SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 13
AiresAlmeida | DesidérioMurcho
CAPÍTULO 9
Causalidade e
indução
Ir além da experiência
Hume considera que o conhecimento das questões de facto (ou seja, da natureza) é a
posteriori (ou seja, baseia-se na experiência).
Contudo, as ciências permitem:
• formular leis da natureza;
• fazer previsões do que irá acontecer;
• explicar as causas do que acontece.
Em todos estes casos acabamos, no entanto, por ir além da experiência, isto é, além do que
foi observado.
O Espanto 11 | Filosofia 11.º ano
Leis, previsões e explicações causais
O Espanto 11 | Filosofia 11.º ano
Conhecimento científico Vai além da experiência porquê?
Leis da natureza
(leis científicas)
Lei de Lavoisier (química):
Numa reação química, a massa total dos
reagentes é igual à massa total final dos
produtos.
Porque as leis são princípios universais que não
conseguimos observar, dado que não é possível
observar todas as reações químicas: apenas
observamos acontecimentos particulares.
Previsões
científicas
Previsão de eclipse solar (astronomia):
No dia 12 de agosto de 2026 ocorrerá um
eclipse solar total, visível na cidade de
Barcelona.
Porque as previsões são acerca de possíveis
acontecimentos futuros e o que ainda não
aconteceu ainda não foi observado.
Explicações
causais
Explicação do elevado índice de cegueira
infantil na Ásia (ciências médicas):
A causa do elevado índice de cegueira infantil
nos países menos desenvolvidos da Ásia é uma
alimentação pobre em vitamina A.
Porque identificar as causas do que acontece é
explicar o que se observa com o que não foi
observado.
O que nos permite ir além da experiência?
O Espanto 11 | Filosofia 11.º ano
Mas afinal como chegamos nós a esse tipo de conclusões universais, conclusões sobre o
futuro e conclusões sobre causas, a partir de observações particulares?
A resposta comum é que a transição dos casos particulares observados para afirmações
gerais (e também para casos futuros ou para explicações causais) se faz por indução
(raciocínio indutivo).
Mas a própria indução depende, segundo Hume, da relação de causa e efeito (da noção de
causalidade).
Qual é, então, a origem da nossa noção de causalidade?
Causalidade e conjunção constante
O que nos leva a dizer que uma dado acontecimento A é a causa de outro acontecimento B
é, diz Hume, o facto de sempre termos observado que aos acontecimentos do tipo A se
seguem invariavelmente acontecimentos do tipo B.
Assim, de cada vez que ocorreu A (ex.: um pedaço de metal foi aquecido), observámos que
ocorreu também B (ex.: esse pedaço de metal dilatou).
Tudo o que observamos é, então, a mera conjunção constante entre os dois tipos de
acontecimentos (A e B ocorrerem sempre um após o outro).
Porém, daí concluímos que A é a causa de B (ou que B é um efeito de A), como se observar
A e B a ocorrer conjuntamente fosse o mesmo que observar A a causar B.
Mas não é o mesmo, diz Hume. Duas coisas podem ocorrer sempre conjuntamente, e, no
entanto, nenhuma delas ser causa da outra. Por exemplo, sempre que faço anos é também
feriado em Portugal (há conjunção constante). Porém, uma coisa não é causa da outra (não
há causalidade).
O Espanto 11 | Filosofia 11.º ano
Conjunção constante e conexão necessária
O que explica, então, a diferença entre conjunção constante e causalidade?
A diferença é que, ao afirmarmos que A é a causa de B, estamos a querer dizer que uma
coisa não poderia ocorrer sem a outra, e não apenas que observámos uma sempre que foi
observada a outra, ou seja, ao falar de causalidade estamos a dizer também que há uma
conexão necessária entre A e B.
Mas, como observamos coisas a acontecer e nada mais, apenas observamos A e B
repetidamente, não observamos que tem de ocorrer B sempre que ocorre A.
Dito de outro modo, apenas observamos conjunções constantes entre A e B e não
conexões necessárias. Ora, se não observamos conexões necessárias, então também não
observamos qualquer relação de causalidade na natureza.
Isto representa, por sua vez, um problema para o raciocínio indutivo, dado que, segundo
Hume, esse tipo de raciocínio assenta na noção de causalidade.
O Espanto 11 | Filosofia 11.º ano
Causalidade e indução
Eis um exemplo muito comum de raciocínio indutivo:
Os pedaços de metal que até agora foram aquecidos acabaram por dilatar.
Logo, os pedaços de metal dilatam sempre que são aquecidos.
Poderá a premissa (de que todos os pedaços de metal observados até hoje dilataram
depois de aquecidos) ser verdadeira e, mesmo assim, a conclusão (de que todos, incluindo
os casos ainda não observados, dilataram sob a ação do calor) ser falsa?
Hume considera que a verdade da premissa não garante logicamente a verdade da
conclusão, pelo que a conclusão pode ser falsa, mesmo que a premissa seja verdadeira.
Assim, considera Hume, não há qualquer razão lógica para confiar neste tipo de raciocínio.
Mas poderá mesmo a conclusão ser falsa? Hume dirá que pode dar-se o caso de, no futuro,
os metais deixarem de dilatar quando são aquecidos. As coisas podem mudar.
No entanto, as pessoas reagem a isso dizendo que tal não pode acontecer, pois consideram
haver uma conexão necessária entre o aquecimento dos metais e a sua dilatação, isto é,
estão já a pressupor que há aí uma relação de causalidade. Portanto, a indução apoia-se na
noção de causalidade.
O Espanto 11 | Filosofia 11.º ano
Dois problemas
O Espanto 11 | Filosofia 11.º ano
Hume diz que usamos o raciocínio indutivo na busca de conhecimento sobre
questões de facto.
Por sua vez, o raciocínio parte da observação.
Porém, acrescenta Hume, não observamos causas nem efeitos, as apenas
conjunções constantes.
Ora, se o raciocínio indutivo pressupõe a noção de causalidade e não observamos
relações causais na natureza, isso deixa-nos perante dois grandes problemas:
• Qual é, então, a origem da ideia de causalidade?
• Como justificar a nossa confiança no raciocínio indutivo?
Vamos começar pelo segundo problema: o problema da indução.
O problema da indução
O Espanto 11 | Filosofia 11.º ano
O problema pode ser formulado do seguinte modo:
Como justificar racionalmente o raciocínio indutivo?
Eis como Hume explica o problema:
Só há duas maneiras de justificar racionalmente (logicamente) as nossas inferências indutivas, isto é,
as inferências em que, partindo da observação de casos particulares, se transita para conclusões que
vão além disso (afirmações universais, por exemplo). As duas maneiras possíveis são as seguintes:
• por demonstração, ou seja, dedutivamente;
• recorrendo à observação, ou seja, indutivamente.
Mas, diz Hume, nenhuma demonstração (argumento dedutivo) permite justificar a transição da
observação de casos particulares para afirmações universais, pois as demonstrações não têm o
caráter ampliativo requerido pela indução. Logo, não há uma justificação dedutiva para a indução.
Porém, também não é racionalmente aceitável justificar logicamente a indução recorrendo ao
raciocínio indutivo, pois justificar indutivamente o raciocínio indutivo é apresentar uma justificação
circular. Se precisamos de razões para confiar na indução, tais razões não devem basear-se no
próprio raciocínio, que carece de justificação.
Logo, nenhuma razão (seja dedutiva ou indutiva) permite justificar as nossas inferências indutivas.
A origem da noção de causalidade: o hábito
O Espanto 11 | Filosofia 11.º ano
Qual a origem da noção de causalidade, dado que não observamos relações causais na
natureza?
Hume diz que a observação de certos tipos de acontecimentos que repetidamente se
sucedem a outros gera em nós a expectativa de que, da próxima vez em que um ocorre,
também ocorra o outro.
Essa expectativa não resulta de qualquer raciocínio (não é do domínio da lógica). É
simplesmente uma tendência natural (tem um caráter meramente psicológico), fundada na
experiência acumulada, e que o nosso instinto de sobrevivência tem mostrado ser
adequada e adaptada ao funcionamento do mundo.
Hume chama hábito a essa tendência que nos leva a esperar que aquilo que repetidamente
vimos ocorrer no passado ocorra também no futuro.
Assim, não observamos relações de causa e efeito na natureza. É apenas o hábito que nos
leva a acreditar que há realmente relações causais.
Causalidade e mundo exterior
O Espanto 11 | Filosofia 11.º ano
Já sabemos que, de acordo com Hume, apenas temos acesso às nossas impressões e ideias,
que são conteúdos mentais.
Conteúdo mental é tudo aquilo que encontramos na nossa mente, que faz parte do nosso
mundo interior (impressões e ideias). Por sua vez, o mundo exterior é tudo o que se
encontra fora da mente.
Mas será que existe um mundo exterior de coisas que são as causas das impressões que
encontramos na nossa mente?
A resposta de Hume é que não há razão alguma para afirmar que as impressões internas
são causadas por objetos externos.
Porquê?
Porque afirmar isso é recorrer à noção de causalidade, que Hume já disse ser problemática.
Assim, não é correto afirmar que as impressões são causadas pelos objetos exteriores à
nossa mente, o que significa que não temos qualquer justificação para afirmar que existe
(nem que não existe) um mundo exterior.
Será Hume um cético?
O Espanto 11 | Filosofia 11.º ano
CETICISMO MODERADO DE HUME
Teses céticas Teses que rejeitam o ceticismo
• Não há uma justificação lógica para a indução.
• Há uma justificação psicológica natural para
muitas das nossas inferências indutivas, que é o
hábito em vez do raciocínio.
• Não é correto afirmar que existe causalidade na
natureza.
• O hábito é um guia prático apropriado para as
nossas vidas.
• Não podemos saber que o mundo exterior existe
(nem que não existe).
• Na prática, não podemos deixar de acreditar que
o mundo exterior existe e que isso faz parte do
nosso instinto natural de sobrevivência.
a seguir...
Críticas a Hume.
O Espanto 11 | Filosofia 11.º ano

Más contenido relacionado

La actualidad más candente

Teorias Explicativas do Conhecimento - Hume
Teorias Explicativas do Conhecimento - HumeTeorias Explicativas do Conhecimento - Hume
Teorias Explicativas do Conhecimento - HumeJorge Barbosa
 
Hume_problemas_existência_eu_mundo_Deus
Hume_problemas_existência_eu_mundo_DeusHume_problemas_existência_eu_mundo_Deus
Hume_problemas_existência_eu_mundo_DeusIsabel Moura
 
Filosofia 11 - Descrição e Interpretação da Atividade Cognoscitiva
Filosofia 11 - Descrição e Interpretação da Atividade CognoscitivaFilosofia 11 - Descrição e Interpretação da Atividade Cognoscitiva
Filosofia 11 - Descrição e Interpretação da Atividade CognoscitivaRafael Cristino
 
David hume e a critica à causalidade
David hume e a critica à causalidadeDavid hume e a critica à causalidade
David hume e a critica à causalidadeFrancis Mary Rosa
 
3_contraexemplos_cvj
3_contraexemplos_cvj3_contraexemplos_cvj
3_contraexemplos_cvjIsabel Moura
 
Hume_tipos_conhecimento
Hume_tipos_conhecimentoHume_tipos_conhecimento
Hume_tipos_conhecimentoIsabel Moura
 
Objeções_falsificacionismo
Objeções_falsificacionismoObjeções_falsificacionismo
Objeções_falsificacionismoIsabel Moura
 
O conhecimento do mundo a uniformidade da natureza
O conhecimento do mundo   a uniformidade da naturezaO conhecimento do mundo   a uniformidade da natureza
O conhecimento do mundo a uniformidade da naturezaLuis De Sousa Rodrigues
 
A filosofia moral de kant
A filosofia moral de kantA filosofia moral de kant
A filosofia moral de kantFilazambuja
 

La actualidad más candente (20)

Teorias Explicativas do Conhecimento - Hume
Teorias Explicativas do Conhecimento - HumeTeorias Explicativas do Conhecimento - Hume
Teorias Explicativas do Conhecimento - Hume
 
O problema da justiça distributiva
O problema da justiça distributivaO problema da justiça distributiva
O problema da justiça distributiva
 
Hume_problemas_existência_eu_mundo_Deus
Hume_problemas_existência_eu_mundo_DeusHume_problemas_existência_eu_mundo_Deus
Hume_problemas_existência_eu_mundo_Deus
 
Filosofia 11 - Descrição e Interpretação da Atividade Cognoscitiva
Filosofia 11 - Descrição e Interpretação da Atividade CognoscitivaFilosofia 11 - Descrição e Interpretação da Atividade Cognoscitiva
Filosofia 11 - Descrição e Interpretação da Atividade Cognoscitiva
 
O empirismo de david hume
O empirismo de david humeO empirismo de david hume
O empirismo de david hume
 
Quiz descartes
Quiz descartesQuiz descartes
Quiz descartes
 
David hume e a critica à causalidade
David hume e a critica à causalidadeDavid hume e a critica à causalidade
David hume e a critica à causalidade
 
3_contraexemplos_cvj
3_contraexemplos_cvj3_contraexemplos_cvj
3_contraexemplos_cvj
 
David hume e o Empirismo
David hume e o EmpirismoDavid hume e o Empirismo
David hume e o Empirismo
 
Cepticismo
CepticismoCepticismo
Cepticismo
 
Hume causalidade
Hume causalidadeHume causalidade
Hume causalidade
 
Hume_tipos_conhecimento
Hume_tipos_conhecimentoHume_tipos_conhecimento
Hume_tipos_conhecimento
 
Cepticismo
CepticismoCepticismo
Cepticismo
 
Impressões e ideias
Impressões e ideiasImpressões e ideias
Impressões e ideias
 
Da dúvida ao cogito
Da dúvida ao cogitoDa dúvida ao cogito
Da dúvida ao cogito
 
David hume
David humeDavid hume
David hume
 
Objeções_falsificacionismo
Objeções_falsificacionismoObjeções_falsificacionismo
Objeções_falsificacionismo
 
O conhecimento do mundo a uniformidade da natureza
O conhecimento do mundo   a uniformidade da naturezaO conhecimento do mundo   a uniformidade da natureza
O conhecimento do mundo a uniformidade da natureza
 
Comparação descartes hume
Comparação descartes   humeComparação descartes   hume
Comparação descartes hume
 
A filosofia moral de kant
A filosofia moral de kantA filosofia moral de kant
A filosofia moral de kant
 

Similar a PowerPoint 9_Causalidade e indução.pptx

David Hume - Trab Grupo VI
David Hume - Trab Grupo VIDavid Hume - Trab Grupo VI
David Hume - Trab Grupo VImluisavalente
 
A crença na ideia de conexão necessária
A crença na ideia de conexão necessáriaA crença na ideia de conexão necessária
A crença na ideia de conexão necessáriaLuis De Sousa Rodrigues
 
7471 texto do artigo-23448-1-10-20180115
7471 texto do artigo-23448-1-10-201801157471 texto do artigo-23448-1-10-20180115
7471 texto do artigo-23448-1-10-20180115hc car
 
david HUMEpresentation. quick of david hume theory
david HUMEpresentation. quick of david hume theorydavid HUMEpresentation. quick of david hume theory
david HUMEpresentation. quick of david hume theoryFbioBrs3
 
O empirismo de david Hume (Nereu)
O empirismo de david Hume (Nereu)O empirismo de david Hume (Nereu)
O empirismo de david Hume (Nereu)Joaquim Melro
 
O emprismo de David Hume (Nereu)
O emprismo de David Hume (Nereu)O emprismo de David Hume (Nereu)
O emprismo de David Hume (Nereu)guest9578d1
 
Aula Conhecimento 18.02.09
Aula   Conhecimento 18.02.09Aula   Conhecimento 18.02.09
Aula Conhecimento 18.02.09EfaSucesso
 
Empirismo de David Hume (Doc.1)
Empirismo de David Hume (Doc.1)Empirismo de David Hume (Doc.1)
Empirismo de David Hume (Doc.1)guest9578d1
 
Davidhume 120409163812-phpapp01
Davidhume 120409163812-phpapp01Davidhume 120409163812-phpapp01
Davidhume 120409163812-phpapp01Helena Serrão
 
O empirismo e o racionalismo (doc.1)
O empirismo e o racionalismo (doc.1)O empirismo e o racionalismo (doc.1)
O empirismo e o racionalismo (doc.1)Joaquim Melro
 
O emprismo de David Hume (doc. 1)
O emprismo de David Hume (doc. 1)O emprismo de David Hume (doc. 1)
O emprismo de David Hume (doc. 1)Joaquim Melro
 
O problema da causalidade.docx
O problema da causalidade.docxO problema da causalidade.docx
O problema da causalidade.docxrmagaspar
 

Similar a PowerPoint 9_Causalidade e indução.pptx (20)

David Hume - Trab Grupo VI
David Hume - Trab Grupo VIDavid Hume - Trab Grupo VI
David Hume - Trab Grupo VI
 
A crença na ideia de conexão necessária
A crença na ideia de conexão necessáriaA crença na ideia de conexão necessária
A crença na ideia de conexão necessária
 
7471 texto do artigo-23448-1-10-20180115
7471 texto do artigo-23448-1-10-201801157471 texto do artigo-23448-1-10-20180115
7471 texto do artigo-23448-1-10-20180115
 
david HUMEpresentation. quick of david hume theory
david HUMEpresentation. quick of david hume theorydavid HUMEpresentation. quick of david hume theory
david HUMEpresentation. quick of david hume theory
 
O empirismo de david Hume (Nereu)
O empirismo de david Hume (Nereu)O empirismo de david Hume (Nereu)
O empirismo de david Hume (Nereu)
 
O emprismo de David Hume (Nereu)
O emprismo de David Hume (Nereu)O emprismo de David Hume (Nereu)
O emprismo de David Hume (Nereu)
 
Ana suely
Ana suelyAna suely
Ana suely
 
David hume
David humeDavid hume
David hume
 
Aula Conhecimento 18.02.09
Aula   Conhecimento 18.02.09Aula   Conhecimento 18.02.09
Aula Conhecimento 18.02.09
 
Empirismo de David Hume (Doc.1)
Empirismo de David Hume (Doc.1)Empirismo de David Hume (Doc.1)
Empirismo de David Hume (Doc.1)
 
Davidhume 120409163812-phpapp01
Davidhume 120409163812-phpapp01Davidhume 120409163812-phpapp01
Davidhume 120409163812-phpapp01
 
O empirismo e o racionalismo (doc.1)
O empirismo e o racionalismo (doc.1)O empirismo e o racionalismo (doc.1)
O empirismo e o racionalismo (doc.1)
 
O emprismo de David Hume (doc. 1)
O emprismo de David Hume (doc. 1)O emprismo de David Hume (doc. 1)
O emprismo de David Hume (doc. 1)
 
David hume2
David hume2David hume2
David hume2
 
Merda de filosofia
Merda de filosofiaMerda de filosofia
Merda de filosofia
 
O problema da causalidade.docx
O problema da causalidade.docxO problema da causalidade.docx
O problema da causalidade.docx
 
Objetivos ciencia
Objetivos cienciaObjetivos ciencia
Objetivos ciencia
 
David hume2
David hume2David hume2
David hume2
 
PIVA- Aula 3 lógica
PIVA- Aula 3 lógicaPIVA- Aula 3 lógica
PIVA- Aula 3 lógica
 
Hume.pptx
Hume.pptxHume.pptx
Hume.pptx
 

Último

E a chuva ... (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
E a chuva ...  (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...E a chuva ...  (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
E a chuva ... (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...andreiavys
 
Questões de Língua Portuguesa - gincana da LP
Questões de Língua Portuguesa - gincana da LPQuestões de Língua Portuguesa - gincana da LP
Questões de Língua Portuguesa - gincana da LPEli Gonçalves
 
Slides Lição 06, Central Gospel, O Anticristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 06, Central Gospel, O Anticristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 06, Central Gospel, O Anticristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 06, Central Gospel, O Anticristo, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...azulassessoria9
 
MESTRES DA CULTURA DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
MESTRES DA CULTURA DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfMESTRES DA CULTURA DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
MESTRES DA CULTURA DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfprofesfrancleite
 
apostila filosofia 1 ano 1s (1).pdf 1 ANO DO ENSINO MEDIO . CONCEITOSE CARAC...
apostila filosofia 1 ano  1s (1).pdf 1 ANO DO ENSINO MEDIO . CONCEITOSE CARAC...apostila filosofia 1 ano  1s (1).pdf 1 ANO DO ENSINO MEDIO . CONCEITOSE CARAC...
apostila filosofia 1 ano 1s (1).pdf 1 ANO DO ENSINO MEDIO . CONCEITOSE CARAC...SileideDaSilvaNascim
 
Aprender as diferentes formas de classificar as habilidades motoras é de extr...
Aprender as diferentes formas de classificar as habilidades motoras é de extr...Aprender as diferentes formas de classificar as habilidades motoras é de extr...
Aprender as diferentes formas de classificar as habilidades motoras é de extr...azulassessoria9
 
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptx
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptxMonoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptx
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptxFlviaGomes64
 
6ano variação linguística ensino fundamental.pptx
6ano variação linguística ensino fundamental.pptx6ano variação linguística ensino fundamental.pptx
6ano variação linguística ensino fundamental.pptxJssicaCassiano2
 
INTERTEXTUALIDADE atividade muito boa para
INTERTEXTUALIDADE   atividade muito boa paraINTERTEXTUALIDADE   atividade muito boa para
INTERTEXTUALIDADE atividade muito boa paraAndreaPassosMascaren
 
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptxM0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptxJustinoTeixeira1
 
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptxCartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptxMarcosLemes28
 
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)Centro Jacques Delors
 
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024azulassessoria9
 
Aula 67 e 68 Robótica 8º ano Experimentando variações da matriz de Led
Aula 67 e 68 Robótica 8º ano Experimentando variações da matriz de LedAula 67 e 68 Robótica 8º ano Experimentando variações da matriz de Led
Aula 67 e 68 Robótica 8º ano Experimentando variações da matriz de LedJaquelineBertagliaCe
 
Acessibilidade, inclusão e valorização da diversidade
Acessibilidade, inclusão e valorização da diversidadeAcessibilidade, inclusão e valorização da diversidade
Acessibilidade, inclusão e valorização da diversidadeLEONIDES PEREIRA DE SOUZA
 
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdfatividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdfAutonoma
 
Falando de Física Quântica apresentação introd
Falando de Física Quântica apresentação introdFalando de Física Quântica apresentação introd
Falando de Física Quântica apresentação introdLeonardoDeOliveiraLu2
 
Aula 25 - A america espanhola - colonização, exploraçãp e trabalho (mita e en...
Aula 25 - A america espanhola - colonização, exploraçãp e trabalho (mita e en...Aula 25 - A america espanhola - colonização, exploraçãp e trabalho (mita e en...
Aula 25 - A america espanhola - colonização, exploraçãp e trabalho (mita e en...MariaCristinaSouzaLe1
 
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...PatriciaCaetano18
 

Último (20)

E a chuva ... (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
E a chuva ...  (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...E a chuva ...  (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
E a chuva ... (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
 
Questões de Língua Portuguesa - gincana da LP
Questões de Língua Portuguesa - gincana da LPQuestões de Língua Portuguesa - gincana da LP
Questões de Língua Portuguesa - gincana da LP
 
Slides Lição 06, Central Gospel, O Anticristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 06, Central Gospel, O Anticristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 06, Central Gospel, O Anticristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 06, Central Gospel, O Anticristo, 1Tr24.pptx
 
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...
 
MESTRES DA CULTURA DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
MESTRES DA CULTURA DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfMESTRES DA CULTURA DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
MESTRES DA CULTURA DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
 
apostila filosofia 1 ano 1s (1).pdf 1 ANO DO ENSINO MEDIO . CONCEITOSE CARAC...
apostila filosofia 1 ano  1s (1).pdf 1 ANO DO ENSINO MEDIO . CONCEITOSE CARAC...apostila filosofia 1 ano  1s (1).pdf 1 ANO DO ENSINO MEDIO . CONCEITOSE CARAC...
apostila filosofia 1 ano 1s (1).pdf 1 ANO DO ENSINO MEDIO . CONCEITOSE CARAC...
 
Aprender as diferentes formas de classificar as habilidades motoras é de extr...
Aprender as diferentes formas de classificar as habilidades motoras é de extr...Aprender as diferentes formas de classificar as habilidades motoras é de extr...
Aprender as diferentes formas de classificar as habilidades motoras é de extr...
 
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptx
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptxMonoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptx
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptx
 
6ano variação linguística ensino fundamental.pptx
6ano variação linguística ensino fundamental.pptx6ano variação linguística ensino fundamental.pptx
6ano variação linguística ensino fundamental.pptx
 
INTERTEXTUALIDADE atividade muito boa para
INTERTEXTUALIDADE   atividade muito boa paraINTERTEXTUALIDADE   atividade muito boa para
INTERTEXTUALIDADE atividade muito boa para
 
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptxM0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
 
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptxCartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
 
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)
 
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
 
Aula 67 e 68 Robótica 8º ano Experimentando variações da matriz de Led
Aula 67 e 68 Robótica 8º ano Experimentando variações da matriz de LedAula 67 e 68 Robótica 8º ano Experimentando variações da matriz de Led
Aula 67 e 68 Robótica 8º ano Experimentando variações da matriz de Led
 
Acessibilidade, inclusão e valorização da diversidade
Acessibilidade, inclusão e valorização da diversidadeAcessibilidade, inclusão e valorização da diversidade
Acessibilidade, inclusão e valorização da diversidade
 
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdfatividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
 
Falando de Física Quântica apresentação introd
Falando de Física Quântica apresentação introdFalando de Física Quântica apresentação introd
Falando de Física Quântica apresentação introd
 
Aula 25 - A america espanhola - colonização, exploraçãp e trabalho (mita e en...
Aula 25 - A america espanhola - colonização, exploraçãp e trabalho (mita e en...Aula 25 - A america espanhola - colonização, exploraçãp e trabalho (mita e en...
Aula 25 - A america espanhola - colonização, exploraçãp e trabalho (mita e en...
 
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
 

PowerPoint 9_Causalidade e indução.pptx

  • 1. AiresAlmeida | DesidérioMurcho CAPÍTULO 9 Causalidade e indução
  • 2. Ir além da experiência Hume considera que o conhecimento das questões de facto (ou seja, da natureza) é a posteriori (ou seja, baseia-se na experiência). Contudo, as ciências permitem: • formular leis da natureza; • fazer previsões do que irá acontecer; • explicar as causas do que acontece. Em todos estes casos acabamos, no entanto, por ir além da experiência, isto é, além do que foi observado. O Espanto 11 | Filosofia 11.º ano
  • 3. Leis, previsões e explicações causais O Espanto 11 | Filosofia 11.º ano Conhecimento científico Vai além da experiência porquê? Leis da natureza (leis científicas) Lei de Lavoisier (química): Numa reação química, a massa total dos reagentes é igual à massa total final dos produtos. Porque as leis são princípios universais que não conseguimos observar, dado que não é possível observar todas as reações químicas: apenas observamos acontecimentos particulares. Previsões científicas Previsão de eclipse solar (astronomia): No dia 12 de agosto de 2026 ocorrerá um eclipse solar total, visível na cidade de Barcelona. Porque as previsões são acerca de possíveis acontecimentos futuros e o que ainda não aconteceu ainda não foi observado. Explicações causais Explicação do elevado índice de cegueira infantil na Ásia (ciências médicas): A causa do elevado índice de cegueira infantil nos países menos desenvolvidos da Ásia é uma alimentação pobre em vitamina A. Porque identificar as causas do que acontece é explicar o que se observa com o que não foi observado.
  • 4. O que nos permite ir além da experiência? O Espanto 11 | Filosofia 11.º ano Mas afinal como chegamos nós a esse tipo de conclusões universais, conclusões sobre o futuro e conclusões sobre causas, a partir de observações particulares? A resposta comum é que a transição dos casos particulares observados para afirmações gerais (e também para casos futuros ou para explicações causais) se faz por indução (raciocínio indutivo). Mas a própria indução depende, segundo Hume, da relação de causa e efeito (da noção de causalidade). Qual é, então, a origem da nossa noção de causalidade?
  • 5. Causalidade e conjunção constante O que nos leva a dizer que uma dado acontecimento A é a causa de outro acontecimento B é, diz Hume, o facto de sempre termos observado que aos acontecimentos do tipo A se seguem invariavelmente acontecimentos do tipo B. Assim, de cada vez que ocorreu A (ex.: um pedaço de metal foi aquecido), observámos que ocorreu também B (ex.: esse pedaço de metal dilatou). Tudo o que observamos é, então, a mera conjunção constante entre os dois tipos de acontecimentos (A e B ocorrerem sempre um após o outro). Porém, daí concluímos que A é a causa de B (ou que B é um efeito de A), como se observar A e B a ocorrer conjuntamente fosse o mesmo que observar A a causar B. Mas não é o mesmo, diz Hume. Duas coisas podem ocorrer sempre conjuntamente, e, no entanto, nenhuma delas ser causa da outra. Por exemplo, sempre que faço anos é também feriado em Portugal (há conjunção constante). Porém, uma coisa não é causa da outra (não há causalidade). O Espanto 11 | Filosofia 11.º ano
  • 6. Conjunção constante e conexão necessária O que explica, então, a diferença entre conjunção constante e causalidade? A diferença é que, ao afirmarmos que A é a causa de B, estamos a querer dizer que uma coisa não poderia ocorrer sem a outra, e não apenas que observámos uma sempre que foi observada a outra, ou seja, ao falar de causalidade estamos a dizer também que há uma conexão necessária entre A e B. Mas, como observamos coisas a acontecer e nada mais, apenas observamos A e B repetidamente, não observamos que tem de ocorrer B sempre que ocorre A. Dito de outro modo, apenas observamos conjunções constantes entre A e B e não conexões necessárias. Ora, se não observamos conexões necessárias, então também não observamos qualquer relação de causalidade na natureza. Isto representa, por sua vez, um problema para o raciocínio indutivo, dado que, segundo Hume, esse tipo de raciocínio assenta na noção de causalidade. O Espanto 11 | Filosofia 11.º ano
  • 7. Causalidade e indução Eis um exemplo muito comum de raciocínio indutivo: Os pedaços de metal que até agora foram aquecidos acabaram por dilatar. Logo, os pedaços de metal dilatam sempre que são aquecidos. Poderá a premissa (de que todos os pedaços de metal observados até hoje dilataram depois de aquecidos) ser verdadeira e, mesmo assim, a conclusão (de que todos, incluindo os casos ainda não observados, dilataram sob a ação do calor) ser falsa? Hume considera que a verdade da premissa não garante logicamente a verdade da conclusão, pelo que a conclusão pode ser falsa, mesmo que a premissa seja verdadeira. Assim, considera Hume, não há qualquer razão lógica para confiar neste tipo de raciocínio. Mas poderá mesmo a conclusão ser falsa? Hume dirá que pode dar-se o caso de, no futuro, os metais deixarem de dilatar quando são aquecidos. As coisas podem mudar. No entanto, as pessoas reagem a isso dizendo que tal não pode acontecer, pois consideram haver uma conexão necessária entre o aquecimento dos metais e a sua dilatação, isto é, estão já a pressupor que há aí uma relação de causalidade. Portanto, a indução apoia-se na noção de causalidade. O Espanto 11 | Filosofia 11.º ano
  • 8. Dois problemas O Espanto 11 | Filosofia 11.º ano Hume diz que usamos o raciocínio indutivo na busca de conhecimento sobre questões de facto. Por sua vez, o raciocínio parte da observação. Porém, acrescenta Hume, não observamos causas nem efeitos, as apenas conjunções constantes. Ora, se o raciocínio indutivo pressupõe a noção de causalidade e não observamos relações causais na natureza, isso deixa-nos perante dois grandes problemas: • Qual é, então, a origem da ideia de causalidade? • Como justificar a nossa confiança no raciocínio indutivo? Vamos começar pelo segundo problema: o problema da indução.
  • 9. O problema da indução O Espanto 11 | Filosofia 11.º ano O problema pode ser formulado do seguinte modo: Como justificar racionalmente o raciocínio indutivo? Eis como Hume explica o problema: Só há duas maneiras de justificar racionalmente (logicamente) as nossas inferências indutivas, isto é, as inferências em que, partindo da observação de casos particulares, se transita para conclusões que vão além disso (afirmações universais, por exemplo). As duas maneiras possíveis são as seguintes: • por demonstração, ou seja, dedutivamente; • recorrendo à observação, ou seja, indutivamente. Mas, diz Hume, nenhuma demonstração (argumento dedutivo) permite justificar a transição da observação de casos particulares para afirmações universais, pois as demonstrações não têm o caráter ampliativo requerido pela indução. Logo, não há uma justificação dedutiva para a indução. Porém, também não é racionalmente aceitável justificar logicamente a indução recorrendo ao raciocínio indutivo, pois justificar indutivamente o raciocínio indutivo é apresentar uma justificação circular. Se precisamos de razões para confiar na indução, tais razões não devem basear-se no próprio raciocínio, que carece de justificação. Logo, nenhuma razão (seja dedutiva ou indutiva) permite justificar as nossas inferências indutivas.
  • 10. A origem da noção de causalidade: o hábito O Espanto 11 | Filosofia 11.º ano Qual a origem da noção de causalidade, dado que não observamos relações causais na natureza? Hume diz que a observação de certos tipos de acontecimentos que repetidamente se sucedem a outros gera em nós a expectativa de que, da próxima vez em que um ocorre, também ocorra o outro. Essa expectativa não resulta de qualquer raciocínio (não é do domínio da lógica). É simplesmente uma tendência natural (tem um caráter meramente psicológico), fundada na experiência acumulada, e que o nosso instinto de sobrevivência tem mostrado ser adequada e adaptada ao funcionamento do mundo. Hume chama hábito a essa tendência que nos leva a esperar que aquilo que repetidamente vimos ocorrer no passado ocorra também no futuro. Assim, não observamos relações de causa e efeito na natureza. É apenas o hábito que nos leva a acreditar que há realmente relações causais.
  • 11. Causalidade e mundo exterior O Espanto 11 | Filosofia 11.º ano Já sabemos que, de acordo com Hume, apenas temos acesso às nossas impressões e ideias, que são conteúdos mentais. Conteúdo mental é tudo aquilo que encontramos na nossa mente, que faz parte do nosso mundo interior (impressões e ideias). Por sua vez, o mundo exterior é tudo o que se encontra fora da mente. Mas será que existe um mundo exterior de coisas que são as causas das impressões que encontramos na nossa mente? A resposta de Hume é que não há razão alguma para afirmar que as impressões internas são causadas por objetos externos. Porquê? Porque afirmar isso é recorrer à noção de causalidade, que Hume já disse ser problemática. Assim, não é correto afirmar que as impressões são causadas pelos objetos exteriores à nossa mente, o que significa que não temos qualquer justificação para afirmar que existe (nem que não existe) um mundo exterior.
  • 12. Será Hume um cético? O Espanto 11 | Filosofia 11.º ano CETICISMO MODERADO DE HUME Teses céticas Teses que rejeitam o ceticismo • Não há uma justificação lógica para a indução. • Há uma justificação psicológica natural para muitas das nossas inferências indutivas, que é o hábito em vez do raciocínio. • Não é correto afirmar que existe causalidade na natureza. • O hábito é um guia prático apropriado para as nossas vidas. • Não podemos saber que o mundo exterior existe (nem que não existe). • Na prática, não podemos deixar de acreditar que o mundo exterior existe e que isso faz parte do nosso instinto natural de sobrevivência.
  • 13. a seguir... Críticas a Hume. O Espanto 11 | Filosofia 11.º ano