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são as turmas da escolinha de
basquete feminino, com 20 a 25
atletas em cada uma. Antes da LBF,
era uma turma com 11 aprendizes.
Elias Roma Neto
cestinha@jc.com.br
A
té os 9 anos de idade, Adria-
na Moisés Pinto não sabia o
que seria quando crescesse.
Mas aí o destino deu um empurrão.
Paranão deixar a filha sozinha em ca-
sa, sua mãe, Zenaide, a deixava no
clube Sesi de Franca, a cidade paulis-
ta considerada a capital do basquete
nacional. Um dia ela estava de olho
num treino e uma professora a viu.
“Você quer aprender? Vem!”. A par-
tir dali, surgia a armadora Adriani-
nha. Hoje, 25 anos depois e com uma
carreira de sucesso, a antiga aluna
alia a vida de atleta com momentos
em que auxilia os professores na es-
colinha do Sport, time que ajudou a
se tornar campeão nacional pela pri-
meira vez neste ano.
E se Adrianinha estava no lugar
certo e na hora certa em 1988, o que
dizer das jovens que estão tendo a
oportunidade agora, com o Leão sen-
do modelo para a modalidade no
País? Diga-se de passagem que as
chances são boas de algumas delas
emendarem uma carreira no esporte.
No futuro, poderemos ter essa res-
posta.
Enquanto isso, o trabalho é no pre-
sente. E bota trabalho nisso. Adriani-
nha chega cedo no local dos treinos,
nastardes de segundas,quartas e sex-
tas-feiras na Ilha do Retiro. São duas
turmas consecutivas. Sua presença
dependemuito de outros compromis-
sos pelo clube rubro-negro, então as
aulas são feitas ao lado da experiente
professora Fátima Viana.
Oiníciomistura aquecimentoe téc-
nica. As garotas se reúnem em um
círculo no centro da quadra. As ativi-
dades começam com batida de bola.
Primeiro, na mão direita. Depois, a
mão esquerda. Na sequência, sem
olhar. “De olho fechado, tirando um
cochilinho”, brinca Adrianinha, sor-
rindo.
Mas se engana quem pensa que ela
é uma instrutora só boazinha. Os gri-
tos de “atenção!” e “para de bater a
bola!” são falados com vigor para
manter a disciplina em uma aula re-
pleta de crianças. Depois da chama-
da de atenção em alguns momentos,
a autoridade é respeitada e os traba-
lhos seguem, com a alegria represen-
tada nos sorrisos e comemorações
após uma cesta feita ou atividade
completada.
“Participei de campings, mas é a
primeira vez que tenho esse contato
assim. É uma aprendizagem mútua.
Estou aprendendo também. Conver-
so com Fátima e com outros profis-
sionais, como Roberto (Dornelas,
treinador da equipe adulta femini-
na). O fato de ser mãe me ajuda
muito. Tenho já a paciência para
lidar com crianças”, revela Adria-
ninha, mãe de Aaliyah, de 7 anos.
Segundo a jogadora, mais do
que formar novos atletas, as aulas
têm que ter o objetivo de dar boas li-
ções que sirvam para a vida toda. “É
importantefazer as crianças acredita-
rem nelas mesmas. O funil depois é
grande e só algumas vão se tornar jo-
gadoras, mas que aprendam a ter dis-
ciplina e respeitar a hierarquia e os
adversários. Essas foram as melhores
lições para mim no passado. Quando
erajovem e comecei a me destacar, ti-
ve que lidar com isso.”
As escolinhas de basquete do clu-
be estão lotadas graças ao título na-
cional da Liga de Basquete Femini-
no, conquistado pelo Sport em abril,
sob a batuta de Adrianinha, Érika e
outras leoninas. “Basquete não era
um esporte atrativo para garotas, até
porque o clube tem outras modalida-
des à disposição, mas agora mudou.
Para as alunas, ter Adrianinha no
aprendizadoé muito importante”, co-
memora Fátima Viana, que trabalha
na Ilha há cerca de 10 anos. Segundo
ela, o clube estuda a instalação de ta-
belas móveis para poder dividir a
quadra e criar mais turmas, tanto no
feminino como no masculino.
alunas praticam basquete na escolinha
de forma gratuita, a maioria da
comunidade Caranguejo Tabaiares,
próxima à Ilha do Retiro.
Aprendizado
passado à frente
q Saiba mais
Fotos:RodrigoLôbo/JCImagem
SPORT Adrianinha ajuda
no ensino das crianças
da escolinha de basquete
do clube rubro-negro
“Lembro que ela estava com uma
roupa vermelhinha, com uma bola
de basquete debaixo do braço. Já via
no olhar dela que tinha tudo para
dar certo. Pedi para ela dar um arre-
messo e vi que tinha facilidade para
jogar”, relembra Saiuri Yoshimura, a
professora citada no início da maté-
ria ao lado. Ela foi a responsável por
ensinar Adrianinha dos 9 aos 14
anos, moldando-a em sua base.
Formada como treinadora há
mais de 30 anos, Saiuri recorda
que dava seus primeiros passos
como técnica no Sesi Franca,
no final da década de 80, quan-
do Adrianinha começou a des-
pontar. “Ela fazia atletismo, hande-
bol, vôlei e ginástica artística, nada-
va e dançava. Tudo muito bem. Tan-
to que nós, professores, decidimos
deixar ela escolher.”
Adrianinha diz que aprendeu com
Saiuri sobre respeito a hierarquia e
esse é um dos pontos que repassa às
crianças. A técnica lembra que teve
de chamar a atenção de sua jovem
promessa para que entendesse a im-
portância da coletividade. “Não po-
díamos deixar que a capacidade dela
pudesse subir muito à cabeça. Quan-
do começava a achar que era diferen-
te, fazíamos ela repensar. Uma vez
ela me questionou em um treino e a
mandei para o vestiário mais cedo.”
Saiuri acompanhou a jovem arma-
dora na transição para um basquete
de nível mais profissional. Aos 14,
Adrianinha fez o teste no extinto
(clube) Leite Moça, mas não passou.
No ano seguinte, agradou na Ponte
Preta e começou a carreira. Daí para
frente, vieram passagens pelos Esta-
dos Unidos, Europa e participação
em quatro Olimpíadas pela seleção
brasileira (de 2000 a 2012), com o
bronze conquistado em Sidney.
“Ninguém faz ninguém na vida.
As pessoas se fazem. Eu tive o privi-
légio de ter passado pela vida dela.
Adrianinha e outras jogadoras que
foram minhas alunas levaram meu
nome como profissional à frente. Só
tenho a agradecer”, afirma Saiuri,
que hoje ajuda a rubro-negra na cria-
ção de um instituto que leve o bas-
quete para as periferias próximas à
cidade de Franca.
RodrigoLôbo/JCImagem www.jconline.com.br
esportes
LEMBRANÇAS Adrianinha era um prodígio na infância, segundo a sua
primeira treinadora, Saiuri Yoshimura (no centro da foto do topo)
Primeira professora
relembra o passado
LIÇÃO “Aprendizado é mútuo”, diz Adrianinha
8 Recife I 2 de junho de 2013 I domingo