Este documento discute a organização morfofuncional das cidades e a inter-relação entre o espaço urbano e rural. Explica como as cidades evoluíram de locais centralizados para locais policêntricos e multifuncionais, com diferentes áreas assumindo funções comerciais, industriais e residenciais. Também descreve a interdependência entre as cidades, que concentram consumidores, e o campo, que fornece produtos agrícolas e recebe investimentos.
1. RESUMO DAS AULAS DE GEOGRAFIA – 2013/2014
9ºano
AULA Nº4
Olá turma!
Nesta quarta aula vamos abordar os objetivos “Compreender a organização morfofuncional das cidades”, dando
particular atenção aos descritores desde o número 3 ao nº6, e “Compreender a inter-relação entre o espaço
urbano e o espaço rural”.
Já afirmamos anteriormente que as cidades são locais terciarizados, isto é, locais de concentração de
atividades do setor terciário, tais como, o comércio, serviços administrativos, serviços bancários, seguros,
profissões liberais, serviços culturais (cinemas, teatros, museus, etc.). É vulgar que, dentro do tecido urbano, as
unidades funcionais que prestam estes serviços se localizem em áreas específicas concentrando-se, muitas
vezes, em vias por onde é habitual passar o maior número de pessoas e, por conseguinte, o maior número de
potenciais compradores. Por exemplo, no caso do comércio, há ruas que parecem especializadas em
determinadas funções. Pensem na rua da Bandeira aqui tão perto da nossa escola: quantas padarias existem ao
longo do seu comprimento? E quantas farmácias? E quantas confeitarias? E quantas sapatarias? Terá sido
sempre assim? Parece que não.
À medida que uma cidade cresce, a sua estrutura morfofuncional vai sendo alvo de alterações. Quando se fala
em estrutura morfofuncional quer-se referir, por um lado, à forma das ruas, das habitações, aos espaços verdes
existentes e aos equipamentos coletivos presentes na cidade (morfo = forma) e, por outro lado, ao tipo de
desempenho funcional de cada uma dessas morfologias (funcional = função).
No início, a cidade firmou-se à volta do edifício que representava o exercício do poder e, naturalmente, a função
administrativa. Ainda hoje são visíveis, na parte antiga da cidade, edifícios monumentais que constituem um
valioso património arquitetónico, embora, muitas vezes, esteja degradado.
Com a função industrial de meados do século XIX a impor-se na cidade (não se esqueçam que o modelo que
estamos a seguir é o da cidade europeia que foi afetada pela industrialização), a função residencial iniciou uma
migração para os subúrbios, principalmente, a das classes média e alta. Pelo contrário, a classe de menor poder
de compra teve de permanecer no centro tradicional junto das indústrias que se foram instalando. Para alimentar
as necessidades quotidianas dos habitantes, a função comercial desenvolveu-se também. Apareceram os
estabelecimentos de diversão e cultura, as escolas, outros serviços.
Para cada uma destas atividades, numa altura em que os transportes eram pouco evoluídos e as trocas eram
escassas, era frequente haver uma concentração espacial das respetivas unidades funcionais. Prova desta
concentração profissional é a manutenção, na toponímia de muitas das cidades portuguesas, de ruas com o
nome das atividades que, no passado, aí predominavam.
Vejamos a imagem na página seguinte obtida através do Google.
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2. RESUMO DAS AULAS DE GEOGRAFIA – 2013/2014
Torre dos
Clérigos
Rua dos
Caldeireiros
Aqui, podemos apreciar um pormenor da cidade do Porto, perto do seu centro funcional tradicional
(essencialmente constituído pela Câmara do Porto, a avenida dos Aliados e as ruas envolventes) onde é visível
um testemunho da antiguidade deste espaço: a rua dos Caldeireiros.
Caldeireiros eram aqueles que faziam utensílios em cobre. Em épocas de outrora era um dos materiais usados
no fabrico de recipientes usados nas cozinhas. Hoje, persiste o nome na toponímia da rua mas não a atividade.
Com o advento dos transportes e o aumento da extensão das redes rodoviária e ferroviária, a cidade foi
crescendo em superfície (invadindo as periferias e conquistando o espaço rural mais próximo) e em altura. A
indústria foi obrigada a afastar-se do centro e, nos nós rodoviários periféricos, de grande acessibilidade, foram
surgindo, de há uns anos para cá, grandes superfícies comercias.
Não admira que, neste longo processo de crescimento urbano, se tenham verificado adaptações aos novos
contextos sociais e económicos que provocaram mutações morfofuncionais. Com a retirada de muitos dos
habitantes do centro da cidade, edifícios habitacionais foram conquistados pelas atividades comerciais,
especialmente, as de maior poder de compra capazes de adquirir um espaço no centro onde, por força da
localização e da escassez de espaço, o preço do solo atinge valores muito altos.
Vocacionados para as vendas ao pequeno consumidor, muitas das vezes constata-se um grande contraste entre
o rés-do-chão, com montras vistosas para atrair o comprador, e os andares superiores que se mantêm
degradados. Nestes, podemos encontrar ateliês de vestuário, consultórios e habitações onde moram pessoas
idosas, incapazes de se deslocarem (doentes e sem elevadores, ficam anos e anos retidas nas suas velhas
habitações onde sempre moraram e cuja renda é de baixo preço). Nestes casos, diz-se que há uma ocupação
vertical do espaço heterogénea. A nível do rés-do-chão, pelo contrário, a ocupação é idêntica e, diz-se,
homogénea.
Neste movimento de encontrar a situação geográfica mais privilegiada, é frequente ver-se desaparecerem
unidades funcionais que, no passado na sua atividade atingiram grande prestígio, serem substituídas por outras
que, pela sua capacidade financeira, compram espaços caríssimos mas que lhes dão a garantia de se
localizarem nos locais de passagem de maior acessibilidade. Isto sucede, por exemplo, com Bancos, Companhia
de Seguros ou comércio altamente especializado vocacionado para uma população de elevadíssimo poder
aquisitivo.
Com a expansão da cidade, também, acabam por surgir centros secundários que, por estarem juntos de vias de
maior acessibilidade, acabam por fazer concorrência ao centro tradicional disputando-lhe área de influência.
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3. RESUMO DAS AULAS DE GEOGRAFIA – 2013/2014
Para quem conhece algo da cidade do Porto, bastará pensar na capacidade atrativa de áreas como a da
Boavista.
Com a construção da ponte da Arrábida (1963) e a abertura de novas vias de comunicação, mais amplas e
largas, as áreas próximas foram alvo de um surto de construção de novas habitações, novos estabelecimentos
comerciais (o primeiro centro comercial, o Brasília, surgiu na Rotunda da Boavista), novos edifícios escolares de
ensino superior, novos hotéis e outras unidades funcionais.
Para diversos autores, a cidade atual é POLICÊNTRICA e MULTIFUNCIONAL dado o aparecimento e afirmação
de centros secundários.
Se o aspeto formal de uma cidade reflete as etapas do seu crescimento no espaço, o aspeto funcional (residência, trabalho e
lazer - que explicam os movimentos e crescimento da população, a diferente utilização do solo urbano e a sua
acessibilidade), permite compreender o seu funcionamento e aprofundar as razões do seu crescimento.
Nesta cidade policêntrica e multifuncional as centralidades são aquelas áreas que melhor traduzem o próprio valor da cidade,
onde se concentram funções denominadas de centrais espelhando a dinâmica da aglomeração urbana e da área envolvente.
Assim, a cidade deve ser olhada como um território onde coexistem vários centros, um dos quais a área central tradicional.
Desta forma, a perda de importância desta área não deve ser mais encarada como um facto irreversível e negativo, mas sim
como consequência de um processo mais ou menos longo da sua adaptação à nova organização urbana que se encontra em
contínua transformação.
Paula Raquel Ferreira, XII Colóquio Ibérico de Geografia.
No Porto … o centro comercial mantém-se até ao século XIX no coração do casco histórico … As praças abertas do lado de
fora das portas da muralha … são focos importantes de comércio … e a Baixa vai formar-se entre as Praças Carlos Alberto e
Batalha, detendo já 50% das unidades funcionais da cidade em 1882. Entre 1910 e 1938 os serviços financeiros abandonam
o centro histórico a favor da Praça-Avenida dos Aliados. O apogeu da Baixa é situado … à volta de 1938 e, depois,
progressivamente … a expansão das atividades é dificultada “pelos entraves colocados à substituição do construído e pela
quase inexistência de espaços livres (isto pode-se observar na imagem acima)… Assiste-se primeiro a um processo de seleção
que fixa algumas atividades e expulsa outras, depois ao declínio do centro e posteriormente a 1970, ao desenvolvimento de
um novo centro terciário na Boavista (a Oeste).
Em 1991 a Baixa portuense concentrava 26,8% dos estabelecimentos comerciais e a Boavista 14,3%.
Para a emergência dos novos polos terciários contribuem as novas condições de acessibilidade.
Adaptado de “O comércio e a cidade: Lisboa e Porto” de Teresa Barata Salgueiro
A expansão urbana, já o vimos, implica consumo de espaço, tanto mais quanto as redes de transportes se
afirmam como meio de ligar os diferentes lugares e tornar mais curtas, em tempo, as distâncias reais que é
preciso percorrer, seja nas migrações pendulares casa-trabalho-casa, seja na deslocação de produtos. Entre
estes, os produtos agrícolas ocupam um lugar de relevo no abastecimento das cidades. Nestas, concentram-se
os consumidores que dependem dos poucos produtores que permanecem nos campos. Estes, para produzirem
e venderem precisam de quem tem poder de compra para adquirir os produtos, das fábricas que fornecem as
máquinas, das que produzem adubos, das universidades que fazem investigação agrária, etc.
Muitos mais exemplos poderíamos acrescentar para comprovar que existe e continua a reforçar-se uma
verdadeira interdependência entre a cidade e o campo, entre o espaço urbano e o espaço rural.
E, se ao campo se atribui o papel de fornecedor de alimentos naturais, não se pode esconder a importância que
é dada ao mundo rural como palco de preservação de um património comum a rurais e a urbanos. É por
reconhecer a importância vital do espaço rural que a União Europeia mantém e reforça a PDR – Política de
Desenvolvimento Rural, extensiva aos seus 28 Estados-Membros.
(…) as zonas rurais da Europa têm muito para nos oferecer: desde matérias-primas essenciais a espaços de indiscutível
beleza, onde podemos descansar, recuperar energias e entregar-nos a múltiplas atividades de lazer. São os nossos pulmões
e, por essa razão, uma das frentes de batalha da luta contra as alterações climáticas. Há muita gente que se sente atraída
pela ideia de viver e trabalhar no espaço rural, desde que tenha acesso a serviços e a infraestruturas adequadas.
http://ec.europa.eu/agriculture/rurdev/index_pt.htm
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4. RESUMO DAS AULAS DE GEOGRAFIA – 2013/2014
No esquema seguinte procura-se traduzir as principais razões da interdependência entre o mundo urbano e o
mundo rural.
Produtos agrícolas
Investimento
Investimentos
Tecnologia
Produtos industriais
Serviços
População
(Êxodo rural)
A importância do setor agrícola constata-se, ainda, em Portugal, pelo número de jovens que, no atual contexto
difícil da economia nacional se tem candidatado a criar emprego no campo.
Os jovens estão mesmo a regressar ao campo (…). Só este ano (…) instalaram-se 2 mil jovens na agricultura. O que dá uma
média de 200 por mês. "Muitos têm formação superior, vêm de outras áreas para criar o seu próprio emprego, são
empreendedores" … As boas notícias sucedem-se: "Nos últimos dois anos, a agricultura criou mais de 20 mil novos postos
de trabalho e os projetos já entrados no Ministério da Agricultura para serem financiados pelo PRODEP preveem a criação de
mais 30 mil empregos."
Ler mais: http://visao.sapo.pt/regresso-ao-campo=f693888#ixzz2k0KpVm68
Prof. Idalina Leite
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