Amadeu encontra um pacote em um banco de praça e passa por uma batalha interna sobre abri-lo ou não. Após orar, ele decide ler o cartão dentro do envelope e descobre que o presente traria sorte para quem o encontrasse. Ao abrir o pacote, Amadeu se sente sortudo e feliz com o presente, que era algo que ele gostava.
1. Transformação Involuntária
Cenário : um banco de praça comum pacote ao centro.
Personagens: Amadeu - rapaz bem alinhado com terno e uma fisionomia abatida; Moça - delicada e
modestamente vestida ; Narrador - pessoa que irá reproduzir a voz de Amadeu.
Plano aberto, mostrando personagem e cenário.
O personagem entra em cena cabisbaixo , gesticulando e suspira de vez em quando ,aparenta preocupado.
Seus passos são lentos e pesados como se o passar das horas para ele não tivesse importância.
Câmera segue o personagem enquanto ele anda pelas ruas, mostrando alternadamente de lado e de
frente.
Câmera mostra personagem chegando a uma praça. Corta para um plano fechado de um banco da
praça com um pacote nele.
Câmera segue o personagem, em plano americano até o banco.Corta para plano aberto mostrando
personagem no banco com pacote ao lado. Personagem repara no pacote.
Corta para plano perspectiva do personagem, mantém por 45 segundos e corta para plano aberto.
Olha ao redor : realmente não havia nem uma viva alma .Estica o braço como se estivesse
despreguiçando e resolve : pega o embrulho. Era leve ...delicado..., um embrulho bem feito! papel
amarelo , com laçarote rosa salpicado de dourado> Percebe que junto continha um pequeno cartão que
vinha em um envelope simplesmente e magnificamente perfumado." Ah, que cheiro bom! Excelente
perfume! " , ele pensou.
Câmera passa a operar da seguinte forma:
-Cena com fala: Plano aberto mostrando personagem, pacote e ambiente.
-Cena expressiva sem pacote: Plano fechado no ator, mostrando somente partes do ambiente.
-Cena expressiva com pacote: Primeiro plano do ator.
AMADEU ( levantando - se repentinamente) : Lerei o cartão!
NARRADOR ( no momento que começa discorrer sua narrativa , Amadeu levanta o envelope ,
examina-o e retorna ao banco vagarosamente sentando-se) > Parece ser letra feminina! Delicada ! Bem
desenhada! Firme. Muito firme! Deve ser uma mulher de posição!
2. AMADEU : Não ! Não o lerei! Que ousadia da minha parte?! ( afrouxa a gravata ,sentindo-se sufocado )
Melhor será deixá-lo aqui, quietinho como encontrei.( deposita o envelope em cima do embrulho , como o
encontrou ) .
AMADEU (olha para o envelope indeciso ) : O proprietário ou a proprietária sentirá falta e retornará
para reavê- lo. Sim , é o correto ,.É a atitude melhor. Vou -me embora! (levanta de supetão). Adeus
objeto tentador!(olha fixamente para o envelope como se o desejasse, não querendo a separação). Mas
...(coça o queixo ). mas...se...a pessoa não se lembrar de onde o deixou? (passa as mãos desesperadamente
entre os cabelos , pondo-o em desalinho ). Essa garoa fina...(olha para o céu ) pode destruir por completo
tal objeto de grande fascínio! Melhor eé pegá-lo .(retorna ao banco e pega ). Pronto! Logo, logo eu
...(mostra -se irritado consigo mesmo ) .Não sei o que fazer com esse mimo ?! ( cheira -o delicadamente
,esboça um sorriso Acompanhado de um interesse excessivo ).Tão cheiroso! Tão gracioso! Tão
fascinante! Naaaaaaaâo!!!(fecha os olhos e deposita rapidamente o embrulho no banco ).Vou deixá-lo
aqui mesmo onde o encontrei. (distancia-se um pouco do objeto).
AMADEU (retorna rapidamente ao local ): Pensando bem...Não me fará mal algum ler apenas o cartão!
Descobrir o endereço...Quem sabe a pessoa...É!!! Conheço muitas pessoas ! Quem sabe posso levar para
ela e entregar-lhe o pertence , e , como gratidão, ela me dará uns trocados! Ando precisando mesmo de
dinheiro ! Isso mesmo ! Irei ler o cartão !( senta-se , desabotoa o primeiro botão da camisa, Enxuga as
mãos na calça , como se estivessem úmidas ).
AMADEU : Vamos ver...vamos ver...Isso mesmo! Irei ler o cartão! Aqui está. Iniciarei a leitura!
Ah!(procura os óculos um pouco atrapalhado. Limpa-os e coloca-o s um pouco desajeitado ) Ah, meu
Deus! (para e pensaem voz alta ) Meu coração diz para eu ler , mas a razão diz para eu não
ler!"TObeornottobe ? Razão ou coração ?(fecha o envelope e lança-o ao chão.)
AMADEU (ajoelha-se com o envelope nas mãos) Que objeto infame !!! (começa a transpirar )
Destruidor de boa moral!!!( pega com raiva o embrulho , sem levantar-se ,ergue-o )Da conduta familiar!
Isso é uma tentação! O que faço ?! (mostra desespero ) Sinto calafrios só de o tocar! (estremece ).
AMADEU (levanta e tira a camisa de dentro da calça como se aincomodasse ). O embrulho está ficando
amarrotado! (olha comdesespero para ele ) Se não me decidir... Preciso me decidir... ( olha para o céu ,
anda de um lado para outro , consulta o relógio ) Logo, logo será noite e cá ficará abandonado este
embrulho DE-MO-NÍ-A-CO até o amanhecer..(deposita o embrulho no banco , retorce as mãos e senta-se
ao seu lado inquieto ) Pelo visto... ( olha ao redor ) Não passará ninguém aqui...
AMADEU (tem um sobressalto e levanta bruscamente do banco. Põe-se completamente em desalinhoe
muito atormentado, ajoelha-se ) UUUh!!!(parecendo um louco Eleva a voz )Xô!Xô!Xõ!Sai satanás! Praga
de sete dias !Tentação ! (abaixa -se e cheira o embrulho sem tocá-lo.) Cruzes! Que horror! Fede a
enxofre! (benze-se e ajoelha-se)Credo ! Cruzes!Virgem!Valha-me Deus! Livre-me de tamanha tentação!
AMADEU (levanta-se em pânico)O melhor é...(indeciso, tenta arrumar a gravata no pescoço ) Bem...o
melhor é. abrir de uma só vez o envelope e..seja o que Deus quiser! (dá as costas para o público e volta-se
repentinamentepara o público ,como se agora percebesse a presença dele)NÃO!!!Não posso ficar aqui
remoendo-me de curiosidade!
3. (aperta as mãos) Vou devagar (retorna ao embrulho ,pega-o junto com o cartão) .Sim , devagar, muito
devagar , vou contar até três e...abro o envelope! (animado)Vamos ,Amadeu!Coragem, homem!
AMADEU:Vamos contar!!UM...DOIS...TRÊS...(abre o envelope todo feliz , dando uma gargalhada
nervosa) ABRI !!!(demonstra um certo alívio )Agora...tirei!( puxa o cartão com mãos trêmulas de
emoção)Agora conto até três novamente. NÃO! Até cinco.Sim.Até cinco.(fecha os olhos) Depois abro um
olho e..Não! Abro os dois ao mesmo tempo. Isso mesmo! Os dois !Mas...(passa amão na testa ),mas
primeiro farei uma prece.(ajoelha-se e ora ):
" Perdoai-me Senhor ,Anjos ,Santos por minha curiosidade excessiva! Que o mal não caia sobre mim!
Proteja-me !Amém."
AMADEU (levanta-se ,sem abrir os olhos ) : Agora sim! Vamos contar ;
UM...DOIS...TRÊS...QUATRO...(para e suspira ) Que dúvida ! Já fiz minha prece ! Não acontecerá nada
!(mostra -se mais seguro ) vamos lá ! ...QUATRO...e... CINCOOO!!! (abre os olhos ) Lerei !!!
(Nesse momento entra uma moça ( ou apenas a voz de quem escreveu o cartão) e revela o que está
escrito . Amadeu ,simultaneamente ,lê silenciosamente o cartão mais alegre e tranquilo )
MOÇA : " Tanta felicidade trouxe-me essa relíquia , que resolvi compartilha-la com alguém. Por isso
considere um galanteio de mina parte quem a encontrar. Desejo que lhe traga boa sorte como trouxe para
mim!"
AMADEU (levanta-se com o embrulho nas mãos e bem mais calmo ): Sortudo. eu ! Sortudo ! Sou eu
!EU !!! (aponta a si mesmo )Quem diria... Quem tem mais sorte do que eu?! Ninguém ! Só há eu aqui
nesta praça !Então ....sou eu !(já está sorrindo novamente )Sortudo ,eu! O embrulho é meu!( senta-se com
o embrulho nas mãos ,cheio de curiosidade, dá uma balançada para ouvir se há barulho de algo no seu
interior. Aprecia -o)Vejamos...vejamos (empolgado abre o embrulho e olha dentro sem mostrar para
plateia )Ah! Que lindo ! Muito bem escolhido ! UM dos meus prediletos ! Realmente era para mim !uma
tentação ! ( olha para a plateia ) Sou sortudo ! Eu sou SOR -TU- DO !( retira-se falando e rindo sozinho )
Muito sortudo...
Marisa - 2008