Um Trabalho de Pesquisa e Conhecimento na Escola - Nosso trabalho acontece no encantamento da turma em perceber espaços de brincar. A construção de seres observadores e cuidadores destes espaços aflora a cada dia, a cada encontro no assombro de jovens conscientes pesquisadores e cuidadores de seus espaços....Essa é a turma do 2º ano.
Projeto do 2º ano "Observadores e Cuidadores dos Espaços de Brincar"
1. Observadores e Cuidadores
dos Espaços de Brincar
Espaços públicos oferecidos às crianças de Campinas com breve olhar
de sua região metropolitana - seus cuidados, vegetação e preservação.
EEI “Padre Avelino Canazza”
Renata Siqueira
Turma do 2º ano A
2. Este trabalho aconteceu e acontece dentro de um diálogo
constante da turma de alunos frente ao tema abordado e, se
a princípio, contou apenas comigo na posição de
debatedora frente às questões levantadas pelo grupo, com a
continuidade do processo, as discussões foram abrindo
espaço e passaram a envolver vários outros interlocutores. A
proposta tem por objetivo discutir, refletir e entender
diferentes aspectos inerentes aos espaços públicos de brincar
oferecidos às crianças que moram no entorno de nossa
escola e também verificar o acesso que a nossa turma tem a
estes e outros espaços existentes em nossa cidade ou região
metropolitana.
O desafio da experiência é desenvolver nas crianças um olhar
diferenciado, critico e investigativo frente a diversas situações,
um olhar observador e, ao mesmo tempo, cuidador destes
espaços de brincar. Pensamos, discutimos, escrevemos e
desenhamos individualmente um espaço de brincar ideal,
fazendo assim um exercício de aprimoramento do olhar.
Seguimos o trabalho com vários relatos escritos e ilustrados de
diversos espaços encontrados e o preenchimento de alguns
questionários. Para fechar este momento fizemos um
comparativo dos espaços públicos de brincar encontrados no
bairro da escola em relação a dois importantes e tradicionais
parques da cidade: o Parque das Águas e o Parque Botânico.
Observadores e Cuidadores
dos Espaços de Brincar
RESUMO
3. O meu lamento, que fique registrado, está no curto tempo
que tivemos para desenvolver tal projeto. Mas, mesmo assim,
esse curto tempo se mostrou rico e mesmo precioso, capaz de
nos proporcionar momentos de puro encantamento, quando
na sala de informática se ouvia gritinhos eufóricos cada vez
que alguém encontrava um parque no vídeo ou encontrava
a foto de sua casa ao aprender a usar o Google Maps.
Encantamento que se renovava nos olhares e perguntas
curiosas quando manipulávamos ou víamos na internet o
exemplar GeoAtlas e ainda nas belas e produtivas reflexões
feitas enquanto fazíamos a caminhada de observação no
entorno da escola. Este é um trabalho que tem a pretensão
de não ter um fim já que se trata do SER e para este o
movimento é continuo de atenção, provocação e cuidados!
RESUMO
Observadores e Cuidadores
dos Espaços de Brincar
4. Neste “território sagrado da infância”, os sensores que
utilizamos para encontrar o tema deste projeto surgiram a
partir de uma ação coletiva, cujo objetivo principal foi abrir
espaço para uma escuta atenta e capaz de propiciar a
sensação e percepção clara de onde estava o olhar mais
luminoso de cada criança.
Além da escolha do tema a ser investigado, a
problematização foi ampliada para despertar entre as
crianças um olhar observador, que estivesse além de uma
percepção pré-estabelecida, garantindo ou ao menos
provocando o início de uma experiência diferenciada, capaz
de aguçar o sentido das observações do possível e, por vezes,
ainda não vivido, pois como afirma Mello,
“sob a alienação que atinge a vida do homem a partir da
alienação do trabalho, o sujeito alienado passa a utilizar-se da
lógica adequada à esfera da vida cotidiana como se fosse a
lógica adequada para pensar as outras esferas da vida. Isso
acontece porque, ao estar alienado, o homem não chega a
perceber as diferentes esferas da atividade humana, e, por
isso, trata todo o mundo das objetivações humanas com a
lógica própria do pensar e agir cotidianos. (Mello, 2000, p.65)”
Observadores e Cuidadores
dos Espaços de Brincar
Introdução
5. De nada se justificaria entrar em uma experiência de pesquisa em que a descoberta do novo e a
própria construção do conhecimento estivessem à priori comprometidos com a mesmice de um olhar
conservador. A educação transformadora exige mais, como sempre destacou Paulo Freire:
“Ora, uma educação só é verdadeiramente humanista se, ao invés de reforçar os mitos com os quais
se pretende manter o homem desumanizado, esforça-se no sentido da desocultação da realidade.
Desocultação na qual o homem existencialize sua real vocação: a de transformar a realidade. Se, ao
contrário, a educação enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptação do homem à
realidade, não pode esconder seu caráter desumanizador.” Paulo Freire (1967), em uma de suas
palestras, no Chile.
Diante desta aventura, fomos à busca de um tema que pudesse ser o norte do nosso projeto. Em uma
atividade do grupo de alunos participantes (chamada de Roda de Conversa), encontramos nas
páginas 60 e 61 do GeoAtlas, junto com a apresentação histórica da cidade, uma foto da Lagoa do
Taquaral e o Lago do Café, que nos levou a um assunto que rapidamente tomou conta da sala e
nele colocamos os nossos olhares: o brincar!
“Toda apropriação pressupõe apropriação da cultura, de uma cultura compartilhada por toda
sociedade ou parte dela. A impregnação cultural, ou seja, o mecanismo pela qual a criança dispõe
de elementos dessa cultura passa, entre outras coisas, pela confrontação com imagens, com
representações, com formas diversas e variadas. Essas imagens traduzem a realidade que a cerca ou
propõe universos imaginários.” (Brougère, 2006, p.40)
Observadores e Cuidadores
dos Espaços de Brincar
Introdução
6. No decorrer da conversa, as crianças foram desafiadas a encontrar
nos mapas existentes no GeoAtlas, aqueles locais da cidade de
Campinas e também de outros municípios da região, onde o brincar
era possível. Nesse processo, ao buscarmos identificar parques e
outros lugares públicos de lazer acessíveis à população e,
particularmente, às crianças, pudemos constatar uma significativa
carência de alternativas.
Essa conversa mobilizou ainda mais o grupo quando, na hora do
lanche, ao passarmos pelo corredor que liga nossa sala de aula ao
refeitório, nos deparamos com uma exposição de fotografias
realizada pelos alunos do 5º ano. Uma foto em especial chamou a
atenção do grupo. Ela apresentava uma grande área existente ao
lado da escola, na qual a maioria crianças habitualmente brinca, mas
que se encontra em estado de abandono, sem nenhum cuidado
com a vegetação e necessitando de urgentes melhorias.
Em consonância com o sentimento dos alunos diante da foto exposta,
surgiram diversos relatos sobre outras situações similares:
• “Meu primo foi em um parque e o pedaço de um brinquedo caiu
bem na cabeça dele. Ele foi na nossa casa com a cabeça cheia
de curativos!”. – Relato da aluna Vitoria, 07 anos.
• “Eu brincava aqui do lado, mas não tem nada, não tem árvore,
grama...” Relato do aluno Felipe, 07 anos.
Observadores e Cuidadores
dos Espaços de Brincar
Introdução
7. Observadores e Cuidadores
dos Espaços de Brincar
É sabido que o brincar é parte importante na formação das crianças. Contudo, em nossas
rodas de conversa, realizadas com os alunos no decorrer de todo o processo, ficou claro
que não é em toda parte que estes espaços são pensados como prioridade ou de real
interesse para os gestores públicos. A frase “Einstein falava que brincar é a forma mais
plena de se fazer ciência”, presente no documentário “Tarja Branca – A revolução que
faltava”, dirigido pelo cineasta Cacau Rodhen, explicita com muita simplicidade e
clareza, a importância do brincar na construção do conhecimento. Afinal, é brincando
que a criança se permite explorar suas observações até as últimas consequências,
colocando em prática seu estar no mundo com um misto de mundo paralelo, que lhe
propicia sentir-se em um espaço de liberdade e libertação, onde o sonho vem fácil, lhe
permitindo reinventar e transformar o que já veio imposto.
“A brincadeira é uma linguagem infantil que mantém um vínculo essencial com aquilo
que é o “não brincar”. Se a brincadeira é uma ação que ocorre no plano da imaginação
isto implica que aquele que brinca tenha o domínio da linguagem simbólica. Isto quer
dizer que é preciso ter consciência da diferença existente entre a brincadeira e a
realidade imediata que lhe forneceu conteúdo para realizar-se. Nesse sentido, para
brincar é preciso apropriar-se de elementos da realidade imediata de tal forma a atribuir-
lhes novos significados. Essa peculiaridade da brincadeira ocorre por meio da articulação
entre a imaginação e a imitação da realidade. Toda brincadeira é uma imitação
transformada, no plano das emoções e das ideias, de uma realidade anteriormente
vivenciada. (RCNEI,1998, vol.1, p.27)
Introdução
8. Diante dessa constatação definimos o foco do nosso projeto: formar o Grupo de
Observadores e Cuidadores dos Espaços de Brincar. A proposta tem como objetivo
realizar um trabalho de observação dos espaços de lazer e sua vegetação nos
parques existentes no entorno da escola e também em outros ambientes públicos da
cidade e Região Metropolitana. Além disso verificar a facilidade de acesso destes,
para que as crianças possam frequentá-los.
Os objetivos se estendem em: desenvolver entre os educandos um olhar diferenciado;
fortalecer a capacidade de análise e crítica frente a diferentes situações; identificar e
classificar os objetos da pesquisa de acordo com os parâmetros estabelecidos.
Dentro dessa proposta, nossos observadores puderam verificar, por exemplo, a
estrutura e condições de uso dos espaços, bem como preservação da natureza,
propiciando uma reflexão sobre os espaços preservados e os que sofreram
intervenção humana e ainda atividades disponíveis para os usuários nesses espaços. A
atividade permite ainda reconhecer a importância de algumas formas de registro a
serem utilizadas, entre as quais: fotografias, desenhos, relatos escritos e orais,
questionários e entrevistas, além de experienciar consultas de pesquisa no
GeoAtlas, sites especializados na internet e em jornais e revistas.
Introdução
Observadores e Cuidadores
dos Espaços de Brincar
9. DESENVOLVIMENTO / METODOLOGIA
A pesquisa consiste em coleta de dados a partir de diferentes
fontes, dentro as quais podemos destacar o exemplar GeoAtlas,
sites especializados, revistas, passeios e ainda entrevistas com
familiares e usuários dos espaços públicos de brincar existentes
no entorno da escola. Esse trabalho foi complementado com a
realização de um comparativo com outros espaços existentes
na cidade de Campinas.
A partir da apropriação destes diferentes conteúdos foram
produzidos relatos individuais e coletivos que se fizeram
importantes também para exercitar a capacidade crítica da
turma, Para isso, participaram de grupos de discussão e
reflexão, que propiciaram uma ampliação do entendimento
desta prática de observação. Um processo que abre a
possibilidade de reconhecer seu pertencimento e
responsabilidade social e ecológica. Junto com isso, o direito de
ter e estar nestes espaços bem estruturados e cuidados pelos
órgãos públicos, comunidade e pelos próprios alunos,
ampliando sua atuação como sujeitos criativos, que participam
e fazem a história.
Ações
Observadores e Cuidadores
dos Espaços de Brincar
10. Desenvolvimento do trabalho
Maio - 2015:
Primeiro acesso no site do curso,
Tempo de apropriação do universo do curso, suas propostas e desafios
Com várias leituras de textos e vídeos oferecidos pelo curso, começo a contextualizar a ideia em sala de aula.
Junho e Julho - 2015
Norteados pelo único exemplar do GeoAtlas, os alunos puderam abordar muitos assuntos na roda da conversa. Nesse processo de manipulação
da publicação, por vezes realizado de forma individual e em outros momentos de forma coletiva, as crianças terminaram por se apropriar de seu
conteúdo, em uma dinâmica que contribuiu para dar corpo, cor e graça ao nascimento do projeto, tendo como protagonistas, os alunos do
segundo ano da escola integral “Padre Avelino Canazza”.
Foi neste processo de discussão e manipulação de materiais, em que os alunos ressaltaram a importância dos espaços de brincar suas belezas e
dificuldades cotidianas, que definimos o tema de pesquisa: “Observadores e Cuidadores dos Espaços de Brincar - Espaços públicos oferecidos às
crianças de Campinas com breve olhar de sua região metropolitana - seus cuidados, vegetação e preservação”.
Propus aos alunos algumas descrições do olhar, do foco, fazendo listas dos aspectos mais relevantes do trabalho de observação (orais e escritas)
e escrevendo redações individuais sobre “O meu espaço de brincar ideal”.
Concomitante, analisamos juntos uma breve apresentação dos conceitos básicos que devem estar presentes em um trabalho de pesquisa.
Observamos os espaços de brincar na escola, discutimos em assembleia sobre um brinquedo quebrado no parque e, desta discussão,
produzimos uma carta de solicitação para a direção, no sentido que viessem até a nossa sala e conversassem com a turma sobre o conserto do
mesmo. A diretora e vice-diretora foram até a sala e assim discutimos o assunto e combinamos ações.
Observadores e Cuidadores
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Ações
11. Observadores e Cuidadores
dos Espaços de Brincar
Ações
Agosto - 2015
Realizamos entrevistas com pais e outros parentes e conhecidos sobre locais utilizados como espaços de lazer.
Tornou-se hábito em sala de aula transformar em relato escrito ou ilustrações, as observações feitas acerca de espaços de
brincar em diferentes lugares de passeio (organizados na escola ou não), como no zoológico de Americana.
Tivemos acesso a sala de informática da escola. Contudo, nosso planejamento previa que esse acesso tivesse ocorrido
antes, mas fomos impossibilitados, pois não tínhamos internet para esses computadores.
Identificamos possíveis espaços para visitas do grupo, como o Parque das Águas e o Parque Botânico e também espaços
para pesquisa via internet através de ferramentas como o Google Maps.
Organizamos visitas aos espaços selecionados como o entorno da escola e também Parque das Águas e Parque Botânico.
Realizamos coleta de dados/informações durante a visita/ observação de fotos e vídeos.
Assistimos alguns vídeos nos concentrando e discutindo os espaços de brincar.
Envolvemos ainda mais as famílias dos alunos pesquisadores neste projeto, através de trabalhos reflexivos (produção de
ilustrações, escrita de poemas e aplicação de questionários) realizados junto com os alunos.
Produzimos ainda relatos escritos e orais; sessões de fotografia, desenhos e outras formas de expressão.
Setembro – 2015
• Passeio de observação, reflexão e discussão no Parque das Águas.
Vejamos a seguir três trabalhos produzidos durante esse processo:
12. O MEU PARQUE IDEAL
Meu parque ideal é muito legal
Me divirto mais do que o normal
Ele deveria ser real.
No meu parque curto a
Gangorra e com a minha bicicleta
ando numa boa.
Felipe e Érica (mãe)
MAIS ESPAÇO PARA BRINCAR
Precisamos de mais espaço
Para que possamos brincar
Um parque bem organizado
Para a criança se alegrar
Brincar é coisa séria
E precisamos encontrar
Uma praça bem cuidada
Para a criança brincar
Késya e Katia (mãe)
Na rua onde eu moro
Não tem espaço de brincar
Quando eu olho pela janela
Me dá vontade de voar
Luiz, Renata (irmã) e Ygor (cunhado)
Observadores e Cuidadores
dos Espaços de Brincar
Ações
13. Este trabalho de pesquisa deu inicio a uma série de assombramentos, desde a descoberta de seu tema ou
até antes, quando o exemplar GeoAtlas circulava entre as mãozinhas e olhares curiosos e ávidos por
conhecerem ainda mais o mundo em que vivem. Definir o tema junto com as crianças produziu entre a
turma uma energia de envolvimento tal, que lhes garantiu o papel de protagonistas deste conhecimento.
“Crianças são cidadãs, pessoas detentoras de direitos que produzem culturas e são nela produzidas”. “... são
sujeitos sociais e históricos, marcadas, portanto, pelas contradições das sociedades em que estão inseridas”.
(Kramer, 2007). Reconhece-las assim e percebendo-nos inseridos em uma sociedade onde a prioridade é a
obtenção de lucros e o brincar é taxado como pura perda de tempo, no mínimo é desafiador discutir sobre
os espaços de brincar.
Junto com o desafio do tema encontramos alguns destemperos como: a internet da sala de informática da
escola só ficou disponível para uso no mês de agosto; só havia um exemplar do GeoAtlas e, além disso, a
dificuldade em agendar o ônibus para visita ao Parque das Águas. Mesmo assim, neste trabalho de
pesquisa conseguimos obter algumas constatações importantes que elencamos a seguir: a grande maioria
da turma não frequenta os espaços públicos de brincar do bairro por vários motivos, como a falta de
segurança, cuidados de manutenção, limpeza ou por estar em obras com finalização em tempo
desconhecido pelos usuários. Esse grupo pouco frequenta outros locais públicos de brincar e passa o seu
tempo de lazer assistindo televisão, brincando dentro de casa, por vezes sozinhos e, como relata um dos
alunos, “com o quarto fechado”.
Dentro de umas das assembleias, quando se falava sobre o comparativo do Parque das Águas, o Parque
Botânico e os espaços públicos oferecidos no bairro destacaram-se algumas falas. Acompanhe:
Observadores e Cuidadores
dos Espaços de Brincar
Resultados
14. “O Parque que vimos nas fotos são mais coloridos, tem animais e muito mais flores”, Alice, 8 anos.
“Olhaaaa! Este poderia ser nosso parque ideal”, Evillyn, 7 anos, ao se deparar, no computador, com uma foto do Parque das Águas.
“Parece que as pessoas tem menos problemas de se machucar em lugares estranhos, de cair, porque tudo parece mais organizado”, Felipe, 8 anos.
“A minha irmã machucou o pé na piscina da pracinha aqui perto e não tinha curativo”, Daniela, 8 anos.
“No parquinho perto de casa tinha cavalo, aí eles queimaram tudo e os cavalos não vão mais pra lá”, Guilherme, 7 anos.
“Na pracinha é bom porque podemos correr livres, só não é tão colorido, tem queimadas”, Késya e Daniela, 8 anos.
“Minha vó não deixa eu ir na pracinha aqui, por que é perigoso, na piscina também, as pessoas não passam pelo médico pra entrar na água”, Manuella, 8
anos.
“já vi um pombo morto na piscina”, Maria Fernanda, 7 anos.
“No parquinho daqui tem muitas balanças quebradas e o que vi na internet é mais bonito, tem mais cores e muito mais árvores”, Bruna, 7 anos.
Colocando a turma para refletir: “Então vamos pensar, por que será que estas diferenças acontecem? Por que um parque funciona tão diferente do
outro?”
“Por que as pessoas precisam cuidar mais da natureza”, Késya, 8 anos.
“Não é assim, nós somos parte da natureza”, Daniela, 7 anos.
“Mas o prefeito tem que cuidar também, arrumar os brinquedos, colocar mais”, Manuella, 7 anos.
Mais reflexão: “Então, que ações poderemos tomar”? O que faremos?
“Ah, podemos escrever para o prefeito”, Luiz, 7 anos.
“Se você quiser professora eu tenho o envelope”, Sarah, 8 anos.
Encerramos a assembleia com a proposta de elaborarmos uma carta de solicitação para os órgãos competentes, na intenção de pedir que melhore a
qualidade dos espaços públicos de brincar que ficam próximos a escola, afinal BRINCAR É COISA SÉRIA!
“Se os meninos não brincam eles ficam diminuídos na possibilidade de manifestação” Lydia Hortelio – Professora de música e pesquisadora- Documentário
Tarja Branca
Observadores e Cuidadores
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Resultados
15. Durante o passeio de observação no Parque das Águas, a turma questionou sobre seus lindos espaços de brinquedos e espaços
sensoriais, sua vegetação com muitas árvores e flores, além dos diversos animais que vimos por lá. As crianças sentiram a falta de
água em alguns lugares, notaram também a diferença da cor da água na caminhada que fizemos na direção de uma das
nascentes em relação às águas assoreadas. Conversamos com alguns funcionários que trabalhavam na área interditada para
serviços de desassoreamento e ficamos sabendo que eles sempre vêm depois das chuvas para limpeza do local e informaram
que seria preciso maior investimento para melhorar a qualidade das águas. Ainda tivemos a confirmação de que não há mais
um projeto educacional que atenda pedagogicamente aos alunos que visitam o local.
Outras observações dos alunos:
“Os espaços de brincar são ótimos, gostei também da história do parque quando era uma fazenda...” Alice Cristovão, 8 anos.
“Gostei do ar livre, das árvores e do lago.” Guilherme, 7 anos.
“Bonito e legal porque a gente pode brincar muito. Gostei do parque todo, só não gostei do lixo.” Nykolas, 7 anos.
“Achei legal porque tinha muita vegetação, bastante espaço para brincar e animais” Alice Ribeiro, 7 anos.
“Tem muita água marrom, porque tem muita terra lá, porque tem muita construção de prédios” Vitória, 8 anos.
“Gostei das folhas para fazer compostagem.” Maria Fernanda, 8 anos.
Como resultado decorrente de todo processo do trabalho, podemos perceber alunos que estão no mundo produzindo e
fazendo história, ampliando a consciência coletiva de ocupar os espaços com compromisso e responsabilidade. Crianças
protagonistas de sua cultura.
Resultados
Observadores e Cuidadores
dos Espaços de Brincar
16. “Essencial do brincar é liberdade de tempo, liberdade de espaço e liberdade de criação” David Reeks.
Realizar uma atividade capaz de colocar as crianças como sujeitos ativos na construção de seu conhecimento e promover de forma
lúdica sua inserção na realidade em que vivem, debatendo, refletindo e tomando posições e atitudes frente a temas e questões que
lhe dizem respeito diretamente, destaca a importância de que o processo educativo possa assumir seu protagonismo na formação
de cidadãos conscientes e comprometidos com o coletivo social.
Mesmo diante de limitações e dificuldades para colocar em prática em sua totalidade, nosso projeto Observadores e Cuidadores
dos Espaços de Brincar chegou até às crianças, suas famílias e também à comunidade. Esse partilhar na construção do saber,
contribuiu para que a ideia de responsabilidade social fosse incorporada não apenas como um conceito teórico e vago, mas sim
uma prática do dia a dia, na qual não apenas reclamamos e responsabilizamos o outro por nossos problemas e desafios, esperando
que alguém ou o poder público adote as providências necessárias. Um aprendizado que agrega, mesmo que em pequena escala, a
consciência de que o poder público também somos nós.
Acompanhar essas crianças em seus primeiros passos e atitudes voltadas para uma proposição coletiva sustentável, nos faz crer na
necessidade e importância de que ações educativas diferenciadas, como as propostas por esse curso, possam ser ampliadas no
âmbito da escola. Contudo, acho importante ressaltar que essas iniciativas só alcançarão seus objetivos de forma plena se, junto
com elas, se cultivar também uma mudança cultural profunda, em que a prática escolar não se quede engessada, preocupada em
produzir resultados superficiais, cujo objetivo de fundo é apenas atender a demandas institucionais, sem um real foco nas crianças e
em seu processo de aprendizagem e apropriação do conhecimento.
Considerações
Finais
Observadores e Cuidadores
dos Espaços de Brincar
17. Não basta apenas repetir mecanicamente fórmulas preconcebidas para que se abra um processo de aprendizagem
eficaz e criativo. Antes, é preciso garantir espaço para o novo e para o contraditório. Apesar de parecer e ser colocada
como uma questão menor, nosso sistema educacional ainda atua dentro de uma proposta em que o professor e apenas
ele é o detentor de todo saber e conhecimento e as crianças são tábulas rasas, cuja principal missão na escola seria
permanecerem sentadas, bem comportadas e, preferencialmente, em silêncio, enquanto os professores destilam o seu
velho e cansativo saber. Em um mundo onde, muito antes de irem para a escola, as crianças são bombardeadas e
aprendem a manipular um infindável fluxo de informações, esse modelo dicotômico e limitante há muito está superado e
precisa ser deixado para trás.
Mergulhar no Google Maps, no GeoAtlas, percorrer os espaços da comunidade e ouvir diferentes relatos de familiares,
na companhia desses ávidos investigadores do novo saber, resultou em um processo de aprendizado e construção do
conhecimento, que torna um absurdo e uma injustiça colocar apenas eles como educandos, uma vez que, como dizia
Paulo Freire, “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo
mundo”. Todos aprendemos e muito. Hoje sabemos mais sobre a comunidade e desenvolvemos um olhar para as
questões da sustentabilidade, que tanta importância apresenta hoje para o mundo contemporâneo.
Observadores e Cuidadores
dos Espaços de Brincar
Considerações
Finais
18. Afinal, muito mais do que sermos usuários das novas tecnologias - e aqui vale dizer que também aprendemos um pouco mais de algumas
dessas ferramentas durante a realização de nossas diferentes atividades - a modernidade se faz ao entrarmos em sintonia com as grandes
questões da nossa sociedade nos dias atuais e desenvolver um pensamento focado na sustentabilidade.
Aproveito então, essas considerações finais, para agradecer aos gestores do curso, que nos abriram a possibilidade de participar desse
processo tão rico, à escola que cedeu o espaço para que isso acontecesse, mas, agradecer, principalmente, às crianças, com as quais pude
vivenciar a construção de um novo saber. Obrigada, crianças.
Observadores e Cuidadores
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Considerações
Finais
19. REFERÊNCIA FILMOGRÁFICA
Filme: Tarja branca - A revolução que faltava
Gênero: Documentário
Lançamento: 2014
Direção: Cacau Rhodem
Com: Antônio Nóbrega, Domingos Mantagner, José Simão, Wandi Doratiotto, entre outros.
Produtora: Maria Farinha Filmes
www.mariafarinhafilmes.com.br/
REFÊRENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
O BRINCAR - https://www.portaleducacao.com.br/Artigo/Imprimir/26042
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS ORIENTAÇÕES PARA A INCLUSÃO DA CRIANÇA DE SEIS ANOS DE IDADE -
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/ensifund9ano basefinal.pdf
A CRIANÇA E O BRINCAR - UFRRJ http://www.ufrrj.br/graduacao/prodocencia/publicacoes/ desafios-cotidianos/arquivos/integra/integra_RODRIGUES.pdf
BARROS, FCOM. Cadê o brincar?:da educação infantil para o ensino fundamental [online]. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009. 215 p. ISBN 978-85-7983-5.
BANYAI, Istvan. Zoom. São Paulo: Brinque-Book, 1995.
PAULO FREIRE – EDUCAR PARA TRANSFORMAR http://www.projetomemoria.art.br/PauloFreire/obras/artigos/6.html
WINNICOTT, D. W. (1985). Por que as crianças brincam? Em A criança e o seu mundo. Trad.: A. Cabral. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
Pesquisa em googlemaps - https://www.google.com.br/maps/@-22.9248805,-47.0623411,15z
Geotecnologias como apoio à elaboração de material didático para o ensino fundamental - Projeto GeoAtlas Atlas escolar da Região Metropolitana de Campinas.
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Bibliografia