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Ciclo da Borracha
O Ciclo da borracha constituiu uma parte importante da história
econômica e social do Brasil, estando relacionado com a extração e
comercialização da borracha. Este ciclo teve o seu centro na região
amazônica,proporcionando grande expansão da colonização, atraindo riqueza
e causando transformações culturais e sociais, além de dar grande impulso às
cidades de Manaus, Porto Velho e Belém, até hoje maiores centros e capitais
de seus Estados, Amazonas, Rondônia e Pará, respectivamente. No mesmo
período foi criado o Território Federal do Acre, atual Estado do Acre, cuja área
foi adquirida da Bolívia por meio de uma compra por 2 milhões de libras
esterlinas em 1903. O ciclo da borracha viveu seu auge entre 1879 a 1912,
tendo depois experimentado uma sobrevida entre 1942 e 1945 durante a II
Guerra Mundial (1939-1945).
2
A primeira fábrica de borracha
A primeira fábrica de produtos de borracha (ligas elásticas e
suspensórios) surgiu na França, em Paris, no ano de 1803. Contudo, o material
ainda apresentava algumas desvantagens: à temperatura ambiente, a goma
mostrava-se pegajosa. Com o aumento da temperatura, a goma ficava ainda
mais mole e pegajosa, ao passo que a diminuição da temperatura era
acompanhada do endurecimento e rigidez da borracha.
Foram os índios centro-americanos os primeiros a descobrir e fazer uso das
propriedades singulares da borracha natural. Entretanto, foi na floresta
amazônica que de fato se desenvolveu a atividade da extração da borracha, a
partir da seringa ou seringueira (Hevea brasiliensis), uma árvore que pertence
à família das Euphorbiaceae, também conhecida como árvore da fortuna.
Extração de látex de uma seringueira.
Do caule da seringueira é extraído um líquido branco, chamado látex, em
cuja composição ocorre, em média, 35% de hidrocarbonetos, destacando-se o
2-metil-1,3-butadieno (C5H8), comercialmente conhecido como isopreno, o
monômero da borracha.
O látex é uma substância praticamente neutra, com pH 7,0 a 7,2. Mas,
quando exposta ao ar por um período de 12 a 24 horas, o pH cai para 5,0 e
sofre coagulação espontânea, formando o polímero que é a borracha,
representada por (C5H8)n, onde n é da ordem de 10.000 e apresenta massa
molecular média de 600 000 a 950 000 g/mol.
A borracha, assim obtida, possui desvantagens. Por exemplo, a
exposição ao ar provoca a mistura com outros materiais (detritos diversos), o
que a torna perecível e putrefável, bem como pegajosa devido à influência da
temperatura.
3
O primeiro Ciclo da borracha
Durante os primeiros quatro séculos e meio do descobrimento, como
não foram encontradas riquezas de ouro ou minerais preciosos na Amazônia,
as populações da hiléia brasileira viviam praticamente em isolamento, porque
nem a coroa portuguesa e, posteriormente, nem o império brasileiro
conseguiram concretizar ações governamentais que incentivassem o progresso
na região. Vivendo do extrativismo vegetal, a economia regional se
desenvolveu por ciclos (Drogas do Sertão), acompanhando o interesse do
mercado nos diversos recursos naturais da região. Para extração da borracha
neste período, acontece uma migração de nordestinos, principalmente do
Ceará, pois o estado sofria as consequências das secas do final do século XIX.
4
A batalha da borracha
Com o alistamento de nordestinos, Getúlio Vargas minimizou o problema
da seca do nordeste e ao mesmo tempo deu novo ânimo na colonização da
Amazônia.
Na ânsia de encontrar um caminho que resolvesse esse impasse e,
mesmo, para suprir as Forças Aliadas da borracha então necessária para o
material bélico, o governo brasileiro fez um acordo com o governo dos Estados
Unidos (Acordos de Washington), que desencadeou uma operação em larga
escala de extração de látex na Amazônia - operação que ficou conhecida como
a Batalha da Borracha.
Como os seringais estavam abandonados e não mais de 35 mil
trabalhadores permaneciam na região, o grande desafio de Getúlio Vargas,
então presidente do Brasil, era aumentar a produção anual de látex de 18 mil
para 45 mil toneladas, como previa o acordo. Para isso seria necessária a força
braçal de 100 mil homens.
O alistamento compulsório em 1943 era feito pelo Serviço Especial de
Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia (SEMTA), com sede no
nordeste, em Fortaleza, criado pelo então Estado Novo. A escolha do nordeste
como sede deveu-se essencialmente como resposta a uma seca devastadora
na região e à crise sem precedentes que os camponeses da região
enfrentavam.
Além do SEMTA, foram criados pelo governo nesta época, visando a dar
suporte à Batalha da borracha, a Superintendência para o Abastecimento do
Vale da Amazônia (Sava), o Serviço Especial de Saúde Pública (Sesp) e o
Serviço de Navegação da Amazônia e de Administração do Porto do Pará
(Snapp). Criou-se ainda a instituição chamada Banco de Crédito da Borracha,
que seria transformada, em 1950, no Banco de Crédito da Amazônia.
O órgão internacional Rubber Development Corporation (RDC), financiado
com capital dos industriais estadunidenses, custeava as despesas do
deslocamento dos migrantes (conhecidos à época como brabos). O governo
dos Estados Unidos pagava ao governo brasileiro cem dólares por cada
trabalhador entregue na Amazônia.
O governo dos Estados Unidos pagava ao governo brasileiro cem dólares
por cada trabalhador entregue na Amazônia
Milhares de trabalhadores de várias regiões do Brasil foram
compulsoriamente levados à escravidão por dívida e à morte por doenças para
as quais não possuíam imunidade. Só do nordeste foram para a Amazônia 54
mil trabalhadores, sendo 30 mil deles apenas do Ceará. Esses novos
seringueiros receberam a alcunha de Soldados da Borracha, numa alusão clara
de que o papel do seringueiro em suprir as fábricas nos EUA com borracha era
tão importante quanto o de combater o regime nazista com armas.

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  • 1. 1 Ciclo da Borracha O Ciclo da borracha constituiu uma parte importante da história econômica e social do Brasil, estando relacionado com a extração e comercialização da borracha. Este ciclo teve o seu centro na região amazônica,proporcionando grande expansão da colonização, atraindo riqueza e causando transformações culturais e sociais, além de dar grande impulso às cidades de Manaus, Porto Velho e Belém, até hoje maiores centros e capitais de seus Estados, Amazonas, Rondônia e Pará, respectivamente. No mesmo período foi criado o Território Federal do Acre, atual Estado do Acre, cuja área foi adquirida da Bolívia por meio de uma compra por 2 milhões de libras esterlinas em 1903. O ciclo da borracha viveu seu auge entre 1879 a 1912, tendo depois experimentado uma sobrevida entre 1942 e 1945 durante a II Guerra Mundial (1939-1945).
  • 2. 2 A primeira fábrica de borracha A primeira fábrica de produtos de borracha (ligas elásticas e suspensórios) surgiu na França, em Paris, no ano de 1803. Contudo, o material ainda apresentava algumas desvantagens: à temperatura ambiente, a goma mostrava-se pegajosa. Com o aumento da temperatura, a goma ficava ainda mais mole e pegajosa, ao passo que a diminuição da temperatura era acompanhada do endurecimento e rigidez da borracha. Foram os índios centro-americanos os primeiros a descobrir e fazer uso das propriedades singulares da borracha natural. Entretanto, foi na floresta amazônica que de fato se desenvolveu a atividade da extração da borracha, a partir da seringa ou seringueira (Hevea brasiliensis), uma árvore que pertence à família das Euphorbiaceae, também conhecida como árvore da fortuna. Extração de látex de uma seringueira. Do caule da seringueira é extraído um líquido branco, chamado látex, em cuja composição ocorre, em média, 35% de hidrocarbonetos, destacando-se o 2-metil-1,3-butadieno (C5H8), comercialmente conhecido como isopreno, o monômero da borracha. O látex é uma substância praticamente neutra, com pH 7,0 a 7,2. Mas, quando exposta ao ar por um período de 12 a 24 horas, o pH cai para 5,0 e sofre coagulação espontânea, formando o polímero que é a borracha, representada por (C5H8)n, onde n é da ordem de 10.000 e apresenta massa molecular média de 600 000 a 950 000 g/mol. A borracha, assim obtida, possui desvantagens. Por exemplo, a exposição ao ar provoca a mistura com outros materiais (detritos diversos), o que a torna perecível e putrefável, bem como pegajosa devido à influência da temperatura.
  • 3. 3 O primeiro Ciclo da borracha Durante os primeiros quatro séculos e meio do descobrimento, como não foram encontradas riquezas de ouro ou minerais preciosos na Amazônia, as populações da hiléia brasileira viviam praticamente em isolamento, porque nem a coroa portuguesa e, posteriormente, nem o império brasileiro conseguiram concretizar ações governamentais que incentivassem o progresso na região. Vivendo do extrativismo vegetal, a economia regional se desenvolveu por ciclos (Drogas do Sertão), acompanhando o interesse do mercado nos diversos recursos naturais da região. Para extração da borracha neste período, acontece uma migração de nordestinos, principalmente do Ceará, pois o estado sofria as consequências das secas do final do século XIX.
  • 4. 4 A batalha da borracha Com o alistamento de nordestinos, Getúlio Vargas minimizou o problema da seca do nordeste e ao mesmo tempo deu novo ânimo na colonização da Amazônia. Na ânsia de encontrar um caminho que resolvesse esse impasse e, mesmo, para suprir as Forças Aliadas da borracha então necessária para o material bélico, o governo brasileiro fez um acordo com o governo dos Estados Unidos (Acordos de Washington), que desencadeou uma operação em larga escala de extração de látex na Amazônia - operação que ficou conhecida como a Batalha da Borracha. Como os seringais estavam abandonados e não mais de 35 mil trabalhadores permaneciam na região, o grande desafio de Getúlio Vargas, então presidente do Brasil, era aumentar a produção anual de látex de 18 mil para 45 mil toneladas, como previa o acordo. Para isso seria necessária a força braçal de 100 mil homens. O alistamento compulsório em 1943 era feito pelo Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia (SEMTA), com sede no nordeste, em Fortaleza, criado pelo então Estado Novo. A escolha do nordeste como sede deveu-se essencialmente como resposta a uma seca devastadora na região e à crise sem precedentes que os camponeses da região enfrentavam. Além do SEMTA, foram criados pelo governo nesta época, visando a dar suporte à Batalha da borracha, a Superintendência para o Abastecimento do Vale da Amazônia (Sava), o Serviço Especial de Saúde Pública (Sesp) e o Serviço de Navegação da Amazônia e de Administração do Porto do Pará (Snapp). Criou-se ainda a instituição chamada Banco de Crédito da Borracha, que seria transformada, em 1950, no Banco de Crédito da Amazônia. O órgão internacional Rubber Development Corporation (RDC), financiado com capital dos industriais estadunidenses, custeava as despesas do deslocamento dos migrantes (conhecidos à época como brabos). O governo dos Estados Unidos pagava ao governo brasileiro cem dólares por cada trabalhador entregue na Amazônia. O governo dos Estados Unidos pagava ao governo brasileiro cem dólares por cada trabalhador entregue na Amazônia Milhares de trabalhadores de várias regiões do Brasil foram compulsoriamente levados à escravidão por dívida e à morte por doenças para as quais não possuíam imunidade. Só do nordeste foram para a Amazônia 54 mil trabalhadores, sendo 30 mil deles apenas do Ceará. Esses novos seringueiros receberam a alcunha de Soldados da Borracha, numa alusão clara de que o papel do seringueiro em suprir as fábricas nos EUA com borracha era tão importante quanto o de combater o regime nazista com armas.