4. •
•
Era uma vez um príncipe muito belo que acabara de nascer. E por essa altura o Rei quis fazer uma
grande festa. Então a Rainha decidiu convidar uma fada, sua amiga, muito boa para ser madrinha de seu
filho. Na terra natal da Rainha haviam muitas fadas , mas umas não eram boas por isso resolveu não as
convidar. Uma delas, que não muito má nem muito boa, resolveu aparecer na festa do baptizado. Não
se podia ter a certeza que a fada tinha malfadado o príncipe, mas algumas pessoas ouviram-na dizer,
que era melhor que o príncipe não saísse daquele castelo nos próximos dezassete anos.
O principezinho ficou com o nome de Mel porque o seu sorriso e o seu cabelo lembrava o mel. E a
Rainha decidiu fazer o que aquela fada desagradável lhe tinha aconselhado: que o príncipe ficasse
dentro do castelo até completar os dezassete anos. E assim foi. Mandaram pôr á volta do castelo, do
jardim e da mata um muro muito alto para evitar que o príncipe fugisse e que alguém desconhecido lá
entrasse.
5. • O tempo ia passando e Mel crescia feliz e com saúde. Então o Rei resolveu regressar ao castelo da
capital porque lá conseguia melhor governar o reino. O príncipe continuava naquele palácio, mas lá
estava mais seguro, a estudar e a aprender o que fosse necessário. O palácio tinha sido construído
num sitio quase sem ninguém mas era um lugar muito bonito e de lá viam-se muitas coisas belas da
Natureza. Por perto vigiavam os guardas que abriam e fechavam o portão, rondavam o jardim e
vigiavam também a tapada frondosa. Do outro lado do muro o príncipe nunca pudera ver ninguém,
porque ninguém se podia aproximar do palácio, só com autorização.
• Á noite, das janelas via uns pontinhos a brilhar que eram as luzinhas do lume. Mas os pontinhos
cintilantes do céu estavam mais juntinhos, luminosos e numerosos. Nas noites, em que não haviam
nuvens, nunca se deitava sem primeiro olhar e reflectir naqueles sinais que luziam no céu e na terra .
Ele vivia muito alegre. Não faltava felicidade, jogos, música e livros. Com os seus amigos e alguns
convidados, Mel nunca se sentia só, apesar de ter saudades dos seus pais.
6. •
•
•
•
Mel ainda tinha a companhia dos professores, criados e pajens. Todos os anos chegavam novos
professores para lhe ensinarem novos saberes. Mas o que Mel gostava mais era fazer perguntas sobre
as terras de origem dos seus professores. E como os professores traziam livros com línguas que ele
desconhecia, ele aprendia novas línguas. Esses livros faziam-no sonhar e evadir-se de si mesmo.
Os professores de música vinham com muitos instrumentos e partituras para que Mel aprendesse a
tocar.
Passado um tempo, Mel tornou-se um rapaz forte e enérgico. E foi aí que começou a sentir-se
aborrecido e triste com o que antes ele mais gostava.
O príncipe Mel entristecia cada vez mais e no seu quarto a música e os livros era a única coisa que ainda
gostava de fazer. Ler e tocar dava-lhe asas á imaginação e fazia-lhe imaginar o impossível e coisas
fascinantes.
7. •
•
•
Recriar incentivava-o e confortava-o para que o tempo passasse mais depressa para ele sair daquele
palácio. Mel também gostava de ir com o seu cavalo ás alamedas do jardim. Um dia cavalgou a um sitio
onde nunca tinha chegado. Parou ao pé do muro e reparou que existia um portão escondido.
Nos bosques e nos pomares encontravam-se frutos variados na Primavera e no Verão, ao contrário dos
frutos do Inverno e do Outono que eram mais secos. Mel adorava aquelas árvores da mata até fazia
amizade com algumas delas e também falava com elas. Os animais também eram seus amigos. E todos
os animais e flores gostavam de ouvir as maravilhosas melodias que Mel tocava, que eram de partituras
de um músico que o professor de Mel lhes ensinara.
O Outono vinha acompanhado das gotinhas que caíam do céu e , mal parassem de cair, o príncipe saía
de casa para sentir o cheiro a terra encharcada. Então passeava a cavalo pela mata, mas ver as folhas
das árvores a caírem no chão entristecia-o.
8. •
•
Os dias encolhiam cada vez mais, e por isso Mel tinha que ficar mais tempo dentro do palácio. Mas ele
gostava mais de estar no jardim e no bosque que agora estavam mais tristes que nunca. No bosque os
animais abrigavam-se nas suas casinhas, por causa do frio, e Mel não deixava que fizessem algum mal
aos animais pobres e indefesos.
O Inverno estava cada vez mais perto e Mel entristeci-a cada vez mais. Tão depressa que o Príncipe já
não aguentava ficar sem fazer nada. Mas mesmo que nevasse ele ia a cavalgar pela mata. Num dia de
muito frio, Mel galopou até ao fim de um caminho. Desceu do cavalo e observou através do portão, o
caminho aberto entre os montes, neve no chão e pequeninas pegadas. Mel, curioso, procurou descobrir
quem teria deixado aquelas pegadas. Mel pensou em chamar os guardas mas acabou por ter uma ideia.
Esperou até que esse ser saísse, e não esperou muito tempo.
9. •
•
Ouvindo uns sons, viu uma rapariga que tentava fugir para o outro lado, mas Mel agarrou-a. Ela estava
a tremer de frio e de aflição. E o príncipe vendo isso tentou acalmá-la dizendo-lhe para não ter medo
dele.
A menina tinha um cesto cheio de frutos secos e trazia também um molho de lenha. E o príncipe
continuava a mirá-la, até que ,por tanto ver tantas qualidades que ela tinha, reparou que os seus pés
eram azuis e começou-lhe a perguntar porquê. Ela não teve coragem de falar. Olhou para um dos seus
pés, e não reparou nada de estranho. E com medo de ser castigada por entrar na mata, tentou fugir de
novo. Mas o príncipe agarrando-a acalmou dizendo lhe outra vez para não ter medo e perguntou-lhe de
novo porque é que ela tinha os pés azuis. Mas ela voltou a olhar para os seus pais mas continuou a não
achar nada de estranho, e não percebia porque razão o príncipe insistia tanto com esse assunto e ficou
ainda mais assustada e tentou fugir de novo, mas mais uma vez o príncipe parou-a prometendo-lhe que
10. •
•
Só aí é que a Menina dos Pés azuis olhou para o príncipe, mas, mesmo assim, não conseguia dizer uma
só palavra. Tinha medo, e não sabia de quê. E enquanto ela pensava no seu atrevimento de entrar no
território do Príncipe ele continuava a mirar os pés azuis dela e por tanto olhar reparou que ela estava
descalça e começou a pensar, sem certeza nenhuma, que a menina ,se calhar, tinha os pés azuis por
causa disso, ou então por causa do frio.
Mel largou-a e ela saiu através das grades do portão. E o príncipe, por não poder segui-la, ficou a vê-la
desaparecer. Mandou aos guardas que seguissem a menina, que lhe levassem o cestinho que ela tinha
deixado e o molho de gravetos e cavacas. E ordenou aos guardas para que deixassem a menina entrar e
levar tudo o que ela quisesse .
11. •
•
•
•
•
O Príncipe lembrou-se de pedir ao pai para mandar plantar árvores, iguais ás da floresta, por todo o
Reino de modo a que ninguém passasse fome. O príncipe Mel não entendia a razão de não se
preocuparem tanto com a plantação dessas árvores , porque assim ninguém passava fome.
Pensou se um dia fosse rei, mandaria semear e plantar as árvores que fossem necessárias.
Depois de a menina ter fugido, Mel regressou para o palácio, e quando os guardas chegaram, disseram
que não a tinham encontrado.
Mel, ainda falou com algumas pessoas sobre uma menina que tinha pés azuis, mas ninguém lhe
respondia o que ele queria ouvir. Ou riam-se ou tentavam mudar de assunto.
O Rei ordenou para que os professores não lhe dessem muito trabalho , para ficar com mais tempo livre
para falar e brincar. Que nunca deixasse a música, os torneios e a dança. E que aprendesse a lutar para
um dia se saber defender.
12. •
Mel parecia preocupado, e começou a dizer que não queria ser rei. Ninguém conseguia acreditar no que
estava a ouvir. O Príncipe não queria falar sobre isso. Como ninguém queria saber das sua ideias, ele
também não as dizia. Mas, na verdade não se sentia pronto para reinar. Estudou e aprendeu muito, mas
não sabia o que devia fazer para ser um bom rei. Então rezava para que seu pai vivesse e reinasse
durante muitos anos. Atento aos problemas. ele sabia que os velhinhos e as crianças sofriam de muitas
coisas horríveis e também sabia que havia muita coisa que estava mal no seu reino, e não sabia como
superar e mudar esses problemas. Não queria que isto continuasse quando fosse ele a reinar. Por isso
decidiu partir procurando a sabedoria. Mel entendia que não era com a ajuda dos professores e estudos
que se tornaria um bom rei. Era ele que tinha de começar a esforçar-se mais, sem ajuda de ninguém.
Gostava de ter mais conhecimentos e experiências com o convívio das pessoas e do mundo e sabia que
a sua sabedoria e conhecimentos teriam grande valor.
13. •
Por tanto pensar, acabou por descobrir quem o poderia ajudar. A sua Madrinha. Mas percebeu que era
melhor não contar aos pais a sua decisão. Logo que completasse dezassete anos partiria o mais
depressa possível para o palácio da, sua madrinha, Fada Virtude. Quando completou os dezassete anos
foi á procura da Menina dos Pés Azuis, mas, infelizmente, não a descobriu. Não tornou a encontrá-la
porque ela decidiu ir para o Santuário do Norte. Um dia resolveu ir para ao pé da sua Madrinha. Mas o
príncipe esqueceu-se que seu pai fez um contracto com um rei amigo que tinha uma Linda Princesa para
que o Príncipe se casasse com ela. E já estava tudo combinado. A Linda Princesa escolheu, para viver
com o Príncipe, o palácio da Serra da Lua. E depois do matrimónio foram para o castelo que a Princesa
escolhera. E depois da lua-de-mel, o Príncipe contou á Princesa o seu desejo de viajar até ao Grande
Santuário.
14. •
•
Ela compreendeu-o e disse-lhe para ele ir embora em segredo , mesmo sabendo que a viagem
demorasse meses ou, até, anos. O que ela sentia por Mel era um amor verdadeiro. E aceitou a decisão
do príncipe de boa vontade. Então, numa noite de lua cheia, o príncipe saiu do castelo sem que
ninguém o visse e tinha-se preparado o melhor que pôde. A sua caminhada foi bastante longa, cheia de
obstáculos que teve que ultrapassar com a sua experiência e inteligência e com o que ia aprendendo
durante a viagem até chegar ao Grande Santuário, onde estava a sua madrinha.
O seu objectivo acabara de se concretizar. E não precisavam quase de falar porque os olhos , o coração e
a mente mostravam o que lhes estava na alma e o que tinham para dizer um para outro. E entendeu o
que ele se questionava. E a Fada Virtude orgulhou-se muito do príncipe. E assim a missão de Mel tinhase concretizado.
15. •
•
Depois voltou para o seu Reino de barco. E ouviu o que ele não esperava ouvir: Sua mãe e a sua esposa
tinham falecido por causa de uma doença a ajudarem os doentes. Mas também ouviu dizer que a
Princesa lhe tinha deixado um filho. E quando chegou deu muita alegria a todos.
Entretanto, o Rei foi para o céu, e então Mel ficou a governar o Reino e a cuidar do seu filho. Passado
um tempo, o Rei Mel decidiu levar o filho onde ele permaneceu e viveu durante dezassete anos e
ficaram por lá um tempo. E noutro dia foram passear pela colina abaixo e, por andarem tanto,
avistaram uma casinha. O sol começou a aquecer cada vez mais, e eles foram para os lados da casa da
Menina dos Pés Azuis e o Rei adorava voltar a vê-la. Os dois pararam os cavalos para beberem água do
poço. Lá tudo era bonito, mas o que ele achava mais belo era a menina que estava ali . Uma mulher
chamava pela menina, e ela cumprimentou-os. E o príncipe, por ver a Menina, deixou cair o balde e
molhou-se todo e ficaram ambos, o rei e o príncipe, a olhar para elas. O Jovem Príncipe recusou trocar
16. •
Mel reconheceu a mulher. Com aquelas estrelinhas nos olhos e pés azulados só podia ser a Menina dos
Pés Azuis, que se tornara numa mulher. O Rei e a mulher começaram a conversar e o rei fez-lhe algumas
perguntas. O Rei sentiu-se mal e a mulher convidou-o a ir a sua casa para beber uma limonada. Depois
de sentir-se melhor, o Rei e perguntou á mulher assuntos sobre a sua vida. Como ela usava a sua casa
para acolher os peregrinos, ele decidiu transformar o castelo numa pousada e que iria convidar a
mulher e a filha para conversarem sobe esse assunto. Ela recusou a proposta e o Rei disse para ela
reparar nos seus filhos. Os dois jovens estavam juntos a desfolhar malmequeres, sorrindo e tocando-se
nos dedos. A mulher não podia acreditar no que estava a ver. Ela disse que era impossível eles gostarem
um do outro, mas o Rei discordou dizendo que tudo era possível.
17. •
No outro dia a mulher e a menina apareceram no palácio. Aquele palácio transformou-se numa pousada
e foi o local do casamentos do Jovem Príncipe e da Jovem Menina. Os noivos e o Rei foram para a
capital. E a mulher ficou a tomar conta da pousada. Passou algum tempo e o Rei ouviu falar muito bem
da estalagem e resolveu ir lá. Foi de coche, e como estava muito apressado disse para o cocheiro ir mais
depressa e então esqueceu-se que a paciência é uma virtude e então uma roda soltou-se, mas quando o
coche caiu nada tinha acontecido, mas depois pôs-se em cima de um cavalo e o cavalo, assustado, e
depois caiu para um sitio cheio de pedras e deixou de sentir as suas pernas e teve que ir para a pousada.
Mas infelizmente não houve cura para o que lhe aconteceu e então, o Rei, decidiu ficar lá até ao fim dos
seus dias e quem iria para o torno era o Príncipe. O Rei iria lá reviver, também, o tempo em que esteve
lá. Voltou a tocar a flauta e então as pessoas voltaram a ouvir as suas melodias. Aquelas melodias
podiam chegar até ao Reino das Estrelas ou da Fantasia. Ou até para o Reino mais alto de todos…
18. Final
• Passaram muitos anos, e se alguém passar por
lá ainda poderia ver as ruínas do castelo.
19. 2ª Parte
Poema sobre o retrato físico e psicológico das
personagens
( Quadra , Cruzada )
24. •
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
Malfadado – amaldiçoar
Reflectir – Pensar
Luziam – Brilham
Pajens – Pessoas que acompanhavam o rei ou os nobres e lhes levavam as armas
quando iam para a guerra.
Saberes – conhecimentos,
Evadir – fugir
Enérgico – Que tem energia.
Recriar – criar de novo
Incentivar – dar força
Confortar – animar
Alamedas – sitio plantado de olmos ou choupos
Abrigar – acolher
Indefesos – Seres vivos que não se conseguem defender
Gravetos – Árvore e madeira do Brasil.
Cavacas – Pedaço ou lasca de lenha