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O pedagogo e sua práxis: desafios e possibilidades na sociedade contemporânea
1. O PEDAGOGO E SUA PRÁXIS:
DESAFIOS E POSSIBILIDADES NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
Mirianne Santos de Almeida
RESUMO
Os avanços provenientes da contemporaneidade, em particular a acessibilidade
a novas tecnologias, têm provocado mudanças em todos os setores da sociedade, em
especial na educação, a qual vem sofrendo alterações ao longo do tempo, tanto na
ampliação do conceito como nas formas de concebê-la. Diante disso, o presente estudo
discorre sobre a importância da educação na sociedade contemporânea destacando o
pedagogo como o profissional apto a desenvolver tal função. A partir de uma breve
retrospectiva histórica do campo de atuação do pedagogo, pretende-se mostrar que
a pedagogia não se limita à instituição escolar, desmistificando o paradigma de que o
pedagogo atua única e exclusivamente na educação infantil. Sabendo que o ato docente é
apenas uma das instâncias dos diversos atos pedagógicos, convém ressaltar o surgimento
de novas possibilidades de atuação, até então não pensadas, e consequentemente os
desafios encontrados no ato do oficio. O aporte teórico perpassa os estudos de José
Carlos Libâneo (1998), Selma Garrido Pimenta (2001) e Carlos Rodrigues Brandão (2007),
os quais refletem sobre a educação além do ambiente escolar bem como sobre a nova
configuração profissional do pedagogo.
PALAVRAS-CHAVE
Educação, papel do pedagogo, desafios, contemporaneidade.
ABSTRACT
Advances originating from contemporaneity, in particular the accessibility of new
technologies has caused changes in all sectors of society and in particular in education that
have suffered mutations throughout time, as much in the expansion of the concept as in
the forms to conceive them. In this light, this study discusses the importance of education
in contemporary society, highlighting the professional of pedagogy as apt to develop
such function. From a brief historical overview of the performance of the professional
of pedagogy, we shall show that pedagogy is not just a school, and thus demystify the
paradigm that the teacher acts exclusively in education. Knowing that the act of teaching
is just one of several instances of acts of teaching, it is worth emphasizing the emergence
Cadernos de Graduação - Ciências Humanas e Sociais (ISSN 1980-1784) - v. 11 - n.11 - 2010
2. of new possibilities for action, not previously thought of, and consequently the challenges
encountered in the act of the craft. The theoretical framework encompasses the studies of
José Carlos Libâneo (1998), Selma Garrido Pimenta (2001), and Carlos Rodrigues Brandão
(2007) which reflect on education beyond the school environment as well as about the
new professional configuration of the pedagogist.
KEYWORDS
Education, educator’s role, challenges, contemporary.
INTRODUÇÃO
Atualmente, a educação tem se tornado pauta em diversas discussões.
Anteriormente pensada como uma mera transmissão de conteúdo daquele que tudo sabia
para aquele que nada sabia num ato tecnicista, em que o planejamento era desmembrado
em conteúdos isolados, hoje é pensada como um processo de construção simultâneo que
integra conhecimentos conceituais, procedimentais e atitudinais partindo do cotidiano
social, enfocando-a como fruto de um processo de construção de saberes que promovem
o desenvolvimento intelectual e moral do indivíduo, construído culturalmente a partir do
seu contexto familiar e social, num ato de educar para a vida, porque educação nada mais
é que a própria vida.
130
A sociedade moderna apresenta demandas de caráter social e educacional que
ultrapassam os limites formais e regulares da escola, fato que a torna detentora de um saber
vivo e não fragmentado. Daí a necessidade de transformá-la em conhecimento sistemático
integrando as tecnologias ao currículo, para que o processo ensino-aprendizagem seja
obra desse saber vivo, condizente com a realidade. Não do saber fragmentado distante
do contexto social. Isso requer a intermediação do pedagogo como articulador, mediador
de uma práxis pedagógica voltada para a interdisciplinaridade.
Tendo em vista que a pedagogia é a ciência da educação, a mesma ocorre em
todos os espaços, pois é fruto da socialização. O pedagogo é o profissional competente
para desenvolver uma práxis comprometida com a transformação social, que não colabore
para perpetuar o distanciamento entre o saber da experiência e o saber sistematizado,
mas que valorize esses saberes que são distintos, porém complementares.
Desse modo, a atuação do pedagogo é uma tarefa no mínimo difícil, tendo em
vista os mais variados paradigmas que rondam a temática. Considerando o leque de
possibilidades que a pedagogia proporciona numa sociedade em constante processo
de transformação, o presente estudo visa a facilitar a compreensão da função do novo
perfil do pedagogo, um profissional multifacetado, apto a atuar em diversos setores
na sociedade contemporânea. A análise do tema consiste no cerne deste trabalho,
conectando indagações referentes às possibilidades e atribuições desse profissional: ora
pedagogo, ora especialista, ora professor-pedagogo.
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3. A opção pelo tema deve-se a uma inquietação minha que, na condição de bolsista
do Programa Universidade Para Todos (PROUNI), tive a oportunidade de optar por três cursos
de graduação. Então, fiz uma pesquisa sobre o campo de atuação de cada um deles, e pude
conhecer a amplitude de possibilidades para atuar como pedagoga. Ao ingressar na universidade
percebi a carência de informações por parte dos colegas de classe e da sociedade em geral,
além dos paradigmas sociais sobre a atuação do pedagogo, que é taxado como professor de
educação infantil. Um dos principais fatores que contribuem para perpetuar esse paradigma
é a escassez de informações nos espaços acadêmicos, visto que os Cursos de Pedagogia
oferecidos por outras Instituições de Ensino Superior centram o enfoque na formação do
professor para atuar na Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental.
Daí a importância individual e coletiva deste estudo, tanto para construção de
um discurso próprio com base teórica sobre as múltiplas possibilidades de atuação como
futura pedagoga, que vez por outra é ocupado por outros profissionais em função do
desconhecimento acerca do espaço que este pode ocupar, como também para disseminar
o conhecimento em meio à sociedade sobre a polivalência que compõe a formação deste
profissional, contribuindo assim para a valorização do mesmo.
De caráter descritivo e reflexivo, o presente estudo desenvolve-se numa abordagem
qualitativa, de modo a permitir lidar com um embasamento teórico colhido no ato da
pesquisa bibliográfica “que consiste no exame da literatura científica, para levantamento
e análise do que já se produziu sobre determinado tema” (RIBEIRO; SOUZA, 2006, p. 57).
131
Com os dados subjetivos para a análise e elaboração do presente texto, tomei
como aporte teórico de análise alguns intelectuais renomados como: José Carlos Libâneo
(1998), Selma Garrido Pimenta (2001) e Carlos Rodrigues Brandão (2007), que defendem
a educação como um processo gradativo e contínuo que extrapola o ambiente escolar,
bem como a nova configuração profissional do pedagogo na sociedade contemporânea.
A partir de uma breve retrospectiva histórica, pretende-se mostrar as conquistas
de espaço do pedagogo, consequentemente, a ampliação das funções atribuídas a ele,
analisando seu relevante papel social nos diversos espaços de atuação e pontuando os
desafios encontrados no ato do ofício.
Diante do exposto, convém ressaltar a necessidade de uma formação acadêmica
sólida e crítica do portador de um diploma do curso de pedagogia, para que esse
profissional seja consciente do seu papel na sociedade nas múltiplas dimensões que lhe
são atribuídas, pois, pensar que o pedagogo é por excelência apenas professor é esvaziar
e restringir a amplitude da sua formação.
2. DO RESTRITO ESPAÇO DA ESCOLA A UMA VISÃO MULTIFACETADA DO
PROCESSO PEDAGÓGICO: O NOVO ESPAÇO DE ATUAÇÃO DO PEDAGOGO
A educação está estreitamente ligada à origem e à evolução da humanidade.
A fim de situar historicamente a temática discutida, convém repensar a origem da
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4. pedagogia em âmbito global, visto que os paradigmas hodiernos têm origem na função
que esse profissional sempre ocupou. O termo Pedagogia, oriundo da Grécia Antiga, tem
seu conceito construído desde os primórdios da história por meio de uma tarefa escrava
acoplada à morfologia da palavra que reflete o significado de mestre, preceptor, aquele
que conduz a criança ao espaço de aprendizagem.
Criado na década de 30, o Curso de Pedagogia remonta a sua instalação durante
o regime ditatorial de Getúlio Vargas em 1939, por meio do Decreto-Lei nº 1190, de 4
de abril de 1939, interpretado como uma “extensão” do curso normal com a proposta
de uma formação dual, “visando à dupla função de formar bacharéis e licenciados para
várias áreas, inclusive para o setor pedagógico, ficou instituído como o chamado ‘padrão
federal’”. (SILVA, 1999, p.33).
Desde a sua criação no Brasil o curso tem dado ênfase a questões referentes à
formação do pedagogo para atuar na educação formal, no sistema regular de ensino. O
referido decreto universalizava o currículo dos cursos de pedagogia que tinham duração
de três anos em caráter de bacharel para atuar como gestor educacional, popularmente
reconhecido como técnico em educação, acoplado a mais um ano dedicado ao estudo da
didática em caráter de licenciado com a função de lecionar nas séries iniciais do ensino
fundamental e nas antigas Escolas Normais. Essa dualidade na formação acadêmica do
pedagogo acarretou uma crise de identidade, quanto ao seu campo de atuação. Mesmo
sendo regulamentado várias vezes, o curso apresentava pouca flexibilidade no currículo
132 mínimo, fato que contribuía para restrição do campo de atuação do pedagogo.
Movida pelo processo de industrialização, fortalecido com fim da Revolução de
1930, a sociedade brasileira enfrentou, nessa época, intensas mudanças no panorama
social, em particular na educação, em que a nova arma para promover o crescimento do
Brasil era a indústria. A restrição quanto ao espaço de trabalho para o pedagogo é reflexo
deste cenário social, pois não havia necessidade, naquela época, deste profissional em
outro espaço, o que se esperava era apenas a atuação no ambiente escolar. Paralelamente
a essas mudanças, destaca-se a promulgação da Constituição Federal de 1934, na qual
garante o direito à educação e, posteriormente, em 1988, expresso como direito universal.
A educação ganha nova configuração e maior organização, expressa nos artigos
da Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB (Lei 9394/96), criada em 1961 seguida
por uma versão em 1971 e sancionada em 1996, que atualmente define e regulariza o
sistema educacional com base nos princípios da universalização da educação, previstos na
Constituição Federal.
Em 15 de maio de 2006 foi publicada no Diário Oficial da União a Resolução CP/
CNE nº. 1/2006 que instituía as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Graduação
em Pedagogia, propiciando discussões sobre novas demandas de trabalho que possibilitam
a atuação desse profissional em diferentes espaços e trazendo uma nova proposta para
a formação do pedagogo que rompe com a concepção dicotomizada de formação do
pedagogo como professor, que leciona na educação infantil e nas séries iniciais do ensino
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5. fundamental, e do pedagogo como gestor, visto como especialista ou técnico, dividindo
a pedagogia em licenciatura e bacharelado com o intuito de unir os dois no desafio de
formar um profissional apto a desenvolver inúmeras funções. Diante disso, cabe repensar o
conceito de docência no sentido mais amplo, considerando suas diversas instâncias.
Compreende-se a docência como ação educativa e processo
pedagógico metódico e intencional, construído em relações sociais,
étnico-raciais e produtivas, as quais influenciam conceitos, princípios
e objetivos da Pedagogia, desenvolvendo-se na articulação entre
conhecimentos científicos e culturais, valores éticos e estéticos
inerentes a processos de aprendizagem, de socialização e de
construção do conhecimento, no âmbito do diálogo entre diferentes
visões de mundo. (CNE/CES nº.1, Art. 2 inc. 1 2006).
As Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Pedagogia redimensionam a
função docente ao entendê-la na sua pluralidade, não restringindo apenas ao espaço
escolar, ao processo ensino-aprendizagem, mas compreendendo-a como valiosa
experiência que perpassa valores, princípios e contextos político, econômico, social e
cultural. Nesse sentido, constrói-se a identidade do novo profissional da pedagogia. As
Diretrizes se coadunam, assim, aos novos paradigmas sociais, mostrando que a pedagogia
não está restrita apenas ao exercício da docência em sala de aula, e sim à formação de
profissionais críticos e reflexivos acerca da sua função social, sendo capaz de criar e recriar,
construir e reconstruir conceitos práticos que atendam as necessidades de uma sociedade
que se encontra em pleno estágio de metamorfose e evolução. 133
A expansão do conceito de educação e as novas formas de concebê-la acarretaram
o surgimento de novos campos de atuação e, consequentemente, a necessidade de
profissionais capacitados para atender as múltiplas necessidades da sociedade moderna,
caracterizando esta como a era da informação, do conhecimento.
Todavia, a minoria das Instituições de Ensino Superior no estado de Sergipe
foge ao padrão da formação acadêmica para atuação em sala de aula, ofertando nas
matrizes curriculares dos Cursos de Pedagogia disciplinas, como Pedagogia Empresarial,
que ampliam a discussão acerca das atribuições que estão sendo lançadas ao Pedagogo
na sociedade contemporânea por meio de mudanças imensuráveis. Nesse contexto, as
Instituições precisam expandir a visão para o novo cenário que está se formando. Este
demanda a atuação de pedagogo em diversos espaços, mas que só serão devidamente
ocupados a partir do momento em que os profissionais tomarem ciência para conquistar
o seu lugar no mercado de trabalho e, consequentemente, a valorização da sociedade.
3. PEDAGOGIA EMPRESARIAL, SOCIAL E HOSPITALAR.
3.1. PEDAGOGIA EMPRESARIAL
Nas empresas, sejam elas públicas ou privadas, o conhecimento destaca-se como
instrumento de qualidade e produtividade. É crescente a competitividade e, consequentemente,
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6. a necessidade de qualificação e desenvolvimento de competências dos funcionários. Com isso
surgem inúmeros desafios para as organizações que precisam de profissionais polivalentes
para suprir as novas demandas, em que a principal arma para enfrentar a competitividade é
o conhecimento. Por essa razão, a educação é idealizada dentro e fora da empresa como um
diferencial, privilegiando o desenvolvimento de atitudes e habilidades exigidas no contexto da
sociedade contemporânea que demanda muito mais que técnicos e operadores de máquinas.
“A nova sociedade será uma sociedade do conhecimento. O conhecimento será seu principal
recurso e os trabalhadores do conhecimento constituirão o grupo dominante da força de
trabalho” (DRUCKER, 1993, p. 125).
Neste espaço é fundamental a presença do pedagogo zelando pelas ações de
caráter educativo relacionadas ao desenvolvimento do trabalhador com capacitação,
além de avaliar e diagnosticar constantemente futuras necessidades ou falhas indicando
metodologias adequadas ao contexto empresa.
Se a pedagogia é a ciência da educação, o pedagogo deve ser considerado o
profissional de maior cabedal para atuar em diversos espaços de conhecimento, como por
exemplo, nas empresas, pois o cerne da sua formação acadêmica consiste na promoção
da educação como um todo. A educação como um todo não dispõe de ingredientes e
receitas infalíveis. No âmbito empresarial não ocorre diferente, não se delimita a atuação
do pedagogo nesse contexto em decorrência da pluralidade de funções que este pode
ocupar, muito pelo contrário, a atuação deste profissional será marcada pela necessidade,
134 caráter educativo, diagnosticada na organização empresarial.
Visando auxiliar o bom desenvolvimento dos integrantes da corporação, o
pedagogo empresarial elabora e coordena projetos e programas de formação continuada,
contribuindo assim para o aprimoramento, bem como a promoção do conhecimento
neste novo espaço. Além de promover o acesso ao conhecimento dentro da empresa,
este profissional, de forma interdisciplinar e fazendo uso de metodologias diversificadas
e adequadas ao público com o qual vai lidar, deve ter o olhar atento para o alcance dos
objetivos traçados pela empresa quanto ao aprendizado dos funcionários, visto que este
será o diferencial no mercado.
Os funcionários precisam ser analisados individualmente, pois as
pessoas respondem de formas diferentes a estímulos iguais, e a
união destas diferenças leva à soma de idéias, construindo uma
‘corrente’. O conjunto de inspirações de cada indivíduo do grupo
é que torna uma equipe construtiva, desta forma, fazê-los ter
satisfação em seu trabalho, proporciona prazer que é o combustível
da produtividade (LOPES; TRINDADE; CANDINHA 2007, p. 177).
Por meio da motivação, uma das suas principais estratégias para qualificação
e capacitação dos funcionários, o pedagogo empresarial, como mediador e facilitador,
pode provocar mudanças no perfil do funcionário, contribuindo para que ele tenha mais
confiança, flexibilidade, criatividade, se perceba produtivo e capaz de crescer tanto no
âmbito profissional como pessoal, despertando o prazer no desempenho das funções e
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7. favorecendo a empresa que gera maior produtividade e, consequentemente, bons lucros.
É mister ressaltar a relevância da flexibilidade quanto ao uso de estratégias e metodologias
pedagógicas além da aptidão de trabalhar em grupo.
Outra possibilidade de atuação do Pedagogo Empresarial é na
divulgação de produtos da empresa. Para isso, é necessário pesquisar
sobre o público alvo, desenvolver estratégias de convencimento
utilizando das ferramentas adequadas, sendo extremamente
importantes os conhecimentos na área de psicologia e de marketing.
Cabe ressaltar, que tanto na primeira como na segunda situação, é
fundamental que o Pedagogo Empresarial atue em articulação com
uma equipe multidisciplinar. (MARTINS, 2008, p. 18)
O pedagogo empresarial, junto com outros profissionais que atuam nas
organizações empresariais, forma uma parceria de extrema relevância, visto que, em meio
à contemporaneidade onde capital intelectual é considerado instrumento de qualidade
e produtividade por meio da peça chave: a educação, ambos tem o objetivo de formar
cidadãos críticos dotados de competências e habilidades para atuar de forma satisfatória
na sociedade da informação.
3.2. PEDAGOGO SOCIAL
A inclusão social apresenta-se como um paradigma que mobiliza esforços em
todo o mundo a fim de ofertar a todos, indistintamente, o direito ao exercício da cidadania 135
em sua plenitude, perpassando todas as esferas sociais.
Amparada pelos princípios do respeito à diversidade, a igualdade, a aceitação e
a valorização da subjetividade humana na convivência social, a inclusão social consiste
basicamente na construção de uma sociedade igualitária com oportunidades iguais em
todos os setores sem qualquer distinção por origem nacional, sexual, de religião, gênero,
cor, idade, raça ou deficiência representados pelo termo diversidade. Tais princípios são
amparados pela legislação brasileira que garante a igualdade de direitos e o exercício da
cidadania, dentre as quais se destacam a Constituição Federal (1988), que é desmembrada
em leis menores, visando a atender de forma eficaz as necessidades de cada estado, como
o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069 (1990), que em seus artigos prevê
os direitos da criança e do adolescente, e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LBD
9.394/96, que destaca em seus artigos os direitos subjetivos à educação dos cidadãos com
idade de 0 a 14 anos. Diante do exposto convém afirmar que inclusão não é apenas
respeitar os direitos sociais e subjetivos garantidos nos artigos que compõem a legislação,
mas, sim a concepção de que a ta pela
No contexto do mundo globalizado abre-se um novo campo de atuação para o
pedagogo, a Pedagogia Social, que busca reconstruir o bem coletivo a partir das relações
sociais no campo educacional, mas, não necessariamente na educação formal. Para tanto,
desenvolve projetos educacionais, sociais e culturais. Nessa área a Pedagogia Social se
confunde com o serviço social, mas, se distinguem pelo caráter educacional.
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8. O pedagogo atua no campo educacional com seres humanos, agentes de
transformação e tem nas mãos o conhecimento, considerado o mais valioso instrumento
de mudança nesta sociedade. Pautado na ideologia de uma educação humanizadora o
pedagogo social atua prioritariamente na inclusão de grupos vulneráveis ou marginalizados
que se encontram à margem da sociedade, contribuindo, a partir do respeito mútuo à
subjetividade, para a socialização destes.
Esse trabalho se dá em espaços de educação não formal como: abrigos, casa
de recuperação para menores, em presídios, além de outros contextos que contribuem
para a exclusão destes grupos. Visando a desenvolver uma práxis comprometida com
a transformação social, o pedagogo precisa adequar suas metodologias de forma que
auxilie na construção e respeito da subjetividade dos atendidos, bem como na elevação
da autoestima dos mesmos, visto que estes possivelmente sofreram a exclusão na escola
formal por meio de insultos taxativos e ainda enfrentam por estarem presos, ou serem
moradores de rua, ou por qualquer outra situação que foge do padrão social.
Convém ressaltar que, por meio da pedagogia social, existe a possibilidade
de atuar na gestão e planejamento de projetos sociais com a finalidade de mediar a
construção da autonomia e, consequentemente, a inserção destes grupos no meio social.
Conforme CARVALHO; AZEVEDO; CUNHA; PUGLIA (2009, p. 22)
As funções e atribuições do Pedagogo dentro do projeto relacionam-
se a cinco campos: atividades pedagógicas, técnicas e organizacionais,
136 sociais e administrativas, podendo ser assim sintetizadas:
- Conceber, planejar, desenvolver e administrar atividades
relacionadas à educação.
- Diagnosticar a realidade institucional.
- Elaborar e desenvolver projetos, buscando conhecimento também
em outras áreas profissionais.
- Coordenar a atualização em serviço dos profissionais da equipe.
- Planejar, controlar e avaliar o desempenho profissional dos
envolvidos.
- Assessorar o projeto no que se refere ao entendimento dos
assuntos pedagógicos atuais.
Desse modo, as atribuições do pedagogo na elaboração e gestão de projetos
sociais exigem, além da flexibilidade, a interdisciplinaridade e a sintonia para trabalhar em
equipe propondo ações que viabilizem a atuação dos profissionais envolvidos de forma
satisfatória e que atendam às necessidades dos atendidos.
3.3. PEDAGOGIA HOSPITALAR
Visto que o foco do pedagogo é a educação, o cerne do seu trabalho consiste na
relação do processo ensino-aprendizagem que está presente nos mais diversos espaços,
não obedecendo a uma ordem sistemática, o que denominamos educação não formal,
uma frente relativamente nova que oferta ao pedagogo atuação em Organizações Não
Governamentais e hospitais, por meio da Pedagogia Hospitalar.
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9. Nas Organizações Não Governamentais o pedagogo atua ministrando cursos
e palestras, elaborando e coordenando projetos com fins pedagógicos, por meio de
estratégias que atendam a necessidade do público alvo visando a promover uma educação
humanizadora para o pleno exercício da cidadania das pessoas assistidas pela organização.
Com o intuito de evitar a interrupção, mesmo que parcial, da escolaridade das
crianças afastadas da escola em função das internações, o Ministério da Educação,
por intermédio da Secretaria Nacional de Educação Especial propiciou o atendimento
educacional nos hospitais criando o Serviço de Classes Hospitalares que visa a manter os
vínculos escolares e a possibilidade de retorno do educando às escolas de origem após a
alta, assegurando sua reintegração ao currículo. Essa é uma forma de motivá-los a aprender
mesmo que não estejam no ambiente escolar e contribuir para a elevação da autoestima à
medida que este se percebe como um ser ativo na construção do conhecimento.
Esta ação do MEC se coaduna com a legislação, sobretudo com a Constituição
Federal, que assegura em seu o artigo 214, inciso 2, que “as ações do Poder Público devem
conduzir a universalização do atendimento escolar”. Nesse sentido a Educação se expressa
como direito à aprendizagem e à escolarização, em diversos espaços da sociedade.
Nesta perspectiva a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB, em seu artigo 5,
inciso 5, assegura que:
Art. 5º O acesso ao ensino fundamental é direito público subjetivo,
137
podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação
comunitária, organização sindical, entidade de classe ou outra
legalmente constituída, e, ainda, o Ministério Público, acionar o
Poder Público para exigi-lo.§ 5º. Para garantir o cumprimento da
obrigatoriedade de ensino, o Poder Público criará formas alternativas
de acesso aos diferentes níveis de ensino, independentemente da
escolarização anterior.
Dessa forma, compete ao Poder Público ofertar, em diferentes contextos, o acesso
aos diferentes níveis de ensino, podendo organizar-se de diversas formas para garantir o
processo de aprendizagem. Quanto ao papel do pedagogo, Elizete Lúcia Moreira Matos
afirma que:
Além de garantir o direito escolar do enfermo à escolarização,
acredita-se que o pedagogo possa estar atuando integradamente
em diversos setores do hospital. O pedagogo hospitalar pode
promover ações educativas junto às diversas possibilidades no
hospital, dentre elas, pessoas idosas, com vistas ao bem-estar
completo, isto é, físico, mental, social, educacional, dentre outras
possibilidades que aí se apresentam; a educação numa dimensão
integrada aos diversos setores da área de saúde, promovendo
cuidados com a própria saúde, as práticas de sociabilidade, resgate
da auto-estima e auto-avaliação. (MATOS, 2009, p. 37)
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10. Integrado à equipe multidisciplinar o Pedagogo Hospitalar atua no planejamento
e execução de projetos, atividades lúdicas e estratégias pedagógicas que visam a uma
melhor e mais eficaz socialização dos pacientes que ficam internados e impossibilitados
de comparecer à escola. Todavia, ele não será o único responsável pelo conteúdo a ser
dado, mas deve abrir espaço para que os assistidos se expressem e socializem aquilo
que eles consideram pertinente e desejam expor neste espaço de ensino-aprendizagem.
Como afirma Paulo Freire (1996, p.23), um dos maiores pensadores da educação como
prática de liberdade e defensor de uma educação humana, “quem ensina aprende ao
ensinar e quem aprende ensina ao aprender”.
4. DESAFIOS
É mister ressaltar que as mudanças que se processam no âmbito educacional é
que delimitam e ampliam o campo de atuação do pedagogo, considerando este como
cientista da educação. O novo perfil profissional do pedagogo é movido por mudanças
contínuas, que se revelam como desafios que exigem deste profissional uma formação
crítica e reflexiva, além da persistência para superar os paradigmas sociais existentes e os
que estão por vir, a fim de conquistar os espaços que lhe são de direito.
Face ao leque de possibilidades do pedagogo na esfera de sua atuação, é notória
a importância da presença desse profissional nos mais variados espaços, pois, onde
houver aprendizagem, educação, o pedagogo pode contribuir. As funções descritas pelos
138 verbos orientar, construir, liderar, auxiliar, programar, planejar, acompanhar, desenvolver,
pesquisar, analisar, cooperar, destacam a magnitude desta profissão que, vez por outra, é
limitada pela falta de reconhecimento da sua função social e educativa.
O curso de pedagogia é limitado popularmente apenas ao ensino das séries
iniciais, daí a relevância do referido estudo para difundir conhecimentos sobre os novos
campos que devem ser ocupados por pedagogos. Nesse contexto convém ressaltar os
desafios enfrentados por este profissional no ato do oficio, oriundos desde a criação e
instalação do curso de pedagogia.
Frente aos espaços ocupados por outros profissionais no mercado de trabalho o
pedagogo vem buscando e gradativamente conquistando o espaço que lhe é de direito na
sociedade, porém, há muito para ser conquistado como o reconhecimento do pedagogo
como o intelectual da educação, e não apenas como o professor da educação infantil
além, da ampliação da discussão do campo de saber, bem como da atuação do pedagogo
para disseminação das aptidões desse profissional para que surjam mais oportunidades
principalmente em concursos públicos.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio de uma breve retomada ao contexto histórico do Curso de Pedagogia
no Brasil, foi possível identificar as causas primordiais da crise de identidade profissional
do pedagogo que acarretaram os paradigmas sociais acerca do seu posto de trabalho.
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11. Numa abordagem qualitativa, o presente estudo propiciou uma ampla discussão
com base teórica, acerca das possibilidades de atuação do pedagogo, caracterizado na
sociedade contemporânea como cientista da educação, visto que o cerne do seu estudo
perpassa as diversas instâncias do campo educacional.
O propósito deste estudo não foi questionar se o pedagogo deve ou não atuar
em outros espaços que não seja o ambiente escolar, pois esta é uma necessidade do
mundo globalizado que clama por profissionais capacitados e polivalentes para enfrentar
as mudanças com tamanha rapidez. A priori, o objetivo foi contribuir para a disseminação
de conhecimento sobre a amplitude da atuação deste profissional.
Analisando suas funções no ambiente empresarial fica mais que comprovada
a contribuição que o pedagogo pode adicionar rumo ao sucesso da empresa. Resta a
inquietação sobre o muro de silêncio que permanece acerca da ausência deste profissional
nas organizações. Portanto, esse é mais um instrumento para que o conhecimento seja
disseminado em meio à sociedade, os paradigmas sejam quebrados e este seja reconhecido
como gestor do conhecimento, ocupando o cargo que lhe é de direito.
Fugindo aos padrões historicamente construídos pela sociedade, buscou-se uma
reflexão acerca do papel do Pedagogo Social e Hospitalar, este atuando em espaços não
escolares, buscando construir e reconstruir o bem coletivo. Ao lidar com grupos que se
encontram à margem da sociedade ou que enfrentam uma dura realidade no ambiente
hospitalar, no qual o medo e angústia se fazem presentes, estes profissionais estabelecem 139
um elo entre os atendidos e o contexto social que estes vivenciam, diminuindo a distância
do ambiente escolar.
Em suma, como cientista da educação, o Pedagogo é movido profissionalmente
por desafios que se revelam a cada mudança que se processa na sociedade e, como toda
mudança demanda uma ação em âmbito educacional, este é o profissional dos tempos
modernos. Para tanto, o Pedagogo precisa acompanhar esse processo e se atualizar
para lidar com seres humanos dotados de subjetividade e donos do tesouro do mundo
globalizado, o capital intelectual.
SOBRE A AUTORA
Mirianne Santos de Almeida é graduada (2009/2) em Pedagogia pela Universidade
Tiradentes. O presente estudo foi apresentado à referida instituição como trabalho de
conclusão de curso 2009/2, sob a orientação da Professora Msc. Betisabel Vilar.
Contato com a autora mirianne_almeida@hotmail.com
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12. REFERÊNCIAS
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação? 49. ed. São Paulo: Brasiliense, 2007.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília:
Senado Federal, 1988. Disponível em < http://www.planalto.gov.br > Acesso em: 03 Nov.
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