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“A SALVAÇÃO DE WANG-FÔ” Categorias da Narrativa Prof. Sílvia Rebocho
ESPAÇO A história desenrola-se nas belas paisagens da   China (reino de Han). São referidos alguns espaços mais precisos, tais como a estalagem situada nos arredores da cidade imperial e o palácio do Imperador.
TEMPO Não há indicações muito precisas. Sabemos que a acção se passa há muito tempo atrás (durante a dinastia dos Han - durou de 206 a.C. até 220 d.C.).  Wang-Fô foi preso numa madrugada fria, no início da Primavera. Temos também conhecimento que, durante dez anos, o Imperador admirou as pinturas de Wang-Fô.
ACÇÃO (QUANTO À Organização das sequências narrativas) A história do pintor Wang-Fô tem encadeamento, uma vez que as  acções  surgem  ordenadas  por  ordem cronológica.  Isto quer dizer que uma acção dá origem a outra e assim sucessivamente.
Acção(QUANTO À Organização das sequências narrativas) Existe a história encaixada da infância e da adolescência do Imperador, contada por ele próprio. O Filho do Céu relembra os dez anos de solidão em que teve apenas por companhia as pinturas de Wang-Fô.
Acção (quanto à delimitação) A acção pode ser considerada fechada, se tivermos em conta que Wang-Fô se “salvou“, na sua imaginação, ao fugir com Ling, no quadro que acabara de pintar. A acção pode ser considerada aberta, se pensarmos que não sabemos, de facto, o que aconteceu a Wang-Fô, depois de acabar de pintar o quadro. Terá morrido? Foi efectivamente castigado pelo Imperador?
CARACTERIZAÇÃO DA PERSONAGEM PRINCIPAL FÍSICA: Wang-Fô era velho e tinha barba. PSICOLÓGICA: Wang-Fô era sensível, bom, observador, ingénuo, amigo, sonhador,                                                                              generoso e nada materialista. SOCIAL:  Wang-Fô era pintor e pobre.
PROCESSOS DE CARACTERIZAÇÃO PARA WANG-FÔ Caracterização directa, por autocaracterização: Wang-Fô caracteriza-se a ele próprio, quando diz     “-Dragão Celeste (…), sou velho, sou pobre, sou fraco.” (pág. 191) Caracterização directa, por heterocaracterização: Wang-Fô é caracterizado, directamente, pelo narrador  e pelo Imperador – “O velho pintorWang-Fô e o seu discípulo Ling (…)” e “-Mentiste-me (...) velhoimpostor.”
PROCESSOS DE CARACTERIZAÇÃO PARA WANG-FÔ Caracterização indirecta: através das atitudes da personagem principal, nós, os leitores, deduzimos muitas características psicológicas do pintor. Quando se diz que ele preferia trocar as suas pinturas por comida, deduzimos que não é materialista ou ganancioso.
NARRADOR(quanto à presença) O narrador é não participante, pois limita-se a contar a história, sem intervir nela enquanto personagem. Como tal, utiliza a 3.ª pessoa ao longo da narrativa. Ex.:“Avançavam devagar, pois Wang-Fô parava de noite (…)“
NARRADOR(quanto ao ponto de vista) O narrador, por vezes, é subjectivo, já que à medida que vai narrando a história vai demonstrando a sua opinião sobre determinados aspectos. 	Ex.: “A  sua  voz  era  tão             melodiosa que dava             vontade de chorar.”             (pág.191)
NARRADOR(quanto à ciência) O narrador é omnisciente, porque sabe tudo sobre a história e sobre as personagens.  	Ex.: “(…) Wang-Fô amava        a imagem das coisas e        não as próprias coisas        (…)” (pág.189)
MODOS DE REPRESENTAÇÃO DO DISCURSO NARRAÇÃO(momento de avanço na história) 	Ex.: “O velho embrulhou-se nuns trapos e Ling deitou-se colado a ele para o aquecer (…)“    (pág. 190)
MODOS DE REPRESENTAÇÃO DO DISCURSO DESCRIÇÃO (momento de pausa na história) 	Ex.: “Era uma sala desprovida de paredes, sustentada por sólidas colunas de pedra azul. Para além dos fustes de mármore desabrochava um jardim, e cada flor contida no arvoredo pertencia a alguma espécie rara trazida de além-mar.“
MODOS DE REPRESENTAÇÃO DO DISCURSO DIÁLOGO (confere maior vivacidade, interesse e dinamismo à história) 	Ex.: “-   Julgava-te morto. - Vivendo vós (…) como poderia eu morrer?“  (pág.194)
MODOS DE REPRESENTAÇÃO DO DISCURSO MONÓLOGO  (a personagem fala e ninguém lhe responde) Ex.: “–E também te odeio, velho Wang-Fô, por soubeste fazer-te amar. Matem esse cão.“  (pág. 192)

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Wang fô categorias narrativa

  • 1. “A SALVAÇÃO DE WANG-FÔ” Categorias da Narrativa Prof. Sílvia Rebocho
  • 2. ESPAÇO A história desenrola-se nas belas paisagens da China (reino de Han). São referidos alguns espaços mais precisos, tais como a estalagem situada nos arredores da cidade imperial e o palácio do Imperador.
  • 3. TEMPO Não há indicações muito precisas. Sabemos que a acção se passa há muito tempo atrás (durante a dinastia dos Han - durou de 206 a.C. até 220 d.C.). Wang-Fô foi preso numa madrugada fria, no início da Primavera. Temos também conhecimento que, durante dez anos, o Imperador admirou as pinturas de Wang-Fô.
  • 4. ACÇÃO (QUANTO À Organização das sequências narrativas) A história do pintor Wang-Fô tem encadeamento, uma vez que as acções surgem ordenadas por ordem cronológica. Isto quer dizer que uma acção dá origem a outra e assim sucessivamente.
  • 5. Acção(QUANTO À Organização das sequências narrativas) Existe a história encaixada da infância e da adolescência do Imperador, contada por ele próprio. O Filho do Céu relembra os dez anos de solidão em que teve apenas por companhia as pinturas de Wang-Fô.
  • 6. Acção (quanto à delimitação) A acção pode ser considerada fechada, se tivermos em conta que Wang-Fô se “salvou“, na sua imaginação, ao fugir com Ling, no quadro que acabara de pintar. A acção pode ser considerada aberta, se pensarmos que não sabemos, de facto, o que aconteceu a Wang-Fô, depois de acabar de pintar o quadro. Terá morrido? Foi efectivamente castigado pelo Imperador?
  • 7. CARACTERIZAÇÃO DA PERSONAGEM PRINCIPAL FÍSICA: Wang-Fô era velho e tinha barba. PSICOLÓGICA: Wang-Fô era sensível, bom, observador, ingénuo, amigo, sonhador, generoso e nada materialista. SOCIAL: Wang-Fô era pintor e pobre.
  • 8. PROCESSOS DE CARACTERIZAÇÃO PARA WANG-FÔ Caracterização directa, por autocaracterização: Wang-Fô caracteriza-se a ele próprio, quando diz “-Dragão Celeste (…), sou velho, sou pobre, sou fraco.” (pág. 191) Caracterização directa, por heterocaracterização: Wang-Fô é caracterizado, directamente, pelo narrador e pelo Imperador – “O velho pintorWang-Fô e o seu discípulo Ling (…)” e “-Mentiste-me (...) velhoimpostor.”
  • 9. PROCESSOS DE CARACTERIZAÇÃO PARA WANG-FÔ Caracterização indirecta: através das atitudes da personagem principal, nós, os leitores, deduzimos muitas características psicológicas do pintor. Quando se diz que ele preferia trocar as suas pinturas por comida, deduzimos que não é materialista ou ganancioso.
  • 10. NARRADOR(quanto à presença) O narrador é não participante, pois limita-se a contar a história, sem intervir nela enquanto personagem. Como tal, utiliza a 3.ª pessoa ao longo da narrativa. Ex.:“Avançavam devagar, pois Wang-Fô parava de noite (…)“
  • 11. NARRADOR(quanto ao ponto de vista) O narrador, por vezes, é subjectivo, já que à medida que vai narrando a história vai demonstrando a sua opinião sobre determinados aspectos. Ex.: “A sua voz era tão melodiosa que dava vontade de chorar.” (pág.191)
  • 12. NARRADOR(quanto à ciência) O narrador é omnisciente, porque sabe tudo sobre a história e sobre as personagens. Ex.: “(…) Wang-Fô amava a imagem das coisas e não as próprias coisas (…)” (pág.189)
  • 13. MODOS DE REPRESENTAÇÃO DO DISCURSO NARRAÇÃO(momento de avanço na história) Ex.: “O velho embrulhou-se nuns trapos e Ling deitou-se colado a ele para o aquecer (…)“ (pág. 190)
  • 14. MODOS DE REPRESENTAÇÃO DO DISCURSO DESCRIÇÃO (momento de pausa na história) Ex.: “Era uma sala desprovida de paredes, sustentada por sólidas colunas de pedra azul. Para além dos fustes de mármore desabrochava um jardim, e cada flor contida no arvoredo pertencia a alguma espécie rara trazida de além-mar.“
  • 15. MODOS DE REPRESENTAÇÃO DO DISCURSO DIÁLOGO (confere maior vivacidade, interesse e dinamismo à história) Ex.: “- Julgava-te morto. - Vivendo vós (…) como poderia eu morrer?“ (pág.194)
  • 16. MODOS DE REPRESENTAÇÃO DO DISCURSO MONÓLOGO (a personagem fala e ninguém lhe responde) Ex.: “–E também te odeio, velho Wang-Fô, por soubeste fazer-te amar. Matem esse cão.“ (pág. 192)