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F L O R M A RT H A S C H WA B F E R R E I R A




       J OÃ O PA UL O I I
UMA VISITA AO HUMANISMO DE JOÃO PAULO
  II PARA COMPREENDER OS RISCOS DOS
     EXTREMOS DA POSMODERNIDADE
     NO PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO




            UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES


               CENTRO DE HUMANIDADES


                  RIO DE JANEIRO, 2005
Uma visita ao humanismo de João Paulo II para compreender os riscos dos extremos da
                   posmodernidade no Processo de Globalização




                                          por

                            Flor Martha Schwab Ferreira




Monografia requerida para certificação de pós-graduação Latu Sensu em História do Século

                                         XX.




         Pós-Graduação Latu Sensu para Especialização em História
               Coordenador Acadêmico: Prof. Dr. Daniel Aarão Reis
                            Instituto de Humanidades
                     Universidade Candido Mendes – UCAM




                                       2006


        Aprovação: __________________________________________



         ___________________________________________________
         ___________________________________________________
         ___________________________________________________



                                                Data: Rio de Janeiro, 28 de fevereiro de 2006.




                                                                                                 2
La Barca morena de un pescador,
                 Cansada de bogar,
     Sobre la playa se puso a rezar:
                     ¡Hazme, Señor,
un puerto en las orillas de este mar!

         (Oración – José Gorostiza)




                                   3
Agradecimentos


   Gostaríamos de agradecer aos professores do Instituto de Humanidades da
   Universidade Cândido Mendes pela solicitude amável com que sempre nos
   atenderam e, em especial, à professora Denise Rollemberg e ao Coordenador
   Dr. Daniel Aarão cujas palavras de encorajamento e as correções, sempre tão
   pertinentes como amáveis nos tornaram devedora de coração.

   Devo agradecer também à Biblioteca da Faculdade Teológica do Mosteiro de
   São Bento, às Irmãs do Colégio Sion, às amigas Andréa Nunes, Stella e Regina
   Daudt, à minha irmã Aida Schwab Ferreira, e aos meus pais pelos meios
   colocados tão generosamente à minha disposição.



   Muito obrigado.




                                                                                  4
Nota Explicativa


   Este trabalho sofre de naturais limitações de todo primeiro esforço intelectual. Algumas dessas
   limitações são até por entusiasmo, por excesso. É o caso do Cronológico Ilustrativo e o
   apêndice sobre a figura de João Paulo II, ao final da dissertação.


   Pretendemos com eles deixar uma idéia do que foi esse século e esse personagem para quem
   já não for contemporâneo desses fatos. Algumas das atrocidades ocorridas nesse período e, aí
   apresentadas, são decorrentes dos totalitarismos e da barbárie da expansão do capitalismo sem
   freios éticos. Nesse sentido esses apêndices são uma “ilustração” que reforça o tema desta
   dissertação.




                                                                                                5
Índice

   AGRADECIMENTOS..............................................................................................................4

   NOTA EXPLICATIVA ............................................................................................................5

   ÍNDICE.......................................................................................................................................6

   INTRODUÇÃO.........................................................................................................................7
      PROPÓSITO DA DISSERTAÇÃO..........................................................................................................7
      IMPORTÂNCIA TEÓRICA.................................................................................................................7
      RELEVÂNCIA, PESQUISA PRÉVIA E HIPÓTESE....................................................................................8
      MÉTODO.....................................................................................................................................9
   CAPÍTULO I – O PARADIGMA CRISTÃO E JOÃO PAULO II....................................10
      COMPREENDENDO A POSIÇÃO FILOSÓFICA DE JOÃO PAULO II............................................................11
      TOTALITARISMOS PARA JOÃO PAULO II.........................................................................................14
   CAPÍTULO II - A NOVA ÉTICA GLOBAL ......................................................................15
      CONSTITUIÇÃO DE UMA NOVA ÉTICA.............................................................................................15
      A INFLUÊNCIA NEW AGE............................................................................................................16
      A ONU E A GLOBALIZAÇÃO SOB INFLUÊNCIA NEW AGE................................................................18
   CAPÍTULO III - OS EXTREMOS DO NOVO PARADIGMA........................................20
      RELATIVISMO E SUBJETIVISMO.....................................................................................................20
        Relativismo........................................................................................................................20
        Subjetivismo .....................................................................................................................21
      INDIVIDUALISMO, UTILITARISMO, CONSUMISMO, MATERIALISMO.......................................................21
        Individualismo e Utilitarismo...........................................................................................21
        Consumismo .....................................................................................................................22
        Materialismo.....................................................................................................................23
      LAICISMO, CIENTIFICISMO E EDUCAÇÃO ......................................................................................23
        Laicismo ...........................................................................................................................23
        Estado................................................................................................................................25
        Ciência..............................................................................................................................25
        Educação...........................................................................................................................26
   CONCLUSÃO..........................................................................................................................27

   APÊNDICE..............................................................................................................................30
      NOTAS ....................................................................................................................................30
      JOÃO PAULO II..........................................................................................................................36
      CRONOLÓGICO ILUSTRATIVO........................................................................................................37
   BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................................41




                                                                                                                                                6
Introdução

   Propósito da dissertação

   O objetivo deste trabalho é principalmente o de por em relevo que a cultura laica não é
   imparcial como se apresenta, como seus paradigmas não são isentos e que também atingem
   extremos fundamentalistas promovidos por interesses ideológicos não confessados. E, ainda,
   de como a globalização sob uma cultura laicista, o extremo fundamentalista do laico, tem
   introduzido elementos desumanizadores ao valorar a produção e o consumo em detrimento da
   pessoa e que isso pode levar a um totalitarismo muito opressor.


   Para isso, estipulamos, a partir da análise de alguns documentos do Papa João Paulo II,
   algumas características do seu humanismo. Em seguida o comparamos com os paradigmas da
   contra cultura da década de 1970, predominantemente a influência New Age. A partir daí
   apresentamos alguns possíveis extremos da cultura laica, o laicismo. A seguir esperamos
   demonstrar como a cultura laicista serve aos interesses do capitalismo globalizado ao
   corroborar a eliminação de referências humanistas e éticas do cristianismo que limitam a
   expansão do capitalismo.


   Importância Teórica

   Este trabalho, de caráter introdutório não pode pretender achar-se inserido num debate teórico
   maior porque suas observações restringem-se a um resumo de umas especulações a partir dos
   documentos de João Paulo II e de alguns artigos listados na bibliografia.


   Assim, que, em termos teóricos nos aferramos à idéia de Paul Veyne de que uma das metas do
   conhecimento histórico é identificar como uma determinada situação leva a um resultado
   específico. De ver os acontecimentos como fenômenos por detrás dos quais se revela um
   aspecto pouco percebido. Como diz Paul Veyne o “fato não é nada sem uma intriga”. 1 “O
   historiador faz compreender intrigas”.2 A nossa “intriga” se refere à suspeita de que a
   superação do paradigma cristão, principalmente nas sociedades ocidentais desenvolvidas, pela
   pós-modernidade de caráter relativista e laicista não é espontânea. Ou, como freqüentemente
   se apresenta, como decorrente de um “progresso natural” de um tempo de dogmas religiosos
   para os de uma verdade “pura porque científica”. Mas sim um recrudescimento do abandono
   de importantes premissas humanitárias cristãs que vêm se desenvolvendo com a expansão
   globalizada do capitalismo e para atender aos objetivos materialistas dos interesses
   multinacionais.




   1
       Veyne, Paul, “ Como se escreve a História”, Edições 70, p. 45.


   2
       Veyne, Paul, “ Como se escreve a História”, Edições 70, p. 108.
                                                                                               7
Relevância, Pesquisa Prévia e Hipótese

Quando tivemos que escolher o tema de nossa dissertação de conclusão do curso de Pós-
Graduação em História do Século XX, havia pouco que o Papa João Paulo II havia falecido.
Pela curiosidade de explicar como justamente um “padre” causou tanta repercussão num
século que decretou a morte de Deus, questão típica para historiador, logo anunciei a intenção
de versar sobre esse tema.


Rapidamente vi muitas “caras de mofo”. Recebi etiquetas de “extrema direita” antes mesmo
de escrita a primeira linha. Chamou-nos assim atenção esse “exagero” de repúdio quando
tantos outros temas apresentados, talvez porque muito circunscritos ou “batidos” pudessem
estar primeiro na fila da gaveta eterna primeiro que o meu.oPorque o nosso tema causava um
“consenso” tão automático, apaixonado? Era só um tema como outro qualquer. Na verdade,
tão simplesmente, foi uma manchete de jornal noticiando o falecimento do Papa como “a
maior notícia da história” foi o que nos chamou a atenção para o tema.


Essa resistência só aumentou a nossa curiosidade e pensamos que a pesquisa que começou por
uma personagem encontrou um campo ainda maior de investigação.


Encontramos assim um vasto debate entre o laicismo e a religião. Mas não encontramos quem
propusesse a vinculação entre a expansão do capitalismo e a opção pela cultura laicista nesta
etapa da expansão à nível planetário. Ou seja, o avanço do capitalismo está engendrando uma
nova vinculação entre as pessoas, os grupos sociais e as relações de poder que passam pelo
mercado. A cultura aí produzida que justifica o poder, estimula comportamentos está
mudando os seus valores no nosso modo de entender para atender melhor a esta etapa de
expansão do capitalismo e sua nova face ainda não foi completamente revelada no que tange
aos seus extremos. A substituição do paradigma cristão e dos seus princípios éticos, na
civilização ocidental está ocorrendo nesse contexto.


Acreditamos ainda que está havendo um novo arranjo: o capital controla as idéias a partir do
mercado e só ideologia e idéias não conseguem controlar para onde vai a economia e os
investimentos e nesse sentido a perda o ideário de defesa dos pobres como um valor é
especialmente relevante. Nesse sentido, visões à esquerda, que constituiriam historicamente
uma resistência tem sua eficácia “driblada” pelo grande capital em que membros da
resistência são cooptados para o sistema. Aqui é como se estivéssemos revendo os brilhantes
trabalhos de Paul Willis. Ele comprovava como a cultura que resiste ao sistema, muitas vezes
assume posições que mais na frente lhe são contrárias. É nesse sentido que podemos ver a
cultura laicista fazendo uma “contratação” de movimentos de esquerda, em espaços como os
intelectuais ou de culturas promovidas em ONGs de sua visão anti-religiosa para aumentar o
consenso anti-cristão. Se compreendermos a cultura cristã como algo que precisa ser superado
pelo novo paradigma podemos ver uma promoção numa direção que vai de ações objetivas
como o financiamento de ações no Terceiro Mundo com verba e deliberadas, até adesões
internas aos novos ideários.


A direita corrobora a adesão e a substituição do ideário cristão ao assumir numa cultura
consumista os princípios materialistas como únicos, colaborando para eliminar exigências
éticas e aspectos humanistas da cultura cristã que até aqui forjavam a cultura ocidental.
                                                                                            8
Essa redução do homem a níveis materiais é questionada fortemente pela Igreja Católica
porque dela derivam conseqüências que reduzem o homem de sua plenitude ao que é
manipulável pelos interesses do mercado e é anti-vida. O Papa João Paulo II “estragou” um
pouco a formação desse consenso laicista e por isso utilizamos seus documentos para
fazermos esta primeira especulação sobre essas possibilidades.


                   No seu ensinamento pontifício, atividade intelectual e pastoral, o Papa
                   João Paulo II, empenhou-se na salvaguarda da pessoa e na defesa da
                   dignidade humana. Questionou a concepção materialista do homem
                   predominante no século XX e a falta de respeito à pessoa decorrente de
                   visões excessivamente materialistas. Para ele a perda do “espaço” do
                   “espírito” nas concepções do homem, que prevaleceram no último século
                   do segundo milênio, estava na raiz dos totalitarismos que tanta barbárie
                   promoveram no século XX e dos quais ele viveu conseqüências na própria
vida. Essa perda do sentido transcendental do homem, para João Paulo II, gerou os
totalitarismos quer fossem os de partido (Nazismo), de estado (Comunismo) e de mercado
(Capitalismo neoliberal pós-moderno). Segundo João Paulo II, enquanto as necessidades do
homem estiverem submetidas às leis do mercado, por exemplo, corremos o risco de cair no
totalitarismo de mercado. Nos documentos de João Paulo II, da Igreja, do site Arvo.net
encontramos alguns artigos sobre esta crítica ao laicismo, versão fundamentalista do estado
laico. (Nota 1)


Em resumo, nossa hipótese é a de que o paradigma cristão está sendo substituído pelo laicista
para dar melhor amparo a expansão do capitalismo globalizado. Além do laicismo se unem, a
este, outros “extremos” como o cientificismo como veremos a seguir. ( Nota 2)


Método

Utilizamos o pensamento humanista de João Paulo II para criar uma comparação. A partir dos
documentos desse papa montamos uma idéia do seu humanismo e da sua crítica ao
materialismo. Em seguida resumimos as principais características do movimento New Age no
que ele possa ter contribuído para a nova cultura laicista. A partir das interferências da Onu,
da política de Zapatero, atual primeiro ministro na Espanha e outros documentos mostramos a
absorção de ideais materalistas à esquerda e à direita formando a nova oposição que há de
prevalecer no processo de globalização: a oposição entre o homem e o material.


Se não estamos enganados Bourdieu utilizou as teses de Marx sobre o capital para criar sua
teoria do “capital social”, que seria outro elemento importante para a emancipação das classes
operárias, não bastando para elas terem dinheiro porque – em curtíssimo modo, seriam
discriminadas mesmo “chegando lá”. Se nos é possível ter a pretensão de plagiar Bourdieu,
esta dissertação trata não de um “capital” mas sim de um “débito” que estaria sendo
distribuído, pela cultura pós-moderna a todos: a perda de “humanidades” em favor de uma
lógica da produtividade para o bom desempenho da economia prioritariamente às
necessidades do homem.




                                                                                             9
Capítulo I – O Paradigma Cristão e João Paulo II

   O AMOR CRISTÃO CONSTITUI UMA DISPOSIÇÃO MORAL QUE SE PROJETA EM
      UMA ENORME VARIEDADE DE AÇÕES. CARIDADE SIGNIFICA SERVIR,
    COMPREENDER, CONSOLAR, ESCUTAR, SORRIR, ACOMPANHAR, CORRIGIR,
     ANIMAR, PEDIR PERDÃO E PERDOAR, DAR E RECEBER. (Javier Echevarría)




        João Paulo II nos explica que o centro da fé cristã é a de que a imagem cristã de Deus
        leva conseqüentemente a imagem do homem e do seu caminho. Sem o contacto com
        Deus posso ver no outro apenas o outro e não consigo reconhecer nele a imagem divina,
        o que nos uniria em irmandade. Assim, o amor a Deus e, ao próximo são inseparáveis, e
        isso está inscrito na própria natureza do homem. Por isso, essa lei natural do amor é a
   base da ética, dado o seu caráter universal de estar presente em todos os homens como próprio
   de sua natureza humana. Isto asseguraria ao paradigma do amor a força de propiciar justiça
   para além das circunstâncias históricas.


   Porque feito à imagem e semelhança de Deus o homem contém em si mesmo a dignidade e,
   portanto, não pode ser submetido ao estado, ao partido ou ao mercado. Com sua “teoria
   personalista” sobre o valor humano, João Paulo II estará, por todas as suas viagens e nas mais
   diferentes circunstâncias apelando pela dignidade humana decorrente da natural primazia da
   pessoa vista sob o prisma cristão. (Notas 3, 4 e 5)


   A ação de João Paulo II permitirá uma critica ao domínio materialista, por sua clara
   resistência humanista, especialmente dirigida aos totalitarismos do século XX.


   Aliás, se tentássemos explicar a unanimidade histórica alcançada por João Paulo II pensamos
   que a resposta está vinculada, exatamente, a essa sua “resistência” humanista contra as visões
   materialistas que predominaram no século XX. Será a sua defesa do “espírito”, da pessoa, em
   oposição às soluções ideológicas e materialistas um elemento principal da compreensão do
   porque da sua grande repercussão na história do período. (Nota 6)


   É com a sua visão humanista que o povo se identificará quando ele passar em suas viagens
   apostólicas pelo mundo reivindicando o direito dos pobres e dos excluídos. No século que
   decretou a morte de Deus, a superação do dogma religioso e produziu atrocidades em escala
   nunca vista, o papa João Paulo II lembrou ao homem o valor do próprio homem.




                                                                                              10
Compreendendo a posição filosófica de João Paulo II

O fundamento da imagem e da semelhança do homem com Deus, argumento inquestionável
da dignidade humana no paradigma cristão acima referendado, era, para João Paulo II,
baseado não só na razão e na vontade livre do homem com a qual ele se distinguia dos animais
e se aproximava de conhecer Deus, mas também se via na constitutiva ordenação mútua do
homem e da mulher. Para João Paulo II a pessoa é um sujeito dialógico, ou seja, a pessoa é
sujeito relacional chamado a entregar-se aos demais. Essa idéia está na base do seu
pensamento personalista, tanto para explicar o amor humano, o valor da vida como também o
princípio da solidariedade que deveria regular as relações sociais. ( Nota 7)


A conseqüência metodológica de sua postura personalista é a de que a ação humana tem uma
dimensão intransmissível sem a qual não se pode apreciar o agir humano em sentido exato.
Assim, na prática, existe uma parte da ação que pertence a esse núcleo humano intransferível
que por sua vez condiciona a própria prática humana. Em resumo, o filósofo João Paulo II vai
ver no agir humano a explicação fenomenológica de uma natureza humana que não se esgota
nos seus aspectos físicos e biológicos e, dada a sua integralidade não se lhe aplica uma ética
meramente racionalista como tendem a fazer as sociedades materialistas e cientificistas.


O mercado, o Estado e a política com suas variantes conjunturas só estarão a altura da
dignidade humana quando operarem em favor da subjetividade da pessoa. Devido a esse
caráter único, intransferível e integral do homem ele reflete um valor por si mesmo. Não
depende de condicionamentos para ser valorado. (Nota 5)


Essa idéia de João Paulo II aparecerá na Encíclica Laborem excercens afirmando a prioridade
do trabalho sobre o capital pela natural prioridade da dimensão subjetiva do trabalho, dessa
dimensão humana que é transmitida ao trabalho e a toda prática humana. Próprio do agir
humano integral do homem, feito à imagem e semelhança de Deus, a pessoa se constrói a si
mesma na prática e, em certo sentido, parte da sua subjetividade constrói o mundo. E assim
sua subjetividade participa do ser e do fazer junto com outros. Essas idéias filosóficas estarão
na base de seus conceitos de solidariedade humana defendidos como fórmula-mãe para
superação de problemas sociais em muitos de seus documentos. (Nota 6)


João Paulo II legitima filosoficamente a primazia da pessoa a partir da profissão cristã, mas
em termos filosóficos concretos, expressos em suas encíclicas. A encíclica, “Esplendor da
Verdade”, aborda mais profundamente suas considerações sobre a natureza humana e da
verdade que o homem comporta a partir do ideal cristão. Para ele, a experiência do magistério
da Igreja não é, portanto de natureza meramente teórica.


Para João Paulo II o conhecimento da Igreja do homem não é sobre princípios e fundamentos
normativos de um sistema de moral, como se fosse um tratado de deveres ideais. Mas um
conhecimento de natureza sapiencial que considera o homem na sua integralidade de pessoa.


Podemos dizer que a norma personalista de ação de João Paulo II faz uma releitura de Kant.
Principal filósofo alemão do movimento idealista (predomínio da atitude teórica) do século
XVIII, época da Revolução Francesa, rejeitava a tradição religiosa social por um racionalismo
                                                                                             11
que acolhe a razão de René Descartes e o empirismo de Francis Bacon. Tendo influenciado a
modernidade, Kant é o oposto do cristianismo devido a sua defesa da auto-suficiência da
razão. Como Kant prescinde de elementos empíricos e se funda de maneira exclusiva na
razão, propõe uma ética estritamente racional.


A visão fenomenológica do agir humano de João Paulo II acima descrita com suas
implicações sobre o valor absoluto do homem decorrente da implicação metafísica de sua
postura religiosa questiona a ética de base exclusivamente racional. O homem é uma
integralidade e uma comunhão com o ser e com os outros pela qual se constitui e à realidade à
sua volta. Não podendo, portanto, ser regulado por uma ética simplesmente racional. Ou seja,
não basta para solucionar os problemas dos excluídos ter a solução em seus aspectos
materiais. A natureza humana impõe respeito ao pleno desenvolvimento da pessoa. Não
pretendemos exaurir as considerações filosóficas de João Paulo II, mas apenas esboçar suas
principais considerações para que se compreenda porque o colocamos como resistência
humanista ao materialismo racionalista pós-moderno.




                                                                                          12
Regiões Visitada pelo Papa até 2003
           América Setentrional                     3
                                                        6
             América Meridional                             10
                                                                  16
                                      Ásia                        17
                                                                                          39
                                     África                                                 42

                                               0          10       20          30    40          50
                                               Quantidade de países visitados




                                 Discursos de João Paulo II de 1978 à 2003

            Europa Ocidental
                        África
               Europa Oriental
              América do Sul
Regiões




            Sudoeste Asiático
             América do Norte
              América Central
                Oriente Médio
          Europa Mediterrânea
              Extremo Oriente

                                 0       100        200          300         400    500      600
                                                     Quantidade de Discursos




                                                                                                      13
Totalitarismos para João Paulo II

                           A opção pelo afastamento de parâmetros transcendentais no século XX é,
                           para João Paulo II, uma das razões de ocorrerem os totalitarismos, posto
                           que o racionalismo humano pode se submeter às conjunturas históricas.
                           Essa falta de parâmetros transcendentais, pode levar à manipulação do
                           homem pelas relações de poder: totalitarismo de partido: nazismo, de
                           estado: comunismo; de raça, apartheid, de mercado etc. No caso do
                           capitalismo neoliberal levando ao totalitarismo de mercado.
Forno    crematório   de
Auschwitz

                      Para João Paulo II, um dos perigos da negação da essência
transcendente da natureza humana é uma redução da pessoa aos seus aspectos mais naturais e
sensitivos o que levaria não só aos totalitarismos como também ao tratamento superficial e
fútil da vida humana.


            "Como demuestra la historia, una democracia sin valores fácilmente se
            toma en un totalitarismo abierto o tenuemente disfrazado" (Juan Pablo
            II, Encíclica Centessimus annus, 13-V -1991).

            "El totalitarismo nace de la negación de la verdad (...) La raíz del
            totalitarismo moderno hay que verla, por tanto, en la negación de la
            dignidad trascendente de la persona humana, imagen visible de Dios
            invisible y, precisamente por esto, sujeto natural de derechos que nadie
            puede violar: ni el individuo, el grupo, la clase social, ni la nación o el
            Estado. No puede hacerlo tampoco la mayoría de un cuerpo social,
            poniéndose en contra de la minoría, marginándola, oprimiéndola,
            explotándola o incluso intentando destruirla". JOÃO PAULO II, Enc.
            Centesimus annus, nº 44.




                                                                                             14
Capítulo II - A Nova Ética Global

        “UN AUMENTO SIN PRECEDENTES DE LA POBLACIÓN HUMANA SOBRECARGÓ LOS SISTEMAS
     ECONÓMICOS Y SOCIALES...” “EN CONSECUENCIA, NUESTRA OPCIÓN ES FORMAR UNA SOCIEDAD
   GLOBAL PARA CUIDAR DE LA TIERRA Y CUIDARNOS LOS UNOS A LOS OTROS O EXPONERNOS AL RIESGO
             DE DESTRUIRNOS A NOSOTROS MISMOS Y DESTRUIR LA DIVERSIDAD DE VIDA...”
   “PRECISAMOS CON URGENCIA DE UNA VISIÓN COMPARTIDA RESPECTO DE LOS VALORES BÁSICOS QUE
    OFREZCAN UN FUNDAMENTO ÉTICO A LA COMUNIDAD MUNDIAL EMERGENTE...” ( CARTA DA TERRA)




   Constituição de uma Nova ética

   No final do século XX, constitui-se a nível internacional, um projeto de construir uma ética
   universal que quer suplantar os valores cristãos. Os novos valores são matizados pelo
   ecleticismo que é uma aceitação de qualquer afirmação sobre a conduta humana independente
   do seu sistema, contexto e juízo. Por um historicismo segundo o qual a verdade muda de
   acordo com sua adequação às conjunturas da história, (o que é frontalmente oposto às
   verdades eternas e universais do ideal cristão.). Por um cientificismo para quem a única
   verdade aceitável é a experimentável cientificamente. De um pragmatismo que considera as
   decisões éticas tendo em conta, predominantemente, o critério da utilidade. E ainda por um
   nihilismo que é uma renúncia tácita da capacidade de alcançar verdades objetivas, nada
   podendo, portanto ser pétrio.


   O mais importante na nova ética é a autodeterminação individual. Para os defensores da nova
   ética a natureza, a terra, (Gaia) é a divindade inviolável. O ser humano um predador que se
   regenera quando em harmonia com a terra. Não sendo como no paradigma cristão a criatura
   mais excelsa porque pode conhecer a Deus e a sua racionalidade centelha da inteligência
   divina, por depredar o meio ambiente, o homem é até um animal “ruim”. Essa retirada da
   primazia do homem será fundamental para a liberalização de cuidados éticos nas relações
   reguladas pelo lucro.


   Um claro exemplo das implicações da nova ética podem ser vistos no seu entendimento da
   bioética que respeitaria três princípios: o da autonomia pela qual uma ação é boa se se respeita
   a liberdade do agente moral e dos outros. O princípio de que há que fazer sempre o bem e
   evitar o mal. E por último o princípio da justiça que é dar a cada um o que é devido.


   Pelas lentes do cristianismo esses princípios acabam fundindo-se no relativismo porque
   aqueles que não tem liberdade não são considerados para a ação moral e é o caso dos embriões
   e dos fetos. Sem se explicar o que é o bem e a justiça para os outros posso estabelecer o que
   seja o bem e o justo para mim sem defini-lo para os outros. Essa nova ética se apresenta como
   uma nova espiritualidade que suplantaria as religiões para salvar o eco-sistema. Mas esconde
   interesses e implicações ainda não claramente expostos. Podemos, assim, ver o capitalismo
   criando uma nova religião secular com um novo Deus que seria a Terra Gaia.

                                                                                                15
Os valores que sustentam o novo paradigma são subordinados ao valor supremo da ecologia
pelo qual pretendem implantar o conceito de desenvolvimento sustentável que alguns
acreditam lhe dará o direito de submeter reservas de água e outros valores naturais a um
controle internacional para que se veja o alcance das novas idéias que aparecem não obstante
travestida de romantismo “panda” ou de uma ‘valoração”moral que torna inquestionável sua
“verdade”.


Para o cristianismo uma ética pétria é fundada na objetividade do próprio homem.



A Influência New Age

A partir das contestações da década de 1970 cresce a influência do movimento Nova Era na
ética e na cultura da virada do segundo para o terceiro milênio. Numa volta ao ecletismo
filosófico-religioso surgido com o ocultismo do século XIX nos EUA, o movimento chamado
de “Nova Era”, pretendia substituir todas as religiões e constituir uma nova ética global. Seria
uma nova maneira de ver as coisas, um novo paradigma.


A Nova Era não é uma seita, nem uma Igreja nem uma religião, mas uma forma de ser, pensar
e atuar assumida por muitas pessoas e organizações que decidiram mudar o mundo com certas
crenças que tem em comum. A ONU e outros organismos internacionais tem forte conotação
Nova Era. Mas também o cinema e agentes culturais em geral. Os jovens consomem vários
“produtos” impregnados de Nova Era sem que o seu caráter apareça na integra, como as
bruxarias “boas” como a Wika e o gosto pelos bruxos como Harry Potter e ideais
ecologicamente corretos, mas que ainda não mostram totalmente as implicações implícitas em
suas teses.


A partir da nova consciência dos homens, na era de aquário, o homem se dará conta de seus
poderes sobrenaturais e saberá que não existe nenhum deus fora de si mesmo (panteísmo). Ele
mesmo promove a sua salvação; eu salvo a mim mesmo, não preciso de um intercessor e,
portanto, o meu eu é absoluto para formar o meu julgamento. O homem criará sua própria
verdade, não existindo nem o bem nem o mal (relativismo filosófico e moral). Se eu partilho
da divindade invento a minha própria moral e ninguém tem o direito de dizer o que fazer com
o meu corpo, etc. O resultado é um egoísmo individualista que justifica fazer o que se quer
acima de qualquer norma moral.


Adotando técnicas como a música, a dança, a arte em geral, astrologia, “channelling”
(comunicação com entidade do mundo invisível), controle do corpo por meio das artes
marciais, controle da natureza com a arte floral, cristais, ecologia, vegetarianismo, yoga,
budismo zen, o amor livre, o experimento de comunidades utópicas, o misticismo, a busca de
sabedoria nas civilizações antigas, técnicas de ampliação da consciência, a magia, a droga, a
psicologia de Jung (consciência coletiva) e a psicologia humanista de Maslow que se baseia
na experiência da unidade do cosmos com a natureza, a “Nova Era” propaga éticas
romanticamente defendidas e por isto facilmente assimiladas em mídias que por sua própria
natureza não promovem debate mais criterioso.




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A Nova Era é uma ideologia antivida. A idéia de reencarnação unida ao relativismo moral da
Nova Era promove a base ideológica para justificar o aborto uma vez que acreditam que não
importa eliminar uma vida humana já que ela vai reencarnar depois. Se o corpo é só uma
prisão temporal da alma, que reencarna várias vezes, então o corpo é só um instrumento do
“eu”. Dessa postura decorrem as justificativas para qualquer comportamento sexual,
manipulação do corpo, hedonismo, anticoncepção etc.


O movimento ambientalista promove a idéia falsa de que a superpopulação está degradando o
meio ambiente, quando é a indústria desenvolvida que mais depreda o planeta. Não são os
povos pobres, visados pelas políticas abortivas e de planejamento familiar promovidos em
grande parte pela influência da ideologia Nova Era dos países ricos os que mais poluem.


A degradação de áreas como a Amazônia se tem dado pela sistemática de consumo de
madeiras nobres e de riquezas dessa região pelo Primeiro Mundo. A pobreza associada à
poluição em países do Terceiro Mundo requer a solução do problema da pobreza e não do
extermínio de pobres como está implícito em toda estratégia de solução abortiva.


As soluções abortivas propostas por Ongs financiadas pelos governos de países desenvolvidos
tem um caráter ineludível de extermínio. Nos países pobres, o direito que deveria estar em
questão é o direito de nascer e de dar as condições de criar um filho e não o de abortar como
solução para a questão da pobreza. Mas o entendimento do paradigma cristão é
essencialmente pró-vida pela sua concepção acima resumida e por isso vem sendo
sistematicamente desqualificado para abrir espaço para a nova ideologia. (Nota 16)


A ideologia Nova Era faz parecer que a sua intervenção, através de Ongs que fazem lobby e
promovem abortos com recursos de governos de países desenvolvidos com cifras de vários
milhões de dólares, é a conquista de um “direito”. A mesma ideologia poderá, também, em
nome da ecologia, intervir em áreas como a Amazônia ou pela posse de água e outros recursos
naturais escassos em países desenvolvidos degradados pelo excesso de industrialização sob o
pretexto de proteger o meio ambiente já que o país é pobre e incapaz de faze-lo. ( Nota 11)


O objetivo planetário da Nova Era é a criação de um verdadeiro e próprio sistema da nova
humanidade, daí a necessidade da educação mundial em novos valores e o descarte
sistemático dos antigos. Nesse sentido vemos claramente como a Igreja Católica que é contra
o aborto é vista como elemento que precisa ser sistematicamente desqualificado e sua
interferência banida dos países pobres. Não como um paradigma que está superado, mas como
um estorvo ao novo processo ideológico. O que coloca claramente que esse descarte do ideal
cristão que modelou até aqui a cultura ocidental não está sendo feito pela superação “natural”
de seus valores por mais modernos, mas num claro esforço de implementação de uma nova
ordem mais de acordo com os novos interesses emergentes. ( Nota 12)


Nesse sentido podemos dizer que a Nova Era não é outra coisa que a justificação
pseudoreligiosa e ideológica do novo processo de colonização a nível planetário do
imperialismo capitalista desta virada do segundo para o terceiro milênio. A nova mentalidade
se converteu em parte da estrutura ideológica por trás do neoliberalismo dando impulso ao
controle de natalidade, à educação sexual hedonista, ao feminismo antivida e antifamília, ao
relativismo filosófico e ético, e ao patrocínio das concepções licenciosas promotoras do
consumismo. ( Nota 10)
                                                                                           17
A Nova Era pode se transformar em fenômeno de massa porque num mecanismo decorrente
de sua ambigüidade relativista serve ao romantismo e ao sentimentalismo religioso alojando,
nas teses que defende, muita frivolidade de julgamento. Para uma cultura moldada em grande
parte pelos meios de comunicação de massa, essa superficialidade facilita a promoção das
novas “lógicas” e novas “verdades”. Suplantando a ideologia cristã e não encontrando outra
resistência, os novos ideais vão se impondo a serviço de seus interesses hegemônicos.


A ONU e a Globalização sob influência New Age

Em termos de globalização essa influência New Age apresenta-se como um projeto
mundialista em que o Norte desenvolvido e o sul subdesenvolvido do planeta precisariam um
do outro porque seus interesses seriam recíprocos. Mas o norte teria o comando do processo é
claro. E ideologicamente começa fabricar esse consenso com visões anti-religiosas em nome
do progresso de base científica entre outros elementos de sua nova ética. Para isso são
convidadas multinacionais para participar do projeto de consolidar o consenso, a ser feito pela
ONU que asseguraria a eficácia do processo de mundialização necessário claramente um
processo hegemônico. (Ver informe Brandt da ONU). Nesse projeto os estados estariam
limitados por um poder mundial que asseguraria a sobrevivência da humanidade, a proteção
do meio ambiente e a manutenção das fontes da vida que são escassas. Nesse processo
hegemônico o homem perde o seu lugar e a visão do mundo é materialista.


A ONU está elaborando um documento sistematizando a visão holística da globalização, a
chamada “ Carta da Terra” que deve substituir a Declaração dos Direitos Humanos de 1948 e
o decálogo.


Das primeiras versões dessa Carta podemos ler fragmentos como este em que facilmente se
nota o interesse de exercer um controle mundial com base em seus interesses hegemônicos

”El medio ambiente global, con sus recursos finitos, es una preocupación común a todos los
pueblos. La protección de la vitalidad, de la diversidad y de la belleza de la Tierra es un deber
sagrado...” Sob o comando de quem? Ou, ainda, “Un aumento sin precedentes de la población
humana sobrecargó los sistemas económicos y sociales...” O que decorrerá na visão anti-vida
questionada pela Igreja Católica e por isto freqüentemente demonizada principalmente na
mídia em prol da cultura laicista.


Para consolidar o poder hegemônico do capitalismo, nesta etapa planetária, a visão holística é
adotada para assegurar que sejam resolvidos problemas e obstáculos à sua consecução
impostos pela doutrina católica.


Se houver uma religião só ou se todas forem niveladas como expressões culturais válidas fica
proibido o proselitismo e logo a influência, em especial da Igreja Católica no ocidente, e em
especial na vida pública ficam restringidas.


A ONU está convocando o setor privado para ajudar nesse processo de laicização new age,
procurando a adesão de vários setores nesse “Pacto Global” que regularia os mercados
mundiais conforme os interesses do capitalismo e em detrimento da pessoa humana.
Aceitaram fazer parte desse pacto, a CNN, Bill Gates, Shell, Ted Turner. Com uma visão
                                                                                    18
materialista e anti-cristã esses membros irão se preocupar com os excluídos da terra na medida
de seus interesses comerciais no mundo. O que pode privilegiar campanhas abortivas
milionárias em todo terceiro mundo com o intuito de diminuir com os pobres em vez de com a
pobreza o que é contrário à visão cristã de que toda vida é preciosa porque é dom de Deus e
que até bem pouco era o paradigma ocidental de “humanidade”.


Nesse contexto os direitos humanos estarão fundados na base de procedimentos consensuais e
não de uma verdade petria válida para todos os seres humanos. Num pacto de pura vontade
vamos estabelecer a verdade que será válida para todos. Mas não nos decidiremos baseados
em valores que se impõe pela verdade que contém, mas pela força criando na Onu um sistema
supranacional positivista.


Que força terá um sindicato numa esfera internacional para definir direitos trabalhistas, ou um
Estado assegurar garantias estabelecidas por consensos em organismos internacionais como a
OMC? A Onu seria assim o grande poder central, a serviço dos interesses multinacionais e
seus órgãos como a FAO, seus ministérios internacionais.


Retirar o poder de legislar sobre a verdade, o bem o que é certo à Igreja Católica no ocidente
ou a base religiosa desses paradigmas é uma necessidade de controlar o direito, a motivação e
a regulação dos homens na globalização. A partir de filósofos como Junger Habermans que
estabelecem o que seja a verdade a partir da formação de um consenso, organismos como a
ONU passam a legislar independentemente de uma ética básica, fundamental. Ao controlar o
direito como a única fonte de norma a Onu se entroniza como fonte de pensamento, de
verdade. Os crimes contra os novos direitos poderão ser julgados e no caso de um país não
aprovar o aborto em seu território poderá sofrer sanções do sistema internacional. Através do
consenso esse projeto único de globalização mundial poderá realizar a utopia de legitimar e
montar um governo mundial único a serviço a serviço dos interesses das multinacionais.

A Igreja Católica afirma a necessidade e a urgência de se fundar a sociedade internacional
com base no reconhecimento da igual dignidade de todas as pessoas. O sistema da ONU quer
que o sistema jurídico e os direitos do homem surjam de determinações voluntárias.

Não se pode endossar uma globalização em que a unidade e a universalidade estejam acima
das vontades subjetivas dos indivíduos e imposta para o benefício do mercado mesmo sob
roupagem romântica de tolerância e amor à natureza e promessa de um progresso de base
científica que substituiria os “tempos de trevas medievais de domínio de dogmas religiosos”
argumentos com os quais facilmente se cooptam adesões superficiais.




                                                                                              19
Capítulo III - Os Extremos do Novo Paradigma

   Relativismo e Subjetivismo

   RELATIVISMO


   O relativismo é uma postura que se originou no pensamento sofista grego e advoga que não se
   poderia alcançar o conhecimento objetivo das coisas porque qualquer afirmação não
   representaria uma verdade absoluta válida para todos, em todo o tempo. A consciência
   humana estaria, portanto, condicionada não existindo um bem ou uma justiça absoluta que
   pudessem ser norma de comportamento ético universal.


   A posição relativista pode-se resumir nos seguintes pontos: proibido proibir, tudo é opinável,
   os dogmas são inadmissíveis menos os relativistas que são de aplicação obrigatória. Uma
   liberdade de pensamento que não considera limitações de qualquer espécie. O importante é a
   tolerância e não as idéias que se toleram. Se a minha idéia pode influir no outro é um atentado
   contra a liberdade de expressão. Sob a fachada de que todas as idéias são válidas, projeto no
   consenso que a esta minha vale mais, já que não existem critérios objetivos para critica-los. Só
   aceitar o que seja demonstrável e só existe o que se vê, o que não se vê não existe. E por
   último a política de não ingerência em nada: não se pode dizer que uma coisa está bem ou está
   mal.


   É por isso que promover a confusão ética é interessante: onde não há erro também não há
   verdade a ser defendida. Se não há juízos falsos também não há os verdadeiros. Num ambiente
   em que tudo é possível ser verdadeiro, ou falso, pode ser verdadeiro aquilo que interessa. E
   assim se pode passar por cima dos valores éticos cristãos milenares. Este é o nosso ponto: não
   é uma “progressão” natural de tempos de dogmatismo religioso para tempos de
   esclarecimento científico, mas uma progressão da expansão capitalista a nível planetário que
   requer outros paradigmas de comportamento, e os promove a gosto.


   Sob a veste de debate democrático, que aceita várias visões éticas, passa despercebido para a
   maioria, o estabelecimento de uma nova retórica que visa retirar a possibilidade de existirem
   valores tão pétrios que não se submetam ao interesse dos grupos dominantes. Aceitar
   incondicionalmente o relativismo significa que a maioria pode definir as regras morais e
   amanhã impor novas contrárias às de ontem. As experiências do totalitarismo mostram que o
   poder fixa as normas autoritariamente de modo independente de considerações humanistas.


   Com o relativismo como ideologia dominante, aqueles grupos que colocam a primazia de seus
   valores no lucro irão, com facilidade, priorizar a eficiência econômica em detrimento das
   necessidades dos povos. Encontram, assim, meios de impor uma globalização econômica
   como uma fonte de oportunidades para seus lucros sem o ônus das exigências morais do
   paradigma cristão. Vê-se claramente nesse contexto a necessidade de desqualificar o que é
   preconizado pela Igreja. (Nota 13)

                                                                                                20
SUBJETIVISMO


O relativismo é perigoso porque pretende uma hierarquia subjetiva de todos os motivos, a
negação de qualquer supremacia do real. Para o relativista tudo vale: mesmo que faça mal a
saúde se a pessoa quiser se drogar sempre poderá argumentar alguma tese a favor de sua
vontade. A concepção subjetivista do que seja o bem torna impossível a ética. A ética pode ser
relativa no acidental, mas não no essencial.


A subjetividade do relativismo favorece o excessivo ensaísmo no qual a verdade, mesmo que
desempenhe um certo papel é tratada com muita subjetividade e pouco rigor de pensamento de
modo que todos se sintam “livres” para opinar mesmo sem maior conhecimento sobre o
assunto.


Nesse contexto seguir a polêmica televisiva financiada muitas vezes por interesses
econômicos a serviço da expansão do mercado a nível planetário, consolida uma mentalidade
e promove comportamentos muitas vezes não condizentes com a natureza humana. Além do
que o subjetivismo acarreta um sem compromisso nas interpretações, uma superficialidade
que legitima o geral como norma desvirtuando valores relativos à dignidade humana, nos diz
João Paulo II.


O que consolida a verdade, na nova sociedade relativista, é o ser atrativo. E isto porque a
“verdade” importa na medida em que movimenta a civilização de consumo.


Individualismo, Utilitarismo, Consumismo, Materialismo

INDIVIDUALISMO E UTILITARISMO


A cultura pós-moderna favorece o individualismo libertário de matriz nihilista e agnóstica
com um conceito de liberdade baseado na atividade de satisfação e até promoção de consumo
de comodidades e prazeres quase como meta única do indivíduo reduzindo a pessoa à
praticamente seu nível biológico. O mercado promove, para aumentar o consumo, o culto à
vaidade, ao consumo caprichoso e desnecessário, a distinção pela posse de luxos incentivando
a cultura do ter em detrimento da do ser. Visto assim é fácil perceber porque o ideal cristão de
pobreza e temperança não mais se identifica com a sociedade de consumo e daí o interesse em
descartar a interferência religiosa na vida social. (Nota 15)


A cultura pós-moderna torna iguais todas as coisas pela medida da utilidade materialista. Na
verdade uma coisa útil é meio ou instrumento a serviço de outra coisa que seria o mais
importante. Por isso o utilitarismo não pode ser a regra predominante na definição de valores
que regularão o homem. Vemos já a possibilidade da subordinação do homem ao lucro, a
promoção do consumo para o desenvolvimento do mercado e não do homem. Nesse sentido é
                                                                                             21
fácil compreender o interesse em descartar o humanismo, enquanto reivindicação da primazia
do homem, expresso na religião cristã.


No sentido burguês, materialista e moderno de utilidade, conceitos como Deus, homem,
liberdade, vida, espiritualidade, etc podem ficar condicionados aos usos utilitários das
conjecturas modernas e é por aí, talvez, que deva ser visto o “boom” de religiões, e não isto
como um retorno a paradigmas mais humanistas enquanto mais espiritualizados, mas ao
“comércio” de consolos mais a gosto e sem exigências “conservadoras”.


Para educar o homem como ser válido por si mesmo é preciso que lhe aportemos não
“utilidades” mas elementos de sua mesma natureza que lhe expanda a visão para além dos
clichês de uma cultura utilitarista e reducionista que o transforma em “produto” mais ou
menos “politicamente correto”.


O individualismo liberal é falso porque diz que o homem é livre, mas na verdade para praticar
essa liberdade abre mão do que é mais humano. Saem o ser e entram o ter e o usar como
paradigmas do individualismo liberal. Reduzir o homem a uma função da equação e não o
senhor da equação leva ao autoritarismo dessa cultura sobre o próprio homem.




CONSUMISMO


Essa tendência para consumir exageradamente promovida pelas relações de mercado das
sociedades capitalistas excessivamente materialistas corrompe a pessoa: a maior capacidade
de adquirir bens é também maior capacidade de evadir-se de responsabilidades e valores, de
restringir a vida aos entretenimentos abandonando esforços de solidariedade, de perder de
vista o fundamental porque absorve demais o acessório.


O consumismo é uma das conseqüências de um sistema progressivamente mais materialista. E
o hedonismo o motor propulsor da lógica de consumo. Possuir pode chegar a ser uma paixão
dominadora que se reforça como meio de “relação social” de distinção seja pelo desejo de
segurança, de poder, ou porque a pessoa já se constituiu e tem como único horizonte, a luta
pela posse de bens. A tendência desordenada do consumismo pode levar a um sensível
desprezo pelos outros, ao isolamento social e a mercantilização de interesses humanos.


O individualismo facilita o consumismo e o domínio hegemônico da mentalidade relativista, o
que alimenta o individualismo e o consumismo novamente. Neste contexto é fácil ver a
prevalência da mentalidade anti-religiosa que em seus paradigmas é naturalmente contra o
egoísmo.


Acreditamos que o processo hegemônico que acolherá a expansão globalizada se dará através
exatamente da fragmentação social em indivíduos isolados. Dividir para governar. Esta
mentalidade é uma ameaça ao bem comum e ao bem da pessoa como ser integral na medida
                                                                                       22
em que a participação comunitária é substituída pelo estímulo aos interesses individuais
promovidos pelo mercado e para o bem dos que detém o poder e cada vez mais em detrimento
dos excluídos. E individualmente restringe a visão do homem aos seus aspectos mais
biológicos ou instintivos. Nos vem agora à mente a imagem da bola de formigas, com uma
ideologia que as deixava agindo uniformemente, para realizarem um trabalho cada vez mais
eficiente, mas cujo objetivo era a destruição do próprio formigueiro em nome da constituição
de uma “raça superior”, do desenho animado “Aunt”. É muito ilustrativo de nossas
possibilidades na cultura pós-moderna.


MATERIALISMO


No materialismo, o “espírito” é um produto da matéria e, assim, o homem ficaria reduzido aos
seus aspectos mais “materiais”. Tudo que sirva ao atendimento dessa base mais material,
biológica, no materialismo relativista pós-moderno é suficiente para ser moral, para ser ético.


O ser humano é convertido em instrumento de consumo, sem alma, para que efetivamente não
escolha e, nesse sentido, ocorre o totalitarismo de mercado, reduzindo a dignidade da pessoa
humana a uma concepção mais “maleável” à operacionalização humana pelo mercado. Nossa
“teoria” é a de que é exatamente por isto que a religião, que reivindica a valorização da pessoa
humana, precisa ser sistematicamente desqualificada como fonte de verdade e comportamento
ético sendo substituída por outros paradigmas relativistas, mas próprios ao jogo de poder da
disputa estabelecida pelas “leis do mercado”.


Laicismo, Cientificismo e Educação

LAICISMO


Laicismo é diferente de laico. O laicismo é o fundamentalismo do laico que impede, a atuação
das religiões para impor sua visão laica. É o caso das proibições de expressão religiosa que
ocorrem em vários países hoje no mundo. A liberdade religiosa é um direito humano
preconizado pela Declaração dos Direitos Humanos da Onu de 19483. A história recente, não
obstante, vem paulatinamente querendo circunscrever a religião a um nível exclusivamente
privado, querendo retirar da vida pública as inferências da visão religiosa. Não porque estas
estejam superadas, mas para impor dogmaticamente outros paradigmas mais convenientes não
ao ser humano, mas aos novos interesses de expansão do capitalismo.


É o caso dos bispos presos em Hanói só porque são padres, da Igreja Estado na China que não
permite a existência da Igreja Católica ligada ao Vaticano. É o caso da negativa do fato
3
  “Artículo 18
Toda persona tiene derecho a la libertad de pensamiento, de conciencia y de religión; este derecho incluye
la libertad de cambiar de religión o de creencia, así como la libertad de manifestar su religión o su creencia,
individual y colectivamente, tanto en público como en privado, por la enseñanza, la práctica, el culto y la
observancia.” DECLARACIÓN UNIVERSAL DE DERECHOS HUMANOS Resolución de la
Asamblea General, aprobada el 10 de diciembre de 1948. (www.Arvo.net)


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histórico da influência cristã na Europa fato que foi subtraído do prefácio da Constituição
Européia. Nele a formação européia se dá como tendo sofrido influências gregas e logo as do
Iluminismo pulando-se dois mil anos de cristianismo. A dos estudantes de escolas públicas na
França levadas à Coordenação por portarem a kippa judia, ou o véu muçulmano ou crucifixo.
Ou a lei de educação em ética e cidadania que está para ser aprovada na Espanha em
substituição à religião com ideais relativistas. É também o caso das manifestações feitas pela
Onu contra a violação dos direitos humanos em países árabes bem mais brandas ou
inexistentes se a perseguição for contra cristãos.


Os extremados do laico são auto-suficientes e se consideram pertencentes a um círculo de
privilegiados. Essa auto-suficiência leva a ausência de autocrítica, ao desprezo e a
agressividade em relação às visões religiosas e conseqüentemente à intolerância. O consenso
anônimo e tópico que resulta dessa posição arrogante leva a uma sociedade intolerante e
dividida.


O espírito laico significava um respeito às idéias e à liberdade de expressão de todos em sua
origem histórica de modo que desmistificavam a pretensão de quem quisesse tornar-se
hegemônico. Aliás, não era sua função desmistificar ou subtrair valor de quem quer que fosse
e mesmo enxergavam os limites de sua própria visão cônscios das múltiplas explicações
existentes.


Se num outro tempo o espírito laico desmistificava os rigorismos das religiões talvez ocorra
agora que precise de quem relativize as construções humanas que se assumem com uma
conotação tirânica pela qual é religioso é imediatamente um fanático.


Mas se “podemos tomar-lhes o petróleo” porque não passa de um fanático, aí vemos que a
evolução do laico para o seu extremo não é uma evolução gratuita, mas promovida. Talvez
devamos nos perguntar a que interesses esta vinculado essa campanha de desvalorização das
religiões senão a um interesse que quer romper com formas de organização internas por onde
deseja se expandir. As grandes religiões fundamentadas em idéias que não mudam são o
problema, não a religião superficial a gosto. Mas aquela que impõe um paradigma de ação
contrário desejo do poder hegemônico e para o qual não há negociação. É o caso da visão pró-
vida da Igreja Católica contrária aos lobbys abortistas ligados aos interesses imperialistas e
multinacionais atuando um verdadeiro democídio em regiões pobres do mundo e pelo qual é
freqüentemente “demonizada” na mídia comprada pelos anúncios e concessões de canais
ligados ao poder do mercado.


 Uma sociedade laica que se diz imparcial seria pluralista e aberta. Intolerância laicista quer
impor até comportamentos, moral, ética e valores condizentes com o consumismo e seus
interesses. A educação para a tolerância não se dá pela eliminação dos credos religiosos
através da supressão de seus símbolos, mas pelo cultivo de uma mente aberta o que impõe que
se cultive o homem mais do que como uma peça do sistema produtivo e se reconheçam suas
convicções e a liberdade de tê-las porque a idéia de que ter convicções religiosas o transforma
num fanático ou num extremista de direita é parte da “beatice” laicista. (Nota 8)


O laicismo também promove um individualismo contrário ao aprofundamento humanista da
natureza humana sob a ótica cristã e à vida comunitária participativa. De imediato porque
desabona entre outros, os valores humanistas cristãos aos quais se referia o Papa João Paulo II.
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Mas também porque em sua natureza laica submete-se facilmente às lógicas puramente
racionalistas promovidas muitas vezes na mídia por interesses hegemônicos.


Para João Paulo II, na cultura laicista, mais facilmente pode ocorrer uma adesão a verdades
pouco condizentes com a dignidade do homem devido exatamente à falta de um critério
consistente sobre o que seja o homem. As verdades que interessam ao imperialismo
globalizado são promovidas em polêmicas na mídia de lógicas falsas e superficiais, sendo
absorvidas facilmente pelo laicista exatamente por uma falta de critérios mais profundos de
análise deste. (Nota 14)


Nesse sentido a cultura laicista postula um racionalismo originado da Ilustração associado à
negação da transcendência levando, entre outras coisas, à mudança das obrigações éticas sem
assumir a que interesses sua “imparcialidade” está servindo.


Numa sociedade intolerante poderemos assegurar o respeito aos direitos humanos
independentemente dos interesses da expansão do capital?


ESTADO


Uma das tendências mais claras que acompanham a história do Estado moderno é a da
destruição dos poderes sociais intermediários representados, por exemplo, pela família, pelas
associações voluntárias, pelas lideranças locais, pelas autoridades religiosas e por qualquer
tipo de jurisdição independente em nome de um processo contínuo de centralização do poder.


Tudo parece concorrer para aumentar indefinidamente as prerrogativas do poder central e a
tornar a existência individual cada dia mais frágil. A educação, tanto quanto a caridade,
tornou-se, uma tarefa nacional e a religião vê-se ameaçada de cair também nas mãos do
Estado.


O Estado moderno ergueu um monumental aparato burocrático que inclui também instituições
ainda mais centralizadoras como o Banco Mundial, o FMI, a ONU, a OMC e similares que
promovem de forma entusiástica o laicismo em escala global e é nesse sentido que a adoção
de uma visão laicista é elemento de hegemonia.


CIÊNCIA


A ciência tem desenvolvido uma cultura de veia largamente utilitarista movida pelo desejo de
lucro e de domínio. Por ser fonte de saber e de poder de produção e, associada à expansão do
capitalismo tem uma desenfreada cobiça de absolutismo o que contribui para que não queira
aceitar freios éticos de origem moral e filosófica. Este debate é histórico. Já dizia Hans
Gadamer:



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“ In a time when science penetrates further and further into social practice, science can fullfill
its social function only when it acknowledges its own limits and the conditions placed on its
freedom to maneuver. Philosophy must make this clear to an age credulous about science to
the point of superstition. On just this depends the fact that tension between truth and method
has an inescapable currency.” ( Thruth and Method, Gadamer, Hans.)


A atitude positivista da cultura liberal valoriza o aspecto científico como fonte ideológica e
doutrinal de suas concepções e acaba por preconizar uma “assepsia” da ciência e da cultura de
“humanismos”. Os princípios cientificistas são característicos das concepções materialistas e
positivistas do liberalismo. Num cenário de globalização liberal a ciência precisa de quem lhe
dê limites e parâmetros éticos para além dos multinacionais que financiam suas pesquisas.


A afirmação de prioridade ética de base cristã para as pesquisas científicas é legítima e
corresponde a uma exigência essencial da pessoa e das comunidades humanas devido a
possível subordinação do cientificismo às necessidades de investimento para pesquisa.


Há uma prioridade, na cultura pós-moderna relativista laicista, pelas disciplinas experimentais
frente à formação humanista dado que a necessidade econômica valora mais o aumento do
conhecimento sensível que é por si reduzível ao empírico e possivelmente à comercialização e
à regulação pelo mercado. E isto em detrimento das potencialidades do espírito humano.


EDUCAÇÃO


Sem paradigmas para o alto o conhecimento tem, muitas vezes se atido aos seus aspectos
meramente mercadológicos: formação de uma massa de obra controlável pela adesão a certos
princípios laicistas pelos quais o mercado lhe confere um posto. O homem é apenas mais uma
engrenagem no sistema de produção nas concepções materialistas.


Na educação superior onde as atividades humanistas foram grandemente destituídas de seus
aspectos filosóficos e teleológicos que davam amplidão às possibilidades especulativas das
humanidades se pode ver a limitação destas a um funcionalismo operativo de formação para a
máquina de produção onde o homem é apenas mais um elemento da cadeira produtiva ou de
cooptação ideológica.


Surgem assim cursos, disciplinas e objetivos puramente instrumentais para o processo de
assimilação pelo mercado. Um pacto não escrito, mas real assegura o funcionalismo do estudo
para o mercado de trabalho em detrimento de uma investigação da “verdade”. Uma mão de
obra cada vez mais “instruída” em técnicas que as distinguirão no mercado de trabalho, mas
menos capazes de um julgamento “humanista”. O conhecimento e a cultura cada vez mais
servem não a plenificação do homem a que ser referiu João Paulo II, mas ao adestramento
para que o homem se torne peça mais eficiente para o sistema produtivo.


A sobrevivência pela radicalidade da exclusão do processo capitalista neoliberal está
reduzindo todo aprimoramento pelo conhecimento ao mero determinismo do mercado. Numa
sociedade predominantemente materialista o utilitarismo dará o tom do conhecimento.
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Conclusão

   Pelo exposto podemos auferir que a globalização, sob a cultura laicista implicará a perda de
   valores humanos da tradição cristã ocidental e, pelas características do laicismo, acima
   esboçados, corroborará para o processo de exclusão. A independência do sistema produtivo de
   constrangimentos éticos tradicionais mostra uma concepção de vida em que o homem será
   subordinado à produção material. (Nota 9)


   Seria necessária, ainda, uma pesquisa – que corroboraria com fatos – como o paradigma
   cristão foi sendo substituído em termos de novos “dogmas absolutos”. De como foi
   “cruxificado” a partir de simplificações e preconceitos para, desqualificá-lo e dessa maneira
   legitimar uma nova valoração mais apropriada à expansão capitalista atual.


   A simples aplicação das idéias aqui esboçadas se comprovam no dia a dia seja pelos
   noticiários seja pelas conversas cada vez mais laicistas. Por exemplo, um governo de um
   determinado estado brasileiro irá promover a entrega gratuita de Pílulas do Dia Seguinte
   gratuitamente no carnaval de 2006. (de onde vem o dinheiro para isso? Doações de ONGs
   benemerentes preocupadas em levar educação sexual às escolas de países de Terceiro
   Mundo?) O carnaval no Brasil agora é entendido como dança, transa e aborto?


   Não faltou quem na mídia dissesse que feto não é ser humano nas primeiras 72 horas da
   concepção. Mas quem disse que o processo da gravidez é interrompido, tem uma pré-fase e
   que se os pais quiserem aí é que o feto se desenvolve? “ - Alô, bichinho? O carinha deu o fora
   e portanto você não precisa se desenvolver, valeu?”


   Desde a fecundação o processo é ininterrupto até o nascimento. Não existe pré-fase no
   processo de concepção. Não houve, senão da Igreja Católica e mesmo assim não transmitido
   na mídia no mesmo instante em que o técnico aparecia para milhões dizendo que nas
   primeiras 72 horas não seria aborto, quem questionasse a nova mentalidade. Certamente essa
   “distração” geral que corroborou o carnaval como um “porre” anti-natalício, atesta a
   cooptação para a nova mentalidade, não por assentimento mas por distanciamento de valores
   até bem pouco tempo conhecidos e estimados como basilares na cultura ocidental, os valores
   cristãos. E isto por pura superficialidade e futilidade do modo de vida laicista que tem no
   consumo de bens o motor das prioridades e toda a atenção da “cultura” mídica,
   principalmente.


   Em regiões destituídas dos bens materiais mais básicos se somará agora esse “débito” de
   humanidades, um débito que começa pela perda de “status” do direito à vida desde o
   nascimento até a morte natural típico do pensamento cristão.


   O carnaval com aborto, certamente um carnaval com exploração infanto-juvenil e de turismo
   sexual, atesta uma das principais conseqüências do laicismo que não admite os paradigmas de
   origem religiosa na regulação da vida pública e se esforça obstinadamente em substituí-los já
   que o cristianismo exigiria a manutenção da vida, a solução do problema da pobreza e a
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cobrança de responsabilidade dos que tem mais para com os destituídos. Evidentemente isso é
muito caro para uma sociedade regulada por um mercado voltado para o lucro. A voz da Igreja
é francamente contra o aborto e por isso é verdadeiramente perseguida principalmente em
países desenvolvidos onde estão as sedes dos interesses multinacionais.


O controle hegemônico ideológico do capitalismo é uma articulação com intenção de
controlar o poder. Não está necessariamente em associação com a religião como se esta fosse
a “natural” superestrutura do sistema neoliberal. O paradigma cristão pode ser absorvido pela
direita para efeitos de consolação pessoal e para uso político quando convém. Porque é um
uso, não é do ideário cristão essa vinculação de classe ou opção política. É assim que
acontecem aberrações como um cristão racista, por exemplo. Quando o sistema capitalista não
encontra mais os elementos necessários na referida ideologia iniciou a troca pela laicista,
amplamente promovida e construída pela mídia e pela desqualificação de seus opositores.


Acreditamos que a história da propaganda com a sua evolução do simples anúncio até a
criação de necessidades para promover a renovação do consumo por produtos de nova
tecnologia e como isso alimenta a “fabricação de valores” e, como nesse contexto, limitações
éticas foram um obstáculo à sua expansão, ajudaria a compreender o processo de substituição
do paradigma cristão no século XX. A isto seria interessante acrescentar o monopólio cultural
nas mãos de multinacionais de cinema e editorial e a construção de novos valores através da
mídia, com a cooptação de diferentes diretrizes, à esquerda ou a direita, mas sumetidos sempre
à aprovação pelo mercado.


Essa retórica relativista não toma caminho de democracia, mas de poder. Não se trata de fazer
conviver várias realidades, mas, de através da relatividade indiferentista, tornar legítimo o
interesse dos poderosos descartando, de sua responsabilidade ética, as exigências da moral
cristã que antes então forjavam a cultura e a “verdade” ocidental. Quem não se submeter aos
lugares comuns que estabelecem as novas regras do jogo fica fora do “mercado” e, portanto,
da sobrevivência.


É preciso lembrar que o espaço não ocupado pela “sociedade de mercado” facilita a ação das
organizações criminosas internacionais muito ricas. Eles controlam os países em
desenvolvimento corrompendo políticos, sistemas judiciais e policiais, matando e não se
importando com direitos humanos, “empregando” pobres e excluídos como a sociedade civil
não o faz.


Sem um paradigma ético que obrigue o enfrentamento claro dos ataques à pessoa humana, o
que sobra para os excluídos é o que vem das organizações criminosas: comércio de produtos
ilicitamente obtidos, armas e as drogas. Pelo desinteresse da sociedade civil pelos pobres –
dado o indiferentismo egoísta da nova cultura em que o ser humano fica reduzido a ser
absorvido pelo mercado e para consumir - se vai entregando a sociedade às organizações
criminosas hoje com um volume de operações entre drogas e armas superior ao do comércio
internacional. O que não leva ao crescimento humano e da sociedade e objetivamente não leva
a consecução das melhorias seja ao meio ambiente seja de “cuidado porque mútuo
relacionado” entre o norte desenvolvido e o sul.


A questão da argumentação ética em tempos de globalização não é subjetiva ou teórica, mas
se impõe porque os argumentos esgrimidos no espaço público buscam alterar as crenças dos
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indivíduos quanto às justificativas das leis e seus comportamentos. Não ter responsabilidade
sobre os pobres e excluídos do processo de globalização nos parece possível pela liberalização
de compromissos éticos permitido pela filosofia relativista. Este é a importância do tema desta
dissertação.


De modo a atender a solicitação do nosso coordenador, Professor Daniel Aarão, buscamos
quem questionasse a visão que aqui apresentamos. Para isso lemos o livro do professor
Wallerestein, “Capitalismo histórico e Civilização Capitalista” porque nos pareceu o que poderia
constituir das mais inteligentes críticas. Mas, certamente, por nossas naturais limitações de aluno de
primeira viagem, insistimos: As verdades universalizantes são princípios de controle ideológico do
capitalismo para Wallerestein. Tal concepção não obstante sofre de um racionalismo maniqueísta de
visão materialista que não considera o homem como o concebe, por exemplo, o humanismo cristão de
João Paulo II. Nesse sentido se podem identificar quase quaisquer ocorrências como elementos de
domínio porque racionalmente quase qualquer fator pode ir para um dos lados da equação linear da
visão utilitarista.


Mas no teste do real a lógica racionalista mostra seus limites. A religião, o mesmo aparelho de
dominação ideológica, o “ópio do povo”, foi estímulo de muitas melhorias humanitárias ao longo da
história não podendo seus princípios ser colocados simplesmente com uma única função – aqui em
Wallerestein de instrumento de dominação ideológica. Nem o homem é elemento de uma atuação sem
espírito e vontade, meramente racionalista agindo determinado por uma única função. É uma antiga
característica da cultura ocidental, a de substituir o mundo pela idéia.


Talvez em decorrência da filosofia hegeliana que traz uma visão de mundo em termos de
conflito dialético. Todo avanço se realiza por meio da contraposição de contrários e da sua
síntese superadora. Profundo é entender o fundamento da realidade como algo em
desenvolvimento, em “progresso”. Mas o racionalismo desta suposição extirpou as
considerações “espirituais”, suplantando-as pela dança e contra-dança do novo ideal lógico.


Na globalização neoliberal laicista as relações entre o homem e o econômico ficam assim
amarrados aos aspectos da eficiência do mecanismo da superação em síntese que, de
preferência ainda gerem um resultado prático, lucrativo. A decorrência desta “fé” no processo
lógico de síntese está em não se perceber que as partes são sempre ligadas a um aspecto
utilitarista na relação de oposição e o homem na sua totalidade não se encaixa nesse
mecanicismo.


Quem defenderá um homem sem “utilidade”, como os aleijados, os excluídos, os velhos que a
globalização rejeitar principalmente se o paradigma do amor aos pobres do cristianismo for
uma “lenda medieval conservadora” que precisa ser extirpada para a “síntese” do progresso
“final”? Um exemplo de excluídos? Os abortados nestas últimas 72 horas no carnaval da
Bahia. Talvez filhos de meninas pobres envolvidas com o turismo sexual. Quem se importará
com elas se o que conta é salvar o planeta da “depredação” dos pobres? Ora mais não são os
Estados Unidos os responsáveis, sozinhos, por um terço da poluição do planeta?
Insistentemente a Globo faz campanha contra a pirataria. Mas quem se importa com os
vendedores de cds falsos a serviço do grande contrabandista? Bill Gates que já é membro do
novo “ Pacto Global”?




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Apêndice

   Notas

     1. “ Neste sentido, podemos dizer que Cristo tem sido sempre a “pedra angular” da construção e
        reconstrução das sociedades no Ocidente cristão.” Ao mesmo tempo, porém, não se pode ignorar
        como desponta insistentemente a recusa de Cristo: sempre mais se manifestam de novo os sinais
        de uma civilização diferente daquela que tem Cristo como “pedra angular” – uma civilização
        que, se não é atéia de modo programático, é certamente positivista e agnóstica, pois inspira-se no
        princípio de pensar e agir como se Deus não existisse. Uma tal tendência detecta-se facilmente
        na chamada mentalidade científica ou melhor, cientísta contemporânea, bem como na literatura,
        e especialmente nos meios de comunicação social. Viver como se Deus não existisse quer dizer
        viver fora das coordenadas do bem e do mal, isto é, fora daquele contexto de valores que tem Ele
        mesmo por fonte; pretende-se que, ao invés disso, o homem decida acerca do que é bom ou mau,
        sendo tal programa sugerido e divulgado em vários modos e de diversas partes.” ( Memória e
        Identidade, João Paulo II p. 58-59)

     2. “(...) O que é um mercado? É um campo de batalha onde se opõem as forças (...) dos mais fracos
        e dos mais poderosos. E quem sobrevive, quem tem direito de sobreviver nesse mercado, são
        justamente aqueles que têm a capacidade de consumir e produzir. E é justamente onde a situação
        do cristão é crucial, porque a dinâmica do Evangelho é uma dinâmica de defesa do mais fraco,
        (...)o que importa é a dignidade de todos os seres humanos qualquer que seja a sua condição
        física, o seu tamanho, a cor de pele, a idade, e assim por diante. (...). É justamente o drama do
        nosso tempo, que a sociedade rejeita esta mensagem de Cristo. Porque de acordo com a
        “vulgata” ideológica dominante, o pobre, o marginal, o aleijado, não valem nada já que são
        inúteis na sociedade. A nossa ética cristã, nesse particular, é uma ética que contraria
        terminantemente a ética hedonista, a ética utilitarista, que a gente encontra (...) na tradição
        liberal.” “Os Riscos Éticos da Globalização”, Michel Schooynas (p. 74-76)

     3. "En Cristo y por Cristo, Dios se ha revelado plenamente a la humanidad y se ha acercado
         definitivamente a ella; y, al mismo tiempo, en Cristo y por Cristo, el hombre ha conseguido
         plena conciencia de su dignidad, de su elevación, del valor trascendental de la propia humanidad,
         del sentido de su existencia". JOÃO PAULO II, Enc. Redentor hominis, nº 11.

     4. "Mientras la "secularización" atribuye la justa y debida autonomía a las cosas terrenas, el
         secularismo, en cambio, proclama: ¡Hay que quitarle el mundo a Dios! ¿Y después? ¡Después
         hay que dárselo todo al hombre! Pero ¿es que al hombre se le puede entregar el mundo con
         mayor plenitud que la que se le dio al principio de la creación? ¿Puede dársele de otra manera?
         ¿Puede dársele fuera del orden objetivo del ser, del bien y del mal? Y si se le entrega de forma
         diversa, es decir, al margen del orden objetivo, ¿no se revolverá acaso contra el hombre,
         sometiéndolo a esclavitud? ¿No le instrumentalizará?". K. WOJTYLA, Signo de contradicción,
         BAC (Madrid, 1978) p. 45

     5. "Todo eso, esa tremenda y valiosa experiencia me enseñó que la justicia social sólo es verdadera
        si está basada en los derechos de la persona. Y esos derechos sólo serán realmente reconocidos si
        se reconoce la dimensión trascendente del hombre, creado a imagen y semejanza de Dios,
        llamado a ser su hijo y hermano de los otros hombres, destinado a una vida eterna. Negar esa
        trascendencia es reducir el hombre a instrumento de dominio, cuya suerte está sujeta al egoísmo
        y a la ambición de otros hombres, o a la omnipotencia del Estado totalitario, erigido en valor
        supremo". Juan Pablo II, Homilía a los jóvenes en Belo Horizonte (Brasil, 1-VII-1980).




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6. “ (...) o verdadeiro desenvolvimento não pode consistir na simples acumulação de riqueza e na
    maior disponibilidade dos bens e dos serviços, se isso fosse obtido à custa do
    subdesenvolvimento das multidões, e sem a consideração devida pelas dimensões sociais,
    culturais e espirituais do ser humano.(…) é forçoso perguntar se a realidade tão triste de hoje
    não será, pelo menos em parte, o resultado de uma concepção demasiado limitada, ou seja,
    predominantemente econômica, do desenvolvimento.(...) Todavia, é necessário, denunciar a
    existência de mecanismos econômicos, financeiros e sociais que embora conduzidos pela
    vontade dos homens, funcionam muitas vezes de maneira quase automática, tornando mais
    rígidas as situações de riqueza de uns e de pobreza dos outros. Estes mecanismos, manobrados
    – de maneira direita ou indireta – pelos países mais desenvolvidos, com o seu próprio
    funcionamento favorecem os interesses de quem os manobra, mas acabam por sufocar ou
    condicionar as economias dos países menos desenvolvidos. Apresenta-se como necessário
    submeter mais adiante estes mecanismos a uma análise atenta, sob o aspecto ético-
    moral.”Solicitude Social, Carta encíclica de João Paulo II, “Sollicitudo Rei Socialis”, Ed.
    Paulinas, 4ed., São Paulo, 1990.




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7. “Una ayuda importante e incluso decisiva la ha dado la iglesia con su compromiso en
   favor de la defensa y promoción de los derechos del hombre. En ambientes intensamente
   ideologizados, donde posturas partidistas ofuscaban la conciencia de la común dignidad
   humana, la Iglesia ha afirmado con sencillez y energía que todo hombre -sean cuales
   sean sus convicciones personales- lleva dentro de sí la imagen de Dios y, por tanto,
   merece respeto. En esta afirmación se ha identificado con frecuencia la gran mayoría del
   pueblo, lo cual ha llevado a buscar formas de lucha y soluciones políticas más
   respetuosas con la dignidad de la persona humana". João Paulo II, Enc. Centesimus
   annus, nº 22.

8. Não é necessário repetir, porque todos os conheceis bem, os danos que trouxe ao homem
   a auto-suficiência de uma cultura e de uma técnica fechadas ao transcendente, a redução
   do homem a mero instrumento de produção, vítima de ideologias preconcebidas ou da
   fria lógica das leis econômicas, manobrando para fins utilitaristas e interesses de grupos,
   que ignoraram e ignoram o verdadeiro bem do homem. (“ Aos Construtores da
   Sociedade Pluralista de Hoje”, Salvador, Bahia, Brasil, 7 de julho de 1980).

9. “Enquanto “ordenamento da razão”, a lei está baseada na verdade do ser: a verdade de
   Deus, a verdade do homem, a verdade da própria realidade criada no seu todo. Esta
   verdade é a base da lei natural(...).” Tocamos aqui uma questão de essencial importância
   para a história da Europa no século XX, porque foi um parlamento, regularmente eleito,
   que consentiu a ascensão de Hitler ao poder na Alemanha dos anos 1930 e foi, depois, o
   mesmo Reichtag que, com a delegação de plenos poderes ( Ermächtigungsgesetz) a
   Hitler, lhe abriu a estrada para a política de invasão da Europa, a organização dos
   campos de concentração e para a execução da chamada “solução final” da questão
   hebraica, isto é, a eliminação de milhões de filhos e filhas de Israel. Basta trazer à
   memória apenas estes fatos – bem perto de nós no tempo – para ver claramene que a lei
   estabelecida pelo homem tem limites concretos, que não pode ultrapassar: os limites,
   fixados pela lei natural, com que o próprio Deus tutela os bens fundamentais do
   homem.” Memória e Identidade, João Paulo II, p. 150-151

10. “Cada vez más, en muchos países americanos impera un sistema conocido como
   «neoliberalismo; sistema que haciendo referencia a una concepción economicista del
   hombre, considera las ganancias y las leyes del mercado como parámetros absolutos en
   detrimento de la dignidad y del respeto de las personas y los pueblos. Dicho sistema se
   ha convertido, a veces, en una justificación ideológica de algunas actitudes y modos de
   obrar.”(Exhortación Apostólica Postsinodal Ecclesia In America Del Santo Padre Juan
   Pablo Ii A Los Obispos A Los Presbíteros Y Diáconos A Los Consagrados Y
   Consagradas Y A Todos Los Fieles Laicos Sobre El Encuentro Con Jesucristo Vivo,
   Camino Para La Conversión, La Comunión Y La Solidaridad En
   Américahttp://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/apost_exhortations/documents/
   hf_jp-ii_exh_22011999_ecclesia-in-america_sp.html )

11. “Se, por um lado, o Ocidente continua a dar testemunho da ação do fermento evangélico,
    por outro aparecem, não menos fortes, as correntes da antievangelização; esta atinge as
    próprias bases da moral humana evolvendo a família e espalhando o permissivismo
    moral: os divórcios, o amor livre, o aborto, a contracepção, a luta contra a vida tanto na
    sua fase inicial como no ocaso, a sua manipulação. Este programa funciona com
    enormes meios financeiros, não apenas em nível nacional mas também na escala
    mundial; consegue realmente dispor de grandes centros de poder econômico, através dos
    quais tenta impor as suas próprias condições aos países em desenvolvimento. Face a
    tudo isto, é legítimo questionar se não estamos perante uma nova forma de totalitarismo,
    dolosamente velado sob as aparências da democracia.” Livro de João Paulo II “Memória
    e Identidade”, p.59.


                                                                                           32
12. “Em primeiro lugar, um "SIM À VIDA"! Respeitar a vida e as vidas: com ela tudo
   começa, visto que o mais elementar dos direitos humanos é o direito à vida. O aborto, a
   eutanásia ou a clonagem humana, por exemplo, correm o risco de reduzir a pessoa
   humana a um simples objecto: de certa forma, a vida e a morte comandada! Quando são
   privadas de qualquer critério moral, as investigações científicas que manipulam as fontes
   da vida são uma negação do ser e da dignidade da pessoa. A própria guerra é um
   atentado à vida humana porque traz consigo o sofrimento e a morte. A defesa da paz é
   sempre uma defesa da vida!“Depois, o respeito do direito. A vida em sociedade
   sobretudo a vida internacional exige princípios comuns intocáveis, cuja finalidade é
   garantir a segurança e a liberdade dos cidadãos das nações. Estas regras de conduta estão
   na base da estabilidade nacional e internacional. Hoje, os responsáveis políticos têm à
   sua disposição textos apropriados e instituições de grande pertinência. É suficiente pô-
   los em prática. O mundo seria totalmente diferente se se começasse por aplicar
   sinceramente os acordos assinados!” (Discurso Do Papa João Paulo II Ao Corpo Diplomático
   Acreditado Junto Da Santa Sé Durante A Apresentaçãodos Bons Votos Para O Novo Ano, 13 de Janeiro de 2003




                                                                                                              33
13. “3. Uma das preocupações da Igreja acerca da globalização consiste no fato de que esta
   se tornou rapidamente um fenômeno cultural. O mercado como mecanismo de
   intercâmbio tornou-se instrumento de uma nova cultura. Muitos observadores notaram o
   caráter indiscreto, e até mesmo invasor, da lógica do mercado, que limita cada vez mais
   a área disponível à comunidade humana para a ação pública e voluntária a todos os
   níveis. O mercado impõe o seu modo de pensar e de agir e, com a sua escala de valores,
   influi no comportamento. Os povos que estão sujeitos a isto não raro consideram a
   globalização como uma invasão destruidora que ameaça as normas sociais que antes os
   tutelavam e os pontos de referência culturais que lhes ofereciam um rumo na vida. O que
   está a acontecer é que as mudanças na tecnologia e nas relações de trabalho se
   transformam com demasiada rapidez para que a cultura seja capaz de lhes corresponder.
   As garantias culturais, legais e sociais que são o resultado dos esforços voltados para a
   defesa do bem comum têm uma importância vital para fazer com que os indivíduos e os
   grupos intermediários mantenham a sua própria centralidade. Todavia, com freqüência a
   globalização corre o perigo de destruir estas estruturas edificadas com tanto esmero,
   reivindicando a adoção de novos estilos de trabalho, de vida e de organização das
   comunidades. Da mesma forma, a outro nível, a utilização das descobertas no campo
   biomédico tende a encontrar os legisladores impreparados. A própria investigação é
   freqüentemente financiada por grupos particulares, e os seus resultados são
   comercializados mesmo antes que o processo de controle social tenha tido a
   possibilidade de reagir. Encontramo-nos diante de um aumento prometeico de poder
   sobre a natureza humana, a tal ponto que o próprio código genético humano é medido
   em termos de custo e benefício. Todas as sociedades reconhecem a necessidade de
   controlar estes progressos e de garantir que as novas práticas respeitem os valores
   humanos fundamentais e o bem comum. 4. A afirmação da prioridade da ética
   corresponde a uma exigência essencial da pessoa e da comunidade humanas. Todavia,
   nem todas as formas de ética são dignas deste nome. Assistimos ao nascimento de
   modelos de pensamento ético que são subprodutos da própria globalização e têm em
   mesmos si a marca do utilitarismo. Contudo, os valores éticos não podem ser
   determinados pelas inovações tecnológicas, pela técnica ou pela eficácia. Eles estão
   radicados na própria natureza da pessoa humana. A ética não pode ser a justificação ou a
   legitimação de um sistema, mas deve constituir sobretudo a tutela de tudo aquilo que há
   de humano em qualquer sistema.A ética exige que os sistemas se adaptem às exigências
   do homem, e não que o homem seja sacrificado em nome do sistema. Uma conseqüência
   evidente disto é o fato de que as comissões éticas, hoje habituais em quase todos os
   sectores, deveriam ser completamente independentes dos interesses financeiros, das
   ideologias e das concepções políticas partidárias.”((Discurso Do Santo Padre Aos
   Membros Da Pontifícia Academia Das Ciências Sociais Sexta-Feira, 27 de Abril de
   2001.).http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/speeches/2001/documents/hf_jp-
   ii_spe_20010427_pc-social-sciences_po.html)

14. “Durante la Jornada mundial de la juventud en Denver, tuve la oportunidad de
    reflexionar con los jóvenes presentes sobre la falsa moralidad que se aplica
    corrientemente al tema de la vida. Según este modo de pensar, el aborto y la eutanasia
    asesinato real de un ser humano verdadero son reivindicados como derechos y
    soluciones a problemas: problemas individuales o problemas de la sociedad l...]. La vida
    primer don de Dios y derecho fundamental de todo individuo, base de todos los demás
    derechos es tratada a menudo nada más como una mercancia que se puede organizar,
    comercializar y manipular a gusto personal” (João Paulo II, Vigilia, 14 de agosto de
    1993,11 parte, n. 3; cf. L"osservatore Romano)




                                                                                         34
15. “A una cierta pérdida de la memoria cristiana se suma una especie de miedo al afrontar
    el futuro; a una generalizada fragmentación de la existencia se unen a menudo la
    difusión del individualismo y un creciente debilitamiento de la solidaridad interpersonal.
    Se asiste a una pérdida de la esperanza, en cuya raíz está el intento de hacer que
    prevalezca una antropología sin Dios y sin Cristo. Paradójicamente, la cuna de los
    derechos humanos corre así el riesgo de perder su fundamento, minado por el
     relativismo y el utilitarismo.” (JUAN PABLO II ÁNGELUS, Castelgandolfo,
    Domingo               13            de              julio            de             2003.
    http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/angelus/2003             documents/hf_jp-
    ii_ang_20030713_sp.html)

16. “Concepciones opuestas se enfrentan sobre temas como el aborto, la procreación
   asistida, el uso de células madres embrionarias humanas con finalidades científicas, la
   clonación. Apoyada en la razón y la ciencia, es clara la posición de la Iglesia: el embrión
   humano es un sujeto idéntico al niño que va a nacer y al que ha nacido a partir de ese
   embrión. Por tanto, nada que viole su integridad y dignidad es éticamente admisible.
   Además, una investigación científica que reduzca el embrión a objeto de laboratorio no
   es digna del hombre. Se ha de alentar y promover la investigación científica en el campo
   genético, pero, como cualquier otra actividad humana, nunca puede considerarse exenta
   de los imperativos morales; por otra parte, puede desarrollarse en el campo de las células
   madres adultas con prometedoras perspectivas de éxito.”( Discurso De Su Santidad Juan
   Pablo Ii Al Cuerpo Diplomático Acreditado Ante La Santa Sede 10 de enero de 2005.)
   http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/speeches/2005/january/documents/hf_jp
   -ii_spe_20050110_diplomatic-corps_sp.html




                                                                                           35
João Paulo II

                                 A popularidade de um papa, num século em que Deus é
                                 dado por morto e de um tempo de disputa entre ideologias
                                 materialistas é um fato que por si só cobra a explicações a
                                 um historiador. João Paulo II foi testemunha de eventos
                                 importantes do século XX interferindo decididamente sobre
                                 eles. Além disto esteve longos anos à frente de seu cargo
                                 com intensa atividade como líder mundial. O Papa João
                                 Paulo II, na história do século XX pode também ser visto
                                 como um líder de uma verdadeira “resistência” humanista ao
relativismo laicista ligado ao capitalismo pós-moderno bem como de todas as formas de
totalitarismo e opressão do homem. ( Nota 12)


Além de ter participado do Concílio Vaticano II (1962-1965) que tinha como objetivo
atualizar a Igreja Católica para os desafios da modernidade, e de ter vivenciado a resistência
aos domínios nazista e comunista da Polônia o que já o colocam como testemunha dos mais
importantes momentos do século XX, (Segunda Guerra e Guerra Fria), como Papa (foi eleito
em 16 de outubro de 1978) permaneceu quase 27 anos no cargo de chefe de um bilhão e cem
milhões de católicos.


Fez 104 viagens pastorais por todo o mundo visitando 145 países. Como autor de pensamento
cristão que estaria na base da resistência humanista aos extremos do materialismo, escreveu
14 encíclicas4, 15 exortações apostólicas, 11 constituições apostólicas, 45 cartas apostólicas,
28 “Motu Proprio”, cinco livros e proferiu cerca de 20 mil discursos.


Falou às multidões ao vivo e pela televisão como poucos e por muito tempo. Só nas
audiências gerais de quartas-feiras falou a cerca de 18 milhões de peregrinos em cerca de 1160
audiências. No Jubileu do ano 2000 recebeu oito milhões de peregrinos. A maior concentração
de pessoas em torno do Papa deu-se em Manila, Filipinas onde quatro milhões de pessoas
assistiram à missa celebrada por ele.


De 16 de outubro de 1978 a 14 de outubro de 2004, encontrou-se com 738 chefes de Estado,
recebeu 246 Primeiros Ministros e as credenciais de 642 embaixadores. A título de
comparação, o presidente americano que mais tempo permaneceu na África foi Clinton em
viagem de 12 dias por seis países da África o continente mais necessitado do Terceiro Mundo.
João Paulo II viajou 13 vezes à África visitando 40 de seus 52 países. 5 Em suas viagens
apostólicas dirigiu-se aos fiéis em 60 línguas inclusive em ibo, efik, tiv, hauçá, edo e ioruba.6




4
  A encíclica é o documento mais solene do Magistério da Igreja e trata de temas doutrinais ou fazem um chamado aos fiéis
por um motivo concreto. Dirigem-se normalmente a todos os Bispos, fiéis da Igreja Católica, e a "todas as pessoas de boa
vontade".
5
  Páginas na Internet da ACI Digital, Vaticano, Arvo.net.

6
    João Paulo II, Biografia, Lecomte, Bernard, p.446.
                                                                                                                        36
João Paulo II - Monografia
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  • 1. F L O R M A RT H A S C H WA B F E R R E I R A J OÃ O PA UL O I I UMA VISITA AO HUMANISMO DE JOÃO PAULO II PARA COMPREENDER OS RISCOS DOS EXTREMOS DA POSMODERNIDADE NO PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES CENTRO DE HUMANIDADES RIO DE JANEIRO, 2005
  • 2. Uma visita ao humanismo de João Paulo II para compreender os riscos dos extremos da posmodernidade no Processo de Globalização por Flor Martha Schwab Ferreira Monografia requerida para certificação de pós-graduação Latu Sensu em História do Século XX. Pós-Graduação Latu Sensu para Especialização em História Coordenador Acadêmico: Prof. Dr. Daniel Aarão Reis Instituto de Humanidades Universidade Candido Mendes – UCAM 2006 Aprovação: __________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ Data: Rio de Janeiro, 28 de fevereiro de 2006. 2
  • 3. La Barca morena de un pescador, Cansada de bogar, Sobre la playa se puso a rezar: ¡Hazme, Señor, un puerto en las orillas de este mar! (Oración – José Gorostiza) 3
  • 4. Agradecimentos Gostaríamos de agradecer aos professores do Instituto de Humanidades da Universidade Cândido Mendes pela solicitude amável com que sempre nos atenderam e, em especial, à professora Denise Rollemberg e ao Coordenador Dr. Daniel Aarão cujas palavras de encorajamento e as correções, sempre tão pertinentes como amáveis nos tornaram devedora de coração. Devo agradecer também à Biblioteca da Faculdade Teológica do Mosteiro de São Bento, às Irmãs do Colégio Sion, às amigas Andréa Nunes, Stella e Regina Daudt, à minha irmã Aida Schwab Ferreira, e aos meus pais pelos meios colocados tão generosamente à minha disposição. Muito obrigado. 4
  • 5. Nota Explicativa Este trabalho sofre de naturais limitações de todo primeiro esforço intelectual. Algumas dessas limitações são até por entusiasmo, por excesso. É o caso do Cronológico Ilustrativo e o apêndice sobre a figura de João Paulo II, ao final da dissertação. Pretendemos com eles deixar uma idéia do que foi esse século e esse personagem para quem já não for contemporâneo desses fatos. Algumas das atrocidades ocorridas nesse período e, aí apresentadas, são decorrentes dos totalitarismos e da barbárie da expansão do capitalismo sem freios éticos. Nesse sentido esses apêndices são uma “ilustração” que reforça o tema desta dissertação. 5
  • 6. Índice AGRADECIMENTOS..............................................................................................................4 NOTA EXPLICATIVA ............................................................................................................5 ÍNDICE.......................................................................................................................................6 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................7 PROPÓSITO DA DISSERTAÇÃO..........................................................................................................7 IMPORTÂNCIA TEÓRICA.................................................................................................................7 RELEVÂNCIA, PESQUISA PRÉVIA E HIPÓTESE....................................................................................8 MÉTODO.....................................................................................................................................9 CAPÍTULO I – O PARADIGMA CRISTÃO E JOÃO PAULO II....................................10 COMPREENDENDO A POSIÇÃO FILOSÓFICA DE JOÃO PAULO II............................................................11 TOTALITARISMOS PARA JOÃO PAULO II.........................................................................................14 CAPÍTULO II - A NOVA ÉTICA GLOBAL ......................................................................15 CONSTITUIÇÃO DE UMA NOVA ÉTICA.............................................................................................15 A INFLUÊNCIA NEW AGE............................................................................................................16 A ONU E A GLOBALIZAÇÃO SOB INFLUÊNCIA NEW AGE................................................................18 CAPÍTULO III - OS EXTREMOS DO NOVO PARADIGMA........................................20 RELATIVISMO E SUBJETIVISMO.....................................................................................................20 Relativismo........................................................................................................................20 Subjetivismo .....................................................................................................................21 INDIVIDUALISMO, UTILITARISMO, CONSUMISMO, MATERIALISMO.......................................................21 Individualismo e Utilitarismo...........................................................................................21 Consumismo .....................................................................................................................22 Materialismo.....................................................................................................................23 LAICISMO, CIENTIFICISMO E EDUCAÇÃO ......................................................................................23 Laicismo ...........................................................................................................................23 Estado................................................................................................................................25 Ciência..............................................................................................................................25 Educação...........................................................................................................................26 CONCLUSÃO..........................................................................................................................27 APÊNDICE..............................................................................................................................30 NOTAS ....................................................................................................................................30 JOÃO PAULO II..........................................................................................................................36 CRONOLÓGICO ILUSTRATIVO........................................................................................................37 BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................................41 6
  • 7. Introdução Propósito da dissertação O objetivo deste trabalho é principalmente o de por em relevo que a cultura laica não é imparcial como se apresenta, como seus paradigmas não são isentos e que também atingem extremos fundamentalistas promovidos por interesses ideológicos não confessados. E, ainda, de como a globalização sob uma cultura laicista, o extremo fundamentalista do laico, tem introduzido elementos desumanizadores ao valorar a produção e o consumo em detrimento da pessoa e que isso pode levar a um totalitarismo muito opressor. Para isso, estipulamos, a partir da análise de alguns documentos do Papa João Paulo II, algumas características do seu humanismo. Em seguida o comparamos com os paradigmas da contra cultura da década de 1970, predominantemente a influência New Age. A partir daí apresentamos alguns possíveis extremos da cultura laica, o laicismo. A seguir esperamos demonstrar como a cultura laicista serve aos interesses do capitalismo globalizado ao corroborar a eliminação de referências humanistas e éticas do cristianismo que limitam a expansão do capitalismo. Importância Teórica Este trabalho, de caráter introdutório não pode pretender achar-se inserido num debate teórico maior porque suas observações restringem-se a um resumo de umas especulações a partir dos documentos de João Paulo II e de alguns artigos listados na bibliografia. Assim, que, em termos teóricos nos aferramos à idéia de Paul Veyne de que uma das metas do conhecimento histórico é identificar como uma determinada situação leva a um resultado específico. De ver os acontecimentos como fenômenos por detrás dos quais se revela um aspecto pouco percebido. Como diz Paul Veyne o “fato não é nada sem uma intriga”. 1 “O historiador faz compreender intrigas”.2 A nossa “intriga” se refere à suspeita de que a superação do paradigma cristão, principalmente nas sociedades ocidentais desenvolvidas, pela pós-modernidade de caráter relativista e laicista não é espontânea. Ou, como freqüentemente se apresenta, como decorrente de um “progresso natural” de um tempo de dogmas religiosos para os de uma verdade “pura porque científica”. Mas sim um recrudescimento do abandono de importantes premissas humanitárias cristãs que vêm se desenvolvendo com a expansão globalizada do capitalismo e para atender aos objetivos materialistas dos interesses multinacionais. 1 Veyne, Paul, “ Como se escreve a História”, Edições 70, p. 45. 2 Veyne, Paul, “ Como se escreve a História”, Edições 70, p. 108. 7
  • 8. Relevância, Pesquisa Prévia e Hipótese Quando tivemos que escolher o tema de nossa dissertação de conclusão do curso de Pós- Graduação em História do Século XX, havia pouco que o Papa João Paulo II havia falecido. Pela curiosidade de explicar como justamente um “padre” causou tanta repercussão num século que decretou a morte de Deus, questão típica para historiador, logo anunciei a intenção de versar sobre esse tema. Rapidamente vi muitas “caras de mofo”. Recebi etiquetas de “extrema direita” antes mesmo de escrita a primeira linha. Chamou-nos assim atenção esse “exagero” de repúdio quando tantos outros temas apresentados, talvez porque muito circunscritos ou “batidos” pudessem estar primeiro na fila da gaveta eterna primeiro que o meu.oPorque o nosso tema causava um “consenso” tão automático, apaixonado? Era só um tema como outro qualquer. Na verdade, tão simplesmente, foi uma manchete de jornal noticiando o falecimento do Papa como “a maior notícia da história” foi o que nos chamou a atenção para o tema. Essa resistência só aumentou a nossa curiosidade e pensamos que a pesquisa que começou por uma personagem encontrou um campo ainda maior de investigação. Encontramos assim um vasto debate entre o laicismo e a religião. Mas não encontramos quem propusesse a vinculação entre a expansão do capitalismo e a opção pela cultura laicista nesta etapa da expansão à nível planetário. Ou seja, o avanço do capitalismo está engendrando uma nova vinculação entre as pessoas, os grupos sociais e as relações de poder que passam pelo mercado. A cultura aí produzida que justifica o poder, estimula comportamentos está mudando os seus valores no nosso modo de entender para atender melhor a esta etapa de expansão do capitalismo e sua nova face ainda não foi completamente revelada no que tange aos seus extremos. A substituição do paradigma cristão e dos seus princípios éticos, na civilização ocidental está ocorrendo nesse contexto. Acreditamos ainda que está havendo um novo arranjo: o capital controla as idéias a partir do mercado e só ideologia e idéias não conseguem controlar para onde vai a economia e os investimentos e nesse sentido a perda o ideário de defesa dos pobres como um valor é especialmente relevante. Nesse sentido, visões à esquerda, que constituiriam historicamente uma resistência tem sua eficácia “driblada” pelo grande capital em que membros da resistência são cooptados para o sistema. Aqui é como se estivéssemos revendo os brilhantes trabalhos de Paul Willis. Ele comprovava como a cultura que resiste ao sistema, muitas vezes assume posições que mais na frente lhe são contrárias. É nesse sentido que podemos ver a cultura laicista fazendo uma “contratação” de movimentos de esquerda, em espaços como os intelectuais ou de culturas promovidas em ONGs de sua visão anti-religiosa para aumentar o consenso anti-cristão. Se compreendermos a cultura cristã como algo que precisa ser superado pelo novo paradigma podemos ver uma promoção numa direção que vai de ações objetivas como o financiamento de ações no Terceiro Mundo com verba e deliberadas, até adesões internas aos novos ideários. A direita corrobora a adesão e a substituição do ideário cristão ao assumir numa cultura consumista os princípios materialistas como únicos, colaborando para eliminar exigências éticas e aspectos humanistas da cultura cristã que até aqui forjavam a cultura ocidental. 8
  • 9. Essa redução do homem a níveis materiais é questionada fortemente pela Igreja Católica porque dela derivam conseqüências que reduzem o homem de sua plenitude ao que é manipulável pelos interesses do mercado e é anti-vida. O Papa João Paulo II “estragou” um pouco a formação desse consenso laicista e por isso utilizamos seus documentos para fazermos esta primeira especulação sobre essas possibilidades. No seu ensinamento pontifício, atividade intelectual e pastoral, o Papa João Paulo II, empenhou-se na salvaguarda da pessoa e na defesa da dignidade humana. Questionou a concepção materialista do homem predominante no século XX e a falta de respeito à pessoa decorrente de visões excessivamente materialistas. Para ele a perda do “espaço” do “espírito” nas concepções do homem, que prevaleceram no último século do segundo milênio, estava na raiz dos totalitarismos que tanta barbárie promoveram no século XX e dos quais ele viveu conseqüências na própria vida. Essa perda do sentido transcendental do homem, para João Paulo II, gerou os totalitarismos quer fossem os de partido (Nazismo), de estado (Comunismo) e de mercado (Capitalismo neoliberal pós-moderno). Segundo João Paulo II, enquanto as necessidades do homem estiverem submetidas às leis do mercado, por exemplo, corremos o risco de cair no totalitarismo de mercado. Nos documentos de João Paulo II, da Igreja, do site Arvo.net encontramos alguns artigos sobre esta crítica ao laicismo, versão fundamentalista do estado laico. (Nota 1) Em resumo, nossa hipótese é a de que o paradigma cristão está sendo substituído pelo laicista para dar melhor amparo a expansão do capitalismo globalizado. Além do laicismo se unem, a este, outros “extremos” como o cientificismo como veremos a seguir. ( Nota 2) Método Utilizamos o pensamento humanista de João Paulo II para criar uma comparação. A partir dos documentos desse papa montamos uma idéia do seu humanismo e da sua crítica ao materialismo. Em seguida resumimos as principais características do movimento New Age no que ele possa ter contribuído para a nova cultura laicista. A partir das interferências da Onu, da política de Zapatero, atual primeiro ministro na Espanha e outros documentos mostramos a absorção de ideais materalistas à esquerda e à direita formando a nova oposição que há de prevalecer no processo de globalização: a oposição entre o homem e o material. Se não estamos enganados Bourdieu utilizou as teses de Marx sobre o capital para criar sua teoria do “capital social”, que seria outro elemento importante para a emancipação das classes operárias, não bastando para elas terem dinheiro porque – em curtíssimo modo, seriam discriminadas mesmo “chegando lá”. Se nos é possível ter a pretensão de plagiar Bourdieu, esta dissertação trata não de um “capital” mas sim de um “débito” que estaria sendo distribuído, pela cultura pós-moderna a todos: a perda de “humanidades” em favor de uma lógica da produtividade para o bom desempenho da economia prioritariamente às necessidades do homem. 9
  • 10. Capítulo I – O Paradigma Cristão e João Paulo II O AMOR CRISTÃO CONSTITUI UMA DISPOSIÇÃO MORAL QUE SE PROJETA EM UMA ENORME VARIEDADE DE AÇÕES. CARIDADE SIGNIFICA SERVIR, COMPREENDER, CONSOLAR, ESCUTAR, SORRIR, ACOMPANHAR, CORRIGIR, ANIMAR, PEDIR PERDÃO E PERDOAR, DAR E RECEBER. (Javier Echevarría) João Paulo II nos explica que o centro da fé cristã é a de que a imagem cristã de Deus leva conseqüentemente a imagem do homem e do seu caminho. Sem o contacto com Deus posso ver no outro apenas o outro e não consigo reconhecer nele a imagem divina, o que nos uniria em irmandade. Assim, o amor a Deus e, ao próximo são inseparáveis, e isso está inscrito na própria natureza do homem. Por isso, essa lei natural do amor é a base da ética, dado o seu caráter universal de estar presente em todos os homens como próprio de sua natureza humana. Isto asseguraria ao paradigma do amor a força de propiciar justiça para além das circunstâncias históricas. Porque feito à imagem e semelhança de Deus o homem contém em si mesmo a dignidade e, portanto, não pode ser submetido ao estado, ao partido ou ao mercado. Com sua “teoria personalista” sobre o valor humano, João Paulo II estará, por todas as suas viagens e nas mais diferentes circunstâncias apelando pela dignidade humana decorrente da natural primazia da pessoa vista sob o prisma cristão. (Notas 3, 4 e 5) A ação de João Paulo II permitirá uma critica ao domínio materialista, por sua clara resistência humanista, especialmente dirigida aos totalitarismos do século XX. Aliás, se tentássemos explicar a unanimidade histórica alcançada por João Paulo II pensamos que a resposta está vinculada, exatamente, a essa sua “resistência” humanista contra as visões materialistas que predominaram no século XX. Será a sua defesa do “espírito”, da pessoa, em oposição às soluções ideológicas e materialistas um elemento principal da compreensão do porque da sua grande repercussão na história do período. (Nota 6) É com a sua visão humanista que o povo se identificará quando ele passar em suas viagens apostólicas pelo mundo reivindicando o direito dos pobres e dos excluídos. No século que decretou a morte de Deus, a superação do dogma religioso e produziu atrocidades em escala nunca vista, o papa João Paulo II lembrou ao homem o valor do próprio homem. 10
  • 11. Compreendendo a posição filosófica de João Paulo II O fundamento da imagem e da semelhança do homem com Deus, argumento inquestionável da dignidade humana no paradigma cristão acima referendado, era, para João Paulo II, baseado não só na razão e na vontade livre do homem com a qual ele se distinguia dos animais e se aproximava de conhecer Deus, mas também se via na constitutiva ordenação mútua do homem e da mulher. Para João Paulo II a pessoa é um sujeito dialógico, ou seja, a pessoa é sujeito relacional chamado a entregar-se aos demais. Essa idéia está na base do seu pensamento personalista, tanto para explicar o amor humano, o valor da vida como também o princípio da solidariedade que deveria regular as relações sociais. ( Nota 7) A conseqüência metodológica de sua postura personalista é a de que a ação humana tem uma dimensão intransmissível sem a qual não se pode apreciar o agir humano em sentido exato. Assim, na prática, existe uma parte da ação que pertence a esse núcleo humano intransferível que por sua vez condiciona a própria prática humana. Em resumo, o filósofo João Paulo II vai ver no agir humano a explicação fenomenológica de uma natureza humana que não se esgota nos seus aspectos físicos e biológicos e, dada a sua integralidade não se lhe aplica uma ética meramente racionalista como tendem a fazer as sociedades materialistas e cientificistas. O mercado, o Estado e a política com suas variantes conjunturas só estarão a altura da dignidade humana quando operarem em favor da subjetividade da pessoa. Devido a esse caráter único, intransferível e integral do homem ele reflete um valor por si mesmo. Não depende de condicionamentos para ser valorado. (Nota 5) Essa idéia de João Paulo II aparecerá na Encíclica Laborem excercens afirmando a prioridade do trabalho sobre o capital pela natural prioridade da dimensão subjetiva do trabalho, dessa dimensão humana que é transmitida ao trabalho e a toda prática humana. Próprio do agir humano integral do homem, feito à imagem e semelhança de Deus, a pessoa se constrói a si mesma na prática e, em certo sentido, parte da sua subjetividade constrói o mundo. E assim sua subjetividade participa do ser e do fazer junto com outros. Essas idéias filosóficas estarão na base de seus conceitos de solidariedade humana defendidos como fórmula-mãe para superação de problemas sociais em muitos de seus documentos. (Nota 6) João Paulo II legitima filosoficamente a primazia da pessoa a partir da profissão cristã, mas em termos filosóficos concretos, expressos em suas encíclicas. A encíclica, “Esplendor da Verdade”, aborda mais profundamente suas considerações sobre a natureza humana e da verdade que o homem comporta a partir do ideal cristão. Para ele, a experiência do magistério da Igreja não é, portanto de natureza meramente teórica. Para João Paulo II o conhecimento da Igreja do homem não é sobre princípios e fundamentos normativos de um sistema de moral, como se fosse um tratado de deveres ideais. Mas um conhecimento de natureza sapiencial que considera o homem na sua integralidade de pessoa. Podemos dizer que a norma personalista de ação de João Paulo II faz uma releitura de Kant. Principal filósofo alemão do movimento idealista (predomínio da atitude teórica) do século XVIII, época da Revolução Francesa, rejeitava a tradição religiosa social por um racionalismo 11
  • 12. que acolhe a razão de René Descartes e o empirismo de Francis Bacon. Tendo influenciado a modernidade, Kant é o oposto do cristianismo devido a sua defesa da auto-suficiência da razão. Como Kant prescinde de elementos empíricos e se funda de maneira exclusiva na razão, propõe uma ética estritamente racional. A visão fenomenológica do agir humano de João Paulo II acima descrita com suas implicações sobre o valor absoluto do homem decorrente da implicação metafísica de sua postura religiosa questiona a ética de base exclusivamente racional. O homem é uma integralidade e uma comunhão com o ser e com os outros pela qual se constitui e à realidade à sua volta. Não podendo, portanto, ser regulado por uma ética simplesmente racional. Ou seja, não basta para solucionar os problemas dos excluídos ter a solução em seus aspectos materiais. A natureza humana impõe respeito ao pleno desenvolvimento da pessoa. Não pretendemos exaurir as considerações filosóficas de João Paulo II, mas apenas esboçar suas principais considerações para que se compreenda porque o colocamos como resistência humanista ao materialismo racionalista pós-moderno. 12
  • 13. Regiões Visitada pelo Papa até 2003 América Setentrional 3 6 América Meridional 10 16 Ásia 17 39 África 42 0 10 20 30 40 50 Quantidade de países visitados Discursos de João Paulo II de 1978 à 2003 Europa Ocidental África Europa Oriental América do Sul Regiões Sudoeste Asiático América do Norte América Central Oriente Médio Europa Mediterrânea Extremo Oriente 0 100 200 300 400 500 600 Quantidade de Discursos 13
  • 14. Totalitarismos para João Paulo II A opção pelo afastamento de parâmetros transcendentais no século XX é, para João Paulo II, uma das razões de ocorrerem os totalitarismos, posto que o racionalismo humano pode se submeter às conjunturas históricas. Essa falta de parâmetros transcendentais, pode levar à manipulação do homem pelas relações de poder: totalitarismo de partido: nazismo, de estado: comunismo; de raça, apartheid, de mercado etc. No caso do capitalismo neoliberal levando ao totalitarismo de mercado. Forno crematório de Auschwitz Para João Paulo II, um dos perigos da negação da essência transcendente da natureza humana é uma redução da pessoa aos seus aspectos mais naturais e sensitivos o que levaria não só aos totalitarismos como também ao tratamento superficial e fútil da vida humana. "Como demuestra la historia, una democracia sin valores fácilmente se toma en un totalitarismo abierto o tenuemente disfrazado" (Juan Pablo II, Encíclica Centessimus annus, 13-V -1991). "El totalitarismo nace de la negación de la verdad (...) La raíz del totalitarismo moderno hay que verla, por tanto, en la negación de la dignidad trascendente de la persona humana, imagen visible de Dios invisible y, precisamente por esto, sujeto natural de derechos que nadie puede violar: ni el individuo, el grupo, la clase social, ni la nación o el Estado. No puede hacerlo tampoco la mayoría de un cuerpo social, poniéndose en contra de la minoría, marginándola, oprimiéndola, explotándola o incluso intentando destruirla". JOÃO PAULO II, Enc. Centesimus annus, nº 44. 14
  • 15. Capítulo II - A Nova Ética Global “UN AUMENTO SIN PRECEDENTES DE LA POBLACIÓN HUMANA SOBRECARGÓ LOS SISTEMAS ECONÓMICOS Y SOCIALES...” “EN CONSECUENCIA, NUESTRA OPCIÓN ES FORMAR UNA SOCIEDAD GLOBAL PARA CUIDAR DE LA TIERRA Y CUIDARNOS LOS UNOS A LOS OTROS O EXPONERNOS AL RIESGO DE DESTRUIRNOS A NOSOTROS MISMOS Y DESTRUIR LA DIVERSIDAD DE VIDA...” “PRECISAMOS CON URGENCIA DE UNA VISIÓN COMPARTIDA RESPECTO DE LOS VALORES BÁSICOS QUE OFREZCAN UN FUNDAMENTO ÉTICO A LA COMUNIDAD MUNDIAL EMERGENTE...” ( CARTA DA TERRA) Constituição de uma Nova ética No final do século XX, constitui-se a nível internacional, um projeto de construir uma ética universal que quer suplantar os valores cristãos. Os novos valores são matizados pelo ecleticismo que é uma aceitação de qualquer afirmação sobre a conduta humana independente do seu sistema, contexto e juízo. Por um historicismo segundo o qual a verdade muda de acordo com sua adequação às conjunturas da história, (o que é frontalmente oposto às verdades eternas e universais do ideal cristão.). Por um cientificismo para quem a única verdade aceitável é a experimentável cientificamente. De um pragmatismo que considera as decisões éticas tendo em conta, predominantemente, o critério da utilidade. E ainda por um nihilismo que é uma renúncia tácita da capacidade de alcançar verdades objetivas, nada podendo, portanto ser pétrio. O mais importante na nova ética é a autodeterminação individual. Para os defensores da nova ética a natureza, a terra, (Gaia) é a divindade inviolável. O ser humano um predador que se regenera quando em harmonia com a terra. Não sendo como no paradigma cristão a criatura mais excelsa porque pode conhecer a Deus e a sua racionalidade centelha da inteligência divina, por depredar o meio ambiente, o homem é até um animal “ruim”. Essa retirada da primazia do homem será fundamental para a liberalização de cuidados éticos nas relações reguladas pelo lucro. Um claro exemplo das implicações da nova ética podem ser vistos no seu entendimento da bioética que respeitaria três princípios: o da autonomia pela qual uma ação é boa se se respeita a liberdade do agente moral e dos outros. O princípio de que há que fazer sempre o bem e evitar o mal. E por último o princípio da justiça que é dar a cada um o que é devido. Pelas lentes do cristianismo esses princípios acabam fundindo-se no relativismo porque aqueles que não tem liberdade não são considerados para a ação moral e é o caso dos embriões e dos fetos. Sem se explicar o que é o bem e a justiça para os outros posso estabelecer o que seja o bem e o justo para mim sem defini-lo para os outros. Essa nova ética se apresenta como uma nova espiritualidade que suplantaria as religiões para salvar o eco-sistema. Mas esconde interesses e implicações ainda não claramente expostos. Podemos, assim, ver o capitalismo criando uma nova religião secular com um novo Deus que seria a Terra Gaia. 15
  • 16. Os valores que sustentam o novo paradigma são subordinados ao valor supremo da ecologia pelo qual pretendem implantar o conceito de desenvolvimento sustentável que alguns acreditam lhe dará o direito de submeter reservas de água e outros valores naturais a um controle internacional para que se veja o alcance das novas idéias que aparecem não obstante travestida de romantismo “panda” ou de uma ‘valoração”moral que torna inquestionável sua “verdade”. Para o cristianismo uma ética pétria é fundada na objetividade do próprio homem. A Influência New Age A partir das contestações da década de 1970 cresce a influência do movimento Nova Era na ética e na cultura da virada do segundo para o terceiro milênio. Numa volta ao ecletismo filosófico-religioso surgido com o ocultismo do século XIX nos EUA, o movimento chamado de “Nova Era”, pretendia substituir todas as religiões e constituir uma nova ética global. Seria uma nova maneira de ver as coisas, um novo paradigma. A Nova Era não é uma seita, nem uma Igreja nem uma religião, mas uma forma de ser, pensar e atuar assumida por muitas pessoas e organizações que decidiram mudar o mundo com certas crenças que tem em comum. A ONU e outros organismos internacionais tem forte conotação Nova Era. Mas também o cinema e agentes culturais em geral. Os jovens consomem vários “produtos” impregnados de Nova Era sem que o seu caráter apareça na integra, como as bruxarias “boas” como a Wika e o gosto pelos bruxos como Harry Potter e ideais ecologicamente corretos, mas que ainda não mostram totalmente as implicações implícitas em suas teses. A partir da nova consciência dos homens, na era de aquário, o homem se dará conta de seus poderes sobrenaturais e saberá que não existe nenhum deus fora de si mesmo (panteísmo). Ele mesmo promove a sua salvação; eu salvo a mim mesmo, não preciso de um intercessor e, portanto, o meu eu é absoluto para formar o meu julgamento. O homem criará sua própria verdade, não existindo nem o bem nem o mal (relativismo filosófico e moral). Se eu partilho da divindade invento a minha própria moral e ninguém tem o direito de dizer o que fazer com o meu corpo, etc. O resultado é um egoísmo individualista que justifica fazer o que se quer acima de qualquer norma moral. Adotando técnicas como a música, a dança, a arte em geral, astrologia, “channelling” (comunicação com entidade do mundo invisível), controle do corpo por meio das artes marciais, controle da natureza com a arte floral, cristais, ecologia, vegetarianismo, yoga, budismo zen, o amor livre, o experimento de comunidades utópicas, o misticismo, a busca de sabedoria nas civilizações antigas, técnicas de ampliação da consciência, a magia, a droga, a psicologia de Jung (consciência coletiva) e a psicologia humanista de Maslow que se baseia na experiência da unidade do cosmos com a natureza, a “Nova Era” propaga éticas romanticamente defendidas e por isto facilmente assimiladas em mídias que por sua própria natureza não promovem debate mais criterioso. 16
  • 17. A Nova Era é uma ideologia antivida. A idéia de reencarnação unida ao relativismo moral da Nova Era promove a base ideológica para justificar o aborto uma vez que acreditam que não importa eliminar uma vida humana já que ela vai reencarnar depois. Se o corpo é só uma prisão temporal da alma, que reencarna várias vezes, então o corpo é só um instrumento do “eu”. Dessa postura decorrem as justificativas para qualquer comportamento sexual, manipulação do corpo, hedonismo, anticoncepção etc. O movimento ambientalista promove a idéia falsa de que a superpopulação está degradando o meio ambiente, quando é a indústria desenvolvida que mais depreda o planeta. Não são os povos pobres, visados pelas políticas abortivas e de planejamento familiar promovidos em grande parte pela influência da ideologia Nova Era dos países ricos os que mais poluem. A degradação de áreas como a Amazônia se tem dado pela sistemática de consumo de madeiras nobres e de riquezas dessa região pelo Primeiro Mundo. A pobreza associada à poluição em países do Terceiro Mundo requer a solução do problema da pobreza e não do extermínio de pobres como está implícito em toda estratégia de solução abortiva. As soluções abortivas propostas por Ongs financiadas pelos governos de países desenvolvidos tem um caráter ineludível de extermínio. Nos países pobres, o direito que deveria estar em questão é o direito de nascer e de dar as condições de criar um filho e não o de abortar como solução para a questão da pobreza. Mas o entendimento do paradigma cristão é essencialmente pró-vida pela sua concepção acima resumida e por isso vem sendo sistematicamente desqualificado para abrir espaço para a nova ideologia. (Nota 16) A ideologia Nova Era faz parecer que a sua intervenção, através de Ongs que fazem lobby e promovem abortos com recursos de governos de países desenvolvidos com cifras de vários milhões de dólares, é a conquista de um “direito”. A mesma ideologia poderá, também, em nome da ecologia, intervir em áreas como a Amazônia ou pela posse de água e outros recursos naturais escassos em países desenvolvidos degradados pelo excesso de industrialização sob o pretexto de proteger o meio ambiente já que o país é pobre e incapaz de faze-lo. ( Nota 11) O objetivo planetário da Nova Era é a criação de um verdadeiro e próprio sistema da nova humanidade, daí a necessidade da educação mundial em novos valores e o descarte sistemático dos antigos. Nesse sentido vemos claramente como a Igreja Católica que é contra o aborto é vista como elemento que precisa ser sistematicamente desqualificado e sua interferência banida dos países pobres. Não como um paradigma que está superado, mas como um estorvo ao novo processo ideológico. O que coloca claramente que esse descarte do ideal cristão que modelou até aqui a cultura ocidental não está sendo feito pela superação “natural” de seus valores por mais modernos, mas num claro esforço de implementação de uma nova ordem mais de acordo com os novos interesses emergentes. ( Nota 12) Nesse sentido podemos dizer que a Nova Era não é outra coisa que a justificação pseudoreligiosa e ideológica do novo processo de colonização a nível planetário do imperialismo capitalista desta virada do segundo para o terceiro milênio. A nova mentalidade se converteu em parte da estrutura ideológica por trás do neoliberalismo dando impulso ao controle de natalidade, à educação sexual hedonista, ao feminismo antivida e antifamília, ao relativismo filosófico e ético, e ao patrocínio das concepções licenciosas promotoras do consumismo. ( Nota 10) 17
  • 18. A Nova Era pode se transformar em fenômeno de massa porque num mecanismo decorrente de sua ambigüidade relativista serve ao romantismo e ao sentimentalismo religioso alojando, nas teses que defende, muita frivolidade de julgamento. Para uma cultura moldada em grande parte pelos meios de comunicação de massa, essa superficialidade facilita a promoção das novas “lógicas” e novas “verdades”. Suplantando a ideologia cristã e não encontrando outra resistência, os novos ideais vão se impondo a serviço de seus interesses hegemônicos. A ONU e a Globalização sob influência New Age Em termos de globalização essa influência New Age apresenta-se como um projeto mundialista em que o Norte desenvolvido e o sul subdesenvolvido do planeta precisariam um do outro porque seus interesses seriam recíprocos. Mas o norte teria o comando do processo é claro. E ideologicamente começa fabricar esse consenso com visões anti-religiosas em nome do progresso de base científica entre outros elementos de sua nova ética. Para isso são convidadas multinacionais para participar do projeto de consolidar o consenso, a ser feito pela ONU que asseguraria a eficácia do processo de mundialização necessário claramente um processo hegemônico. (Ver informe Brandt da ONU). Nesse projeto os estados estariam limitados por um poder mundial que asseguraria a sobrevivência da humanidade, a proteção do meio ambiente e a manutenção das fontes da vida que são escassas. Nesse processo hegemônico o homem perde o seu lugar e a visão do mundo é materialista. A ONU está elaborando um documento sistematizando a visão holística da globalização, a chamada “ Carta da Terra” que deve substituir a Declaração dos Direitos Humanos de 1948 e o decálogo. Das primeiras versões dessa Carta podemos ler fragmentos como este em que facilmente se nota o interesse de exercer um controle mundial com base em seus interesses hegemônicos ”El medio ambiente global, con sus recursos finitos, es una preocupación común a todos los pueblos. La protección de la vitalidad, de la diversidad y de la belleza de la Tierra es un deber sagrado...” Sob o comando de quem? Ou, ainda, “Un aumento sin precedentes de la población humana sobrecargó los sistemas económicos y sociales...” O que decorrerá na visão anti-vida questionada pela Igreja Católica e por isto freqüentemente demonizada principalmente na mídia em prol da cultura laicista. Para consolidar o poder hegemônico do capitalismo, nesta etapa planetária, a visão holística é adotada para assegurar que sejam resolvidos problemas e obstáculos à sua consecução impostos pela doutrina católica. Se houver uma religião só ou se todas forem niveladas como expressões culturais válidas fica proibido o proselitismo e logo a influência, em especial da Igreja Católica no ocidente, e em especial na vida pública ficam restringidas. A ONU está convocando o setor privado para ajudar nesse processo de laicização new age, procurando a adesão de vários setores nesse “Pacto Global” que regularia os mercados mundiais conforme os interesses do capitalismo e em detrimento da pessoa humana. Aceitaram fazer parte desse pacto, a CNN, Bill Gates, Shell, Ted Turner. Com uma visão 18
  • 19. materialista e anti-cristã esses membros irão se preocupar com os excluídos da terra na medida de seus interesses comerciais no mundo. O que pode privilegiar campanhas abortivas milionárias em todo terceiro mundo com o intuito de diminuir com os pobres em vez de com a pobreza o que é contrário à visão cristã de que toda vida é preciosa porque é dom de Deus e que até bem pouco era o paradigma ocidental de “humanidade”. Nesse contexto os direitos humanos estarão fundados na base de procedimentos consensuais e não de uma verdade petria válida para todos os seres humanos. Num pacto de pura vontade vamos estabelecer a verdade que será válida para todos. Mas não nos decidiremos baseados em valores que se impõe pela verdade que contém, mas pela força criando na Onu um sistema supranacional positivista. Que força terá um sindicato numa esfera internacional para definir direitos trabalhistas, ou um Estado assegurar garantias estabelecidas por consensos em organismos internacionais como a OMC? A Onu seria assim o grande poder central, a serviço dos interesses multinacionais e seus órgãos como a FAO, seus ministérios internacionais. Retirar o poder de legislar sobre a verdade, o bem o que é certo à Igreja Católica no ocidente ou a base religiosa desses paradigmas é uma necessidade de controlar o direito, a motivação e a regulação dos homens na globalização. A partir de filósofos como Junger Habermans que estabelecem o que seja a verdade a partir da formação de um consenso, organismos como a ONU passam a legislar independentemente de uma ética básica, fundamental. Ao controlar o direito como a única fonte de norma a Onu se entroniza como fonte de pensamento, de verdade. Os crimes contra os novos direitos poderão ser julgados e no caso de um país não aprovar o aborto em seu território poderá sofrer sanções do sistema internacional. Através do consenso esse projeto único de globalização mundial poderá realizar a utopia de legitimar e montar um governo mundial único a serviço a serviço dos interesses das multinacionais. A Igreja Católica afirma a necessidade e a urgência de se fundar a sociedade internacional com base no reconhecimento da igual dignidade de todas as pessoas. O sistema da ONU quer que o sistema jurídico e os direitos do homem surjam de determinações voluntárias. Não se pode endossar uma globalização em que a unidade e a universalidade estejam acima das vontades subjetivas dos indivíduos e imposta para o benefício do mercado mesmo sob roupagem romântica de tolerância e amor à natureza e promessa de um progresso de base científica que substituiria os “tempos de trevas medievais de domínio de dogmas religiosos” argumentos com os quais facilmente se cooptam adesões superficiais. 19
  • 20. Capítulo III - Os Extremos do Novo Paradigma Relativismo e Subjetivismo RELATIVISMO O relativismo é uma postura que se originou no pensamento sofista grego e advoga que não se poderia alcançar o conhecimento objetivo das coisas porque qualquer afirmação não representaria uma verdade absoluta válida para todos, em todo o tempo. A consciência humana estaria, portanto, condicionada não existindo um bem ou uma justiça absoluta que pudessem ser norma de comportamento ético universal. A posição relativista pode-se resumir nos seguintes pontos: proibido proibir, tudo é opinável, os dogmas são inadmissíveis menos os relativistas que são de aplicação obrigatória. Uma liberdade de pensamento que não considera limitações de qualquer espécie. O importante é a tolerância e não as idéias que se toleram. Se a minha idéia pode influir no outro é um atentado contra a liberdade de expressão. Sob a fachada de que todas as idéias são válidas, projeto no consenso que a esta minha vale mais, já que não existem critérios objetivos para critica-los. Só aceitar o que seja demonstrável e só existe o que se vê, o que não se vê não existe. E por último a política de não ingerência em nada: não se pode dizer que uma coisa está bem ou está mal. É por isso que promover a confusão ética é interessante: onde não há erro também não há verdade a ser defendida. Se não há juízos falsos também não há os verdadeiros. Num ambiente em que tudo é possível ser verdadeiro, ou falso, pode ser verdadeiro aquilo que interessa. E assim se pode passar por cima dos valores éticos cristãos milenares. Este é o nosso ponto: não é uma “progressão” natural de tempos de dogmatismo religioso para tempos de esclarecimento científico, mas uma progressão da expansão capitalista a nível planetário que requer outros paradigmas de comportamento, e os promove a gosto. Sob a veste de debate democrático, que aceita várias visões éticas, passa despercebido para a maioria, o estabelecimento de uma nova retórica que visa retirar a possibilidade de existirem valores tão pétrios que não se submetam ao interesse dos grupos dominantes. Aceitar incondicionalmente o relativismo significa que a maioria pode definir as regras morais e amanhã impor novas contrárias às de ontem. As experiências do totalitarismo mostram que o poder fixa as normas autoritariamente de modo independente de considerações humanistas. Com o relativismo como ideologia dominante, aqueles grupos que colocam a primazia de seus valores no lucro irão, com facilidade, priorizar a eficiência econômica em detrimento das necessidades dos povos. Encontram, assim, meios de impor uma globalização econômica como uma fonte de oportunidades para seus lucros sem o ônus das exigências morais do paradigma cristão. Vê-se claramente nesse contexto a necessidade de desqualificar o que é preconizado pela Igreja. (Nota 13) 20
  • 21. SUBJETIVISMO O relativismo é perigoso porque pretende uma hierarquia subjetiva de todos os motivos, a negação de qualquer supremacia do real. Para o relativista tudo vale: mesmo que faça mal a saúde se a pessoa quiser se drogar sempre poderá argumentar alguma tese a favor de sua vontade. A concepção subjetivista do que seja o bem torna impossível a ética. A ética pode ser relativa no acidental, mas não no essencial. A subjetividade do relativismo favorece o excessivo ensaísmo no qual a verdade, mesmo que desempenhe um certo papel é tratada com muita subjetividade e pouco rigor de pensamento de modo que todos se sintam “livres” para opinar mesmo sem maior conhecimento sobre o assunto. Nesse contexto seguir a polêmica televisiva financiada muitas vezes por interesses econômicos a serviço da expansão do mercado a nível planetário, consolida uma mentalidade e promove comportamentos muitas vezes não condizentes com a natureza humana. Além do que o subjetivismo acarreta um sem compromisso nas interpretações, uma superficialidade que legitima o geral como norma desvirtuando valores relativos à dignidade humana, nos diz João Paulo II. O que consolida a verdade, na nova sociedade relativista, é o ser atrativo. E isto porque a “verdade” importa na medida em que movimenta a civilização de consumo. Individualismo, Utilitarismo, Consumismo, Materialismo INDIVIDUALISMO E UTILITARISMO A cultura pós-moderna favorece o individualismo libertário de matriz nihilista e agnóstica com um conceito de liberdade baseado na atividade de satisfação e até promoção de consumo de comodidades e prazeres quase como meta única do indivíduo reduzindo a pessoa à praticamente seu nível biológico. O mercado promove, para aumentar o consumo, o culto à vaidade, ao consumo caprichoso e desnecessário, a distinção pela posse de luxos incentivando a cultura do ter em detrimento da do ser. Visto assim é fácil perceber porque o ideal cristão de pobreza e temperança não mais se identifica com a sociedade de consumo e daí o interesse em descartar a interferência religiosa na vida social. (Nota 15) A cultura pós-moderna torna iguais todas as coisas pela medida da utilidade materialista. Na verdade uma coisa útil é meio ou instrumento a serviço de outra coisa que seria o mais importante. Por isso o utilitarismo não pode ser a regra predominante na definição de valores que regularão o homem. Vemos já a possibilidade da subordinação do homem ao lucro, a promoção do consumo para o desenvolvimento do mercado e não do homem. Nesse sentido é 21
  • 22. fácil compreender o interesse em descartar o humanismo, enquanto reivindicação da primazia do homem, expresso na religião cristã. No sentido burguês, materialista e moderno de utilidade, conceitos como Deus, homem, liberdade, vida, espiritualidade, etc podem ficar condicionados aos usos utilitários das conjecturas modernas e é por aí, talvez, que deva ser visto o “boom” de religiões, e não isto como um retorno a paradigmas mais humanistas enquanto mais espiritualizados, mas ao “comércio” de consolos mais a gosto e sem exigências “conservadoras”. Para educar o homem como ser válido por si mesmo é preciso que lhe aportemos não “utilidades” mas elementos de sua mesma natureza que lhe expanda a visão para além dos clichês de uma cultura utilitarista e reducionista que o transforma em “produto” mais ou menos “politicamente correto”. O individualismo liberal é falso porque diz que o homem é livre, mas na verdade para praticar essa liberdade abre mão do que é mais humano. Saem o ser e entram o ter e o usar como paradigmas do individualismo liberal. Reduzir o homem a uma função da equação e não o senhor da equação leva ao autoritarismo dessa cultura sobre o próprio homem. CONSUMISMO Essa tendência para consumir exageradamente promovida pelas relações de mercado das sociedades capitalistas excessivamente materialistas corrompe a pessoa: a maior capacidade de adquirir bens é também maior capacidade de evadir-se de responsabilidades e valores, de restringir a vida aos entretenimentos abandonando esforços de solidariedade, de perder de vista o fundamental porque absorve demais o acessório. O consumismo é uma das conseqüências de um sistema progressivamente mais materialista. E o hedonismo o motor propulsor da lógica de consumo. Possuir pode chegar a ser uma paixão dominadora que se reforça como meio de “relação social” de distinção seja pelo desejo de segurança, de poder, ou porque a pessoa já se constituiu e tem como único horizonte, a luta pela posse de bens. A tendência desordenada do consumismo pode levar a um sensível desprezo pelos outros, ao isolamento social e a mercantilização de interesses humanos. O individualismo facilita o consumismo e o domínio hegemônico da mentalidade relativista, o que alimenta o individualismo e o consumismo novamente. Neste contexto é fácil ver a prevalência da mentalidade anti-religiosa que em seus paradigmas é naturalmente contra o egoísmo. Acreditamos que o processo hegemônico que acolherá a expansão globalizada se dará através exatamente da fragmentação social em indivíduos isolados. Dividir para governar. Esta mentalidade é uma ameaça ao bem comum e ao bem da pessoa como ser integral na medida 22
  • 23. em que a participação comunitária é substituída pelo estímulo aos interesses individuais promovidos pelo mercado e para o bem dos que detém o poder e cada vez mais em detrimento dos excluídos. E individualmente restringe a visão do homem aos seus aspectos mais biológicos ou instintivos. Nos vem agora à mente a imagem da bola de formigas, com uma ideologia que as deixava agindo uniformemente, para realizarem um trabalho cada vez mais eficiente, mas cujo objetivo era a destruição do próprio formigueiro em nome da constituição de uma “raça superior”, do desenho animado “Aunt”. É muito ilustrativo de nossas possibilidades na cultura pós-moderna. MATERIALISMO No materialismo, o “espírito” é um produto da matéria e, assim, o homem ficaria reduzido aos seus aspectos mais “materiais”. Tudo que sirva ao atendimento dessa base mais material, biológica, no materialismo relativista pós-moderno é suficiente para ser moral, para ser ético. O ser humano é convertido em instrumento de consumo, sem alma, para que efetivamente não escolha e, nesse sentido, ocorre o totalitarismo de mercado, reduzindo a dignidade da pessoa humana a uma concepção mais “maleável” à operacionalização humana pelo mercado. Nossa “teoria” é a de que é exatamente por isto que a religião, que reivindica a valorização da pessoa humana, precisa ser sistematicamente desqualificada como fonte de verdade e comportamento ético sendo substituída por outros paradigmas relativistas, mas próprios ao jogo de poder da disputa estabelecida pelas “leis do mercado”. Laicismo, Cientificismo e Educação LAICISMO Laicismo é diferente de laico. O laicismo é o fundamentalismo do laico que impede, a atuação das religiões para impor sua visão laica. É o caso das proibições de expressão religiosa que ocorrem em vários países hoje no mundo. A liberdade religiosa é um direito humano preconizado pela Declaração dos Direitos Humanos da Onu de 19483. A história recente, não obstante, vem paulatinamente querendo circunscrever a religião a um nível exclusivamente privado, querendo retirar da vida pública as inferências da visão religiosa. Não porque estas estejam superadas, mas para impor dogmaticamente outros paradigmas mais convenientes não ao ser humano, mas aos novos interesses de expansão do capitalismo. É o caso dos bispos presos em Hanói só porque são padres, da Igreja Estado na China que não permite a existência da Igreja Católica ligada ao Vaticano. É o caso da negativa do fato 3 “Artículo 18 Toda persona tiene derecho a la libertad de pensamiento, de conciencia y de religión; este derecho incluye la libertad de cambiar de religión o de creencia, así como la libertad de manifestar su religión o su creencia, individual y colectivamente, tanto en público como en privado, por la enseñanza, la práctica, el culto y la observancia.” DECLARACIÓN UNIVERSAL DE DERECHOS HUMANOS Resolución de la Asamblea General, aprobada el 10 de diciembre de 1948. (www.Arvo.net) 23
  • 24. histórico da influência cristã na Europa fato que foi subtraído do prefácio da Constituição Européia. Nele a formação européia se dá como tendo sofrido influências gregas e logo as do Iluminismo pulando-se dois mil anos de cristianismo. A dos estudantes de escolas públicas na França levadas à Coordenação por portarem a kippa judia, ou o véu muçulmano ou crucifixo. Ou a lei de educação em ética e cidadania que está para ser aprovada na Espanha em substituição à religião com ideais relativistas. É também o caso das manifestações feitas pela Onu contra a violação dos direitos humanos em países árabes bem mais brandas ou inexistentes se a perseguição for contra cristãos. Os extremados do laico são auto-suficientes e se consideram pertencentes a um círculo de privilegiados. Essa auto-suficiência leva a ausência de autocrítica, ao desprezo e a agressividade em relação às visões religiosas e conseqüentemente à intolerância. O consenso anônimo e tópico que resulta dessa posição arrogante leva a uma sociedade intolerante e dividida. O espírito laico significava um respeito às idéias e à liberdade de expressão de todos em sua origem histórica de modo que desmistificavam a pretensão de quem quisesse tornar-se hegemônico. Aliás, não era sua função desmistificar ou subtrair valor de quem quer que fosse e mesmo enxergavam os limites de sua própria visão cônscios das múltiplas explicações existentes. Se num outro tempo o espírito laico desmistificava os rigorismos das religiões talvez ocorra agora que precise de quem relativize as construções humanas que se assumem com uma conotação tirânica pela qual é religioso é imediatamente um fanático. Mas se “podemos tomar-lhes o petróleo” porque não passa de um fanático, aí vemos que a evolução do laico para o seu extremo não é uma evolução gratuita, mas promovida. Talvez devamos nos perguntar a que interesses esta vinculado essa campanha de desvalorização das religiões senão a um interesse que quer romper com formas de organização internas por onde deseja se expandir. As grandes religiões fundamentadas em idéias que não mudam são o problema, não a religião superficial a gosto. Mas aquela que impõe um paradigma de ação contrário desejo do poder hegemônico e para o qual não há negociação. É o caso da visão pró- vida da Igreja Católica contrária aos lobbys abortistas ligados aos interesses imperialistas e multinacionais atuando um verdadeiro democídio em regiões pobres do mundo e pelo qual é freqüentemente “demonizada” na mídia comprada pelos anúncios e concessões de canais ligados ao poder do mercado. Uma sociedade laica que se diz imparcial seria pluralista e aberta. Intolerância laicista quer impor até comportamentos, moral, ética e valores condizentes com o consumismo e seus interesses. A educação para a tolerância não se dá pela eliminação dos credos religiosos através da supressão de seus símbolos, mas pelo cultivo de uma mente aberta o que impõe que se cultive o homem mais do que como uma peça do sistema produtivo e se reconheçam suas convicções e a liberdade de tê-las porque a idéia de que ter convicções religiosas o transforma num fanático ou num extremista de direita é parte da “beatice” laicista. (Nota 8) O laicismo também promove um individualismo contrário ao aprofundamento humanista da natureza humana sob a ótica cristã e à vida comunitária participativa. De imediato porque desabona entre outros, os valores humanistas cristãos aos quais se referia o Papa João Paulo II. 24
  • 25. Mas também porque em sua natureza laica submete-se facilmente às lógicas puramente racionalistas promovidas muitas vezes na mídia por interesses hegemônicos. Para João Paulo II, na cultura laicista, mais facilmente pode ocorrer uma adesão a verdades pouco condizentes com a dignidade do homem devido exatamente à falta de um critério consistente sobre o que seja o homem. As verdades que interessam ao imperialismo globalizado são promovidas em polêmicas na mídia de lógicas falsas e superficiais, sendo absorvidas facilmente pelo laicista exatamente por uma falta de critérios mais profundos de análise deste. (Nota 14) Nesse sentido a cultura laicista postula um racionalismo originado da Ilustração associado à negação da transcendência levando, entre outras coisas, à mudança das obrigações éticas sem assumir a que interesses sua “imparcialidade” está servindo. Numa sociedade intolerante poderemos assegurar o respeito aos direitos humanos independentemente dos interesses da expansão do capital? ESTADO Uma das tendências mais claras que acompanham a história do Estado moderno é a da destruição dos poderes sociais intermediários representados, por exemplo, pela família, pelas associações voluntárias, pelas lideranças locais, pelas autoridades religiosas e por qualquer tipo de jurisdição independente em nome de um processo contínuo de centralização do poder. Tudo parece concorrer para aumentar indefinidamente as prerrogativas do poder central e a tornar a existência individual cada dia mais frágil. A educação, tanto quanto a caridade, tornou-se, uma tarefa nacional e a religião vê-se ameaçada de cair também nas mãos do Estado. O Estado moderno ergueu um monumental aparato burocrático que inclui também instituições ainda mais centralizadoras como o Banco Mundial, o FMI, a ONU, a OMC e similares que promovem de forma entusiástica o laicismo em escala global e é nesse sentido que a adoção de uma visão laicista é elemento de hegemonia. CIÊNCIA A ciência tem desenvolvido uma cultura de veia largamente utilitarista movida pelo desejo de lucro e de domínio. Por ser fonte de saber e de poder de produção e, associada à expansão do capitalismo tem uma desenfreada cobiça de absolutismo o que contribui para que não queira aceitar freios éticos de origem moral e filosófica. Este debate é histórico. Já dizia Hans Gadamer: 25
  • 26. “ In a time when science penetrates further and further into social practice, science can fullfill its social function only when it acknowledges its own limits and the conditions placed on its freedom to maneuver. Philosophy must make this clear to an age credulous about science to the point of superstition. On just this depends the fact that tension between truth and method has an inescapable currency.” ( Thruth and Method, Gadamer, Hans.) A atitude positivista da cultura liberal valoriza o aspecto científico como fonte ideológica e doutrinal de suas concepções e acaba por preconizar uma “assepsia” da ciência e da cultura de “humanismos”. Os princípios cientificistas são característicos das concepções materialistas e positivistas do liberalismo. Num cenário de globalização liberal a ciência precisa de quem lhe dê limites e parâmetros éticos para além dos multinacionais que financiam suas pesquisas. A afirmação de prioridade ética de base cristã para as pesquisas científicas é legítima e corresponde a uma exigência essencial da pessoa e das comunidades humanas devido a possível subordinação do cientificismo às necessidades de investimento para pesquisa. Há uma prioridade, na cultura pós-moderna relativista laicista, pelas disciplinas experimentais frente à formação humanista dado que a necessidade econômica valora mais o aumento do conhecimento sensível que é por si reduzível ao empírico e possivelmente à comercialização e à regulação pelo mercado. E isto em detrimento das potencialidades do espírito humano. EDUCAÇÃO Sem paradigmas para o alto o conhecimento tem, muitas vezes se atido aos seus aspectos meramente mercadológicos: formação de uma massa de obra controlável pela adesão a certos princípios laicistas pelos quais o mercado lhe confere um posto. O homem é apenas mais uma engrenagem no sistema de produção nas concepções materialistas. Na educação superior onde as atividades humanistas foram grandemente destituídas de seus aspectos filosóficos e teleológicos que davam amplidão às possibilidades especulativas das humanidades se pode ver a limitação destas a um funcionalismo operativo de formação para a máquina de produção onde o homem é apenas mais um elemento da cadeira produtiva ou de cooptação ideológica. Surgem assim cursos, disciplinas e objetivos puramente instrumentais para o processo de assimilação pelo mercado. Um pacto não escrito, mas real assegura o funcionalismo do estudo para o mercado de trabalho em detrimento de uma investigação da “verdade”. Uma mão de obra cada vez mais “instruída” em técnicas que as distinguirão no mercado de trabalho, mas menos capazes de um julgamento “humanista”. O conhecimento e a cultura cada vez mais servem não a plenificação do homem a que ser referiu João Paulo II, mas ao adestramento para que o homem se torne peça mais eficiente para o sistema produtivo. A sobrevivência pela radicalidade da exclusão do processo capitalista neoliberal está reduzindo todo aprimoramento pelo conhecimento ao mero determinismo do mercado. Numa sociedade predominantemente materialista o utilitarismo dará o tom do conhecimento. 26
  • 27. Conclusão Pelo exposto podemos auferir que a globalização, sob a cultura laicista implicará a perda de valores humanos da tradição cristã ocidental e, pelas características do laicismo, acima esboçados, corroborará para o processo de exclusão. A independência do sistema produtivo de constrangimentos éticos tradicionais mostra uma concepção de vida em que o homem será subordinado à produção material. (Nota 9) Seria necessária, ainda, uma pesquisa – que corroboraria com fatos – como o paradigma cristão foi sendo substituído em termos de novos “dogmas absolutos”. De como foi “cruxificado” a partir de simplificações e preconceitos para, desqualificá-lo e dessa maneira legitimar uma nova valoração mais apropriada à expansão capitalista atual. A simples aplicação das idéias aqui esboçadas se comprovam no dia a dia seja pelos noticiários seja pelas conversas cada vez mais laicistas. Por exemplo, um governo de um determinado estado brasileiro irá promover a entrega gratuita de Pílulas do Dia Seguinte gratuitamente no carnaval de 2006. (de onde vem o dinheiro para isso? Doações de ONGs benemerentes preocupadas em levar educação sexual às escolas de países de Terceiro Mundo?) O carnaval no Brasil agora é entendido como dança, transa e aborto? Não faltou quem na mídia dissesse que feto não é ser humano nas primeiras 72 horas da concepção. Mas quem disse que o processo da gravidez é interrompido, tem uma pré-fase e que se os pais quiserem aí é que o feto se desenvolve? “ - Alô, bichinho? O carinha deu o fora e portanto você não precisa se desenvolver, valeu?” Desde a fecundação o processo é ininterrupto até o nascimento. Não existe pré-fase no processo de concepção. Não houve, senão da Igreja Católica e mesmo assim não transmitido na mídia no mesmo instante em que o técnico aparecia para milhões dizendo que nas primeiras 72 horas não seria aborto, quem questionasse a nova mentalidade. Certamente essa “distração” geral que corroborou o carnaval como um “porre” anti-natalício, atesta a cooptação para a nova mentalidade, não por assentimento mas por distanciamento de valores até bem pouco tempo conhecidos e estimados como basilares na cultura ocidental, os valores cristãos. E isto por pura superficialidade e futilidade do modo de vida laicista que tem no consumo de bens o motor das prioridades e toda a atenção da “cultura” mídica, principalmente. Em regiões destituídas dos bens materiais mais básicos se somará agora esse “débito” de humanidades, um débito que começa pela perda de “status” do direito à vida desde o nascimento até a morte natural típico do pensamento cristão. O carnaval com aborto, certamente um carnaval com exploração infanto-juvenil e de turismo sexual, atesta uma das principais conseqüências do laicismo que não admite os paradigmas de origem religiosa na regulação da vida pública e se esforça obstinadamente em substituí-los já que o cristianismo exigiria a manutenção da vida, a solução do problema da pobreza e a 27
  • 28. cobrança de responsabilidade dos que tem mais para com os destituídos. Evidentemente isso é muito caro para uma sociedade regulada por um mercado voltado para o lucro. A voz da Igreja é francamente contra o aborto e por isso é verdadeiramente perseguida principalmente em países desenvolvidos onde estão as sedes dos interesses multinacionais. O controle hegemônico ideológico do capitalismo é uma articulação com intenção de controlar o poder. Não está necessariamente em associação com a religião como se esta fosse a “natural” superestrutura do sistema neoliberal. O paradigma cristão pode ser absorvido pela direita para efeitos de consolação pessoal e para uso político quando convém. Porque é um uso, não é do ideário cristão essa vinculação de classe ou opção política. É assim que acontecem aberrações como um cristão racista, por exemplo. Quando o sistema capitalista não encontra mais os elementos necessários na referida ideologia iniciou a troca pela laicista, amplamente promovida e construída pela mídia e pela desqualificação de seus opositores. Acreditamos que a história da propaganda com a sua evolução do simples anúncio até a criação de necessidades para promover a renovação do consumo por produtos de nova tecnologia e como isso alimenta a “fabricação de valores” e, como nesse contexto, limitações éticas foram um obstáculo à sua expansão, ajudaria a compreender o processo de substituição do paradigma cristão no século XX. A isto seria interessante acrescentar o monopólio cultural nas mãos de multinacionais de cinema e editorial e a construção de novos valores através da mídia, com a cooptação de diferentes diretrizes, à esquerda ou a direita, mas sumetidos sempre à aprovação pelo mercado. Essa retórica relativista não toma caminho de democracia, mas de poder. Não se trata de fazer conviver várias realidades, mas, de através da relatividade indiferentista, tornar legítimo o interesse dos poderosos descartando, de sua responsabilidade ética, as exigências da moral cristã que antes então forjavam a cultura e a “verdade” ocidental. Quem não se submeter aos lugares comuns que estabelecem as novas regras do jogo fica fora do “mercado” e, portanto, da sobrevivência. É preciso lembrar que o espaço não ocupado pela “sociedade de mercado” facilita a ação das organizações criminosas internacionais muito ricas. Eles controlam os países em desenvolvimento corrompendo políticos, sistemas judiciais e policiais, matando e não se importando com direitos humanos, “empregando” pobres e excluídos como a sociedade civil não o faz. Sem um paradigma ético que obrigue o enfrentamento claro dos ataques à pessoa humana, o que sobra para os excluídos é o que vem das organizações criminosas: comércio de produtos ilicitamente obtidos, armas e as drogas. Pelo desinteresse da sociedade civil pelos pobres – dado o indiferentismo egoísta da nova cultura em que o ser humano fica reduzido a ser absorvido pelo mercado e para consumir - se vai entregando a sociedade às organizações criminosas hoje com um volume de operações entre drogas e armas superior ao do comércio internacional. O que não leva ao crescimento humano e da sociedade e objetivamente não leva a consecução das melhorias seja ao meio ambiente seja de “cuidado porque mútuo relacionado” entre o norte desenvolvido e o sul. A questão da argumentação ética em tempos de globalização não é subjetiva ou teórica, mas se impõe porque os argumentos esgrimidos no espaço público buscam alterar as crenças dos 28
  • 29. indivíduos quanto às justificativas das leis e seus comportamentos. Não ter responsabilidade sobre os pobres e excluídos do processo de globalização nos parece possível pela liberalização de compromissos éticos permitido pela filosofia relativista. Este é a importância do tema desta dissertação. De modo a atender a solicitação do nosso coordenador, Professor Daniel Aarão, buscamos quem questionasse a visão que aqui apresentamos. Para isso lemos o livro do professor Wallerestein, “Capitalismo histórico e Civilização Capitalista” porque nos pareceu o que poderia constituir das mais inteligentes críticas. Mas, certamente, por nossas naturais limitações de aluno de primeira viagem, insistimos: As verdades universalizantes são princípios de controle ideológico do capitalismo para Wallerestein. Tal concepção não obstante sofre de um racionalismo maniqueísta de visão materialista que não considera o homem como o concebe, por exemplo, o humanismo cristão de João Paulo II. Nesse sentido se podem identificar quase quaisquer ocorrências como elementos de domínio porque racionalmente quase qualquer fator pode ir para um dos lados da equação linear da visão utilitarista. Mas no teste do real a lógica racionalista mostra seus limites. A religião, o mesmo aparelho de dominação ideológica, o “ópio do povo”, foi estímulo de muitas melhorias humanitárias ao longo da história não podendo seus princípios ser colocados simplesmente com uma única função – aqui em Wallerestein de instrumento de dominação ideológica. Nem o homem é elemento de uma atuação sem espírito e vontade, meramente racionalista agindo determinado por uma única função. É uma antiga característica da cultura ocidental, a de substituir o mundo pela idéia. Talvez em decorrência da filosofia hegeliana que traz uma visão de mundo em termos de conflito dialético. Todo avanço se realiza por meio da contraposição de contrários e da sua síntese superadora. Profundo é entender o fundamento da realidade como algo em desenvolvimento, em “progresso”. Mas o racionalismo desta suposição extirpou as considerações “espirituais”, suplantando-as pela dança e contra-dança do novo ideal lógico. Na globalização neoliberal laicista as relações entre o homem e o econômico ficam assim amarrados aos aspectos da eficiência do mecanismo da superação em síntese que, de preferência ainda gerem um resultado prático, lucrativo. A decorrência desta “fé” no processo lógico de síntese está em não se perceber que as partes são sempre ligadas a um aspecto utilitarista na relação de oposição e o homem na sua totalidade não se encaixa nesse mecanicismo. Quem defenderá um homem sem “utilidade”, como os aleijados, os excluídos, os velhos que a globalização rejeitar principalmente se o paradigma do amor aos pobres do cristianismo for uma “lenda medieval conservadora” que precisa ser extirpada para a “síntese” do progresso “final”? Um exemplo de excluídos? Os abortados nestas últimas 72 horas no carnaval da Bahia. Talvez filhos de meninas pobres envolvidas com o turismo sexual. Quem se importará com elas se o que conta é salvar o planeta da “depredação” dos pobres? Ora mais não são os Estados Unidos os responsáveis, sozinhos, por um terço da poluição do planeta? Insistentemente a Globo faz campanha contra a pirataria. Mas quem se importa com os vendedores de cds falsos a serviço do grande contrabandista? Bill Gates que já é membro do novo “ Pacto Global”? 29
  • 30. Apêndice Notas 1. “ Neste sentido, podemos dizer que Cristo tem sido sempre a “pedra angular” da construção e reconstrução das sociedades no Ocidente cristão.” Ao mesmo tempo, porém, não se pode ignorar como desponta insistentemente a recusa de Cristo: sempre mais se manifestam de novo os sinais de uma civilização diferente daquela que tem Cristo como “pedra angular” – uma civilização que, se não é atéia de modo programático, é certamente positivista e agnóstica, pois inspira-se no princípio de pensar e agir como se Deus não existisse. Uma tal tendência detecta-se facilmente na chamada mentalidade científica ou melhor, cientísta contemporânea, bem como na literatura, e especialmente nos meios de comunicação social. Viver como se Deus não existisse quer dizer viver fora das coordenadas do bem e do mal, isto é, fora daquele contexto de valores que tem Ele mesmo por fonte; pretende-se que, ao invés disso, o homem decida acerca do que é bom ou mau, sendo tal programa sugerido e divulgado em vários modos e de diversas partes.” ( Memória e Identidade, João Paulo II p. 58-59) 2. “(...) O que é um mercado? É um campo de batalha onde se opõem as forças (...) dos mais fracos e dos mais poderosos. E quem sobrevive, quem tem direito de sobreviver nesse mercado, são justamente aqueles que têm a capacidade de consumir e produzir. E é justamente onde a situação do cristão é crucial, porque a dinâmica do Evangelho é uma dinâmica de defesa do mais fraco, (...)o que importa é a dignidade de todos os seres humanos qualquer que seja a sua condição física, o seu tamanho, a cor de pele, a idade, e assim por diante. (...). É justamente o drama do nosso tempo, que a sociedade rejeita esta mensagem de Cristo. Porque de acordo com a “vulgata” ideológica dominante, o pobre, o marginal, o aleijado, não valem nada já que são inúteis na sociedade. A nossa ética cristã, nesse particular, é uma ética que contraria terminantemente a ética hedonista, a ética utilitarista, que a gente encontra (...) na tradição liberal.” “Os Riscos Éticos da Globalização”, Michel Schooynas (p. 74-76) 3. "En Cristo y por Cristo, Dios se ha revelado plenamente a la humanidad y se ha acercado definitivamente a ella; y, al mismo tiempo, en Cristo y por Cristo, el hombre ha conseguido plena conciencia de su dignidad, de su elevación, del valor trascendental de la propia humanidad, del sentido de su existencia". JOÃO PAULO II, Enc. Redentor hominis, nº 11. 4. "Mientras la "secularización" atribuye la justa y debida autonomía a las cosas terrenas, el secularismo, en cambio, proclama: ¡Hay que quitarle el mundo a Dios! ¿Y después? ¡Después hay que dárselo todo al hombre! Pero ¿es que al hombre se le puede entregar el mundo con mayor plenitud que la que se le dio al principio de la creación? ¿Puede dársele de otra manera? ¿Puede dársele fuera del orden objetivo del ser, del bien y del mal? Y si se le entrega de forma diversa, es decir, al margen del orden objetivo, ¿no se revolverá acaso contra el hombre, sometiéndolo a esclavitud? ¿No le instrumentalizará?". K. WOJTYLA, Signo de contradicción, BAC (Madrid, 1978) p. 45 5. "Todo eso, esa tremenda y valiosa experiencia me enseñó que la justicia social sólo es verdadera si está basada en los derechos de la persona. Y esos derechos sólo serán realmente reconocidos si se reconoce la dimensión trascendente del hombre, creado a imagen y semejanza de Dios, llamado a ser su hijo y hermano de los otros hombres, destinado a una vida eterna. Negar esa trascendencia es reducir el hombre a instrumento de dominio, cuya suerte está sujeta al egoísmo y a la ambición de otros hombres, o a la omnipotencia del Estado totalitario, erigido en valor supremo". Juan Pablo II, Homilía a los jóvenes en Belo Horizonte (Brasil, 1-VII-1980). 30
  • 31. 6. “ (...) o verdadeiro desenvolvimento não pode consistir na simples acumulação de riqueza e na maior disponibilidade dos bens e dos serviços, se isso fosse obtido à custa do subdesenvolvimento das multidões, e sem a consideração devida pelas dimensões sociais, culturais e espirituais do ser humano.(…) é forçoso perguntar se a realidade tão triste de hoje não será, pelo menos em parte, o resultado de uma concepção demasiado limitada, ou seja, predominantemente econômica, do desenvolvimento.(...) Todavia, é necessário, denunciar a existência de mecanismos econômicos, financeiros e sociais que embora conduzidos pela vontade dos homens, funcionam muitas vezes de maneira quase automática, tornando mais rígidas as situações de riqueza de uns e de pobreza dos outros. Estes mecanismos, manobrados – de maneira direita ou indireta – pelos países mais desenvolvidos, com o seu próprio funcionamento favorecem os interesses de quem os manobra, mas acabam por sufocar ou condicionar as economias dos países menos desenvolvidos. Apresenta-se como necessário submeter mais adiante estes mecanismos a uma análise atenta, sob o aspecto ético- moral.”Solicitude Social, Carta encíclica de João Paulo II, “Sollicitudo Rei Socialis”, Ed. Paulinas, 4ed., São Paulo, 1990. 31
  • 32. 7. “Una ayuda importante e incluso decisiva la ha dado la iglesia con su compromiso en favor de la defensa y promoción de los derechos del hombre. En ambientes intensamente ideologizados, donde posturas partidistas ofuscaban la conciencia de la común dignidad humana, la Iglesia ha afirmado con sencillez y energía que todo hombre -sean cuales sean sus convicciones personales- lleva dentro de sí la imagen de Dios y, por tanto, merece respeto. En esta afirmación se ha identificado con frecuencia la gran mayoría del pueblo, lo cual ha llevado a buscar formas de lucha y soluciones políticas más respetuosas con la dignidad de la persona humana". João Paulo II, Enc. Centesimus annus, nº 22. 8. Não é necessário repetir, porque todos os conheceis bem, os danos que trouxe ao homem a auto-suficiência de uma cultura e de uma técnica fechadas ao transcendente, a redução do homem a mero instrumento de produção, vítima de ideologias preconcebidas ou da fria lógica das leis econômicas, manobrando para fins utilitaristas e interesses de grupos, que ignoraram e ignoram o verdadeiro bem do homem. (“ Aos Construtores da Sociedade Pluralista de Hoje”, Salvador, Bahia, Brasil, 7 de julho de 1980). 9. “Enquanto “ordenamento da razão”, a lei está baseada na verdade do ser: a verdade de Deus, a verdade do homem, a verdade da própria realidade criada no seu todo. Esta verdade é a base da lei natural(...).” Tocamos aqui uma questão de essencial importância para a história da Europa no século XX, porque foi um parlamento, regularmente eleito, que consentiu a ascensão de Hitler ao poder na Alemanha dos anos 1930 e foi, depois, o mesmo Reichtag que, com a delegação de plenos poderes ( Ermächtigungsgesetz) a Hitler, lhe abriu a estrada para a política de invasão da Europa, a organização dos campos de concentração e para a execução da chamada “solução final” da questão hebraica, isto é, a eliminação de milhões de filhos e filhas de Israel. Basta trazer à memória apenas estes fatos – bem perto de nós no tempo – para ver claramene que a lei estabelecida pelo homem tem limites concretos, que não pode ultrapassar: os limites, fixados pela lei natural, com que o próprio Deus tutela os bens fundamentais do homem.” Memória e Identidade, João Paulo II, p. 150-151 10. “Cada vez más, en muchos países americanos impera un sistema conocido como «neoliberalismo; sistema que haciendo referencia a una concepción economicista del hombre, considera las ganancias y las leyes del mercado como parámetros absolutos en detrimento de la dignidad y del respeto de las personas y los pueblos. Dicho sistema se ha convertido, a veces, en una justificación ideológica de algunas actitudes y modos de obrar.”(Exhortación Apostólica Postsinodal Ecclesia In America Del Santo Padre Juan Pablo Ii A Los Obispos A Los Presbíteros Y Diáconos A Los Consagrados Y Consagradas Y A Todos Los Fieles Laicos Sobre El Encuentro Con Jesucristo Vivo, Camino Para La Conversión, La Comunión Y La Solidaridad En Américahttp://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/apost_exhortations/documents/ hf_jp-ii_exh_22011999_ecclesia-in-america_sp.html ) 11. “Se, por um lado, o Ocidente continua a dar testemunho da ação do fermento evangélico, por outro aparecem, não menos fortes, as correntes da antievangelização; esta atinge as próprias bases da moral humana evolvendo a família e espalhando o permissivismo moral: os divórcios, o amor livre, o aborto, a contracepção, a luta contra a vida tanto na sua fase inicial como no ocaso, a sua manipulação. Este programa funciona com enormes meios financeiros, não apenas em nível nacional mas também na escala mundial; consegue realmente dispor de grandes centros de poder econômico, através dos quais tenta impor as suas próprias condições aos países em desenvolvimento. Face a tudo isto, é legítimo questionar se não estamos perante uma nova forma de totalitarismo, dolosamente velado sob as aparências da democracia.” Livro de João Paulo II “Memória e Identidade”, p.59. 32
  • 33. 12. “Em primeiro lugar, um "SIM À VIDA"! Respeitar a vida e as vidas: com ela tudo começa, visto que o mais elementar dos direitos humanos é o direito à vida. O aborto, a eutanásia ou a clonagem humana, por exemplo, correm o risco de reduzir a pessoa humana a um simples objecto: de certa forma, a vida e a morte comandada! Quando são privadas de qualquer critério moral, as investigações científicas que manipulam as fontes da vida são uma negação do ser e da dignidade da pessoa. A própria guerra é um atentado à vida humana porque traz consigo o sofrimento e a morte. A defesa da paz é sempre uma defesa da vida!“Depois, o respeito do direito. A vida em sociedade sobretudo a vida internacional exige princípios comuns intocáveis, cuja finalidade é garantir a segurança e a liberdade dos cidadãos das nações. Estas regras de conduta estão na base da estabilidade nacional e internacional. Hoje, os responsáveis políticos têm à sua disposição textos apropriados e instituições de grande pertinência. É suficiente pô- los em prática. O mundo seria totalmente diferente se se começasse por aplicar sinceramente os acordos assinados!” (Discurso Do Papa João Paulo II Ao Corpo Diplomático Acreditado Junto Da Santa Sé Durante A Apresentaçãodos Bons Votos Para O Novo Ano, 13 de Janeiro de 2003 33
  • 34. 13. “3. Uma das preocupações da Igreja acerca da globalização consiste no fato de que esta se tornou rapidamente um fenômeno cultural. O mercado como mecanismo de intercâmbio tornou-se instrumento de uma nova cultura. Muitos observadores notaram o caráter indiscreto, e até mesmo invasor, da lógica do mercado, que limita cada vez mais a área disponível à comunidade humana para a ação pública e voluntária a todos os níveis. O mercado impõe o seu modo de pensar e de agir e, com a sua escala de valores, influi no comportamento. Os povos que estão sujeitos a isto não raro consideram a globalização como uma invasão destruidora que ameaça as normas sociais que antes os tutelavam e os pontos de referência culturais que lhes ofereciam um rumo na vida. O que está a acontecer é que as mudanças na tecnologia e nas relações de trabalho se transformam com demasiada rapidez para que a cultura seja capaz de lhes corresponder. As garantias culturais, legais e sociais que são o resultado dos esforços voltados para a defesa do bem comum têm uma importância vital para fazer com que os indivíduos e os grupos intermediários mantenham a sua própria centralidade. Todavia, com freqüência a globalização corre o perigo de destruir estas estruturas edificadas com tanto esmero, reivindicando a adoção de novos estilos de trabalho, de vida e de organização das comunidades. Da mesma forma, a outro nível, a utilização das descobertas no campo biomédico tende a encontrar os legisladores impreparados. A própria investigação é freqüentemente financiada por grupos particulares, e os seus resultados são comercializados mesmo antes que o processo de controle social tenha tido a possibilidade de reagir. Encontramo-nos diante de um aumento prometeico de poder sobre a natureza humana, a tal ponto que o próprio código genético humano é medido em termos de custo e benefício. Todas as sociedades reconhecem a necessidade de controlar estes progressos e de garantir que as novas práticas respeitem os valores humanos fundamentais e o bem comum. 4. A afirmação da prioridade da ética corresponde a uma exigência essencial da pessoa e da comunidade humanas. Todavia, nem todas as formas de ética são dignas deste nome. Assistimos ao nascimento de modelos de pensamento ético que são subprodutos da própria globalização e têm em mesmos si a marca do utilitarismo. Contudo, os valores éticos não podem ser determinados pelas inovações tecnológicas, pela técnica ou pela eficácia. Eles estão radicados na própria natureza da pessoa humana. A ética não pode ser a justificação ou a legitimação de um sistema, mas deve constituir sobretudo a tutela de tudo aquilo que há de humano em qualquer sistema.A ética exige que os sistemas se adaptem às exigências do homem, e não que o homem seja sacrificado em nome do sistema. Uma conseqüência evidente disto é o fato de que as comissões éticas, hoje habituais em quase todos os sectores, deveriam ser completamente independentes dos interesses financeiros, das ideologias e das concepções políticas partidárias.”((Discurso Do Santo Padre Aos Membros Da Pontifícia Academia Das Ciências Sociais Sexta-Feira, 27 de Abril de 2001.).http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/speeches/2001/documents/hf_jp- ii_spe_20010427_pc-social-sciences_po.html) 14. “Durante la Jornada mundial de la juventud en Denver, tuve la oportunidad de reflexionar con los jóvenes presentes sobre la falsa moralidad que se aplica corrientemente al tema de la vida. Según este modo de pensar, el aborto y la eutanasia asesinato real de un ser humano verdadero son reivindicados como derechos y soluciones a problemas: problemas individuales o problemas de la sociedad l...]. La vida primer don de Dios y derecho fundamental de todo individuo, base de todos los demás derechos es tratada a menudo nada más como una mercancia que se puede organizar, comercializar y manipular a gusto personal” (João Paulo II, Vigilia, 14 de agosto de 1993,11 parte, n. 3; cf. L"osservatore Romano) 34
  • 35. 15. “A una cierta pérdida de la memoria cristiana se suma una especie de miedo al afrontar el futuro; a una generalizada fragmentación de la existencia se unen a menudo la difusión del individualismo y un creciente debilitamiento de la solidaridad interpersonal. Se asiste a una pérdida de la esperanza, en cuya raíz está el intento de hacer que prevalezca una antropología sin Dios y sin Cristo. Paradójicamente, la cuna de los derechos humanos corre así el riesgo de perder su fundamento, minado por el relativismo y el utilitarismo.” (JUAN PABLO II ÁNGELUS, Castelgandolfo, Domingo 13 de julio de 2003. http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/angelus/2003 documents/hf_jp- ii_ang_20030713_sp.html) 16. “Concepciones opuestas se enfrentan sobre temas como el aborto, la procreación asistida, el uso de células madres embrionarias humanas con finalidades científicas, la clonación. Apoyada en la razón y la ciencia, es clara la posición de la Iglesia: el embrión humano es un sujeto idéntico al niño que va a nacer y al que ha nacido a partir de ese embrión. Por tanto, nada que viole su integridad y dignidad es éticamente admisible. Además, una investigación científica que reduzca el embrión a objeto de laboratorio no es digna del hombre. Se ha de alentar y promover la investigación científica en el campo genético, pero, como cualquier otra actividad humana, nunca puede considerarse exenta de los imperativos morales; por otra parte, puede desarrollarse en el campo de las células madres adultas con prometedoras perspectivas de éxito.”( Discurso De Su Santidad Juan Pablo Ii Al Cuerpo Diplomático Acreditado Ante La Santa Sede 10 de enero de 2005.) http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/speeches/2005/january/documents/hf_jp -ii_spe_20050110_diplomatic-corps_sp.html 35
  • 36. João Paulo II A popularidade de um papa, num século em que Deus é dado por morto e de um tempo de disputa entre ideologias materialistas é um fato que por si só cobra a explicações a um historiador. João Paulo II foi testemunha de eventos importantes do século XX interferindo decididamente sobre eles. Além disto esteve longos anos à frente de seu cargo com intensa atividade como líder mundial. O Papa João Paulo II, na história do século XX pode também ser visto como um líder de uma verdadeira “resistência” humanista ao relativismo laicista ligado ao capitalismo pós-moderno bem como de todas as formas de totalitarismo e opressão do homem. ( Nota 12) Além de ter participado do Concílio Vaticano II (1962-1965) que tinha como objetivo atualizar a Igreja Católica para os desafios da modernidade, e de ter vivenciado a resistência aos domínios nazista e comunista da Polônia o que já o colocam como testemunha dos mais importantes momentos do século XX, (Segunda Guerra e Guerra Fria), como Papa (foi eleito em 16 de outubro de 1978) permaneceu quase 27 anos no cargo de chefe de um bilhão e cem milhões de católicos. Fez 104 viagens pastorais por todo o mundo visitando 145 países. Como autor de pensamento cristão que estaria na base da resistência humanista aos extremos do materialismo, escreveu 14 encíclicas4, 15 exortações apostólicas, 11 constituições apostólicas, 45 cartas apostólicas, 28 “Motu Proprio”, cinco livros e proferiu cerca de 20 mil discursos. Falou às multidões ao vivo e pela televisão como poucos e por muito tempo. Só nas audiências gerais de quartas-feiras falou a cerca de 18 milhões de peregrinos em cerca de 1160 audiências. No Jubileu do ano 2000 recebeu oito milhões de peregrinos. A maior concentração de pessoas em torno do Papa deu-se em Manila, Filipinas onde quatro milhões de pessoas assistiram à missa celebrada por ele. De 16 de outubro de 1978 a 14 de outubro de 2004, encontrou-se com 738 chefes de Estado, recebeu 246 Primeiros Ministros e as credenciais de 642 embaixadores. A título de comparação, o presidente americano que mais tempo permaneceu na África foi Clinton em viagem de 12 dias por seis países da África o continente mais necessitado do Terceiro Mundo. João Paulo II viajou 13 vezes à África visitando 40 de seus 52 países. 5 Em suas viagens apostólicas dirigiu-se aos fiéis em 60 línguas inclusive em ibo, efik, tiv, hauçá, edo e ioruba.6 4 A encíclica é o documento mais solene do Magistério da Igreja e trata de temas doutrinais ou fazem um chamado aos fiéis por um motivo concreto. Dirigem-se normalmente a todos os Bispos, fiéis da Igreja Católica, e a "todas as pessoas de boa vontade". 5 Páginas na Internet da ACI Digital, Vaticano, Arvo.net. 6 João Paulo II, Biografia, Lecomte, Bernard, p.446. 36