2. Gil Vicente desenvolve o provérbio
“Mais quero asno que me leve que cavalo que me derrube”
Teste à originalidade do dramaturgo, que desenvolve uma
história com princípio meio e fim, em que demonstra que é
preferível um asno que leve Inês às costas (i.e., que lhe
faça todas as vontades),
a um cavalo que a derrube (i.e., que a prive de liberdade e a
ameace).
marido bronco e ingénuo
Pêro Marques
marido “avisado” e “discreto”
Escudeiro Brás da Mata
3. Esta peça é uma das mais bem estruturadas de Gil Vicente
Exposição: O monólogo inicial de Inês e o diálogo com a
mãe em que se apresentam as características da jovem e
os seus objetivos.
Conflito: Desde a chegada de Lianor Vaz até ao
casamento com Pêro Marques.
Desenlace: A partir do casamento com Pêro Marques até
ao final, que concretiza o tema da peça e o provérbio que a
determinou.
4. Ponto de partida
Aspiração de Inês a libertar-se pelo casamento.
Desenvolvimento
Proposta e recusa de casamento com Pêro Marques;
Casamento falhado com o escudeiro;
Casamento com Pêro Marques.
Ponto de chegada
Concretização da aspiração de Inês.
5. Inês Pereira – figura central da peça; pode classificar-se
como personagem modelada, já que sofre uma evolução
psicológica, decorrente da experiência e, reconsiderando a
sua posição inicial, aceita um segundo casamento
completamente fora das suas expetativas (“sobre quantos
mestres são /experiência dá lição”), mas também
como personagem plana, pois, o final da peça mostra-
nos, novamente, o caráter leviano de Inês, característica
principal, enquanto personagem tipo.
6. Mãe – personagem secundária, que, em estreita ligação
com Inês, representa o contraponto da sua fantasia e
irresponsabilidade. Moderada, prudente e pragmática, a
Mãe manifesta a sua descrença em relação ao casamento
com o Escudeiro, antecipando alguns dos problemas que
virão a acontecer. Contudo, quando a filha opta por casar
com Brás da Mata, a Mãe desaparece, discretamente, sem
discussões, censuras ou vinganças, e ainda lhe oferece a
casa onde viviam. A filha aprenderá à sua custa.
7. Pêro Marques – outra figura intimamente ligada a Inês;
representa na peça o papel de “asno” que leva a mulher às
costas, de visita a um antigo pretendente (o ermitão). É um
lavrador ingénuo e bronco, trabalhador e honesto, que tem
alguns bens. Oriundo do meio rural e desconhecedor de
algumas regras de convivência, cai no ridículo, não só pela
maneira como veste, mas também pela maneira de falar e
agir. É a personagem cómica da peça, que contrasta com
Inês (por quem é ridicularizado) e com o escudeiro.
8. Lianor Vaz – é quem apresenta Pêro Marques a Inês,
através de uma carta. Mostra grande capacidade de
persuasão, experiência e oportunidade no desempenho do
seu papel de comadre casamenteira, quando, após a morte
do Escudeiro, regressa para relembrar Inês do seu anterior
pretendente.
9. Escudeiro (Brás da Mata) – é uma figura muito importante
que contrasta flagrantemente com Pêro Marques (compare-
se a carta e o comportamento de Pêro Marques com o
discurso do Escudeiro, quando se apresentam a Inês).
Mostra-se elegante, culto e astuto.
É uma personagem com grande influência no desenrolar da
história, já que é o seu comportamento tirânico que vai
fazer com que Inês venha a aceitar Pêro para se vingar das
frustrações do primeiro casamento que ela idealizou e
falhou.
O Escudeiro, pobre e covarde, ostenta perante Inês
qualidades que não tem. Antes de casar apresenta-se como
um grande senhor, rico, culto e bem falante.
10. Escudeiro (continuação)
Pobre e covarde, ostenta perante Inês qualidades que não
tem. Antes de casar apresenta-se como um grande senhor,
rico, culto e bem falante.
Depois de casar, revela-se um tirano mesquinho que deixa
a esposa à guarda do criado e parte para África com o
objetivo de ser armado cavaleiro, onde acaba por ser morto
por um mouro pastor, quando desertava de uma batalha.
11. Moço – personagem que contribui para a denúncia do
verdadeiro caráter do Escudeiro e da sua condição
financeira.
Judeus casamenteiros – são quem apresenta o Escudeiro a
Inês. Preocupados em receber o seu dinheiro, empenham-
se em elogiar os méritos do Escudeiro perante Inês e as
qualidades desta , perante aquele. São desonestos, falsos
e materialistas.
12. Esta peça é uma visão crítica de tipos e fenómenos da
época. A crítica à sociedade do tempo de Gil Vicente é
conseguida com recurso à ironia, à criação de
personagens-tipo e ao cómico.
A ironia está presente em variadas situações:
• No diálogo inicial entre Inês e a Mãe;
• No diálogo entre a Mãe e Lianor Vaz, quando esta conta o que lhe
acontecera na vinha;
• Na reação de Inês à carte de Pêro Marques;
• No diálogo entre Pêro e Inês (falas de Inês)
• Nas respostas e apartes do Moço, quando fala com o Escudeiro;
• Nas falas de Inês, quando o Escudeiro parte para África;
• No diálogo de Inês com Lianor , após a sua viuvez.
13. Personagens-tipo
Inês: moça do povo, casadoira, que pretende ascender
socialmente; preguiçosa; ambiciosa; fantasiosa e leviana.
Mãe: pragmática e materialista, quer ver a filha bem
“arrumada” com um marido com estabilidade económica,
desprezando ideais de amor, sonhos ou caprichos.
Lianor Vaz: alcoviteira
Pêro Marques: homem do campo com pouca educação; o
asno, o inadaptado à sociedade; objeto de vingança de
Inês.
14. Personagens-tipo
Escudeiro: a baixa nobreza em degradação, faminta e
pelintra;
Judeus: mundo da aldrabice e do interesse monetário;
Ermitão: clero leviano que esquece os seus deveres e a
sua moral;
Moço: classe servente (povo)
15. Cómico de Caráter
• Ex.: concretiza-se nas figuras de Pêro Marques
(provinciano e bronco nitidamente deslocado junto de
Inês e da Mãe) e do Escudeiro pobre e cobarde mas
dissimulando na elegância do seu discurso, na variedade
das suas prendas (canta e toca) e na fanfarronice solene
todas as suas fraquezas e misérias.
16. Cómico de Situação
• Ex.: quando Pêro Marques se senta na cadeira ao
contrário e de costas para Inês e para a Mãe;
• na fala dos Judeus casamenteiros, que, na sua
sofreguidão e calculismo para conseguirem casar Inês
com o Escudeiro, se interrompem, repetem e atropelam
constantemente ;
• no episódio final quando Pêro Marques, descalço,
transporta Inês às costas, mais duas lousas que lhe
agradam e para cúmulo, aceita cantar uma cantiga que o
apelida de "marido cuco".
17. Cómico de Linguagem
• Ex.: quando Pêro Marques entra com a sua linguagem
recheada de termos e expressões provincianas;
• quando os Judeus produzem o seu discurso repetitivo e
arrastado ;
• quando Inês se refere a Pêro Marques dizendo "Ei-lo se vem
penteando/será com algum ancinho?";
• na ironia do Moço desmascarando a pelintrice do Escudeiro.
• Nos trocadilhos (quando Pêro Marques diz que seu é o “mor
gado” e a Mãe pensa que ele é morgado; quando Inês
pergunta a Pêro se pode sair e ele pensa que ela se refere a
“evacuar”)