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Confissão do autor do golo fantasma no FC Porto-Sporting de 1979
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"Meti a bola lá dentro e pirei-me para trás do bandeirinha"
Muitos ainda escrevem que o golo foi «limpo», alguns acreditam nisso. Quase 35 anos depois,
o verdadeiro autor do golo do nevoeiro, num célebre FC Porto-Sporting, José Maria Ferreira
de Matos, explicou ao jornal Sporting como tudo aconteceu naquela tarde de nevoeiro.
Actualmente a trabalhar em Lisboa, o ex-apanha-bolas da formação «azul e branca» e árbitro
amador, mostrou-se arrependido pelo seu acto irreflectido.
JORNAL SPORTING – De que se lembra desse dia?
JOSÉ MARIA FERREIRA DE MATOS – Lembro-me do intenso nevoeiro que estava. Antes do
jogo, o «chefe» dos apanha-bolas, o Valter Leitão, distribuiu-nos pelo campo e mandou-me
para trás da baliza. Recordo-me que o Sporting começou a ganhar. Na segunda parte, a
vantagem continuava do Sporting, mas nunca pensei em fazer o que acabaria por fazer. Eu era
conhecido pelas asneiras que fazia, mas também nunca ninguém pensou que fizesse o que fiz.
JS – Como foi o lance?
– Não sei bem como a bola chegou a mim, mas sei que ela veio ter comigo e vi o Gomes a pôr
as mãos na cabeça. Sem pensar, dei uns passos e fui até ao canto da baliza, meti a bola lá
dentro e fugi para o mais longe possível. Então, vejo o Damas a ralhar comigo, mas eu pirei-
me para trás do ‘bandeirinha’; ele já tinha a bandeirola no ar a assinalar o golo. Foi quando os
jogadores do Sporting correram para o árbitro, a reclamar. Aí o juiz, que julgo não ter visto
bem o lance, começou a mostrar cartões.
JS – Porque razão meteu a bola na baliza?
– Foi tudo muito rápido. O FC Porto estava a perder, a bola estava na minha mão e então
pensei: vou metê-la lá para dentro e vou-me pirar. Foi um daqueles momentos em que se faz,
ou não se faz; optei por fazer e já não dava para voltar atrás. Aconteceu numa fracção de
segundo.
JS – Depois de meter o golo, o que pensou?
– Eu só queria que não me «topassem». Felizmente, ou infelizmente, o árbitro marcou e eu saí
impune. Tenho pena do Damas, que não teve culpa nenhuma e sofreu um golo ilegal.
JS – E se visse o árbitro desse encontro?
– Não sei… Gostava de estar com ele para lhe confessar que fui mesmo eu a marcar o golo e
não o Gomes. Eu tenho quase a certeza de que ele não conseguiu ver o lance como realmente
aconteceu, pois estava um nevoeiro muito intenso. Também gostava de falar com o fiscal de
linha; foi ele quem assinalou o golo e foi para trás dele que eu «fugi» depois de fazer o que fiz.
JS – Acha mesmo que o árbitro não viu nada?
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– Julgo que não. Tenho ideia de ver o fiscal de linha levantar a bandeirola e validar o golo do
FC Porto. Depois, lembro-me de ver o Damas e outros jogadores a correrem para o árbitro e
sei que houve cartões mostrados. Nessa altura, já eu estava «escondido» atrás do fiscal. Só aí
é que percebi o que tinha feito, mas pensei,"já está, já está!" Não havia nada que eu pudesse
fazer.
"O Gomes disse-me que tinha marcado o golo"
JS – Alguma vez falou com o Fernando Gomes sobre a autoria do golo?
– Sim, uns anos depois encontrei-o num Centro Comercial do Porto. Perguntei-lhe, sem ele
saber quem eu era, se tinha sido ele a marcar o golo; ele disse que sim e cada um seguiu o seu
caminho. Mas acontece a mesma coisa quando o jogador mete a bola com a mão; se lhe
perguntarem, ele dirá, quase sempre, que foi com a cabeça. Neste caso, eu sei que não foi o
Gomes que a meteu. Digo-lhe isso nos olhos dele, ou nos olhos de quem quer que seja.
JS – Como se sente, agora que «confessou» o seu «feito» ao nosso jornal?
– Muito aliviado. Muito mesmo. Era uma coisa que eu tinha de contar mais cedo ou mais
tarde. Queria ter falado com o Damas, mas não consegui. Agora, fica a faltar falar com o sr.
Alder Dante e com o presidente do Sporting. Quero agradecer ainda a oportunidade que o
jornal ‘Sporting’ me deu, ao poder de ter entrado no Estádio José Alvalade. Quando pisei o
relvado, senti um calafrio; as minhas mãos e as minhas pernas tremeram como há muito não
tremiam.
JS – Não tem receio de ter contado a história desse golo?
– Não. Eu sou um homem correcto. Quando as pessoas quiserem, que me procurem. A falar é
que as pessoas se entendem.
JS – Nunca pensou falar com Victor Damas?
– Sempre tive o desejo de ir ter com ele. Tentei, várias vezes, mas nunca o consegui apanhar.
Na altura, cheguei a vir do Porto a Alvalade, mas nunca tive a oportunidade de o encontrar.
Não era fácil falar com ele, pois um humilde apanha-bolas não chega facilmente à fala com
um jogador, para mais sem conhecer ninguém do Sporting. É das coisas que me dá mais pena.
Era um sonho falar com ele. Nunca me esquecerei do Damas; pelo guarda-redes que foi e por
nunca ter conseguido falar com ele. Sempre que via jogos do Sporting, em que o Damas
participava, pensava sempre na malfeita bola do nevoeiro.
JS – O que lhe diria se o tivesse chegado a encontrar?
– Dizia o que lhe disse hoje e, com toda a certeza, pedir-lhe-ia muitas desculpas.