O documento discute o desenvolvimento humano ao longo da vida, definindo o termo e identificando as principais etapas evolutivas e suas características, incluindo a infância, adolescência, idade adulta e terceira idade. Ele também analisa a importância do desenvolvimento motor na criança e como avaliar se ela está progredindo dentro dos padrões esperados.
1. C APÍTULO 1
Desenvolvimento Humano e Períodos
Evolutivos
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes
objetivos de aprendizagem:
33Definir desenvolvimento humano e motor e identificar as principais etapas
evolutivas e suas características (infância, adolescência, idade dulta e
a
terceira idade).
33Analisar a importância do desenvolvimento motor no senvolvimento da
criança e avaliar se ela está se desenvolvendo dentro dos padrões
esperados.
3. Desenvolvimento Humano e
Capítulo 1 Períodos Evolutivos
Contextualização da Disciplina
Este capítulo trata do desenvolvimento humano e as transformações que
ocorrem no decorrer da vida, especialmente na infância. Como capítulo inicial
nos permitrá uma visão geral do desenvolvimento humano, bem como, das
conquistas exibidas pelas crianças, principalmente na mobilidade.
Para tanto, inicialmente, vamos estudar as considerações gerais,
definindo alguns termos que consideramos importantes; depois, as principais
etapas evolutivas e suas características e, finalmente, os marcos referenciais
motores e padrões do desenvolvimento da motricidade fina, cognição, emoção
e desenvolvimento da sexualidade. O conhecimento dos comportamentos
notáveis dessas habilidades em determinadas idades contribui para a
compreensão dos próximos capítulos, para perceber os avanços ou atrasos
das crianças durante o desenvolvimento, como também para o planejamento
de estratégias de intervenções motoras.
Considerações Gerais – Conceitos
O desenvolvimento humano é complexo e encontra-se influenciado por
uma série de fatores, incluindo os aspectos físico, neurológico, psicossocial
e motor. Segundo Papalia e Olds (2000), as mudanças no corpo, no cérebro,
na capacidade sensorial e nas habilidades motoras são todas parte do
desenvolvimento físico e podem influenciar outros aspectos (exemplos: uma
criança que tem perda auditiva corre o risco de ter um atraso na linguagem; em
alguns idosos, mudanças físicas no cérebro provocam deterioração intelectual
e na personalidade; a capacidade de falar depende do desenvolvimento das
estruturas físicas da boca e do cérebro; a ansiedade em relação à uma prova
pode prejudicar o desempenho; o apoio social pode ajudar as pessoas a
enfrentarem os efeitos potencialmente negativos do estresse em saúde física
e mental).
Para facilitar seu entendimento, apresentaremos a seguir, a definição de
desenvolvimento humano, bem como, a definição das áreas envolvidas nesse
processo.
a) Desenvolvimento Humano
O organismo humano tem uma lógica biológica, uma organização, um
calendário maturacional e evolutivo, uma porta aberta para a interação e
estimulação. Desde o momento da concepção, o ser humano passa por
11
4. Desenvolvimento Psicomotor
O ser humano diferentes transformações e períodos evolutivos: pré-natal (embrionário); peri-
passa por diferentes natal (27º semana de gestação - 1ª semana de vida); e pós-natal (neonato,
transformações lactente, pré-escolar, período escolar, puberdade adolescência, adulto e 3ª
e períodos idade). Durante este processo, as possibilidades do indivíduo evolucionam
evolutivos: pré-natal amplamente e chegam a ser cada vez mais variadas, completas e complexas
(embrionário); peri- à medida que avança uma etapa. O processo de desenvolvimento humano
natal (27º semana de
corresponde a um/em um crescimento diferencial, complexo e progressivo,
gestação - 1ª semana
produzindo uma identidade influenciada pelos dons individuais e pelas
de vida); e pós-natal
contingências ambientais. Assim como uma espiral, pressiona em sentido
(neonato, lactente,
pré-escolar, período ascendente durante mais de duas décadas; depois, mantém o nível atingido,
escolar, puberdade durante mais de duas décadas; a seguir, alcança um longo período de declínio
adolescência, adulto e lento; e, por fim, decai mais rapidamente até um ponto em que os principais
3ª idade). órgãos ou sistemas falham e ocorre a morte.
Outros aspectos englobam o desenvolvimento humano:
• Desenvolvimento Físico: mudanças que ocorrem nas estruturas corporais
desde o momento da concepção até a morte, num sentido mais amplo. Estas
mudanças, em diferentes etapas evolutivas, podem ser analisadas por meio
de diversos parâmetros (peso, altura, perímetros, dobras cutâneas, entre
outros.), oferecendo informações preciosas sobre o estado de crescimento
global do organismo e sua adaptação com o meio ambiente.
• Desenvolvimento Neurológico: incremento organizado das funções
neuropsicomotoras cada vez mais complexa. Depende da integridade do
sistema nervoso central, da maturação neurológica (mielinização), dos
aspectos nutricionais e psicossociais.
• Desenvolvimento Psicossocial: condições que o meio exerce sobre
os aspectos: social (família, escola e sociedade); cognitivo (memória,
inteligência e criatividade); e, as emoções (conduta) do ser humano
na estruturação de um comportamento com características próprias
(personalidade).
• Desenvolvimento Motor: representa a aquisição de funções motoras cada
vez mais complexas (correr, pular, equilibrar-se). A integração sucessiva
da motricidade implica na constante e permanente maturação orgânica. O
movimento e seu fim representam uma unidade que vai se aprimorando
cada vez mais, como resultado de uma diferenciação progressiva das
estruturas integrativas do ser humano.
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5. Desenvolvimento Humano e
Capítulo 1 Períodos Evolutivos
Etapas Evolutivas - Períodos da Infância
Para auxiliar na compreensão do processo evolutivo da construção do
sujeito, dividimos o conteúdo sobre desenvolvimento em etapas. Em cada uma
delas, a criança apresenta diferentes capacidades. Esses períodos sucedem-
se uns aos outros formando um todo integrado, indicando que ao final de cada
estágio há a possibilidade de integrar-se ao seguinte. Observe a seguir, os
períodos evolutivos. Lembre-se que esses períodos não devem ser vistos
como períodos fechados, pois é a relação entre eles que dá forma ao equilíbrio
evolutivo da criança.
• Etapa Pré-natal: período embrionário.
• Etapa Peri-natal: 27º semana de gestação até o final da primeira semana
de vida.
• Etapa Pós-natal: caracterizada por diferentes períodos evolutivos que
listamos na sequência:
- Neonatal: tempo necessário para a readaptação do ser ao ambiente
extra-uterino. Tempo de duração de aproximadamente 28 dias.
- Lactente: 29 dias a 24 meses de vida. Aquisição de funções superiores
neurológicas, como por exemplo, a marcha.
- Pré-escolar: aprendizagem escolar, 2 a 7 anos.
- Escolar: amplo período que costuma prolongar-se dos 6 aos 11 anos de
idade.
- Puberdade-Adolescência: culminação do crescimento que vem
determinado pela aquisição da capacidade reprodutiva e do crescimento
físico.
- Adulto: indivíduo atingiu o completo desenvolvimento e chegou à idade
vigorosa, atingiu a maioridade.
- Terceira Idade: período caracterizado pelo envelhecimento biológico e
deterioro social.
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6. Desenvolvimento Psicomotor
Etapas Evolutivas do Desenvolvimento
Humano
a) Pré-Natal
• Fecundação: unificação do óvulo e do esperma.
• Zigoto: divisão celular e implantação do óvulo fecundado.
• Embrionário: surgimento das principais estruturas e órgãos do corpo.
• Fetal: (dois meses para o nascimento) refinamento das estruturas
fisiológicas e suposição de funções biológicas, inclusive mobilidade
reflexiva; ganhos em viabilidade.
b) Primeira Infância
• Nascimento: transição do ambiente extra-uterino efetuado pelo parto.
• Neonatal: adaptação às exigências da vida extra-uterina; ganhos em
equilíbrio corporal.
• Intermediária: ampliação do mundo experiencial por meio da percepção e
mobilidade.
• Posterior: Aquisição da comunicação verbal e consciência dos outros e de
si próprio.
c) Segunda Infância
• Inicial: formação, modificação e refinamento dos traços e atitudes; ganhos
em perícias de comunicação e autonomia; formação de autoconceito.
• Intermediária: interação com as pessoas de fora do lar; frequência à
escola; desempenho de papel.
• Posterior: desenvolvimento de identidade do sexo e relacionamentos
firmes com os pares, mentalidade grupal.
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7. Desenvolvimento Humano e
Capítulo 1 Períodos Evolutivos
d) Adolescência
• Puberdade: maior autoconsciência; maturação corporal e sexual;
reorganização da personalidade.
• Intermediária: desenvolvimento de intensas relações com os pares;
experiência de muitas ambiguidades e conflitos.
• Posterior: preparação para o papel da vida adulta; assunção de maiores
responsabilidades (sociais, econômicas, entre outras).
e) Vida Adulta
• Inicial: formação de padrão de vida adulta; aceitação na sociedade adulta;
casamento e responsabilidades de família; consecução da capacidade
global máxima.
• Intermediária: participação plena na sociedade adulta; desenvolvimento da
família; interesses pela família e progresso vocacional.
• Posterior: declínio gradual nas capacidades físicas; cessão de algumas
responsabilidades; modificação da estrutura familiar (os filhos atingem a
maturidade e deixam o lar); esforços para a manutenção de capacidade
como adulto.
f) Senectude
• Idade avançada: aumento no declínio de poderes físicos e cognitivos;
restrição de interação social; dependência cada vez maior em relação aos
outros; declínio terminal.
• Morte: perda das funções vitais.
O desenvolvimento
da criança é bastante
Etapas Evolutivas e Suas Características complexo e encontra-
se influenciado por
O desenvolvimento da criança é bastante complexo e encontra-se uma série de fatores,
influenciado por uma série de fatores, incluindo os aspectos físicos, cognitivos, incluindo os aspectos
sociais e afetivos que estão entrelaçados no decorrer da vida do indivíduo. físicos, cognitivos,
Conceituar o que venha a ser desenvolvimento é importante para entender sociais e afetivos que
esse processo. Você deve ter compreendido, portanto, que esse é o processo estão entrelaçados no
de mudanças complexas interligadas das quais participam todos os aspectos decorrer da vida do
de crescimento e maturação dos aparelhos e sistemas dos organismos. indivíduo.
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8. Desenvolvimento Psicomotor
Especialmente, durante o período compreendido entre os 6 e os 12 anos,
ocorrem mudanças significativas na vida da criança. Embora as mudanças
físicas ocorridas na idade escolar sejam mais graduais as que ocorrem na fase
pré-escolar, constatam-se avanços em todas as habilidades. Acompanhando
o desenvolvimento de uma criança notaremos grandes mudanças em
seu comportamento, principalmente, na cognição ao aproximar-se da
alfabetização. O início da escolarização constitui uma mudança notável. Nessa
fase, o convívio escolar possibilita a criança constante troca de informações
no aspecto biopsicossocial. Por conseguinte, a experiência da criança na
escola e o próprio contato social, influenciam e são influenciados por todos os
aspectos do seu desenvolvimento – físicos, cognitivos, emocionais e sociais.
Com o decorrer das idades, continuamos a perceber grandes evoluções e
modificações.
Agora, vamos apresentar para você algumas características referentes às
etapas evolutivas.
a) Características da Primeira Infância (0 – 2 ou 3 anos)
• Cuidado dos pais em suprir as necessidades das crianças;
• reconhecimento do próprio corpo e do mundo exterior;
• capacidade de percepção aumenta - ex.: engatinhar;
• novos estímulos e permissão de seu próprio potencial para novas
descobertas, sem que as pessoas criem novas expectativas;
• percepção das cores, odores, gosto, barulho;
• crescimento emocional rápido;
• choro para atrair atenção;
• aborrecimentos no banho, na troca de fralda ou roupa desperta aflição;
• necessidade de afetividade constante;
• desenvolvimento emocional rápido;
• prazer em agarrar as coisas que vê;
• sente-se dependência da mãe – afetividade;
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9. Desenvolvimento Humano e
Capítulo 1 Períodos Evolutivos
• percepção de objetos antes da sua posse;
• dependência dos pais nos cuidados da higiene;
• imitação de palavras – papel importante no desenvolvimento da fala;
• sequências comportamentais simples (tônus muscular), imitações;
• primeiras formas de comunicação – ex.: choro, movimento dos olhos e da
face, chora para atrair a atenção;
• interesse por figuras e histórias;
• comunicação por meio de pequenas frases e sentenças;
• controle esfincteriano;
• curiosidade pelos objetos – “o que é isto?”;
• a criança classifica e separa objetos de diferentes tamanhos.
b) Características da Segunda Infância ( 2 – 7 anos)
• Progresso no controle esfincteriano (Urinário e Intestinal);
• resolução de muitos problemas em brincadeiras do tipo “faz de conta”;
• a segurança emocional é outra necessidade nesta fase;
• a ira, as explosões de temperamento e as experiências de medo, ciúme e
inveja são frequentes durante os primeiros anos da meninice;
• tem-se um progresso na pronúncia, formação de frases e habilidades para
conversar.
• a curiosidade é limitada, desde que haja alguém disposto a propiciar tal
estimulação;
• imitação das condutas dos pais;
• habilidades e perícias sensório-motoras;
• uso da linguagem para identificar objetos e atividades;
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10. Desenvolvimento Psicomotor
• formação do próprio estilo;
• reconhecimento das capacidades e limitações pela variação dos outros;
• aos seis ou sete anos a criança é capaz de entender por analogia a maioria
dos conceitos fundamentais, como a ideia de Deus;
• na idade pré-escolar as atividades grupais se tornam cada vez mais
atrativas;
• a autopercepção surge e caracteriza-se pela resistência persistente aos
pais.
c) Características da Pré-Adolescência ( 7 – 12 anos)
• Formação de conceitos por meio do comportamento das pessoas;
• capacidade de assumir papéis;
• autodefinição mais complexa (conflitos internos);
• identificação com o progenitor do mesmo sexo;
• variação de autoestima (sentimentos estáveis entre 10 a 12 anos);
• importância aos amigos e amizades;
• raciocínio moral e comportamental;
• tipificação e identidade sexual, estes valores estão bem marcados;
• desenvolvimento da empatia;
• comportamento altruístico;
• lazer em tempo mais limitado;
• ocorrem diferenças individuais, autoconceito e autoestima;
• descentralização da família e mais apego aos amigos;
• agressividade (maior nos meninos);
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11. Desenvolvimento Humano e
Capítulo 1 Períodos Evolutivos
• não se aceita bem as rejeições;
• insegurança; vergonha, ridicularização, baixa autoimagem, (preocupação
com a mudança física do corpo).
d) Características da Adolescência (12 anos em diante)
• Estado psicológico perturbador, período de mudança física, sexual,
psicológica e cognitiva;
• início da puberdade;
• mudanças físicas marcantes;
• maturação sexual;
• desenvolvimento do pensamento operacional formal (raciocínio frente a
problemas abstratos e hipóteses; capacidade de julgar muitas variáveis ao
mesmo tempo; raciocínio hipotético-dedutivo: “o que poderia ser”);
• desenvolvimento moral e de valores;
• independência;
• delinquência;
• valores vocacionais e mudança social.
e) Características da Vida Adulta
• Consecução do status do adulto: critérios da maturidade adulta. Disposição
contínua para aprender e agir;
• superação da imaturidade: explosões emocionais;
• definição da pessoa madura: canalizam suas tensões, impulsos e emoções
para comportamento construtivo;
• aquisição de uma vocação: universidade ou escola profissionalizante;
• seleção de um parceiro: as parcerias e romances que conduzem ao amor e
ao casamento aumentam e atingem seu pico no início da vida adulta;
• tarefas do desenvolvimento da vida adulta: as tarefas incluem
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12. Desenvolvimento Psicomotor
interdependências emocionais, sociais e econômicas, juntamente com o
casamento, paternidade e estabelecimento do lar;
• estágio intermediário da vida adulta: o aumento da expectativa de vida e a
diminuição das horas de trabalho dá oportunidade crescente às atividades
escolhidas e crescimento da personalidade;
• saúde e atividade: aparecimento de tendências metabólicas indesejáveis;
• reavaliação do autoconceito: aumenta a reflexão;
• consolidação sócio-econômica: evidência externa do sucesso.
f) Características da Terceira Idade
• Expectativa de vida maior nas mulheres (mais mulheres do que homens);
• queda na capacidade de adaptação social e psíquica, incapacidade de
administrar situações negativas;
• queda de adaptação social, dificuldades de mudar de ambiente;
• a família muitas vezes não assume mais a responsabilidade de cuidar de
seus idosos;
• sensação de inutilidade e desvalorização pessoal com a aposentadoria
arbitrária;
• tendência depressiva com a conscientização das perdas funcionais e
sociais;
• a autoestima e a autoimagem passam a ter uma característica negativa;
• declínio biológico (visão, audição, coordenação motora e alterações
metabólicas), trazendo mudanças na personalidade;
• na atividade profissional (perda de eficiência, cansaço); efeitos negativos
do tempo ocioso;
• o sucesso na preservação da integridade da personalidade mostra
diferenças individuais relacionadas ao desenvolvimento anterior da
personalidade; progressos médicos, melhorias econômicas e sociais
podem trazer expectativas benéfica para essa etapa da vida (qualitativa e
quantitativa).
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13. Desenvolvimento Humano e
Capítulo 1 Períodos Evolutivos
Padrões de Desenvolvimento: Marcos
Referenciais Motores Marco referencial
motor é uma
Um marco referencial motor é uma habilidade motora fundamental cujo
habilidade motora
alcance está associado à aquisição de movimentos voluntários posteriores.
fundamental cujo
A ordem na qual um bebê atinge esses marcos referenciais é relativamente alcance está
consistente, ainda que o tempo difira entre os indivíduos (HAYWOOD; associado à aquisição
GETCHELL, 2004). de movimentos
voluntários posteriores.
Cada habilidade está associada a um marco referencial precedente. Esse
padrão progressivo de aquisição de habilidades pode estar relacionado a
alterações imprevisíveis que ocorrem nas restrições individuais de bebês com
desenvolvimento típico. Dentre essas alterações, Haydwood e Getchell (2004)
citam a maturação do sistema nervoso central; o desenvolvimento da força e
da resistência musculares; a postura e o equilíbrio e a melhoria do processo
sensorial. A criança, por exemplo, que apresenta um desenvolvimento ósseo
mais lento, também caminhará mais tarde e terá uma puberdade mais tardia,
porém, há exceções a essa generalização (BEE, 2003).
Lembre-se de que para um bebê demonstrar certa habilidade, deverá
estar maduro em outras habilidades anteriores fundamentais para a próxima
aquisição (ex.: um bebê deve ter força suficiente em seu pescoço e em seus
ombros para elevar sua cabeça enquanto está deitado em decúbito ventral).
O ritmo desse desenvolvimento, portanto, difere entre as crianças. Você As habilidades
verá nas próximas tabelas que descrevemos os padrões de desenvolvimento motoras amplas se
das habilidades motoras amplas (engatinhar, pular, correr...) e das desenvolvem mais
habilidades de manipulação, chamadas habilidades motoras finas (agarrar cedo, e as finas, mais
objetos). Essas estão presentes, de alguma forma, em todas as idades, tarde.
mas, como regra geral, as habilidades motoras amplas se desenvolvem
mais cedo, e as finas, mais tarde. Assim, uma criança de seis anos é capaz
de correr bem, pular, saltar; porém, as crianças dessa idade ainda não são
hábeis quando usam um lápis ou cortam papel com uma tesoura. Nos anos
do ensino fundamental, as habilidades motoras finas melhoram com rapidez,
possibilitando que a maioria das crianças, não só escreva com mais clareza e
facilidade, mas também, faça desenhos e desenvolva capacidades esportivas
que requerem coordenação motora fina (BEE, 2003).
O controle motor
do corpo inicia-se
Você também poderá observar nas tabelas que seguem que o
na cabeça e no
desenvolvimento motor segue as leis céfalo-caudal (da cabeça aos pés) e
pescoço e procede
próximo-distal (do centro às extremidades). Isso significa que o controle motor
gradativamente para
do corpo inicia-se na cabeça e no pescoço e procede gradativamente para o o tronco e para as
tronco e para as pernas! Observe isso nessa primeira tabela! pernas!
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14. Desenvolvimento Psicomotor
Tabela 1 – Padrões normais: desenvolvimento motor
IDADE
CONDUTAS OBSERVÁVEIS
PROVÁVEL
Em decúbito ventral levanta a cabeça do
2-3 meses plano da mesa. Gira a cabeça em direção ao
objeto.
3-4 meses Sustentação cefálica completa.
6-7 meses Mantém-se sentado com apoio.
9-10 meses Engatinha.
10-11 meses Fica de pé com apoio.
Fica de pé sem apoio. Dá primeiros passos
11-13 meses
com ou sem apoio.
Sobe escada engatinhando. Anda com
18 meses
segurança; chuta uma bola.
24 meses Corre. Sobe e desce escada com apoio.
Sobe e desce escada sem apoio. Pula sobre
3 anos
uma corda com os dois pés.
Dá vários saltos no mesmo lugar. Desce e
4 anos
sobe escada com mais segurança.
Salta obstáculos. Joga Amarelinha. Equilíbrio
5 anos
na ponta dos pés.
Transtornos na coordenação; hiperatividade; dificuldades na
Desvios -
aprendizagem; paresias; paralisias ou plegias; hipotonias;
Área Motora
hipertonias.
Fonte: Rosa Neto (1996).
• Hiperatividade: estado crônico de impulsividade psicomotora;
comportamento impulsivo, falta de atenção.
• Hipertonia: aumento do tônus muscular.
• Hipotonia: diminuição ou perda do tônus muscular que produz menor
resistência a mobilização passiva.
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15. Desenvolvimento Humano e
Capítulo 1 Períodos Evolutivos
• Paralisia: perda ou diminuição da função motora voluntária ou involuntária
de um músculo ou de um grupo de músculo (ROSA NETO, 2002).
Tabela 2 – Padrões normais: motricidade fina (grafismo)
ETAPAS CONDUTAS OBSERVÁVEIS
Rabisco (garatuja sem intencionalidade).
1a Etapa Utiliza o lápis de cera com pressão (12 a 24
meses).
Garatuja com intencionalidade aparecendo
o traço circular. Preensão Digital. Rabisca e
2a Etapa
define os rabiscos. Faz o traço vertical por
imitação (24 a 36 meses).
Girino. Desenha com formas precárias e
figuras soltas. Faz a cruz por imitação, o
3a Etapa
circulo aberto. Figura humana como Girino (3
a 4 anos).
Desenho. Desenha conjunto lógico. Faz o
cículo fechado. Figura humana com cabeça,
4a Etapa
corpo e membros. Pinta com qualquer cor (4
a 5 anos).
Desenhos mais estruturados. Desenha
formas geométricas com ângulo (retângulo,
5a Etapa etc). Pinta com mais realidade. Figura
humana com mais detalhes. Faz cópia do
nome e de desenhos (5 a 6 anos).
Acima de 6 anos estrutura ainda mais o
desenho e os detalhes da figura humana.
6a Etapa
Memoriza o formato e representação de
letras e sílabas.
Desvios-
Disgrafia, Sincinesias.
Grafismo
Fonte: Rosa Neto (1996).
• Disgrafia: distúrbio na escrita em que se observam substituições, omissões
ou inversões de letras ou de sílabas, assim como funções de palavras
(ROSA NETO, 2002).
23
16. Desenvolvimento Psicomotor
• Sincinesia: perturbação da execução de um gesto voluntário acompanhada
da execução de outro gesto não controlado pelo sujeito (ROSA NETO,
2002).
Tabela 3 – Padrões normais: linguagem
IDADE
CONDUTAS OBSERVÁVEIS
PROVÁVEL
Chora em diferentes situações: prazer, fome,
0 a 2 meses
desconforto, irritabilidade, etc.
Resposta vocal/social com gorjeios. Choro
articulado. Gargalhada quando estimulado.
2 a 6 meses
Balbucio (inclui sons de consoante e vogal =
dadadadadadaa).
Entonações, ritmos e sons diferentes-
6 a 9 meses
Ecolalia.
9 a 12 Diz primeiras palavras com significado.
meses Atende pelo nome. Primeiras Palavras.
12 a 18 Jargão. Nomeia desenhos. Sons Au-Au, tata,
meses Onomatopéicos. Frases Agramaticais. Burrumm
Frases de 2 ou 3 palavras. Compreende
ordens simples. Melhora a dicção.
24 meses Tenho fome
Vocabulário de 200 palavras. Frases
Gramaticais.
Orações. Responde a perguntas simples.
Usa plural. Frases de 3 ou 4 palavras. Paulo joga
3 anos
Gagueira Fisiológica. Dislalias de troca e bola
supressão.
Maria foi
Usa conjugações e compreende preposições
comprar
4 – 5 anos (atrás, embaixo, em cima, etc.). Frase de 4
pastéis para
ou 5 palavras. Perturbações fonológicas.
mamãe
Desvios –
Disartria; dislalias; gagueira.
Linguagem
Fonte: Rosa Neto (1996).
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17. Desenvolvimento Humano e
Capítulo 1 Períodos Evolutivos
• Disartria: distúrbio na coordenação motora da fala por lesão do sistema
nervoso central (ROSA NETO, 2002).
• Dislalia: distúrbio da pronúncia das palavras, podendo ser de troca ou
supressão.
• Gagueira: transtorno da linguagem falada, caracterizada por uma
dificuldade na fluência de sons ou de palavras (ROSA NETO, 2002).
Tabela 4 - Padrões normais: desenvolvimento cognitivo
IDADE
CONDUTAS OBSERVÁVEIS
PROVÁVEL
2 meses Segue objeto dentro do campo visual.
Olha e brinca com as mãos. Agita-se com
3 meses
familiares.
Agarra objetos na linha de visão. Retira
4 meses
pano do rosto. Repete espetáculos.
6 meses Imita certos gestos. Procura objeto fora da linha de visão.
Procura e descobre objetos parcialmente
8 meses
escolhidos. Brinca de esconde-esconde.
Atira objetos para ver a trajetória. Bate
10 meses objetos contra outros. Compreende ordem
simples (Dá, dá...).
Coloca objeto dentro de outro. Retira
objetos de um recipiente. Atende pelo nome.
12 meses
Noção de causa x efeito. Resolve problemas
simples.
2 anos Imita linha circular. Faz rabiscos.
3 anos Imita cruz. Faz traço vertical.
Desenha figura humana. Nomeia membros da família. Fecha
4 anos
círculo.
5 anos Conta até dez (10). Desenha figuras com ângulo.
Desvios
- Área Deficiência mental; dificuldade de aprendizagem.
Cognitiva
Fonte: Rosa Neto (1996).
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18. Desenvolvimento Psicomotor
• Deficiência mental: limitação na capacidade de intelectual para solucionar
problemas, em caráter permanente, mas não irreversível, devido a dano
anatômico ou funcional de origem neurológica ou psicossocial, ocorrido na
etapa de desenvolvimento critico do SNC (ROSA NETO, 2002).
Tabela 5 – Padrões normais: desenvolvimento emocional
IDADE
CONDUTAS OBSERVÁVEIS
PROVÁVEL
2 - 4 meses Sorriso social com resposta vocal social.
6 -10 meses Estranha as pessoas não familiares.
Compreensão de limites/NÃO. Identifica-se
10 -18 meses
(atende pelo NOME).
18 m – 2 anos Hiperatividade e impulsividade
3 – 4 anos Cooperação nas tarefas e brinquedos
Etapa da Gentileza e Franqueza. Condutas Bipolares (Ódio
5 - 6 anos x Amor). Etapa dos Por quês?
É capaz de fazer uma Autocrítica.
Desvios
– Área Transtornos de Conduta; Neuroses; Psicoses.
Emocional
Fonte: Rosa Neto (1996).
• Neurose: transtorno psíquico ou mental que não é acompanhado
de nenhuma mudança estrutural ou orgânica, mas que provoca uma
desorganização da personalidade ou da função mental (ROSA NETO,
2002).
• Psicose: estado anormal de funcionamento psíquico.
• Transtorno de conduta: padrão repetitivo e persistente de conduta anti-
social agressiva ou desafiadora.
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19. Desenvolvimento Humano e
Capítulo 1 Períodos Evolutivos
Tabela 6 – Padrões normais: sexualidade
ETAPAS CONDUTAS OBSERVÁVEIS
Período gestacional – descoberta do sexo
1a Etapa do bebê, reforço da identidade do filho ou da
filha (escolha da roupa, etc.).
1º ano – o bebê chupa o dedo, se acaricia
2a Etapa e descobre seus genitais (banho, troca da
fralda, etc.).
2 e 3 anos – demonstra interesse pela
3a Etapa sexualidade, diferenças de sexo, identidade
sexual.
6 e 7 anos – compreende temas como
reprodução, ejaculação e ciclo menstrual,
4a Etapa
de acordo com as informações do meio
ambiente.
Até os 9 anos – Modelos familiares e
escolares aparecem. Preconceitos,
5a Etapa
advertências, repreensão, etc., sobre a
sexualidade.
9 e 11 anos – Atração peso sexo oposto,
alterações hormonais. Inibição sexual
6ª Etapa
(vergonha do próprio corpo e aceitação de
suas modificações).
13 a 15 anos – Interesse pela relação sexual
7ª Etapa
(ato sexual, gravidez precoce, etc.).
Fonte: Rosa Neto (1996).
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20. Desenvolvimento Psicomotor
Atividade de estudo
1) O que significa “marco referencial motor”? Dê exemplos:
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2) Cite alguns fatores que podem estar associados às variações no ritmo de
desenvolvimento motor das crianças. Explique por que isso pode ocorrer:
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TERMINOLOGIA BÁSICA
• Aprendizagem: processo de integração neuro-sensorial das experiências
vivenciadas pelo ser humano durante seu desenvolvimento.
• Conduta: qualquer ação sucedida e observável do organismo (expressão
verbal, postural, etc.)
• Consciência: estado que permite ao indivíduo o desenvolvimento de uma
conduta de interação com o mundo externo e o reconhecimento do próprio
“EU”.
• Criatividade: função inventiva de imaginação criadora, dissociada da
inteligência.
• Desenvolvimento: expressa função. Responsável pelos fenômenos que
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21. Desenvolvimento Humano e
Capítulo 1 Períodos Evolutivos
indicam a diferenciação progressiva dos órgãos e suas especializações.
• Estímulo: agente interno ou externo que provoca uma ação determinada
como resposta.
• Maturação: refere-se ao nível de aquisição física e psiconeurosensorial,
que num determinado momento alcança um órgão ou sistema em
desenvolvimento.
• Memória: capacidade de evocar respostas aprendidas previamente.
• Plasticidade: mudanças produzidas no sistema nervoso como resultado da
experiência (aprendizagem), lesões ou processos degenerativos.
• Prontidão: expressa função. Período adequado para realizar um estímulo.
Marcha (10-15 meses).
• Saúde: estado de bem estar físico, psíquico e social, (Organização
Mundial da Saúde – OMS).
FATORES QUE REGULAM A SAÚDE
• Genética: efeito irredutível.
• Meio ambiente: familiar, social, cultural, físico, outros.
• Conduta do indivíduo: fatores emocionais, comportamentais, etc.
• Assistência médica: seguro saúde, outros.
• Qualidade de vida: Alimentação, hábitos de vida diária, exercício físico,
etc.
INDICADORES POSITIVOS DE SAÚDE
• Meio ambiente: prevalência de lactescência materna; calendário de
vacinas; frequência de consultas.
• Observação e avaliação: crescimento fetal; crescimento pós-natal e
nutricional; desenvolvimento psicossocial, neurológico, físico e motor.
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22. Desenvolvimento Psicomotor
INDICADORES NEGATIVOS DE SAÚDE
• Morbidade: indicadores como atraso no desenvolvimento neuropsicomotor;
alterações congênitas; permanência de doenças existentes ao nascer;
infecções respiratórias; acidentes domiciliares; câncer.
• Mortalidade: mortalidade peri-natal; neonatal; mortalidade infantil (nº de
falecidos no primeiro ano de vida por cada mil nascidos vivos.)
Algumas Considerações
A essência desse capítulo foi observar como os movimentos e os
Os marcos referenciais
motores do bebê comportamentos se modificam ao longo da vida e determinar por que eles se
podem oferecer dicas modificam. Em relação ao aspecto motor, os movimentos amplos se tornam
aos profissionais sobre aos poucos mais sofisticados no decurso da primeira e da segunda infância.
a saúde neurológica, É essencial entender o desenvolvimento típico na área motora, emocional e
facilitando o acesso cognitiva, de maneira que um possível desvio de um padrão “esperado” seja
a uma intervenção evidente. Os marcos referenciais motores do bebê podem oferecer dicas
neuropsicomotora aos profissionais sobre a saúde neurológica, facilitando o acesso a uma
precoce, se necessária intervenção neuropsicomotora precoce, se necessária for.
for.
Referências Bibliográficas
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HAYWOOD, K.M.; GETCHELL, N. Desenvolvimento motor ao longo da
vida. Porto Alegre: Artmed, 2004.
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Bueno. 7.ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.
ROSA NETO, F. Valoración del desarrollo motor y su correlación con
los trastornos del aprendizaje. Zaragoza, 1996. 346p. Tesis Doctorado
(Universidad de Zaragoza) Espana, 1996.
ROSA NETO, F. Manual de Avaliação Motora. Porto Alegre: Artmed, 2002.
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