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Diagnóstico Precoce da Artrite Reumatóide
                                        DIAGNOSING RHEUMATOID ARTHRITIS EARLY
                                              CÉLIA REGINA FARINHA RODRIGUES1, SILVIA DAL BÓ1, RAQUEL MARIA TEIXEIRA2


 RESUMO - A artrite reumatóide afeta 0,5-1% da população mundial. A orientação para o diagnóstico é baseada nos critérios de clas-
 sificação do Colégio Americano de Reumatologia (ACR), dentre os quais, encontra-se o Fator Reumatóide (FR), único critério de diag-
 nóstico laboratorial adotado. A busca por marcadores diagnósticos alternativos eficazes para o diagnóstico da artrite reumatóide le-
 vou a descoberta dos auto-anticorpos antiperinuclear, antiqueratina e antifilagrina, os quais, a despeito de serem mais específicos pa-
 ra AR do que o Fator Reumatóide possuem uma metodologia com baixa sensibilidade. Recentemente, tem-se demonstrado um novo
 marcador para a Artrite Reumatóide, denominado anticorpo anti-peptídio cíclico citrulinado (anti- CCP) detectado por ensaioimuno-
 enzimático (ELISA), o qual apresenta uma sensibilidade de 60- 80% e uma especificidade de 98%. Além de suas propriedades diag-
 nósticas, tem sido sugerido que os anticorpos anti-CCP teriam valor prognóstico e indicaria a presença da AR, mesmo na ausência de
 sintomas clínicos, auxiliando na prevenção de degeneração de cartilagens, além de estar envolvido na fisiopatologia da doença. Con-
 siderando o elevado valor preditivo e diagnóstico preciso do anti-CCP, este trabalho ressalta a importância de sua incorporação no di-
 agnóstico da AR.
 PALAVRAS CHAVES - Artrite Reumatóide, Marcadores Preditivos, Diagnóstico.

 SUMMARY - Rheumatoid arthritis (RA) affects about 1% of the world population, yet the driving antigen(s) remain unidentified. Al-
 though the American College of Rheumatology classification criteria are often used in clinical practice as diagnostic tool for RA, they
 are not very well suited for the diagnosis of early RA. Number of different antigens has been proposed to have a fundamental role in
 RA, including antibodies bound by rheumatoid factor (RF), collagen, BiP, Sa and many others. The field has been revolutionized by
 the discovery that antigens containing arginine residues that been deiminated to form citrulline are prominent targets of autoantibo-
 dies in RA. Their detection forms the basis of several assays that are now standard diagnostic tests in rheumatology clinics world wi-
 de. Therefore a good marker should ideally be able to predict the erosive or nonerosive progression of the disease. Fortunately, the
 anti-CCP (cyclic citrullinated peptide) antibodies meet the demands for a good and useful marker for early RA and this will be the fo-
 cus of this review.
 KEYWORDS - Rheumatoid Arthritis; early; Serological marker diagnosis.

                           INTRODUÇÃO                                               go prazo tenham melhor prognóstico, especialmente quan-
                                                                                    do aplicadas na fase inicial da doença. A falta de caracte-
                                                                                    rísticas específicas da doença ou de testes específicos para
A    artrite reumatóide (AR) é um distúrbio inflamatório
     sistêmico crônico que pode afetar muitos tecidos e
órgãos – pele, vasos sangüíneos, coração, pulmões e mús-
                                                                                    o diagnóstico da AR dificultam o norteamento dos pesqui-
                                                                                    sadores com relação à progressão e prognóstico do pacien-
culos – mas que ataca principalmente as articulações, pro-                          te (QUINN et al., 2001).
duzindo uma sinovite proliferativa não supurativa que pro-                          A implicação lógica da terapia iniciada antes do desenvol-
gride freqüentemente para a destruição da cartilagem arti-                          vimento total da AR é que esta pode proporcionar maiores
cular e anquilose das articulações. Apesar de a etiologia da                        benefícios aos pacientes. Isto significa que os pacientes que
AR continuar desconhecida, existe evidência convincente                             podem apresentar formas da doença mais severas são iden-
de que a autoimunidade desempenhe um papel proemi-                                  tificados e tratados nos estágios mais iniciais da AR. Entre-
nente em sua cronicidade e progressão, aproximando essa                             tanto, como não há nenhum aspecto clinico, radiológico ou
condição das outras denominadas doenças do tecido con-                              imunológico que seja patognomônico, a seleção de pacien-
juntivo (ZVAIFLER, 1989; ARNETT, 1993; LIPSKY, 1998;                                tes é o primeiro maior problema quando se orientam paci-
SKARE, 1999; ROSEMBERG, 2000; LEE et al., 2001, LAU-                                entes com AR precoce. Além disso, sabe-se dos potenciais
RINDO et al.,2002).                                                                 efeitos tóxicos das drogas modificadoras do curso da doença
A prevalência da AR é de cerca de 0,8% da população (fai-                           e, apesar do aumento do uso de novos agentes biotecnoló-
xa de 0,3 – 2,1%); as mulheres freqüentemente são afeta-                            gicos, como o anti-TNFα, a importância do desenvolvimen-
das aproximadamente 3 vezes mais que os homens. A pre-                              to de critérios de diagnósticos mais acurados da AR é alta-
valência aumenta com a idade e as diferenças entre os se-                           mente evidente (QUINN et al., 2001; SMOLEN et al., 2003).
xos diminuem na faixa etária mais avançada (ARNETT,
1993; LIPSKY, 1998).                                                                                                DIAGNÓSTICO
A história da AR sugere que a maioria dos pacientes com
diagnóstico clínico de AR tenha um curso progressivo de                             O diagnóstico da AR depende da associação de uma série
incapacitação, o que se constitui num dos maiores proble-                           de sintomas e sinais clínicos, achados laboratoriais e radio-
mas de saúde pública, tanto em países industrializados                              lógicos. A orientação para o diagnóstico é baseada nos cri-
quanto em desenvolvimento. Tem-se demonstrado que                                   térios de classificação do Colégio Americano de Reumato-
aproximadamente metade dos pacientes do sexo masculi-                               logia (ACR), e incluem: 1) Rigidez matinal: rigidez articu-
no portadores de AR estão desempregados em conseqüên-                               lar durando pelo menos 1 hora; 2) Artrite de três ou mais
cia da incapacitação física (WUNDER, 1996). Entretanto,                             áreas pelo menos três áreas articulares com edemas de
surgem evidências de que estratégias terapêuticas em lon-                           partes moles ou derrame articular; 3) Artrite das articu-

                                                                   Recebido em 13/09/2004
                                                                   Aprovado em 28/01/2005
 1
  Alunas da disciplina Estágio Supervisionado 10a fase do curso de Farmácia- Análises Clínicas- UFSC. 2 Profa, Dra do Departamento de Análises Clínicas (ACL),
                                      Centro de Ciências da Saúde (CCS), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).


RBAC, vol. 37(4): 201-204, 2005                                                                                                                             201
lações das mãos; 4) Artrite simétrica; 5) Nódulos Reumatói-         Entretanto, o APF e o AKA nunca se tornaram testes de di-
des; 6) Fator Reumatóide sérico; 7) Alterações radiográfi-          agnóstico adotados na rotina dos laboratórios devido a su-
cas: erosões ou descalcificações localizadas em radiografi-         as baixas sensibilidade e especificidade derivadas de res-
as de mãos e punhos. Os critérios de 1 a 4 devem estar pre-         posta fortemente policlonal, pois a filagrina é uma proteína
sentes por pelo menos seis semanas. Além disso, quatro              altamente heterogênea, e também devido ao fato de que a
dos sete critérios são necessários para classificar um paci-        sua padronização interlaboratorial é bastante difícil, pela
ente como portador de AR (LAURINDO et al., 2002; BRA-               inconveniência de ser uma metodologia que aplica a imu-
HEE et al., 2003).                                                  nofluorescência como fundamento (BIZZARO et al., 2001).
Não há exames específicos para diagnosticar a AR. Embo-             Para aumentar a sensibilidade da detecção do peptídeo ci-
ra, o Fator Reumatóide (FR) seja encontrado em 80% dos              trulinado derivado da filagrina utilizado como antígeno uti-
adultos afetados, pessoas sadias podem apresentar normal-           lizado no método de ELISA, esses peptídeos foram modifi-
mente FR sérico, sem necessariamente desenvolver a do-              cados para adotar uma estrutura na qual a porção do pep-
ença, além disso, o FR pode também estar presente em pa-            tídeo que é citrulinado seja mais bem exposta para otimi-
cientes que apresentam outras doenças, como o Lupus Eri-            zar a ligação com o anticorpo. Com um simples peptídeo
tematoso Sistêmico, mononucleose, Síndrome de Sjögren               citrulinado cíclico (CCP), anticorpos podem ser detectados
entre outras (LIPSKY, 1998; SCROFERNEKER et al., 1998).             no soro com sensibilidade e alta especificidade em pacien-
Alguns parâmetros laboratoriais encontram-se alterados,             tes que apresentam AR. Esse peptídeo cíclico derivado da
como hematócrito diminuído, velocidade de hemossedi-                filagrina é utilizado como substrato antigênico no teste
mentação e Proteína C reativa (PCR) elevada, ainda que              CCP1. Apesar da sensibilidade do teste CCP1 ser maior do
estas alterações não sejam específicas para AR, auxiliam o          que os ensaios clássicos APF, AKA e AFA, este não possui
clínico no diagnóstico laboratorial de lesão tissular (SATO,        maior sensibilidade do que o FR IgM. O peptídeo CCP1 é
1990; ARNETT, 1993).                                                derivado de seqüências de filagrina e, uma vez que a fila-
Embora exista evidência progressiva de que o tratamento             grina não é expressa na sinóvia, este não é o antígeno na-
precoce da AR leva a um melhor controle da doença e me-             tural para os anticorpos antiproteína citrulinada. Outros
nor injúria articular, os critérios da ACR confiam fortemen-        peptídeos não relacionados a filagrina podem, por essa
te na expressão dos sintomas clínicos da AR, contudo, es-           razão, fornecer melhores epítopos para a detecção dos an-
tes parâmetros clínicos não se manifestam em estágios ini-          ticorpos. Para obtenção destes novos peptídeos, outros fo-
ciais da AR. Portanto, métodos laboratoriais que auxiliem           ram pesquisados em pacientes com AR, com base nos pep-
no diagnóstico precoce da AR tornam-se fundamentais                 tídeos citrulinados pré-existentes. Foram obtidos novos
(SCHEINBERG e SILVA, 2003; VOSSENAAR e VAN VEN-                     peptídeos citrulinados incorporados a uma segunda ge-
ROOIJ, 2004).                                                       ração de teste CCP (CCP2). Os peptídeos cíclicos utilizados
                                                                    como substrato no teste CCP2 não tem homologia com a fi-
      AUTO-ANTICORPOS ESPECÍFICOS PARA AR                           lagrina ou outras proteínas conhecidas. Esse teste tem uma
                                                                    sensibilidade comparável com o FR IgM e maior especifici-
A busca por marcadores diagnósticos alternativos eficazes           dade (VOSSENAAR e VAN VENROOIJ, 2004).
para o diagnóstico da AR levou, inicialmente, a descoberta          Várias doenças são confundidas com a AR nos estágios ini-
dos auto-anticorpos antiperinuclear (APF), antiqueratina            ciais, e não existe na atualidade exames radiológicos e la-
(AKA) e antifilagrina.                                              boratoriais acessíveis disponíveis para os laboratórios de
Os anticorpos antiperinuclear e antiqueratina, detectados           análises clínicas em geral, que permitam a diferenciação
por imunofluorescência indireta, foram descritos respecti-          desta doença das demais patologias auto-imunes. Já são
vamente em 1964 e 1979, entretanto, pesquisas demonstra-            claros os benefícios da terapia iniciada no período que an-
ram que ambos reconhecem como antígeno formas de uma                tecede as manifestações clínicas da doença, uma vez que a
molécula intracelular conhecida como filagrina, e, mais re-         detecção precoce da AR e a intervenção terapêutica são
centemente, o peptídeo da filagrina responsável pela rea-           elementos chave na prevenção de danos nas articulações,
tividade antigênica foi demonstrado ser o peptídeo cíclico          inclusive nos pacientes que apresentam FR negativo. Nes-
contendo o pouco usual aminoácido citrulina. A citrulina é          te contexto, diversos autores têm relatado a especificidade
produzida pela modificação pós-translacional da arginina            dos anticorpos anti-CCP para o diagnóstico da AR nos di-
através da enzima peptidilarginina deiminase (PAD) (Fig             versos períodos de desenvolvimento da doença, inclusive
1) (BIZZARO et al., 2001; INSTITUTO DE ANÁLISES                     naqueles mais iniciais (Tabela 1) (SCHELLEKENSS et al.,
CLÍNICAS DE SANTOS, 2002;VOSSENAAR e VAN VEN-                       2000; SARAUX et al., 2003; ORBACH e SCHOENFELD,
ROOIJ, 2004).                                                       2003; ZENG et al., 2003). Além disso, muitos estudos cor-
                                                                    relacionam a presença do anticorpo anti-CCP com a pro-
                                                                    gressão erosiva da doença, ou seja, a presença do anticor-
                                                                    po anti- CCP em títulos altos poderia representar uma for-
                                                                    ma da doença mais agressiva. Estes anticorpos podem,
                                                                    portanto, auxiliar no planejamento da estratégia terapêuti-
                                                                    ca (VENCOVSKY et al., 2003; VOSSENAAR e VAN VEN-
                                                                    ROOIJ, 2004).
                                                                    De acordo com a literatura, anticorpos anti-CCP podem ser
                                                                    detectados até 14 anos antes do surgimento dos primeiros
                                                                    sintomas da AR. Deste modo, pode-se predizer que o paci-
                                                                    ente Anti-CCP positivo irá desenvolver AR em algum está-
                                                                    gio de sua vida (MARCELLETTI e NAKAMURA, 2003,
Figura 1: Citrulinação (deiminação) da peptidilarginina pela PAD;   MEYER et al., 2003; NIELEN et al. 2004). Anticorpo anti-
O grupo guanidino da arginina é hidrolisado produzindo um           CCP2 são detectados em 25% dos indivíduos de 1 ano e
grupo ureido e amônia (VOSSENAAR e VAN VENROOIJ, 2004).             meio a 9 anos antes do aparecimento dos sintomas, e no

202                                                                                              RBAC, vol. 37(4): 201-204, 2005
ano que antecede o surgimento dos sintomas, a sensibili-      isto sugere que a detecção de auto-anticorpos específicos
dade do anti-CCP2 aumenta para 52%. Estes estudos con-        pode assegurar a chave para o diagnóstico muito precoce
cluem que este anticorpo anti-CCP tem a maior habilidade      da AR, e assim a intervenção terapêutica pode ser instituí-
para indicar o desenvolvimento futuro da AR (VOSSE-           da antes do desenvolvimento de erosões substanciais nas
NAAR e VAN VENROOIJ, 2004).                                   articulações. Além disso, o monitoramento dos níveis dos
                        Tabela I                              indicadores da doença, como PCR e VHS, pode auxiliar no
 Especificidade e sensibilidade dos anticorpos específi-      controle de progressão da doença e resposta à terapia. Ou-
     cos para a AR (Adaptada de MARCELLETTI e                 tros estudos indicam que o monitoramento sorológico de
                   NAKAMURA, 2003).                           marcadores tecido-específicos pode refletir numa maior
                                                              acurácia no processo da doença (NAKAMURA, 2000), su-
               Sensibilidade(%)        Especificidade(%)      gerindo a contribuição plena da sorologia no diagnóstico e
Anti-CCP           60 - 80                    98              controle da AR ainda está para ser totalmente definido
                                                              (MARCELLETTI e NAKAMURA, 2003).
 FR- total         32 - 83                  86 –87            Atualmente os critérios para o diagnóstico da AR (segundo
 Anti-Sa           22 - 40                 85 – 100           a ACR) são considerados padrão ouro para a classificação
                                                              da AR. A incorporação da positividade do anticorpo anti-
   AKA             27 - 47                  84 – 94           CCP como critério extra, iria aumentar a acuidade dos cri-
   APF              29 -79                  89 - 98           térios da ACR. Portanto, sugere-se a adição do anticorpo
                                                              antipeptídeo cíclico citrulinado como critério de diagnósti-
 Anti-BiP            64                       93              co da AR.

Existem ainda outros auto anticorpos com uma certa espe-                                    REFERÊNCIAS
cificidade e sensibilidade para a AR, são eles o anti-BiP e
anti-Sa. Auto anticorpo contra BiP (proteína de ligação de    ALARCÓN, G.S. Methotrexate use in rheumatoid arthritis. A clinician’s perspec-
cadeia pesada) conhecido como anti P68, ocorre em cerca          tive. Immunopharmacology. 47: 259–271(2000)
de 64% dos pacientes com AR e tem sido descrito por ter       ARNETT, F.C. Artrite Reumatóide In: CECIL. Tratado de Medicina Interna v. 2, 19
uma alta especificidade pela doença. O principal epítopo         ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan , 1993.
para o anti-BiP é o grupo do carboidrato N-acetilglucosa-     BIZZARO, N.; MAZZANTI, G.; TONUTTI, E.; VILLAUTA, D.; TOZZOLI, R. Diag-
mina, que normalmente não estão presentes no BiP, e estas        nostic accurracy of the anti-citrulline antibody assay for rheumatoid arthritis.
modificações podem ser importantes para este reposiciona-        Clinical Immunology. 47(6): 1089-1083 (2001).
mento. No entanto, a necessidade de expressão deste car-      BRAHEE, D.D.; PIERRE-JEROME, C.; KETTNER, N.W. Clinical and radiological
boidrato pode explicar porque os anticorpos anti-BiP são         manifestations of the rheumatoid wrist. A comprehensive review. J Manipu-
encontrados em uma pequena porção de pacientes com AR            lative Physiol Ther.26(5):323-9 (2003).
(MARCELLETTI e NAKAMURA, 2003; VOSSENAAR e                    HUEBER, W.; HASSFELD, W.; SMOLEN, J.S.; STEINER, G. Sensitivity and spe-
VAN VENROOIJ, 2004).                                             cificity of anti-Sa autoantibodies for rheumatoid arthritis. Rheumatology (Ox-
Os anticorpos anti-Sa também são considerados de alta es-        ford).38(2):155-9 (1999).
pecificidade e sensibilidade para o diagnóstico da AR         INSTITUTO DE ANÁLISES CLÍNICAS DE SANTOS. Anticorpos Anti-Ccp.Novo
(HUEBER et al., 1999). A verdadeira natureza do antígeno         Teste Para Artrite Reumatóide; Boletim In Formação; n o 123, Nov; 2002.
Sa continua desconhecida. Foi sugerido que é uma vimeti-      LAURINDO, I.M.M.; PINHEIRO, G.R.C.; XIMENES, A.C.; BERTOLO, M.B.; XAVI-
na citrulinada na qual, a parte citrulinada atua como um         ER, R.M.; GIORGI, R.D.N.; CICONELLI, R.M.; RADOMINSKI, S.C.; LIMA,
hapteno auto-antigênico e a vimetina como hapteno carre-         F.A.C.; BATISTELA, L.M.; ALENCAR, P. Consenso Brasileiro para o diagnós-
ador. De fato, a citrulinação da vimetina tem sido descrita      tico e tratamento da Artrite Reumatóide. Revista Brasileira de Reumatologia,
em macrófagos, células que são abundantemente presen-            v.42, n 6, 2002, pp. 355-361.
tes na sinóvia de pacientes com AR (MEYER, 2003; MAR-         LEE, D. M; WEINBLATT, M.E. Rheumatoid arthritis. THE LANCET. 15; 358(9285):
CELLETTI e NAKAMURA, 2003; VOSSENAAR e VAN                       903-11 (2001). LESLIE, D.; LIPSKY, P.; NOTKINS, A.L. Autoantibodies as pre-
VENROOIJ, 2004). Então, se o antígeno Sa é de fato citru-        dictors of disease. The Journal of Clinical Investigation. 108(10): 1417 – 1422,
linado, os anticorpos anti-Sa deveriam ser classificados         (2001).
juntamente à família de anticorpos anti CCP (VOSSE-           LIPSKY P.E. Artrite Reumatóide In: HARISSON. Medicina Inerna. V. 2, 14 ed. Rio
NAAR e VAN VENROOIJ, 2004).                                      de Janeiro: Editora McGraw-Hill Interamericana do Brasil LTDA, 1998.
                                                              MARCELETTI, J.F.; NAKAMURA,R.M. Assessment of serological markers asso-
                CONSIDERAÇÕES FINAIS                             ciated with rheumatoid arthritis Diagnostic autoantibodies and conventional
                                                                 disease activity markers. Clinical and Applied Immunology Reviews. 4: 109-
Tecnologias emergentes para quantificação de auto-anti-          123 (2003)
corpos e confirmação de sua utilidade clínica indicam e ex-   MEYER, O. Evaluating inflammatory joint disease: how and when can autoanti-
pandem o papel de marcadores sorológicos no diagnóstico          bodies help? Joint Bone Spine. 70: 433-447 (2003).
da AR. O valor de diagnóstico preditivo do anti-CCP com-      MEYER, O.; LABARRE, C.; DOUGADOS, M.; GOUPILLE, P.; CANTAGREL, A.;
binado com isoformas do FR sugerem que a doença pode             DUBOIS, A.; NICAISE-ROLAND, P.; SIBILIA, J.; COMBE, B. Anticitrullinated
potencialmente ser identificada com bases na sorologia.          protein/peptide antibody assays in early rheumatoid arthritis for predicting fi-
Entretanto, os testes laboratoriais da atualidade não po-        ve year radiographic damage. Ann Rheum Dis. 62(2):120-6 (2003).
dem, sozinhos, serem utilizados para diagnóstico da AR.       NIELEN, M.M.; VAN SCHAARDENBURG, D.; REESINK, H.W.; VAN DE STADT,
Uma vez que o FR e outros auto-anticorpos como o anticor-        R.J.; VAN DER HORST-BRUINSMA, I.E.; DE KONING, M.H.; HABIBUW, M.R.;
po anti-filagrina podem ser encontrados em indivíduos            VANDENBROUCKE, J.P.; DIJKMANS, B.A. Specific autoantibodies precede
aparentemente normais. Considerando que esses auto-an-           the symptoms of rheumatoid arthritis: a study of serial measurements in blo-
ticorpos estão presentes em indivíduos em fases anteriores       od donors. Arthritis Rheum. 50(2):380-6 (2004).
ao desenvolvimento da doença, isso sugere um papel cau-       ORBACH, H.; SHOENFELD, Y. Anti-cyclic citrullinated peptide antibodies as a
sal na patogênese da AR. De forma ainda mais importante,         diagnostic test for rheumatoid arthritis. Harefuah. 142(3):182-5, 239 (2003).


RBAC, vol. 37(4): 201-204, 2005                                                                                                             203
QUINN, M.A.; GREEN, M.J.; CONAGAN, P.; EMERY, P. How do you diagnose                 rheumatoid arthritis. Ann Rheum Dis. 63(4):330-2 (2004).
  rheumatoid arthritis early? Best Practices and Research Clinical Reumato-        VENCOVSKY, J.; MACHACEK, S.; SEDOVA, L.; KAFKOVA, J.; GATTEROVA, J.;
  logy. v.15 (1): p.49-66 (2001).                                                    PESAKOVA, V.; RUZICKOVA, S. Autoantibodies can be prognostic markers
ROSEMBERG, A. Ossos, Articulações e Tumores de Partes Moles In: ROB-                 of an erosive disease in early rheumatoid arthritis. Ann Rheum Dis. 62(5):
  BINS. Patologia Estrutural e Funcional. 6 ed., Rio de Janeiro: Editora Guana-      427-30 (2003).
  bara Koogan, 2000.                                                               VOSSENAAR, E.R; VAN VENROOIJ, W.J. Anti-CCP antibodies, a highly speci-
SARAUX, A.; BERTHELOT, J.M.; DEVAUCHELLE, V.; BENDAOUD, B.; CHALES,                  fic marker for (early) rheumatoid arthritis. Clinical and Applied Immunology
  G.; LE HENAFF, C.; THOREL, J.B.; HOANG, S.; JOUSSE, S.; BARON, D.; LE              Reviews. 4: 239-262 (2004)
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  for diagnosing early rheumatoid arthritis. J Rheumatol. 30(12): 2535-9 (2003).     nóstico Laboratorial- Das principais doenças infecciosas e auto-imunes. 1
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  C.C.C. (eds) Laboratório: interpretação clínica das provas laboratoriais..São    ZENG, X.; AI, M.; TIAN, X.; GAN, X.; SHI, Y.; SONG, Q.; TANG, F. Diagnostic va-
  Paulo: Savier. 1990. p. 601-605.                                                   lue of anti-cyclic citrullinated Peptide antibody in patients with rheumatoid
SCHEINBERG, M.; SILVA,M.A.; Anticorpos AntiCCP em pacientes com artrite              arthritis. J Rheumatol. 30(7):1451-5 (2003).
  reumatóide de longa evolução. Experiência do LID laboratório; Laes e Haes        ZVAIFLER, J.N.; Etiology and pathogenesis of rheumatoid arthritis. In: MC
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  perties of rheumatoid arthritis antibodies recognizing a cyclic citrullinated
  peptide. Arthritis Rheum. 43(1):155-63 (2000).                                   ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA
SCROFERNEKER, M.L.; POHLMANN, P.R. Imunologia Básica e Aplicada. 1 ed.             Dra Raquel Maria Teixeira
  Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 1998. p.218-237                                    Universidade Federal de Santa Catarina - Centro de Ciências da Saúde
SKARE, T.L. Reumatologia – Princípios e práticas. Rio de Janeiro: Editora Ga-      Departamento d Análises Clínicas – Campus Universitário – Trindade
  nabara Koogan, 1999.                                                             CEP 88 040 – 970 – Florianópolis – SC.
SMOLEN, J.S.; STEINER, G. Therapeutic Strategies for Rheumatoid arthritis.         Fone (048)331-9712 (Secretaria) Fax: (048)331 9542 (Secretaria do CCS)
  Nature reviews –Drug discovery, v. 2, p. 473 – 488 (2003).                       E-mail: deptoacl@ccs.ufsc.br -
UTZ, P.J.; GENOVESE, M.C.; ROBINSON, W.H. Unlocking the "PAD" lock on              Web: www.ccs.ufsc.br/analises




         33o Congresso Brasileiro de Análises Clínicas
          6o Congresso Brasileiro de Citologia Clínica

                                          04 a 08 de junho de 2006


                                   Local:
              Estação Embratel Convention Center - Curitiba - PR


                                                              Promoção e Realização

              SOCIEDADE BRASILEIRA D E ANÁLISES CLÍNICAS

204                                                                                                                      RBAC, vol. 37(4): 201-204, 2005

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Diagnostico Precoce AR

  • 1. Diagnóstico Precoce da Artrite Reumatóide DIAGNOSING RHEUMATOID ARTHRITIS EARLY CÉLIA REGINA FARINHA RODRIGUES1, SILVIA DAL BÓ1, RAQUEL MARIA TEIXEIRA2 RESUMO - A artrite reumatóide afeta 0,5-1% da população mundial. A orientação para o diagnóstico é baseada nos critérios de clas- sificação do Colégio Americano de Reumatologia (ACR), dentre os quais, encontra-se o Fator Reumatóide (FR), único critério de diag- nóstico laboratorial adotado. A busca por marcadores diagnósticos alternativos eficazes para o diagnóstico da artrite reumatóide le- vou a descoberta dos auto-anticorpos antiperinuclear, antiqueratina e antifilagrina, os quais, a despeito de serem mais específicos pa- ra AR do que o Fator Reumatóide possuem uma metodologia com baixa sensibilidade. Recentemente, tem-se demonstrado um novo marcador para a Artrite Reumatóide, denominado anticorpo anti-peptídio cíclico citrulinado (anti- CCP) detectado por ensaioimuno- enzimático (ELISA), o qual apresenta uma sensibilidade de 60- 80% e uma especificidade de 98%. Além de suas propriedades diag- nósticas, tem sido sugerido que os anticorpos anti-CCP teriam valor prognóstico e indicaria a presença da AR, mesmo na ausência de sintomas clínicos, auxiliando na prevenção de degeneração de cartilagens, além de estar envolvido na fisiopatologia da doença. Con- siderando o elevado valor preditivo e diagnóstico preciso do anti-CCP, este trabalho ressalta a importância de sua incorporação no di- agnóstico da AR. PALAVRAS CHAVES - Artrite Reumatóide, Marcadores Preditivos, Diagnóstico. SUMMARY - Rheumatoid arthritis (RA) affects about 1% of the world population, yet the driving antigen(s) remain unidentified. Al- though the American College of Rheumatology classification criteria are often used in clinical practice as diagnostic tool for RA, they are not very well suited for the diagnosis of early RA. Number of different antigens has been proposed to have a fundamental role in RA, including antibodies bound by rheumatoid factor (RF), collagen, BiP, Sa and many others. The field has been revolutionized by the discovery that antigens containing arginine residues that been deiminated to form citrulline are prominent targets of autoantibo- dies in RA. Their detection forms the basis of several assays that are now standard diagnostic tests in rheumatology clinics world wi- de. Therefore a good marker should ideally be able to predict the erosive or nonerosive progression of the disease. Fortunately, the anti-CCP (cyclic citrullinated peptide) antibodies meet the demands for a good and useful marker for early RA and this will be the fo- cus of this review. KEYWORDS - Rheumatoid Arthritis; early; Serological marker diagnosis. INTRODUÇÃO go prazo tenham melhor prognóstico, especialmente quan- do aplicadas na fase inicial da doença. A falta de caracte- rísticas específicas da doença ou de testes específicos para A artrite reumatóide (AR) é um distúrbio inflamatório sistêmico crônico que pode afetar muitos tecidos e órgãos – pele, vasos sangüíneos, coração, pulmões e mús- o diagnóstico da AR dificultam o norteamento dos pesqui- sadores com relação à progressão e prognóstico do pacien- culos – mas que ataca principalmente as articulações, pro- te (QUINN et al., 2001). duzindo uma sinovite proliferativa não supurativa que pro- A implicação lógica da terapia iniciada antes do desenvol- gride freqüentemente para a destruição da cartilagem arti- vimento total da AR é que esta pode proporcionar maiores cular e anquilose das articulações. Apesar de a etiologia da benefícios aos pacientes. Isto significa que os pacientes que AR continuar desconhecida, existe evidência convincente podem apresentar formas da doença mais severas são iden- de que a autoimunidade desempenhe um papel proemi- tificados e tratados nos estágios mais iniciais da AR. Entre- nente em sua cronicidade e progressão, aproximando essa tanto, como não há nenhum aspecto clinico, radiológico ou condição das outras denominadas doenças do tecido con- imunológico que seja patognomônico, a seleção de pacien- juntivo (ZVAIFLER, 1989; ARNETT, 1993; LIPSKY, 1998; tes é o primeiro maior problema quando se orientam paci- SKARE, 1999; ROSEMBERG, 2000; LEE et al., 2001, LAU- entes com AR precoce. Além disso, sabe-se dos potenciais RINDO et al.,2002). efeitos tóxicos das drogas modificadoras do curso da doença A prevalência da AR é de cerca de 0,8% da população (fai- e, apesar do aumento do uso de novos agentes biotecnoló- xa de 0,3 – 2,1%); as mulheres freqüentemente são afeta- gicos, como o anti-TNFα, a importância do desenvolvimen- das aproximadamente 3 vezes mais que os homens. A pre- to de critérios de diagnósticos mais acurados da AR é alta- valência aumenta com a idade e as diferenças entre os se- mente evidente (QUINN et al., 2001; SMOLEN et al., 2003). xos diminuem na faixa etária mais avançada (ARNETT, 1993; LIPSKY, 1998). DIAGNÓSTICO A história da AR sugere que a maioria dos pacientes com diagnóstico clínico de AR tenha um curso progressivo de O diagnóstico da AR depende da associação de uma série incapacitação, o que se constitui num dos maiores proble- de sintomas e sinais clínicos, achados laboratoriais e radio- mas de saúde pública, tanto em países industrializados lógicos. A orientação para o diagnóstico é baseada nos cri- quanto em desenvolvimento. Tem-se demonstrado que térios de classificação do Colégio Americano de Reumato- aproximadamente metade dos pacientes do sexo masculi- logia (ACR), e incluem: 1) Rigidez matinal: rigidez articu- no portadores de AR estão desempregados em conseqüên- lar durando pelo menos 1 hora; 2) Artrite de três ou mais cia da incapacitação física (WUNDER, 1996). Entretanto, áreas pelo menos três áreas articulares com edemas de surgem evidências de que estratégias terapêuticas em lon- partes moles ou derrame articular; 3) Artrite das articu- Recebido em 13/09/2004 Aprovado em 28/01/2005 1 Alunas da disciplina Estágio Supervisionado 10a fase do curso de Farmácia- Análises Clínicas- UFSC. 2 Profa, Dra do Departamento de Análises Clínicas (ACL), Centro de Ciências da Saúde (CCS), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). RBAC, vol. 37(4): 201-204, 2005 201
  • 2. lações das mãos; 4) Artrite simétrica; 5) Nódulos Reumatói- Entretanto, o APF e o AKA nunca se tornaram testes de di- des; 6) Fator Reumatóide sérico; 7) Alterações radiográfi- agnóstico adotados na rotina dos laboratórios devido a su- cas: erosões ou descalcificações localizadas em radiografi- as baixas sensibilidade e especificidade derivadas de res- as de mãos e punhos. Os critérios de 1 a 4 devem estar pre- posta fortemente policlonal, pois a filagrina é uma proteína sentes por pelo menos seis semanas. Além disso, quatro altamente heterogênea, e também devido ao fato de que a dos sete critérios são necessários para classificar um paci- sua padronização interlaboratorial é bastante difícil, pela ente como portador de AR (LAURINDO et al., 2002; BRA- inconveniência de ser uma metodologia que aplica a imu- HEE et al., 2003). nofluorescência como fundamento (BIZZARO et al., 2001). Não há exames específicos para diagnosticar a AR. Embo- Para aumentar a sensibilidade da detecção do peptídeo ci- ra, o Fator Reumatóide (FR) seja encontrado em 80% dos trulinado derivado da filagrina utilizado como antígeno uti- adultos afetados, pessoas sadias podem apresentar normal- lizado no método de ELISA, esses peptídeos foram modifi- mente FR sérico, sem necessariamente desenvolver a do- cados para adotar uma estrutura na qual a porção do pep- ença, além disso, o FR pode também estar presente em pa- tídeo que é citrulinado seja mais bem exposta para otimi- cientes que apresentam outras doenças, como o Lupus Eri- zar a ligação com o anticorpo. Com um simples peptídeo tematoso Sistêmico, mononucleose, Síndrome de Sjögren citrulinado cíclico (CCP), anticorpos podem ser detectados entre outras (LIPSKY, 1998; SCROFERNEKER et al., 1998). no soro com sensibilidade e alta especificidade em pacien- Alguns parâmetros laboratoriais encontram-se alterados, tes que apresentam AR. Esse peptídeo cíclico derivado da como hematócrito diminuído, velocidade de hemossedi- filagrina é utilizado como substrato antigênico no teste mentação e Proteína C reativa (PCR) elevada, ainda que CCP1. Apesar da sensibilidade do teste CCP1 ser maior do estas alterações não sejam específicas para AR, auxiliam o que os ensaios clássicos APF, AKA e AFA, este não possui clínico no diagnóstico laboratorial de lesão tissular (SATO, maior sensibilidade do que o FR IgM. O peptídeo CCP1 é 1990; ARNETT, 1993). derivado de seqüências de filagrina e, uma vez que a fila- Embora exista evidência progressiva de que o tratamento grina não é expressa na sinóvia, este não é o antígeno na- precoce da AR leva a um melhor controle da doença e me- tural para os anticorpos antiproteína citrulinada. Outros nor injúria articular, os critérios da ACR confiam fortemen- peptídeos não relacionados a filagrina podem, por essa te na expressão dos sintomas clínicos da AR, contudo, es- razão, fornecer melhores epítopos para a detecção dos an- tes parâmetros clínicos não se manifestam em estágios ini- ticorpos. Para obtenção destes novos peptídeos, outros fo- ciais da AR. Portanto, métodos laboratoriais que auxiliem ram pesquisados em pacientes com AR, com base nos pep- no diagnóstico precoce da AR tornam-se fundamentais tídeos citrulinados pré-existentes. Foram obtidos novos (SCHEINBERG e SILVA, 2003; VOSSENAAR e VAN VEN- peptídeos citrulinados incorporados a uma segunda ge- ROOIJ, 2004). ração de teste CCP (CCP2). Os peptídeos cíclicos utilizados como substrato no teste CCP2 não tem homologia com a fi- AUTO-ANTICORPOS ESPECÍFICOS PARA AR lagrina ou outras proteínas conhecidas. Esse teste tem uma sensibilidade comparável com o FR IgM e maior especifici- A busca por marcadores diagnósticos alternativos eficazes dade (VOSSENAAR e VAN VENROOIJ, 2004). para o diagnóstico da AR levou, inicialmente, a descoberta Várias doenças são confundidas com a AR nos estágios ini- dos auto-anticorpos antiperinuclear (APF), antiqueratina ciais, e não existe na atualidade exames radiológicos e la- (AKA) e antifilagrina. boratoriais acessíveis disponíveis para os laboratórios de Os anticorpos antiperinuclear e antiqueratina, detectados análises clínicas em geral, que permitam a diferenciação por imunofluorescência indireta, foram descritos respecti- desta doença das demais patologias auto-imunes. Já são vamente em 1964 e 1979, entretanto, pesquisas demonstra- claros os benefícios da terapia iniciada no período que an- ram que ambos reconhecem como antígeno formas de uma tecede as manifestações clínicas da doença, uma vez que a molécula intracelular conhecida como filagrina, e, mais re- detecção precoce da AR e a intervenção terapêutica são centemente, o peptídeo da filagrina responsável pela rea- elementos chave na prevenção de danos nas articulações, tividade antigênica foi demonstrado ser o peptídeo cíclico inclusive nos pacientes que apresentam FR negativo. Nes- contendo o pouco usual aminoácido citrulina. A citrulina é te contexto, diversos autores têm relatado a especificidade produzida pela modificação pós-translacional da arginina dos anticorpos anti-CCP para o diagnóstico da AR nos di- através da enzima peptidilarginina deiminase (PAD) (Fig versos períodos de desenvolvimento da doença, inclusive 1) (BIZZARO et al., 2001; INSTITUTO DE ANÁLISES naqueles mais iniciais (Tabela 1) (SCHELLEKENSS et al., CLÍNICAS DE SANTOS, 2002;VOSSENAAR e VAN VEN- 2000; SARAUX et al., 2003; ORBACH e SCHOENFELD, ROOIJ, 2004). 2003; ZENG et al., 2003). Além disso, muitos estudos cor- relacionam a presença do anticorpo anti-CCP com a pro- gressão erosiva da doença, ou seja, a presença do anticor- po anti- CCP em títulos altos poderia representar uma for- ma da doença mais agressiva. Estes anticorpos podem, portanto, auxiliar no planejamento da estratégia terapêuti- ca (VENCOVSKY et al., 2003; VOSSENAAR e VAN VEN- ROOIJ, 2004). De acordo com a literatura, anticorpos anti-CCP podem ser detectados até 14 anos antes do surgimento dos primeiros sintomas da AR. Deste modo, pode-se predizer que o paci- ente Anti-CCP positivo irá desenvolver AR em algum está- gio de sua vida (MARCELLETTI e NAKAMURA, 2003, Figura 1: Citrulinação (deiminação) da peptidilarginina pela PAD; MEYER et al., 2003; NIELEN et al. 2004). Anticorpo anti- O grupo guanidino da arginina é hidrolisado produzindo um CCP2 são detectados em 25% dos indivíduos de 1 ano e grupo ureido e amônia (VOSSENAAR e VAN VENROOIJ, 2004). meio a 9 anos antes do aparecimento dos sintomas, e no 202 RBAC, vol. 37(4): 201-204, 2005
  • 3. ano que antecede o surgimento dos sintomas, a sensibili- isto sugere que a detecção de auto-anticorpos específicos dade do anti-CCP2 aumenta para 52%. Estes estudos con- pode assegurar a chave para o diagnóstico muito precoce cluem que este anticorpo anti-CCP tem a maior habilidade da AR, e assim a intervenção terapêutica pode ser instituí- para indicar o desenvolvimento futuro da AR (VOSSE- da antes do desenvolvimento de erosões substanciais nas NAAR e VAN VENROOIJ, 2004). articulações. Além disso, o monitoramento dos níveis dos Tabela I indicadores da doença, como PCR e VHS, pode auxiliar no Especificidade e sensibilidade dos anticorpos específi- controle de progressão da doença e resposta à terapia. Ou- cos para a AR (Adaptada de MARCELLETTI e tros estudos indicam que o monitoramento sorológico de NAKAMURA, 2003). marcadores tecido-específicos pode refletir numa maior acurácia no processo da doença (NAKAMURA, 2000), su- Sensibilidade(%) Especificidade(%) gerindo a contribuição plena da sorologia no diagnóstico e Anti-CCP 60 - 80 98 controle da AR ainda está para ser totalmente definido (MARCELLETTI e NAKAMURA, 2003). FR- total 32 - 83 86 –87 Atualmente os critérios para o diagnóstico da AR (segundo Anti-Sa 22 - 40 85 – 100 a ACR) são considerados padrão ouro para a classificação da AR. A incorporação da positividade do anticorpo anti- AKA 27 - 47 84 – 94 CCP como critério extra, iria aumentar a acuidade dos cri- APF 29 -79 89 - 98 térios da ACR. Portanto, sugere-se a adição do anticorpo antipeptídeo cíclico citrulinado como critério de diagnósti- Anti-BiP 64 93 co da AR. Existem ainda outros auto anticorpos com uma certa espe- REFERÊNCIAS cificidade e sensibilidade para a AR, são eles o anti-BiP e anti-Sa. Auto anticorpo contra BiP (proteína de ligação de ALARCÓN, G.S. Methotrexate use in rheumatoid arthritis. A clinician’s perspec- cadeia pesada) conhecido como anti P68, ocorre em cerca tive. Immunopharmacology. 47: 259–271(2000) de 64% dos pacientes com AR e tem sido descrito por ter ARNETT, F.C. Artrite Reumatóide In: CECIL. Tratado de Medicina Interna v. 2, 19 uma alta especificidade pela doença. O principal epítopo ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan , 1993. para o anti-BiP é o grupo do carboidrato N-acetilglucosa- BIZZARO, N.; MAZZANTI, G.; TONUTTI, E.; VILLAUTA, D.; TOZZOLI, R. Diag- mina, que normalmente não estão presentes no BiP, e estas nostic accurracy of the anti-citrulline antibody assay for rheumatoid arthritis. modificações podem ser importantes para este reposiciona- Clinical Immunology. 47(6): 1089-1083 (2001). mento. No entanto, a necessidade de expressão deste car- BRAHEE, D.D.; PIERRE-JEROME, C.; KETTNER, N.W. Clinical and radiological boidrato pode explicar porque os anticorpos anti-BiP são manifestations of the rheumatoid wrist. A comprehensive review. J Manipu- encontrados em uma pequena porção de pacientes com AR lative Physiol Ther.26(5):323-9 (2003). (MARCELLETTI e NAKAMURA, 2003; VOSSENAAR e HUEBER, W.; HASSFELD, W.; SMOLEN, J.S.; STEINER, G. Sensitivity and spe- VAN VENROOIJ, 2004). cificity of anti-Sa autoantibodies for rheumatoid arthritis. Rheumatology (Ox- Os anticorpos anti-Sa também são considerados de alta es- ford).38(2):155-9 (1999). pecificidade e sensibilidade para o diagnóstico da AR INSTITUTO DE ANÁLISES CLÍNICAS DE SANTOS. Anticorpos Anti-Ccp.Novo (HUEBER et al., 1999). A verdadeira natureza do antígeno Teste Para Artrite Reumatóide; Boletim In Formação; n o 123, Nov; 2002. Sa continua desconhecida. Foi sugerido que é uma vimeti- LAURINDO, I.M.M.; PINHEIRO, G.R.C.; XIMENES, A.C.; BERTOLO, M.B.; XAVI- na citrulinada na qual, a parte citrulinada atua como um ER, R.M.; GIORGI, R.D.N.; CICONELLI, R.M.; RADOMINSKI, S.C.; LIMA, hapteno auto-antigênico e a vimetina como hapteno carre- F.A.C.; BATISTELA, L.M.; ALENCAR, P. Consenso Brasileiro para o diagnós- ador. De fato, a citrulinação da vimetina tem sido descrita tico e tratamento da Artrite Reumatóide. Revista Brasileira de Reumatologia, em macrófagos, células que são abundantemente presen- v.42, n 6, 2002, pp. 355-361. tes na sinóvia de pacientes com AR (MEYER, 2003; MAR- LEE, D. M; WEINBLATT, M.E. Rheumatoid arthritis. THE LANCET. 15; 358(9285): CELLETTI e NAKAMURA, 2003; VOSSENAAR e VAN 903-11 (2001). LESLIE, D.; LIPSKY, P.; NOTKINS, A.L. Autoantibodies as pre- VENROOIJ, 2004). Então, se o antígeno Sa é de fato citru- dictors of disease. The Journal of Clinical Investigation. 108(10): 1417 – 1422, linado, os anticorpos anti-Sa deveriam ser classificados (2001). juntamente à família de anticorpos anti CCP (VOSSE- LIPSKY P.E. Artrite Reumatóide In: HARISSON. Medicina Inerna. V. 2, 14 ed. Rio NAAR e VAN VENROOIJ, 2004). de Janeiro: Editora McGraw-Hill Interamericana do Brasil LTDA, 1998. MARCELETTI, J.F.; NAKAMURA,R.M. Assessment of serological markers asso- CONSIDERAÇÕES FINAIS ciated with rheumatoid arthritis Diagnostic autoantibodies and conventional disease activity markers. Clinical and Applied Immunology Reviews. 4: 109- Tecnologias emergentes para quantificação de auto-anti- 123 (2003) corpos e confirmação de sua utilidade clínica indicam e ex- MEYER, O. Evaluating inflammatory joint disease: how and when can autoanti- pandem o papel de marcadores sorológicos no diagnóstico bodies help? Joint Bone Spine. 70: 433-447 (2003). da AR. O valor de diagnóstico preditivo do anti-CCP com- MEYER, O.; LABARRE, C.; DOUGADOS, M.; GOUPILLE, P.; CANTAGREL, A.; binado com isoformas do FR sugerem que a doença pode DUBOIS, A.; NICAISE-ROLAND, P.; SIBILIA, J.; COMBE, B. Anticitrullinated potencialmente ser identificada com bases na sorologia. protein/peptide antibody assays in early rheumatoid arthritis for predicting fi- Entretanto, os testes laboratoriais da atualidade não po- ve year radiographic damage. Ann Rheum Dis. 62(2):120-6 (2003). dem, sozinhos, serem utilizados para diagnóstico da AR. NIELEN, M.M.; VAN SCHAARDENBURG, D.; REESINK, H.W.; VAN DE STADT, Uma vez que o FR e outros auto-anticorpos como o anticor- R.J.; VAN DER HORST-BRUINSMA, I.E.; DE KONING, M.H.; HABIBUW, M.R.; po anti-filagrina podem ser encontrados em indivíduos VANDENBROUCKE, J.P.; DIJKMANS, B.A. Specific autoantibodies precede aparentemente normais. Considerando que esses auto-an- the symptoms of rheumatoid arthritis: a study of serial measurements in blo- ticorpos estão presentes em indivíduos em fases anteriores od donors. Arthritis Rheum. 50(2):380-6 (2004). ao desenvolvimento da doença, isso sugere um papel cau- ORBACH, H.; SHOENFELD, Y. Anti-cyclic citrullinated peptide antibodies as a sal na patogênese da AR. De forma ainda mais importante, diagnostic test for rheumatoid arthritis. Harefuah. 142(3):182-5, 239 (2003). RBAC, vol. 37(4): 201-204, 2005 203
  • 4. QUINN, M.A.; GREEN, M.J.; CONAGAN, P.; EMERY, P. How do you diagnose rheumatoid arthritis. Ann Rheum Dis. 63(4):330-2 (2004). rheumatoid arthritis early? Best Practices and Research Clinical Reumato- VENCOVSKY, J.; MACHACEK, S.; SEDOVA, L.; KAFKOVA, J.; GATTEROVA, J.; logy. v.15 (1): p.49-66 (2001). PESAKOVA, V.; RUZICKOVA, S. Autoantibodies can be prognostic markers ROSEMBERG, A. Ossos, Articulações e Tumores de Partes Moles In: ROB- of an erosive disease in early rheumatoid arthritis. Ann Rheum Dis. 62(5): BINS. Patologia Estrutural e Funcional. 6 ed., Rio de Janeiro: Editora Guana- 427-30 (2003). bara Koogan, 2000. VOSSENAAR, E.R; VAN VENROOIJ, W.J. Anti-CCP antibodies, a highly speci- SARAUX, A.; BERTHELOT, J.M.; DEVAUCHELLE, V.; BENDAOUD, B.; CHALES, fic marker for (early) rheumatoid arthritis. Clinical and Applied Immunology G.; LE HENAFF, C.; THOREL, J.B.; HOANG, S.; JOUSSE, S.; BARON, D.; LE Reviews. 4: 239-262 (2004) GOFF, P.; YOUINOU, P. Value of antibodies to citrulline-containing peptides WUNDER, P.R. Doenças Auto-imunes. In: FERREIRA, A.W.; ÁVILA, S.L.M. Diag- for diagnosing early rheumatoid arthritis. J Rheumatol. 30(12): 2535-9 (2003). nóstico Laboratorial- Das principais doenças infecciosas e auto-imunes. 1 SATO, E.I. Provas de atividade inflamatória In: GUIMARÃES, R.X.; GUERRA, ed. Rio de janeiro: Editora Guanabara Koogan. 1996. C.C.C. (eds) Laboratório: interpretação clínica das provas laboratoriais..São ZENG, X.; AI, M.; TIAN, X.; GAN, X.; SHI, Y.; SONG, Q.; TANG, F. Diagnostic va- Paulo: Savier. 1990. p. 601-605. lue of anti-cyclic citrullinated Peptide antibody in patients with rheumatoid SCHEINBERG, M.; SILVA,M.A.; Anticorpos AntiCCP em pacientes com artrite arthritis. J Rheumatol. 30(7):1451-5 (2003). reumatóide de longa evolução. Experiência do LID laboratório; Laes e Haes ZVAIFLER, J.N.; Etiology and pathogenesis of rheumatoid arthritis. In: MC ; volume 3; 180-182, 2003 CARTY, D.J. Arthritis and allied conditions: a Textbook of rheumatology. 11th SCHELLEKENS, G.A.; VISSER, H.; DE JONG, B.A.; VAN DEN HOOGEN, F.H.; ed. Philadelphia, EUA: Editora Lea & Fibiger.1989. HAZES, J.M.; BREEDVELD, F.C.; VAN VENROOIJ, W.J. The diagnostic pro- ________________________________________ perties of rheumatoid arthritis antibodies recognizing a cyclic citrullinated peptide. Arthritis Rheum. 43(1):155-63 (2000). ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA SCROFERNEKER, M.L.; POHLMANN, P.R. Imunologia Básica e Aplicada. 1 ed. Dra Raquel Maria Teixeira Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 1998. p.218-237 Universidade Federal de Santa Catarina - Centro de Ciências da Saúde SKARE, T.L. Reumatologia – Princípios e práticas. Rio de Janeiro: Editora Ga- Departamento d Análises Clínicas – Campus Universitário – Trindade nabara Koogan, 1999. CEP 88 040 – 970 – Florianópolis – SC. SMOLEN, J.S.; STEINER, G. Therapeutic Strategies for Rheumatoid arthritis. Fone (048)331-9712 (Secretaria) Fax: (048)331 9542 (Secretaria do CCS) Nature reviews –Drug discovery, v. 2, p. 473 – 488 (2003). E-mail: deptoacl@ccs.ufsc.br - UTZ, P.J.; GENOVESE, M.C.; ROBINSON, W.H. Unlocking the "PAD" lock on Web: www.ccs.ufsc.br/analises 33o Congresso Brasileiro de Análises Clínicas 6o Congresso Brasileiro de Citologia Clínica 04 a 08 de junho de 2006 Local: Estação Embratel Convention Center - Curitiba - PR Promoção e Realização SOCIEDADE BRASILEIRA D E ANÁLISES CLÍNICAS 204 RBAC, vol. 37(4): 201-204, 2005