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urante muito tempo de minha vida escolar,
tive como companheiro meu caderno de
desenho. Confesso que não tinha tanta paixão por
ele pois desenhar – o que envolvia perspectiva,
sombreado, luminosidade etc. – me parecia uma
tarefa bastante difícil. Mas eu precisava dar conta da
tarefa, que valia nota. Como a professora era muito
severa ao avaliar, eu procurava sempre fazer tal e
qual ela pedia, não como eu gostaria ou quisesse.
Muitas vezes, Irmã Alice – a professora do
colégio de freiras – se dispunha a me ajudar
equivocadamente. Ora pegava na minha mão, ora
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2 com muita perfeição. Recordo hoje com
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guardei nenhum: com certeza faria hoje obser-
vações que na época, por não dispor de um
olhar para minha própria trajetória de dese-
nho, não pude fazer.
Quando meus filhos foram para a escola,
o caderno de desenho já não era mais usado.
Reflexões do formador 1
D
Cadernos
de Desenho
Tradicionalmente o caderno de desenho era usado para
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qualidade. Hoje, ele está de volta com novos usos e significados:
para a criança, pode ser um recurso que ajuda a perceber as
mudanças de seus traçados. Para o educador, pode ser um objeto
de pesquisa que apóia o planejamento de seu trabalho. Saiba mais
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Ana B. Guedes Brentano1
1
Formadora do Instituto Avisa lá e do MEC.
Gabriel, 6 anos, passa vários
dias tentando chegar à figura
de um barquinho com a
bandeira do Brasil.Aqui vemos
quatro etapas de sua pesquisa,
partindo de uma forma simples
até chegar à concepção de céu,
mar e, finalmente, a um barco
com a vela-bandeira brasileira
hasteada.
1
2
3
4
Um diário do percurso criador das crianças
20
Eles desenhavam em folhas soltas, guar-
dadas em pastas, de forma que era pos-
sível acompanhar a evolução e a con-
tinuidade de seus traçados. Como eles
desenhavam muito em casa, tive acesso
a esse percurso de criação.
Hoje os cadernos de desenho vol-
taram, com uma intenção que não exis-
tia no meu tempo: a de possibilitar à
criança se apropriar de seu percurso
como desenhista. Eles passam a ter um
caráter de diário, onde o aluno define o
que desenhar e como desenhar, permi-
tindo a expressão da individualidade.A
criança é convocada pelo caderno a ver
e rever seus desenhos. Muitas vezes, já
com um olhar mais apurado, ela se vê
tentada a completar alguma coisa que
faltou, a colorir ou a desenhar nova-
mente um antigo tema. Mais que isso,
ao percorrer cada página de seu cader-
no, ela poderá perceber a mudança de
seus traçados: como fazia antes e como
faz agora. Neste sentido, o caderno de
desenho passa a ser um instrumento
de pesquisa.
Caderno de desenho como
apoio para o professor
O educador também pode utilizar
o caderno como apoio ao planejamento
do trabalho. Para tanto, é importante
que ele tenha uma pauta que o auxilie a
observar alguns aspectos como:
a ação expressiva: como a criança se
coloca frente à tarefa? Demonstra
interesse, indiferença, soltura?
o uso de material: mistura cores, varia
o uso dos riscantes, apresenta dificul-
dade no controle dos pincéis?
objetos de pesquisa: desenha sempre
a mesma coisa ou varia os temas nas
suas representações?
Márcia, professora da turma de 3 a
4 anos da creche São Rafael, por exem-
plo, utilizou o caderno para estudar o
percurso do grafismo infantil. Diz ela:
“por meio do caderno eu pude visualizar
quais interferências eu podia oferecer du-
rante esse período, acrescentando desafios
às diferentes propostas.”
2
Barcos não são o único
tema de interesse de
Gabriel.Aqui, seus
esforços para estruturar a
figura humana, entre abril
e agosto.
3
1
Ilustração de conto de
fadas sugerida pelas
cenas do Gato de Botas.
É também possível pesquisar novos
interesses que estão brotando no grupo
e que podem gerar diferentes projetos.
Esses são alguns exemplos que po-
dem ajudar o educador na tarefa de
pesquisar e avaliar a aprendizagem de
seus alunos, abrindo espaço para plane-
jar intervenções necessárias, capazes de
instigar novas aprendizagens para as cri-
anças. Tudo para manter vivo o praze-
roso e constante convite ao desenho.
21
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A professora conta como o caderno de desenho entrou em sua sala
“No começo do ano tivemos a
idéia de usar o caderno de desenho.
Pedi que os pais trouxessem de casa
um caderno com páginas brancas para
seus filhos e esperei até que todas as
crianças tivessem o seu. Então deixei
que elas colocassem etiquetas com
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que fizessem seus desenhos, a princí-
pio livres, até acharmos um objetivo.
Foi então que a Ana, formadora de
nossa equipe, pediu que eu deixasse o
caderno num canto da sala para que
as crianças desenhassem quando
quisessem. Em apenas um dia as
crianças desenharam o caderno
quase todo. Então dei também
folhas de sulfite: quando termina-
vam suas produções, guardavam
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Achei mais interessante traba-
lhar com caderno de desenho por-
que assim pude observar como as cri-
anças foram evoluindo. Eu não tinha
uma seqüência de propostas para o ca-
derno, mas olhando-o agora, diante
dos registros de uma semana,pude ver
como as produções mudaram: dese-
nhos mais detalhados, coloridos, com
temas diversificados. Às vezes eu per-
guntava se queriam mudar algo. Geral-
mente não queriam,de tanto que apre-
ciavam os trabalhos.Até mesmo as cri-
anças que no começo tinham dificul-
dades já conseguiam fazer um desenho
melhor. Ao fim da atividade elas guar-
davam o material com mais autono-
mia, dizendo sempre:“esse é meu, dei-
xa que eu guardo”.
Acho que as crianças terão uma
boa recordação quando saírem daqui,
levando embora seus cadernos com
tantos desenhos.”
Maria Aparecida dos Santos,
Mão Cooperadora.
Bibliografia:
Arte na sala de aula. Escola da Vila.
Ed.Artmed.Tel.: (11) 3062-9544.
Aprendiz da arte, trilhas do sensível
olhar-pensante. Miriam Celeste
Martins. Espaço Pedagógico.
Tel.: (11) 5505-1135
Ficha técnica:
A análise dos cadernos de desenho foi uma das
estratégias formativas propostas por Ana B. Guedes
Brentano, como parte de seu projeto de formação nas
creches da Mão Cooperadora Obras Sociais e Educacionais e Creche
Maria Natividade Machado. Participaram dessa experiência Márcia Helena
da Silveira, professora da turma de 3 a 4 anos, e Maria Aparecida dos
Santos, professora do pré.
Mão Cooperadora Obras Sociais e Educacionais: Rua Prof. Francisco
Marques de Oliveira Junior, 151, Jd.Três Corações, Santo Amaro, 04855-
340.Tel.: (11) 5933-3982, fax: 5528-5738, cremac.3c@ig.com.br
Creche Maria Natividade Machado – Sociedade Beneficente São
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Cadernos de Desenho: Um Diário da Criatividade Infantil

  • 1. urante muito tempo de minha vida escolar, tive como companheiro meu caderno de desenho. Confesso que não tinha tanta paixão por ele pois desenhar – o que envolvia perspectiva, sombreado, luminosidade etc. – me parecia uma tarefa bastante difícil. Mas eu precisava dar conta da tarefa, que valia nota. Como a professora era muito severa ao avaliar, eu procurava sempre fazer tal e qual ela pedia, não como eu gostaria ou quisesse. Muitas vezes, Irmã Alice – a professora do colégio de freiras – se dispunha a me ajudar equivocadamente. Ora pegava na minha mão, ora se prontificava a fazer o acabamento, dando um toque de artista que meus desenhos careciam. Eu invejava quem o tinha. Invejava, por exemplo, a capacidade de uma amiga que deslizava o lápis no 2 com muita perfeição. Recordo hoje com saudades desses cadernos. Pena que não guardei nenhum: com certeza faria hoje obser- vações que na época, por não dispor de um olhar para minha própria trajetória de dese- nho, não pude fazer. Quando meus filhos foram para a escola, o caderno de desenho já não era mais usado. Reflexões do formador 1 D Cadernos de Desenho Tradicionalmente o caderno de desenho era usado para aprender geometria ou para copiar imagens, nem sempre de boa qualidade. Hoje, ele está de volta com novos usos e significados: para a criança, pode ser um recurso que ajuda a perceber as mudanças de seus traçados. Para o educador, pode ser um objeto de pesquisa que apóia o planejamento de seu trabalho. Saiba mais sobre o uso do caderno de desenho nas páginas seguintes Ana B. Guedes Brentano1 1 Formadora do Instituto Avisa lá e do MEC. Gabriel, 6 anos, passa vários dias tentando chegar à figura de um barquinho com a bandeira do Brasil.Aqui vemos quatro etapas de sua pesquisa, partindo de uma forma simples até chegar à concepção de céu, mar e, finalmente, a um barco com a vela-bandeira brasileira hasteada. 1 2 3 4 Um diário do percurso criador das crianças 20
  • 2. Eles desenhavam em folhas soltas, guar- dadas em pastas, de forma que era pos- sível acompanhar a evolução e a con- tinuidade de seus traçados. Como eles desenhavam muito em casa, tive acesso a esse percurso de criação. Hoje os cadernos de desenho vol- taram, com uma intenção que não exis- tia no meu tempo: a de possibilitar à criança se apropriar de seu percurso como desenhista. Eles passam a ter um caráter de diário, onde o aluno define o que desenhar e como desenhar, permi- tindo a expressão da individualidade.A criança é convocada pelo caderno a ver e rever seus desenhos. Muitas vezes, já com um olhar mais apurado, ela se vê tentada a completar alguma coisa que faltou, a colorir ou a desenhar nova- mente um antigo tema. Mais que isso, ao percorrer cada página de seu cader- no, ela poderá perceber a mudança de seus traçados: como fazia antes e como faz agora. Neste sentido, o caderno de desenho passa a ser um instrumento de pesquisa. Caderno de desenho como apoio para o professor O educador também pode utilizar o caderno como apoio ao planejamento do trabalho. Para tanto, é importante que ele tenha uma pauta que o auxilie a observar alguns aspectos como: a ação expressiva: como a criança se coloca frente à tarefa? Demonstra interesse, indiferença, soltura? o uso de material: mistura cores, varia o uso dos riscantes, apresenta dificul- dade no controle dos pincéis? objetos de pesquisa: desenha sempre a mesma coisa ou varia os temas nas suas representações? Márcia, professora da turma de 3 a 4 anos da creche São Rafael, por exem- plo, utilizou o caderno para estudar o percurso do grafismo infantil. Diz ela: “por meio do caderno eu pude visualizar quais interferências eu podia oferecer du- rante esse período, acrescentando desafios às diferentes propostas.” 2 Barcos não são o único tema de interesse de Gabriel.Aqui, seus esforços para estruturar a figura humana, entre abril e agosto. 3 1 Ilustração de conto de fadas sugerida pelas cenas do Gato de Botas. É também possível pesquisar novos interesses que estão brotando no grupo e que podem gerar diferentes projetos. Esses são alguns exemplos que po- dem ajudar o educador na tarefa de pesquisar e avaliar a aprendizagem de seus alunos, abrindo espaço para plane- jar intervenções necessárias, capazes de instigar novas aprendizagens para as cri- anças. Tudo para manter vivo o praze- roso e constante convite ao desenho. 21
  • 3. Direto da prática A professora conta como o caderno de desenho entrou em sua sala “No começo do ano tivemos a idéia de usar o caderno de desenho. Pedi que os pais trouxessem de casa um caderno com páginas brancas para seus filhos e esperei até que todas as crianças tivessem o seu. Então deixei que elas colocassem etiquetas com seus nomes. Ofereci momentos para que fizessem seus desenhos, a princí- pio livres, até acharmos um objetivo. Foi então que a Ana, formadora de nossa equipe, pediu que eu deixasse o caderno num canto da sala para que as crianças desenhassem quando quisessem. Em apenas um dia as crianças desenharam o caderno quase todo. Então dei também folhas de sulfite: quando termina- vam suas produções, guardavam dentro de uma pasta. Achei mais interessante traba- lhar com caderno de desenho por- que assim pude observar como as cri- anças foram evoluindo. Eu não tinha uma seqüência de propostas para o ca- derno, mas olhando-o agora, diante dos registros de uma semana,pude ver como as produções mudaram: dese- nhos mais detalhados, coloridos, com temas diversificados. Às vezes eu per- guntava se queriam mudar algo. Geral- mente não queriam,de tanto que apre- ciavam os trabalhos.Até mesmo as cri- anças que no começo tinham dificul- dades já conseguiam fazer um desenho melhor. Ao fim da atividade elas guar- davam o material com mais autono- mia, dizendo sempre:“esse é meu, dei- xa que eu guardo”. Acho que as crianças terão uma boa recordação quando saírem daqui, levando embora seus cadernos com tantos desenhos.” Maria Aparecida dos Santos, Mão Cooperadora. Bibliografia: Arte na sala de aula. Escola da Vila. Ed.Artmed.Tel.: (11) 3062-9544. Aprendiz da arte, trilhas do sensível olhar-pensante. Miriam Celeste Martins. Espaço Pedagógico. Tel.: (11) 5505-1135 Ficha técnica: A análise dos cadernos de desenho foi uma das estratégias formativas propostas por Ana B. Guedes Brentano, como parte de seu projeto de formação nas creches da Mão Cooperadora Obras Sociais e Educacionais e Creche Maria Natividade Machado. Participaram dessa experiência Márcia Helena da Silveira, professora da turma de 3 a 4 anos, e Maria Aparecida dos Santos, professora do pré. Mão Cooperadora Obras Sociais e Educacionais: Rua Prof. Francisco Marques de Oliveira Junior, 151, Jd.Três Corações, Santo Amaro, 04855- 340.Tel.: (11) 5933-3982, fax: 5528-5738, cremac.3c@ig.com.br Creche Maria Natividade Machado – Sociedade Beneficente São Camilo: Rua Ernesta Fracarolli,50, Jd. São Rafael, 04860-060, Tel.: (11) 5972-5120 Apoio: Reflexões do formador 1 22