ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
Projeto de leitura (12.º ano) - O Conto "Mortos à mesa" de António Tabucchi
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MATERIAL DE APOIO PARA PROJETO DE LEITURA | 12.º ano
CONTOS
Prof.ª Dina Baptista
CONTO “MORTOS À MESA”
In Livro de Contos O Tempo Envelhece Depressa – o último livro de
contos do autor António Tabucchi (editado em 2009 em italiano e
publicado, em Portugal (tradução), em 2012)
Breve nota biográfica sobre o autor (1943-2012)
Um dos maiores escritores italianos, que se apaixonou por Portugal, onde viveu a sua
vida, tendo dedicado vários estudos à obra de Fernando Pessoa. Morreu com 68 anos, em
Lisboa.
Ideias principais do Livro de Contos “O tempo envelhece Depressa”
“Algumas destas histórias, antes de ganharem corpo no meu livro, existiam na
realidade. Limitei-me a ouvi-las e a contá-las à minha maneira.”
. Coletânea composta por 9 contos, cujos textos homenageiam, segundo o autor italiano,
as "Nove Estórias", de J. D. Salinger (1919-2010) -"O livro de contos mais belo do século
20".
. Neste livro há personagens em diferentes países da Europa, que se confrontam com a
passagem do tempo. Assiste-se neste livro a uma diversidade geográfica do Magreb à
Hungria, passando por França, Bélgica, Suíça, Rússia, Alemanha e, claro, Itália. Falta
apenas Portugal, embora pontualmente surjam pequenas referências, em personagens
ou no próprio eco do pensamento de Fernando Pessoa.
. A linha temática predominante em todos os contos é a Passagem do tempo e a perceção
que as personagens têm desse mesmo tempo – as personagens confrontam-se com o
tempo que viveram, o que estão a viver e o tempo da MEMÓRIA – o tempo ora foge ora
emerge do passado como um fantasma.
. Em todos os contos, as memórias regressam do passado para atormentar as
personagens ou para lhes explicar quem são.
. Há uma predominância da melancolia, da introspeção, do diálogo interior, da
subjetividade.
. Características próprias dos contos: Textos pouco extensos; poucas personagens,
concentração do espaço, do tempo (recurso a analepses e a elipses) e da ação; estrutura
em ter partes (situação inicial-peripécias e desfecho) e predomínio das sequências
narrativas, embora intercaladas com as descritivas.
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. Sequências descritivas: o tempo e o espaço psicológicos, os monólogos interiores e os
momentos reflexivos;
. Em todos os contos há a Dimensão Política e Social (história recente da Europa – século
XX);
. Em todos os contos há uma Dimensão crítica (desigualdades sociais; capitalismo,
consumismo, indiferença das pessoas…)
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EXPLORAÇÃO DO CONTO “MORTOS À MESA”
Um conto, no qual se “assiste” a um jogo triste de espiões, em que não é possível resolver
a equação: "saber tudo sobre alguém" e "não saber nada sobre si mesmo".
o Interpretação do título do conto e relação com o título da obra
O Conto “Mortos à mesa” é um dos 9 contos da coletânea de contos intitulada “O tempo
envelhece depressa, do autor italiano, António Tabucchi.
O título “Mortos à mesa! faz parte de um verso do poeta francês Louis Aragon, que serve
de tema ao conto (“Eram tempos desatinados/Sentávamos os mortos à mesa/Fazíamos
castelos na areia/Tomávamos os Lobos por cães.”). Estes versos são uma alusão
metafórica e simbólica às “falecidas” memórias que voltam do passado como uma visão
fantasmagórica, mas simultaneamente consoladora. Nesse passado tudo parecia simples
e possível, mas agora que as memórias regressam tudo é diferente e melancolicamente
triste. E assim, perante a memória do passado, logo se compreende que o tempo
passa/envelhece depressa e que os homens envelhecem ainda mais depressa com a
passagem do tempo.
Colocar os “mortos à mesa” é ser capaz de trazer à memória o passado, numa tentativa
de perpetuar o presente.
o Breve resumo do conto
Esta é a história de um ex-agente da RDA, Karl, que teve a seu cargo vigiar o dramaturgo
Bertold Brecht e que, em deambulação por Berlim, Alemanha, confessa o seu mais íntimo
segredo: o facto de também ele e a sua vida terem sido minuciosamente
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investigados/espiados. A esta descoberta/segredo segue-se outro ainda mais doloroso: o
facto de a sua mulher, a mulher que tanto amava, o ter traído durante tanto temo.
Este ex-espião é um capitalista (“benesses de capitalista”), reformado, com dois filhos
bem posicionados na vida, que se entrega aos prazeres da vida (almoça e janta em
restaurantes caros e veste roupa igualmente cara), e que deambula pelas ruas e lugares
de Berlim, enquanto mantém um diálogo intimo consigo próprio e com o seu passado.
Num constante confronto entre o eu do presente e o eu do passado, que guarda na
memória, agora que está reformado falta-lhe um Objetivo (= um sentido, um motivo, uma
razão que oriente os seus dias). Ainda tenta seguir um professor para manter acesa a
adrenalina do tempo de espião, mas depressa abandonara tal “Objetivo” e decide ir
comer num restaurante de “primeira”. A partir daqui visita o cemitério e o túmulo de
Bertold Brecht, com quem trava um diálogo imaginário, que nem é bem com o
dramaturgo, mas mais consigo próprio, sobre quanto amava Brecht e a sua mulher.
o Tópicos para um comentário crítico (salientar características do conto/
fundamentar com excertos ilustrativos)
. A brevidade, a precisão e a concisão das categorias da narrativa (tempo, espaço,
personagens e ação), conforme é comum aos outros 9 contos do livro, fazem com que
seja possível encontrar neste texto todas as características dos contos;
. Predominância das sequências narrativas, frequentemente intercalada com a sequência
descritiva;
. A estrutura típica do conto: A vida de felicidade na companhia da esposa ( a esposa na
cadeira de rodas à janela a acenar) – a deambulação e a constatação da realidade
presente (peripécias) – o desfecho (o desvendar do segredo de também ele ter sido
espionado e de a esposa ter sido sempre infiel);
. Utilização do discurso indireto livre no diálogo intimista entre o eu presente e o eu
passado;
. As referências literárias, culturais, sociais e políticas;
. A dimensão da desigualdade social e a questão da xenofobia e da imigração (turcos,
ciganos, taxista; a criada indianazinha, a menina que vem da Bósnia …)
. A representação do quotidiano, da contemporaneidade e do coloquialismo (Pizza Hut;
Ketshup; referência às comidas, uso de termos como “putanheiro”…);
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o Intertextualidade - Relação com obras/autores do corpus literário do programa
(10º, 11º, 12º anos)- justificar com excertos do texto
Relacionar com Cesário Verde, na temática da Deambulação;
Relacionar a subjetividade e o diálogo com o passado com as pinturas do polonês
Zdzislaw Beksinski (1929–2005);
Relacionar com Fernando Pessoa “O Livro do desassossego”, na temática da
deambulação, do quotidiano;
Relacionar com o conto “George”, de Maria Júdice de Carvalho- a recordação do
passado e o confronto com a passagem do tempo.