O documento discute três aspectos da arte barroca:
1) O Cultismo - o excessivo uso de figuras de linguagem e a percepção sensorial da realidade.
2) O Conceptismo - o jogo de ideias e a busca pela essência das coisas.
3) A poesia de Gregório de Matos - o debate entre o pecado e o perdão, e a religiosidade acentuada.
1. O Contexto
• Domínio político e cultural da Igreja.
• O atrito entre o teocentrismo medieval e o
antropocentrismo renascentista.
• A arte da Contrarreforma.
2. Largo em sentir, em respirar suscinto,
Peno, e calo, tão fino, e tão atento,
Que fazendo disfarce do tormento,
Mostro que o não padeço, e sei que o sinto.
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5. Nasce o Sol e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
6. Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.
7. Ardor em firme coração nascido;
Pranto por belos olhos derramado;
Incêndio em mares de água disfarçado;
Rio de neve em fogo convertido:
Tu, que em um peito abrasas escondido;
Tu, que em um rosto corres desatado;
Quando fogo, em cristais aprisionado;
Quando cristal em chamas derretido.
8. Se és fogo, como passas brandamente,
Se és neve, como queimas com porfia?
Mas ai, que andou Amor em ti prudente!
Pois para temperar a tirania,
Como quis que aqui fosse a neve ardente,
Permitiu parecesse a chama fria.
9. O Fusionismo
Um prazer e um pesar quase irmanados,
Um pesar e um prazer, mas divididos
Entraram neste peito tão unidos,
Que o amor os acredita vinculados.
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13. O Cultismo - o jogo das palavras.
• O rebuscamento, a ornamentação.
• O cromatismo visual.
• O uso excessivo de figuras de linguagem.
• A percepção sensorial da realidade.
14. O todo sem a parte não é todo;
A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte o faz todo sendo parte,
Não se diga que é parte sendo todo.
Em todo o Sacramento está Deus todo,
E todo assiste inteiro em qualquer parte,
E feito em partes todo e m toda parte,
Em qualquer parte sempre fica todo.
15. O braço de Jesus não seja parte,
Pois que feito Jesus em partes todo,
Assiste cada parte em sua parte.
Não se sabendo parte deste todo,
Um braço que lhe acharam, sendo parte,
Nos diz as partes todas deste todo.
16. O Conceptismo - o jogo das ideias.
• O universo lógico .
• A vertente racional do barroco.
• A busca pela essência das coisas.
• A argumentação.
17. Meu Deus, que estais pendente em um madeiro,
Em cuja lei protesto viver,
Em cuja santa lei hei de morrer
Animoso, constante, firme, e inteiro.
Neste lance, por ser o derradeiro,
Pois vejo a minha vida anoitecer,
É, meu Jesus, a hora de se ver
A brandura de um Pai manso Cordeiro.
18. Mui grande é vosso amor, e meu delito,
Porém pode ter fim todo o pecar,
E não o vosso amor, que é infinito.
Esta razão me obriga a confiar,
Que por mais que pequei, neste conflito
Espero em vosso amor de me salvar.
19. Sermão da Sexagésima
Se a palavra de Deus é tão eficaz e tão
poderosa, como vemos tão pouco fruto da
palavra de Deus?
Fazer pouco fruto a palavra de Deus no Mundo,
pode proceder de um de três princípios: ou da parte
do pregador, ou da parte do ouvinte, ou da parte de
Deus. Para uma alma se converter por meio de um
sermão, há-de haver três concursos: há-de concorrer
o pregador com a doutrina, persuadindo;
20. há-de concorrer o ouvinte com o entendimento,
percebendo; há-de concorrer Deus com a graça,
alumiando. Para um homem se ver a si mesmo,
são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz.
Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta
de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não
se pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há
mister espelho e há mister olhos.
21. Gregório de Matos
O debate entre o pecado e o perdão.
A religiosidade acentuada.
A busca pela redenção.
O discurso é dirigido a Deus a não à igreja.
22. Meu amado Redentor,
Jesus Cristo soberano,
Divino homem, Deus humano,
da terra e céus criador:
por serdes quem sois, Senhor,
e porque muito vos quero,
me pesa com rigor fero
de vos haver ofendido,
de que agora, arrependido,
meu Deus, o perdão espero.
23. Bem não vos amo, confesso,
várias juras cometi,
missa inteira nunca ouvi,
a meus pais não obedeço,
matar alguns apeteço,
luxurioso pequei,
bens do próximo furtei,
falsos levantei às claras,
desejei mulheres raras,
coisas de outrem cobicei.
24. A Lírica Reflexiva
Goza, goza da flor da mocidade,
Que o tempo trata a toda ligeireza,
E imprime em toda a flor sua pisada.
Oh, não aguarde que a madura idade
Te converta essa flor, essa beleza
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.
25. A Lírica Amorosa
Amor respeitoso X Amor erótico
Platonismo X Realização
Contenção X Libido
26. Dai-me já, o que quiseres,
dai-me o cheiro dessa flor,
que é o mais leve favor,
que no Brasil dão mulheres:
e se me não concederes,
que possa essa flor cheirar,
assim só de me matar,
façamos este partido,
pois me tirais um sentido,
dai-me já o de apalpar.
27. "O Amor é finalmente
um embaraço de pernas,
uma união de barrigas,
um breve tremor de artérias.
Uma confusão de bocas,
uma batalha de veias,
um reboliço de ancas.
Quem diz outra coisa é besta!"
28. A Poesia Satírica
Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.
A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.