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Histórias e curiosidades
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© Alexandre Nagado, Michel Matsuda e Rodrigo de Goes
Todos os direitos reservados.
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CULTURA POP
JAPONESA
Histórias e curiosidades
Alexandre Nagado
(organizador)
Michel Matsuda
Rodrigo de Goes
1ª edição: março de 2011
- 3. CULTURA POP JAPONESA
Histórias e curiosidades
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ÍNDICE
Introdução - Pág. 04
Prefácio (Marcelo Cassaro) - Pág. 06
Cap. 1: Mangá – Os quadrinhos mais
populares do mundo – Pág. 10
Cap. 2: Animê – Mangá em
movimento – Pág. 50
Cap. 3: Tokusatsu – O reino dos
monstros de borracha – Pág. 121
Cap. 4: Variedades - Música, moda,
games, coisas legais e seres bizarros
– Pág. 177
Epílogo: O grande terremoto – Pág.
197
Bibliografia – Pág. 199
Os autores – Pág. 201
Projeto, organização e edição: Alexandre Nagado
Texto e pesquisa: Alexandre Nagado, Michel
Matsuda e Rodrigo de Goes
Todas as imagens contidas neste livro foram
utilizadas para fins de divulgação.
- Agradecimentos a
Marcelo Duarte
(Panda Books).
- Esta obra é
dedicada ao valente
povo japonês.
- 4. CULTURA POP JAPONESA
Histórias e curiosidades
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INTRODUÇÃO
O universo do entretenimento produzido no
Japão tem criado séries e personagens que vêm
conquistando admiradores no mundo há
décadas. Indo além de grupos de aficionados, a
chamada cultura pop japonesa se infiltrou na
mídia, extrapolou as fronteiras da colônia
japonesa e criou modas, manias e influenciou
muita gente. Mangá, animê, tokusatsu, games,
músicas, moda... O Japão virou pop. No Brasil, a
popularidade de tais produções gerou fãs
apaixonados, ávidos por informações vindas do
outro lado do mundo.
Este livro é para os fãs que adoram conhecer
saborosos detalhes de produção que ajudam a
entender melhor as coisas que tanto gosta. E
também para aqueles apreciadores eventuais e
nostálgicos que guardam perguntas em seu
íntimo sobre assuntos que pouca gente domina.
Indo além, este livro também apresenta a
origem de vários termos recorrentes,
curiosidades comportamentais e explicações
conceituais que farão o leitor mergulhar num
universo que abrange muito mais do que
quadrinhos, músicas, desenhos animados,
games e gente fantasiada.
Agrupados em tópicos de fácil leitura até para
um não-iniciado (a razão de ser desta obra),
este trabalho não tem a pretensão de apresentar
um tratado sobre cultura pop japonesa e nem de
ser uma referência ou guia completo sobre o
assunto.
- 5. CULTURA POP JAPONESA
Histórias e curiosidades
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O que esperamos é que este livro possa se
transformar em tema para muitas e animadas
conversas. Aquele detalhe que ninguém tinha
percebido, aquele boato que correu pela
internet, aquele autor cujo trabalho todo mundo
comenta mas que você nunca prestou atenção...
E também despertar a atenção em assuntos que
poderão ser melhor explorados em outras fontes.
Os tópicos estão organizados ora por cronologia,
ora por similaridade. Em outros casos, a opção
foi falar primeiro do que é mais conhecido pelo
público brasileiro não-iniciado, para depois,
didaticamente, retroceder e explicar de onde
vieram as ideias. Mas também tem muita coisa
aleatória, curiosidades soltas que afloravam na
memória e que precisavam ser registradas para
não serem esquecidas.
Por isso, não se acanhe em começar a ler de
qualquer ponto. Vai funcionar do mesmo jeito.
Sinceramente, aposto que você vai acabar lendo
esta obra muitas vezes sem perceber, cada vez
prestando mais atenção em algum tema ou
detalhe, estabelecendo suas próprias conexões
entre os assuntos. E vai descobrir que este livro
também conta um pouco de mitologia, história,
religião, costumes, esportes, comportamento e
cultura geral. Assuntos que farão você aprender
muito sobre o Japão e perceber que a cultura
pop japonesa é tão rica quanto divertida.
Boa leitura!
- Alexandre Nagado
Ilha Solteira (SP), 09 de março de 2011.
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PREFÁCIO
Escrevi Holy Avenger por amar animê e mangá.
Como eu, muitos brasileiros também amam
animê e mangá.
Era o final da década de 1990. O novo fenômeno
nas bancas eram os mangás oficiais de
Cavaleiros do Zodíaco e Dragon Ball Z,
alcançando vendas muito acima de quaisquer
outros quadrinhos no Brasil. Muitos diziam ser
―moda passageira‖; hoje, dúzias de outros
mangás enchem as bancas.
Houve muito oportunismo na época. Autores e
editoras nacionais tentando copiar o estilo.
Quase nenhum desses títulos durou muito — os
fãs sabiam reconhecer a diferença entre uma HQ
oportunista, e o trabalho de alguém com amor
verdadeiro por mangá.
Na mesma época, depois de algumas minisséries
bem-sucedidas na antiga Editora Trama, recebi
sinal verde para uma série longa. Holy Avenger
tinha traço de Erica Awano, em estilo
indiscutivelmente japonês (muito embora minha
narrativa não fosse assim tão próxima dos
mangás originais). A conselho dela, nunca usei o
termo ―mangá‖ para tratar da Holy. Você pode
procurar: nenhum texto, nenhum anúncio,
nenhuma propaganda jamais disse que Holy
Avenger era um mangá.
Por quê? Se os mangás eram sucesso comercial,
porque não associar Holy Avenger a eles?
Decidimos assim porque sempre houve polêmica
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sobre o que deveria ser considerado um ―mangá
verdadeiro‖. Mangá é a palavra japonesa para
história em quadrinhos — então, a rigor, toda
HQ é um mangá? Ou talvez sejam apenas
histórias dentro de certo estilo, com olhos
grandes e speedylines (linhas de velocidade)? Ou
ainda, somente histórias feitas no Japão, por e
para japoneses?
Por tudo isso, nunca chamamos Holy Avenger de
mangá. O mesmo respeito e cautela podem ser
vistos hoje na Turma da Mônica Jovem, não um
mangá, mas uma revista em ―estilo mangá‖.
Mais tarde, em 2007, o Ministério dos Assuntos
Estrangeiros do Japão criou o Concurso
Internacional de Mangás, para premiar trabalhos
nesse estilo feitos em outros países. Das
centenas de trabalhos inscritos, Holy Avenger foi
o único finalista brasileiro. Eu e Erica Awano
recebemos, em mãos, certificados do então
Ministro Taro Aso (mais tarde ele se tornaria
Primeiro Ministro do Japão). E ali diz que Holy
Avenger é um mangá.
Se o Governo Japonês diz que é, quem sou eu
para discordar?
Qualquer fã pode apontar dúzias de diferenças
entre quadrinhos Orientais e Ocidentais. Eu,
quando estou explicando para um leigo, em
geral escolho a seguinte: na maioria dos
quadrinhos de super-heróis, o protagonista
recebe seus poderes de graça — já nascem com
ele, ou chegam por acidente. Superman tem
poderes por ser extraterrestre. O Homem-
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Aranha foi picado por uma aranha radioativa.
Batman, milionário. X-Men, mutantes. Hulk,
bomba gama. Nos comics, grande poder não
vem com grande responsabilidade; ele vem com
grande facilidade.
Nos mangás e animês, quase nunca vemos isso
acontecer — o povo japonês não acredita em
conquista sem esforço, sem sacrifício. Street
Fighters levam anos dominando seus estilos de
luta e golpes especiais, como qualquer artista
marcial. Cavaleiros do Zodíaco vivem o inferno
em lugares terríveis antes de manifestar seu
Cosmo. Ninjas das Vilas Ocultas estudam na
escola e obedecem mestres. Mesmo para o
eventual sayajin, nascido em outro planeta, o
poder só vem com muito treinamento duro em
gravidade pesada.
Enfim, mangás e animês são focados em seu
público — o povo japonês. Gente disciplinada
que valoriza o esforço, a determinação, a força
de vontade. Levantar-se após cair. Ser arrasado
por bombas atômicas, reconstruir a nação e
tornar-se a segunda maior potência econômica
mundial. Mas também gente tímida e
introspectiva, com dificuldade para relacionar-se.
Gente conformada com a vida rigorosa de
trabalho e estudo. Gente que não chora ou
reclama; procura conforto no mangá e animê.
Gente muito diferente de nós. Assim, é
espantoso que suas histórias sejam tão amadas
aqui nos trópicos.
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Conheci Alexandre Nagado no final dos anos 80,
quando escrevíamos HQs licenciadas de Jaspion
e Changeman para a Editora Abril. Mais tarde,
quando me afastei da revista Street Fighter, eu o
recomendei para assumir meu lugar como
roteirista. E anos depois, quando a Editora
Trama lançava novos títulos nacionais, um deles
seria em estilo mangá; Nagado foi minha
primeira escolha, com seu Blue Fighter.
Nagado é, hoje, um dos maiores estudiosos de
cultura pop japonesa no Brasil. E seu convite
para escrever este prefácio foi um privilégio —
porque as pessoas envolvidas neste livro amam
animê, mangá e tokusatsu. Sobre isso não existe
dúvida.
Esses artistas agora trazem curiosidades e
bastidores dessas obras japonesas que tanto
apreciamos. Ajudam a desvendar coisas, a
princípio, misteriosas. Nomes engraçados.
Enredos estranhos. Personagens esquisitos.
Histórias que nunca entendemos totalmente,
mas mesmo assim amamos.
Graças ao esforço deles, você vai descobrir
coisas especiais sobre aquela série, aquele herói,
aquela aventura que marcou sua vida. E talvez,
também descubra porque isso acabou
acontecendo.
— Marcelo Cassaro
Roteirista de quadrinhos, escritor de livros de
RPG, desenhista e editor.
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CAPÍTULO 1:
MANGÁ – OS QUADRINHOS
MAIS POPULARES DO MUNDO
1) O QUE SIGNIFICA MANGÁ? - Mangá é a
palavra que define as histórias em quadrinhos e
os gibis japoneses, que conquistaram leitores no
mundo inteiro, tornando-se verdadeiro fenômeno
editorial em vários países. Mas o que pouca
gente sabe é que nem sempre foi assim. Quando
a palavra foi usada pela primeira vez, lá pelo
século XIX pelo artista Katsushika Hokusai,
mangá tinha outro sentido. A palavra dava nome
a desenhos engraçados, como as charges e
caricaturas que já faziam parte da tradição
japonesa de artes visuais voltadas ao consumo
popular. A palavra
mangá pode ser
traduzida como
―desenho
divertido‖ e o
termo apareceu
com os Hokusai
Mangá, série de
estudos figurativos
cujo primeiro volume (de um total de 15) foi
publicado em 1814. Hokusai, nascido em 1760 e
falecido em 1849, é famoso no mundo inteiro,
mas não por causa de mangá ou desenhos
humorísticos. É dele uma série de xilogravuras
ukiyo-ê chamada ―36 Vistas do Monte Fuji‖ e seu
desenho mais famoso é o Vagalhão de
Kanagawa, a onda gigante que ele retratou com
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muito estilo e virou sua marca registrada no
mundo inteiro.
2) MANGÁ EM ROLOS – Muito antes da palavra
mangá ser usada pela primeira vez, já existiam
ilustrações humorísticas e caricaturas no Japão,
pelo menos desde o chamado Período Heian (794-
1185 d.C.). Um dos mais antigos exemplares
desse tipo de trabalho que ainda existe em bom
estado é o Chôjûgiga (―Desenhos engraçados de
animais‖), uma série de ilustrações com animais
humanizados em situações cômicas, comumente
representando sacerdotes. O trabalho, com um
traço leve e dinâmico, foi feito por um monge
budista conhecido como Tôba (1053~1140), no
século XII. Fazendo jus à denominação ―rolos de
animais‖ (nome pelo qual pesquisadores
ocidentais se referem), o material está
distribuído em um rolo de papel com cerca de 10
metros de comprimento. A relíquia está
preservada no Museu Internacional do Mangá, na
cidade de Kyoto.
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3) OSAMU TEZUKA
- DE MÉDICO A
DEUS - Osamu
Tezuka, nascido em
1928 e falecido em
1989, foi
considerado o ―Deus
do Mangá‖, tamanha
a revolução que ele
promoveu. A partir
dele, o mangá ficou
mais expressivo no desenho, cinematográfico
nos enquadramentos e mais segmentado. Mas
ele também foi marcante em outras áreas. Seu
personagem Astro Boy marcou época na TV e
seu herói Magma Taishi (Embaixador Magma),
conhecido no Brasil como Vingadores do Espaço,
foi o primeiro seriado colorido da TV japonesa,
em julho de 1966. Sua prolífica carreira inclui
ainda as séries A Princesa e o Cavaleiro, O
Menino Biônico, Don Drácula, Buda, Black Jack,
Kimba, Adolf, Hi no Tori e muitas outras,
totalizando mais de 700 criações. E ele quase
não seguiu a carreira artística, pois estudou
medicina, curso que fez ao mesmo tempo em
que começava a ganhar fama publicando seus
quadrinhos profissionalmente.
4) POR QUE OLHOS GRANDES? – Primeiro,
vamos esclarecer que nem todo mangá tem os
famosos olhos grandes e brilhantes que tantos
amam. Os primeiros mangás nem tinham essa
característica, que acabou se tornando a mais
facilmente reconhecível dos quadrinhos e
animações japonesas. Quem começou isso foi o
pioneiro do moderno mangá, Osamu Tezuka, na
década de 1940. Os motivos foram vários.
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Tezuka era fã de um teatro
tradicional chamado
Takarazuká, que é
interpretado somente por
mulheres (em contraposição
ao masculino Kabuki) e no
qual as atrizes usam fortes
maquiagens para realçar os
olhos. O criador do Astro Boy também adorava
animações Disney, em especial o Bambi (de
1942) e seus olhos verticais e cheios de brilho e
sentimento. Esses olhos dão muita
expressividade às figuras e permitem que,
mesmo num quadrinho pequeno em uma página,
seja fácil identificar o que se passa com o
personagem. A resposta para a questão inicial é
que olhos grandes são expressivos e o mangá é
um meio onde a expressividade é uma
característica essencial.
5) O SOM DO SILÊNCIO - Onomatopeias são
aquelas palavras que representam sons. Nos
quadrinhos, são escritas com letras desenhadas
para realçar seu efeito dramático numa história.
Nos quadrinhos japoneses, as onomatopeias são
usadas mais ostensivamente do que em
qualquer outro lugar, sendo importantes até na
composição visual e diagramação de uma
página. Além das representações sonoras
diferentes do ocidente (um latido é "wan wan",
uma explosão é "dokan" e por aí vai), há
também aquelas onomatopeias que reforçam
estados de espírito, gestos ou dramatizam
situações, criando atmosfera. E o exemplo mais
marcante é que existe até uma onomatopeia
para definir o silêncio: é "shiiin‖.
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6) ANMITSU HIME: UM MANGÁ PARA
TEMPOS DIFÍCEIS – Um traço comum às
sociedades que passam por tempos difíceis é o
de que quanto piores as coisas ficam, mais
alegres e otimistas se tornam os conteúdos dos
entretenimentos oferecidos ao povo. No Japão
pós-segunda guerra mundial, um país arrasado
onde a vida cotidiana era muito difícil, a coisa
não era diferente. Nesse cenário, uma série de
mangá para meninas de tom leve e
despreocupado acabou ganhando destaque:
Anmitsu Hime (Princesa Anmitsu) de Shosuke
Kurakane. Publicada originalmente entre 1949 e
1955, a série se passa em uma versão fantasiosa
do Japão feudal e narra as aventuras da
princesinha Anmitsu, cujo nome significa doce de
feijão com mel. Teimosa e rebelde, Anmitsu leva
seus pais e professores à loucura com suas
travessuras, já que se recusa terminantemente a
comportar-se de maneira devida à alguém de
sua posição. Tudo é levado em tom humorístico,
sempre tendo como cenário o castelo de
Amakara. Um lugar repleto de alegria cheio de
festas com (principalmente) muita comida.
Mesmo após o seu cancelamento, a série
permaneceu com seu espaço conquistado no
coração dos japoneses. Tanto que, de lá até os
dias de hoje, já foram realizados dois filmes, três
novelas e uma série de animação com as
aventuras da princesinha. Houve até mesmo um
remake do mangá, feito em 1986 por Izumi
Takemoto. Sem dúvida, Anmitsu Hime foi o
perfeito retrato dos sonhos de uma época muito
dura.
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7) ASHITA NO
JOE: MAIS QUE UM
PERSONAGEM –
Apesar desse fato
parecer um tanto
estranho ao modo
de pensar ocidental,
o mangá para os
japoneses é muito
mais do que um
simples
entretenimento. Ele
está tão enraizado
na cultura popular
que, em alguns
casos, chega a
funcionar como
agente transformador da sociedade,
influenciando até mesmo a autoestima do povo.
Um exemplo lapidar desse fenômeno é o lendário
mangá Ashita no Joe (Joe do Amanhã), escrito
por Asao Takamori (Ikki Kajiwara) e desenhado
por Tetsuya Chiba. Publicado entre 1968 e 1973
na revista semanal Shonen Magazine, o mangá
conta a história de Joe Yabuki, um delinquente
juvenil revoltado e encrenqueiro que sai de uma
origem pra lá de humilde para se tornar um dos
boxeadores mais famosos do mundo. Isso, é
claro, após passar por todos os sofrimentos e
dificuldades possíveis e imagináveis. A série
ganhou tamanha força, que os jovens das
classes menos favorecidas do Japão passaram a
adotar Joe como ídolo e modelo de esperança,
tratando-o quase como uma pessoa real. Essa
devoção transformou-o em um personagem
folclórico, cuja figura é usada até hoje como
exemplo de superação. Para corroborar esse
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fato, a editora Kodansha iniciou em 2009 a
republicação do mangá original nas páginas da
revista semanal Gendain, título que tem como
alvo um público masculino adulto formado em
sua maioria por funcionários de empresas do
meio corporativo, os famosos ―salaryman‖. O
objetivo declarado da editora é usar o mangá
para levantar o moral desses leitores, muito
abalado após a crise econômica de 2008. Em
fevereiro de 2011, uma versão live-action para
cinema foi lançada, com o cantor e ator
Tomohisa Yamashita como Joe e Yûsuke Iseya
como o rival Rikiishi. Se é verdade que algo é
real desde que se acredite em sua existência,
pode-se dizer que Joe Yabuki está mais vivo do
que nunca.
8) FUNERAL PARA UM LUTADOR (DE PAPEL)
– Um bom exemplo de até onde pode chegar o
amor dos fãs por um personagem, ocorreu no
Japão em março de 1970. Em um momento
culminante do popularíssimo mangá de boxe
Ashita no Joe, o protagonista Joe Yabuki
enfrentou seu arquirrival Toru Rikiishi em um
combate histórico, que terminou com a morte de
Rikiishi. O fato causou tamanha comoção entre
os leitores, que o polêmico artista de vanguarda
Shuji Terayama, fã de boxe e da série, chegou
mesmo a convocá-los para uma cerimônia
funerária em homenagem ao morto. E assim,
mais de 700 pessoas compareceram à tal
cerimônia, devidamente trajados de preto e
portando incensos e coroas de flores. Em um
ringue de boxe montado nas dependências da
editora Kodansha, um monge budista oficiou os
ritos e encomendou a alma de Toru Rikiishi. Uma
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cerimônia verdadeira para um personagem de
mangá.
9) FAZENDO TRABALHO DE MULHER - Shôjo
mangá é o tipo de história em quadrinhos para
meninas adolescentes, um gênero que já teve
títulos como Guerreiras Mágicas de Rayearth,
Peach Girl e Sailor Moon. Mas apesar de ter
surgido a partir do trabalho de Osamu Tezuka
com a série A Princesa e o Cavaleiro, o shojo
manga logo se tornou um produto sempre feito
de mulheres para mulheres. Ou quase sempre.
Um certo quadrinhista chamado Akira
Matsumoto começou a publicar profissionalmente
com apenas 15 anos após vencer um concurso
da revista Manga Shonen Magazine, em 1953.
Mas apesar do começo promissor, ele teve
dificuldade em se manter no mercado com
trabalhos mais pessoais e acabou desenhando
para revistas femininas. Como o nome Akira
também pode ser usado para mulheres (apesar
de ser menos comum do que para homens),
muitas leitoras nem devem ter percebido que
eram desenhos de homem. Quando ele
conseguiu se desvencilhar das românticas e
quase sempre adocicadas revistas shojo e teve a
chance de publicar trabalhos mais densos e viris,
passou a assinar Leiji Matsumoto, seu novo
nome artístico. E foi assim que ele ganhou
espaço entre os grandes nomes do mangá e do
animê, com trabalhos como Patrulha Estelar,
Capitão Harlock, Galaxy Express 999, Submarine
Super 99 e os clipes em animê da dupla francesa
Daft Punk, que formaram o DVD Interstella
5555: The 5tory of the 5ecret 5tar 5ystem.
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10) O HOMEM QUE PRODUZIU 770 MANGÁS!
- Com revistas semanais ditando o ritmo no
mercado de mangás, é comum que os
desenhistas de ponta tenham que produzir quase
20 páginas de quadrinhos por semana. Isso dá
quase 80 por mês, uma marca impressionante,
mesmo considerando que os autores trabalhem
com assistentes para fazer a ―parte chata‖ do
trabalho, como pintar áreas de preto, completar
cenários, aplicar tons de cinza, traçar linhas de
movimento (speedylines), etc. Porém, no auge
da fama e com
encomendas de várias
revistas ao mesmo
tempo, o lendário
Osamu Tezuka e sua
equipe já tiveram que
produzir cerca de 300
páginas num único
mês. Mas o recorde
absoluto foi de
Shotaro Ishinomori,
um discípulo de
Tezuka e criador de
títulos como Kamen
Rider, Cyborg 009,
Sabu to Ichi Torimono Hikae, Green Grass,
Hotel, Patrine, Goranger (o precursor do gênero
Super Sentai) e muitos outros. Ishinomori
chegou à inalcançável marca de 500 páginas
escritas e desenhadas em um único mês.
Também entrou para o Guiness Book of Records,
por ter produzido mais de 128 mil páginas de
quadrinhos em 770 mangás ao longo de uma
carreira de 45 anos. Se Osamu Tezuka era o
Deus do Mangá, Ishinomori era o Rei.
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11) O REI DO MANGÁ E A NUMEROLOGIA -
Apesar de famoso por trabalhos no campo da
ficção científica, Shotaro Ishinomori era um
homem supersticioso. Nascido como Shotaro
Onodera, assumiu o nome artístico inicialmente
como Shotaro Ishimori. Influenciado pela
numerologia que, no Japão, leva em conta o
número de traços usado para escrever as letras
do nome, ele passou a assinar Ishinomori. A
mudança aconteceu em 1986, mas não parece
ter feito muita diferença. Naquela época, ele já
havia criado os mangás de Kamen Rider,
Goranger, Inazuman, Esquadrão Arco-Íris
(Rainbow Sentai Robin), Henshin Ninja Arashi,
Cyborg 009 e muitos outros sucessos que foram
adaptados para a TV. Em termos comerciais,
seus maiores sucessos aconteceram antes da
mudança do nome artístico.
12) O FIM DO MUNDO, SEGUNDO SHOTARO
ISHINOMORI - O consagrado autor Shotaro
Ishinomori tinha uma crença: a de que o mundo
não passaria do ano 2000. Essa convicção era
tão arraigada que os enredos de suas histórias
de ficção científica futurista – sempre com uma
visão pessimista do mundo - nunca passavam do
ano de 1999. No mangá original de Kamen Rider
Black, por exemplo, o herói e seu irmão Shadow
Moon travam seu duelo final nos escombros de
Tóquio no ano 1999, uma data não muito
distante da data de publicação dessa história,
que foi em 1988 na revista Shonen Sunday. De
certa forma, o mundo acabou mesmo pra ele
antes do ano 2000. O venerado Sensei (mestre)
Shotaro Ishinomori faleceu em 28 de janeiro de
1998, aos 60 anos, por problemas cardíacos.
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13) OS PRIMEIROS MANGÁS BRASILEIROS
– Nos dias de hoje, é muito comum que dúzias
de trabalhos realizados no estilo mangá surjam
nas bancas e livrarias. Muitos acreditam que
tamanha influência se deve à explosão dos
animês ocorrida a partir da metade dos anos
1990, o que faria do chamado mangá brasileiro
um fenômeno recente. Na verdade, os primeiros
mangás brasileiros surgiram por volta da metade
dos anos 1960, pelas mãos de um jovem
roteirista, desenhista e editor chamado Minami
Keizi. Nascido na cidade
paulista de Getulina no
ano de 1945, Keizi
passou a infância e a
adolescência
consumindo mangás
originais vindos do
Japão. Em 1964 criou o
personagem
―Tupãzinho, O Guri
Atômico‖, fortemente
baseado em Astro Boy.
Entretanto, teve de
modificar o personagem
por imposição dos
editores, que preferiam um estilo de desenho
mais americanizado. Após a transformação,
Tupãzinho foi publicado em tiras no jornal Diário
Popular e chegou a ter revista própria, publicada
em 1966 pela editora Pan Juvenil. No mesmo
ano e editora, Keizi publicou o Álbum Encantado,
um livro de fábulas escrito por ele e ilustrado
(sob sua orientação) em estilo mangá por
renomados artistas da época, com destaque para
Fabiano J. Dias. Ambos os trabalhos, são
considerados os pioneiros do gênero no Brasil.
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Além disso, como editor-chefe da editora
paulista Edrel (sucessora da Pan Juvenil), Keizi
abriu as portas para um talentoso grupo de
jovens artistas que posteriormente viriam a se
consagrar não somente no meio das HQs
nacionais, mas também no das artes plásticas:
Paulo Fukue, Fernando Ikoma e o lendário
Cláudio Seto, o grande mestre do mangá
brasileiro. Foram valorosos pioneiros em uma
época distante. Cláudio Seto, autor de O
Samurai e muitos outros personagens, faleceu
em 2008, aos 64 anos. Minami Keizi faleceu em
2009, também aos 64 anos. Ambos deixaram
suas marcas na história do mangá brasileiro.
14) MANGÁ NA UNIVERSIDADE - Histórias
em quadrinhos – mangá incluído – se tornaram
um tema recorrente em trabalhos e pesquisas
em faculdades de comunicação. Trata-se de uma
valorização dos quadrinhos como arte e cultura
no mundo todo, mas sempre houve muita
resistência para que o assunto fosse levado a
sério, ainda mais no sisudo ambiente acadêmico.
Nessa área, o trabalho pioneiro foi feito no
Brasil, na Escola de Comunicações e Artes (ECA),
da USP, em São Paulo. A professora Sonia Maria
Bibe-Luyten fez sua tese de mestrado sobre
mangá em 1971, uma época em que o tema era
desconhecido da maioria das pessoas. Com o
título Mangá – O Poder dos Quadrinhos
Japoneses, o trabalho pioneiro em pesquisa
acadêmica sobre mangás foi transformado em
livro em 1991 pela editora Estação Liberdade.
Em 2001, foi relançado pela editora Hedra.
15) A VITÓRIA DA PERSISTÊNCIA - Nascido
em 1945, o artista Go Nagai é conhecido por ter
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criado o clássico e revolucionário robô gigante
Mazinger Z, em 1972. Mas também é
considerado um autor profano, associado a
trabalhos com forte teor de violência e erotismo,
características que já lhe renderam muitas
críticas por inserir elementos considerados
inadequados para séries infanto-juvenis. Suas
produções para adultos o fizeram um autor tão
cultuado quanto polêmico devido aos limites que
vive ultrapassando. Mas polêmicas à parte, é
inegável sua importância na cultura pop
japonesa, pois além de Mazinger Z, criou títulos
como Cutey Honey, Devilman e muitos outros
que ganharam legiões de fãs. Sua carreira é um
exemplo de curiosa obstinação. Quando jovem,
após contrair uma diarreia que durou mais de 3
semanas, ele temeu estar com câncer de
intestino e passou a imaginar que ia morrer logo.
Decidiu realizar seu sonho de criança e se tornar
um autor de mangá. Logo descobriu-se que não
tinha nada tão grave e ele foi medicado, mas já
havia se decidido a não seguir os estudos e
começou a mandar testes para editoras. Consta
que ele já mostrava muito talento desde cedo
mas sua mãe, secretamente, ligava para os
editores e pedia que não chamassem seu filho,
pois ela não queria que ele fosse um artista
profissional e sim que seguisse uma carreira
tradicional. Porém, um dia um desses testes que
ele ingenuamente mandava foi visto pelo
veterano Shotaro Ishinomori, que conseguiu
convencer sua mãe a deixá-lo seguir seu sonho.
De assistente de Ishinomori, Go Nagai logo alçou
voo solo e se consagrou como um dos mais
importantes autores de mangá. E tudo começou
com uma grande dor de barriga...
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16) O SEGREDO DA SHONEN JUMP - Lançada
em 1968 pela editora Shueisha, a revista Shûkan
Shonen Jump (Salto Jovem – Semanal) é voltada
ao público adolescente masculino (shonen) e se
transformou no maior sucesso editorial da Terra
do Sol Nascente. Com mais de 400 páginas em
papel jornal e impressa na maior parte em
preto-e-branco (um formato comum no país), a
revista já teve picos de venda de mais de 5
milhões de exemplares por edição. De suas
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páginas, saíram títulos como Dragon Ball,
Cavaleiros do Zodíaco, Super Campeões, Naruto,
Slam Dunk, Hikaru no Gô, Samurai X, Video Girl
Ai, Dr. Slump, Gen – Pés Descalços, One Piece,
Yu Yu Hakusho, Death Note, Yu-Gi-Oh, Shaman
King e muitos outros. Parte do segredo da
revista está em sua forte política editorial.
Enquetes são feitas periodicamente perguntando
a seus leitores 3 questões: 1- Qual a palavra que
mais aquece seus corações, 2- O que eles
sentem ser a coisa mais importante na vida e 3-
O que os deixa mais felizes. As respostas são,
―amizade‖, ―esforço‖ e ―vitória‖,
respectivamente. Basta uma lida em duas séries
campeãs de épocas diferentes, como Naruto e
Cavaleiros do Zodíaco, para ver que essa política
vem sendo seguida nas séries de maior apelo
popular. Com diversos títulos derivados no
Japão, a Shonen Jump estreou nos EUA com
uma versão mensal em novembro de 2002,
apesar da capa indicar ―janeiro de 2003‖.
17) AFTERNOON: O MAIOR GIBI DO MUNDO
– Muita gente acha os almanaques japoneses de
mangá parecidos com listas telefônicas. Não
existe mangá que mereça mais esse apelido que
a revista mensal Afternoon, da Ed. Kodansha,
com mais de 1.000 páginas por edição. A
Afternoon publicou a série Ah! Megami Sama
(Oh My Goddess!), de Kosuke Fujishima, de
bastante repercussão no Japão e que teve seu
animê já visto no Brasil. Outra série conhecida
no Brasil é Mugen no Juunin (Blade – A Lâmina
do Imortal), de Hiroaki Samura. A Afternoon foi
fundada em 1987 e é também a revista de
quadrinhos mensal mais ―pesada‖ do mundo,
com cerca de 1 kg de papel por edição. Essa não
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dá pra guardar no meio dos livros pra ler
escondido na escola...
18) REI DO FUTEBOL POR ACASO – Não há
como discutir que o nome mais representativo
da história dos mangás ligados ao tema futebol é
o do mangaká Yoichi Takahashi. Especialista em
mangás esportivos, ele é considerado um dos
grandes responsáveis pela popularização do
futebol no Japão durante os anos 80. Tudo
devido ao seu megassucesso Super Campeões
(Captain Tsubasa, no original), série produzida
em várias fases ao longo de mais de vinte anos e
cujas versões em animê rodaram o mundo. Mas
o mais engraçado dessa história é que, ao
contrário do que se poderia imaginar, Takahashi
não era fã de futebol. Segundo ele mesmo, a
primeira vez que assistiu a uma partida foi aos
17 anos de idade, através de uma transmissão
de TV enquanto jantava com amigos em um
restaurante italiano. Foi só a partir daí que ele
tomou conhecimento do que era o esporte.
19) O SENHOR DOS DESAFIOS – Muito mais
do que um grande roteirista de mangás
esportivos (gênero ainda pouco difundido no
Brasil), ele foi um dos maiores da história do
gênero. Sua capacidade sem igual de trabalhar
com ação dramática e temas de superação,
garantiram-lhe um lugar entre os grandes. Por
isso mesmo, torna-se impossível contar a
história do mangá moderno sem citar o nome de
Ikki Kajiwara. Nascido como Asaki Takamori em
1936, ele chegou ao estrelato na segunda
metade dos anos 60 produzindo para a revista
Shonen Magazine aquelas que seriam as suas
três obras primas: Kyoujin no Hoshi (A Estrela
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dos Gigantes) desenhada por Noboru Kawasaki e
que tinha como tema o beisebol, Tiger Mask
ilustrada por Naoki Tsuji e que abordava a luta
livre e a mais do que lendária obra sobre boxe
Ashita no Joe, que teve o traço de Tetsuya Chiba
e foi assinada por Kajiwara com o pseudônimo
de Asao Takamori. Sua obra mais conhecida no
Brasil é a versão em animê do mangá biográfico
Kick no Oni (O demônio do Chute), desenhado
por Ken Nakajô e que romanceava a vida do
kickboxer japonês Tadashi Sawamura. Produzida
pela Toei Animation em 1970, a série de animê
fez grande sucesso no Brasil entre o final dos
anos 70 e o início dos 80, sendo aqui exibida
com o nome de Sawamu, o demolidor. No início
de 1987, Kajiwara faleceu precocemente aos 50
anos, deixando atrás de si um legado imortal.
20) UM MANGÁ EM DOZE ASSALTOS –
Famoso por seus mangás de guerreiros
fantásticos, Masami Kurumada possui uma obra
do gênero esportivo pouco conhecida no
ocidente, mas muito famosa no Japão: Ring ni
Kakero (Arrisque tudo no Ringue!). Publicada
entre 1977 e 1981 na revista semanal Shonen
Jump, a história fala da vida de três
personagens: O jovem boxeador Ryuuji Takane,
seu arquirrival Jun Kenzaki e a irmã de Takane,
Kiku, que é também sua treinadora. Recheada
de combates, dramas e histórias de superação, a
série é considerada um dos exemplos mais
representativos do que é chamado de ―Estilo
Shonen Jump‖ de fazer mangá. Além disso, suas
lutas épicas cheias de golpes especiais e
referências a mitologia grega, serviram de base
para Kurumada desenvolver Os Cavaleiros do
Zodíaco. O próprio protagonista, Ryuuji Takane,
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serviu de modelo para o cavaleiro Seiya. Anos
mais tarde, após o fim de B’t X, o autor resolveu
retomar a série. E assim, no ano de 2000, a
revista mensal Super Jump iniciou a publicação
de Ring ni Kakero 2, desta vez contando a
história de outro boxeador: Rindo Kenzaki, filho
de Jun e Kiku.
21) RUMIKO TAKAHASHI: A RAINHA DO
MANGÁ – Tudo começou em 1978, quando uma
desconhecida estudante universitária ganhou um
concurso de novos talentos promovido pela
editora Shogakukan. Mais do que uma nova
artista, nascia para o mundo não só o maior
nome feminino da história do mangá mas
também das HQs em geral: Rumiko Takahashi.
Nas décadas que se seguiram, ela enfileirou um
sucesso atrás do outro: Urusei Yatsura, Maison
Ikoku, Ranma ½, InuYasha e mais
recentemente, Kyokai no Rinne. Quase todos
lançados na revista semanal Shonen Sunday, de
quem se tornou uma das marcas, juntamente
com Mitsuru Adachi e Gosho Aoyama. Sucesso
de público sem precedentes, as coletâneas de
seus trabalhos já venderam ao redor do mundo a
absurda marca de mais de 170 milhões de
exemplares, o que a
tornou a artista de
quadrinhos mulher
mais bem paga do
planeta. Os dados
sobre sua fortuna são
guardados a sete
chaves, mas é fato de
que desde os anos 90
ela se tornou uma das
pessoas físicas que
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mais paga imposto de renda no Japão... O que
não é pouco. Se Tezuka é o Deus e Ishinomori o
Rei, Takahashi merece ser chamada de Rainha.
22) FAMÍLIA DE SUCESSO? – Responda
rápido: Além de serem renomados mangakás, o
que Rumiko Takahashi (Ranma ½ e InuYasha),
Yoichi Takahashi (Super Campeões) e Kazuki
Takahashi (Yu-Gi-Oh!) tem mais em comum? A
resposta é... Absolutamente nada. Sim, porque
ao contrário do que se poderia imaginar à
primeira vista, eles não são parentes. Apesar de
parecer bem diferente e exótico para nós,
Takahashi é um sobrenome extremamente
popular entre os japoneses e juntamente com
Sato, Suzuki, Tanaka e Watanabe, forma o grupo
dos cinco sobrenomes mais utilizados pelos
cidadãos do arquipélago. Como se pode ver, o
Japão também tem os seus ―Silvas‖.
23) NA PORTA DO BANHEIRO – Na série de
mangá e animê Ranma ½, o herói Ranma
Saotome se transforma em mulher quando é
molhado com água fria e só volta a ser homem
quando é molhado com água quente. Porém, tão
pitoresca quanto essa transformação é a história
de como ela foi criada. Durante a elaboração do
projeto, a autora Rumiko Takahashi estava
quebrando a cabeça para encontrar uma
transformação que fosse diferente e divertida.
Enquanto mentalizava alternadamente imagens
de homens e mulheres, ela acabou se detendo
nas figuras colocadas nas portas dos banheiros
masculinos e femininos. Como os banheiros
lembravam água, foi daí que ela tirou a ideia.
Quanto ao nome Ranma, ele não foi escolhido
por acaso. Por ter a peculiaridade de poder ser
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utilizado tanto por
homens quanto por
mulheres, ele acabou
se tornando a escolha
perfeita para batizar o
personagem.
24) INU-YASHA, O
DEMÔNIO
GUARDIÃO – Na
mitologia hindu
budista, Yasha é o
nome que se dá a uma
espécie de entidade
sobrenatural que pode
eventualmente ser
domesticada para funcionar como um demônio
guardião para casas e templos. Como Inu
significa Cão, pode-se dizer em uma tradução
bem livre que InuYasha é algo como Cão
Demônio Guardião. Já a roupa do herói é
vermelha devido ao costume de se colocar nas
entradas dos templos estátuas de Yashas
pintadas com esta cor. As mesmas estátuas
também costumam apresentar dentes caninos
proeminentes, o que nos remete à espada do
herói, que é chamada de Tetsusaiga. Esse nome
significa ―Canino de Ferro Destruidor‖, e vem do
fato de que a espada foi feita a partir de um dos
dentes caninos do falecido Cão Demônio, pai de
InuYasha.
25) AYRTON SENNA, HERÓI DOS MANGÁS –
Modelo de disciplina e determinação, o
tricampeão mundial Ayrton Senna é talvez o
brasileiro mais conhecido e reverenciado na
Terra do Sol Nascente. Mas muito antes de sua
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morte trágica em 1994 lançar uma aura ainda
mais heroica sobre o piloto, ele já era retratado
como um grande herói através de alguns
mangás. O principal foi F no Senkou – Ayrton
Senna no Chousen (ou ―O Brilho da Fórmula – O
Desafio de Ayrton Senna‖), onde o campeonato
de 1991 foi retratado de forma emocionante
graças ao trabalho de Koyuu Nishimura
(conceito), Katsuhiro Nagasawa e Hirohisa
Onikubo. A série foi publicada no mesmo ano,
pela renomada Shonen Jump. O famoso carro de
Senna na época, o McLaren 27, também
estampou diversas capas da revista, ao lado de
personagens de series famosas da Jump, como
Dragon Ball, Video Girl Ai, City Hunter e outras.
26) O VERDADEIRO MANGÁ DE AUTOR – Em
japonês, a palavra "doujinshi" designava
originalmente qualquer publicação independente
produzida por um ou mais escritores. Com o
tempo, o termo se estendeu a outras formas de
expressão artística e acabou incluindo o mangá.
Mas, ao contrário de antigamente, estes são hoje
muito mais do que simples produções caseiras.
Em uma definição mais atual os doujinshi de
mangá são revistas de pequena tiragem,
produzidas pelos próprios autores e que graças à
tecnologia, conseguem apresentar um
acabamento gráfico de alto nível. Em vista disso,
muitos autores que não desejam ver suas
criações submetidas ao severo controle das
grandes editoras publicam-nas como dojinshi,
conseguindo inclusive sobreviver de suas
vendas. Até mesmo profissionais consagrados
chegam a lançar mão desse recurso como uma
maneira de se expressarem mais livremente.
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27) COMIKET - O EVENTO GIGANTESCO – Se
existe um paraíso para o doujinshi (os fanzines
japoneses), esse lugar é o evento conhecido
como Comic Market, ou simplesmente Comiket.
Realizado duas vezes por ano (Nos meses de
agosto e dezembro) no megacentro de
convenções Tokyo Big Sight, o Comiket conta
com cerca de 35.000 grupos de artistas que ali
se reúnem para venderem os seus trabalhos.
Durante três dias, os corredores do local ficam
abarrotados de fãs, colecionadores, cosplayers e,
é claro, caçadores de talentos a serviço das
editoras, que estão sempre atrás de alguma
estrela emergente. Sem equivalentes em
nenhum outro lugar do mundo, o Comiket é
visitado por um público médio de 500.000
pessoas, o que interfere até mesmo na logística
da cidade de Tóquio, que é obrigada a criar
esquemas de policiamento e transporte. Nada
mal para um evento que começou em 1975 com
32 grupos de artistas e um público de apenas
600 pessoas.
28) TOKIWA - UMA CASA LENDÁRIA - Já
pensou visitar uma casa onde vivessem todos os
seus autores de mangá favoritos? Esse ―lugar
dos sonhos‖ existiu mesmo, e sua fama começou
em 1952, quando o ainda jovem Osamu Tezuka
se mudou para lá, sendo logo seguido por outros
autores. Batizada Tokiwa-sô, a pensão foi,
durante um tempo, lar e local de trabalho de
mestres como Osamu Tezuka (A Princesa e o
Cavaleiro, Buda, Kimba), Shotaro Ishinomori
(Kamen Rider, Cyborg 009), a dupla Fujiko F.
Fujio (Doraemon, Super Dínamo) e muitos
outros. Os autores colaboravam entre si e
trocavam ideias, ajudando a formatar a indústria
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dos mangás e tornando o lugar o mais
importante estúdio (mesmo que informal) que já
existiu no Japão. O local foi demolido em 1982 e
em seu lugar, um monumento foi construído.
Uma homenagem justa a uma geração que
moldou o que seria a base da cultura pop
japonesa.
29) BURONSON: UM ROTEIRISTA DURÃO –
Em 1969 ocorreu um fato inusitado: O técnico
em manutenção de radares Yoshiyuki Okamura
deu baixa de seu posto nas forças armadas
japonesas para tornar-se... roteirista de mangá.
Não só conseguiu o seu intento, como tornou-se
um dos maiores. Adotando o pseudônimo de
Buronson (homenagem ao ator americano
Charles Bronson, de quem também adotou o
vistoso bigode), ele rapidamente construiu uma
sólida carreira no gênero dos mangás de ação e
combate, atingindo a consagração entre 1983 e
1988 com a série Hokuto no Ken (Fist of the
North Star). Realizada em parceria com o
desenhista Tetsuo Hara, a série é considerada
um dos maiores clássicos da história da revista
Shonen Jump. Outro gênero que marcou a
carreira de Buronson foram as histórias policiais,
notadamente as criadas em parceria com o
genial desenhista Ryoichi Ikegami: Strain, Heat e
a obra-prima Sanctuary, publicada entre 1990 e
1995 na revista Big Comic Superior e lançada
(incompleta) no Brasil pela Conrad Editora. Esta
última foi assinada por Buronson com outro
pseudônimo: Sho Fumimura. Seu mais recente
sucesso é o mangá histórico LORD, que tem
como cenário a China antiga. A série estreou em
2004 pela Big Comic Superior, ilustrada pelo
velho parceiro Ikegami.
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30) FUJIKO F. FUJIO: UM AUTOR QUE
VALEU POR DOIS – Quando os jovens
mangakás Hiroshi Fujimoto e Motô Abiko
resolveram formar uma dupla no início dos anos
50, adoraram um nome único: Fujiko Fujio, que
tornou-se uma marca lendária ao assinar alguns
dos mais populares mangás de todos os tempos.
O curioso é que, apesar de assinarem como uma
dupla, cada criação era feita por apenas um
deles, já que os trabalhos de Fujimoto eram
mais voltados para o público infantil e os de
Abiko para o público infanto-juvenil e adulto. O
auge dos dois ocorreu durante as décadas de 60
e 70, quando criaram uma avalanche de séries
imortais: Ninja Hattori-kun, Kaibutsu-kun,
Warau Salesman, Mangá Michi, Pro Golfer Saru e
Shonen Jidai, criadas por Abiko e Obake no Q-
Tarô, Esper Mami, Kiteretsu Daihyakka, Paa-man
(conhecida no Brasil como Super Dínamo) e
Doraemon, criadas por Fujimoto. A parceria foi
oficialmente dissolvida no final dos anos 80, mas
ambos encontraram uma solução bem criativa
para continuarem com o uso do famoso
pseudônimo. Fujimoto passou a assinar como
Fujiko F. Fujio, e continuou a trabalhar em
Doraemon até a sua morte em 1996. Já Abiko
tornou-se Fujiko Fujio (A) e, apesar da idade
bem avançada, permanece na ativa até os dias
de hoje. Em homenagem a Fujiko Fujio, foi
anunciada em 2010 a construção de um
grandioso museu na cidade de Kawasaki.
31) BATMAN E OUTROS HERÓIS
AMERICANOS EM MANGÁ – Com todas as suas
peculiaridades e toda sua força de comunicação
perante o público local, o mangá não tem
concorrentes em seu país de origem.
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Personagens estrangeiros são publicados lá, mas
sem a grande força popular que os produtos
locais têm. O grande mercado de leitores
japoneses sempre atraiu os olhos das grandes
editoras dos EUA, a Marvel e a DC Comics.
Batman é o que teve mais versões em mangá.
Entre 1966 e 67, uma divertida série de mangás
da revista Shonen King e assinadas por Jiro
Kuwata (desenhista do Oitavo Homem)
mostravam
Batman e Robin
num clima que
abraçava o estilo
exagerado e
espalhafatoso do
live-action
estrelado pelo
roliço Adam
West. Uma
compilação foi
publicada nos
EUA com o título
Batmanga em
2008. Em 2000,
veio o mangá de
Kia Asamiya
(editado no Brasil
pela Mythos),
autor que também trabalhou com versões
japonesas de X-Men e Star Wars. Batman
também ganhou uma versão de Katsuhiro Otomo
(de Akira) na série de especiais Batman – Preto
e Branco (editado no Brasil pela Panini). O
Superman foi o primeiro de todos os super-
heróis americanos a ser adaptado por um artista
japonês para o público local, tendo tido sua
versão mangá em 1960, por Tatsuo Yoshida, o
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criador do Speed Racer. Pelo lado da Marvel,
ficaram famosas as versões de Homem-Aranha
(por Ryoichi Ikegami) e X-Men (por Hiroshi
Higuchi, Koji Yasue, Miyako Kojima, Reiji
Hajihara). Ambos foram publicados também no
Brasil pela Mythos Editora.
32) CLAMP: A MÁQUINA DE FAZER
SUCESSOS – Na metade dos anos 80, elas eram
apenas mais um dentre milhares de grupos de
garotas que se reuniam para criarem os seus
fanzines. Anos depois, tornaram-se estrelas do
primeiro time, conhecidas por emplacarem um
sucesso após o outro. O nome do grupo roda o
mundo como uma espécie de grife do mangá de
qualidade, o que faz com que nenhum fã do
gênero deixe de respeitar o trabalho do grupo
CLAMP. Formado inicialmente por onze
integrantes, o número desceu para sete e
finalmente a quatro: A líder e roteirista Ageha
Okawa e as ilustradoras Mokona, Tsubaki Nekoi
e Satsuki Igarashi, e foi com essa formação que
elas alcançaram o estrelato. Além da qualidade e
da quantidade das obras produzidas, o que
chama a atenção nelas é a sua versatilidade
incomum. Já produziram mangás de
praticamente todos os gêneros, trabalhando com
aventura, drama e comédia. Isso para um
público tanto masculino, quanto feminino. E de
todas as idades. Por isso mesmo, não é de se
estranhar que as encadernações de seus
trabalhos tenham vendido mais de 100 milhões
de cópias em todo o mundo. Para completar
ainda trabalham como ilustradoras e character
designers de animês, como no caso do badalado
Code Geass, da produtora Sunrise.
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33) AS AUTORAS QUE SÃO BATATAS – Em
inglês a palavra ―clamp‖ tem muitos significados,
sendo ―braçadeira‖, ―fita‖ e ―grampo‖, alguns
dos mais comuns. Só que as integrantes do
grupo que leva esse nome, com a habitual
irreverência que as caracteriza, preferem dar
outra explicação para o sentido da palavra que
escolheram para se batizarem. O clamp em
questão é um termo que vem da agricultura
norte-americana. Para não deixarem as suas
colheitas de vegetais a céu aberto, os
agricultores americanos costumam empilhá-las
em um local preparado e cobri-las com palha e
terra para que assim se protejam das
intempéries. A esse tipo de pilha, se dá o nome
de clamp. Como os vegetais mais utilizados
nessa prática são as batatas, as artistas gostam
de dizer que o CLAMP delas significa ―Pilha de
Batatas‖.
34) BRINCANDO COM OS NOMES – Não se
pode negar que o uso de pseudônimos é uma
espécie de instituição entre os artistas de
mangá. Muitos sabem brincar muito bem com
isso, sendo um bom exemplo o das integrantes
do grupo CLAMP. Quando explodiram no início
dos anos 90, elas se chamavam: Mokona Apapa,
Mick Nekoi, Satsuki Igarashi e Nanase Okawa.
Entretanto em 2004, por ocasião do 15º
aniversário do grupo, elas resolveram mudar os
seus nomes. Mokona retirou o Apapa, por achar
que soava muito infantil. Mick mudou para
Tsubaki, porque não gostava de ouvir que o seu
nome lembrava o de Mick Jagger. Satsuki
Igarashi manteve a pronúncia mas trocou os
caracteres, enquanto Nanase virou Ageha por
motivo nenhum, ela só quis acompanhar as
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colegas. Acontecerão outras mudanças ainda? Só
o tempo dirá...
35) X: O FIM ESTÁ PRÓXIMO? – O poderoso
Kamui Shirou tem quinze anos e carrega nos
ombros um fardo digno de um deus: Decidir
entre a sobrevivência ou da raça humana ou da
Terra, sabendo que a escolha por uma implicará
necessariamente na destruição da outra. É dessa
premissa, que fala do apocalipse e do final dos
tempos, que nasceu X, a mais forte e polêmica
das obras do grupo CLAMP. Surgida em 1992 na
revista Asuka, a série causou grande impacto ao
misturar um roteiro pesado, carregado de
dramas psicológicos e extrema violência, com
um traço suave e delicado típico dos mangás
para meninas. Mas, infelizmente para o CLAMP,
não foi só o conteúdo que deu fama à X.
Algumas suspensões que impediram a conclusão
da série, que já deveria ter terminado há um
bom tempo, também a deixaram famosa. Tudo
começou em 1995, quando um devastador
terremoto atingiu o Japão, deixando milhares de
vítimas. Como o mangá mostrava muitos
terremotos, a série ficou visada pelos leitores e a
editora houve por bem suspendê-la por algum
tempo. Logo após a volta, outro problema: Em
1997, um adolescente psicopata de quatorze
anos assassinou brutalmente duas crianças em
um crime que chocou o Japão. Apesar do fato
não ter nenhuma relação com animês ou
mangás, os políticos japoneses passaram a
patrulhar a indústria do entretenimento e X,
devido ao seu conteúdo, foi novamente
suspensa. Finalmente em 2003, uma divergência
sobre o conteúdo entre o CLAMP e a editora tirou
novamente a série do ar, sem previsão de
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retorno. Pelo visto, apesar de as autoras
afirmarem seguidamente que pretendem concluir
a série, o final de X parece tão incerto quanto as
profecias de Nostradamus.
36) SHURATO BY CLAMP? - Em seu começo
de carreira, quando ainda faziam trabalhos
profissionais conjuntamente com doujinshis, elas
criaram duas obras com o então famoso
personagem Shurato: ―Watashi no Himitsu Heiki‖
de 89 e ―Tenku Senki Shurato Original Memory:
Dreamer‖ de 90, este último acabou sendo
publicado na revista Newtype Comic Genki no
Moto.
37) LIDANDO COM PRAZOS - Produzir
histórias seriadas semanais exige uma produção
extensa. Mesmo com a ajuda de assistentes que
se encarregam do acabamento, os autores estão
sempre lutando contra prazos e sendo
pressionados por seus editores para nunca
atrasarem uma entrega. Isso já gerou situações
que se tornariam embaraçosas, como o que
aconteceu com o autor Yoshihiro Togashi.
Durante a produção de Hunter x Hunter, para
não atrasar a entrega de suas páginas semanais
para a Shonen Jump, ele já teve que enviar para
serem publicadas páginas inacabadas, até
mesmo com esboços a lápis sem muita definição.
Dentro do competitivo mundo do mangá, se ele
fosse um autor menor ou iniciante, já teria sido
demitido.
38) SAILOR MOON E A LENDA DA ROUPA DE
MARINHEIRO - Publicada entre os anos de
1992 e 1997 nas revistas Nakayoshi e Run Run
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da editora Kodansha, e transformada em um
animê de 200 episódios pela Toei Animation
(fora especiais de cinema, um musical estilo
Broadway e uma série tokusatsu), Sailor Moon
foi um dos ícones dos anos 1990. A história das
5 adolescentes com superpoderes, que
misturava comédia e romance com batalhas
épicas, acabou se tornando um dos grandes
clássicos da história moderna do gênero animê e
mangá, levando fama e fortuna à sua autora,
Naoko Takeuchi. Entretanto, uma pergunta óbvia
sempre pairou no ar: Porque as heroínas Moon,
Mars, Mercury, Júpiter e Vênus receberam o
curioso prenome Sailor? A explicação é a
seguinte: A partir do final do século XIX, o Japão
passou a adotar o sistema educacional inglês em
suas instituições de ensino, o que incluía copiar o
padrão dos uniformes escolares. Os uniformes
para meninas eram uma estilização dos
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uniformes utilizados pelos marinheiros da Royal
Navy (Marinha Real Inglesa) e, por este motivo,
eram popularmente conhecidos como sailor fuku.
O termo é uma mistura da palavra inglesa sailor,
que significa marinheiro, e da palavra japonesa
fuku, que significa roupa. Com o tempo, o termo
sofreu uma contração, e o uniforme passou a ser
conhecido como seifuku. Até os dias de hoje, a
vestimenta é amplamente utilizada nas escolas e
tornou-se uma espécie de marca registrada das
estudantes japonesas, notadamente as que
estão na faixa dos 13 aos 15 anos.
39) A PRECURSORA DAS GUERREIRAS
LUNARES Foi pelo fato das heroínas de Sailor
Moon usarem como uniforme estilizações do
clássico seifuku, que elas receberam a
designação de Guerreiras Sailor. O curioso é que
este conceito não foi criado pela autora para
Sailor Moon. Ele nasceu em sua obra anterior:
Codename wa Sailor V, série publicada em 1991
na revista Run Run e que contava as aventuras
de Sailor Vênus, a primeira das guerreiras a ser
criada e que foi incorporada à equipe de Serena.
Foi o sucesso dessa primeira série que
impulsionou a criação de Sailor Moon.
40) SAILOR MOON - SIGNIFICADOS DOS
NOMES - Durante a criação das Guerreiras
Sailor, Naoko Takeuchi preocupou-se em dar às
personagens nomes que tivessem um sentido
relacionado às suas personalidades. Na versão
original, Sailor Moon chama-se Usagi Tsukino
(Pronuncia-se Ussaguí) ou, se adotarmos o
hábito japonês de colocar o sobrenome antes do
nome, Tsukino Usagi. Esse nome significa
literalmente Coelho da Lua ou, se preferirmos,
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Coelha da Lua, já que o idioma japonês não faz
essa flexão de gênero. O sentido do nome está
relacionado a elementos clássicos da mitologia
japonesa, que apresentam a lua como a morada
dos coelhos. Quanto às outras... Sailor Mercury é
Ami Mizuno ou Mizuno Ami, que pode ser
traduzido como Espírito da Água ou Amiga da
Água. Sailor Mars é Rei Hino ou Hino Rei, o
Espírito do Fogo. Sailor Júpiter é Makoto Kino ou
Kino Makoto (Lita, para os ocidentais), a Verdade
da Madeira ou Sinceridade da Madeira. Já Sailor
Vênus é Minako Aino ou Aino Minako (Mina, no
ocidente), a Bela Filha do Amor.
41) HERÓI DE SMOKING - Sem dúvida,
Tuxedo Mask não pode reclamar da vida. Além
de ter nascido bonito, inteligente e podre de rico,
ele ainda tira uma de herói e é o namorado da
Sailor Moon. Seu nome vem do original Tuxedo
Kamen, que significa literalmente o Mascarado
de Tuxedo. Mas, o que diabos é Tuxedo? Bem,
esse é o nome que os americanos dão à roupa
de gala que nós por aqui chamamos de Smoking
ou Black-Tie. A origem do termo é bem
pitoresca: Em 1860, o alfaiate inglês Henry Poole
criou a tal roupa para o Príncipe Eduardo VII,
futuro Rei da Inglaterra. Em visita ao país, o
americano James Potter encantou-se com a
roupa e pediu ao mesmo alfaiate que lhe fizesse
uma igual. De volta aos Estados Unidos, a roupa
nova de Potter fez grande sucesso entre os
membros do clube chique que ele frequentava,
tanto que todos começaram a copiá-la, tornando
o seu uso muito comum em jantares e
cerimônias. Como o tal clube chamava-se
Tuxedo Park Club, foi daí que surgiu a
denominação da roupa. Voltando ao
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personagem... Chamado no ocidente de Darien,
na versão original, seu nome civil tem um
significado bem imponente: Mamoru Chiba ou
Chiba Mamoru, significa o Protetor da Terra.
42) CASÓRIO NO MUNDO DOS MANGÁS -
Quando eles anunciaram que estavam
apaixonados e pretendiam se casar, o mundo do
mangá quase veio abaixo. Afinal de contas, não
é todo dia que duas superestrelas do ramo como
Naoko Takeuchi (criadora de Sailor Moon) e
Yoshihiro Togashi (criador de Yu Yu Hakusho e
Hunter X Hunter) resolvem juntar os trapinhos. E
assim, no dia 6 de janeiro de 1999, eles
contraíram núpcias em uma badaladíssima
cerimônia digna de artistas pop. Desde então,
Hime (Princesa) e Ouji (Príncipe), como gostam
de se chamar um ao outro, vivem ricos e felizes
e já tiveram até um filho, cujo nome não foi
divulgado para a imprensa e a quem eles se
referem apenas como Petit Ouji (Pequeno
Príncipe).
43) NASCIDO POR AQUI – Misturando ação,
magia e erotismo, a série de mangá Greed
Packet Unlimited, publicada na revista Dengeki
Maoh, seria para nós apenas mais um bom título
do gênero se não fosse uma peculiaridade: Seu
autor, Kamiya Yuu é brasileiro. Sim, porque este
é o pseudônimo de Lucas Thiago Furukawa, um
mineiro de Uberaba que se mudou para o Japão
aos 7 anos de idade. Autodidata, ele começou a
desenhar por ser fã de mangás, animês e
games. Foi em uma edição do Comiket que um
olheiro da prestigiada editora Media Works
gostou do seu trabalho e lhe ofereceu uma
oportunidade, transformando-o no primeiro
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mangaká profissional no Japão, nascido no
Brasil. O que chama atenção em seu trabalho é
que Kamiya dispensa o uso de lápis e papel,
realizando o trabalho de arte diretamente no
computador através do uso de um pen tablet, o
que pode se tornar cada vez mais comum. Além
dos mangás, ele também trabalha como
ilustrador e designer de games.
44) SAMURAI X:
INVENTANDO
NOMES – Criada
em 1994 por
Nobuhiro Watsuki
para a revista
Shonen Jump, a
série Rurouni
Kenshin
(distribuída no
ocidente como
Samurai X) conta
as aventuras do
samurai Kenshin
Himura, também
conhecido como
Battousai, o
Retalhador. O
curioso é que
Rurouni é uma palavra que não existe na língua
japonesa, sendo um neologismo criado por
Watsuki. A nova palavra foi baseada em Rurou,
que significa errante ou andarilho, para designar
uma pessoa que anda pelo mundo sem destino.
Outra palavra criada, foi o apelido Battousai. Ela
foi inspirada em Battou, uma técnica samurai
que consiste em sacar a espada e cortar o
inimigo com apenas um único movimento. Já o
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nome Kenshin foi criado a partir das palavras
Ken (espada) e Shin (Coração), significando
literalmente ―Coração da Espada‖. Quanto ao
nome Samurai X, este foi baseado na cicatriz
que o protagonista leva em seu rosto.
45) KENSHIN E O MODELO HISTÓRICO –
Kenshin Himura, protagonista da série Samurai
X, foi baseado em uma pessoa real: O samurai
Gensai Kawakami. Nascido em 1834, ele
abandonou os seus estudos de monge para se
dedicar à arte da espada. Sua peculiaridade era
a sua aparência frágil: Possuía traços delicados,
cabelos compridos e era facilmente confundido
com uma mulher. Mas, ao contrário do que sua
aparência poderia indicar, Kawakami era um
assassino brutal e implacável, talvez o maior de
seu tempo. Trabalhou como samurai executor
para o Ishin Shishi (Grupo de revolucionários
que, durante a década de 1860, ajudou a
derrubar o regime do Shogunato, substituindo-o
pelo do Imperador) e matou tantos inimigos que
ganhou o apelido de Hitokiri (Retalhador de
pessoas), alcunha que também foi transportada
para o personagem Kenshin. Seu destino,
entretanto, não foi tão feliz quanto o do
personagem. Suas ideias xenófobas e
isolacionistas o colocaram em rota de colisão
com as políticas do novo regime, que passou a
vê-lo como uma ameaça. Por esse motivo, em
1871, ele foi preso e executado pelo mesmo
governo que um dia ajudara a empossar.
46) ONE PIECE E O VERDADEIRO TESOURO
– Criada em 1997 por Eiichiro Oda para a revista
Shonen Jump, a série One Piece encantou o
mundo contando as aventuras do destemido
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pirata Monkey D. Luffy, que navega pelos mares
de seu mundo em busca do One Piece, o maior
tesouro de todos os tempos. Entretanto, mais de
60 volumes encadernados e mais de 490
episódios de animê depois, o verdadeiro tesouro
revelou-se ser a própria série. Sim, porque ao
bater em 2010 a marca de mais de 200 milhões
de volumes encadernados vendidos, One Piece
consagrou-se como o mangá de maior vendagem
de todos os tempos. Só para se ter uma idéia,
esse número chega próximo a vendagem de
todas as obras de Rumiko Takahashi ou de todas
as obras do grupo CLAMP. De fato, One Piece
pode ser chamado de o maior tesouro de todos
os tempos, principalmente pelo seu autor.
47) VAGABOND - UMA ESPADA E SEUS
CAMINHOS - Publicada desde 1998 na revista
Morning (da
Editora
Kodansha), a
série Vagabond
de Takehiko
Inoue já se
igualou em
prestígio a
grandes
clássicos do
gênero
samurai, tais
como A Lenda
de Kamui, de
Sanpei Shirato
e Lobo
Solitário, de
Kazuo Koike e
Goseki Kojima.
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Criada como uma versão em mangá do romance
Musashi de Eiji Yoshikawa, a série extrapolou e
ganhou luz própria. Tudo graças ao talento de
Inoue, que soube preservar a estrutura básica da
história e ao mesmo tempo reinventar
personagens e situações de modo inusitado e
surpreendente. Isso fez de Vagabond um épico
de fantasia heroica inspirado na vida de
Miyamoto Musashi, o maior samurai da história
do Japão. O curioso é que o romance original,
publicado em capítulos diários no jornal Asahi
Shimbun entre os anos de 1935 e 1939, também
teve um caráter muito mais fantasioso do que
biográfico. Yoshikawa, na época um já
consagrado escritor de romances históricos,
trabalhou a biografia de Musashi de modo a
torná-la o mais interessante possível. Em suma,
romanceou tudo o que podia e inventou o que
faltava. Isso foi feito de um modo tão brilhante,
que sua obra acabou entrando no imaginário
popular do Japão contemporâneo. De fato, o
grande espadachim Musashi por si só já teve a
sua glória, conquistada através de seus feitos.
Mas é certo que a grande capacidade de mestres
como Yoshikawa e Inoue de contá-los só serviu e
ainda serve para aumentar cada vez mais o
tamanho de sua lenda.
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48) DEATH NOTE BANIDO NA CHINA –
Criado por Tsugumi Ohba (roteiro) e Takeshi
Obata (arte), a série Death Note estreou na
Shonen Jump semanal em dezembro de 2003 e
gerou 12 volumes encadernados (chamados
tankohon ou tankobon), que foram lançados no
Brasil pela editora JBC. Conta a história do
estudante Light (Raito) Yagami, que se torna um
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serial killer ao encontrar um caderno de um
Shinigami (Deus da Morte da mitologia
japonesa), que permite matar alguém apenas
escrevendo seu nome no caderno. Apelidado
―Kira‖ (uma corruptela japonesa para ―killer‖),
Yagami é perseguido pelo detetive excêntrico
―L‖, numa trama cheia de suspense e
reviravoltas. O sucesso gerou um romance
literário, uma série em animê de 37 episódios
(Studio Madhouse, 2006), games e longas em
animê e live-action, além de uma aclamada peça
de teatro brasileira chamada O Caderno da Morte
– Death Note (Cia Zero-Zero de Teatro, 2008).
Mas na China, a popularidade da série criou
problemas com o governo local. Em 2005,
autoridades da cidade de Shenyang, na província
de Liaoning, proibiram a presença do mangá em
suas escolas. Tudo porque estudantes estavam
adaptando seus cadernos para parecerem com o
caderno negro da série e estavam escrevendo
nele nomes de inimigos e desafetos a quem
desejavam o mal, incluindo professores. Foi dito
que estavam protegendo seus jovens da má
influência que a leitura de Death Note poderia
trazer, mas também se combateu a pirataria
editorial. A proibição aos mangás de Death Note
se estendeu a outras cidades, como Shangai,
Beijing e Lanzhou. Mesmo com esse incidente,
Death Note foi publicado legal e normalmente
em Hong Kong e Taiwan.
49) INSPIRAÇÃO OU PLÁGIO? - Em outubro
de 2005, surgiu uma notícia inusitada no
mercado de mangás. Yuki Suetsugu, que
escrevia shojo mangá para a revista mensal
Bessatsu Friend, da Kodansha, havia sido
acusada de plagiar outras obras em suas
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próprias historias. Em Eden no Hana, Suetsugu
utilizou varias cenas de basquete do cultuado
Slam Dunk, de Takehiko Inoue. Suetsugu
reconheceu o próprio erro e pediu desculpas aos
leitores em seu blog, que fora encerrado
posteriormente, junto com seu site oficial. Por
causa disso, a Kodansha tinha determinado o
recolhimento de todos os mangás encadernados
do autor, assim como o cancelamento de sua
obra mais recente, Silver (na revista Bessatsu
Friend). Todo o material seria analisado para
saber o quanto ela havia copiado. Além do Slam
Dunk, há referências a outros mangás como
Real, também de Takehiko Inoue, e Bastard, de
Kazushi Hagiwara. Suetsugu também se
aproveitou de fotos de modelos e ilustrações
publicitárias.
50) BRITNEY HAMADA, UMA AUTORA
EXÓTICA! – Britney Hamada é uma jovem
autora de mangás que
surgiu em 2006 e vem
ganhando fama, mas
não pelo seu trabalho
em si, mas por seu lado
exótico. Pra começar,
Britney talvez seja a
primeira autora de
mangá estilo "gal" de
Shibuya, aquele tipo de
garota com visual
extravagante, que
habita os arredores do
bairro da moda de
Shibuya. As gals tem
como características o
cabelo loiro, pele
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bronzeada, muita maquiagem e, principalmente,
gírias incompreensíveis. Só que o mais
interessante, ela não tem casa, escreve os
mangás dentro de uma cabine tipo internet café,
chamada de Manga Kissaten de Shibuya,
inclusive, morando dentro dessa cabine. É que
nesses lugares o cliente pode passar a noite, já
que tem até chuveiro! Mesmo com o dinheiro
começando a entrar, ela diz que prefere
continuar morando na cabine porque Shibuya é o
seu reduto, e tema das suas histórias. Na
verdade, ela tem casa, mas prefere não morar
com a mãe. Britney resolveu entrar para esse
meio, quando entrou numa livraria apenas para
se proteger da chuva, e acabou pegando um
mangá do Fujiko Fujio (A) para folhear. O título
era o Manga Michi (ou ―O Caminho do Mangá‖),
uma historinha de autoajuda sobre dois garotos
que sonham em ser autores de mangá. Ela ficou
encantada e resolveu ali mesmo, comprar todos
os 14 volumes de uma vez. Sua série mais
recente é a Hamada Britney no Manga de Wakaru
Moe Business (Negócios nos quadrinhos moe), pela
Sunday Gene-X, sendo que “moe” é (geralmente) uma
gíria para personagens de meninas fofas e adoráveis.
CAPÍTULO 2:
ANIMÊ – MANGÁ EM
MOVIMENTO
51) ANIME OU ANIMÊ? - A palavra é uma
contração à moda japonesa de ―animation‖,
termo em inglês para definir animações de
qualquer tipo. Animações experimentais já eram
feitas no Japão na década de 1910, mas a
indústria realmente decolou com a entrada do
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estúdio Toei, que aconteceu oficialmente em 22
de outubro de 1958, com a estreia de
Hakujaden, exibido por aqui como ―A Lenda da
Serpente Branca‖. Quando a palavra começou a
se difundir no ocidente para classificar os
desenhos animados japoneses, usou-se a grafia
―anime‖, já que a romanização (transcrição para
alfabeto romano) internacional da palavra não
usa acentos. Mas a leitura sempre foi ―animê‖
para se aproximar mais da pronúncia japonesa.
No Brasil, como a principal fonte de informações
para as revistas que surgiram nos anos 90 eram
publicações dos EUA, alguns redatores e
jornalistas liam a palavra como anime e
julgavam ser ela uma paroxítona. É o que
aconteceu no Brasil com palavras como ―yakuza‖
e ―sakura‖, que deveriam ser lidas como
―yakuzá‖ e ―sakurá‖, mas em geral não são. A
palavra animê não consta (ainda) em dicionários
no Brasil, mas vários pesquisadores, jornalistas e
redatores têm preferido grafar o acento
circunflexo para uma pronúncia mais correta,
assim como sempre foi feito com a palavra
mangá.
52) ASTRO BOY E
O MENINO
BIÔNICO – UM
CASO DE AUTO-
PLÁGIO? – Criado
em mangá no ano
de 1951 por Osamu
Tezuka, o lendário
personagem Astro
Boy (Tetsuwan
Atom, no original)
foi o protagonista da
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primeira série de animê com personagem fixo
exibida pela TV japonesa, e que veio a estrear na
Fuji TV em 01/01/1963. Na história, Astro Boy é
um garoto robô dotado de sentimentos humanos
e que usa seus grandes poderes para proteger a
humanidade. Produzida pelo próprio autor, a
série teve 193 episódios e foi um grande sucesso
em vários países do mundo, principalmente nos
Estados Unidos, onde até ganhou uma versão
em quadrinhos feita
por artistas locais
em 1965, pela
editora Gold Key.
Essa serie original
permanece inédita
no Brasil. O público
brasileiro
entretanto, veio a
conhecer um
personagem bem
parecido através de
um animê exibido pela TV Record na década de
1980: O Menino Biônico (Jetter Mars, no
original). Na história, Jet Marte é um garoto robô
dotado de sentimentos humanos e que usa seus
grandes poderes para proteger a humanidade.
Um plágio? Na verdade não... Criado pelo
próprio Tezuka em 1977, Jet Marte era uma
versão modernizada do Astro Boy. Infelizmente,
a ideia não emplacou e a série teve apenas 27
episódios. Mas, os fãs brasileiros não ficaram
sem conhecer o personagem original, cujo
remake foi exibido no Cartoon Network e TV
Globo, além de ter sido lançado em DVD.
Realizada em 2003 pela Tezuka Productions,
esta série contou com 50 episódios e ajudou a
renovar o interesse mundial pelo personagem, o
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que culminou na produção de um ambicioso
longa-metragem em computação gráfica
realizado nos EUA (2009). De todo modo, o
Menino Biônico deixou a sua marca aqui no
Brasil, e muitos ainda confundem Jet Marte com
Astro Boy. Para encerrar, uma curiosidade trash
food: Durante muitos anos, Jet Marte apareceu
na embalagem de uma popularíssima pipoquinha
doce. Lembram-se? Era uma daquelas de
saquinho vermelho.
53) OS PRIMEIROS ANIMÊS TELEVISIVOS –
Antes mesmo do famoso Astro Boy, a emissora
TBS exibiu Manga Calendar. Tratava-se de uma
serie de curtas sobre datas comemorativas e
históricas dirigida por Ryuichi Yokoyama. A
produção, do estúdio Otogi, estreou na emissora
TBS em 1 de maio de 1961. Em sua primeira
fase, com vinhetas de 3 minutos, a série foi
chamada de Instant History. O título Otogi
Manga Calendar veio em 25 de junho de 1962,
quando as vinhetas passaram a ter 5 minutos. A
primeira fase teve 312 episódios e a segunda,
54. Por ter tido o formato de documentário, com
exibição de fotos e até algumas filmagens de
locais históricos, muitos pesquisadores
desconsideram esse trabalho como pioneiro das
séries de TV em animê, colocando-o num
patamar diferente, o que também não está de
todo errado. E antes de tudo isso, a produção
Mittsu no Hanashi (―Três Histórias‖) foi uma
antologia de meia hora com animações
experimentais de Keiko Kozonoe, exibida em 15
de janeiro de 1960 no canal estatal NHK. Essas
produções – Manga Calendar e Mittsu no Hanashi
– podem ser consideradas cada uma delas a seu
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modo (série e especial) como um ―marco zero‖
para os animês exibidos na TV.
54) MESTRES DO ANIMÊ E A PIRATARIA - A
luta contra a pirataria remete ao inicio da
indústria da animação. Por volta da década de
1950, havia no Japão um mercado negro de
filmes estadunidenses e europeus
contrabandeados. Os filmes eram vendidos em
rolos (já que na época nem o VHS havia sido
inventado) para serem vistos com projetores.
Entre os que procuravam por animações
ocidentais, havia três jovens que acabaram
sendo até investigados pela polícia, já que os
filmes que eles compravam eram fruto de
contrabando e seus nomes estavam na lista de
clientes de um vendedor que fora pego pelas
autoridades. Eram eles Osamu Tezuka, Shotaro
Ishinomori e Leiji Matsumoto, que depois se
tornariam três dos nomes mais importantes da
história do mangá e do animê. Ironicamente,
eles – e toda a indústria do animê – sofreriam
grandes perdas financeiras com o mercado de
pirataria.
55) KIMBA X SIMBA – Um pequeno leão
branco é criado
para ser o
Imperador da
Selva e vive
muitas aventuras
com seus amigos
animais e
também
humanos
enquanto
aprende valiosas lições sobre a vida. Criado em
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1950 por Osamu Tezuka, a saga de Kimba (Leo,
no original) foi publicada na revista Manga
Shonen (ed. Gakudosha) e gerou posteriormente
um animê (1965~66), visto em vários países,
inclusive no Brasil, onde foi exibido na extinta TV
Tupi (canal 4). Outras versões animadas foram
produzidas, fazendo de Kimba um personagem
bastante reconhecido no Japão e em vários
países do mundo. Quando a Disney lançou o
longa-metragem O Rei Leão (The Lion King,
1994) foi lançado, as semelhanças entre os
personagens de Simba e Kimba chamou a
atenção dos japoneses. Logo, mais de mil
profissionais de mangá e animê assinaram uma
petição exigindo que a Disney reconhecesse que
seu longa fora inspirado pelo trabalho de Tezuka.
A Disney alegou que nenhum de seus
profissionais jamais havia assistido a série de
Kimba, o que é bastante duvidoso, visto que a
série original foi exibida com sucesso nos EUA. A
controvérsia não envolvia o roteiro, mas
personagens e situações, o que a Disney
declarou serem apenas coincidências. Apesar de
todo o barulho que foi
feito na época, nada
aconteceu com a toda
poderosa Disney.
56) OITAVO HOMEM:
HERÓI MAU
EXEMPLO –
Acostumados a
explodir ou
desmembrar inimigos,
super-heróis japoneses
podem não ser lá um
bom exemplo de
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politicamente correto, conceito estadunidense
que se espalhou pelo mundo. Mas um
personagem específico teria que ser alterado
para existir no mundo contemporâneo. Estamos
falando de Eito Man (de 1965), conhecido
também como Eight Man e que foi lançado no
Brasil como O Oitavo Homem. A trama
revolucionária e pioneira para a época mostrava
um policial que era assassinado e revivia como
um robô superpoderoso (alguém se lembrou do
Robocop?). De aparência humanoide e dotado de
super-velocidade (como o herói Flash, da DC
Comics), o Oitavo Homem recarregava suas
energias de um modo inusitado: ele fumava um
cigarro especial. O hábito pouco recomendável
foi mostrado também na versão em minissérie
de 3 partes para vídeo nos anos 1990 (exibida
no canal pago Multishow) e na versão live-action
para cinema produzida na mesma época. Nestes
tempos de conscientização e campanha global
contra o tabaco, é inimaginável que essa
inusitada fonte de energia seja mantida em
alguma nova versão que
venha a ser produzida.
57) ROTEIROS
PERDIDOS, HISTÓRIAS
INÉDITAS - Hoje em dia,
a negociação dos direitos
de exibição de um animê
no Brasil acontece depois
de longas reuniões
empresariais e envolve
uma organização que não
existia 30 anos atrás. Por
causa disso, mancadas
ocorreram. Uma delas foi
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com a série A Princesa e o Cavaleiro (no original,
Ribbon no Kishi – ou ―O Cavaleiro da Fita‖),
criação imortal de Osamu Tezuka, o Deus do
Mangá. A série, de 1967, foi trazida da maneira
como todas as demais: vieram rolos de filme
com os episódios sem as vozes (somente a trilha
musical e efeitos sonoros), para que a dublagem
brasileira fosse inserida. Junto, vinham os
roteiros originais para serem traduzidos. No
entanto, por algum descuido, os textos de cerca
de 20 episódios foram perdidos. Sem internet na
época, com dificuldades em se contatar os
responsáveis no Japão e com a série tendo que
estrear, restou ao diretor de dublagem Gilberto
Baroli criar diálogos que fossem coerentes com
as imagens que assistia. O trabalho foi
impecável, tornando as histórias brasileiras tão
boas quanto as originais, sem que ninguém
percebesse nada de estranho. Na série, Baroli
também era o vilão Satã. Anos depois, Baroli
ganharia fama entre fãs de anime ao interpretar
outro vilão, o poderoso Saga de Gêmeos na série
Os Cavaleiros do
Zodíaco.
58) SPEED RACER?
GO MIFUNE?
METEORO? - Com uma
série clássica reprisada
centenas de vezes em
vários países, séries
derivadas feitas nos EUA, versões em quadrinhos
e uma badalada versão live-action produzida em
Hollywood pelos criadores de Matrix, Speed
Racer talvez seja o herói japonês mais conhecido
no mundo. Criação de Tatsuo Yoshida, que
produziu a versão em mangá, Speed Racer
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estrelou um animê em 1967 com 52 episódios,
em uma série que ganharia o mundo ainda no
final da década de 1960. Mas o nome Speed
Racer foi uma criação da distribuidora Trans Lux,
que lançou a série no ocidente, a fim de usar um
nome mais sonoro. O herói na verdade se
chamava Go Mifune – por isso o ―G‖ em sua
camisa e o ―M‖ em seu capacete. Mas o astro da
série era mesmo o carro Mach (―Maha‖, em
japonês) 5, afinal o título original em japonês era
Maha Go Go Go, um trocadilho bilíngue
intraduzível que usava a palavra ―go‖ como o
número 5 em japonês, o termo em inglês para
―avante‖ e também o nome do piloto. Com seu
nome original, o audaz esportista só é conhecido
mesmo no Japão. No mundo inteiro, ele é Speed
Racer. Ou melhor, exceto na Argentina, onde o
nacionalismo obrigou a criação de um novo
nome: Meteoro.
59) MAZINGER Z: NASCIDO NUM
ENGARRAFAMENTO – Em um movimentado dia
na primeira metade da década de 1970, o autor
de mangás Go Nagai estava preso em um
congestionamento. Grande fã de Astro Boy e
Tetsujin 28 Goh (conhecido no Brasil como O
Homem de Aço), ele vivia às voltas com ideias
para criar uma
historia com robôs
sem copiar
conceitos de seus
heróis favoritos.
Foi quando ele
imaginou como
seria bom poder
passar sobre os
carros que
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estavam na frente dirigindo um robô gigante!
Tempos depois, ele lançaria no mangá e animê as
aventuras de Mazinger Z. Até então, os robôs
eram dotados de vida própria ou então eram
controlados à distância por humanos.
Mazinger Z tinha um piloto dentro de sua
cabeça, uma ideia que influenciou
profundamente o mercado japonês, que veria
reflexos da ideia de Go Nagai em séries e
franquias de grande sucesso. Extremamente
popular e icônico no gênero, voltou às TVs do
Japão em 2009, com uma série chamada Shin
(novo) Mazinger Z. O que pouca gente lembra ou
comenta é que a ideia de um robô gigante com
cabine de controle na cabeça havia aparecido na
série Muteki Gouriki (1969), de Mitsuteru
Yokoyama (autor de Robô Gigante). O recurso
foi usado pelos vilões da serie e ficou meio
esquecido, não sendo possível afirmar que tenha
inspirado – consciente ou inconscientemente –
Go Nagai. Antes deles, porém, o brasileiro
Messias de Melo havia criado Audaz (1939), um
dos primeiros robôs gigantes dos quadrinhos e
que já era operado por humanos em seu interior.
Ainda assim, voltando à indústria japonesa,
é certo dizer que Go Nagai revolucionou
os robôs gigantes japoneses.
.
60) O PINÓQUIO JAPONÊS E O FANTASMA
DO GRILO FALANTE - Tradicionalmente,
mangás e animês sempre
foram produções mais
violentas e com mais
concessão a cenas picantes
que suas contrapartes
ocidentais. Produções
infanto-juvenis,
especialmente até os anos
1980, traziam cenas
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consideradas muito fortes para o público
ocidental, onde quadrinhos e animação são mais
associados com o público mais infantil. Isso
motivou (e motiva até hoje) cortes e edições em
vários momentos de diversas séries, a fim de
não "chocar" as crianças ocidentais (na visão dos
censores das emissoras e distribuidoras). Um
caso marcante ocorreu com a versão japonesa
de Pinóquio, o conto de Carlo Collodi que ganhou
adaptações no mundo inteiro, sendo a mais
famosa o longa animado da Disney, de 1940.
Batizado de Kashi no Ki Mokku (ou Mokku do
Carvalho), o "Pinóquio japonês" era uma história
dramática e violenta, com mortes trágicas
acontecendo em meio a histórias cheias de
monstros horripilantes e pesadelos surreais –
cortesia de Yoshitaka Amano, que se tornaria
famoso com os designs do game Final Fantasy e
do animê Vampire Hunter D. Uma cena marca
bem a diferença entre a visão ocidental e a
oriental. Logo no primeiro episódio, assim que
ganha vida, Pinóquio anda desajeitadamente
pela oficina de Gepeto e, sem querer, derruba
um martelo em cima do Grilo Falante. O bichinho
sai cambaleante e cai morto, de olhos abertos e
com a boca se enchendo de espuma. Depois, ele
reaparece como fantasminha a acompanha
Pinóquio durante toda a série. A cena da morte,
realmente violenta, foi vista no Brasil quando
Pinóquio foi exibido na extinta TV Tupi, durante
toda a década de 1970. Muitos anos depois, no
canal pago Fox Kids, Pinóquio foi exibido com
cópias novas, adaptadas pela Saban
Entertainment e com nova dublagem e nova
trilha sonora. Entre as muitas alterações, a cena
da morte do grilo teve seu desfecho cortado, o
que deixou meio sem sentido ele aparecer como
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fantasma depois. A série foi produzida em 1972
pela Tatsunoko Productions e rendeu 52
episódios.
61) O PEQUENO PRÍNCIPE - UMA ÚNICA
VISITA À TERRA! – As Aventuras do Pequeno
Príncipe foi uma série em animê exibida pelo SBT
no final da década de 1980. Mesmo sem uma
animação de grande qualidade, a série
compensava com histórias muito legais e cheias
de lições de moral. Baseada na obra original de
Antoine de Saint-Exupéry, de 1943, contava a
história do Pequeno Príncipe, um garotinho órfão
que vivia em companhia de sua Rosa, no
pequenino asteroide B612. A cada episódio, ele
agarrava a cauda de um cometa e partia em
direção a diversos planetas, em especial à Terra.
Entretanto, no anime, diferente do romance
original, o Príncipe veio à Terra apenas uma
única vez e decidiu ficar vivendo no nosso
planeta. Aquelas cenas repetidas, do Príncipe
agarrando os cometas, foi uma adaptação da
versão americana, e nos episódios em que ele
dizia estar em outro planeta similar, era na
verdade a Terra. Hoshi no Ôjisama Petit Prince
(título em japonês), foi produzido em 1978, e
contou com 39 episódios (35 exibidos e 4
inéditos). A versão americana teve apenas 26
episódios, todos exibidos no Brasil. A série foi
licenciada em vídeo pela Hotvideo, entre 86/87,
e posteriormente exibida no programa Show
Maravilha, em 1988. Depois, ela voltaria a ser
reprisada em setembro de 1999.
62) DON DRÁCULA, O MENOR SERIADO EM
ANIMÊ! – Oriundo do mangá de Osamu Tezuka,
a série Don Drácula ficou conhecida por ser o
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animê a ser cancelado com o menor número de
episódios exibidos - apenas 4 - na região de
Tokyo, isso em 1982. Algumas províncias
chegaram a ter 7 episódios exibidos, e para
exportação, foram vendidos todos os 8 episódios
produzidos. No início da extinta TV Manchete, a
breve série era exibida diariamente, com
intermináveis reprises dos mesmos 8 capítulos.
Nunca houve uma explicação plausível para o
cancelamento da série. Na única fonte
disponível, a Wikipédia,
consta que foi por causa
da falência da agência
de publicidade que
cuidava do seriado. A
produção teria
começado um ano antes
da estreia, e 21 dos 26
episódios já teriam sido
escritos. E havia uma
boa quantidade de
histórias, já que o
mangá, publicado na
revista semanal Shônen
Champion (da Akita
Shoten) teve três
volumes encadernados.
Em 1988, uma única fita de vídeo foi lançada,
compilando 5 episódios em 90 minutos. Em
2002, todos os 8 episódios foram lançados em
DVD, e em 2007, disponibilizados pelo site
Yahoo! Dôga. Numa declaração do roteirista
Takao Koyama, que escreveu 19 dos 21
episódios encomendados originalmente, a tal
agência andou dando calote, e não havia pago à
TV Tokyo o valor da transmissão referente ao
mês de maio. Sem trabalho, sem receber por
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Don Drácula, com um filho recém-nascido e sem
dinheiro, Koyama acabou indo trabalhar na Toei,
onde ganharia prestígio com as séries Dragon
Ball e Os Cavaleiros do Zodíaco.
63) PATRULHA ESTELAR E O NAVIO
VOADOR – O animê Patrulha Estelar foi um
grande sucesso na época da estreia da extinta
TV Manchete, na década de 1980. O nome foi
adaptado de Star Blazers, título que recebeu nos
EUA o seriado Uchuu Senkan Yamato
(ou ―Encouraçado
Espacial Yamato‖). Na
saga apresentada aqui,
jovens militares vivem
no Cruzador Espacial
Argo, a maior arma
das Forças de Defesa
da Terra contra
invasores espaciais. A
mudança de nome –
comum em adaptações
feitas nos EUA – matou
a ideia original do
autor Leiji Matsumoto.
Com 263 metros de
comprimento e pesando mais de 70 mil
toneladas, o Yamato foi o navio mais importante
da Marinha Imperial Japonesa durante a
Segunda Guerra Mundial, tendo sido afundado
pela aviação estadunidense em 1945. Na
concepção original, o navio era retirado do leito
seco do Oceano Pacífico em 1999 e transformado
em uma poderosa espaçonave que aproveitava a
estrutura de artilharia original. Com as
mudanças feitas na adaptação ocidental, todas
as referências ao navio foram retiradas, seja
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com mudanças no roteiro ou edição de imagens,
já que na primeira temporada da serie,
apareciam imagens do navio em combate contra
os Aliados. Certamente a motivação maior para
a alteração foi o Japão ter sido aliado do nazismo
na Segunda Guerra Mundial.
64) OS OUTROS ―YAMATOS‖ VOADORES – A
ideia de mostrar um renascido Yamato como um
navio voador apareceu em um mangá de 1961
chamado Denkou Ozma, do próprio Matsumoto.
No caso, era uma espaçonave batizada em
homenagem ao antigo navio. No mesmo ano, a
revista de ficção científica Hi no Maru publicou
um conto de Ikki Kajiwara (de Ashita no Joe)
intitulado Shin Senkan Yamato, onde aparecia o
Yamato reconstruído como um navio voador e
com um capitão chamado Okita. Em 1963, a
história ganhou versão em mangá assinada por
Tetsuya Dan para a revista Shonen Gaho.
Quando o animê e mangá de Matsumoto vieram
a público em 1974, Kajiwara acusou um suposto
plágio, mas nada aconteceu.
65) DERROTA NA TV, VITÓRIA NO CINEMA -
O Yamato foi o desenho animado que detonou o
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primeiro "anime boom", e a história é bastante
peculiar. A série de TV original (1974) teve
audiência modesta e seus 26 episódios não
repercutiram muito. Porém, em agosto de 1977,
um compacto da serie foi exibido em cinemas.
Mesmo que a animação em si fosse
tecnicamente limitada, o roteiro épico, os
cenários espaciais e a imponente trilha sonora
pareciam ter nascido para serem apreciados na
tela grande e o sucesso foi enorme, dando início
ao chamado ―Yamato Panic‖. O público
ultrapassou 2,5 milhões de pessoas. Isso
impulsionou a produção de um novo longa, o
Sarabá Uchuu Senkan Yamato ~ Ai no senshi
tachi (ou ―Adeus, Encouraçado Espacial Yamato -
Guerreiros do Amor‖), onde a tripulação
enfrentava o inimigo supremo, o Cometa
Império. Tendo estreado em agosto de 1978,
teve 4,3 milhões de público. Produzido pela Toei
Animation, a obra gerou uma verdadeira febre
pelo país. Mas a febre que começava a tomar
conta do Japão tinha um gosto amargo, pois o
final do longa era trágico, com a morte dos
protagonistas e a destruição da espaçonave, sem
margem para continuação. A opção para os
produtores não matarem sua ―galinha dos ovos
de ouro‖ logo no início foi anunciar que aquela
era uma história alternativa. Assim, meses
depois, estrearia a série Yamato 2, com uma
nova versão da batalha contra o Cometa
Império. Essa foi a versão que conquistou muitos
fãs no Brasil, com o nome de Patrulha Estelar. A
respeito da relativamente baixa audiência da
primeira série no Japão, cerca de 4 a 8%, foi por
causa da concorrência com a série Heidi (―Alps
no Shôjo Heidi‖, ou Heidi - A garota dos Alpes),
exibida no mesmo horário e que fez sucesso
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também no Brasil, ao ser exibida nos anos 1970
durante o programa Silvio Santos, aos
domingos. Sucesso consagrado, Heidi (que tinha
um iniciante Hayao Miyazaki em sua equipe de
criação) estava em seus episódios finais quando
começou o Yamato, não dando muita chance à
nova e ainda desconhecida produção.
66) YAMATO E A BATALHA NOS TRIBUNAIS
- O Yamato foi alvo de uma batalha judicial que
se estendeu por anos. O produtor Yoshinobu
Nishizaki e o mangaká Leiji Matsumoto se
desentenderam sobre os direitos autorais da
série e foram para os tribunais. Veio de Nishizaki
o conceito original de uma série com temática
espacial que utilizasse o famoso navio de guerra
Yamato como base para uma espaçonave em
aventuras épicas. Até a chegada de Matsumoto
ao projeto, outros artistas tentaram em vão
desenvolver o conceito original para algo
funcional. Quando Matsumoto chegou, fez
roteiro, design dos personagens, cenários,
espaçonaves, uniformes, dirigiu a série e até
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mesmo produziu metade dos story-boards
usados como base pelos animadores. E ainda fez
um mangá simultaneamente à série de TV.
Certamente, o Yamato só decolou graças à sua
genialidade. Mas o fato é que os dois sempre
dividiram os créditos de direção ao longo da
saga. Em 1994, Nishizaki promoveu o
lançamento da minissérie para vídeo Yamato
2520, com novos personagens e uma nova
espaçonave, projetada pelo renomado Syd Mead,
o designer estadunidense de Alien - O Oitavo
Passageiro, Blade Runner e Tron. Isso motivou
uma briga com Matsumoto, que processou
Nishizaki por quebra de direitos autorais. Os dois
entraram em desacordo sobre a divisão dos
direitos e iniciaram disputa na justiça para ter
exclusividade sobre a obra. Num primeiro
momento, Matsumoto venceu. Produziu o mangá
Great Yamato, novas animações foram
anunciadas, mas tudo acabou ficando
posteriormente paralisado por ações judiciais.
Nesse meio tempo, Nishizaki foi preso, por
envolvimento com drogas e comércio ilegal de
armas. A situação chegou a final em 2008, com
a vitória de Nishizaki, que logo anunciou a
produção de um novo longa, retomando a
história original. E assim, Yamato Re-Birth
estreou nos cinemas japoneses em 12 de
dezembro de 2009. Não teve grande
repercussão, pois concorreu diretamente com
longas de One Piece (o grande sucesso da
temporada), Kamen Riders e os Ultras. Ainda
assim, mal o filme saiu de cartaz e foi anunciada
uma grandiosa versão live-action, estrelada pelo
famoso ator e cantor da banda Smap, Takuya
Kimura, que estrearia em dezembro de 2010.
Produção badalada e de sucesso, teve direito até