1. SUPER-MERCADO
Sempre que vou ao mercado procuro pela mesma coisa. Ando pelas seções
ávida pela novidade que pode mudar minha vida. Toda semana passo pela
mesma frustração, olho e olho, e não encontro nada. Custa o mercado oferecer
uma mercadoria que se encaixe perfeitamente com você. Sabe aquela que
atende a todas suas necessidades, seja de fome, de sede ou gula. E não falo
de ração humana ou essas comidas de passarinho que anunciam por aí. Nada
disso. Não é isso que procuro. Poxa vida, se é SUPERMERCADO, o mínimo
que posso esperar é encontrar SUPER produtos. Mas é só mesmice. Nada de
surpreendente. Nenhuma cor nova, nem design, sequer um novo perfil. Queria
um mercado cheio de SUPER produtos para me oferecer. Mas é claro, quero
ter a minha liberdade de escolha, não gosto que fiquem empurrando algo pra
mim com aquele papo furado (propaganda enganosa): “Compre hoje seu
picador, moedor, fatiador, só falta falar e se levar agora ganha esse
maravilhoso manual”. Manual maravilhoso? Ah, indignação explica o meu
sentimento. Tristeza também é o que sinto quando não encontro nada que eu
realmente queira. Queria meu produto, aquele perfeito pra mim, que me
ouvisse mais, se possível falasse também. Nada sufocante sabe, aquela coisa
grudenta, que “não posso viver sem”, todos precisam de um tempo pra si.
Queria que estivesse por perto quando eu precisasse. Que fosse companheiro,
não como um livro, frio, mas bem humorado como um programa de tv. Pena é
ir ao mercado e ver que o produto que quero não está em lugar algum. Na
verdade, está escondido em algum estoque, e aparece raríssimas vezes. O
mercado não é tão SUPER assim, encontrar um cafezinho é mais fácil que um
namorado.
BRUNA BRINGHENTTI DALMAGRO