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Não deixem os adolescentes em
paz!
Têm sido notícia os 13 minutos de agressões de um grupo de adolescentes a um
colega, numa rua da Figueira da Foz. Os diversos atos de violência física e de insultos
e intimidações foram, sobretudo, protagonizados por duas raparigas, tendo sido
registados, em vídeo, por um dos membros de um grupo que, entretanto, foi
assistindo a tudo isto. Se bem que toda esta situação tenha decorrido há um ano, o
impacto que está a ter na opinião pública tem merecido ameaças de represálias aos
agressores, processos tutelares educativos e processos judiciais. E comentários;
muitos comentários!
1. Devo dizer que os adolescentes não são, hoje, nem mais cruéis nem mais violentos
entre si. E receio que quem mais dá ênfase ao bullying, como se fosse uma epidemia
atípica que os caracteriza, seja quem mais confunde a necessária aprendizagem da
agressividade, nos adolescentes - que deve fazer-se com lealdade e com maneiras, e
que é útil e indispensável pela vida fora - com atos de violência, como se fosse
esperado que eles ou fossem anjos ou, à primeira oportunidade, se transformassem
nuns maltratantes compulsivos. E essa confusão é má.
2. Parem de falar, a propósito dos adolescentes, da forma como eles banalizam o mal.
Como se eles fossem o diabo em figura de gente e os adultos, todos os adultos, um
exemplo irrefutável de "oficiais e cavalheiros". Na verdade, tomaríamos todos que a
maioria dos adultos tivesse a lealdade e a lisura da maioria dos adolescentes, em vez
de lhes atribuir a maldade que não aceitam nem enxergam em si próprios. A
propósito, não se esqueçam dos números (catastróficos) de violência doméstica - que,
como sabemos, ficam aquém da sua real dimensão - e que é fomentada por adultos,
grande parte deles pais, e alguns (quem sabe?) que aproveitam episódios como estes
para falarem, com preocupação, de bullying... nos adolescentes.
3. Quando se promove sofrimento, de forma repetida, sem reparação e sem remorsos,
uma pessoa tornou-se má, sim! Mas ninguém se torna mau sem a ajuda da família e
de muitas omissões cumulativas! E, já agora, tenham cuidado com alguns adultos que
diabolizam os adolescentes. Porque, muitas vezes, são as mesmas pessoas que
violentam pelas costas, sem "sujarem as mãos". O que é mais grave.
4. Não se esqueçam, também, que os adolescentes têm pais. E que por mais que
alguns se coloquem num patamar do género: "olha para o que eu digo, não olhes para
o que eu faço", se há adolescentes que se tornam compulsivamente violentos, não é
sério que os seus pais se coloquem como "passageiros acidentais" nisto tudo,
atribuindo a "defeitos de fabrico" ou à influência do próprio grupo, aquilo que serão
lacunas graves de educação para as quais, por omissão (na melhor das hipóteses) não
deixaram de ter contribuído. Ou seja, por mais que um grupo exerça uma "força de
arrastamento", adolescentes saudáveis dizem-lhe: "não, obrigado!". Portanto, não vale
a pena ilibar todos estes pais como se fossem pacatos e distraídos. Não agrediram, é
claro. Mas os pais destes adolescentes não deixarão de merecer ser
corresponsabilizados pelos atos protagonizados pelos seus filhos. Isto é, se eu sou
responsável por pagar um vidro que um dos meus filhos adolescente tenha partido,
não vejo porque é que ele passará a ser o único responsável por atos graves que tenha
cometido quando está à minha guarda.
5. É bom que se perceba que todos já fomos violentos. Num impulso, por exemplo. Os
pais e os filhos serão assim, de vez em quando, entre si. Mas um impulso,
acidentalmente, violento não é, por inerência, amigo do bullying. Isto é, ser,
acidentalmente, violento ajuda, muitas vezes, a conseguir perceber que bondade e
inteligência são sinónimos. Já agir a violência com indiferença é diferente. Sendo
assim, um episódio como este já nos remete para adolescentes mais doentes do que, à
primeira vista, poderá parecer. E que, para além de precisarem de ajuda, não deixam
de merecer castigo. Não confundamos, portanto, fazer por compreender o que se terá
passado para que um adolescente se tenha estragado a este ponto, com condescender.
Por outras palavras, atos violentos organizados, protagonizados por um grupo contra
uma vítima exigem medidas judiciais ou medidas tutelares educativas (consoante a
idade de quem os protagonizou) claras, sábias mas duras, de forma a encontrar nelas
uma resposta serena e educativa que reponha alguns limites nos adolescentes a quem
eles parecem faltar.
6. Agredir em grupo, com assistentes e "operadores de imagem", numa artéria central
de uma cidade, deve levar a que se castigue quem agrediu, que se castigue quem
assistiu e que se castigue quem ignorou o seu dever de proteção e de auxílio (de
preferência, não distinguindo as "coimas" para uns e para outros).
7. A violência em grupo é muito mais grave que a violência individualizada. Logo, o
castigo tem de ser mais robusto. Porque um grupo unido num mesmo ato de violência
é mais aterrorizador e mais brutal. No entanto, por mais que, à data em que tudo isto
aconteceu, todos estes protagonistas fossem adolescentes, não deixarão de precisar
de quem os eduque, de quem os proteja. E de quem os castigue. Isto é, adolescentes
perigosos não deixam de ser, também, crianças em perigo. Não tanto no sentido de os
ilibarmos dos atos que cometeram. Mas de, ao formularmos um castigo, não
deixarmos de ter a noção da importância que ele pode ter... depois de amanhã.
8. Se registar imagens de atos violentos de um grupo, enquanto alguém é violentado,
negando o dever de auxílio, é gravíssimo, difundir imagens nas redes sociais, não é
melhor (por mais que sem elas não tivéssemos a oportunidade de fazer Justiça). É,
portanto, altura de, para além deste caso, a Procuradoria Geral da República estar em
linha com outros atos graves que violentam e atentam contra o direito à privacidade,
sem esperar que eles se tornem primeiras páginas. Como aqueles que se passam com
imagens recolhidas numa discoteca de Lisboa onde, enquanto vários adolescentes
assistem, há quem registe relações sexuais para que, a seguir, as coloque nas redes
sociais. E que não menospreze um movimento que, entretanto, se gerou, com um
número significativo de adesões, que propõe que uma das protagonistas deste
episódio da Figueira da Foz "vamos mostrar quem é que tem força".
9. Por mais que se compreenda o impulso hostil com que muitos colegas de quem
agrediu reajam, hoje, não seria bem melhor que a própria escola destes adolescentes
encontrasse neste episódio inquietante uma oportunidade de se revelar musculada e
sensata, dissuadindo aqueles que à violência reagem com a violência, em vez de
conviver com uma brigada de polícia à porta da escola, como se "as autoridades"
estivessem mais habilitadas para lidar com adolescentes em choque do que os seus
professores?
10. Não se esqueçam, por favor, da vítima. Do adolescente que foi ofendido, agredido
e humilhado e que, porventura, por terror, não apresentou queixa. Como muitas mais
vítimas! E não se esqueçam que, por mais que tenha sobrevivido a este episódio, ele
não deixa de ter danos “irressarcíveis”. Mas não se esqueçam, também, de muitas mais
crianças e adolescentes que são vítimas de bullying e que, no silêncio do seu
sofrimento, convivem com escolas que, enquanto falam dele, o ignoram com
indiferença, como se aquilo que se passa nos recreios não merecesse, como tem de
merecer, os cuidados da escola e a responsabilidade de quem a dirige.
11. E não se esqueçam que alguns órgãos de comunicação confundem exibir a
violência com o dever de informar. Sem a denúncia dos órgãos de comunicação, a
Justiça fica mais pobre; é verdade. Mas reside no rigor dos critérios com que falam de
violência e de bullying uma fronteira fundamental entre banalizar o mal e encontrar
nele formas inequívocas de contribuir para que nos humanizemos todos.
Por tudo isto, é importante que devamos perceber os motivos que terão contribuído
para que tudo isto se desse, e é fundamental que, de forma justa, castiguemos. Mas é
indispensável que não nos aproveitemos destes episódios para que, à boleia de um
conjunto de adolescentes que nos devem preocupar a todos, se afirme que todos os
adolescentes são assim. Não são! Apesar dos erros humanos dos seus pais e dos seus
professores são melhores que muitos deles. Não é, pois, prudente que deixemos
passar um episódio como este como se não fosse gravíssimo. Mas, por favor, não o
tomem como se ele fosse a "imagem de marca" dos adolescentes. E se, porventura, for
essa a tentação de alguns de vós, aceitem este apelo: não deixem os adolescentes em
paz! Não tanto no sentido de reagirem invejosamente aos adolescentes, como se eles
fossem o "topo de gama" de todos os defeitos humanos, ao contrário daquilo que se
passa com os adultos. E de os terem por debaixo de um alerta geral ou de "tolerâncias
zero". Mas com a intenção de saberem quase tudo sobre os "vossos" adolescentes: os
amigos, as rotinas, os silêncios estranhos, as paixões arrebatadas, a forma como
tagarelam e o modo como se afastam, os burburinhos e os murmúrios, as agendas e
as retiradas. Mas, por favor, não o façam como quem anda a sondar problemas!
Tenham, unicamente, a prudência de quem os percebe como crianças numa
"embalagem", simplesmente, XL. E com a convicção de, por vezes, eles falam mais por
atos e por omissões. E que, por tudo isso, precisam de pais, sempre! E de regras e
rotinas. E de "coimas", à medida daquilo que fazem. Mas nunca os transformem numa
espécie de reciclagem do lixo doméstico dos adultos! Mesmo quando um ou outro,
como aconteceu, são violentos.
Errar é aprender
Os bons alunos são aqueles para quem errar é, também, aprender. São aqueles que,
com ajuda dos pais, percebem que a família é mais importante que a escola, e que
brincar será, pelo menos, tão importante como aprender. E são aqueles que convivem
com o desafio de terem (sempre!) alguma necessidade educativa especial. O que torna
a escola um lugar plural, diante da sabedoria e das dificuldades que, ao ligar orgulho e
humildade, permite que se aprenda que uma vitória nunca se dá sobre os outros mas
diante das nossas dificuldades, nem se dá contra eles mas com a sua ajuda. E são
aqueles que trazem a "escola da vida" para o seu crescimento, ao contrário de todos os
outros que, tendo um crescimento demasiado esterilizado, parecem tornar-se
insensíveis, desatentos e pouco solidários.
É bom que as crianças tenham conhecimentos, claro. Mas é indispensável que elas
saibam resolver problemas. E que ter uma vida e aprender são desafios - difíceis e
complexos - que exigem erros (muitos erros!). Tudo ao contrário desta forma um
pouco egocêntrica como as crianças são educadas. Como se, para além delas e dos
seus compromissos escolares, não existissem outras prioridades, dificuldades que é
preciso afrontar, cuidados que precisam de ter, relações que se devem estimar e
paixões que têm de se acarinhar.
Primeiro a paixão; depois o
trabalho!
Eu gosto dos adolescentes. Mesmo quando reconheço que é difícil e é chato ser
adolescente! Em primeiro lugar, porque tudo o que é importante e precioso leva tempo
e se costura com imensos erros. E aquilo que lhes exigem parece não contar com nada
disso. Depois, porque ligar as relações sociais, as relações amorosas, a família, o
corpo, a cabeça e o estudo é muito confuso, a ponto de não se saber como se pode
gerir tudo isso sem que a vida toda fique em "hora de ponta". A seguir, porque todos
lhes exigem este mundo e o outro enquanto que, aos 12, a puberdade os desformata
e, aos 14, a sexualidade, ao "bater na cabeça", só os complica.
É chato (de verdade) ser adolescente! Porque todos lhes perguntam como vai a escola
quando eles baralham piropos e galanteios e batalham, constantemente, com o
coração quando se trata de seduzir, de flirtar e de namoriscar. Porque ninguém lhes
diz que namorar é muito mais importante do que estudar. Porque - apesar das paixões
terem, por vezes, 10 minutos - primeiro está, para sempre, o amor (e o desejo de se
ser feliz todos os dias!) e só depois vem o trabalho e a carreira (embora todos lhes
garantam, pelos exemplos que lhes dão, que o mundo anda ao contrário).
E é chato ser adolescente porque todos os ensinam ao contrário. Ninguém lhes diz que
não há carreiras de sucesso se uma pessoa não for paga para brincar. Se não for atrás
de uma paixão. Se não se atrapalhar e baralhar um ror de vezes até que as suas
escolhas passem a ter a sua cara. Mas que, por isso mesmo, é preciso trabalhar muito
para encontrar uma paixão. E que só mesmo os batoteiros esperam que as paixões
lhes caiam no colo ou que cheguem de surpresa (sobretudo quando dizem que,
primeiro, precisam de ter a certeza acerca daquilo em que são bons para, só depois,
darem o melhor de si em função disso). Alguém que diga aos adolescentes que nunca
somos bons! Que sem paixão não há garra e sem sonhos se fica à porta do futuro! E
que somos, todos nós, adolescentes que nos vamos construindo. Que a sabedoria é
uma forma de aproveitar os erros. E que, sim senhor, são precisas muitas horas de
"banho", de desafio (e de manha e de lábia, até), para que, com garra, e de sorriso nos
lábios, se meta no bolso a paixão e o futuro!
1.
Brincar é o aparelho digestivo do pensamento. Brincar ajuda a aprender. E a resolver
problemas. E ajuda a fazer parcerias. E a construir enredos e histórias e a
desempenhar personagens, mesmo que quem brinca faça de si próprio. E ajuda a dar
uma dimensão prática áquilo que se aprende: na sala de aula, no recreio e na escola da
vida. E ajuda a ligar ideias e a costurar conhecimentos. E a ligar pessoas, fantasias e
até aquilo que, parecendo contraditório, se liga com delicadeza. Brincar é amigo da
matemática, porque põe problemas, e do português, porque lhes dá voz e veste-os
com palavras. E é amigo das estórias com que se escreve a história. Brincar tem ciência
e dá química às coisas. É amigo da geometria descritiva e do modo como o espaço se
vive e se constrói. E ajuda a agredir com lealdade e com maneiras. E a lidar com a dor
e a costurar as frustrações. Liga os riscos com a ousadia. E, claro, casa os
compromissos com a liberdade. Por outras palavras, quem não sabe brincar não sabe
pensar!
2.
As crianças precisam de brincar todos os dias. Brincar em casa e brincar na escola.
Mesmo nas escolas que imaginam que brincar é uma atividade de primavera/verão e
que, por isso, supõem que não é preciso ter recreios cobertos, com pisos e adereços
amigos das crianças. E precisam de brincar sozinhas e acompanhadas. Em casa e fora
dela, claro. E precisam (mesmo!) de brincar em espaços públicos. Porque um brincar
assim traz amigos desconhecidos. Transforma os estranhos em caras familiares. E
obriga a partilhar com quem nunca se brincou. Traz alguns medos e uma pitada de
riscos. Mas, com eles, vem o desafio de os olharmos nos olhos e, só assim, se aprende
a vencê-los.
3.
Brincar torna as crianças atentas, sempre que se distraem, e fá-las distraírem-se
quando a atenção, lavrada com aquilo que elas criam, as faz ter um engenho de
perguntar porquê e a ir sempre um pouco mais além. Na verdade, não há como o
brincar para que as crianças aprendam a perguntar!
4
Para crescerem saudáveis, as crianças precisam de brincar duas horas por dia. Um
brincar que elas giram, mal cheguem a casa. Antes, ainda, de fazerem qualquer tarefa
escolar. Ou seja: primeiro, brinca-se; depois, estuda-se! Brincar é, pois, mais
importante que as atividades extracurriculares. Este brincar não é uma atividade que
seja recomendável em espaço escolar ou paraescolar. Deve ser um brincar livre, gerido
pelo engenho das crianças e tutelado pelos pais. Deve ser um brincar onde não
estejam só a ponta dos dedos, claro. Mas, como se diz no futebol, um brincar onde se
tem de "entrar com tudo": com a cabeça, com o corpo e com a alma.
5.
É por isso que eu acho que uma criança que só brinca quando um adulto direciona o
seu brincar, vive em liberdade condicional. É como uma ave que só se imagina a voar.
Cria sob tutela o que, na verdade, não será, de todo, criar. Uma criança assim esconde
no brincar o seu desamparo. E isso preocupa-me! Porque brincar é um exercício de
liberdade. Uma forma de tratar por tu a imaginação, a fantasia e o pensamento. Brincar
traz o brio e a garra, a honestidade, a perseverança e a tenacidade. E traz a festa,
claro. Mas porque é que aprender não pode ser uma festa?... Brincar não é, pois, uma
meta educativa; é aquilo que as torna possíveis.
6.
Por tudo isto, eu acho que, à porta de um recreio, devia estar um letreiro enorme
dizendo: "reservado o direito de admissão!", de forma a proteger os recreios dos
adultos abelhudos. Daqueles que acham que as crianças não sabem nem brincar!
Quando, na verdade, sempre que as crianças parecem não saber brincar são os pais
que lhes não contam histórias. Que as entregam a tablets, a telemóveis e à televisão,
como se cada um deles fosse um babysitter. Quando são eles que, ao jantar, não falam
mas partilham uma telenovela. Quando são eles que não as deixam correr e sujar-se.
Quando são eles que acham que tudo o que é vivo parece ser ameaçador ou, até
mesmo, perigoso. Ora, eu acho que se aprende tanto (ou mais) no recreio que na
maioria das aulas. Recreio é escola de vida. É o sítio onde as crianças se educam umas
às outras. É bom que haja um vigilante, sim, para as proteger dos excessos, por
exemplo. Mas devia ser proibida esta tutela absurda que muitas escolas fazem do
recreio. Aliás, eu acho que a escola ganharia se transportássemos o recreio para a sala
de aula, porque, assim, ela seria mais plural, mais participada, mais democrática e
mais inclusiva.
7.
Toda a gente nasce a saber brincar. Mas sim: há pessoas que se esqueceram da
infância que tiveram e há pessoas que nunca foram crianças. Umas e outras não sabem
brincar. E, às vezes, estas pessoas a quem roubaram a infância parecem tornar-se tão
invejosas (ou sentir-se tão ameaçadas com a infância da qual se desencontraram), que
acabam afirmando que as crianças são cruéis umas para as outras, que têm
brincadeiras estúpidas, que não sabem brincar, que fazem muito barulho ou que têm
brincadeiras muito agressivas. Eu acho que é tudo mais simples. Afinal, essas pessoas
vivem sequestradas na pior saudade de todas: na saudade do brincar que nunca
tiveram.
8.
Brincar tem riscos! O maior de todos os riscos é o das crianças crescerem à margem da
infância. Comandados por pais e professores que ainda não perceberam que não é
quem cresce mais depressa que cresce melhor. E, pior, ainda, traz "a mãe de todos os
riscos": o risco de viver com adultos que estão longe de perceber que brincar é o
património imaterial, mais delicioso e mais comovente, da Humanidade.
9.
Se eu mandasse, decretava uma greve de zelo a todos os brincares. E aí iríamos todos
ver como os pais se iriam constipar por tanta tolice! E deviam processar os políticos
que acham que brincar faz mal, no tribunal dos "donos disto tudo", por "gestão
danosa" da infância. E deviam manifestar-se, todos os dias, contra todos aqueles que
acham que o brincar as distrai! E faz com que as crianças deixem de ser atiladas e
compenetradas. Aliás, se as crianças ainda são um bocadinho crianças, contra a
vontade de muitos, é porque elas se organizaram como Resistência. E têm como arma
secreta o seu brincar!
10.
Brincar dá alma! E dá sabedoria. E abre, todos os dias, uma avenida onde o horizonte
fica sempre mais além!
Eduardo Sá

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Não deixem os adolescentes em paz

  • 1. Não deixem os adolescentes em paz! Têm sido notícia os 13 minutos de agressões de um grupo de adolescentes a um colega, numa rua da Figueira da Foz. Os diversos atos de violência física e de insultos e intimidações foram, sobretudo, protagonizados por duas raparigas, tendo sido registados, em vídeo, por um dos membros de um grupo que, entretanto, foi assistindo a tudo isto. Se bem que toda esta situação tenha decorrido há um ano, o impacto que está a ter na opinião pública tem merecido ameaças de represálias aos agressores, processos tutelares educativos e processos judiciais. E comentários; muitos comentários! 1. Devo dizer que os adolescentes não são, hoje, nem mais cruéis nem mais violentos entre si. E receio que quem mais dá ênfase ao bullying, como se fosse uma epidemia atípica que os caracteriza, seja quem mais confunde a necessária aprendizagem da agressividade, nos adolescentes - que deve fazer-se com lealdade e com maneiras, e que é útil e indispensável pela vida fora - com atos de violência, como se fosse esperado que eles ou fossem anjos ou, à primeira oportunidade, se transformassem nuns maltratantes compulsivos. E essa confusão é má. 2. Parem de falar, a propósito dos adolescentes, da forma como eles banalizam o mal. Como se eles fossem o diabo em figura de gente e os adultos, todos os adultos, um exemplo irrefutável de "oficiais e cavalheiros". Na verdade, tomaríamos todos que a maioria dos adultos tivesse a lealdade e a lisura da maioria dos adolescentes, em vez de lhes atribuir a maldade que não aceitam nem enxergam em si próprios. A propósito, não se esqueçam dos números (catastróficos) de violência doméstica - que, como sabemos, ficam aquém da sua real dimensão - e que é fomentada por adultos, grande parte deles pais, e alguns (quem sabe?) que aproveitam episódios como estes para falarem, com preocupação, de bullying... nos adolescentes. 3. Quando se promove sofrimento, de forma repetida, sem reparação e sem remorsos, uma pessoa tornou-se má, sim! Mas ninguém se torna mau sem a ajuda da família e de muitas omissões cumulativas! E, já agora, tenham cuidado com alguns adultos que diabolizam os adolescentes. Porque, muitas vezes, são as mesmas pessoas que violentam pelas costas, sem "sujarem as mãos". O que é mais grave.
  • 2. 4. Não se esqueçam, também, que os adolescentes têm pais. E que por mais que alguns se coloquem num patamar do género: "olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço", se há adolescentes que se tornam compulsivamente violentos, não é sério que os seus pais se coloquem como "passageiros acidentais" nisto tudo, atribuindo a "defeitos de fabrico" ou à influência do próprio grupo, aquilo que serão lacunas graves de educação para as quais, por omissão (na melhor das hipóteses) não deixaram de ter contribuído. Ou seja, por mais que um grupo exerça uma "força de arrastamento", adolescentes saudáveis dizem-lhe: "não, obrigado!". Portanto, não vale a pena ilibar todos estes pais como se fossem pacatos e distraídos. Não agrediram, é claro. Mas os pais destes adolescentes não deixarão de merecer ser corresponsabilizados pelos atos protagonizados pelos seus filhos. Isto é, se eu sou responsável por pagar um vidro que um dos meus filhos adolescente tenha partido, não vejo porque é que ele passará a ser o único responsável por atos graves que tenha cometido quando está à minha guarda. 5. É bom que se perceba que todos já fomos violentos. Num impulso, por exemplo. Os pais e os filhos serão assim, de vez em quando, entre si. Mas um impulso, acidentalmente, violento não é, por inerência, amigo do bullying. Isto é, ser, acidentalmente, violento ajuda, muitas vezes, a conseguir perceber que bondade e inteligência são sinónimos. Já agir a violência com indiferença é diferente. Sendo assim, um episódio como este já nos remete para adolescentes mais doentes do que, à primeira vista, poderá parecer. E que, para além de precisarem de ajuda, não deixam de merecer castigo. Não confundamos, portanto, fazer por compreender o que se terá passado para que um adolescente se tenha estragado a este ponto, com condescender. Por outras palavras, atos violentos organizados, protagonizados por um grupo contra uma vítima exigem medidas judiciais ou medidas tutelares educativas (consoante a idade de quem os protagonizou) claras, sábias mas duras, de forma a encontrar nelas uma resposta serena e educativa que reponha alguns limites nos adolescentes a quem eles parecem faltar. 6. Agredir em grupo, com assistentes e "operadores de imagem", numa artéria central de uma cidade, deve levar a que se castigue quem agrediu, que se castigue quem assistiu e que se castigue quem ignorou o seu dever de proteção e de auxílio (de preferência, não distinguindo as "coimas" para uns e para outros). 7. A violência em grupo é muito mais grave que a violência individualizada. Logo, o castigo tem de ser mais robusto. Porque um grupo unido num mesmo ato de violência é mais aterrorizador e mais brutal. No entanto, por mais que, à data em que tudo isto
  • 3. aconteceu, todos estes protagonistas fossem adolescentes, não deixarão de precisar de quem os eduque, de quem os proteja. E de quem os castigue. Isto é, adolescentes perigosos não deixam de ser, também, crianças em perigo. Não tanto no sentido de os ilibarmos dos atos que cometeram. Mas de, ao formularmos um castigo, não deixarmos de ter a noção da importância que ele pode ter... depois de amanhã. 8. Se registar imagens de atos violentos de um grupo, enquanto alguém é violentado, negando o dever de auxílio, é gravíssimo, difundir imagens nas redes sociais, não é melhor (por mais que sem elas não tivéssemos a oportunidade de fazer Justiça). É, portanto, altura de, para além deste caso, a Procuradoria Geral da República estar em linha com outros atos graves que violentam e atentam contra o direito à privacidade, sem esperar que eles se tornem primeiras páginas. Como aqueles que se passam com imagens recolhidas numa discoteca de Lisboa onde, enquanto vários adolescentes assistem, há quem registe relações sexuais para que, a seguir, as coloque nas redes sociais. E que não menospreze um movimento que, entretanto, se gerou, com um número significativo de adesões, que propõe que uma das protagonistas deste episódio da Figueira da Foz "vamos mostrar quem é que tem força". 9. Por mais que se compreenda o impulso hostil com que muitos colegas de quem agrediu reajam, hoje, não seria bem melhor que a própria escola destes adolescentes encontrasse neste episódio inquietante uma oportunidade de se revelar musculada e sensata, dissuadindo aqueles que à violência reagem com a violência, em vez de conviver com uma brigada de polícia à porta da escola, como se "as autoridades" estivessem mais habilitadas para lidar com adolescentes em choque do que os seus professores? 10. Não se esqueçam, por favor, da vítima. Do adolescente que foi ofendido, agredido e humilhado e que, porventura, por terror, não apresentou queixa. Como muitas mais vítimas! E não se esqueçam que, por mais que tenha sobrevivido a este episódio, ele não deixa de ter danos “irressarcíveis”. Mas não se esqueçam, também, de muitas mais crianças e adolescentes que são vítimas de bullying e que, no silêncio do seu sofrimento, convivem com escolas que, enquanto falam dele, o ignoram com indiferença, como se aquilo que se passa nos recreios não merecesse, como tem de merecer, os cuidados da escola e a responsabilidade de quem a dirige. 11. E não se esqueçam que alguns órgãos de comunicação confundem exibir a violência com o dever de informar. Sem a denúncia dos órgãos de comunicação, a Justiça fica mais pobre; é verdade. Mas reside no rigor dos critérios com que falam de
  • 4. violência e de bullying uma fronteira fundamental entre banalizar o mal e encontrar nele formas inequívocas de contribuir para que nos humanizemos todos. Por tudo isto, é importante que devamos perceber os motivos que terão contribuído para que tudo isto se desse, e é fundamental que, de forma justa, castiguemos. Mas é indispensável que não nos aproveitemos destes episódios para que, à boleia de um conjunto de adolescentes que nos devem preocupar a todos, se afirme que todos os adolescentes são assim. Não são! Apesar dos erros humanos dos seus pais e dos seus professores são melhores que muitos deles. Não é, pois, prudente que deixemos passar um episódio como este como se não fosse gravíssimo. Mas, por favor, não o tomem como se ele fosse a "imagem de marca" dos adolescentes. E se, porventura, for essa a tentação de alguns de vós, aceitem este apelo: não deixem os adolescentes em paz! Não tanto no sentido de reagirem invejosamente aos adolescentes, como se eles fossem o "topo de gama" de todos os defeitos humanos, ao contrário daquilo que se passa com os adultos. E de os terem por debaixo de um alerta geral ou de "tolerâncias zero". Mas com a intenção de saberem quase tudo sobre os "vossos" adolescentes: os amigos, as rotinas, os silêncios estranhos, as paixões arrebatadas, a forma como tagarelam e o modo como se afastam, os burburinhos e os murmúrios, as agendas e as retiradas. Mas, por favor, não o façam como quem anda a sondar problemas! Tenham, unicamente, a prudência de quem os percebe como crianças numa "embalagem", simplesmente, XL. E com a convicção de, por vezes, eles falam mais por atos e por omissões. E que, por tudo isso, precisam de pais, sempre! E de regras e rotinas. E de "coimas", à medida daquilo que fazem. Mas nunca os transformem numa espécie de reciclagem do lixo doméstico dos adultos! Mesmo quando um ou outro, como aconteceu, são violentos. Errar é aprender
  • 5. Os bons alunos são aqueles para quem errar é, também, aprender. São aqueles que, com ajuda dos pais, percebem que a família é mais importante que a escola, e que brincar será, pelo menos, tão importante como aprender. E são aqueles que convivem com o desafio de terem (sempre!) alguma necessidade educativa especial. O que torna a escola um lugar plural, diante da sabedoria e das dificuldades que, ao ligar orgulho e humildade, permite que se aprenda que uma vitória nunca se dá sobre os outros mas diante das nossas dificuldades, nem se dá contra eles mas com a sua ajuda. E são aqueles que trazem a "escola da vida" para o seu crescimento, ao contrário de todos os outros que, tendo um crescimento demasiado esterilizado, parecem tornar-se insensíveis, desatentos e pouco solidários. É bom que as crianças tenham conhecimentos, claro. Mas é indispensável que elas saibam resolver problemas. E que ter uma vida e aprender são desafios - difíceis e complexos - que exigem erros (muitos erros!). Tudo ao contrário desta forma um pouco egocêntrica como as crianças são educadas. Como se, para além delas e dos seus compromissos escolares, não existissem outras prioridades, dificuldades que é preciso afrontar, cuidados que precisam de ter, relações que se devem estimar e paixões que têm de se acarinhar. Primeiro a paixão; depois o trabalho! Eu gosto dos adolescentes. Mesmo quando reconheço que é difícil e é chato ser adolescente! Em primeiro lugar, porque tudo o que é importante e precioso leva tempo e se costura com imensos erros. E aquilo que lhes exigem parece não contar com nada disso. Depois, porque ligar as relações sociais, as relações amorosas, a família, o corpo, a cabeça e o estudo é muito confuso, a ponto de não se saber como se pode gerir tudo isso sem que a vida toda fique em "hora de ponta". A seguir, porque todos
  • 6. lhes exigem este mundo e o outro enquanto que, aos 12, a puberdade os desformata e, aos 14, a sexualidade, ao "bater na cabeça", só os complica. É chato (de verdade) ser adolescente! Porque todos lhes perguntam como vai a escola quando eles baralham piropos e galanteios e batalham, constantemente, com o coração quando se trata de seduzir, de flirtar e de namoriscar. Porque ninguém lhes diz que namorar é muito mais importante do que estudar. Porque - apesar das paixões terem, por vezes, 10 minutos - primeiro está, para sempre, o amor (e o desejo de se ser feliz todos os dias!) e só depois vem o trabalho e a carreira (embora todos lhes garantam, pelos exemplos que lhes dão, que o mundo anda ao contrário). E é chato ser adolescente porque todos os ensinam ao contrário. Ninguém lhes diz que não há carreiras de sucesso se uma pessoa não for paga para brincar. Se não for atrás de uma paixão. Se não se atrapalhar e baralhar um ror de vezes até que as suas escolhas passem a ter a sua cara. Mas que, por isso mesmo, é preciso trabalhar muito para encontrar uma paixão. E que só mesmo os batoteiros esperam que as paixões lhes caiam no colo ou que cheguem de surpresa (sobretudo quando dizem que, primeiro, precisam de ter a certeza acerca daquilo em que são bons para, só depois, darem o melhor de si em função disso). Alguém que diga aos adolescentes que nunca somos bons! Que sem paixão não há garra e sem sonhos se fica à porta do futuro! E que somos, todos nós, adolescentes que nos vamos construindo. Que a sabedoria é uma forma de aproveitar os erros. E que, sim senhor, são precisas muitas horas de "banho", de desafio (e de manha e de lábia, até), para que, com garra, e de sorriso nos lábios, se meta no bolso a paixão e o futuro! 1. Brincar é o aparelho digestivo do pensamento. Brincar ajuda a aprender. E a resolver problemas. E ajuda a fazer parcerias. E a construir enredos e histórias e a desempenhar personagens, mesmo que quem brinca faça de si próprio. E ajuda a dar
  • 7. uma dimensão prática áquilo que se aprende: na sala de aula, no recreio e na escola da vida. E ajuda a ligar ideias e a costurar conhecimentos. E a ligar pessoas, fantasias e até aquilo que, parecendo contraditório, se liga com delicadeza. Brincar é amigo da matemática, porque põe problemas, e do português, porque lhes dá voz e veste-os com palavras. E é amigo das estórias com que se escreve a história. Brincar tem ciência e dá química às coisas. É amigo da geometria descritiva e do modo como o espaço se vive e se constrói. E ajuda a agredir com lealdade e com maneiras. E a lidar com a dor e a costurar as frustrações. Liga os riscos com a ousadia. E, claro, casa os compromissos com a liberdade. Por outras palavras, quem não sabe brincar não sabe pensar! 2. As crianças precisam de brincar todos os dias. Brincar em casa e brincar na escola. Mesmo nas escolas que imaginam que brincar é uma atividade de primavera/verão e que, por isso, supõem que não é preciso ter recreios cobertos, com pisos e adereços amigos das crianças. E precisam de brincar sozinhas e acompanhadas. Em casa e fora dela, claro. E precisam (mesmo!) de brincar em espaços públicos. Porque um brincar assim traz amigos desconhecidos. Transforma os estranhos em caras familiares. E obriga a partilhar com quem nunca se brincou. Traz alguns medos e uma pitada de riscos. Mas, com eles, vem o desafio de os olharmos nos olhos e, só assim, se aprende a vencê-los. 3. Brincar torna as crianças atentas, sempre que se distraem, e fá-las distraírem-se quando a atenção, lavrada com aquilo que elas criam, as faz ter um engenho de perguntar porquê e a ir sempre um pouco mais além. Na verdade, não há como o brincar para que as crianças aprendam a perguntar! 4 Para crescerem saudáveis, as crianças precisam de brincar duas horas por dia. Um brincar que elas giram, mal cheguem a casa. Antes, ainda, de fazerem qualquer tarefa escolar. Ou seja: primeiro, brinca-se; depois, estuda-se! Brincar é, pois, mais importante que as atividades extracurriculares. Este brincar não é uma atividade que seja recomendável em espaço escolar ou paraescolar. Deve ser um brincar livre, gerido pelo engenho das crianças e tutelado pelos pais. Deve ser um brincar onde não estejam só a ponta dos dedos, claro. Mas, como se diz no futebol, um brincar onde se tem de "entrar com tudo": com a cabeça, com o corpo e com a alma.
  • 8. 5. É por isso que eu acho que uma criança que só brinca quando um adulto direciona o seu brincar, vive em liberdade condicional. É como uma ave que só se imagina a voar. Cria sob tutela o que, na verdade, não será, de todo, criar. Uma criança assim esconde no brincar o seu desamparo. E isso preocupa-me! Porque brincar é um exercício de liberdade. Uma forma de tratar por tu a imaginação, a fantasia e o pensamento. Brincar traz o brio e a garra, a honestidade, a perseverança e a tenacidade. E traz a festa, claro. Mas porque é que aprender não pode ser uma festa?... Brincar não é, pois, uma meta educativa; é aquilo que as torna possíveis. 6. Por tudo isto, eu acho que, à porta de um recreio, devia estar um letreiro enorme dizendo: "reservado o direito de admissão!", de forma a proteger os recreios dos adultos abelhudos. Daqueles que acham que as crianças não sabem nem brincar! Quando, na verdade, sempre que as crianças parecem não saber brincar são os pais que lhes não contam histórias. Que as entregam a tablets, a telemóveis e à televisão, como se cada um deles fosse um babysitter. Quando são eles que, ao jantar, não falam mas partilham uma telenovela. Quando são eles que não as deixam correr e sujar-se. Quando são eles que acham que tudo o que é vivo parece ser ameaçador ou, até mesmo, perigoso. Ora, eu acho que se aprende tanto (ou mais) no recreio que na maioria das aulas. Recreio é escola de vida. É o sítio onde as crianças se educam umas às outras. É bom que haja um vigilante, sim, para as proteger dos excessos, por exemplo. Mas devia ser proibida esta tutela absurda que muitas escolas fazem do recreio. Aliás, eu acho que a escola ganharia se transportássemos o recreio para a sala de aula, porque, assim, ela seria mais plural, mais participada, mais democrática e mais inclusiva. 7. Toda a gente nasce a saber brincar. Mas sim: há pessoas que se esqueceram da infância que tiveram e há pessoas que nunca foram crianças. Umas e outras não sabem brincar. E, às vezes, estas pessoas a quem roubaram a infância parecem tornar-se tão invejosas (ou sentir-se tão ameaçadas com a infância da qual se desencontraram), que acabam afirmando que as crianças são cruéis umas para as outras, que têm brincadeiras estúpidas, que não sabem brincar, que fazem muito barulho ou que têm brincadeiras muito agressivas. Eu acho que é tudo mais simples. Afinal, essas pessoas vivem sequestradas na pior saudade de todas: na saudade do brincar que nunca tiveram.
  • 9. 8. Brincar tem riscos! O maior de todos os riscos é o das crianças crescerem à margem da infância. Comandados por pais e professores que ainda não perceberam que não é quem cresce mais depressa que cresce melhor. E, pior, ainda, traz "a mãe de todos os riscos": o risco de viver com adultos que estão longe de perceber que brincar é o património imaterial, mais delicioso e mais comovente, da Humanidade. 9. Se eu mandasse, decretava uma greve de zelo a todos os brincares. E aí iríamos todos ver como os pais se iriam constipar por tanta tolice! E deviam processar os políticos que acham que brincar faz mal, no tribunal dos "donos disto tudo", por "gestão danosa" da infância. E deviam manifestar-se, todos os dias, contra todos aqueles que acham que o brincar as distrai! E faz com que as crianças deixem de ser atiladas e compenetradas. Aliás, se as crianças ainda são um bocadinho crianças, contra a vontade de muitos, é porque elas se organizaram como Resistência. E têm como arma secreta o seu brincar! 10. Brincar dá alma! E dá sabedoria. E abre, todos os dias, uma avenida onde o horizonte fica sempre mais além! Eduardo Sá