1. SERMÃO
NÃO TEMAIS! SOU EU!
Acredito que a grande maioria dos irmãos e irmãs aqui
presentes nunca presenciaram uma tormenta. Uma grande
parte nunca navegou, seja de bote, canoa, barco ou navio.
Nunca experimentou o chacoalhar da embarcação em meio
a muitas ondas e forte ventania.
Quero dizer que nem eu. O máximo que experimentei
foi atravessar o rio de balsa, pescar no rio de lancha e barco
a motor, mas sempre com o tempo estável, sem nenhum
sinal de tempestade.
O que sabemos sobre as tempestades em alto mar é o
que ouvimos das narrativas de pescadores ou de filmes que
assistimos. Esta não é uma experiência de nosso cotidiano.
PORÉM, sempre que nos referimos a momentos
difíceis utilizamos esta figura de linguagem. Inclusive,
nossos cancioneiros estão repletos de músicas que utilizam
este exemplo:
1º) Segura na mão de Deus
Se as água do mar da vida,
Quiserem te afogar
Segura na mão de Deus e vai!
Se as tristezas desta vida
Quiserem te sufocar
Segura na mão de Deus e vai!
Segura na mão de Deus (2x)
Pois ela, ela te sustentará
Não temas, segue adiante
E não olhes para trás,
Mas segura na mão de Deus e vai!
2º) Solta o cabo da nau:
Oh! Porque duvidar
Sobre as ondas do mar
Quando Cristo o caminho abriu
Quando forçado és
Contra as ondas do lutar
Seu amor a ti quer revelar
Solta o cabo da nau,
Toma o remo nas mãos
E navega com fé em Jesus
E então tu verás que bonança se faz
Pois com Ele seguro serás
2. 3º) Meu barco é pequeno
Meu barco é pequeno e grande e o mar,
Jesus segura minha mão.
Ele é meu piloto e tudo vai bem
Na viagem pra Jerusalém.
4º) Sossegai
1. Ó Mestre, o mar se revolta,
As ondas nos dão pavor,
O céu se reveste de trevas,
Não temos um salvador!
Não se te dá que morramos?
Podes assim dormir?
Pois a cada momento nos vemos
Já prestes a submergir!
À minha palavra obedecerão,
Sossegai!
O vento em fúria, o rijo mar,
Ou a ira dos homens, o gênio do mal,
Jamais, poderão a nau tragar,
Que levam o dono da terra e Céus!
Pois todos t}em de obedecer,
Sossegai! Sossegai!
Por que haveríeis vós de temer?
Sossegai!
Como vimos, esta figura de linguagem está muito
presente em nossa espiritualidade cristã. Cantamos a fé no
Cristo que pode acalmar as tempestades da vida. Aquele que
pode repreender os ventos e trazer a bonança.
Convido-os a refletir sobre a narrativa bíblica que nos
ensina que Jesus pode acalmar a tempestade.
TEXTO: Mateus 14,22-33
22 Logo a seguir, compeliu Jesus os discípulos a embarcar e
passar adiante dele para o outro lado, enquanto ele
despedia as multidões.
23 E, despedidas as multidões, subiu ao monte, a fim de orar
sozinho. Em caindo a tarde, lá estava ele, só.
24 Entretanto, o barco já estava longe, a muitos estádios da
terra, açoitado pelas ondas; porque o vento era contrário.
25 Na quarta vigília da noite, foi Jesus ter com eles, andando
por sobre o mar.
26 E os discípulos, ao verem-no andando sobre as águas,
ficaram aterrados e exclamaram: É um fantasma! E, tomados
de medo, gritaram.
27 Mas Jesus imediatamente lhes disse: Tende bom ânimo!
Sou eu. Não temais!
3. 28 Respondendo-lhe Pedro, disse: Se és tu, Senhor, manda-
me ir ter contigo, por sobre as águas.
29 E ele disse: Vem! E Pedro, descendo do barco, andou por
sobre as águas e foi ter com Jesus.
30 Reparando, porém, na força do vento, teve medo; e,
começando a submergir, gritou: Salva-me, Senhor!
31 E, prontamente, Jesus, estendendo a mão, tomou-o e lhe
disse: Homem de pequena fé, por que duvidaste?
32 Subindo ambos para o barco, cessou o vento.
33 E os que estavam no barco o adoraram, dizendo:
Verdadeiramente és Filho de Deus!
CONTEXTO
O nosso texto vem logo após a narrativa da
multiplicação dos pães. Episódio onde Mateus apresenta
Jesus como um novo Moisés que guia o povo pelo deserto.
Ao caminhar com este povo, ensina-lhes um novo modo de
vida. Ou seja, um modo de vida pautado pela partilha. Jesus
desafia os seus seguidores a vencerem o egoísmo e iniciarem
um projeto comunitário fundamentado na fraternidade.
É importante ressaltarmos que Mateus não está
fazendo um relato jornalístico. Na realidade ele está
compondo um material (Evangelho) para a edificação da sua
comunidade. Ele deseja educar a igreja. Seu objetivo é
pedagógico... catequético.
Por isso, logo após relatar a “Multiplicação dos Pães”,
momento onde nasce uma comunidade fraterna que se
senta à mesa para comer o alimento que Deus preparou, ele
fala do envio dos discípulos para outros lugares. Ou seja, é
muito bom sentar-se para deliciar o banquete do Senhor,
porém não se pode esquecer dos desafios missionários (a
outra margem do lago...)
O episódio situa-nos na área do lago de Tiberíades ou
da Genesaré. Um lago de água doce com 21 quilômetros de
comprimento e 12 de largura situado na Galiléia e que é o
grande reservatório de água doce da Palestina.
Algo importante a se destacar é que para os judeus, o
mar (lago de Tiberíades ou de Genesaré) era o lugar onde
habitavam os demônios e todas as forças que se opunham à
vida e à felicidade do homem.
Nesta perspectiva teológica, no mar o homem estava à
mercê das forças demoníacas; e só o poder de Deus poderia
salvá-lo…
MENSAGEM
Logo após saciar a fome da multidão Jesus ordena a
seus discípulos que atravessem o lago. Enquanto isso ele
despediu a todos e foi para o monte orar sozinho.
4. É muito interessante o fato de Mateus só se referir à
oração de Jesus por duas vezes: uma aqui e outra no
episódio do Getsemani (Mt 26:36). O curioso é que os dois
momentos precederam uma grande prova.
Enquanto Jesus orava seus discípulos enfrentavam
uma conturbada viagem. O barco era açoitado pelas ondas e
navegava com dificuldade, enfrentando o vento contrário.
Quanto aos discípulos, eles estavam inquietos e
preocupados, pois Jesus não estava com eles.
Provavelmente o que Mateus desejava através deste
relato era auxiliar a sua comunidade. Pois ela, bem como
qualquer outra comunidade cristã, passa por situações de
conturbação. Não significa que pelo fato de estarmos no
barco dos discípulos de Jesus, não enfrentemos
tempestades.
Aquilo que os discípulos enfrentaram naquela noite,
muitos de nós enfrentamos como servos de Jesus.
A “noite” representa as trevas, a escuridão, a
confusão, a insegurança em que tantas vezes enfrentamos
em nossa caminhada cristã.
As “ondas” que açoitam o nosso barco, podem
representar a hostilidade do mundo, que bate
continuamente contra o nosso “barquinho”.
Os “ventos contrários” podem representar a oposição,
a resistência do mundo ao projeto de Deus. Projeto o qual
somos os propagadores.
Quantas vezes, como discípulos de Jesus, nos sentimos
perdidos, sozinhos, abandonados, desanimados, desiludidos,
incapazes de enfrentar as tempestades que as forças da
morte e da opressão (o “mar”) lançam sobre nós?
É neste instante que Jesus manifesta a sua presença.
Ele vai ao nosso encontro, “caminhando sobre o mar”, e
acalma a tempestade.
Ele, o Senhor da igreja, tem poder sobre o mal. Ele
está acima do mal. Ele caminha por sobre as forças da
morte.
Infelizmente, uma leitura teológica equivocada, sobre
o tema “batalha espiritual”, tem colocado Deus e o diabo no
mesmo patamar. Parece que estão numa disputa de
esgrima, onde cada hora um avança.
O que vemos aqui é que Jesus está por cima do mar.
Ele não está nadando ou mergulhando. Está por cima. E de
cima ele repreende as ondas e o vento.
Outro fato que gostaria de destacar neste texto é que
Mateus é o único dos evangelistas a apresentar um diálogo
entre Pedro e Jesus. Tudo começa com o pedido de Pedro:
“se és Tu, Senhor, manda-me ir ter contigo sobre as águas”.
Pedro sai do barco e vai ao encontro de Jesus; mas,
assustando-se com a violência do vento, começa a afundar-
se e pede a Jesus que o salve.
Pedro na realidade assume o papel de representante
dessa comunidade dos discípulos que vai no barco (a Igreja).
O que vemos aqui é a fragilidade da fé dos discípulos,
sempre que têm de enfrentar as forças da morte.
5. Quando enfrentamos as ondas do mundo hostil e os
ventos soprados pelas forças da morte, nos debatemos entre
a confiança em Jesus e o medo. Pedro está representando a
todos nós.
Não significa que pelo fato de estarmos no barco dos
discípulos, e Jesus nos chamar para caminhar por sobre as
águas com Ele, que não soframos a fúria dos ventos e das
ondas.
Não estamos isentos, como servos do Senhor, de
passarmos por tribulações. Nosso barquinho, às vezes, tem
sido jogado de um lado para o outro. E quando tentamos
caminhar por sobre as águas rumo a Jesus, vemos nossos
sentimentos misturados. Fé em Jesus X medo do “Mar”
(forças da morte).
Quando passa a predominar o medo e a falta de fé,
nós passamos a afundar... Porém, o Senhor Jesus estende a
sua mão.
O Senhor Jesus sempre está com as suas mãos
estendidas para nós. Ele está disposto a nos ajudar a vencer
a tempestade.
Ao final do episódio, vemos a desconfiança dos
discípulos se transformar em fé viva: “Tu és
verdadeiramente o Filho de Deus”.
Esta é uma questão de grande relevância no relato.
Pois a confissão reflete a fé daqueles que são os verdadeiros
discípulos. Daqueles que não olham somente para as
circunstâncias da vida (ondas e ventos), mas acima de tudo
para o Cristo.
CONCLUSÃO
Vejamos algumas lições que podemos retirar deste
texto:
1ª) É muito bom participarmos do banquete do
Senhor (multiplicação dos pães), porém não
podemos nos esquecer da missão que está na
outra margem do lago.
2ª) O fato de estarmos no “barquinho” dos
discípulos de Jesus, não nos isenta de passarmos
pelas tempestades provocadas pelas forças de
morte. Devemos ter bem claro em nossas
mentes, que o projeto de Deus é contrário ao
projeto do mundo presente.
3ª) Para que seja possível vencermos as
tempestades da vida, devemos estar
conscientes da presença de Jesus. Conscientes
de que Ele é o “Filho de Deus”, e
verdadeiramente pode repreender os ventos e
as ondas, trazendo bonança.
Concluo, trazendo à memória mais um cântico. Um
cântico infantil que já cantamos muito em nossas igrejas:
“Com Cristo no barco tudo vai muito bem... e passa o
temporal”
Rev. Paulo Dias Nogueira
Catedral Metodista de Piracicaba
05.06.2016 - Culto Matutino