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3º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL 
ARTE E CULTURA AFRO 
Sem nunca ter deixado as paragens áridas do cerrado, Moacir, um poeta de traços 
e cores, desenvolveu uma linguagem visual repleta de simbolismos e personagens 
do imaginário popular. Pintor e desenhista da Vila de São Jorge, possui uma profícua 
produção artística. Entretanto, por estar afastado dos grandes centros urbanos e do 
cenário artístico contemporâneo, nunca teve sua obra exposta numa montagem à 
altura. 
Conheça as obras de Moacir 
Clique e veja a galeria de obras 
do artista plástico Moacir. Os temas, 
que viajam entre o sagrado e o 
profano, são a identidade visual do 
Encontro de Culturas Tradicionais da 
Chapada dos Veadeiros desde sua 
primeira edição. Foto: André Duarte 
Moacir já foi alvo de estudo por especialistas e estudantes, tendo inclusive sido o 
tema de uma monografia de diplomação de uma aluna do curso de Artes Plásticas da 
Universidade de Brasília. 
Tem 45 anos, nasceu em São Jorge na época dos garimpos. Filho de Seu Domingos 
Farias, antigo garimpeiro, e Dona Maria, Moacir nunca saiu da vila, onde vive até 
hoje. Desde o seu nascimento, é envolto numa áurea mística. Quando morava com 
a família nos garimpos próximos a vila, ele se escondia das pessoas. Só saia às 
ruas com o rosto e o corpo cobertos, andava mascarado com um tecido sobre si. 
Evitava o convívio social, quando alguém se aproximava da casa para uma visita, 
ele pressentia a presença das pessoas e saia de casa, escondendo-se no mato. Esse 
comportamento fazia com que as pessoas o considerassem um louco (esquizofrênico), 
pelo comportamento excêntrico. No entanto, o artista já foi submetido à vários exames 
que comprovam sua sanidade.
Logo cedo demonstrou interesse pela pintura. Começou a pintar com pedaços de 
carvão, pintando as paredes e papéis que encontrava – sua maneira de se comunicar 
com o mundo exterior. Moacir garimpou a sua arte no chão do cerrado, em meio aos 
troncos retorcidos da vegetação nativa. 
O rico universo interior do artista pode ser conhecido nas pinturas, nas quais a 
linguagem imagética transpõe toda o vasto universo onírico onde o profano e o 
sagrado se encontram e se misturam. Moacir coloriu seu universo interior com o 
cerrado. 
por Jamila Gontijo
http://www.cavaleirodejorge.com.br/galeria.php?id=1 
Cantigas de roda 
Cantigas de roda são um dos brinquedos com que as crianças podem se divertir sem precisar de nada, 
apenas sua alegria e alguns amiguinhos! 
Atirei o Pau no Gato 
Atirei o pau no gato tô tô 
Mas o gato tô tô 
Não morreu reu reu 
Dona Chica cá 
Admirou-se se 
Do berro, do berro que o gato deu 
Miau !!!!!! 
A Barata diz que tem 
A Barata diz que tem sete saias de filó 
É mentira da barata, ela tem é uma só 
Ah ra ra, iá ro ró, ela tem é uma só ! 
A Barata diz que tem um sapato de veludo 
É mentira da barata, o pé dela é peludo 
Ah ra ra, Iu ru ru, o pé dela é peludo ! 
A Barata diz que tem uma cama de marfim 
É mentira da barata, ela tem é de capim 
Ah ra ra, rim rim rim, ela tem é de capim 
A Barata diz que tem um anel de formatura 
É mentira da barata, ela tem é casca dura 
Ah ra ra , iu ru ru, ela tem é casca dura 
A Barata diz que tem o cabelo cacheado 
É mentira da barata, ela tem coco raspado 
Ah ra ra, ia ro ró, ela tem coco raspado 
Boi da Cara Preta 
Boi, boi, boi 
Boi da cara preta 
Pega esta criança que tem medo de careta 
Não, não, não 
Não pega ele não 
Ele é bonitinho, ele chora coitadinho 
A canoa virou
A canoa virou 
Por deixá-la virar 
Foi por causa da Ana 
Que não soube remar 
Se eu fosse um peixinho 
E soubesse nadar 
Tirava a Sandra 
Do fundo do mar 
O caranguejo 
Caranguejo não é peixe 
Caranguejo peixe é 
Caranguejo só é peixe 
Na enchente da maré 
Ora, palma, palma, palma! 
Ora, pé, pé, pé! 
Ora, roda, roda, roda 
Caranguejo peixe é! 
Ciranda Cirandinha 
Ciranda Cirandinha 
Vamos todos cirandar 
Vamos dar a meia volta 
Volta e meia vamos dar 
O Anel que tu me destes 
Era vidro e se quebrou 
O amor que tu me tinhas 
Era pouco e se acabou 
Por isso dona Rosa 
Entre dentro desta roda 
Diga um verso bem bonito 
Diga adeus e vá se embora 
O cravo e a Rosa 
O cravo brigou com a rosa 
Debaixo de uma sacada 
O cravo saiu ferido 
E a rosa despedaçada 
O cravo ficou doente 
A rosa foi visitar 
O cravo teve um desmaio 
E a rosa pôs-se a chorar 
Escravos de Jó 
Escravos de Jó jogavam caxangá 
Tira, bota deixa o Zé Pereira ficar 
Guerreiros com guerreiros fazem zigue zigue za (bis) 
Ai, Eu Entrei na Roda 
Refrão - Ai, eu entrei na roda 
Ai, eu não sei como se dança 
Ai, eu entrei na "rodadança" 
Ai, eu não sei dançar 
Sete e sete são quatorze, com mais sete, vinte e um 
Tenho sete namorados só posso casar com um 
Namorei um garotinho do colégio militar 
O diabo do garoto, só queria me beijar 
Todo mundo se admira da macaca fazer renda 
Eu já vi uma perua ser caixeira de uma venda 
Lá vai uma, lá vão duas, lá vão três pela terceira 
Lá se vai o meu benzinho, no vapor da cachoeira 
Essa noite tive um sonho que chupava picolé 
Acordei de madrugada, chupando dedo do pé 
Fui no Tororó
Fui no Tororó beber água não achei 
Achei linda Morena 
Que no Tororó deixei 
Aproveita minha gente 
Que uma noite não é nada 
Se não dormir agora 
Dormirá de madrugada 
Oh ! Dona Maria, 
Oh ! Mariazinha, entra nesta roda 
Ou ficarás sozinha ! 
Sozinha eu não fico 
Nem hei de ficar ! 
Por que eu tenho o Pedro 
Para ser o meu par ! 
Marcha Soldado 
Marcha soldado 
Cabeça de Papel 
Se não marchar direito 
Vai preso pro quartel 
O quartel pegou fogo 
A polícia deu sinal 
Acorda, acorda ,acorda 
A bandeira nacional 
Meu Limão, Meu Limoeiro 
Meu limão, meu limoeiro 
Meu pé de jacarandá 
Uma vez, tindolelê 
Outra vez, tindolalá 
Nesta Rua 
Nesta rua, nesta rua, tem um bosque 
Que se chama, que se chama, solidão 
Dentro dele, dentro dele mora um anjo 
Que roubou, que roubou meu coração 
Se eu roubei, se eu roubei seu coração 
É porque tu roubastes o meu também 
Se eu roubei, se eu roubei teu coração 
É porque eu te quero tanto bem 
Se esta rua se esta rua fosse minha 
Eu mandava, eu mandava ladrilhar 
Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante 
Para o meu, para o meu amor passar 
Peixe Vivo 
Como pode o peixo vivo 
Viver fora da água fria 
Como pode o peixe vivo 
Viver fora da água fria 
Como poderei viver 
Como poderei viver 
Sem a tua, sem a tua 
Sem a tua companhia 
Sem a tua, sem a tua 
Sem a tua companhia 
Os pastores desta aldeia 
Ja me fazem zombaria 
Os pastores desta aldeia 
Ja me fazem zombaria 
Por me verem assim chorando 
Por me verem assim chorando 
Sem a tua, sem a tua 
Sem a tua companhia 
Sem a tua, sem a tua 
Sem a tua companhia
Pézinho 
Ai bota aqui 
Ai bota aqui o seu pézinho 
Seu pézinho bem juntinho com o meu (BIS) 
E depois não va dizer 
Que você se arrependeu ! (BIS) 
Pirulito Que Bate Bate 
Pirulito que bate bate 
Pirulito que já bateu 
Quem gosta de mim é ela 
Quem gosta dela sou eu 
Pirulito que bate bate 
Pirulito que já bateu 
A menina que eu gostava 
Não gostava como eu 
Roda Pião 
O Pião entrou na roda, ó pião ! (bis) 
Roda pião, bambeia pião ! (bis) 
Sapateia no terreiro, ó pião ! (bis) 
Mostra a tua figura, ó pião ! (bis) 
Faça uma cortesia, ó pião ! (bis) 
Atira a tua fieira, ó pião ! (bis) 
Entrega o chapéu ao outro, ó pião ! (bis) 
Samba Lelê 
Samba Lelê está doente 
Está com a cabeça quebrada 
Samba Lelê precisava 
De umas dezoito lambadas 
Samba, samba, Samba ô Lelê 
Pisa na barra da saia ô Lalá (BIS) 
Sapo Jururu 
Sapo Jururu na beira do rio 
Quando o sapo grita, ó Maninha, diz que está com frio 
A mulher do sapo, é quem está la dentro 
Fazendo rendinha, ó Maninha, pro seu casamento 
Terezinha de Jesus 
Terezinha de Jesus deu uma queda 
Foi ao chão 
Acudiram três cavalheiros 
Todos de chapéu na mão 
O primeiro foi seu pai 
O segundo seu irmão 
O terceiro foi aquele 
Que a Tereza deu a mão 
Terezinha levantou-se 
Levantou-se lá do chão 
E sorrindo disse ao noivo 
Eu te dou meu coração 
Dá laranja quero um gomo 
Do limão quero um pedaço 
Da morena mais bonita 
Quero um beijo e um abraço 
Se você gosta de música não deixe de ler o
"Os dois maiores presentes que podemos dar aos filhos são raízes e 
asas". 
(Hodding Carter) 
http://bbel.uol.com.br/artigo/para_os_pais/cantigas_de_roda.aspx 
PROPOSTA 
Quando dava aulas de instrumentos musicais para crianças, achava importante 
sair de vez em quando da rotina, sem, no entanto, sair do universo musical. 
Então, numa data especial como o dia das crianças ou outras, propunha 
brincadeiras musicais. Elas são muito acessíveis e podem ser organizadas 
pelos professores de classe, pelos parentes, etc. Seguem algumas sugestões 
de brincadeiras: 
Identificando objetos: 
Delimite um espaço, seja a própria sala de aula ou um cômodo da casa. 
Escolha uma criança “ajudante” e peça aos outros participantes que virem de 
frente para uma parede para não enxergarem nada (isso é muito importante! 
). Procure e selecione com o ajudante, objetos que façam ruídos. Feito 
isso, peça silêncio e tire som do primeiro objeto (friccionando, batendo, 
chacoalhando,...). Quem souber do que se trata, deve levantar a mão sem se 
virar! Você pode repetir o som de cada objeto duas ou três vezes. 
Paisagem sonora
Essa brincadeira deve acontecer fora da sala de aula. Combine com as 
crianças lugares de interesse do grupo. Por exemplo, parque, supermercado, 
shopping, restaurante, clube ou pátio da escola no recreio. 
Se elas já souberem escrever, peça que cada uma leve uma prancheta, lápis 
e papel. Ao chegar ao local combinado, cada uma deve anotar todos os sons 
que estão escutando. Isso sucessivamente em todos os ambientes escolhidos. 
Voltando à classe, devem ler para os outros os sons que anotaram. Aí vêm as 
conclusões com a ajuda do professor: 
Quais são os sons gostosos de ouvir? Qual é o ambiente mais barulhento? 
E o mais agradável? O que quer dizer ruído? Será que é possível reproduzir 
em classe alguns dos sons que ouvimos lá fora? Daí pode-se partir para um 
trabalho de composição coletiva. 
Trilha sonora 
O adulto ou professor cria uma história cheia de “ganchos” para encaixar 
ocorrências sonoras. Por exemplo: - Rodrigo era um menino que vivia numa 
cidadezinha com seus pais e sua avô. Um dia, ele estava brincando no quintal 
de aviãozinho (som do aviãozinho) quando toca o telefone (som do telefone). 
Era o pai querendo falar com o avô. - Mas ele ainda está dormindo, pai. – 
Como você sabe? (som de ronco). E assim por diante. 
Conforme as brincadeiras vão acontecendo, aparecerão idéias para outras! 
*Para saber mais sobre Paisagem Sonora, leia o livro do musicólogo 
canadense Murray Schafer, “O Ouvido Pensante”, editora Unesp. 
O Amor é a melhor música na partitura da vida. Sem ele, você será um 
eterno desafinado. 
CULTURA POPULAR 
Telefone sem fio 
Participantes: 5 ou mais 
Regra:
Organizar os jogadores sentados um ao lado do outro em fila. 
O primeiro jogador diz uma frase/mensagem no ouvido do colega seguinte. 
Cada participante após receber a mensagem fala o mais baixo possível no 
ouvido do colega seguinte até que o ultimo falará em voz alta o que recebeu. A 
mensagem muitas vezes chega completamente diferente!!! 
De Havana veio um barco carregado de... 
Um jogador diz em voz alta: “De Havana veio um barco carregado de...” e 
acrescenta o nome de um produto que pode ser transportado por barco. 
Exemplo: laranja. 
O jogador seguinte deve dizer o nome de outra mercadoria que comece 
com a mesma letra que a primeira, por exemplo: “De Havana veio um barco 
carregado de lápis”. 
Quando um jogador não conseguir lembrar de algum produto que não foi falado 
será eliminado. 
Depois que alguém for eliminado o jogador que ficou por ultimo começa o jogo 
com outra letra. 
Fui a feira 
Idade: a partir de 5 anos 
Participantes: 2 ou mais 
Regra: 
Um jogador diz em voz alta: Fui a feira e comprei.. por exemplo ”maçã”. O 
jogador seguinte repete a frase do primeiro acrescentando outra mercadoria 
comprada por exemplo:” batata”, o terceiro jogador repete as mercadorias que 
os jogadores anteriores disseram e acrescenta mais uma, ganha quem não 
repetir mercadoria e lembrar todas que foram faladas. 
http://www.qdivertido.com.br/brincadeiras.php
PROFESSORA (O), ESTUDE ESSE TEXTO 
E DEPOIS CONTE A HISTÓRIA PARA SEUS 
ALUNOS (AS) 
Portinari - o menino que completa cem anos 
Conheça a vida e obra de um dos pintores que melhor retrataram o povo 
brasileiro 
< 
O vigário da cidade de Brodósqui, em São Paulo, estava com problemas. 
Queria uma porteira, mas não conseguia explicar à pessoa que a faria como 
ela deveria ser. Até que um menino chegou e desenhou a porteira, do jeito que 
o padre queria! 
O religioso ficou olhando para o garoto. Seu nome era Candido Portinari, mas 
todos o chamavam de Candinho. Filho de italianos, ele nasceu em 1903 numa 
fazenda de café perto de Brodósqui. Diz a certidão que o seu nascimento 
ocorreu no dia 30 de dezembro. Garantem os parentes que foi no dia 29. Seja 
como for, desde os dois anos, Candinho vivia na cidade com sua família. 
Quando ajudou o vigário, Portinari tinha nove anos. Mas sua pouca idade 
não impediu que o padre o convidasse para algo importante: participar da 
restauração da igreja, que seria feita por artistas, com quem Candinho poderia 
aprender. Convite aceito, lá foi o menino, que pintou as estrelas do forro da 
paróquia. 
Claro que o vigário não poderia imaginar, mas, no futuro, dizer que a sua igreja 
tinha algo pintado por Candido Portinari seria uma honra! Afinal, Candinho, 
anos depois, se tornaria um dos maiores pintores do Brasil! Tudo porque 
retratou as pessoas, as festas, os problemas, as injustiças do nosso país. 
Enfim, pintou o Brasil! 
Se estivesse vivo, Portinari estaria prestes a completar 100 anos. A data, 
portanto, é propícia para conhecer sua vida e obra! Então, vamos até a antiga 
Brodósqui para acompanhar a trajetória do menino que virou um dos mais 
maiores pintores brasileiros!
Para Candinho, agosto era o mês dos ventos: época de soltar papagaio e 
balão. Brinquedo não era algo comprado, mas, sim, fabricado na hora, pelas 
próprias mãos. E eram muitos: pião, avião, ioiô... A diversão acontecia de dia e 
à noite. Com seus amigos, Candinho brincava sob o céu estrelado, de pique ou 
de pular carniça! Na praça de Brodósqui, eles encontravam gangorra, balanço, 
barra, argola. E quem ia bem na lição de catecismo ainda tinha entrada 
garantida no cineminha montado por um padre. 
Candinho, porém, tinha lá seus medos. Assim como todo o resto da molecada 
de Brodósqui. Como escutavam histórias de lobisomem, mula-sem-cabeça, 
saci-pererê e almas de outro mundo, à noite, qualquer barulho os fazia 
tremer. "Defunto era o nosso pesadelo", contou Portinari certa vez. Mas não 
era só o medo que, às vezes, substituía a alegria. A tristeza também volta e 
meia aparecia. Especialmente quando retirantes passavam por Brodósqui. 
Essas pessoas fugiam da seca no Nordeste e chegavam à cidade de Portinari 
cansadas, magras, com fome. Algumas até morriam. 
Vendo isso, Candinho se emocionava. O garoto, que era pensativo, sempre 
mostrou que tinha jeito para pintura. Ele vivia desenhando. Mas não havia 
futuro para o seu talento numa cidade como Brodósqui. Candinho precisava 
estudar no Rio de Janeiro! 
A chance surgiu quando o garoto tinha 15 anos: uma família de Brodósqui, 
dona de pensão no Rio de Janeiro, decidiu vir para cidade natal por causa da 
gripe espanhola, doença que se alastrava na época. Então, o pai de Portinari 
perguntou se o filho não poderia trabalhar na pensão da família. A idéia foi 
aceita e... Candinho passou noites sem dormir, com pena de deixar seus pais 
e irmãos. "Quanto mais próxima a partida, mais aflito ficava. Olhava o chão, 
as plantas, os animais, as aves e aquela luz... Parecia que nunca mais iria ver 
tudo aquilo era parte de mim mesmo", contou ele, anos depois. 
No dia da partida, toda família de Candinho estava de cama, com gripe 
espanhola. Era quase hora do embarque e o menino disse que não iria. "Vai,
bobo. Aqui não há possibilidade", incentivou uma irmã. Então, o garoto 
correu para pegar o trem. Do vagão, avistou seu pai. "Ele levantara-se para 
se despedir, ainda posso vê-lo: de capote escuro, atravessando o largo da 
estação", explicaria Portinari, no futuro. Mas o menino não pôde dizer adeus ao 
papa, como se fala "pai" em italiano. O trem já estava em movimento. 
Próxima estação: Rio de Janeiro 
No Rio de Janeiro, Candido Portinari enfrentou dificuldades. Para começar, 
não foi aceito na Escola Nacional de Belas-Artes (ENBA), pois tinha estudado 
apenas até a terceira série. Então, se matriculou no Liceu de Artes e Ofícios, 
que ficava em frente. Somente um ano depois conseguiu ingressar na ENBA. 
A vida do menino de Brodósqui na nova cidade era dura. Além de estudar, 
Portinari trabalhava para sobreviver. Ele entregava marmitas para a pensão 
e, por vezes, mudou seu caminho só para não encontrar colegas das aulas. 
Portinari era bem diferente deles: menino do interior, tinha pouco estudo e era 
pobre. Então, nem sempre era aceito. 
Na época, o que marcava o início da carreira de um pintor era um prêmio: uma 
viagem ao exterior! Em 1924, Portinari decidiu concorrer a ele, apresentando 
quatro retratos e o quadro Baile na roça, que tinha um tema bem brasileiro e 
os personagens, inspirados em gente de Brodósqui! Mas, por ser diferente do 
tradicional, a obra foi rejeitada pela organização do concurso, que só aceitou os 
retratos na competição. 
Desgostoso, Portinari decidiu vender Baile na roça depressa. Nos anos 
seguintes, ao notar que seu papel era pintar o Brasil, sua gente e sua cultura, 
tentou reavê-lo. Mas morreu sem nunca tê-lo encontrado. Quanto aos retratos, 
eles não deram a Portinari o grande prêmio. A vitória viria apenas quatro anos 
depois. Então, o artista ganharia o mundo e perceberia que a sua vocação era 
retratar o Brasil!
Na Europa, Portinari viajou pela Inglaterra, Espanha, Itália e morou em Paris. 
Nessa época, em vez de pintar e desenhar muito, preferiu observar e aprender. 
Diariamente, ia a museus para ver as obras dos grandes mestres da pintura. 
Também freqüentava cafés, onde descobriu o que os artistas estavam fazendo 
de novo na arte. Seus amigos no Brasil brincavam dizendo que ele estava só 
se divertindo na Europa. 
Mas Portinari estava em crise. Ele sentia que, ao retornar ao Brasil, precisava 
fazer o que havia começado em Baile na roça: pintar a sua gente. Tanto que 
escreveu, da França, uma carta em que dizia: "Daqui fiquei vendo melhor a 
minha terra. Fiquei vendo Brodósqui como ela é. Quando voltar, vou ver se 
consigo fazer a minha terra." 
Se ele conseguiu? Sua obra tem a resposta! Assim que retornou ao Brasil - 
- acompanhado pela jovem uruguaia Maria Martinelli, com que se casou em 
Paris e teve seu único filho, João Candido Portinari, em 1939 --, Portinari 
começou a trabalhar a todo vapor. Inspirado, pintou 40 obras em seis meses! E 
era só o começo... 
Hoje se sabe que Candido Portinari produziu 5000 obras em toda a sua vida. 
São retratos -- 600! --, telas, painéis e até murais. Os temas são variados, mas 
não há como negar que o artista se dedicou a registrar o seu povo e a cultura 
do seu país. 
Estão nos trabalhos de Portinari os mestiços, negros, índios e outros tipos 
brasileiros; as festas populares, como o bumba-meu-boi e o carnaval; a 
infância em Brodósqui, com os meninos brincando de pular carniça sob o 
céu estrelado ou soltando papagaio como se fosse agosto; o drama dos 
retirantes que o pintor acompanhou na infância em sua terra natal; a vida dos 
trabalhadores rurais, com sua rotina e dificuldades. 
Tudo isso pintado de uma maneira diferente, pois Portinari não tentou retratar 
o Brasil como se suas telas fossem fotografias. Ele buscou distorcer e 
exagerar traços das figuras, por exemplo, para expressar emoção e despertar 
sentimentos em que via a obra. E, embora tenha dedicado sua carreira a pintar 
a gente e a cultura do seu país, Portinari conseguiu passar uma mensagem
universal. Tanto é que foi premiado aqui e no exterior. 
Esse artista, que tinha muito orgulho do seu trabalho e pintava de terno branco 
sem se sujar, morreu no dia 6 de fevereiro de 1962. Ele, que se comparava a 
um operário porque adorava suas ferramentas de trabalho, faleceu intoxicado 
pelo chumbo que havia nas tintas que usava. Sua obra, porém, permanece. 
Afinal, como disse Carlos Drummond de Andrade, o que Portinari criou é sua 
vida maior e sem fim: a verdadeira. 
Ciência Hoje das Crianças 140, outubro 2003 
Mara Figueira, 
Ciência Hoje/RJ, 
com a colaboração de João Candido P 
Projeto Portinari 
Obra de Portinari: Jogos Infantis
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Arte e cultura afro no cerrado

  • 1. 3º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL ARTE E CULTURA AFRO Sem nunca ter deixado as paragens áridas do cerrado, Moacir, um poeta de traços e cores, desenvolveu uma linguagem visual repleta de simbolismos e personagens do imaginário popular. Pintor e desenhista da Vila de São Jorge, possui uma profícua produção artística. Entretanto, por estar afastado dos grandes centros urbanos e do cenário artístico contemporâneo, nunca teve sua obra exposta numa montagem à altura. Conheça as obras de Moacir Clique e veja a galeria de obras do artista plástico Moacir. Os temas, que viajam entre o sagrado e o profano, são a identidade visual do Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros desde sua primeira edição. Foto: André Duarte Moacir já foi alvo de estudo por especialistas e estudantes, tendo inclusive sido o tema de uma monografia de diplomação de uma aluna do curso de Artes Plásticas da Universidade de Brasília. Tem 45 anos, nasceu em São Jorge na época dos garimpos. Filho de Seu Domingos Farias, antigo garimpeiro, e Dona Maria, Moacir nunca saiu da vila, onde vive até hoje. Desde o seu nascimento, é envolto numa áurea mística. Quando morava com a família nos garimpos próximos a vila, ele se escondia das pessoas. Só saia às ruas com o rosto e o corpo cobertos, andava mascarado com um tecido sobre si. Evitava o convívio social, quando alguém se aproximava da casa para uma visita, ele pressentia a presença das pessoas e saia de casa, escondendo-se no mato. Esse comportamento fazia com que as pessoas o considerassem um louco (esquizofrênico), pelo comportamento excêntrico. No entanto, o artista já foi submetido à vários exames que comprovam sua sanidade.
  • 2. Logo cedo demonstrou interesse pela pintura. Começou a pintar com pedaços de carvão, pintando as paredes e papéis que encontrava – sua maneira de se comunicar com o mundo exterior. Moacir garimpou a sua arte no chão do cerrado, em meio aos troncos retorcidos da vegetação nativa. O rico universo interior do artista pode ser conhecido nas pinturas, nas quais a linguagem imagética transpõe toda o vasto universo onírico onde o profano e o sagrado se encontram e se misturam. Moacir coloriu seu universo interior com o cerrado. por Jamila Gontijo
  • 3. http://www.cavaleirodejorge.com.br/galeria.php?id=1 Cantigas de roda Cantigas de roda são um dos brinquedos com que as crianças podem se divertir sem precisar de nada, apenas sua alegria e alguns amiguinhos! Atirei o Pau no Gato Atirei o pau no gato tô tô Mas o gato tô tô Não morreu reu reu Dona Chica cá Admirou-se se Do berro, do berro que o gato deu Miau !!!!!! A Barata diz que tem A Barata diz que tem sete saias de filó É mentira da barata, ela tem é uma só Ah ra ra, iá ro ró, ela tem é uma só ! A Barata diz que tem um sapato de veludo É mentira da barata, o pé dela é peludo Ah ra ra, Iu ru ru, o pé dela é peludo ! A Barata diz que tem uma cama de marfim É mentira da barata, ela tem é de capim Ah ra ra, rim rim rim, ela tem é de capim A Barata diz que tem um anel de formatura É mentira da barata, ela tem é casca dura Ah ra ra , iu ru ru, ela tem é casca dura A Barata diz que tem o cabelo cacheado É mentira da barata, ela tem coco raspado Ah ra ra, ia ro ró, ela tem coco raspado Boi da Cara Preta Boi, boi, boi Boi da cara preta Pega esta criança que tem medo de careta Não, não, não Não pega ele não Ele é bonitinho, ele chora coitadinho A canoa virou
  • 4. A canoa virou Por deixá-la virar Foi por causa da Ana Que não soube remar Se eu fosse um peixinho E soubesse nadar Tirava a Sandra Do fundo do mar O caranguejo Caranguejo não é peixe Caranguejo peixe é Caranguejo só é peixe Na enchente da maré Ora, palma, palma, palma! Ora, pé, pé, pé! Ora, roda, roda, roda Caranguejo peixe é! Ciranda Cirandinha Ciranda Cirandinha Vamos todos cirandar Vamos dar a meia volta Volta e meia vamos dar O Anel que tu me destes Era vidro e se quebrou O amor que tu me tinhas Era pouco e se acabou Por isso dona Rosa Entre dentro desta roda Diga um verso bem bonito Diga adeus e vá se embora O cravo e a Rosa O cravo brigou com a rosa Debaixo de uma sacada O cravo saiu ferido E a rosa despedaçada O cravo ficou doente A rosa foi visitar O cravo teve um desmaio E a rosa pôs-se a chorar Escravos de Jó Escravos de Jó jogavam caxangá Tira, bota deixa o Zé Pereira ficar Guerreiros com guerreiros fazem zigue zigue za (bis) Ai, Eu Entrei na Roda Refrão - Ai, eu entrei na roda Ai, eu não sei como se dança Ai, eu entrei na "rodadança" Ai, eu não sei dançar Sete e sete são quatorze, com mais sete, vinte e um Tenho sete namorados só posso casar com um Namorei um garotinho do colégio militar O diabo do garoto, só queria me beijar Todo mundo se admira da macaca fazer renda Eu já vi uma perua ser caixeira de uma venda Lá vai uma, lá vão duas, lá vão três pela terceira Lá se vai o meu benzinho, no vapor da cachoeira Essa noite tive um sonho que chupava picolé Acordei de madrugada, chupando dedo do pé Fui no Tororó
  • 5. Fui no Tororó beber água não achei Achei linda Morena Que no Tororó deixei Aproveita minha gente Que uma noite não é nada Se não dormir agora Dormirá de madrugada Oh ! Dona Maria, Oh ! Mariazinha, entra nesta roda Ou ficarás sozinha ! Sozinha eu não fico Nem hei de ficar ! Por que eu tenho o Pedro Para ser o meu par ! Marcha Soldado Marcha soldado Cabeça de Papel Se não marchar direito Vai preso pro quartel O quartel pegou fogo A polícia deu sinal Acorda, acorda ,acorda A bandeira nacional Meu Limão, Meu Limoeiro Meu limão, meu limoeiro Meu pé de jacarandá Uma vez, tindolelê Outra vez, tindolalá Nesta Rua Nesta rua, nesta rua, tem um bosque Que se chama, que se chama, solidão Dentro dele, dentro dele mora um anjo Que roubou, que roubou meu coração Se eu roubei, se eu roubei seu coração É porque tu roubastes o meu também Se eu roubei, se eu roubei teu coração É porque eu te quero tanto bem Se esta rua se esta rua fosse minha Eu mandava, eu mandava ladrilhar Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante Para o meu, para o meu amor passar Peixe Vivo Como pode o peixo vivo Viver fora da água fria Como pode o peixe vivo Viver fora da água fria Como poderei viver Como poderei viver Sem a tua, sem a tua Sem a tua companhia Sem a tua, sem a tua Sem a tua companhia Os pastores desta aldeia Ja me fazem zombaria Os pastores desta aldeia Ja me fazem zombaria Por me verem assim chorando Por me verem assim chorando Sem a tua, sem a tua Sem a tua companhia Sem a tua, sem a tua Sem a tua companhia
  • 6. Pézinho Ai bota aqui Ai bota aqui o seu pézinho Seu pézinho bem juntinho com o meu (BIS) E depois não va dizer Que você se arrependeu ! (BIS) Pirulito Que Bate Bate Pirulito que bate bate Pirulito que já bateu Quem gosta de mim é ela Quem gosta dela sou eu Pirulito que bate bate Pirulito que já bateu A menina que eu gostava Não gostava como eu Roda Pião O Pião entrou na roda, ó pião ! (bis) Roda pião, bambeia pião ! (bis) Sapateia no terreiro, ó pião ! (bis) Mostra a tua figura, ó pião ! (bis) Faça uma cortesia, ó pião ! (bis) Atira a tua fieira, ó pião ! (bis) Entrega o chapéu ao outro, ó pião ! (bis) Samba Lelê Samba Lelê está doente Está com a cabeça quebrada Samba Lelê precisava De umas dezoito lambadas Samba, samba, Samba ô Lelê Pisa na barra da saia ô Lalá (BIS) Sapo Jururu Sapo Jururu na beira do rio Quando o sapo grita, ó Maninha, diz que está com frio A mulher do sapo, é quem está la dentro Fazendo rendinha, ó Maninha, pro seu casamento Terezinha de Jesus Terezinha de Jesus deu uma queda Foi ao chão Acudiram três cavalheiros Todos de chapéu na mão O primeiro foi seu pai O segundo seu irmão O terceiro foi aquele Que a Tereza deu a mão Terezinha levantou-se Levantou-se lá do chão E sorrindo disse ao noivo Eu te dou meu coração Dá laranja quero um gomo Do limão quero um pedaço Da morena mais bonita Quero um beijo e um abraço Se você gosta de música não deixe de ler o
  • 7. "Os dois maiores presentes que podemos dar aos filhos são raízes e asas". (Hodding Carter) http://bbel.uol.com.br/artigo/para_os_pais/cantigas_de_roda.aspx PROPOSTA Quando dava aulas de instrumentos musicais para crianças, achava importante sair de vez em quando da rotina, sem, no entanto, sair do universo musical. Então, numa data especial como o dia das crianças ou outras, propunha brincadeiras musicais. Elas são muito acessíveis e podem ser organizadas pelos professores de classe, pelos parentes, etc. Seguem algumas sugestões de brincadeiras: Identificando objetos: Delimite um espaço, seja a própria sala de aula ou um cômodo da casa. Escolha uma criança “ajudante” e peça aos outros participantes que virem de frente para uma parede para não enxergarem nada (isso é muito importante! ). Procure e selecione com o ajudante, objetos que façam ruídos. Feito isso, peça silêncio e tire som do primeiro objeto (friccionando, batendo, chacoalhando,...). Quem souber do que se trata, deve levantar a mão sem se virar! Você pode repetir o som de cada objeto duas ou três vezes. Paisagem sonora
  • 8. Essa brincadeira deve acontecer fora da sala de aula. Combine com as crianças lugares de interesse do grupo. Por exemplo, parque, supermercado, shopping, restaurante, clube ou pátio da escola no recreio. Se elas já souberem escrever, peça que cada uma leve uma prancheta, lápis e papel. Ao chegar ao local combinado, cada uma deve anotar todos os sons que estão escutando. Isso sucessivamente em todos os ambientes escolhidos. Voltando à classe, devem ler para os outros os sons que anotaram. Aí vêm as conclusões com a ajuda do professor: Quais são os sons gostosos de ouvir? Qual é o ambiente mais barulhento? E o mais agradável? O que quer dizer ruído? Será que é possível reproduzir em classe alguns dos sons que ouvimos lá fora? Daí pode-se partir para um trabalho de composição coletiva. Trilha sonora O adulto ou professor cria uma história cheia de “ganchos” para encaixar ocorrências sonoras. Por exemplo: - Rodrigo era um menino que vivia numa cidadezinha com seus pais e sua avô. Um dia, ele estava brincando no quintal de aviãozinho (som do aviãozinho) quando toca o telefone (som do telefone). Era o pai querendo falar com o avô. - Mas ele ainda está dormindo, pai. – Como você sabe? (som de ronco). E assim por diante. Conforme as brincadeiras vão acontecendo, aparecerão idéias para outras! *Para saber mais sobre Paisagem Sonora, leia o livro do musicólogo canadense Murray Schafer, “O Ouvido Pensante”, editora Unesp. O Amor é a melhor música na partitura da vida. Sem ele, você será um eterno desafinado. CULTURA POPULAR Telefone sem fio Participantes: 5 ou mais Regra:
  • 9. Organizar os jogadores sentados um ao lado do outro em fila. O primeiro jogador diz uma frase/mensagem no ouvido do colega seguinte. Cada participante após receber a mensagem fala o mais baixo possível no ouvido do colega seguinte até que o ultimo falará em voz alta o que recebeu. A mensagem muitas vezes chega completamente diferente!!! De Havana veio um barco carregado de... Um jogador diz em voz alta: “De Havana veio um barco carregado de...” e acrescenta o nome de um produto que pode ser transportado por barco. Exemplo: laranja. O jogador seguinte deve dizer o nome de outra mercadoria que comece com a mesma letra que a primeira, por exemplo: “De Havana veio um barco carregado de lápis”. Quando um jogador não conseguir lembrar de algum produto que não foi falado será eliminado. Depois que alguém for eliminado o jogador que ficou por ultimo começa o jogo com outra letra. Fui a feira Idade: a partir de 5 anos Participantes: 2 ou mais Regra: Um jogador diz em voz alta: Fui a feira e comprei.. por exemplo ”maçã”. O jogador seguinte repete a frase do primeiro acrescentando outra mercadoria comprada por exemplo:” batata”, o terceiro jogador repete as mercadorias que os jogadores anteriores disseram e acrescenta mais uma, ganha quem não repetir mercadoria e lembrar todas que foram faladas. http://www.qdivertido.com.br/brincadeiras.php
  • 10. PROFESSORA (O), ESTUDE ESSE TEXTO E DEPOIS CONTE A HISTÓRIA PARA SEUS ALUNOS (AS) Portinari - o menino que completa cem anos Conheça a vida e obra de um dos pintores que melhor retrataram o povo brasileiro < O vigário da cidade de Brodósqui, em São Paulo, estava com problemas. Queria uma porteira, mas não conseguia explicar à pessoa que a faria como ela deveria ser. Até que um menino chegou e desenhou a porteira, do jeito que o padre queria! O religioso ficou olhando para o garoto. Seu nome era Candido Portinari, mas todos o chamavam de Candinho. Filho de italianos, ele nasceu em 1903 numa fazenda de café perto de Brodósqui. Diz a certidão que o seu nascimento ocorreu no dia 30 de dezembro. Garantem os parentes que foi no dia 29. Seja como for, desde os dois anos, Candinho vivia na cidade com sua família. Quando ajudou o vigário, Portinari tinha nove anos. Mas sua pouca idade não impediu que o padre o convidasse para algo importante: participar da restauração da igreja, que seria feita por artistas, com quem Candinho poderia aprender. Convite aceito, lá foi o menino, que pintou as estrelas do forro da paróquia. Claro que o vigário não poderia imaginar, mas, no futuro, dizer que a sua igreja tinha algo pintado por Candido Portinari seria uma honra! Afinal, Candinho, anos depois, se tornaria um dos maiores pintores do Brasil! Tudo porque retratou as pessoas, as festas, os problemas, as injustiças do nosso país. Enfim, pintou o Brasil! Se estivesse vivo, Portinari estaria prestes a completar 100 anos. A data, portanto, é propícia para conhecer sua vida e obra! Então, vamos até a antiga Brodósqui para acompanhar a trajetória do menino que virou um dos mais maiores pintores brasileiros!
  • 11. Para Candinho, agosto era o mês dos ventos: época de soltar papagaio e balão. Brinquedo não era algo comprado, mas, sim, fabricado na hora, pelas próprias mãos. E eram muitos: pião, avião, ioiô... A diversão acontecia de dia e à noite. Com seus amigos, Candinho brincava sob o céu estrelado, de pique ou de pular carniça! Na praça de Brodósqui, eles encontravam gangorra, balanço, barra, argola. E quem ia bem na lição de catecismo ainda tinha entrada garantida no cineminha montado por um padre. Candinho, porém, tinha lá seus medos. Assim como todo o resto da molecada de Brodósqui. Como escutavam histórias de lobisomem, mula-sem-cabeça, saci-pererê e almas de outro mundo, à noite, qualquer barulho os fazia tremer. "Defunto era o nosso pesadelo", contou Portinari certa vez. Mas não era só o medo que, às vezes, substituía a alegria. A tristeza também volta e meia aparecia. Especialmente quando retirantes passavam por Brodósqui. Essas pessoas fugiam da seca no Nordeste e chegavam à cidade de Portinari cansadas, magras, com fome. Algumas até morriam. Vendo isso, Candinho se emocionava. O garoto, que era pensativo, sempre mostrou que tinha jeito para pintura. Ele vivia desenhando. Mas não havia futuro para o seu talento numa cidade como Brodósqui. Candinho precisava estudar no Rio de Janeiro! A chance surgiu quando o garoto tinha 15 anos: uma família de Brodósqui, dona de pensão no Rio de Janeiro, decidiu vir para cidade natal por causa da gripe espanhola, doença que se alastrava na época. Então, o pai de Portinari perguntou se o filho não poderia trabalhar na pensão da família. A idéia foi aceita e... Candinho passou noites sem dormir, com pena de deixar seus pais e irmãos. "Quanto mais próxima a partida, mais aflito ficava. Olhava o chão, as plantas, os animais, as aves e aquela luz... Parecia que nunca mais iria ver tudo aquilo era parte de mim mesmo", contou ele, anos depois. No dia da partida, toda família de Candinho estava de cama, com gripe espanhola. Era quase hora do embarque e o menino disse que não iria. "Vai,
  • 12. bobo. Aqui não há possibilidade", incentivou uma irmã. Então, o garoto correu para pegar o trem. Do vagão, avistou seu pai. "Ele levantara-se para se despedir, ainda posso vê-lo: de capote escuro, atravessando o largo da estação", explicaria Portinari, no futuro. Mas o menino não pôde dizer adeus ao papa, como se fala "pai" em italiano. O trem já estava em movimento. Próxima estação: Rio de Janeiro No Rio de Janeiro, Candido Portinari enfrentou dificuldades. Para começar, não foi aceito na Escola Nacional de Belas-Artes (ENBA), pois tinha estudado apenas até a terceira série. Então, se matriculou no Liceu de Artes e Ofícios, que ficava em frente. Somente um ano depois conseguiu ingressar na ENBA. A vida do menino de Brodósqui na nova cidade era dura. Além de estudar, Portinari trabalhava para sobreviver. Ele entregava marmitas para a pensão e, por vezes, mudou seu caminho só para não encontrar colegas das aulas. Portinari era bem diferente deles: menino do interior, tinha pouco estudo e era pobre. Então, nem sempre era aceito. Na época, o que marcava o início da carreira de um pintor era um prêmio: uma viagem ao exterior! Em 1924, Portinari decidiu concorrer a ele, apresentando quatro retratos e o quadro Baile na roça, que tinha um tema bem brasileiro e os personagens, inspirados em gente de Brodósqui! Mas, por ser diferente do tradicional, a obra foi rejeitada pela organização do concurso, que só aceitou os retratos na competição. Desgostoso, Portinari decidiu vender Baile na roça depressa. Nos anos seguintes, ao notar que seu papel era pintar o Brasil, sua gente e sua cultura, tentou reavê-lo. Mas morreu sem nunca tê-lo encontrado. Quanto aos retratos, eles não deram a Portinari o grande prêmio. A vitória viria apenas quatro anos depois. Então, o artista ganharia o mundo e perceberia que a sua vocação era retratar o Brasil!
  • 13. Na Europa, Portinari viajou pela Inglaterra, Espanha, Itália e morou em Paris. Nessa época, em vez de pintar e desenhar muito, preferiu observar e aprender. Diariamente, ia a museus para ver as obras dos grandes mestres da pintura. Também freqüentava cafés, onde descobriu o que os artistas estavam fazendo de novo na arte. Seus amigos no Brasil brincavam dizendo que ele estava só se divertindo na Europa. Mas Portinari estava em crise. Ele sentia que, ao retornar ao Brasil, precisava fazer o que havia começado em Baile na roça: pintar a sua gente. Tanto que escreveu, da França, uma carta em que dizia: "Daqui fiquei vendo melhor a minha terra. Fiquei vendo Brodósqui como ela é. Quando voltar, vou ver se consigo fazer a minha terra." Se ele conseguiu? Sua obra tem a resposta! Assim que retornou ao Brasil - - acompanhado pela jovem uruguaia Maria Martinelli, com que se casou em Paris e teve seu único filho, João Candido Portinari, em 1939 --, Portinari começou a trabalhar a todo vapor. Inspirado, pintou 40 obras em seis meses! E era só o começo... Hoje se sabe que Candido Portinari produziu 5000 obras em toda a sua vida. São retratos -- 600! --, telas, painéis e até murais. Os temas são variados, mas não há como negar que o artista se dedicou a registrar o seu povo e a cultura do seu país. Estão nos trabalhos de Portinari os mestiços, negros, índios e outros tipos brasileiros; as festas populares, como o bumba-meu-boi e o carnaval; a infância em Brodósqui, com os meninos brincando de pular carniça sob o céu estrelado ou soltando papagaio como se fosse agosto; o drama dos retirantes que o pintor acompanhou na infância em sua terra natal; a vida dos trabalhadores rurais, com sua rotina e dificuldades. Tudo isso pintado de uma maneira diferente, pois Portinari não tentou retratar o Brasil como se suas telas fossem fotografias. Ele buscou distorcer e exagerar traços das figuras, por exemplo, para expressar emoção e despertar sentimentos em que via a obra. E, embora tenha dedicado sua carreira a pintar a gente e a cultura do seu país, Portinari conseguiu passar uma mensagem
  • 14. universal. Tanto é que foi premiado aqui e no exterior. Esse artista, que tinha muito orgulho do seu trabalho e pintava de terno branco sem se sujar, morreu no dia 6 de fevereiro de 1962. Ele, que se comparava a um operário porque adorava suas ferramentas de trabalho, faleceu intoxicado pelo chumbo que havia nas tintas que usava. Sua obra, porém, permanece. Afinal, como disse Carlos Drummond de Andrade, o que Portinari criou é sua vida maior e sem fim: a verdadeira. Ciência Hoje das Crianças 140, outubro 2003 Mara Figueira, Ciência Hoje/RJ, com a colaboração de João Candido P Projeto Portinari Obra de Portinari: Jogos Infantis