Este documento discute a eficiência da adubação nitrogenada em pastagens para produção leiteira. Ele explica que a adição de nitrogênio pode aumentar a produção de forragem e a capacidade de carga animal sem prejudicar a produção de leite. O documento também apresenta um exemplo hipotético mostrando que a adubação nitrogenada pode ter uma eficiência bioeconômica positiva quando consideradas as eficiências de conversão do nitrogênio em forragem, pastejo e produção animal.
1. ADUBAÇÃO NITROGENADA EM PASTAGENS: EFICIÊNCIA NO
PROCESSO
1
Rogério Marchiori Coan
2
Ricardo Andrade Reis
A qualidade visando menores custos, conceito cada vez mais presente nas metas
gerenciais das propriedades produtoras de leite, passa necessariamente pela
combinação harmoniosa dos conhecimentos de administração, meio ambiente,
genótipo e nutrição animal, sendo esses componentes essenciais à evolução dos
sistemas de produção em pecuária leiteira.
A adoção desordenada e inoportuna de tecnologias sofisticadas, sem um
planejamento consistente da evolução dos sistemas, compromete a eficiência, a
economicidade dos investimentos e, conseqüentemente, a sua produtividade.
Nesse sentido, visando ao avanço em produtividade e competitividade na cadeia
produtiva do leite, diversas alternativas tecnológicas têm sido propostas e, dentre
elas, a utilização da adubação nitrogenada de pastagens tem assumido posição
de destaque.
O nitrogênio, quando aplicado nas pastagens, tem o intuito de aumentar a
produção de matéria seca, a disponibilidade de forragem e, por conseqüência, a
capacidade de suporte da área, principalmente na época quente e chuvosa do ano
(período das águas), onde a eficiência de resposta à adubação nitrogenada é
maior.
1
Zootecnista – Doutor em Produção Animal – Diretor da COAN – Consultoria Avançada em Pecuária Ltda.
2
Professor do Departamento de Zootecnia da FCAVJ/UNESP – Campus de Jaboticabal. Bolsista do CNPq.
2. Com o aumento da disponibilidade de forragem e mediante o manejo racional das
pastagens, tem-se a garantia da melhor qualidade nutritiva do pasto, sendo
possível o aumento da taxa de lotação animal sem prejudicar a produção de leite.
Diante disso, a recomendação das quantidades de nitrogênio para as áreas de
pastejo tem variado de 50 kg a 300 kg/ha/ano de nitrogênio. O menor valor
mencionado, 50 kg/ha/ano de N, é considerado como uma quantidade mínima,
inclusive para evitar a degradação das áreas de pastagem. Valores em torno de
100 kg/ha/ano de N tem sido aconselhados, quando se deseja ter aumento de
produtividade, mas não em exploração intensiva. Por outro lado, as adubações
mais expressivas, 150 a 300 kg/ha/ano de N, são recomendadas e utilizadas em
explorações intensivas. É importante ressaltar que a capacidade de resposta à
adubação nitrogenada está intrinsicamente relacionada aos níveis de nutrientes
(fósforo, potássio, cálcio, magnésio, etc.) minerais presentes no solo, bem como
da espécie de capim utilizada.
Embora o uso de fertilizantes nitrogenados seja uma forma efetiva de repor N ao
sistema e, potencialmente garantir a sustentabilidade do sistema de produção, sua
adoção pelos pecuaristas ainda é limitada. Esse fato é atribuído à cultura do
pecuarista em não adubar as áreas de pastagem, e também à expectativa de
baixa eficiência bioeconômica da adubação nitrogenada.
A eficiência bioeconômica da adubação nitrogenada em pastagens depende da
interação entre a eficiência de conversão do N-fertilizante em forragem (kg de
matéria seca/kg de N aplicado), da eficiência com que a forragem é consumida
pelo animal (eficiência de pastejo) e da eficiência com que a forragem é convertida
em produto animal (kg de matéria seca/kg de leite produzido).
3. O resultado dessas três eficiências parciais define a eficiência de conversão do N-
fertilizante em produto animal (kg leite/kg de N aplicado), que quando associada
com a relação de troca entre preços de insumos ou do próprio leite produzido,
determina a eficiência bioeconômica da adubação nitrogenada de pastagens.
Para desmistificar essa dúvida, consideraremos um exemplo hipotético. Sendo
assim, uma área de capim Tanzânia, em sistema de pastejo rotacionado, foi
adubada com 50 kg de N/ha (110 kg de uréia/ha) e teve uma eficiência de
resposta em produção de 45 kg de matéria seca (MS) para cada kg de N aplicado,
ou seja, uma produção bruta de 2.250 kg de matéria seca/ha, sem ser
considerado o resíduo pós pastejo (saída do pasto com 30 cm de altura). Se
considerarmos que uma vaca pesa 500 kg e produz, em média, 12 kg de leite/dia
em regime de pastagem, e o produtor é remunerado em R$ 0,52/litro de leite,
então, teremos uma receita bruta de R$ 6,24/vaca/dia. Essa mesma vaca
consome, em média, 2,8% do peso vivo em matéria seca, ou seja, 14 kg de
matéria seca/dia e com uma eficiência de pastejo de 50%, necessitando, portanto,
de 28 kg de matéria seca disponível/dia.
O período de ocupação da área é de 5 dias e o período de descanso de 32 dias.
Assim, se cada vaca precisa de 28 kg de MS/dia; em 5 dias, essa mesma vaca
precisará de 140 kg de MS. Se tivermos um total de 2.250 kg de MS, que estará
disponível nos 5 dias para pastejo, teremos então a possibilidade de 16 refeições
ou a permanência de 16 vacas/hectare (2.250 kg MS/140 kg MS = 16 vacas). Se a
uréia agrícola custa R$ 920,00/t., então, 110 kg/ha custará R$ 101,20 e, este valor
dividido por 5 dias, resultará em R$ 20,24/ha/dia. Se temos um total de 16
vacas/hectare/dia, então, R$ 20,24 dividido por 16 vacas, resultará em um custo
de R$ 1,26/vaca/dia.
4. Se a receita bruta/vaca/dia é de R$ 6,24, então, teremos um saldo
positivo/vaca/dia de R$ 4,97, ou seja, uma relação financeira de 4,95 kg de leite
para cada kg de N aplicado.
Vale ressaltar que, visando o equilíbrio do sistema de pastejo rotacionado, há a
necessidade de 8 piquetes de 1 ha na propriedade, em função do período de
descanso de 32 dias e período de ocupação de 5 dias
(Número de Piquetes= [(Período de Descanso / Período de Ocupação) + 1], o
que corresponde a uma taxa de lotação instantânea de 2,3 U.A/ha.
Diante desta análise simplista, pode-se verificar que a adubação nitrogenada de
pastagens apresenta eficiência bioeconômica. Entretanto, a recomendação de sua
utilização necessita ser embasada em critérios técnicos, econômicos, ambientais
e de manejo do sistema de produção na qual a propriedade está inserida, não
servindo de critério único para determinar sua adoção ou não nas propriedades
que se dedicam à atividade leiteira.