O documento discute estratégias de ensino-aprendizagem em biologia, abordando o uso de recursos didáticos, métodos de ensino e avaliação escolar. Apresenta pressupostos teóricos sobre como a aprendizagem ocorre de forma construtiva, por meio da interação entre o aluno e o ambiente, e destaca a importância dos recursos didáticos e do trabalho de laboratório para o desenvolvimento de habilidades e fixação de conhecimentos.
6. 5
Caro(a) aluno(a)
A Biologia é a ciência da vida! Vida com toda a sua diversidade e
complexidade. A começar pela dificuldade de definição. Afinal, o que é a vida?
Assemelha-se ao amor, somos capazes de senti-lo em sua essência, mas
não nos sentimos confortáveis o suficiente para defini-lo. A verdade, é que,
embora sejamos capazes de viver e amar, temos as nossas limitações quando
se trata de entendermos esses temas com uma profundidade maior.
Assim, ensinar Biologia e obter um nível de aprendizagem satisfatório
nem sempre é fácil. Por isso é extremamente importante a elaboração de
Estratégias de Ensino e Aprendizagem em Biologia visando desvendar e
compreender melhor uma questão tão essencial que é a nossa vida, a vida
dos outros seres vivos e finalmente, a constante e dinâmica interação existente
entre elas.
Convido-o (a), prezado (a) aluno (a), a embarcar nessa aventura, visando
um melhor uso e manejo do ambiente em que vivemos para que essa relação
seja o mais harmônica possível e reflita o nosso poder transformador, porque
quanto mais aprendemos acerca das coisas, diminuímos a nossa
possibilidade de cometer erros. Lembre-se: o aprendizado adquirido precisa
ser acompanhado de uma ação transformadora.
Esta disciplina possui uma carga horária de 72 horas é formada por 02
blocos temáticos, onde cada um é constituído por 02 temas. O primeiro bloco
temático aborda “O uso de recursos didáticos e a avaliação escolar no
ensino de Ciências e Biologia”, enfocando questões como recursos
didáticos existentes, métodos e técnicas de ensino/aprendizagem e, finalmente,
as estratégias de avaliação. O segundo bloco temático apresenta as
“Condicionantes que auxiliam o processo de ensino/aprendizagem”,
enfatizando fatores pessoais e contextuais envolvidos no processo e a
motivação em sala de aula.
Boa Sorte nessa nova aventura.
Sucesso e bons estudos.
Professores: Aliriane Moreira
Aroldo Barbosa
Claudia Andrade
Nildete Reis
Apresentação da Disciplina
8. 7
“A essência da autonomia é que as crianças se tornam capazes de
tomar decisões por elas mesmas. Autonomia não é a mesma coisa que
liberdade completa. Autonomia significa ser capaz de considerar os fatores
relevantes para decidir qual deve ser o melhor caminho da ação. Não pode
haver moralidade quando alguém considera somente o seu ponto de vista.
Se também consideramos o ponto de vista das outras pessoas, veremos
que não somos livres para mentir, quebrar promessas ou agir
irrefletidamente”
(Kamii C. A criança e o número. Campinas: Papirus)
O USO DE RECURSOS DIDÁTICOS E
AVALIAÇÃO ESCOLAR NO ENSINO DE
CIÊNCIAS E BIOLOGIA
RECURSOS DIDÁTICOS, OS MÉTODOS E
TÉCNICAS DE ENSINO E APRENDIZAGEM
Conteúdo 1 – Pressupostos Teóricos
O uso dos recursos didáticos e avaliação escolar no ensino das disciplinas Ciências
e Biologia dependem da concepção de aprendizagem de Ciência adotada pelo corpo
docente. A tendência de currículos tradicionalistas, apesar de todas as mudanças, ainda
prevalece no Brasil. De forma que o objetivo dos cursos é basicamente transmitir informação;
ao professor cabe apresentar a matéria de forma atualizada e organizada, facilitando a
aquisição de conhecimentos.
Partindo de uma perspectiva histórica faremos uma breve abordagem em uma
das teorias do conhecimento que muito contribuiu e contribui para a reflexão das
práticas pedagógicas contemporâneas. Nos anos 60, o processo ensino-
aprendizagem era influenciado pelas idéias de educadores comportamentalistas
que recomendavam a apresentação de objetivos do ensino na forma de
comportamentos observáveis, indicando formas de atingi-los e indicadores mínimos
de desempenho. Nessa mesma época, idéias de Jean Piaget sobre desenvolvimento
intelectual começaram a ser conhecidas e discutidas. Passa, assim, a ter papel central
no processo ensino-aprendizagem da ciência uma perspectiva cognitivista,
enfatizando o chamado construtivismo, usado nos atuais documentos oficiais
brasileiros. No caso de um currículo que focaliza primordialmente a transmissão de
informações, o trabalho em laboratório é motivador da aprendizagem, levando ao
desenvolvimento de habilidades técnicas e, principalmente, auxiliando a fixação, o
conhecimento sobre os fenômenos e fatos.
Construtivismo é uma das concepções empenhadas em explicar como a inteligência
humana se desenvolve partindo do princípio de que o desenvolvimento da inteligência é
determinado pelas ações mútuas entre o indivíduo e o meio.
9. 8
Estratégias de
Ensino /
Aprendizagem
emBiologia
A criança é concebida como um ser dinâmico que, a todo o momento, interage
com a realidade, operando ativamente com objetos e pessoas.
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ABORDAGEM TRADICIONAL: Enfoque no Professor; enfoque no
conteúdo; a mente do aluno funciona como “tabula rasa”; o aluno é receptor
passivo do conhecimento; memorização de conhecimentos; ênfase no controle
do aluno sobre sua aprendizagem.
ABORDAGEM CONSTRUTIVISTA: Enfoque no aluno; enfoque na
construção individual de significados; a aprendizagem é uma construção do
aluno sobre conhecimentos prévio.
A idéia é que o homem não nasce inteligente, mas também não é
passivo sob a influência do meio, isto é, ele responde aos estímulos externos
agindo sobre eles para construir e organizar o seu próprio conhecimento, de
forma cada vez mais elaborada.
A partir do momento que a influência cognitivista foi se ampliando em base dos
estudos de Piaget considerando fases de operações lógicas pelas quais o aluno passa em
uma ordem que vai do sensório-motor (18 meses), pré-operacional (até 7 anos), concreta
operacional (dos 7 aos 11 anos) até o formal operacional (dos 11 até os 15 anos), passou-
se a encarar o laboratório como elemento de aferição do estágio de desenvolvimento do
aluno e de ativação do progresso ao longo desses estágios e do ciclo de aprendizado. Na
perspectiva construtivista, as pré-concepções dos alunos sobre os fenômenos e sua atuação
nas aulas práticas são férteis fontes de investigação para os pesquisadores como
elucidação do que pensam e como é possível fazê-los progredir no raciocínio e análise dos
fenômenos.
Para facilitar a compreensão, vale ressaltar algumas das
contribuições básicas de Jean Piaget para o processo de ensino
aprendizagem.
Jean Piaget nasceu em Neuchâtel, 09 de agosto de 1896
– faleceu em Genebra em 16 de setembro de 1980. Foi um biólogo
suíço com vasta produção em psicologia, epistemologia e
educação; ficou conhecido principalmente por analisar o
desenvolvimento cognitivo em uma série de estágios.
A partir da observação cuidadosa de seus próprios filhos
e de muitas outras crianças, concluiu que em muitas questões
cruciais as crianças não pensam como os adultos. Por ainda lhes
faltarem certas habilidades, a maneira de pensar é diferente, não
somente em grau, como em classe. A teoria de Piaget do desenvolvimento cognitivo é uma
teoria de etapas, uma teoria que pressupõe que os seres humanos passam por uma série
de mudanças ordenadas e previsíveis. Pressupostos básicos de sua teoria: o
interacionismo, a idéia de construtivismo seqüencial e os fatores que interferem no
desenvolvimento.
Essa interação com o ambiente faz com que construa estruturas mentais e adquira
maneiras de fazê-las funcionar. O eixo central, portanto, é a interação organismo-meio
e essa interação acontece através de dois processos simultâneos: a organização interna
e a adaptação ao meio, funções exercidas pelo organismo ao longo da vida. Aadaptação,
definida por Piaget, como o próprio desenvolvimento da inteligência, ocorre através da
10. 9
Principais objetivos da educação: formação de homens
“criativos, inventivos e descobridores”, de pessoas críticas e
ativas, e na busca constante da construção da autonomia.
O sujeito ativo de que falamos é aquele que compara, exclui,
ordena, categoriza, classifica, reformula, comprova, formula
hipóteses, etc... em uma ação interiorizada (pensamento) ou em
ação efetiva (segundo seu grau de desenvolvimento).Alguém que
esteja realizando algo materialmente, porém seguindo um modelo
dado por outro, para ser copiado, não é habitualmente um sujeito
intelectualmente ativo.
A educação na visão Piagetiana: com base nesses pressupostos, a
educação deve possibilitar à criança um desenvolvimento amplo e dinâmico desde
o período sensório-motor até o operatório abstrato.
assimilação e acomodação. Considera, ainda, que o processo de desenvolvimento é
influenciado por fatores como: maturação (crescimento biológico dos órgãos), exercitação
(funcionamento dos esquemas e órgãos que implica na formação de hábitos), aprendizagem
social (aquisição de valores, linguagem, costumes e padrões culturais e sociais) e
equilibração (processo de auto regulação interna do organismo, que se constitui na busca
sucessiva de reequilíbrio após cada desequilíbrio sofrido).
A escola deve partir dos esquemas de assimilação da criança, propondo atividades
desafiadoras que provoquem desequilíbrios e reequilibrações sucessivas, promovendo a
descoberta e a construção do conhecimento.
Para construir esse conhecimento, as concepções infantis combinam-se às
informações advindas do meio, na medida em que o conhecimento não é concebido apenas
como sendo descoberto espontaneamente pela criança, nem transmitido de forma mecânica
pelo meio exterior ou pelos adultos, mas, como resultado de uma interação, na qual o
sujeito é sempre um elemento ativo, que procura ativamente compreender o mundo que o
cerca, e que busca resolver as interrogações que esse mundo provoca.
É aquele que aprende basicamente através de suas próprias ações sobre os objetos
do mundo, e que constrói suas próprias categorias de pensamento ao mesmo tempo em
que organiza seu mundo. Não é um sujeito que espera que alguém que possui um
conhecimento o transmita a ele por um ato de bondade.
Vamos esclarecer um pouco mais para você: quando se fala em sujeito ativo, não
estamos falando de alguém que faz muitas coisas, nem ao menos de alguém que tem uma
atividade observável.
Devemos lembrar que Piaget não propõe um MÉTODO DE ENSINO, mas, ao
contrário, ELABORA UMA TEORIA DO CONHECIMENTO e desenvolve muitas
investigações cujos resultados são utilizados por psicólogos e pedagogos.
Desse modo, suas pesquisas recebem diversas interpretações que se
concretizam em propostas didáticas também diversas.
11. 10
Estratégias de
Ensino /
Aprendizagem
emBiologia
Jean Piaget caracterizava “Autonomia como a capacidade de
coordenação de diferentes perspectivas sociais com o pressuposto do respeito
recíproco”.
(Kesselring T. Jean Piaget. Petrópolis: Vozes, 1993).
Piaget não aponta respostas sobre o que e como ensinar, mas permite compreender
como a criança e o adolescente aprendem, fornecendo um referencial para a identificação
das possibilidades e limitações de crianças e adolescentes. Desta maneira, oferece ao
professor uma atitude de respeito às condições intelectuais do aluno e um modo de interpretar
suas condutas verbais e não verbais para poder trabalhar melhor com elas.
Autonomia para Piaget
Jean Piaget, na sua obra discute com muito cuidado a questão da autonomia e do
seu desenvolvimento. Para Piaget a autonomia não está relacionada com isolamento
(capacidade de aprender sozinho e respeito ao ritmo próprio - escola comportamentalista),
na verdade entende Piaget que o florescer do pensamento autônomo e lógico operatório é
paralelo ao surgimento da capacidade de estabelecer relações cooperativas. Quando os
agrupamentos operatórios surgem com as articulações das intuições, a criança torna-se
cada vez mais apta a agir cooperativamente.
No entender de Piaget ser autônomo significa estar apto a cooperativamente construir
o sistema de regras morais e operatórias necessárias à manutenção de relações permeadas
pelo respeito mútuo.
Para Piaget a constituição do princípio de autonomia se desenvolve juntamente com
o processo de desenvolvimento da autoconsciência. No início, a inteligência está calcada
IMPLICAÇÕES DO PENSAMENTO PIAGETIANO PARA A
APRENDIZAGEM
>>> Os objetivos pedagógicos necessitam estar centrados no aluno, partir
das atividades do aluno.
>>> Os conteúdos não são concebidos como fins em si mesmos, mas
como instrumentos que servem ao desenvolvimento evolutivo natural.
Primazia de um método que leve ao descobrimento por parte do aluno
ao invés de receber passivamente através do professor.
>>> A aprendizagem é um processo construído internamente.
>>> A aprendizagem depende do nível de desenvolvimento do sujeito.
>>> A aprendizagem é um processo de reorganização cognitiva.
>>> Os conflitos cognitivos são importantes para o desenvolvimento da
aprendizagem.
>>> A interação social favorece a aprendizagem.
>>> As experiências de aprendizagem necessitam estruturar-se de modo
a privilegiarem a colaboração, a cooperação e intercâmbio de pontos
de vista na busca conjunta do conhecimento.
12. 11
“Não existe estrutura sem gênese, nem gênese sem estrutura”
(Piaget). Ou seja, a estrutura de maturação do indivíduo sofre um
processo genético e a gênese depende de uma estrutura de maturação.
Sua teoria nos mostra que o indivíduo só recebe um determinado
conhecimento se estiver preparado para recebê-lo. Nesta concepção
reconhecemos a importância da contextualização, na construção do
conhecimento como pano de fundo a ser repensado, ou seja, se puder
agir sobre o objeto de conhecimento para inserí-lo num sistema de
relações. Não existe um novo conhecimento sem que o organismo
tenha já um conhecimento anterior para poder assimilá-lo e transformá-
lo. O que implica os dois pólos da atividade inteligente: assimilação
e acomodação. É assimilação na medida em que incorpora aos seus
quadros todo o dado da experiência ou estruturação por incorporação
da realidade exterior a formas devidas à atividade do sujeito (Piaget,
1982). É acomodação na medida em que a estrutura se modifica em
função do meio, de suas variações. A adaptação intelectual constitui-
se então em um “equilíbrio progressivo entre um mecanismo
assimilador e uma acomodação complementar” (Piaget, 1982).
em atividades motoras, centradas no próprio indivíduo, numa relação egocêntrica de si
para si mesmo. É a consciência centrada no eu. Nessa fase a criança joga consigo mesma
e não precisa compartilhar com o outro. É o estado de anomia. A consciência dorme, diz
Piaget, ou é o indivíduo da não consciência. No desenvolvimento e na complexificação das
ações, o indivíduo reconhece a existência do outro e passa a reconhecer a necessidade de
regras, de hierarquia, de autoridade. O controle está centrado no outro. O indivíduo desloca
o eixo de suas relações de si para o outro, numa relação unilateral, no sentido então da
heteronomia. A verdade e a decisão estão centradas no outro, no adulto. Neste caso a
regra é exterior ao indivíduo e, por conseqüência, sagrada A consciência é tomada
emprestada do outro. Toda consciência da obrigação ou do caráter necessário de uma
regra supõe um sentimento de respeito à autoridade do outro. Na autonomia, as leis e as
regras são opções que o sujeito faz na sua convivência social pela autodeterminação. Para
Piaget, não é possível uma autonomia intelectual sem uma autonomia moral, pois ambas se
sustentam no respeito mútuo, o qual, por sua vez, se sustenta no respeito a si próprio e
reconhecimento do outro como ele mesmo.
A falta de consciência do eu e a consciência centrada na autoridade do outro
impossibilitam a cooperação, em relação ao comum pois este não existe. A consciência
centrada no outro anula a ação do indivíduo como sujeito. O indivíduo submete-se às regras,
e pratica-as em função do outro. Segundo Piaget este estágio pode representar a passagem
para o nível da cooperação, quando, na relação, o indivíduo se depara com condições de
possibilidades de identificar o outro como ele mesmo e não como si próprio. (PIAGET,
Jean. Biologia e conhecimento. Porto: Rés Editora, 1978).
Piaget com formação em Biologia situa o problema epistemológico, o do
conhecimento, ao nível de uma interação entre o sujeito e o objeto. E “essa dialética resolve
todos os conflitos nascidos das teorias, associacionistas, empiristas, genéticas sem estrutura,
estruturalistas sem gênese, etc. e permite seguir fases sucessivas da construção progressiva
do conhecimento”.
13. 12
Estratégias de
Ensino /
Aprendizagem
emBiologia
A construção da inteligência dá-se, portanto em etapas sucessivas,
com complexidades crescentes, encadeadas umas às outras. A isto Piaget
chamou de “construtivismo sequencial”.
A. Período Sensório-Motor - do nascimento aos 2 anos,
aproximadamente.
A ausência da função semiótica é a principal característica deste
período. A inteligência trabalha através das percepções (simbólico) e das
ações (motor) através dos deslocamentos do próprio corpo. É uma
inteligência iminentemente prática. Sua linguagem vai da ecolalia
(repetição de sílabas) à palavra-frase (“água” para dizer que quer beber
água) já que não representa mentalmente o objeto e as ações. Sua conduta
social, neste período, é de isolamento e indiferenciação (o mundo é ele).
E. Período Operatório Abstrato - dos 11 anos em diante.
É o ápice do desenvolvimento da inteligência e corresponde ao nível de
pensamento hipotético-dedutivo ou lógico-matemático. É quando o indivíduo está
apto para calcular uma probabilidade, libertando-se do concreto em proveito de
interesses orientados para o futuro. É, finalmente, a “abertura para todos os
possíveis”. A partir desta estrutura de pensamento é possível a dialética, que
permite que a linguagem se dê ao nível de discussão para se chegar a uma
conclusão. Sua organização grupal pode estabelecer relações de cooperação e
reciprocidade.
B. Período Simbólico - dos 2 anos aos 4 anos, aproximadamente.
Neste período surge a função semiótica que permite o surgimento da linguagem,
do desenho, da imitação, da dramatização, etc.. Podendo criar imagens mentais na
ausência do objeto ou da ação é o período da fantasia, do faz de conta, do jogo
simbólico. Com a capacidade de formar imagens mentais pode transformar o objeto
numa satisfação de seu prazer (uma caixa de fósforos em carrinho, por exemplo). É
também o período em que o indivíduo “dá alma” (animismo) aos objetos (“o carro do
papai foi ‘dormir’ na garagem”). A linguagem está em nível de monólogo coletivo, ou
seja, todos falam ao mesmo tempo sem que respondam as argumentações dos outros.
Duas crianças “conversando” dizem frases que não têm relação com a frase que o
outro está dizendo. Sua socialização é vivida de forma isolada, mas dentro do coletivo.
Não há liderança e os pares são constantemente trocados.
C. Período Intuitivo - dos 4 anos aos 7 anos, aproximadamente.
Neste período já existe um desejo de explicação dos fenômenos. É a “idade dos
porquês”, pois o indivíduo pergunta o tempo todo. Distingue a fantasia do real, podendo
dramatizar a fantasia sem que acredite nela. Seu pensamento continua centrado no seu
próprio ponto de vista. Já é capaz de organizar coleções e conjuntos sem, no entanto
incluir conjuntos menores em conjuntos maiores (rosas no conjunto de flores, por
exemplo). Quanto à linguagem não mantém uma conversação longa, mas já é capaz de
adaptar sua resposta às palavras do companheiro. Os Períodos Simbólico e Intuitivo são
também comumente apresentados como Período Pré-Operatório.
D. Período Operatório Concreto - dos 7 anos aos 11 anos, aproximadamente.
É o período em que o indivíduo consolida as conservações de número,
substância, volume e peso. Já é capaz de ordenar elementos por seu tamanho
(grandeza), incluindo conjuntos, organizando então o mundo de forma lógica ou
operatória. Sua organização social é a de bando, podendo participar de grupos
maiores, chefiando e admitindo a chefia. Já podem compreender regras, sendo fiéis
a ela, e estabelecer compromissos. A conversação torna-se possível (já é uma
linguagem socializada), sem que, no entanto possam discutir diferentes pontos de
vista para que cheguem a uma conclusão comum.
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”Aceitar o ponto de vista de Piaget, portanto, provocará turbulenta
revolução no processo escolar (o professor transforma-se numa espécia de
‘técnico do time de futebol’, perdendo seu ar de ator no palco). (...) Quem
quiser segui-lo tem de modificar, fundamentalmente, comportamentos
consagrados, milenarmente (aliás, é assim que age a ciência e a pedagogia
começa a tornar-se uma arte apoiada, estritamente, nas ciências biológicas,
psicológicas e sociológicas). Onde houver um professor ‘ensinando’... aí não
está havendo uma escola piagetiana!” (Lima, 1980: 131).
A importância de se definir os períodos de desenvolvimento da inteligência reside no
fato de que, em cada um, o indivíduo adquire novos conhecimentos ou estratégias de
sobrevivência, de compreensão e interpretação da realidade.Acompreensão deste processo
é fundamental para que os professores possam também compreender com quem estão
trabalhando.
A teoria de Piaget não oferece aos educadores uma receita ou uma fórmula pronta e
acabada, sobre como desenvolver a inteligência do aluno ou da criança. Piaget nos mostra
que cada fase de desenvolvimento apresenta características e possibilidades de crescimento
da maturação ou de aquisições. O conhecimento destas possibilidades faz com que os
professores possam oferecer estímulos adequados a um maior desenvolvimento do
indivíduo. Esta é uma compreensão ainda muito presente nos atuais debates sobre
aprendizagem; repensar e respeitar o tempo e o ritmo de cada um.
Vamos ao debate sobre a prática pedagógica na atual realidade
brasileira?
A prática pedagógica, que se desenvolve à luz da metodologia de ensino construtivista,
fundamenta-se na atuação do professor que concebe o conhecimento sob a ótica levantada
por Piaget, ou seja, que todo e qualquer desenvolvimento cognitivo só será efetivo se for
baseado em uma interação muito forte entre o sujeito e o objeto. É imprescindível que se
compreenda que sem uma atitude do objeto que perturbe as estruturas do sujeito, este não
tentará acomodar-se à situação, criando uma futura assimilação do objeto, dando origem
às sucessivas adaptações do sujeito ao meio, com o constante desenvolvimento de seu
cognitivismo.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN‘s) –
documentos oficiais da educação nacional - indicam mudanças
de postura diante do conhecimento e exigindo reflexões sobre
ensino e aprendizagem como resultado de ações sociais.
A metodologia subjacente nos PCN é a do sócio-
construtivismo, enfatizando-se a aproximação entre Ciências
Humanas e Naturais. Essa mesma metodologia é a que se
recomenda empregar para o desenvolvimento das ações
didáticas e pedagógicas à luz da presente proposta. É importante
a história das ciências, a consideração dos conhecimentos dos
estudantes, as contínuas transformações, a substituição de umas verdades por outras
verdades em outro nível ou momento do desenvolvimento, a contínua construção de novos
conhecimentos a partir de antecedentes, o trabalho em grupo e participativo dentro e fora
da sala de aula, junto com o papel de verdadeiro guia reservado para o professor na direção
do processo de ensino e aprendizagem. Não existe nem deve existir contradição antagônica
entre professor – estudante – conhecimento.
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Estratégias de
Ensino /
Aprendizagem
emBiologia
Ley Semyonovich Vygotsky – (1986 – 1934)
nasceu e viveu na Rússia, morreu de turbeculose
aos 34 anos. Professor dedicou-se as áreas da
pedagogia e psicologia. Após sua morte, em pleno
período stalinista, seus livros foram censurados,
só voltando a serem publicados em 1950 através
dos seus colaboradores mais diretos Luria e
Leontiev.
PONTOS IMPORTANTES
Piaget e Vygotsky:
Existem convergências e divergências entre o pensamento de Piaget
e Vygotsky. Vejamos:
PIAGET – O conhecimento se dá a partir da ação do sujeito sobre a
realidade.
VYGOTSKY – O conhecimento se dá a partir das relações intra e
interpessoais, o sujeito não só age sobre a realidade, mas interage com ela. É na
troca com outros sujeitos e consigo próprio que ele internaliza conhecimentos,
papeis e funções sociais.
PIAGET –aaprendizagemdependedoestágiodedesenvolvimentoatingido
pelo sujeito.
VYGOTSKY – a aprendizagem favorece o desenvolvimento das funções
mentais.
Interacionismo
O Interacionismo foi também uma teoria que muito influenciou e influencia o
pensamento pedagógico brasileiro e que também podemos perceber como fundamentação
teórica dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Contemporâneo de Piaget, embora faça
um enfoque diferenciado; Vygotsky mostrou que as mudanças que ocorrem nos indivíduos,
ao longo de seu d desenvolvimento, estão ligadas à interação dele com a cultura e a história
da sociedade da qual faz parte.
As funções psicológicas superiores - que são características do ser humano - estão
ancoradas, por um lado, nas características biológicas da espécie humana e, por outro,
são desenvolvidas ao longo de sua história social. É o grupo social que fornece o material
(signos e instrumentos) que possibilita o desenvolvimento das atividades psicológicas. Isso
significa que se deve analisar o reflexo do mundo exterior no mundo interior dos indivíduos,
a partir da interação destes com a realidade.
Para que o indivíduo se constitua como pessoa, segundo Vygotsky, é fundamental
que ele se insira num determinado ambiente cultural. As mudanças que ocorrem nele, ao
longo de seu desenvolvimento, estão ligadas à interação dele com a cultura e a história da
sociedade da qual faz parte. Por isso, e de acordo com os conceitos desenvolvidos por
Vygotsky, o aprendizado envolve sempre a interação com outros indivíduos e a interferência
direta ou indireta deles.
Formado em Letras e em Psicologia, Vygotsky elegeu a linguagem como objeto de
estudo. Para ele, a linguagem tinha papel fundamental na mediação entre as relações sociais
e a aprendizagem. O objeto de estudo de Vygotsky era o desenvolvimento humano, a partir
do processo histórico que o homem estava inserido.