinetista Dominic
Desautels faz uma confissão. “Sempre achei
legal essa vontade de apreciar um concerto que o público mineiro tem. O teatro sempre fica lotado. No Canadá, as
maiores orquestras do país enfrentam dificuldades para encher uma casa”.
De jovens até casais no auge da maturidade, a Filarmônica se solidifica sem se prender a um público elitizado ou
exímio conhecedor de música clássica. Os concertos também têm espaço para os mais leigos, que nem por isso
deixam de se encantar com a música sinfônica. Talvez a razão para o encanto esteja na frase do maestro Fabio
Mechetti. “Ser membro da Filarmônica é mais que ter um emprego, é fazer parte de uma história e vivê-la com
prazer”. E nesta certeza, o conjunto evolui constantemente. “Temos a certeza de que não chegamos ao nosso ponto
final e nem chegaremos. O som da Filarmônica tem muito que amadurecer e aprofundar no estudo de cada obra.
Estamos formando uma identidade”, argumenta Dominic.
Na intenção de continuar a trajetória de transformações sonoras que levaram a orquestra a atingir o posto de
segunda maior do país, o maestro e a clarinetista apontam para uma questão primordial: a necessidade de uma sala
própria. Um problema resolvido para futuro. No início do mês de agosto, o governador Anastasia anunciou a criação
da Estação da Cultura Presidente Itamar Franco, que abrigará uma sala para concertos sinfônicos de 1.400 lugares e
a sede da Orquestra. Até que a obra de R$ 140 milhões, prevista para 2014, seja inaugurada, Mechetti não esconde
as dificuldades. “Precisamos de um espaço com a mesma acústica e que possamos ensaiar constantemente. Hoje, só
temos acesso ao Palácio na véspera e no dia da apresentação”.
4. Ideias em execução
Enquanto o novo lar é imaginado em montagens e maquetes, o
Instituto Cultural Filarmônica trabalha para oferecer diversidade a seu
público fiel. A começar pelo programa de assinaturas da Orquestra,
com 1.200 adeptos. Um conceito novo no país, que garante ingressos
para uma série, a exemplo de Vivace, nas terças-feiras, e Allegro, nas
quintas-feiras. Ambas apresentam obras pouco conhecidas e inéditas,
com presença de convidados de renome internacional no Palácio das
Artes.
Entre concertos voltados para a juventude e com participação de
jovens solistas, clássicos pelos parques da capital mineira, concertos
didáticos, turnês estaduais e nacionais, nenhum se destaca tanto com
os festivais. Um deles, o Tinta Fresca, procurar identificar novos
compositores clássicos brasileiros. Já o Laboratório de Regência busca
dar oportunidades a jovens regentes. “O regente sofre com a falta de
oportunidades para praticar. Em uma orquestra, você tem
violoncelistas, flautistas, mas um só regente. Então, está é uma
oportunidade especial, pois os novos regentes conduzem a
Filarmônica”, garante Mechetti, responsável pelo projeto.
Diante de tantas ideias e diversidade, o canadense Dominic, músico de um dos nove países representados pela
Orquestra, que também conta com instrumentistas de oito estados, incluindo Minas Gerais, deixa suas expectativas
romperam fronteiras como o som da Filarmônica. “Hoje Belo Horizonte não está naquele eixo cultural forte, que é
Rio-São Paulo. Mas, uma orquestra pode mudar isso. Afinal, ela traria benefícios e reconhecimento para toda a
cidade, quem sabe até para o Estado. Então, que seja a Filarmônica a inserir Minas nesta rota cultural
definitivamente”.
http://www.voxobjetiva.com.br/materia_completa.php?id=379
2 Comentários
Nilo Diogo Musetti da Silveira
Tudo o que foi falado sobre a Filarmônica, seus músicos, seus dirigentes, seu condutor, sua performance, eu
dou plena fé e estou muito orgulhoso de tê-la entre nos, mineiros. Que venha o futuro, estamos preparados
para ele
Michèle Christine Valerie Godefroid
Atualmente a Filarmônica é um dos bens mineiros que mais curto e aplaudo, admiro e sempre que mergulho
nos seus sons saio deles inovada e gratificada. Espetáculos como os da Filarmônica são necessários à nossa
qualidade de vida. Obrigada a todos os integrantes com o coração sempre em festa. Michèle