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O Dadaísmo surge em meio à guerra, em 1916, do encontro de um grupo de
refugiados (escritores e artistas plásticos) com o intuito de fazer algo
significativo que chocasse a burguesia da época.
Este movimento é o reflexo da perspectiva diante das conseqüências
emocionais trazidas pela Primeira Guerra Mundial: o sentimento de revolta, de
agressividade, de indignação, de instabilidade.
O Dadaísmo é considerado a radicalização das três vanguardas européias
anteriores: o Futurismo, o Expressionismo e o Cubismo. Os artistas desse
período eram contra o capitalismo burguês e a guerra promovida com
motivação capitalista. A intenção desta vanguarda é destruir os valores
burgueses e a arte tradicional.
A literatura tem como características: a agressividade verbalizada, a desordem
das palavras, a incoerência, a banalização da rima, da lógica, do raciocínio.
Faz uso do nonsense, ou seja, da falta de sentido da linguagem, as palavras
são dispostas conforme surgem no pensamento, a fim de ridicularizar o
tradicionalismo.
O próprio nome “Dadaísmo” não tem significado nenhum, provavelmente tem o
intuito de remeter à linguagem da criança que ainda não fala.
Um dos principais autores e também fundador do Dadaísmo é Tristan Tzara, o
qual ensina o seguinte a respeito do movimento:
Para fazer um poema dadaísta
Pegue um jornal
Pegue a tesoura.
Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e
meta-as num saco.
Agite suavemente.
Tire em seguida cada pedaço um após o outro.
Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco.
O poema se parecerá com você.
E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda
que incompreendido do público.
A linguagem dadaísta pretende anular qualquer barreira quanto a significações,
pois o importante nas palavras não é seu significado, e sim sua sonoridade. O
som é intensificado com o grito, o urro contra o burguês e seu apego ao capital.
No Brasil o Dadaísmo tem referência através do escritor Mário de Andrade em
seu livro Paulicéia desvairada, no qual há um poema chamado “Ode ao
burguês”. Já no prefácio do livro, o autor recomenda que só deveriam ler o
referido poema os leitores que soubessem urrar. Veja um trecho do poema:

Ode ao burguês
“Eu insulto o burgês! O burguês-níquel,
o burguês-burguês!
A digestão bem feita de São Paulo!
O homem-curva! o homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco! (...)”
Mário de Andrade

Ao contrário de outras correntes artísticas, o dadaísmo apresenta-se como um movimento
de crítica cultural mais ampla, que interpela não somente as artes, mas modelos culturais
passados e presentes. Trata-se de um movimento radical de contestação de valores que
utiliza variados canais de expressão: revista, manifesto, exposição e outros. As
manifestações dos grupos dada são intencionalmente desordenadas e pautadas pelo
desejo do choque e do escândalo, procedimentos típicos das vanguardas de modo geral.
A criação do Cabaré Voltaire, 1916, em Zurique, inaugura oficialmente o dadaísmo.
Fundado pelos escritores alemães H. Ball e R. Ruelsenbeck, e pelo pintor e escultor
alsaciano Hans Arp, o clube literário - ao mesmo tempo galeria de exposições e sala de
teatro - promove encontros dedicados a música, dança, poesia, artes russa e francesa. O
termo dada é encontrado por acaso numa consulta a um dicionário francês. "Cavalo de
brinquedo", sentido original da palavra, não guarda relação direta, nem necessária, com
bandeiras ou programas, daí o seu valor: sinaliza uma escolha aleatória (princípio central
da criação para os dadaístas), contrariando qualquer sentido de eleição racional. "O termo
nada significa", afirma o poeta romeno Tristan Tzara, integrante do núcleo primeiro.
A geografia do movimento aponta para a formação de diferentes grupos, em diversas
cidades, unidos pelo espírito de questionamento crítico e pelo sentido anárquico das
intervenções públicas. O clima mais amplo que abriga as várias manifestações dada pode
ser encontrado na desilusão e ceticismo instaurados pela Primeira Guerra Mundial, 19141918, que alimenta reações extremadas por parte dos artistas e intelectuais em relação à
sociedade e ao suposto progresso social. Na Alemanha, nas cidades de Berlim e Colônia,
destacam-se os nomes de R. Ruelsenbeck, R.Haussmann, Johannes Baader, John
Heartfield, G.Groz e Kurt Schwitters. Em Colônia, Max Ernst - posteriormente um dos
grandes nomes do surrealismo - aparece como um dos principais representantes do
dadaísmo. A obra e a atuação de Francis Picabia estabelecem um elo entre Europa e
Estados Unidos. Catalisador, com Albert Gleizes e A. Cravan, das expressões dada em
Barcelona, onde edita a revista 391, Picabia se associa também ao grupo de Tzara e Arp,
em Zurique. Em Nova York, por sua vez, é protagonista do movimento com Marcel
Duchamp e Man Ray.
Se o dadaísmo não professa um estilo específico nem defende novos modelos, aliás
coloca-se expressamente contra projetos predefinidos e recusa todas as experiências
formais anteriores, é possível localizar formas exemplares da expressão dada. Nas artes
visuais, os ready-made de Duchamp constituem manifestação cabal de um espírito que
caracteriza o dadaísmo. Ao transformar qualquer objeto escolhido ao acaso em obra de
arte, Duchamp realiza uma crítica radical ao sistema da arte. Assim, objetos utilitários sem
nenhum valor estético em si são retirados de seu contexto original e elevados à condição
de obra de arte ao ganhar uma assinatura e um espaço de exposição, museu ou galeria.
Por exemplo, a roda de bicicleta que encaixada num banco vira Roda de Bicicleta, 1913,
ou um mictório, que invertido se apresenta como Fonte, 1917, ou ainda os bigodes
colocados sobre a Mona Lisa, 1503/1506 de Leonardo da Vinci, que fazem dela um readymade retificado, o L.H.O.O.Q., 1919. Os princípios de subversão mobilizados pelos readymade podem ser também observados nas máquinas antifuncionais de Picabia e nas
imagens fotográficas de Man Ray.
objetos tirados de seu contexto ou função usual e elevados à categoria de arte,
seja por sua reorganização, seja pela forma como são colocados nos espaços
expositivos.
Conte que, no contexto da Arte Moderna, a arte de Duchamp é desprovida de
qualquer sentido heroico. Ele não desejava levar arte às massas nem beleza
ao cotidiano. Duchamp também não estava preocupado em corrigir as
imperfeições da natureza ao produzir obras belas (como ocorria na pintura do
Renascimento). Desde o final do século 19, o objetivo de Marcel Duchamp e de
outros artistas modernos era refletir sobre o próprio fazer artístico. O mais claro
e contundente convite de Marcel Duchamp nesse sentido são seus readymade. Ao tirar um objeto comum de seu contexto e elevá-lo à categoria de arte,
ele anunciava ao mundo: a habilidade manual do artista já não basta para
definir uma obra.
Na realidade moderna, tomada pelas mais diferentes possibilidades de
reprodução, o pensamento do autor por trás de seu trabalho, a ideia e a
concepção das obras tornam-se mais importantes que a busca pela perfeição
estética. Para Duchamp, instalar uma roda de bicicleta sobre um banco era um
jeito de fazer com que o espectador deixasse de vê-la como parte da bicicleta e
passasse a admirá-la por seus contornos. O que torna essa roda uma peça
valiosa no mercado de arte, contudo, não é sua beleza, mas a “sacada” do
artista. O deslocamento do objeto é o que agregava valor a ele. E Duchamp foi
um mestre na escolha de seus ready-mades, como o “Porta-garrafas” e a
“Fonte”.

Ainda que 1922 apareça como o ano do fim do dadaísmo, fortes ressonâncias do
movimento podem ser notadas em perspectivas artísticas posteriores. Na França, muitos
de seus protagonistas integram o surrealismo subsequente. Nos Estados Unidos, na
década de 1950, artistas como Robert Rauschenberg, Jasper Johns e Louise Nevelson
retomam certas orientações do movimento no chamado neodada.
Difícil localizar influências diretas do dadaísmo na produção brasileira, mas talvez seja
possível pensar que ecos do movimento dada cheguem pela leitura que dele fazem os
surrealistas, herdeiros legítimos do dadaísmo em solo francês. Por exemplo, em obras
variadas como as de Ismael Nery e Cicero Dias; nas fotomontagens de Jorge de Lima, que
podem ser aproximadas de trabalhos correlatos de Max Ernst; na produção de Flávio de
Carvalho. De Carvalho, as performances, tão ao gosto das vanguardas - por exemplo, a
relatada no livro Experiência nº 2 -, e também seu projeto para a Fazenda Capuava,
construída em 1938, cujas motivações de aproximação arte e vida lembram, segundo
algumas leituras, o Merzbau de Schwitters.

Referências:
http://www.mundoeducacao.com/literatura/dadaismo.htm
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=term
os_texto&cd_verbete=3651

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O Dadaísmo: crítica radical da arte burguesa

  • 1. O Dadaísmo surge em meio à guerra, em 1916, do encontro de um grupo de refugiados (escritores e artistas plásticos) com o intuito de fazer algo significativo que chocasse a burguesia da época. Este movimento é o reflexo da perspectiva diante das conseqüências emocionais trazidas pela Primeira Guerra Mundial: o sentimento de revolta, de agressividade, de indignação, de instabilidade. O Dadaísmo é considerado a radicalização das três vanguardas européias anteriores: o Futurismo, o Expressionismo e o Cubismo. Os artistas desse período eram contra o capitalismo burguês e a guerra promovida com motivação capitalista. A intenção desta vanguarda é destruir os valores burgueses e a arte tradicional. A literatura tem como características: a agressividade verbalizada, a desordem das palavras, a incoerência, a banalização da rima, da lógica, do raciocínio. Faz uso do nonsense, ou seja, da falta de sentido da linguagem, as palavras são dispostas conforme surgem no pensamento, a fim de ridicularizar o tradicionalismo. O próprio nome “Dadaísmo” não tem significado nenhum, provavelmente tem o intuito de remeter à linguagem da criança que ainda não fala. Um dos principais autores e também fundador do Dadaísmo é Tristan Tzara, o qual ensina o seguinte a respeito do movimento: Para fazer um poema dadaísta Pegue um jornal Pegue a tesoura. Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema. Recorte o artigo. Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco. Agite suavemente. Tire em seguida cada pedaço um após o outro. Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco. O poema se parecerá com você. E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público. A linguagem dadaísta pretende anular qualquer barreira quanto a significações, pois o importante nas palavras não é seu significado, e sim sua sonoridade. O som é intensificado com o grito, o urro contra o burguês e seu apego ao capital. No Brasil o Dadaísmo tem referência através do escritor Mário de Andrade em seu livro Paulicéia desvairada, no qual há um poema chamado “Ode ao burguês”. Já no prefácio do livro, o autor recomenda que só deveriam ler o referido poema os leitores que soubessem urrar. Veja um trecho do poema: Ode ao burguês “Eu insulto o burgês! O burguês-níquel,
  • 2. o burguês-burguês! A digestão bem feita de São Paulo! O homem-curva! o homem-nádegas! O homem que sendo francês, brasileiro, italiano, é sempre um cauteloso pouco-a-pouco! (...)” Mário de Andrade Ao contrário de outras correntes artísticas, o dadaísmo apresenta-se como um movimento de crítica cultural mais ampla, que interpela não somente as artes, mas modelos culturais passados e presentes. Trata-se de um movimento radical de contestação de valores que utiliza variados canais de expressão: revista, manifesto, exposição e outros. As manifestações dos grupos dada são intencionalmente desordenadas e pautadas pelo desejo do choque e do escândalo, procedimentos típicos das vanguardas de modo geral. A criação do Cabaré Voltaire, 1916, em Zurique, inaugura oficialmente o dadaísmo. Fundado pelos escritores alemães H. Ball e R. Ruelsenbeck, e pelo pintor e escultor alsaciano Hans Arp, o clube literário - ao mesmo tempo galeria de exposições e sala de teatro - promove encontros dedicados a música, dança, poesia, artes russa e francesa. O termo dada é encontrado por acaso numa consulta a um dicionário francês. "Cavalo de brinquedo", sentido original da palavra, não guarda relação direta, nem necessária, com bandeiras ou programas, daí o seu valor: sinaliza uma escolha aleatória (princípio central da criação para os dadaístas), contrariando qualquer sentido de eleição racional. "O termo nada significa", afirma o poeta romeno Tristan Tzara, integrante do núcleo primeiro. A geografia do movimento aponta para a formação de diferentes grupos, em diversas cidades, unidos pelo espírito de questionamento crítico e pelo sentido anárquico das intervenções públicas. O clima mais amplo que abriga as várias manifestações dada pode ser encontrado na desilusão e ceticismo instaurados pela Primeira Guerra Mundial, 19141918, que alimenta reações extremadas por parte dos artistas e intelectuais em relação à sociedade e ao suposto progresso social. Na Alemanha, nas cidades de Berlim e Colônia, destacam-se os nomes de R. Ruelsenbeck, R.Haussmann, Johannes Baader, John Heartfield, G.Groz e Kurt Schwitters. Em Colônia, Max Ernst - posteriormente um dos grandes nomes do surrealismo - aparece como um dos principais representantes do dadaísmo. A obra e a atuação de Francis Picabia estabelecem um elo entre Europa e Estados Unidos. Catalisador, com Albert Gleizes e A. Cravan, das expressões dada em Barcelona, onde edita a revista 391, Picabia se associa também ao grupo de Tzara e Arp, em Zurique. Em Nova York, por sua vez, é protagonista do movimento com Marcel Duchamp e Man Ray. Se o dadaísmo não professa um estilo específico nem defende novos modelos, aliás coloca-se expressamente contra projetos predefinidos e recusa todas as experiências formais anteriores, é possível localizar formas exemplares da expressão dada. Nas artes visuais, os ready-made de Duchamp constituem manifestação cabal de um espírito que caracteriza o dadaísmo. Ao transformar qualquer objeto escolhido ao acaso em obra de arte, Duchamp realiza uma crítica radical ao sistema da arte. Assim, objetos utilitários sem nenhum valor estético em si são retirados de seu contexto original e elevados à condição de obra de arte ao ganhar uma assinatura e um espaço de exposição, museu ou galeria. Por exemplo, a roda de bicicleta que encaixada num banco vira Roda de Bicicleta, 1913, ou um mictório, que invertido se apresenta como Fonte, 1917, ou ainda os bigodes colocados sobre a Mona Lisa, 1503/1506 de Leonardo da Vinci, que fazem dela um readymade retificado, o L.H.O.O.Q., 1919. Os princípios de subversão mobilizados pelos readymade podem ser também observados nas máquinas antifuncionais de Picabia e nas imagens fotográficas de Man Ray.
  • 3. objetos tirados de seu contexto ou função usual e elevados à categoria de arte, seja por sua reorganização, seja pela forma como são colocados nos espaços expositivos. Conte que, no contexto da Arte Moderna, a arte de Duchamp é desprovida de qualquer sentido heroico. Ele não desejava levar arte às massas nem beleza ao cotidiano. Duchamp também não estava preocupado em corrigir as imperfeições da natureza ao produzir obras belas (como ocorria na pintura do
  • 4. Renascimento). Desde o final do século 19, o objetivo de Marcel Duchamp e de outros artistas modernos era refletir sobre o próprio fazer artístico. O mais claro e contundente convite de Marcel Duchamp nesse sentido são seus readymade. Ao tirar um objeto comum de seu contexto e elevá-lo à categoria de arte, ele anunciava ao mundo: a habilidade manual do artista já não basta para definir uma obra. Na realidade moderna, tomada pelas mais diferentes possibilidades de reprodução, o pensamento do autor por trás de seu trabalho, a ideia e a concepção das obras tornam-se mais importantes que a busca pela perfeição estética. Para Duchamp, instalar uma roda de bicicleta sobre um banco era um jeito de fazer com que o espectador deixasse de vê-la como parte da bicicleta e passasse a admirá-la por seus contornos. O que torna essa roda uma peça valiosa no mercado de arte, contudo, não é sua beleza, mas a “sacada” do artista. O deslocamento do objeto é o que agregava valor a ele. E Duchamp foi um mestre na escolha de seus ready-mades, como o “Porta-garrafas” e a “Fonte”. Ainda que 1922 apareça como o ano do fim do dadaísmo, fortes ressonâncias do movimento podem ser notadas em perspectivas artísticas posteriores. Na França, muitos de seus protagonistas integram o surrealismo subsequente. Nos Estados Unidos, na década de 1950, artistas como Robert Rauschenberg, Jasper Johns e Louise Nevelson retomam certas orientações do movimento no chamado neodada. Difícil localizar influências diretas do dadaísmo na produção brasileira, mas talvez seja possível pensar que ecos do movimento dada cheguem pela leitura que dele fazem os surrealistas, herdeiros legítimos do dadaísmo em solo francês. Por exemplo, em obras variadas como as de Ismael Nery e Cicero Dias; nas fotomontagens de Jorge de Lima, que podem ser aproximadas de trabalhos correlatos de Max Ernst; na produção de Flávio de Carvalho. De Carvalho, as performances, tão ao gosto das vanguardas - por exemplo, a relatada no livro Experiência nº 2 -, e também seu projeto para a Fazenda Capuava, construída em 1938, cujas motivações de aproximação arte e vida lembram, segundo algumas leituras, o Merzbau de Schwitters. Referências: http://www.mundoeducacao.com/literatura/dadaismo.htm http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=term os_texto&cd_verbete=3651