Polígonos, Diagonais de um Polígono, SOMA DOS ANGULOS INTERNOS DE UM POLÍGON...
A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas mirza pellicciotta
1. III SOU ÁFRICA EM TODOS OS SENTIDOS
SOU EU ...ORGULHO DE ZUMBI
Palestras, Oficinas, Rodas de Conversa -
Exposição, Pratos típicos, Fomento e
Difusão da Cultura Negra
A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de Campinas
Mirza Pellicciotta
Historiadora, Coordenadora de Turismo da
Secretaria de Comércio, Indústria, Serviços e
Turismo
Campinas, 15/11/2011
5. A população original do bairro rural do Mato Grosso compunha-se
de paulistas (mestiços de índios e europeus) e sertanejos de
regiões diversas da capitania, que no curso do século XVIII se
fixaram nas proximidades da Estrada dos Goiases para
desempenhar atividades de abastecimento.
6.
7. Marcos de transformação:
implantação e desenvolvimento da
economia açucareira (1770/1830)
As populações africanas começam a chegar ao
território campineiro com as lavoras de cana de
açúcar nas últimas décadas do século XVIII,
período em que o bairro rural transforma-se em
Freguesia e em seguida, numa Vila.
8.
9.
10. Na Vila de São Carlos, cresce
progressivamente o número
de escravos:
1775: 18,3% (cerca de 50
escravos entre 247 pessoas)
1797: por volta de 29% (700
escravos entre 2107 pessoas)
1814: 33,8%
1829: 56,2%
Procedentes de diferentes regiões africanas, a região registra uma importante heterogeneidade cultural, apesar
de prevalescer os povos bantu (Robert Slanes). Por outro lado, os escravos não se mantém concentrados numa
mesma propriedade: um quarto das fazendas contava com menos de 20 cativos, metade delas menos de 50 e
87% menos de 100 (Slenes, 1999, p57).
11.
12.
13. Na origem da malha urbana, as áreas
conhecidas como “campinas velhas” e
“bairro de santa cruz” , localizadas nas
proximidades dos pousos, reúnem o maior
contingente de trabalhadores livres e
escravos)
14.
15. Nos desenhos de Miguel Dutra, de meados do século XIX, identificamos as marcas de uma malha urbana que cresce em meio às
lavouras extensivas. Uma população mestiça, ocupada em atividades de comércio e serviços, faz crescer lentamente a Vila de São
Carlos (1797) e a cidade de Campinas (1842)
20. Evolução da População Escrava
Campinas, 1836-1886
14.000
12.000
10.000
População
8.000
6.000
4.000
2.000
0
1836 1854 1874 1886
Anos
Gráfico 1: Evolução da população escrava. Município de Campinas 1836-1886
Fonte: Elaborado a partir de Camargo, 1981: 68
A economia cafeeira sacramenta o trabalho escravo e promove a
fixação de uma população negra nas áreas rural e urbana do
município. Em meados do século XIX, etnias africanas compõem
a maior parte da população de Campinas.
21.
22. Da porção rural da Vila (1797) e da cidade (1842) origina-se a acumulação de riquezas do município, gerada com base nem relações de
escravidão.
23. Na porção urbana, crescem as atividades e as modalidades de trabalho que também se fundamentam, em largas proporções, em
relações de escravidão
24. Com a chegada da ferrovia, em 1872, as dinâmicas de produção, comércio e serviços se intensificam, assumindo Campinas o papel de
entroncamento ferroviário dos sertões paulistas.
25. Na aceleração do desenvolvimento rural e urbano da Província, o mundo paulista promove a imigração em massa: 70 grupos étnicos
passam por Campinas rumo às lavouras e novas cidades entre as décadas de 1870 e 1930 . Mas neste mesmo período – em que a
população de Campinas aumenta quase 4 vezes - a população de cor não apresenta crescimento proporcional respondendo
em boa medida à política oficial de reduzir o contingente de população negra no interior do Brasil.
26.
27.
28. No início do século XX, com uma malha urbana cada mais mais complexa e diversa, trabalhadores das mais variadas etnias e
procedências disputam espaço em busca de sobrevivência.
29. Uma sociedade de origens étnicas diversas compõe o cenário da cidade, e em meio a ela, um grande contingente de origem negra
cumpre papel estrutural, destacando-se nas mais variadas modalidades de trabalho, cultura, educação, especialização.
30. Cleber Maciel da Silva (1987): a partir dos
registros de imprensa, a população negra
entre as décadas de 1880 e 1920, a
depender dos recursos econômicos, achava-
se representada como "homens de cor",
"brasileiros negros", "mulatos", "pardos“,
"mestiços”, "pretos" e "pretas".
31. Flor da Mocidade: entre as décadas de 1880 e1920
Filhas de Averno: 1888 a 1895
Sociedade Beneficente Luiz Gama: fundada em 1888, resiste
pela décade de 1890
Sociedade 13 de Maio: fundada em 1888, resiste pela décade
de 1890
Violeta: 1895
Estrela do Oeste: 1895
Sociedade Beneficente Isabel a Redentora: a partir de 1899
Sociedade Dançante Familiar União da Juventude: a partir de
1901
“Club União”: 1920
Federação Paulista dos Homens de Cor: 1902
Centro Recreativo Dramático Familiar 13 de Maio: 1909/1919
Liga Humanitária dos Homens de Cor: 1915
Sociedade Cívica Homens de Cor: 1915
Grêmio Recreativo Dançante Estrela Celeste: 1916 e 1917
Estrela do Norte. Existiu em 1916 e 1917.
Clube Recreativo 28 de setembro: 1916 e 1917.
Grêmio Recreativo Dançante Familiar José do Patrocínio: 1917
Liga Protetora dos Homens de Cor: 1917 a 1923.
Associação Protetora dos Brasileiros Pretos: 1918 a 1928
Grêmio Dramático Luiz Gama. 1919 a 1923.
Excêntricos: 1919. Sofreu violenta perseguição e violência da
polícia.
Centro Cívico dos Homens de Cor. 1922.
Sociedade Campineira dos Homens de Cor: 1922.
Associação Campineira dos Homens de Cor: 1923
Centro Cívico Palmares: 1926
Jornais: O Bandeirante (1910), O Menelick (1916), jornal Hífen (1915),
Getulino
32. “Salta aos olhos no noticiário a representatividade numérica das festas dançantes –
classificadas ali nas categorias festas, saraus e bailes –, as quais, segundo as
notícias, realizavam-se semanalmente (saraus dançantes), ou mensalmente, ou em
datas e quadras comemorativas (Carnaval, Dia do Trabalhador, Dia da Abolição, Dia
"da Mãe", Quadra Junina, Natal, Ano Novo, Aniversário do Clube etc.). Essas
reuniões festivas tinham lugar nos salões e eram patrocinadas por dois grandes
clubes negros campineiros: o Clube Nove de Julho e o Elo Clube, e reuniam a
"melhor sociedade campineira". Elas contavam ainda, muitas vezes, com a
participação (sempre noticiada) de "caravanas" vindas de outras cidades do "interior
paulista" – organizadas por representantes de entidades, clubes e jornais da gente
negra de cada uma delas – e também da gente da capital que desfrutava, na
ocasião, de uma temporada na "Princesa do Oeste", designativo elogioso usado
para a cidade de Campinas. A longa lista desses encontros dançantes incluía os
seguintes: Baile dos Veteranos; Baile das Rainhas; Baile do Mambo; Baile dos
Penteados; Sarau do Sweter [sic]; Tarde Dançante "Agulha de Ouro" (com desfile de
modas, de "25 senhoritas de nossa sociedade"); Festa Americana (ao som de hi-fi7,
em vez de orquestra ou conjunto); Baile da Elegância (com escolha "dos 10 e das 10
mais elegantes freqüentadores do clube"); Baile da Aleluia; Baile do Rock'n Roll
(organizado, em Campinas, por um clube da capital); Festa da Mãe do Ano (no "Dia
da Mãe" [sic], com eleição da "Mãe do Ano"); Baile do Perfume; Baile "Uma Noite
de Maio"; Festa dos Brotos; Baile "Noite de Natal"; Baile da Pérola Negra; Baile de
Coroação da Jóia d'Ébano [sic]; Festa do "Desfile Bossa Nova"; Baile Esporte (com
traje esporte obrigatório). São, portanto, vinte tipos de bailes, dos quais, pelo
menos alguns deles, de acordo com a forma de comentá-los, realizaram-se com
certa continuidade. Estão neste caso os bailes: das Rainhas, dos Veteranos, da
Pérola Negra, da Jóia d'Ébano, e as festas da Mãe do Ano e Americana (...) Baile das
Rainhas, realizado no "Ginasium do Club Campineiro de Regatas e Natação" – cuja
sede, até os anos setenta pelo menos, era alugada para festas promovidas por
entidades negras” (Maria Angelica Motta-Maués, Negros em bailes de negros*:
sociabilidade e ideologia racial no "meio negro" em Campinas (1950/1960)
33. “Campinas é objeto de inúmeros relatos de casos concretos de atitudes racistas, perpetradas em seus estabelecimentos
comerciais (bares, restaurantes, barbearias etc.), os quais, ou não atendiam negros, simplesmente, ou só o faziam em espaços
determinados para eles (no fundo das lojas ou fora do salão principal), ou em horários não freqüentados pelos fregueses
brancos. Como era o caso de barbearias, que atendiam os negros antes de abrir ao público para não "ofender" os
clientes.5 Essa presença visível do racismo contra o negroqua negro, não mais o escravo ou o liberto – que já se via nas duas
primeiras décadas do século XX (cf. particularmente Maciel, 1987), tal como será em São Paulo, especialmente a partir do
começo dos anos 30, com o processo de industrialização (cf. Fernandes, 1978; Hasenbalg, 1979; Andrews, 1991), implica, por
seu turno, em que Campinas seja também uma espécie de berço da luta negra na segunda metade do recém-passado século”.
(Maria Angelica Motta-Maués, Negros em bailes de negros*: sociabilidade e ideologia racial no "meio negro"
em Campinas (1950/1960)
37. Irene Barbosa (1983): presença nas décadas de 1960/1970 de uma elite (assim classificada pelos integrantes) que
conta com padrões semelhantes aos "das famílias brancas de classe média e (...) cuja característica mais
importante é o cultivo da respeitabilidade"
Evolução da População de Campinas, 1900-2000
1.200.000
1.000.000
800.000
População 600.000
400.000
200.000
0
1900 1920 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000
Anos