O especialista americano Fredric Litto acredita que o conhecimento humano estará disponível gratuitamente online em breve. Universidades precisarão se destacar pela orientação aos alunos e pela certificação, já que não poderão cobrar pelo conteúdo. Litto defende que o Brasil deve abrir suas universidades públicas a distância sem vestibular, como fazem países asiáticos líderes em educação a distância.
1. A era do saber gratuito
Presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância, o americano
Fredric Litto acha que o País precisa ser ousado
27 de fevereiro de 2012 | 21h 20
Sergio Pompeu - Estadão.edu
Na onda de protestos do movimento Occupy Wall Street, no ano passado, uma das
demandas era de que o governo americano garantisse acesso gratuito à educação a
distância. Especialistas acreditam que entramos numa era em que o conteúdo
educacional estará disponível online de graça. Como o senhor vê esse processo?
Veja também:
Classe C aposta no ensino a distância para melhorar de vida
No exterior, ensino a distância vive período excitante e nebuloso
SP deve ganhar universidade pública focada em ensino a distância
OPINE: Você considera válido o ensino a distância?
Valéria Goncalvez/AE-4/4/2006
'Universidades vão se destacar pela orientação aos alunos'
A tendência vai ser nessa direção. Com todo o conhecimento humano aos poucos entrando
na web, a universidade não vai poder cobrar pelo conteúdo. Veja o projeto Google
Acadêmico, eles já alcançaram mais da metade da meta de colocar 32 milhões de títulos em
domínio público na rede. A digitalização faz com que a gente tenha de ser generoso. No
passado, vivíamos numa sociedade de escassez. Poucos tinham acesso a livros – ou a
chocolate ou a especiarias. Hoje em dia podemos dar informação de graça. Se não estiver
no domínio público, vamos ter patrocinadores, como tem patrocinador na TV aberta. Pense
no benefício para o conjunto da sociedade quando todo o conhecimento humano estiver à
disposição.
Qual o papel da universidade nesse processo?
Elas vão ter de se destacar pela orientação que dão ao aluno, pela capacidade de facilitar a
compreensão do conteúdo. E também pela certificação. A pessoa estuda química industrial
2. por conta própria e diz: “Quero ter um diploma.” A universidade aplica um exame e, se o
sujeito passar, ganha a certificação.
No Brasil, o governo ainda obriga as instituições a fazer vestibular para alunos de
cursos a distância. Em outros países, quem termina o ensino médio tem esse direito.
Como podemos competir nesse cenário?
Se o Brasil quer continuar a oferecer universidade pública gratuita, por que limitar isso a
quem consegue fazer um bom ensino médio e passar no vestibular? Por que não abrir as
portas totalmente? É o que eles fazem na Europa e principalmente na Ásia, que tem
universidades abertas a distância de grande qualidade. A Universidade Indira Gandhi, da
Índia, tem 3,2 milhões de alunos! Os asiáticos estão na frente agora. Perceberam que suas
universidades de formação da elite não estavam dando conta da produção de recursos
humanos qualificados que um país moderno precisa – coisa que o Brasil só agora está
começando a perceber. A instituição de elite continuará existindo, mas não vai formar força
de trabalho em número suficiente. Na Ásia eles têm uma mistura de universidades de elite
de alta qualidade com a sociedade da abundância de conhecimento. Formam centenas de
milhares de pessoas por ano, sem vestibular.
http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,a-era-do-saber-gratuito,841286,0.htm