1. PrecariAcções
Agosto 2013
21
Boletim organizativo e de luta dos call-centers
EDITORIAL
Editorial
Editorial
Este domingo o país foi a votos e,
independentemente de resultados locais e
particulares, a grande conclusão geral e
nacional que se tira é a de que o governo e
as suas políticas de austeridade e cortes nos
direitos de quem trabalha saem derrotadas.
A população foi às urnas mostrar um cartão
vermelho ao Governo tal como já o tinha
feito nas enormes manifestações nacionais
que têm acontecido em que participam
centenas de milhares de pessoas. Acabadas
as autárquicas, olhemos para a situação no
nosso país: entre o quarto trimestre de 2010
e o primeiro trimestre de 2013, a economia
portuguesa mergulhou num processo
contínuo de destruição. São dez trimestres
consecutivos em contracção naquilo que foi
uma queda de cerca de 7,2% do PIB (- 3.000
milhões de euros) e um aumento do
desemprego de 11,1% para 17,7% (+ 333 mil
desempregados). Em termos absolutos, no
primeiro trimestre deste ano, regressámos
ao nível de riqueza do ano 2000 e
alcançámos uma taxa de desemprego nunca
antes registada. Quanto aos juros da dívida
pública a 10 anos, estes voltaram a
ultrapassar a barreira que, em Abril de
2011, levou o Governo PS a abrir portas à
intervenção da Troika – acima dos 7%.
Apesar deste cenário, nenhuma acção foi
tomada, por este Governo, para que a crise
seja resolvida. A nossa estrutura produtiva
continua débil e dependente. Apenas
importamos menos porque o nosso
rendimento sofreu fortes diminuições. Nos
primeiros seis meses do ano, a dívida
pública continuou a aumentar, tendo
atingido os insustentáveis 130,9% do PIB .
Como se não bastasse, até 2015, será
imposto um corte na despesa pública na
ordem dos 4.800 milhões de euros. Este
Governo declarou uma guerra social e
económica a quem trabalha em detrimento
dos
seus “amigos” como é o caso de
Oliveira e Costa do caso BPN. É preciso que
o golpe que o Governo sofreu nas eleições
autárquicas se materialize nas ruas, e isso
começa já com as manifestações de dia 19
de Outubro da CGTP-IN e de dia 26 Outubro
do movimento “Que se Lixe a Troika”.
Vamos para a rua correr com Coelho e
Portas.
DESPEDIMENTOS NA IBM
Não somos números
Mais um episódio triste se passou no edifício da estação. Colegas
contratados directamente pela IBM foram mandados para a rua, como
uma qualquer coisa descartável que se usa e deita fora. Não importou
que fossem trabalhadores zelosos e competentes no seu trabalho. Não
importou que tivessem família para sustentar. Não importou que tivessem
boas métricas. Importou sim dispensar colaboradores para não se ter
chatices, agora que um dos intermediários, a IBM, foi vendida a outra
empresa qualquer.
O Precariacções está solidário com os colegas despedidos injustamente.
Infelizmente já vimos este episódio mais que uma vez, de ver colegas
dispensados apesar de serem bons colaboradores. Isto serve também
para manter todos os outros na linha. Linha no sentido de nos impôr uma
sensação de insegurança e medo de que vamos ser os próximos. Assim
não reclamamos e aceitamos passiva e pacificamente as injustiças de
que somos alvo. E aceitamos o desprezo que estas empresas todas
(Apple, IBM, Randstad e Adecco) vêem no nosso trabalho. Somos mais
um número. Somos mais uma máquina para atender chamadas,
dispensável a qualquer momento, tal como se viu com os colegas da
IBM. E se eles eram IBM imaginem se forem trabalhadores dos outros
intermediários?
Estas empresas aproveitam-se de nós e só vêem cifrões à frente. Não
importa o bem-estar físico e psicológico dos colaboradores. Importa é
dar-lhes de ganhar.
Por isso, colegas, fazemos um apelo para que se juntem ao
Precariacções. É preciso estarmos juntos e organizados para não
deixarmos que nos tratem como coisas e números. É preciso
mobilizarmo-nos quando situações injustas como esta acontecem. É
preciso defendermos os nossos direitos. Juntos somos mais fortes.
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2. “DRESS CODE” VS. BOM SENSO
A forma como te vestes deve
depender da tua profissão, dos teus
gostos pessoais ou do contexto em
que trabalhas?
Bem, é um pouco de tudo. O tipo de
função que desempenhas tem
influência na tua forma de vestir, uma
vez que se tens contacto directo com
o cliente-alvo, a tua indumentária
pode ser determinante para o
sucesso ou para o fracasso. O que
não acontece aqui.
Ora, num call center, que é um
ambiente mecanizado e que cada
vez mais se assemelha a uma linha
de produção fabril, a proibição de
determinadas peças de roupa e
calçado apenas vem retirar o pouco
"conforto" que ainda temos. Ok,
temos cadeiras adaptáveis (uau!),
colunas coloridas (espectáculo!),
janelas (que luxo!), mas trocávamos
tudo isso por poder vir o mais
SHIFT BID III
Shift Bid ou Long Shift?
confortável possível para o
meu stressante dia de
trabalho.
Somos todos adultos e, por
essa razão, as nossas
mãezinhas já não nos
escolhem a roupa para
vestir, como quando éramos
crianças. E agora querem
fazê-lo vocês, Recursos
Humanos? Reflictamos
nisto, colegas.
Te m o s a s s u n t o s m a i s
importantes a resolver, mas
que não são nem referidas,
como por exemplo, o facto
de termos 1 copa e 2
microondas, para mais de 100
pessoas (por piso, e aqueles que não
o têm distribuem-se por outros
pisos). Há ainda o facto dos
consumíveis da copa/wc estarem
mútuo acordo mas todos nós
sentimos na pele a pressão para
aceitar ter essas horas no “banco de
horas”. Aliás, tudo o que aqui é feito
é sempre na base da pressão e do
medo.
Já pararam para pensar na
importância que o long shift tem para
a empresa? Já pararam para pensar
no porquê das pessoas que aderiram
ao long shift terem prioridade na
escolha das folgas? O que é
importante são mesmo as métricas
ou são as horas extras garantidas? O
ranking, o esforço para não termos
dsats e o esforço para não
chegarmos mais do que 15 min
atrasados por mês não são mais
importantes, para as empresas de
trabalho temporário, do que trabalhar
10h/dia. Que vergonha!
O long shift é, sem dúvida, uma
forma da empresa garantir horas
extras. Para não falar da já duvidosa
forma de terem mandado embora, no
verão quando não havia muitas
chamadas, e agora exigirem que
essas horas sejam dadas! Todo o
processo foi feito de uma forma
muito duvidosa – deveria ter sido de
Caras entidades patronais, um aviso:
a corda quando estica demais,
rebenta!
Vo l t a n d o a o s h i f t b i d , j á n o
Precariações anterior escreviamos:
“Todos já perceberam que ninguém
está contente com os horários e
Contacta-nos através de:
esgotados ou ainda as lâmpadas do
wc não funcionarem durante meses.
Posto isto, não acham que as
prioridades andam meio trocadas?
folgas mas a forma que tanto
demoraram a dar foi, mais uma vez,
insuficiente e baseada na injustiça!
Já perceberam que algo de errado se
passa, o que nos leva à segunda
pergunta que não quer calar: as
tentativas falhadas são já tantas que
a hipótese de ser propositado
começa já a ser cada vez uma
certeza.” Faz todo o sentido
escrevermos novamente e de facto,
poderiamos repetir todos os números
anteriores porque aqui o que muda é
nada, os problemas não se resolvem
e só aumentam!
As empresas de trabalho temporário
que sugam o nosso salário nos callcenters, já apelidados de escravatura
do séc XXI, têm de começar a
perceber que lidam com pessoas e
não com escravos, lidam com seres
humanos com necessidades e não
com máquinas.
Colegas, temos de ser nós a lutar
pelo nossos direitos e não podemos
ficar à espera que eles acordem
bem-dispostos um dia de manhã e
reconheçam a injustiça que nos
fazem passar todos os dias.
Email: precariaccoesbraga@gmail.com Blog: precariaccoesbraga.blogspot.com
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