O documento descreve o caso de um homem chamado S. que tinha uma memória extraordinária, sendo capaz de lembrar detalhadamente eventos que ocorreram décadas atrás. O psicólogo Alexander Luria estudou S. por 30 anos e não encontrou limites para sua memória. S. transformava palavras em imagens vívidas que podia reviver com facilidade. No entanto, sua memória excessiva também causava problemas para pensar abstratamente. O caso de S. levanta questões sobre como a memória funciona e por que a maioria das pessoas
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Memória1
1. Disciplina: Psicologia Ensino Profissional Professora: Isaura Silva
A Memória
O caso de S., o homem que lembrava demais
"Em (1920) veio ao meu laboratório um homem pedindo-me que
testasse sua memória" escreveu Alexander Luria, o eminente médico-psicólogo russo. Naquela época, o
homem (que chamaremos S.) era um repórter de jornal que viera ao meu laboratório por sugestão do redactor-
chefe do jornal. Todas as manhãs o redactor-chefe reunia-se com sua equipa e distribuía incumbências para
todo o dia... A lista de endereços e instruções era em geral bastante longa, e o redactor-chefe notou, com alguma
surpresa, que S. nunca tomava notas. Estava para censurar o repórter pela sua desatenção quando, por ordem
sua, S. repetiu integralmente as instruções palavra por palavra. Curioso para saber melhor como o homem
funcionava, o redactor-chefe começou a interrogar S. a respeito de sua memória. Mas S. retorquia
simplesmente com surpresa. Havia mesmo qualquer coisa de extraordinário no facto de se lembrar de tudo o
que lhe tinha sido dito?"
Luria estudou a memória de S. durante trinta anos e não conseguiu encontrar os seus limites. "As experiências
indicaram que S... não tinha dificuldade em reproduzir longas séries de palavras, quaisquer que fossem, mesmo
que estas lhe tivessem sido originalmente apresentadas uma semana, um mês, um ano ou mesmo muitos anos
antes. Na realidade, algumas dessas experiências que tinham por fim testar sua retenção foram realizados (sem
avisá-lo antes) .quinze ou dezasseis anos após a sessão na qual ele tinha originalmente recordado as
palavras. Mesmo assim, elas
sempre estavam certas..."
Como S. formou tal memória permanente? S. relatou que transformava automaticamente as palavras em
imagens nítidas e estáveis que ele podia ver e, em alguns casos, também degustar, cheirar ou tocar. Nas
palavras de S.: "Geralmente experimento o gosto e o peso de uma palavra, e não tenho de fazer qualquer
esforço para lembrar-me dela — a palavra parece lembrar-se a si mesma... O que sinto é alguma coisa oleosa
escorregando pela minha mão... ou tomo consciência de uma ligeira comichão na minha mão esquerda causada
por uma massa de pontinhos miúdos e leves".
S. não podia "desligar" esse processo de transformação de palavras, e tê-lo "ligado" era, às vezes uma
verdadeira provação. Durante a leitura, as palavras produziam imagens que se amontoavam uma sobre a
outra, camuflando o significado do material. A poderosa memória de S. interferia também com o seu
pensamento. Como sua mente tendia a pular de uma imagem a outra, era muito difícil captar o sentido de
relações complicadas e ideias abstractas. Em última análise, a soberba memória de S. causava tantos
problemas quanto resolvia.
O caso de S. levanta muitas questões sobre a natureza da memória:
Como funciona a memória?
Por que a maioria das pessoa esquece noções triviais que S. recordava?
Qual a causa do esquecimento?
Existem tipos diferentes de armazenamento?
Os seres humanos comuns podem aumentar sua retenção?
2. Tenta responder às seguintes questões:
1 Identifica o autor do teu manual de Português.
2 Diz qual é a capital do Japão.
3 Indica o nome do teu (tua) professor(a) do 1. ° Ciclo.
4 Diz o que jantaste ontem.
5 Descreve uma situação que te tenha provocado medo.
6 Diz o título do primeiro filme que viste no cinema.
Para responder a este questionário, tiveste que viver as situações, adquirir informações,
conhecimentos, armazená-los e recordá-los.
Em todos os actos da memória estão implicadas três fases ou estádios:
Aquisição – para recordarmos, é preciso primeiro ter aprendido (pode ir de uma simples
percepção até actividades mais complexas, como escrever). Semaprendizagemnãohá memória.
Retenção ou armazenamento – a informação é conservada, retida, por períodos mais ou menos
longos, para poder ser utilizada, quando necessário.
Recordação ou activação – quando precisamos, procuramos recuperar, actualizar a informação
armazenada, para a utilizar na experiência presente.
Podemos definir a memória como um processo cognitivo que compreende a retenção e a recuperação da
informação.
É um sistema aberto em que a informação entra (aquisição), é armazenada (retenção) podendo depois ser
recuperada (recordação).
Recorrendo ao modelo informático, poderíamos apresentar estas três fases como uma sequência:
Saída
(output)
Armazenamento /
Processamento
Entrada
(input)
Voltemos ao questionário inicial: se não respondeste a alguma questão, tenta identificar o motivo. Ou não
adquiriste informação, ou esta não ficou retida, ou o problema é de recuperação, de recordação.
É de notar que, no questionário, reportámo-nos apenas à memória de acontecimentos vividos por ti, ou de
conhecimentos gerais que aprendeste. Contudo, há uma memória do saber-fazer que se refere ao conhecimento
do funcionamento dos objectos: abriste o caderno, aguçaste o lápis, usaste a borracha para apagar uma resposta,
etc.