Aula do módulo 01 do Curso de Serviços farmacêuticos direcionados ao paciente...
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1. Erro na administração de medicamentos *-*
É comum encontrarmos na mídia em geral matérias sobre erros
deadministração de medicamentos que, infelizmente, tem como
conseqüência a morte do paciente.
Um caso recente, de grande repercussão aconteceu no Hospital São Luiz
Gonzaga, em São Paulo. A enfermeira confundiu soro com vaselina e acabou
aplicando o produto na veia da paciente Stephanie dos Santos Teixeira, de 12
anos, que não resistiu.
Apesar de acreditar que realmente a enfermeira tem sua parcela de culpa, é
claro que se analisarmos mais detalhadamente a situação, fica fácil perceber
que foi um erro em cadeia: no armazenamento, na separação, dispensação e
na administração.
A primeira coisa que fica clara é que os medicamentos ficam em algum
armário e fica a cargo dos enfermeiros ir até ele e separar o que é necessário.
Outra falha grave é a forma de armazenamento dos produtos, já que soro e
vaselina estavam no mesmo lugar e com frascos muito parecidos.
Infelizmente o controle do medicamento desde a sua solicitação até a
administração efetiva ainda parece uma coisa futurística na maioria dos
hospitais do país.
Se o processo de pedido, separação, dispensação e administração fossem
controladas de forma eletrônica, essa morte poderia ter sido evitada: já
existem vários sistemas e equipamentos que permitem o controle desse
processo: se o médico prescrever de forma eletrônica e a farmácia separar os
medicamentos por paciente, seria possível realizar a checagem (por código
de barras, por exemplo) para confirmar que aquele medicamento é realmente
daquele paciente e deve ser administrado no horário correto
A Farmácia Hospitalar e a Notificação dos
erros de medicação
A área de Farmacovigilância da Anvisa
apresentou o formulário padrão para a
Notificação dos Erros de Medicação
(http://www.anvisa.gov.br/servicos/form/far
maco/erro_de_ medicacao.pdf). A diferença
2. básica entre “Erro de Medicação” e “Reação
Adversa a Medicamento” é que esta última é
considerada como todo “efeito prejudicial ou
indesejável que se apresente após a
administração de doses de medicamentos
normalmente utilizadas para profilaxia,
diagnóstico ou tratamento de uma
enfermidade”. (http://www.anvisa.
gov.br/farma-
covigilancia/erro/diferenca.htm).
Já os “Erros de Medicação” podem, segundo
o National Coordinating Council
forMedication Error Reporting and
Prevention (apud FIP, 1999) ser definidos
como “qualquer fato previsível que possa
causar ou conduzir ao uso inapropriado do
medicamento em um determinado paciente”.
Eles podem ser classificados da seguinte
forma:
1. Erros de omissão - Qualquer dose não
administrada até o próximo horário de
medicação;
2. Erros na administração de medicamento
não autorizado - Administração de um
medicamento não prescrito pelo médico;
3. Erros em dose extra- Administração de
uma ou mais doses do medicamento
prescrito;
4. Erros referentes à via- Administração do
medicamento pela via errada;
5. Erros com a dosagem- Administração do
medicamento com dosagem diferente
daquela prescrita pelo médico;
6. Erros devido ao preparo incorreto do
medicamento;
7. Erros devido à utilização de técnicas
incorretas na administração - Procedimentos
3. incorretos, técnicas impróprias, inadequada
assepsia e lavagem das mãos;
8. Erros por administração de medicamentos
deteriorados.
Ainda como outros “Erros de Medicação”,
temos os erros durante a elaboração da
prescrição (utilização de abreviações, siglas,
sistema de unidades não oficiais); erros
durante a preparação do medicamento
(manipulação, rotulagem, etiquetagem,
envase); erros durante a
dispensação/distribuição do medicamento e
os erros decorrentes da administração do
medicamento.
A imprensa, no Brasil e no mundo, vem falando sistematicamente do
crescente número de problemas relacionados ao uso do medicamento. São
intoxicações, interações com outros medicamentos e alimentos, além de
outros efeitos negativos. O interesse dos órgãos de comunicação pelo
assunto reflete a preocupação da humanidade com a gravidade da questão.
Mas, agora, o enfoque dos noticiários traz uma novidade: o reconhecimento
de autoridades de que a orientação prestada aos pacientes, nos locais onde se
lida com medicamentos, é que pode levar a uma redução expressiva dos
efeitos negativos dos produtos farmacêuticos.
O medicamento, mesmo os (aparentemente) inofensivos analgésicos e
colírios, podem desencadear diferentes reações adversas - algumas graves -,
principalmente efeitos colaterais. Essas reações são inerentes ao
medicamento. Mas é possível controlá-las, ou diminuir a níveis baixíssimos
a sua incidência, se o farmacêutico prestar aos pacientes os seus serviços,
entre os quais a orientação sobre o uso coreto das substâncias. O
farmacêutico é o profissional, técnica, científica e legalmente habilitado para
esta prática.
4. Recentemente, a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), órgão do Ministério da
Saúde, fez um estudo sobre intoxicações por medicamentos, no Brasil. O
resultado é alarmante. Em 2006, quase 33 mil pessoas foram intoxicadas por
uso desses produtos As causas foram várias, como o uso acidental, erros na
administração, efeitos adversos, interações medicamentosas ou entre
medicamentos e alimentos, automedicação e uso irracional.
Os medicamentos responsáveis por casos de intoxicação, em mais de 70%
das vezes, foram adquiridos com receita médica, em farmácias. Pior: apenas
25% dos que adquiriram os produtos foram orientados. A Organização
Mundial da Saúde, por sua vez, informa que só a metade dos pacientes faz
uso correto dos medicamentos.
Os efeitos negativos dos medicamentos, além dos cidadãos, mina, também, a
saúde dos sistemas públicos e privados de saúde. Os hospitais gastam
fábulas com esses problemas, inclusive com o retorno de pacientes (muitos
precisam ser internados) em decorrência de complicações causadas pelo uso
de fármacos.
Nas emergências, 40% dos pacientes são atendidos em decorrência de
problemas causados por essas substâncias. Em São Paulo, de dez casos de
intoxicações, quatro têm origem no mau uso de medicamentos. Os dados são
do Ceatox (Centro de Assistência Toxicológica de São Paulo). A situação
insustentável não é uma mancha apenas na saúde brasileira. Estatísticas
revelam que, nos Estados Unidos, as reações indesejáveis a medicamentos
são a quarta causa de morte. Matam mais que a Aids.
Portanto, os motivos são suficientes para que os governos, em todas as
instâncias – e eu apelo especialmente aos prefeitos -, adotem medidas
urgentes para reverter o quadro. Em 2007, o Ministério da Saúde,
convencido pelo Conselho Federal de Farmácia, deu um passo decisivo
neste sentido: criou o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF).
Cada núcleo está sendo implantado, nos Municípios que firmarem parcerias
5. com o Ministério. É no NASF, onde irão atuar os farmacêuticos junto às
equipes do PSF (Programa Saúde da Família). E isso teria mesmo que
acontecer. Afinal, nos postos do PSF, lida-se com medicamentos. Deixar o
paciente sem orientação sobre o medicamento é abandoná-lo à própria sorte,
o que só agrava o seu quadro de saúde. A ação do farmacêutico, prestando
orientação e outros serviços à sociedade, pode mudar o quadro.
Em muitas farmácias e drogarias particulares, a situação é grave. Várias não
mantêm o farmacêutico presente, deixando os balcões livres para a prática
da empurroterapia por parte de alguns balconistas interesseiros, famintos por
comissões sobre as vendas e pressionados para ampliar os lucros dos
estabelecimentos.
Essas farmácias e drogarias perderam o sentido de saúde e assumiram a
lógica do mercado. Elas se transformaram em mercearias e fizeram do
medicamento uma mercadoria, quando este, em verdade, é um bem social a
serviço da recuperação da saúde das pessoas. O medicamento, quando
vendido sem a orientação farmacêutica, pode restringir-se apenas à condição
de produto químico, que cura, ou mata com a mesma intensidade. O que faz
a diferença é a orientação que deve ser agregada a ele.
Os estabelecimentos desconectados do sentido de saúde afirmam que faltam
farmacêuticos, no mercado, e, por isso, não têm como contratá-los. Isso é
uma balela. O Brasil tem 120.642 farmacêuticos para 71.885 farmácias e um
menor número de outros estabelecimentos (laboratórios de análises clínicas,
indústrias de medicamentos, de alimentos e de cosméticos, entre outras). E,
por ano, é lançada, no mercado brasileiro, cerca de dez mil novos
farmacêuticos.
Na Inglaterra, onde políticas públicas severas levaram os farmacêuticos a
assumiram os seus postos para fazer aquilo que é a solução dos problemas
relacionados ao medicamento - a orientação farmacêutica –, de 25% das
pessoas que foram ajudadas pelos profissionais, 55% disseram que
acertaram a forma de tomar o medicamento. Antes, de cada cinco ingleses,
um tomava o produto prescrito pelo médico de forma errada.
6. Está claro que não basta o paciente ter o acesso ao medicamento, se ele não
acessar, também, a orientação. Ela é que dá segurança ao usuário do
medicamento. As autoridades precisam sensibilizar-se para isso. Do
contrário, iremos expandir mais ainda as nossas estatísticas sobre os
problemas relacionados ao uso dos medicamentos.