2. RELIGIÃO 341–343
HISTÓRIA DA IGREJA
NA PLENITUDE DOS TEMPOS
A História de
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias
Preparado pelo
Sistema Educacional da Igreja
Publicado por
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias
São Paulo, Brasil
4. SUMÁRIO
Prefácio ................................................................................. v
Capítulo Um Prelúdio da Restauração ...................................... 1
Capítulo Dois A Influência das Tradições da Nova
Inglaterra em Joseph Smith ............................... 14
Capítulo Três A Primeira Visão ................................................. 28
Capítulo Quatro Período de Preparação, 1823–1829 ................... 37
Capítulo Cinco A Origem do Livro de Mórmon e a
Restauração do Sacerdócio ................................ 52
Capítulo Seis A Organização da Igreja de Jesus Cristo.......... 67
Capítulo Sete A Expansão da Nova Igreja ............................... 79
Capítulo Oito Coligação em Ohio.............................................. 89
Capítulo Nove Coligação na Terra de Sião............................... 102
Capítulo Dez O Desenvolvimento da Igreja em Ohio,
1831–1834............................................................ 113
Capítulo Onze A Expulsão do Condado de Jackson .............. 127
Capítulo Doze O Acampamento de Sião ................................. 140
Capítulo Treze Dias Gloriosos em Kirtland, 1834–1836 ......... 153
Capítulo Quatorze A Apostasia em Kirtland, 1836–1838.............. 169
Capítulo Quinze A Igreja no Norte do Missouri, 1836–1838 .... 181
Capítulo Dezesseis As Perseguições e a Expulsão do Missouri ... 193
Capítulo Dezessete Refúgio em Illinois ............................................ 211
Capítulo Dezoito A Missão dos Doze ........................................... 225
Capítulo Dezenove A Vida em Nauvoo, a Bela............................... 240
Capítulo Vinte Desenvolvimento da Doutrina em Nauvoo.. 251
Capítulo Vinte e um Conflito Crescente em Illinois ......................... 263
CapítuloVinte e dois O Martírio .......................................................... 272
CapítuloVinte e três Os Doze Assumem a Liderança do Reino ..... 286
CapítuloVinte e quatro Nauvoo sob a Liderança Apostólica .............. 297
CapítuloVinte e cinco A Jornada através de Iowa............................... 308
CapítuloVinte e seis Pioneiros no Oeste ............................................ 322
CapítuloVinte e sete O Estabelecimento de um Refúgio em
Deseret ................................................................ 337
CapítuloVinte e oito O Isolamento de Utah ...................................... 352
CapítuloVinte e nove A Guerra de Utah.............................................. 368
CapítuloTrinta O Período da Guerra Civil............................... 380
CapítuloTrinta e um A Busca da Auto-Suficiência ........................... 392
iii
5. HISTÓRIA DA IGREJA NA PLENITUDE DOS TEMPOS
Capítulo Trinta e dois A Presidência de Brigham Young:
A Década Final ................................................. 406
Capítulo Trinta e três Uma Década de Perseguição, 1877–1887....... 422
Capítulo Trinta e quatro Uma Era de Reconciliação ............................... 435
Capítulo Trinta e cinco A Igreja na Virada do Século ........................... 451
Capítulo Trinta e seis A Igreja no Início do Século XX....................... 465
Capítulo Trinta e sete Progresso no Novo Século ............................... 481
Capítulo Trinta e oito Mudança e Constância ..................................... 495
Capítulo Trinta e nove A Igreja durante a Grande Depressão............ 509
Capítulo Quarenta Os Santos durante a Segunda
Guerra Mundial................................................. 522
Capítulo Quarenta e um A Recuperação no Pós-Guerra ........................ 535
Capítulo Quarenta e dois Crescimento para uma Igreja Mundial .......... 550
Capítulo Quarenta e três Uma Era de Correlação e Consolidação ........ 562
Capítulo Quarenta e quatro A Igreja Alarga Seus Passos............................. 579
Capítulo Quarenta e cinco Atender às Necessidades de uma
Igreja Mundial ................................................... 591
Capítulo Quarenta e seis Um Período de Desafios e de
Crescimento ....................................................... 601
Capítulo Quarenta e sete Crescimento Contínuo Durante a
Última Década do Século XX .......................... 616
Capítulo Quarenta e oito A Igreja Sai da Obscuridade ............................ 628
Capítulo Quarenta e nove O Destino da Igreja ........................................... 646
Referências Remissivas de
Doutrina e Convênios
com a História da Igreja ............................................................................. 650
Membros do Quórum dos
Doze Apóstolos ............................................................................. 653
Fontes de Consulta para
Leitura Adicional ............................................................................. 661
Índice Remissivo ..............................................................................669
iv
6. Prefácio
N
OS ÚLTIMOS DIAS “o Deus do céu levantará um reino que não
será jamais destruído”. Esse reino predito por Daniel foi
comparado a uma pedra “que do monte foi cortada (...) sem
auxílio de mãos” e que rolará, ganhando gradativamente mais impulso,
até encher toda a Terra. (Daniel 2:44–45; ver também D&C 65:2.)
O Élder Mark E. Peterson, do Quórum dos Doze Apóstolos, testificou:
“A Igreja a que pertencemos é a pedra que foi cortada do monte sem
auxílio de mãos. Temos a missão de ajudá-la a rolar adiante”. (Conference
Report, outubro de 1960, p. 82.)
Desde a época de Adão, os profetas aguardaram ansiosamente o início
da dispensação da plenitude dos tempos, na qual o Senhor iria “tornar a
congregar em Cristo todas as coisas, (...) tanto as que estão nos céus como
as que estão na terra”. (Efésios 1:10)
O evento previsto por todos os santos profetas ocorreu na primavera
de 1820, quando Deus, o Pai, e Seu Filho Jesus Cristo apareceram a Joseph
Smith. Com essa gloriosa visão teve início o cumprimento das palavras
proféticas de Isaías, que testificou que o Senhor faria “uma obra
maravilhosa e um assombro” entre os filhos dos homens. (Isaías 29:14)
Tendo sido chamado por Deus, Joseph Smith estabeleceu os alicerces
da obra que seria edificada por seus sucessores. Por inspiração dos céus, o
Profeta traduziu o Livro de Mórmon, recebeu o santo sacerdócio e
organizou novamente a Igreja de Jesus Cristo entre os mortais. Por meio
dele foram restauradas as chaves do sacerdócio.
“E também, o que ouvimos? (...)
A voz de Miguel, o arcanjo, e a voz de Gabriel e de Rafael e de diversos
anjos, de Miguel, ou seja, Adão, até o tempo atual, todos anunciando sua
dispensação, seus direitos, suas chaves, suas honras, sua majestade e glória
e o poder de seu sacerdócio; dando linha sobre linha, preceito sobre
preceito; um pouco aqui, um pouco ali; dando-nos consolação pela
proclamação do que está para vir, confirmando nossa esperança!” (D&C
128:20–21).
Graças à restauração dessas chaves, Israel pode novamente ser reunida
de sua longa diáspora, e todas as ordenanças de salvação do evangelho
podem ser ministradas tanto aos vivos quanto aos mortos.
v
7. HISTÓRIA DA IGREJA NA PLENITUDE DOS TEMPOS
Este foi um dos primeiros mandamentos dados à Igreja: “Sião deve
crescer em beleza e em santidade; suas fronteiras devem ser expandidas;
suas estacas devem ser fortalecidas; sim, em verdade vos digo: Sião deve
erguer-se e vestir suas formosas vestes”. (D&C 82:14)
Desde aquela época, a Igreja sobreviveu à expulsão de quatro estados,
ataques e perseguições contínuas a seus líderes e membros, uma ordem de
extermínio decretada por um governador, o martírio de seu profeta, a
perda dos direitos civis imposta pelo governo e a pobreza dos santos. A
Igreja resistiu e sobreviveu a todas essas coisas em seu primeiro século de
história. Enfrentando toda essa adversidade, perseguição e pobreza,
adquiriu força e maturidade.
Quando o sobrinho do Profeta e filho de Hyrum, Joseph F. Smith,
tornou-se Presidente da Igreja, foi-lhe possível dizer: “Já atravessamos os
estágios da infância (...) e estamos realmente nos aproximando da
maturidade em nossa experiência no evangelho” (Conference Report, abril
de 1909, p. 2).
O trabalho missionário converteu muitas pessoas em todas as partes
do mundo. Foram plantadas sementes no estrangeiro, à medida que as
missões se tornaram estacas. As fronteiras de Sião expandiram-se. Quando
Joseph Fielding Smith, filho do Presidente Joseph F. Smith, tornou-se
Presidente da Igreja, ele declarou: “Atingimos a maturidade como igreja e
povo. Alcançamos a estatura e a força que nos permitem cumprir a missão
que nos foi dada por meio do Profeta Joseph Smith de levarmos as boas
novas da restauração a todas as nações e povos do mundo”. (Conferência
de Área de Manchester, Inglaterra, 1971, p. 5.)
Dois anos mais tarde, o Presidente Harold B. Lee, sucessor do
Presidente Smith, disse: “Estamos testemunhando hoje a real manifestação
do poder do Senhor entre Seus santos, os membros da Igreja. Nunca nesta
dispensação, e provavelmente em nenhum outro período da história,
houve tamanho desejo de trabalhar manifestado pelos membros desta
igreja como agora. Suas fronteiras estão sendo expandidas, suas estacas
estão-se fortalecendo. (...)
Esta igreja não pode mais ser considerada a ‘igreja de Utah’ ou uma
‘igreja americana’, pois seus membros estão agora espalhados por toda a
Terra”. (Conference Report, abril de 1973, p. 6.)
Para descrever a expansão do evangelho em todo o mundo, o Senhor
usou a metáfora da pedra “que do monte foi cortada (...) sem auxílio de
mãos” por intervenção divina (Daniel 2:45). Essa pedra está rolando e
deverá verdadeiramente encher toda a Terra. O reino do Senhor então se
estabelecerá para sempre, e Ele governará todo o mundo e reinará na casa
de Israel, que são aqueles que O amam e guardam Seus mandamentos.
vi
10. CAPÍTULO UM
PRELÚDIO DA RESTAURAÇÃO
A
Cronologia R E S T A U R A Ç Ã O do evangelho de Jesus Cristo e o estabele-
Data Evento Significativo cimento de Sião são os dois grandes eventos da história da
34 – 100 A Igreja do Novo Testamento
humanidade que precederão a segunda vinda de Jesus Cristo.
sob a Direção dos Apóstolos “Em todas as épocas, o povo de Deus sempre teve interesse pela causa da
60 – 70 O Martírio de Pedro e Paulo edificação de Sião”, escreveu o Profeta Joseph Smith. “Trata-se de um tema
325 O Concílio de Nicéia abordado com grande júbilo por profetas, sacerdotes e reis, que
1300–1500 O Renascimento Europeu aguardavam ansiosamente a época em que vivemos.” 1 A restauração
1438 O Aperfeiçomento da ocorrida nestes últimos dias será o último ato, antes do milênio, do roteiro
Imprensa com Tipos Móveis
por Gutemberg
divino escrito por Deus para Seus filhos. Esta é a “dispensação da
1492 A Primeira Viagem de
plenitude dos tempos” (Efésios 1:10) na qual ocorrerá a “restauração de
Colombo à América tudo”, conforme Deus prometeu por meio de “todos os seus santos
1517 A Rebelião de Lutero contra a profetas, desde o princípio”. (Atos 3: 21)
Igreja Católica
Na verdade, o evangelho é mais antigo que a própria Terra. Seus
1620 A Chegada dos Peregrinos a
Plymouth
princípios são eternos e foram ensinados aos filhos de Deus nos conselhos
1740–1760 O Primeiro Grande Despertar
dos céus. O plano do Pai centralizava-se em Jesus Cristo, que foi escolhido
1775–1783 A Guerra da Independência
para ser “o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo”.
Americana (Apocalipse 13:8) Nesses conselhos, o Pai Celestial explicou que a Terra
1789 A Promulgação da seria um campo de provas para Seus filhos, ao declarar: “E assim os
Constituição dos Estados
Unidos da América provaremos para ver se farão todas as coisas que o Senhor seu Deus lhes
1790–1830 O Segundo Grande Despertar ordenar”. (Abraão 3:25) Para isso, o Pai concedeu a Seus filhos o princípio
eterno do arbítrio, a fim de que pudessem escolher o bem ou o mal. Lúcifer
rebelou-se contra o Pai e contra Seu plano, sendo expulso do céu. Tornou-
se conhecido como Satanás, ou o diabo, o pai de todas as mentiras, e
procura enganar os homens aqui na Terra e “(...) levá-los cativos segundo
sua vontade, sim, todos os que não derem ouvidos [à] voz [de Deus]”.
(Moisés 4:4)
Deus, por Sua vez, chamou profetas para ensinar a Seus filhos os
princípios e ordenanças de salvação do evangelho de Jesus Cristo. Desde o
princípio, sempre houve uma batalha entre o reino de Deus e o de Satanás.
A Igreja de Jesus Cristo, ou seja, a organização terrena do Senhor, foi por
diversas vezes estabelecida na Terra para reunir os filhos escolhidos e
obedientes de Deus, o povo do convênio, a fim de treiná-los no combate ao
mal. A verdadeira Igreja possui os princípios e ordenanças essenciais do
evangelho de Jesus Cristo que nos conduzem à vida eterna.
Dá-se o nome de dispensação a um período em que o Senhor revela Suas
doutrinas, ordenanças do evangelho e sacerdócio. Houve, por exemplo, a
dispensação de Adão, a de Enoque, Noé, Abraão, Moisés e a dos nefitas.
Essas dispensações deram às pessoas fiéis e obedientes a oportunidade de
᭣ A Segunda Vinda, de Harry Anderson vencerem o mundo iníquo aqui na Terra e prepararem-se para a vida
1
11. HISTÓRIA DA IGREJA NA PLENITUDE DOS TEMPOS
eterna, por meio da obediência aos princípios e ordenanças do evangelho
de Jesus Cristo.
Toda vez que a Igreja foi estabelecida na Terra, seu desenvolvimento
foi sempre seguido de uma apostasia ou afastamento da verdade. Na
história do mundo, portanto, esse foi um processo cíclico. Sempre que o
povo de Deus caía em apostasia, tornava-se necessária uma restauração do
evangelho. A restauração abordada neste livro é simplesmente a última de
uma série de restaurações que ocorreram através dos tempos.
A IGREJA DO N O V O T E S TA M E N TO
Quando vivia na mortalidade e ministrava em Israel, o Senhor Jesus
Cristo restaurou o evangelho e o sacerdócio maior e organizou uma igreja
com o “fundamento dos apóstolos e profetas” (Efésio 2:20), para que Seu
trabalho fosse continuado depois que Ele partisse. O Salvador passou
grande parte de Seu ministério instruindo exclusivamente os Apóstolos e
deu-lhes a autoridade e as chaves para continuarem Sua obra após Sua
morte. Escolheu Pedro, Tiago e João para serem os Apóstolos presidentes.
Ao ascender aos céus, deu aos Apóstolos a missão de levarem a mensagem
da salvação ao mundo inteiro.
A Igreja era pequena quando os Apóstolos assumiram sua direção.
Pouco mais de uma semana após a ascensão do Salvador, o Espírito Santo
manifestou-Se profusamente no Dia de Pentecostes, no momento em que
os Apóstolos ensinavam o evangelho e prestavam testemunho da
veracidade da ressurreição do Senhor. Nessa ocasião, três mil pessoas
foram batizadas na Igreja. Os Apóstolos continuaram a ministrar com
poder e autoridade, vindo a converter milhares de pessoas. Até aquela
época, o evangelho havia sido pregado somente à casa de Israel. Certo dia,
porém, ao orar no terraço de uma casa em Jope, Pedro teve uma visão por
meio da qual soube que Deus não fazia acepção de pessoas, que nenhum
grupo devia ser considerado imundo e que o evangelho deveria ser levado
aos gentios, assim como aos judeus. (Ver Atos 10:9–48.)
Ao ascender aos céus, o Salvador
encarregou os Apóstolos de serem
“testemunhas [Dele] (...) até aos confins da
terra”. (Atos 1:8)
2
12. PRELÚDIO DA RESTAURAÇÃO
Colônia
Samarita
Mairiz
Germânia
en o
oR
Ri
Dacia
Gália
Oceano Atlântico
Lyons
Vienne
i
o
Solona úb
Rio Dan
Leon
M Mar Negro
Astorga Saragossa ar
Ostia Ad Debeltum
riá Macedônia Mar
Roma tic Cáspio
Hispânia Antium o Apcilonia lonopolis
Puteoli Thessalonica Philtippi Sinope
Byzantium
Pompeli Berea Amastris
Nicomedia Amisus
Merida Ásia
Troas Ancira
Pergamum Antioch in Caesarea Menor
Corduba
Thyatira Pisidia Mazaca
Malatya
Hispalis Sardis
Sicília Atenas Iconium
Ephesus Samsat
Syracuse Corintha Lystra Beit Zabde
Cirta Colossae Nisibia
Cartago Derbe
Madaurus Esparta Miletus Tarsus Edessa
Lambesis Cnossus Myra Apamea
Hadrumetum Salamis
Laodicea
Mar Mediterrâneo Antoch Parthia
Gortyna Creta Paphos Chipre Dura-
Tripolis Europos
Damascus Mesopotâmia
Siden
Cyrene Tyre Ri
o
Jerusalém
Tig
Rio
Cristianismo no século I d.C. Naucratis Eu
re
Alexandria
Cristianismo no século II d.C. frate
Memphis s
Limites do Império Romano
Rio Nilo
Egito Deserto da Arábia
Golfo
Pérsico
Mar
Vermelho
A difusão inicial do cristianismo. No final A conversão de Saulo de Tarso, algum tempo depois, foi muito
do Século I d. C., os Apóstolos já haviam
levado o evangelho para o norte, até a Síria e importante para o crescimento da Igreja. Saulo, que havia perseguido os
a Ásia Menor; para o oeste, até a Macedônia, primeiros crentes, viu o Salvador em meio a um resplendor de luz, no
Grécia, Itália e as ilhas do Mediterrâneo; e
para o nordeste da África e o Egito. Um caminho para Damasco. “Eu sou Jesus, a quem tu persegues” (Atos 9:5),
século mais tarde, havia comunidades cristãs proclamou o Senhor ressurreto ao fariseu ferido. Saulo, o agente do Sinédrio,
na Gália (França), Alemanha e Península
Ibérica (Espanha), bem como no noroeste da tornou-se Paulo, o defensor da fé, um “vaso escolhido” (Atos 9:15) para
África. proclamar o nome de Cristo perante gentios e reis. Nos trinta anos que se
seguiram, esse intrépido Apóstolo, juntamente com muitos outros discípulos
dedicados que o acompanharam, difundiu a mensagem do evangelho e
estabeleceu ramos da Igreja em grande parte do Império Romano. Com o
crescimento da Igreja e a multiplicação dos ramos, foram chamados anciões
(élderes), bispos, diáconos, sacerdotes, mestres e evangelistas (patriarcas),
que receberam a devida autoridade dos Apóstolos.
A G R A N D E A P O S TA S I A
Enquanto os Apóstolos e outros missionários trabalhavam
corajosamente para estabelecer o reino de Deus na Terra, as sementes da
apostasia já estavam germinando dentro da Igreja. Pedro escreveu que
havia falsos mestres entre o povo e que outros mais viriam, os quais
“[introduziriam] encobertamente heresias de perdição, e [negariam] o
Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição”. (II
Pedro 2:1) Pedro também predisse que “muitos [seguiriam] as suas
dissoluções”. (Versículo 2) De modo semelhante, Paulo testificou que
3
13. HISTÓRIA DA IGREJA NA PLENITUDE DOS TEMPOS
dentre a congregação dos crentes “se [levantariam] homens que [falariam]
coisas perversas, para atraírem os discípulos após si”. (Atos 20:30)
A apostasia interna e a incredulidade, porém, não foram os únicos
problemas enfrentados pelos primeiros missionários. Embora Roma
geralmente permitisse que seus súditos gozassem de liberdade cultural e
religiosa, de tempos em tempos ocorreram períodos em que os cristãos
foram severamente perseguidos, dificultando-lhes a adoração pública e a
divulgação das “boas novas” do evangelho. Obviamente, nessas ocasiões,
os líderes da Igreja foram especialmente visados, sendo presos e mortos. A
primeira perseguição romana importante ocorreu no reinado de Nero, que
culpou os cristãos pelo incêndio de Roma, em 64 d.C.. Segundo a tradição,
o Apóstolo Pedro foi crucificado de cabeça para baixo, e o Apóstolo Paulo,
mais tarde, foi decapitado por ordem do imperador, em 67 – 68 d.C..
A princípio, os Apóstolos deram continuidade ao ofício apostólico.
Matias, por exemplo, que não estava entre os primeiros Doze, foi chamado
como Apóstolo. No entanto, pelo espírito de profecia, os líderes da Igreja
A Crucificação de Pedro perceberam que a apostasia era não apenas inevitável, mas iminente.
Depois que os Apóstolos foram mortos, cessou a revelação que guiava a
igreja do Senhor, bem como a autoridade para dirigi-la.
Os anos subseqüentes à morte dos Apóstolos fornecem ampla
evidência de que a igreja de Cristo deixou de existir, conforme fora predito.
Os princípios do evangelho foram corrompidos pela associação com as
filosofias pagãs predominantes. A perda do Santo Espírito tornou-se
evidente pelo gradual desaparecimento dos dons espirituais. Houve
modificações na organização e no governo da igreja, e as ordenanças
essenciais do evangelho foram alteradas.
De acordo com o Presidente Joseph Fielding Smith, as conseqüências
da apostasia foram devastadoras: “Satanás em sua fúria impeliu a [Igreja]
para o deserto, ou seja, para fora da Terra; o poder do sacerdócio foi tirado
dos homens. Depois que a Igreja, com sua autoridade e dons, desapareceu
da face da Terra, a serpente em sua ira continuou a guerrear contra todos
aqueles que tinham fé, que procuravam obter o testemunho de Cristo e
desejavam adorar a Deus segundo os ditames de sua consciência. O
sucesso de Satanás foi tão grande que seu domínio se estendeu por todo o
mundo”. 2
A LONGA NOITE DAS T R E VA S
A decadência da Igreja não ocorreu de um dia para o outro. Acelerada
pela morte dos Apóstolos, ocorrida na segunda metade do primeiro século,
a apostasia foi-se acentuando gradativamente nos anos seguintes. Por
volta do século IV, já quase não restava traços da Igreja de Jesus Cristo, e
aproximava-se rapidamente a “era das trevas”. Sem a presença dos
Apóstolos, os líderes locais da igreja foram aos poucos assumindo mais
autoridade. Os bispos determinavam as normas e doutrinas para seus
domínios, alegando serem os legítimos sucessores dos Apóstolos. Aos
poucos, alguns bispos das cidades mais importantes, como Roma,
Alexandria, Jerusalém e Antióquia, passaram a ter autoridade suprema em
4
14. PRELÚDIO DA RESTAURAÇÃO
suas respectivas regiões. Surgiu uma grande diversidade de práticas e
dogmas, à medida que os líderes da igreja deixaram de fundamentar-se na
revelação, passando a apoiar-se na lógica e na retórica. “A acomodação da
verdade ao erro e a assimilação das filosofias dos homens ao evangelho de
Cristo produziram uma nova religião, que combinava de modo agradável
o cristianismo do Novo Testamento, as tradições judaicas, a filosofia grega,
o paganismo greco-romano e as religiões místicas.”3
Com o progresso e expansão da igreja cristã, o governo romano deixou
de ser tolerante, passando a persegui-la. Isso ocorreu em parte porque o
cristianismo surgia como um grupo separado e distinto do judaísmo, que
alcançara privilégios especiais sob a lei romana. Os cristãos eram
considerados anti-sociais por recusarem-se a exercer cargos políticos,
servir no exército, utilizar os tribunais civis e participar de festivais
Constantino, o Grande, na batalha da
ponte de Mílvia, em Roma. Constantino públicos. Foram chamados de ateus por não haver lugar no monoteísmo
tornou-se chefe supremo de Roma e do cristão para os deuses romanos ou para um imperador deificado. Por esses
império ocidental em 312 d.C.. Um ano mais
tarde, assegurou a tolerância ao cristianismo, motivos, e provavelmente outros, os romanos perseguiram a igreja de
promulgando o Édito de Milão. tempos em tempos, até o reinado de Diocleciano (284 – 305 d.C.).
As vitórias do ano de 324 deram-lhe o
controle da parte oriental do império; no ano Diocleciano ordenou a destruição de tudo o que não fosse pagão,
seguinte, foi convocado o Concílio de Nicéia classificando-o de não-romano. Igrejas foram destruídas, escrituras foram
para dar início à unificação religiosa do
império. Em 330, Constantino transferiu a queimadas e os cristãos, torturados e sacrificados. Num édito de 306,
capital para Constantinopla, no intuito de
afastar-se de Roma, baluarte do paganismo,
ordenou-se que a perseguição fosse estendida a todo o império.
e facilitar o estabelecimento do cristianismo Era provavelmente inevitável que o império romano acabasse sendo
como religião do estado.
A dramática conversão de Constantino,
forçado a revogar sua legislação anticristã. A Igreja continuava a crescer, e
que declarou ter tido em pleno dia a visão de a frágil condição do império exigia união e não desarmonia. Em 312 d.C.,
uma cruz flamejante no céu, com os dizeres
“Sob Este Signo Vencerás”, é representada
na ponte de Mílvia, Constantino adotou o símbolo da cruz ao enfrentar e
nesta obra de Gian Lorenzo Bernini, derrotar seu oponente Maxêncio. No ano seguinte, em Milão, Constantino
Constantino, que atualmente se encontra no
Vaticano. promulgou seu famoso Édito de Tolerância, que concedia a todas as
pessoas o direito de adorar como desejassem, anulando as medidas que
visavam a supressão do cristianismo.
O próprio Constantino não se tornou cristão até estar no leito de morte,
mas ao aceitar e apoiar o cristianismo, fez da igreja uma aliada dos
interesses do império. A premente necessidade de fortalecer a unidade do
império romano motivou o interesse de Constantino pelas disputas
teológicas da igreja. Para resolver a questão da natureza da Trindade, a
interferência de Constantino foi de importância vital para que se
convocasse o Concílio de Nicéia, o primeiro dos grandes concílios
ecumênicos, realizado em uma cidade ao sul da capital, em 325 d.C.. O
Credo deliberado pelo concílio, com a aprovação do imperador, é um
exemplo clássico de como se instaura a apostasia quando a racionalização
e o autoritarismo tomam o lugar da revelação. À medida que conflitos
semelhantes foram sendo resolvidos nos séculos seguintes, desenvolveu-se
uma forte aliança entre o estado e a igreja, garantindo uma progressiva
influência secular nas doutrinas e práticas da igreja.
Na época em que os bárbaros começaram a invadir a Europa
Ocidental, no século V, muitas das tribos germânicas já haviam entrado em
contato com os vários tipos de missionários cristãos existentes. Por esse
motivo, adaptaram-se rapidamente à cultura romana e ao catolicismo. O
saque de Roma, em 410 d.C., contudo, foi um sinal evidente da
5
15. HISTÓRIA DA IGREJA NA PLENITUDE DOS TEMPOS
vulnerabilidade do império. As hordas de godos, vândalos e hunos que
cruzaram as fronteiras imperiais destruíram a unidade do ocidente, dando
início ao aparecimento de vários estados independentes. Os líderes
políticos locais passaram a exercer maior influência sobre a igreja em suas
áreas, em detrimento de Roma. Nos séculos seguintes, as igrejas dos vários
países europeus em desenvolvimento tornaram-se, na verdade, feudos ou
estados dominados por senhores feudais. A cultura, a educação e a moral
entraram em decadência. Esse foi o início da era que, na história, muitas
vezes é chamada de Idade das Trevas.
O RENASCIMENTO E A REFORMA
No século XIV, os europeus começaram a demonstrar renovado
interesse pela cultura greco-romana clássica, fazendo florescer a literatura,
as ciências e as artes. Esse foi de fato um período de “renascimento” ou
“renascença”, no qual os homens adquiriram maior confiança em si
mesmos e começaram a experimentar novas maneiras de explorar o meio
ambiente. Os artistas abandonaram o misticismo sombrio, passando a
utilizar novas técnicas na escultura, arte e literatura. Foi uma era
naturalista, na qual as ciências e as artes foram utilizadas para o
enaltecimento do corpo humano e a construção de imensas catedrais.
A humanidade parecia estar-se libertando dos velhos costumes. A
pólvora revolucionou a arte da guerra; a bússola abriu novos horizontes
para as viagens e explorações; o comércio estendeu-se ao longínquo
oriente, e o hemisfério ocidental foi descoberto. No século XV, a imprensa
com tipos móveis foi extraordinariamente aperfeiçoada, e todo o ramo da
impressão tomou novo impulso. Tudo isso, sem dúvida alguma,
influenciou diretamente a criação das universidades e a difusão de novos
conhecimentos.
O renascimento foi também uma época de mudanças espirituais. Na
busca do passado clássico, a humanidade tomou contato com os escritos
dos líderes da igreja primitiva e cópias das escrituras em hebraico e grego.
Os estudiosos do renascimento começaram a fazer com que as pessoas
comuns tivessem acesso a essas obras. Tomando conhecimento da
simplicidade da igreja primitiva, em contraste com o ritualismo e
complexidade do cristianismo medieval, muitos “redescobriram” sua fé
original. Essas pessoas fundaram ou filiaram-se a novas ordens religiosas,
como os franciscanos e dominicanos, e também iniciaram movimentos
heréticos, como os albigenses e valdenses. De certa forma, o renascimento
abriu caminho para a reforma protestante, que destruiu de vez a unidade
do cristianismo.
O mais famoso dos reformadores foi Martinho Lutero, nascido em
Eisleben, Saxônia, no dia 10 de novembro de 1483. Aos dezoito anos, foi
enviado pelo pai, Hans Lutero, para Erfurt, a fim de preparar-se para a
carreira de advogado. Em 1505, porém, abandonou os estudos para entrar
no mosteiro da Ordem dos Agostinianos Recoletos. Em 1508, foi enviado a
Wittenberg a fim de aprofundar-se nos estudos de teologia e dar palestras
sobre a filosofia de Aristóteles. Desde a juventude, parecia atormentado
6
16. PRELÚDIO DA RESTAURAÇÃO
pela enorme discrepância existente entre as doutrinas e ensinamentos das
escrituras e as práticas do catolicismo. Durante uma viagem a Roma, em
1510, ficou chocado com a corrupção do clero e a apatia religiosa das
pessoas. Isso contribuiu muito para desfazer sua veneração pelo papa e
Cortesia da Metropolitan Museum of Art, New York City.
deu-lhe razões para desafiar sua autoridade. O estudo profundo que
Lutero fez da Bíblia firmou-lhe a posição doutrinária que viria mais tarde a
Ilustração de Robert Lehman, 1955 (55.220.2)
caracterizar o movimento da reforma: os homens são justificados
unicamente pela fé (Romanos 3:28) e não por suas boas obras.
O principal motivo da franca oposição de Lutero contra a Igreja de
Roma foi a venda de indulgências por agentes do Papa Leão X. Essas
indulgências estavam sendo vendidas para reembolsar a Alberto de Mainz
os gastos efetuados na compra do título de arcebispo de Mainz e dar
continuidade às obras da basílica de São Pedro. A compra das indulgências
concedia às pessoas a remissão dos pecados e da punição no purgatório e a
completa remissão de todos os pecados de pessoas já falecidas. No dia 31
Martinho Lutero (1483 – 1546) foi um de outubro de 1517, Lutero pregou suas noventa e cinco teses na porta da
monge agostiniano que desafiou as doutrinas igreja de Wittenberg, com as quais desafiava a igreja a um debate sobre a
e a organização da igreja Católica Romana.
Lutero traduziu a Bíblia para o alemão e eficácia das indulgências, a ser realizado durante a missa.
opôs-se a outras tradições da igreja romana.
Foi excomungado e liderou a Reforma alemã.
Suas teses foram originalmente escritas para promover o debate entre
os estudiosos, mas as pessoas logo transformaram Lutero em defensor e
herói do povo. Lutero apresentou sua defesa perante prelados e
estudiosos, e foi ouvido pela Dieta (assembléia) de Worms, em 1521. Nessa
época, seu movimento deixara de ser meramente religioso, tornando-se
político, passando a ameaçar a união do sacro império romano.
Quando exigiram que Lutero abandonasse seu movimento, ele
declarou destemidamente: “A menos que eu seja contestado pelo
testemunho das Escrituras ou por argumentos convincentes — pois não
acredito no Papa nem nos concílios, tendo em vista seus erros e
contradições freqüentes — estou convicto das passagens das Escrituras
que citei, e minha consciência está comprometida com a palavra de Deus.
Não posso e não irei retirar nada do que disse, pois considero incerto e
arriscado agir contra a própria consciência”.4
A resistência de Lutero fez com que fosse excomungado da igreja e
banido do império, que o declarou fora-da-lei. Lutero foi protegido por
príncipes alemães que aprovavam suas idéias e desejavam maior
autonomia política em relação a Roma. Essa proteção possibilitou-lhe
iniciar a tradução da Bíblia para o alemão. Sua tradução foi de enorme
importância para toda a Europa, pois foi a primeira em língua comum, não
baseada na vulgata latina de Jerônimo.
As novas formas de adoração e as inovações doutrinárias defendidas
por Lutero foram sendo gradativamente adotadas por muitos dos estados
alemães. Quando ficou evidente que a igreja católica não se submeteria a
uma reforma, os seguidores de Lutero fundaram a igreja luterana. O
luteranismo tornou-se a religião de muitos dos estados alemães centrais e
do norte, mas nunca conseguiu conquistar a Bavária e os estados do leste.
Estendeu-se, porém, para o norte, chegando à Escandinávia e depois à
Islândia. Apesar de não ser possível afirmar que Lutero tenha garantido a
7
17. HISTÓRIA DA IGREJA NA PLENITUDE DOS TEMPOS
liberdade religiosa na Europa, a força de seu movimento ao menos criou
uma sociedade diversificada, na qual outros grupos religiosos podiam
pleitear aceitação.
Embora Lutero tenha sido o mais famoso dos reformadores, não foi o
primeiro. Um século e meio antes, no século XIV, John Wycliffe, da
Inglaterra, denunciou a corrupção e os abusos praticados pela igreja
Católica e condenou o Papa como anti-cristo. Wycliffe traduziu as
escrituras e distribuiu-as entre as pessoas comuns. Foi severamente
criticado pela igreja, mas seus ensinamentos foram amplamente aceitos
por seus conterrâneos. Por esse motivo, quando Lutero e outros
reformadores do continente começaram seu movimento, muitos ingleses
aprovaram sua causa.
Na Inglaterra, a reforma ocorreu de modo diferente do de outros
países. O rei Henrique VIII, que não aceitava o movimento de Lutero,
declarou que o Papa não tinha autoridade para negar-lhe o direito de
divorciar-se de sua esposa. Na disputa que se seguiu, o rei rejeitou a
autoridade do Papa e acabou sendo excomungado em 1533. Henrique
então fundou a igreja anglicana.
Os dois maiores reformadores da Suíça foram Ulrich Zwingli e João
Calvino. Zwingli convenceu os cidadãos de Zurique de que a Bíblia
deveria ser o único padrão da verdade religiosa. Com base nesse padrão,
Zwingli rejeitou a vida monástica, o celibato, a missa e outras práticas
católicas.
João Calvino foi ainda mais influente. Tentou criar, em Genebra, uma
cidade santa nos moldes bíblicos. Aos poucos, o calvinismo tornou-se a
religião predominante em muitas partes da Suíça, e espalhou-se para a
França, Inglaterra, Escócia, Holanda e em menor escala, para a Alemanha.
John Knox, um dos primeiros conversos de Calvino, ajudou a refinar e
ampliar seus ensinamentos.
Os peregrinos e puritanos, dois rígidos grupos calvinistas, viajaram
para o Novo Mundo e tiveram grande influência nos ideais americanos.
Algumas doutrinas básicas do calvinismo bastante difundidas na América
incluem, por exemplo, a soberania absoluta de Deus, a eleição do homem
pela graça, o conceito de que os membros salvos da igreja seriam
instrumentos nas mãos de Deus para a redenção de outros e o conceito de
que a igreja deveria ser “a luz do mundo” para influenciar os destinos da
humanidade.
O trabalho realizado por esses reformadores preparou o caminho
para a restauração do evangelho. O Presidente Joseph Fielding Smith
escreveu:
“Ao preparar o caminho para essa restauração, o Senhor levantou
homens nobres, tais como Lutero, Calvino, Knox e outros que chamamos
de reformadores, dando-lhes poder para quebrar os grilhões que prendiam
o povo e lhe negavam o direito de adorar a Deus de acordo com os
ditames da própria consciência (...).
Os santos dos últimos dias reverenciam esses grandes e destemidos
reformadores que romperam os grilhões que cerceavam a liberdade do
mundo religioso. Foram homens protegidos pelo Senhor nessa missão
8
18. PRELÚDIO DA RESTAURAÇÃO
repleta de perigos. Em sua época, porém, não havia ainda chegado o
tempo para a restauração da plenitude do Evangelho. A obra dos
reformadores foi de extrema importância, mas foi apenas um trabalho
preparatório (...).” 5
A D E S C O B E RTA E A COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA
A descoberta e a colonização da América foram outros importantes
preparativos para a restauração do evangelho. A América havia sido
preservada como uma terra escolhida de onde, nos últimos dias, o evangelho
seria levado a todas as nações do mundo. Morôni, um antigo profeta das
Américas, escreveu: “Eis que esta é uma terra escolhida; e qualquer nação
que a habitar se verá livre da servidão e do cativeiro e de todas as outras
nações debaixo do céu, se apenas servir ao Deus da terra, que é Jesus Cristo, o
qual foi manifesto pelas coisas que escrevemos”. (Éter 2:12)
A chegada de Cristóvão Colombo foi prevista por Néfi, outro profeta
das Américas, mais de dois mil anos antes do nascimento do navegador.
“E olhei e vi entre os gentios um homem que estava separado da semente
de meus irmãos [os descendentes de Leí] pelas muitas águas; e vi que o
Espírito de Deus desceu e inspirou o homem; e indo esse homem pelas
muitas águas, chegou até a semente de meus irmãos que estava na terra da
promissão.” (1 Néfi 13:12) O próprio Colombo, em seus escritos, confirmou
ter sido inspirado por Deus a empreender suas aventuras como marinheiro
e a levar a religião aos índios.6
Néfi continua sua profecia, declarando: “E aconteceu que vi o Espírito
de Deus inspirar outros gentios; e eles saíram do cativeiro, atravessando as
muitas águas”. (1 Néfi 13:13) Muitas pessoas que se estabeleceram na terra
prometida foram guiadas pela mão de Deus. (Ver 2 Néfi 1:6.)
Néfi previu muitos outros eventos que ocorreriam na América. Viu os
lamanitas (os índios da América do Norte e do Sul) serem dispersos por
toda a terra pelos gentios, e viu também que os gentios seriam humilhados
e clamariam ao Senhor, e o Senhor estaria com eles. Néfi predisse que os
colonizadores da América teriam que guerrear contra a mãe dos gentios
(na Guerra da Independência Americana e na Guerra de 1812) e seriam
libertados pela mão do Senhor. (Ver 1 Néfi 13:14–19.)
O Presidente Joseph Fielding Smith disse: “A descoberta da América
foi um dos fatores mais importantes no cumprimento dos propósitos do
Todo-Poderoso na restauração da plenitude de Seu evangelho para a
salvação dos homens nestes últimos dias”. 7
A LIBERDADE RELIGIOSA NA AMÉRICA
Apesar de muitos historiadores declararem que a maior parte dos
primeiros colonizadores viajaram para a América por motivos econômicos,
muitos desses colonizadores também estavam procurando um lugar onde
tivessem liberdade religiosa. Entre eles estavam os puritanos, que
estabeleceram fortes comunidades religiosas na Nova Inglaterra.
Acreditavam possuir a verdadeira fé e conseqüentemente não toleravam
9
19. HISTÓRIA DA IGREJA NA PLENITUDE DOS TEMPOS
qualquer outra religião.8 Essa intolerância precisou ser vencida antes que a
restauração da igreja de Cristo pudesse acontecer.
Alguns dissidentes dos puritanos, dentre os quais Roger Williams foi o
mais preeminente, argumentavam que deveria haver uma clara separação
entre a igreja e o estado, e que nenhuma religião em particular deveria ser
imposta aos cidadãos. Roger Williams também ensinava que todas as
igrejas haviam-se afastado da legítima sucessão apostólica. Em 1635,
Williams foi banido de Massachusetts; poucos anos depois, ele e outras
pessoas com idéias semelhantes receberam permissão de estabelecer a
colônia de Rhode Island, onde havia total tolerância para com todas as
religiões.
Uma mulher corajosa, Anne Hutchinson, chegou a Massachusetts em
1634. Ela discordava dos líderes locais em duas questões teológicas: o
papel das boas obras na salvação e a possibilidade de um indivíduo
receber inspiração do Santo Espírito. A Sra. Hutchinson também foi banida
de Massachusetts e procurou refúgio em Rhode Island, em 1638. Apesar
dos esforços de pessoas como Roger Williams, Anne Hutchinson e outros,
ainda se passaria um século e meio antes que houvesse tolerância religiosa
na Nova Inglaterra.
Enquanto isso, muitos grupos religiosos estabeleceram comunidades
no restante das colônias americanas. Cada um deles contribuiu para o
espírito religioso da América. Os católicos romanos que se estabeleceram
em Maryland promulgaram o primeiro Ato de Tolerância Religiosa da
história da América. Os quacres da Pensilvânia também promoveram a
tolerância religiosa e a separação entre o estado e a igreja. Havia
colonizadores de tantas religiões diferentes que era impossível considerar
uma denominação predominante. Essa diversidade religiosa foi o principal
motivo da liberdade religiosa que se tornou uma característica singular
dos Estados Unidos.
Apesar de haver muitas igrejas diferentes na América, a maioria dos
colonizadores não se considerava membro de qualquer denominação em
particular. Um importante movimento na história religiosa americana foi o
Grande Despertar, que teve início por volta de 1739 e continuou por quase
duas décadas. Esse primeiro reavivamento religioso ocorrido no início da
história americana foi um esforço diligente no sentido de restaurar a
retidão e o zelo religioso. O Grande Despertar difundiu-se por todas as
treze colônias. Os evangelistas e pregadores itinerantes realizavam
serviços religiosos em locais informais, incluindo casas, estábulos e até
mesmo pastagens. O Grande Despertar incentivou o fervor religioso na
América como não se via em muitos anos, e promoveu maior participação
de leigos e ministros na administração da religião organizada. Também
despertou nos colonizadores americanos o desejo de unirem-se em uma
ordem democrática.9
Apesar desses esforços, não houve total liberdade religiosa na América
até a Guerra da Independência Americana criar condições para que isso
acontecesse. Por estarem unidos contra os ingleses, os colonizadores
descobriram que suas diferenças religiosas não eram importantes para a
causa que defendiam e que eles concordavam nos princípios fundamentais
de suas várias crenças religiosas.10 Além disso, Thomas Jefferson opôs-se
10
20. PRELÚDIO DA RESTAURAÇÃO
firmemente às pressões indevidas exercidas sobre o governo por grupos
religiosos organizados. A Declaração da Independência, redigida por
Jefferson, declarava que os homens eram capazes de descobrir por si
mesmos as instituições políticas corretas.
Com a nova liberdade alcançada após a Guerra da Independência,
vários estados procuraram proteger os direitos humanos básicos, incluindo
a liberdade religiosa. O Estado de Virgínia foi um dos primeiros a adotar,
em 1785, o projeto de lei de Jefferson referente à liberdade religiosa,
garantindo que nenhuma pessoa seria obrigada a freqüentar ou apoiar
qualquer igreja nem ser discriminada por sua preferência religiosa.11
Após alguns anos da malograda experiência como confederação de
estados, uma nova constituição foi redigida nos Estados Unidos, em 1787,
e ratificada em 1789. Esse documento escrito “pelas mãos de homens
prudentes que [o Senhor levantou] para este propósito” (D&C 101:80)
representava o desejo de liberdade e a necessidade fundamental de ordem.
A liberdade religiosa foi garantida pela primeira emenda da constituição.
O Profeta Joseph Smith declarou que “a Constituição dos Estados
Unidos é um estandarte glorioso; está fundamentada na sabedoria de
Deus. É uma bandeira celestial; é como sombra fresca para todos aqueles
que têm o privilégio de saborear as doçuras da liberdade, como as águas
refrescantes de uma grande rocha em terreno árido e desolado”.12 Uma das
Thomas Jefferson (1743–1826) queria ser razões da veracidade dessa declaração é que “sob a Constituição, o Senhor
lembrado por três coisas em sua longa e pôde restaurar o evangelho e restabelecer Sua igreja. (...) Ambos fazem
ilustre carreira como um dos maiores
estadistas americanos. Queria ser conhecido parte de um grande todo e enquadram-se em Seu plano para os últimos
como o autor da Declaração da dias”.13
Independência Americana, o fundador da
Universidade de Virgínia e o criador da lei de Juntamente com a Guerra da Independência e a promulgação da
liberdade religiosa do Estado de Virgínia, Constituição, houve o segundo Grande Despertar, que promoveu grandes
adotada em 1785.
mudanças na filosofia cristã. Muitas religiões novas fortaleceram-se,
pregando grande diversidade de doutrinas: os unitaristas, os
universalistas, os metodistas, os batistas e os discípulos de Cristo. Muitas
crenças foram introduzidas na nova nação, inclusive a idéia da
necessidade de uma restauração do cristianismo do Novo Testamento. Os
que buscavam essa restauração tornaram-se popularmente conhecidos
A Constituição dos Estados Unidos foi
assinada na convenção constitucionalista de
17 de setembro de 1787, e o novo governo
foi instaurado em 1789.
11
21. HISTÓRIA DA IGREJA NA PLENITUDE DOS TEMPOS
como “seekers” (aqueles que procuram). Muitas dessas pessoas estavam
prontas para aceitar a Restauração divina e vieram a tornar-se alguns dos
primeiros conversos da Igreja.14
Quase concomitantes ao Segundo Grande Despertar, surgiram
movimentos de reavivamento religioso. Pregadores itinerantes realizavam
reuniões ao ar livre entre os colonos das fronteiras dos Estados Unidos,
que na época era um país em expansão. Colonos que viviam solitários nas
fazendas e cidades reuniam-se em enormes multidões para participar
dessas reuniões ao ar livre. Pregadores espalhafatosos mas carismáticos
davam um ar festivo a essas reuniões religiosas, ao mesmo tempo em que
tentavam chamar novos conversos para suas respectivas religiões.15
O Segundo Grande Despertar também influenciou a formação de
associações voluntárias que promoviam o trabalho missionário, a
educação, a reforma moral e o humanitarismo. Os reavivamentos levaram
os sentimentos religiosos do povo a um estado de excitação febril e
ajudaram o crescimento das denominações mais populares, em particular
os metodistas e batistas.16 Esse reavivamento religioso durou pelo menos
quarenta anos, incluindo a época da primeira visão de Joseph Smith.
A restauração do evangelho e da verdadeira Igreja do Senhor não
poderia ter acontecido em meio à intolerância religiosa que existia na
Europa e no início da colonização da América. A restauração somente seria
possível num clima de liberdade religiosa, de redirecionamento do
pensamento cristão e de reavivamento espiritual, como o que houve no
início do século XIX na América. É evidente que a mão do Senhor estava
dirigindo esses eventos para que a Restauração ocorresse exatamente na
época em que aconteceu.
De acordo com um historiador, houve um momento propício para a
Restauração:
“Foi providencial que a Restauração tenha ocorrido em 1830. Esse
parece ter sido precisamente o momento ideal na história americana; pois
muito antes ou muito depois disso, a Igreja não teria criado raízes. O Livro
de Mórmon provavelmente não teria sido publicado no século XVIII, num
mundo regido por crenças e tradições folclóricas, anterior à revolução
democrática que viria a propiciar o clima de agitação religiosa do início da
República. No século XVIII, o mormonismo teria sido facilmente
reprimido e rejeitado pela classe dominante, culta e esclarecida, que o teria
considerado como mais uma entusiástica superstição folclórica. Por outro
lado, se o mormonismo tivesse surgido mais tarde, após o estabelecimento
do governo e a difusão da ciência, na metade do século XIX, certamente
teria encontrado problemas em comprovar a origem de seus textos e
revelações.”17
Deus conhece o fim desde o princípio e é o autor do grande roteiro da
história da humanidade. Os acontecimentos históricos foram por Ele
dirigidos, para que a América viesse a tornar-se o solo fértil adequado no
qual a semente do evangelho restaurado seria plantada e regada por seu
vidente escolhido, Joseph Smith.
12
22. PRELÚDIO DA RESTAURAÇÃO
N O TA S
1. History of the Church (História da Igreja), Despertar como Divisor de Águas), citado
4:609 por John M. Mulder e John F. Wilson, pub.,
2. Joseph Fielding Smith, The Progress of Man Religion in American History: Interpretive
(O Progresso do Homem) (Salt Lake City: Essays (A Religião na História Americana:
Deseret News Press, 1952), p. 166. Estudos de Interpretação) (Englewood
Cliffs, N.J.: Prentice-Hall, 1978), pp.
3. Milton V. Backman, Jr., American Religions
127–144.
and the Rise of Mormonism (As Religiões
Americanas e o Surgimento do 10. Ver Sydney E. Mead, “American
Mormonismo) (Salt Lake City: Deseret Book Protestantism during the Revolutionary
Co., 1965), p. 6. Epoch” (O Protestantismo Americano
durante a Guerra da Independência), em
4. Henry Eyster Jacobs, Martin Luther: The
Mulder e Wilson, pub., Religion in American
Hero of the Reformation (Martinho Lutero: O
History, pp. 162–176.
Herói da Reforma), 1483–1546 (Nova York e
Londres: G. P. Putnam’s Sons, 11. Os três parágrafos anteriores baseiam-se
Knickerbocker Press, 1973), p. 192. em James B. Allen e Glen M. Leonard, The
Story of Latterday Saints, Salt Lake City:
5. Joseph Fielding Smith, Doutrinas de
Deseret Book Co., 1976, pp. 10–11.
Salvação, comp. Bruce R. McConkie, 3 vols.,
(São Paulo: Departamento de Tradução e 12. Joseph Smith, Ensinamentos do Profeta
Distribuição, 1978) vol. 1, pp. 190–191. Joseph Smith, sel. Joseph Fielding Smith, (São
Paulo: A Igreja de Jesus Cristo dos Santos
6. Ver Samuel Eliott Morison, Admiral of the
dos Últimos Dias, s/d) p. 143.
Ocean Sea: A Life of Christopher Columbus
(Almirante do Mar Oceano: Biografia de 13. Mark E. Petersen, The Great Prologue (O
Cristóvão Colombo) (Boston: Little, Brown, Grande Prólogo) (Salt Lake City: Deseret
and Co., 1942), pp. 44–45, 279, 328. Book Co., 1975), p. 75.
7. Smith, Progress of Man, p. 258. 14. Ver Backman, American Religions and the
Rise of Mormonism, pp. 186–248.
8. Ver Edwin Scott Gaustad, A Religious
Story of America (A História da Religião na 15. Ver Martin E. Marty, Pilgrims in Their
América) (Nova York: Harper and Row, Own Land: 500 Years of Religion in America
1966), pp. 47–55; Sydney E. Ahlstrom, “The (Peregrinos em Sua Própria Terra: 500 Anos
Holy Commonwealths of New England”, A de Religião na América) (Boston: Little,
Religious History of the American People (As Brown, and Co., 1984), p. 168.
Comunidades Religiosas da Nova 16. Ver Ahlstrom, A Religious History of the
Inglaterra, História Religiosa do Povo American People, pp. 415–428.
Americano) (New Haven, Conn.: Yale 17. Gordon S. Wood, “Evangelical America
University Press, 1972), pp. 135–150. and Early Mormonism” (A América
9. Ver Alan Heimert, “The Great Protestante e o Início do Mormonismo),
Awakening as Watershed”, (O Grande New York History, outubro de 1980, p. 381.
13
23.
24. CAPÍTULO DOIS
A INFLUÊNCIA DAS TRADIÇÕES DA
N OVA I NGLATERRA EM J OSEPH
SMITH
T
Cronologia O D O S S O M O S A F E T A D O S e influenciados pelo meio em
Data Evento Significativo que vivemos. Somos criados e influenciados pela família e pelos
1638 Robert Smith, o primeiro amigos e interagimos com o ambiente à nossa volta. Joseph Smith
antepassado paterno de cresceu na fazenda da família e esteve quase que exclusivamente sob influência
Joseph Smith a viajar da
Inglaterra para a América, da família. Aprendeu no lar os mais importantes legados das tradições da
chega a Massachusetts Nova Inglaterra. Seus pais incentivavam o trabalho árduo, o patriotismo e a
1669 John Mack, o primeiro
antepassado materno de
religiosidade. Joseph escutou, aprendeu e assimilou muitas dessas tradições.
Joseph Smith a viajar da Em sua infância, Joseph Smith começou a incorporar e manifestar qualidades
Inglaterra para a América,
chega a Massachusetts que o ajudariam a cumprir a missão para a qual fora preordenado.
24 jan. 1796 Casamento de Joseph Smith
Sênior e Lucy Mack O S A N T E PA S S A D O S PAT E R N O S DE JOSEPH SMITH
23 dez. 1805 Nascimento de Joseph Smith
Jr., no município de Sharon,
Um estudo dos antepassados de Joseph Smith mostra que sua família
condado de Windsor, Vermont possuía importantes traços de caráter que se perpetuaram nele. Joseph
1812–1813 Aos sete anos de idade, desenvolveu fortes laços familiares, aprendeu a trabalhar arduamente, a
Joseph Smith é submetido a
uma cirurgia devido a pensar por si mesmo, a servir o próximo e a amar a liberdade. Ele
complicações da febre tifóide relembra: “O amor à liberdade foi-me infundido na alma por meus avós
1816 A família Smith muda-se de
Norwich, Vermont, para
Palmyra, Nova York Os Antepassados de Joseph Smith Asael Smith
Nasc.: 7 de março de 1744
Local: Topsfield, condado de
Essex, Massachusetts
Joseph Smith Sênior Falec.: 31 de outubro de 1830
Nasc.: 12 de julho de 1771 Local: Stockholm, condado de
Local: Topsfield, condado de St. Lawrence, Nova
Essex, Massachusetts York
Falec.: 14 de setembro de Mary Duty
1840 Nasc.: 11 de outubro de 1743
Local: Nauvoo, condado de Local: Rowley, condado de
Hancock, Illinois Essex, Massachusetts
Joseph Smith Falec.: 27 de maio de 1836
Nasc.: 23 de dezembro de Local: Kirtland, condado de
1805 Lake, Ohio
Local: Sharon, condado de
Windsor, Vermont Solomon Mack
Falec.: 27 de junho de 1844 Nasc.: 15 de setembro de 1732
Local: Carthage, condado Local: Lyme, condado de New
de Hancock, Illinois Lucy Mack London, Connecticut
᭣ Joseph Smith nasceu no município de Nasc.: 8 de julho de 1776 Falec.: 23 de agosto de 1820
Sharon, Vermont. Comemorando o centenário Local: Gilsum, condado de
do nascimento do Profeta, foi erigido um Cheshire, New Lydia Gates
monumento de granito a Joseph Smith e o Hampshire Nasc.: 3 de setembro de 1732
local foi dedicado em 23 de dezembro de Falec.: 14 de maio de 1856 Local: East Haddam, condado
1905 pelo Presidente Joseph F. Smith. Local: Nauvoo, condado de de Middlesex,
O monumento tem 38 pés e meio de Hancock, Illinois Connecticut
altura (11,75 m), um pé para cada ano de Falec.: aproximadamente em
sua vida. O Memorial Cottage (à esquerda do 1817
monumento), usado no passado como centro Local: Royalton, condado de
de visitantes, foi concluído e dedicado na Windsor, Vermont
mesma data que o monumento.
15
25. HISTÓRIA DA IGREJA NA PLENITUDE DOS TEMPOS
enquanto me embalavam no colo”.1 Apesar de nem sempre terem sido
filiados a uma igreja, várias gerações de seus antepassados procuraram
seguir bons princípios religiosos, e houve quem predissesse que um
importante líder espiritual surgiria dentre seus descendentes.
Cercado por uma cadeia de montanhas, a aproximadamente trinta
quilômetros ao norte de Boston, Massachusetts, encontra-se o pequeno
município de Topsfield, onde viveram muitos dos antepassados do Profeta.
Cinco gerações da família Smith moraram em Topsfield. A primeira delas
foi a do trisavô de Joseph Smith, Robert Smith, que emigrou de Topsfield,
Inglaterra, para Boston em 1638, ainda adolescente. Robert casou-se com
Mary French. Depois de passarem uma curta temporada próximo a Rowley,
estabeleceram-se em Topsfield, Massachusetts. Tiveram dez filhos. Quando
Robert faleceu, em 1693, deixou um espólio avaliado em 189 libras, uma
quantia relativamente grande para a época. Samuel Smith, filho de Robert e
Mary, nasceu em 1666. Nos registros da cidade e do condado, ele é descrito
como sendo um “cavalheiro” e aparentemente exerceu cargo público.
Casou-se com Rebecca Curtis, com quem teve nove filhos.
O primeiro filho de Samuel e Rebecca nasceu em 1714. Samuel Jr. foi
O túmulo da família Smith, no Cemitério
um renomado líder comunitário e apoiou a Guerra da Independência
Pine Grove, em Topsfield, Massachusetts. Americana. Lê-se em seu obituário: “Foi amigo sincero dos libertadores
Neste local estão enterrados Samuel Smith e
sua esposa, Rebecca; Samuel II e sua
deste país e incansável defensor das doutrinas do cristianismo”.2 Samuel
esposa, Priscilla Gould. George A. Smith Jr. casou-se com Priscilla Gould, que era descendente de um dos
ajudou a erigir o monumento a seus
antepassados em 1873. fundadores de Topsfield. Priscilla faleceu após dar à luz cinco filhos, e
Samuel casou-se com a prima dela, que também se chamava Priscilla. Ela
não teve filhos, mas criou os filhos da primeira esposa de Samuel,
incluindo o avô de Joseph Smith, Asael.
Asael, que nasceu em 1744, era filiado à religião predominante da
Nova Inglaterra, os congregacionistas, mas acabou perdendo a fé em todas
as religiões organizadas. Achava que os ensinamentos das igrejas
estabelecidas não se conciliavam com as escrituras e o bom senso. Aos
Cinco gerações da família Smith moraram
em Topsfield: Robert Smith, Samuel Smith I,
Samuel Smith II, Asael Smith e Joseph Smith
Sênior.
Joseph Smith Sênior nasceu nesta casa em
12 de julho de 1771. A casa foi demolida em
1875.
16
26. A INFLUÊNCIA DAS TRADIÇÕES DA NOVA INGLATERRA EM JOSEPH SMITH
Canadá
vinte e três anos de idade, casou-se com Mary Duty, de Rowley,
Massachusetts. Com muito sacrifício, Asael mudou-se com a família de
Lago
Champlain
Derryfield, New Hampshire, de volta para Topsfield, onde trabalhou por
Vermont cinco anos a fim de liquidar dívidas que o pai não conseguira saldar antes
Nova York
de morrer.
Tunbridge New
Randolph
Hampshire A família Smith permaneceu em Topsfield até 1791, quando Asael,
South Royalton
Sharon Mary e seus onze filhos mudaram-se por algum tempo para Ipswich,
Massachusetts, e depois para Tunbridge, Vermont, em busca de terras
Marrimack
Lebanon
Rio
Marlow
virgens e baratas. Em Tunbridge, Asael continuou a trabalhar para a
Gilsum
Derryfield
(Manchester) Salisbury
comunidade e nos trinta anos em que lá morou ocupou quase todos os
nnecticut
Rowley
cargos públicos existentes.
Albany Ipswic
Topsfield
A filosofia de Asael coincidia com a dos universalistas, que
Rio Co
Boston
Massachusetts
acreditavam em Jesus Cristo como um deus de amor que salvaria todos os
n
Seus filhos. Da mesma forma que todos os universalistas, Asael preferia a
Rio Hudso
Connecticut
North
idéia de um deus que estivesse mais interessado na salvação em vez da
Lyme
destruição da humanidade. Ele acreditava na vida após a morte.
Em uma mensagem enviada à família, ele escreveu: “A alma é imortal
(...). Tudo o que fizerem para Deus façam-no de maneira séria. Quando
New York City
pensarem Nele, falarem Dele, orarem para Ele ou voltarem-se de qualquer
outra maneira para Sua grandiosa majestade, façam-no com sinceridade de
coração. (...) Quanto à religião, estudem sua natureza e verifiquem se ela é
Os antepassados de Joseph Smith
moraram na Nova Inglaterra. composta de meras formalidades externas ou se aborda o coração oculto
do homem. (...)
Tenho certeza absoluta de que Cristo, meu Salvador, é perfeito e nunca
me desapontará. A Ele confio suas almas, corpos, condições, nomes,
virtudes, vida, morte e tudo o mais; e a mim mesmo, esperando a ocasião
em que Ele irá transformar este meu corpo desprezível e torná-lo
semelhante a Seu glorioso corpo”. 3
Asael Smith predisse também que “Deus levantaria um ramo de sua
família que seria de grande benefício à humanidade”.4 Muitos anos mais
tarde, ao receber de seu filho, Joseph Smith Sênior, um exemplar recém-
impresso do Livro de Mórmon, Asael mostrou-se extremamente
interessado. George Albert Smith escreveu: “Meu avô Asael acreditou
plenamente no Livro de Mórmon e leu-o quase de capa a capa”.5 Asael
morreu no outono de 1830, com a certeza de que o neto Joseph era o
profeta tão esperado que dera início a uma nova era religiosa.
Mary Duty viveu seis anos mais que o marido. Em 1836, Mary viajou
para Kirtland, Ohio, acompanhada por Elias Smith, um neto missionário,
para encontrar-se com os filhos, netos e bisnetos. “O encontro da avó com
o neto profeta e seu irmão foi uma experiência comovente; Joseph
abençoou-a e disse-lhe que era a mulher mais honrada da Terra.” Mary
aceitou plenamente o testemunho do neto e tinha a firme intenção de ser
batizada. Infelizmente, devido a sua idade e condições de saúde, o batismo
não pôde ser realizado. Mary morreu em 27 de maio de 1836, apenas dez
dias após sua chegada a Kirtland.
O S A N T E PA S S A D O S M AT E R N O S DE JOSEPH SMITH
Sabe-se relativamente pouco sobre a família Mack, da qual descendia
Lucy Mack, mãe de Joseph. John Mack descendia de uma linhagem de
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