1) O documento descreve a obra do artista plástico Moacir, que vive na Vila de São Jorge e desenvolveu uma linguagem visual repleta de simbolismos inspirados no cerrado.
2) Apesar de sua profícua produção artística, Moacir nunca teve sua obra exposta em grande escala por viver longe dos grandes centros urbanos.
3) Desde criança, Moacir demonstrou interesse pela pintura e desenvolveu seu estilo único, pintando as paredes com pedaços de carvão.
1. 3º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
ARTE E CULTURA AFRO
Sem nunca ter deixado as paragens áridas do cerrado, Moacir, um poeta de traços
e cores, desenvolveu uma linguagem visual repleta de simbolismos e personagens
do imaginário popular. Pintor e desenhista da Vila de São Jorge, possui uma profícua
produção artística. Entretanto, por estar afastado dos grandes centros urbanos e do
cenário artístico contemporâneo, nunca teve sua obra exposta numa montagem à
altura.
Conheça as obras de Moacir
Clique e veja a galeria de obras
do artista plástico Moacir. Os temas,
que viajam entre o sagrado e o
profano, são a identidade visual do
Encontro de Culturas Tradicionais da
Chapada dos Veadeiros desde sua
primeira edição. Foto: André Duarte
Moacir já foi alvo de estudo por especialistas e estudantes, tendo inclusive sido o
tema de uma monografia de diplomação de uma aluna do curso de Artes Plásticas da
Universidade de Brasília.
Tem 45 anos, nasceu em São Jorge na época dos garimpos. Filho de Seu Domingos
Farias, antigo garimpeiro, e Dona Maria, Moacir nunca saiu da vila, onde vive até
hoje. Desde o seu nascimento, é envolto numa áurea mística. Quando morava com
a família nos garimpos próximos a vila, ele se escondia das pessoas. Só saia às
ruas com o rosto e o corpo cobertos, andava mascarado com um tecido sobre si.
Evitava o convívio social, quando alguém se aproximava da casa para uma visita,
ele pressentia a presença das pessoas e saia de casa, escondendo-se no mato. Esse
comportamento fazia com que as pessoas o considerassem um louco (esquizofrênico),
pelo comportamento excêntrico. No entanto, o artista já foi submetido à vários exames
que comprovam sua sanidade.
2. Logo cedo demonstrou interesse pela pintura. Começou a pintar com pedaços de
carvão, pintando as paredes e papéis que encontrava – sua maneira de se comunicar
com o mundo exterior. Moacir garimpou a sua arte no chão do cerrado, em meio aos
troncos retorcidos da vegetação nativa.
O rico universo interior do artista pode ser conhecido nas pinturas, nas quais a
linguagem imagética transpõe toda o vasto universo onírico onde o profano e o
sagrado se encontram e se misturam. Moacir coloriu seu universo interior com o
cerrado.
por Jamila Gontijo
3. http://www.cavaleirodejorge.com.br/galeria.php?id=1
Cantigas de roda
Cantigas de roda são um dos brinquedos com que as crianças podem se divertir sem precisar de nada,
apenas sua alegria e alguns amiguinhos!
Atirei o Pau no Gato
Atirei o pau no gato tô tô
Mas o gato tô tô
Não morreu reu reu
Dona Chica cá
Admirou-se se
Do berro, do berro que o gato deu
Miau !!!!!!
A Barata diz que tem
A Barata diz que tem sete saias de filó
É mentira da barata, ela tem é uma só
Ah ra ra, iá ro ró, ela tem é uma só !
A Barata diz que tem um sapato de veludo
É mentira da barata, o pé dela é peludo
Ah ra ra, Iu ru ru, o pé dela é peludo !
A Barata diz que tem uma cama de marfim
É mentira da barata, ela tem é de capim
Ah ra ra, rim rim rim, ela tem é de capim
A Barata diz que tem um anel de formatura
É mentira da barata, ela tem é casca dura
Ah ra ra , iu ru ru, ela tem é casca dura
A Barata diz que tem o cabelo cacheado
É mentira da barata, ela tem coco raspado
Ah ra ra, ia ro ró, ela tem coco raspado
Boi da Cara Preta
Boi, boi, boi
Boi da cara preta
Pega esta criança que tem medo de careta
Não, não, não
Não pega ele não
Ele é bonitinho, ele chora coitadinho
A canoa virou
4. A canoa virou
Por deixá-la virar
Foi por causa da Ana
Que não soube remar
Se eu fosse um peixinho
E soubesse nadar
Tirava a Sandra
Do fundo do mar
O caranguejo
Caranguejo não é peixe
Caranguejo peixe é
Caranguejo só é peixe
Na enchente da maré
Ora, palma, palma, palma!
Ora, pé, pé, pé!
Ora, roda, roda, roda
Caranguejo peixe é!
Ciranda Cirandinha
Ciranda Cirandinha
Vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta
Volta e meia vamos dar
O Anel que tu me destes
Era vidro e se quebrou
O amor que tu me tinhas
Era pouco e se acabou
Por isso dona Rosa
Entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito
Diga adeus e vá se embora
O cravo e a Rosa
O cravo brigou com a rosa
Debaixo de uma sacada
O cravo saiu ferido
E a rosa despedaçada
O cravo ficou doente
A rosa foi visitar
O cravo teve um desmaio
E a rosa pôs-se a chorar
Escravos de Jó
Escravos de Jó jogavam caxangá
Tira, bota deixa o Zé Pereira ficar
Guerreiros com guerreiros fazem zigue zigue za (bis)
Ai, Eu Entrei na Roda
Refrão - Ai, eu entrei na roda
Ai, eu não sei como se dança
Ai, eu entrei na "rodadança"
Ai, eu não sei dançar
Sete e sete são quatorze, com mais sete, vinte e um
Tenho sete namorados só posso casar com um
Namorei um garotinho do colégio militar
O diabo do garoto, só queria me beijar
Todo mundo se admira da macaca fazer renda
Eu já vi uma perua ser caixeira de uma venda
Lá vai uma, lá vão duas, lá vão três pela terceira
Lá se vai o meu benzinho, no vapor da cachoeira
Essa noite tive um sonho que chupava picolé
Acordei de madrugada, chupando dedo do pé
Fui no Tororó
5. Fui no Tororó beber água não achei
Achei linda Morena
Que no Tororó deixei
Aproveita minha gente
Que uma noite não é nada
Se não dormir agora
Dormirá de madrugada
Oh ! Dona Maria,
Oh ! Mariazinha, entra nesta roda
Ou ficarás sozinha !
Sozinha eu não fico
Nem hei de ficar !
Por que eu tenho o Pedro
Para ser o meu par !
Marcha Soldado
Marcha soldado
Cabeça de Papel
Se não marchar direito
Vai preso pro quartel
O quartel pegou fogo
A polícia deu sinal
Acorda, acorda ,acorda
A bandeira nacional
Meu Limão, Meu Limoeiro
Meu limão, meu limoeiro
Meu pé de jacarandá
Uma vez, tindolelê
Outra vez, tindolalá
Nesta Rua
Nesta rua, nesta rua, tem um bosque
Que se chama, que se chama, solidão
Dentro dele, dentro dele mora um anjo
Que roubou, que roubou meu coração
Se eu roubei, se eu roubei seu coração
É porque tu roubastes o meu também
Se eu roubei, se eu roubei teu coração
É porque eu te quero tanto bem
Se esta rua se esta rua fosse minha
Eu mandava, eu mandava ladrilhar
Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante
Para o meu, para o meu amor passar
Peixe Vivo
Como pode o peixo vivo
Viver fora da água fria
Como pode o peixe vivo
Viver fora da água fria
Como poderei viver
Como poderei viver
Sem a tua, sem a tua
Sem a tua companhia
Sem a tua, sem a tua
Sem a tua companhia
Os pastores desta aldeia
Ja me fazem zombaria
Os pastores desta aldeia
Ja me fazem zombaria
Por me verem assim chorando
Por me verem assim chorando
Sem a tua, sem a tua
Sem a tua companhia
Sem a tua, sem a tua
Sem a tua companhia
6. Pézinho
Ai bota aqui
Ai bota aqui o seu pézinho
Seu pézinho bem juntinho com o meu (BIS)
E depois não va dizer
Que você se arrependeu ! (BIS)
Pirulito Que Bate Bate
Pirulito que bate bate
Pirulito que já bateu
Quem gosta de mim é ela
Quem gosta dela sou eu
Pirulito que bate bate
Pirulito que já bateu
A menina que eu gostava
Não gostava como eu
Roda Pião
O Pião entrou na roda, ó pião ! (bis)
Roda pião, bambeia pião ! (bis)
Sapateia no terreiro, ó pião ! (bis)
Mostra a tua figura, ó pião ! (bis)
Faça uma cortesia, ó pião ! (bis)
Atira a tua fieira, ó pião ! (bis)
Entrega o chapéu ao outro, ó pião ! (bis)
Samba Lelê
Samba Lelê está doente
Está com a cabeça quebrada
Samba Lelê precisava
De umas dezoito lambadas
Samba, samba, Samba ô Lelê
Pisa na barra da saia ô Lalá (BIS)
Sapo Jururu
Sapo Jururu na beira do rio
Quando o sapo grita, ó Maninha, diz que está com frio
A mulher do sapo, é quem está la dentro
Fazendo rendinha, ó Maninha, pro seu casamento
Terezinha de Jesus
Terezinha de Jesus deu uma queda
Foi ao chão
Acudiram três cavalheiros
Todos de chapéu na mão
O primeiro foi seu pai
O segundo seu irmão
O terceiro foi aquele
Que a Tereza deu a mão
Terezinha levantou-se
Levantou-se lá do chão
E sorrindo disse ao noivo
Eu te dou meu coração
Dá laranja quero um gomo
Do limão quero um pedaço
Da morena mais bonita
Quero um beijo e um abraço
Se você gosta de música não deixe de ler o
7. "Os dois maiores presentes que podemos dar aos filhos são raízes e
asas".
(Hodding Carter)
http://bbel.uol.com.br/artigo/para_os_pais/cantigas_de_roda.aspx
PROPOSTA
Quando dava aulas de instrumentos musicais para crianças, achava importante
sair de vez em quando da rotina, sem, no entanto, sair do universo musical.
Então, numa data especial como o dia das crianças ou outras, propunha
brincadeiras musicais. Elas são muito acessíveis e podem ser organizadas
pelos professores de classe, pelos parentes, etc. Seguem algumas sugestões
de brincadeiras:
Identificando objetos:
Delimite um espaço, seja a própria sala de aula ou um cômodo da casa.
Escolha uma criança “ajudante” e peça aos outros participantes que virem de
frente para uma parede para não enxergarem nada (isso é muito importante!
). Procure e selecione com o ajudante, objetos que façam ruídos. Feito
isso, peça silêncio e tire som do primeiro objeto (friccionando, batendo,
chacoalhando,...). Quem souber do que se trata, deve levantar a mão sem se
virar! Você pode repetir o som de cada objeto duas ou três vezes.
Paisagem sonora
8. Essa brincadeira deve acontecer fora da sala de aula. Combine com as
crianças lugares de interesse do grupo. Por exemplo, parque, supermercado,
shopping, restaurante, clube ou pátio da escola no recreio.
Se elas já souberem escrever, peça que cada uma leve uma prancheta, lápis
e papel. Ao chegar ao local combinado, cada uma deve anotar todos os sons
que estão escutando. Isso sucessivamente em todos os ambientes escolhidos.
Voltando à classe, devem ler para os outros os sons que anotaram. Aí vêm as
conclusões com a ajuda do professor:
Quais são os sons gostosos de ouvir? Qual é o ambiente mais barulhento?
E o mais agradável? O que quer dizer ruído? Será que é possível reproduzir
em classe alguns dos sons que ouvimos lá fora? Daí pode-se partir para um
trabalho de composição coletiva.
Trilha sonora
O adulto ou professor cria uma história cheia de “ganchos” para encaixar
ocorrências sonoras. Por exemplo: - Rodrigo era um menino que vivia numa
cidadezinha com seus pais e sua avô. Um dia, ele estava brincando no quintal
de aviãozinho (som do aviãozinho) quando toca o telefone (som do telefone).
Era o pai querendo falar com o avô. - Mas ele ainda está dormindo, pai. –
Como você sabe? (som de ronco). E assim por diante.
Conforme as brincadeiras vão acontecendo, aparecerão idéias para outras!
*Para saber mais sobre Paisagem Sonora, leia o livro do musicólogo
canadense Murray Schafer, “O Ouvido Pensante”, editora Unesp.
O Amor é a melhor música na partitura da vida. Sem ele, você será um
eterno desafinado.
CULTURA POPULAR
Telefone sem fio
Participantes: 5 ou mais
Regra:
9. Organizar os jogadores sentados um ao lado do outro em fila.
O primeiro jogador diz uma frase/mensagem no ouvido do colega seguinte.
Cada participante após receber a mensagem fala o mais baixo possível no
ouvido do colega seguinte até que o ultimo falará em voz alta o que recebeu. A
mensagem muitas vezes chega completamente diferente!!!
De Havana veio um barco carregado de...
Um jogador diz em voz alta: “De Havana veio um barco carregado de...” e
acrescenta o nome de um produto que pode ser transportado por barco.
Exemplo: laranja.
O jogador seguinte deve dizer o nome de outra mercadoria que comece
com a mesma letra que a primeira, por exemplo: “De Havana veio um barco
carregado de lápis”.
Quando um jogador não conseguir lembrar de algum produto que não foi falado
será eliminado.
Depois que alguém for eliminado o jogador que ficou por ultimo começa o jogo
com outra letra.
Fui a feira
Idade: a partir de 5 anos
Participantes: 2 ou mais
Regra:
Um jogador diz em voz alta: Fui a feira e comprei.. por exemplo ”maçã”. O
jogador seguinte repete a frase do primeiro acrescentando outra mercadoria
comprada por exemplo:” batata”, o terceiro jogador repete as mercadorias que
os jogadores anteriores disseram e acrescenta mais uma, ganha quem não
repetir mercadoria e lembrar todas que foram faladas.
http://www.qdivertido.com.br/brincadeiras.php
10. PROFESSORA (O), ESTUDE ESSE TEXTO
E DEPOIS CONTE A HISTÓRIA PARA SEUS
ALUNOS (AS)
Portinari - o menino que completa cem anos
Conheça a vida e obra de um dos pintores que melhor retrataram o povo
brasileiro
<
O vigário da cidade de Brodósqui, em São Paulo, estava com problemas.
Queria uma porteira, mas não conseguia explicar à pessoa que a faria como
ela deveria ser. Até que um menino chegou e desenhou a porteira, do jeito que
o padre queria!
O religioso ficou olhando para o garoto. Seu nome era Candido Portinari, mas
todos o chamavam de Candinho. Filho de italianos, ele nasceu em 1903 numa
fazenda de café perto de Brodósqui. Diz a certidão que o seu nascimento
ocorreu no dia 30 de dezembro. Garantem os parentes que foi no dia 29. Seja
como for, desde os dois anos, Candinho vivia na cidade com sua família.
Quando ajudou o vigário, Portinari tinha nove anos. Mas sua pouca idade
não impediu que o padre o convidasse para algo importante: participar da
restauração da igreja, que seria feita por artistas, com quem Candinho poderia
aprender. Convite aceito, lá foi o menino, que pintou as estrelas do forro da
paróquia.
Claro que o vigário não poderia imaginar, mas, no futuro, dizer que a sua igreja
tinha algo pintado por Candido Portinari seria uma honra! Afinal, Candinho,
anos depois, se tornaria um dos maiores pintores do Brasil! Tudo porque
retratou as pessoas, as festas, os problemas, as injustiças do nosso país.
Enfim, pintou o Brasil!
Se estivesse vivo, Portinari estaria prestes a completar 100 anos. A data,
portanto, é propícia para conhecer sua vida e obra! Então, vamos até a antiga
Brodósqui para acompanhar a trajetória do menino que virou um dos mais
maiores pintores brasileiros!
11. Para Candinho, agosto era o mês dos ventos: época de soltar papagaio e
balão. Brinquedo não era algo comprado, mas, sim, fabricado na hora, pelas
próprias mãos. E eram muitos: pião, avião, ioiô... A diversão acontecia de dia e
à noite. Com seus amigos, Candinho brincava sob o céu estrelado, de pique ou
de pular carniça! Na praça de Brodósqui, eles encontravam gangorra, balanço,
barra, argola. E quem ia bem na lição de catecismo ainda tinha entrada
garantida no cineminha montado por um padre.
Candinho, porém, tinha lá seus medos. Assim como todo o resto da molecada
de Brodósqui. Como escutavam histórias de lobisomem, mula-sem-cabeça,
saci-pererê e almas de outro mundo, à noite, qualquer barulho os fazia
tremer. "Defunto era o nosso pesadelo", contou Portinari certa vez. Mas não
era só o medo que, às vezes, substituía a alegria. A tristeza também volta e
meia aparecia. Especialmente quando retirantes passavam por Brodósqui.
Essas pessoas fugiam da seca no Nordeste e chegavam à cidade de Portinari
cansadas, magras, com fome. Algumas até morriam.
Vendo isso, Candinho se emocionava. O garoto, que era pensativo, sempre
mostrou que tinha jeito para pintura. Ele vivia desenhando. Mas não havia
futuro para o seu talento numa cidade como Brodósqui. Candinho precisava
estudar no Rio de Janeiro!
A chance surgiu quando o garoto tinha 15 anos: uma família de Brodósqui,
dona de pensão no Rio de Janeiro, decidiu vir para cidade natal por causa da
gripe espanhola, doença que se alastrava na época. Então, o pai de Portinari
perguntou se o filho não poderia trabalhar na pensão da família. A idéia foi
aceita e... Candinho passou noites sem dormir, com pena de deixar seus pais
e irmãos. "Quanto mais próxima a partida, mais aflito ficava. Olhava o chão,
as plantas, os animais, as aves e aquela luz... Parecia que nunca mais iria ver
tudo aquilo era parte de mim mesmo", contou ele, anos depois.
No dia da partida, toda família de Candinho estava de cama, com gripe
espanhola. Era quase hora do embarque e o menino disse que não iria. "Vai,
12. bobo. Aqui não há possibilidade", incentivou uma irmã. Então, o garoto
correu para pegar o trem. Do vagão, avistou seu pai. "Ele levantara-se para
se despedir, ainda posso vê-lo: de capote escuro, atravessando o largo da
estação", explicaria Portinari, no futuro. Mas o menino não pôde dizer adeus ao
papa, como se fala "pai" em italiano. O trem já estava em movimento.
Próxima estação: Rio de Janeiro
No Rio de Janeiro, Candido Portinari enfrentou dificuldades. Para começar,
não foi aceito na Escola Nacional de Belas-Artes (ENBA), pois tinha estudado
apenas até a terceira série. Então, se matriculou no Liceu de Artes e Ofícios,
que ficava em frente. Somente um ano depois conseguiu ingressar na ENBA.
A vida do menino de Brodósqui na nova cidade era dura. Além de estudar,
Portinari trabalhava para sobreviver. Ele entregava marmitas para a pensão
e, por vezes, mudou seu caminho só para não encontrar colegas das aulas.
Portinari era bem diferente deles: menino do interior, tinha pouco estudo e era
pobre. Então, nem sempre era aceito.
Na época, o que marcava o início da carreira de um pintor era um prêmio: uma
viagem ao exterior! Em 1924, Portinari decidiu concorrer a ele, apresentando
quatro retratos e o quadro Baile na roça, que tinha um tema bem brasileiro e
os personagens, inspirados em gente de Brodósqui! Mas, por ser diferente do
tradicional, a obra foi rejeitada pela organização do concurso, que só aceitou os
retratos na competição.
Desgostoso, Portinari decidiu vender Baile na roça depressa. Nos anos
seguintes, ao notar que seu papel era pintar o Brasil, sua gente e sua cultura,
tentou reavê-lo. Mas morreu sem nunca tê-lo encontrado. Quanto aos retratos,
eles não deram a Portinari o grande prêmio. A vitória viria apenas quatro anos
depois. Então, o artista ganharia o mundo e perceberia que a sua vocação era
retratar o Brasil!
13. Na Europa, Portinari viajou pela Inglaterra, Espanha, Itália e morou em Paris.
Nessa época, em vez de pintar e desenhar muito, preferiu observar e aprender.
Diariamente, ia a museus para ver as obras dos grandes mestres da pintura.
Também freqüentava cafés, onde descobriu o que os artistas estavam fazendo
de novo na arte. Seus amigos no Brasil brincavam dizendo que ele estava só
se divertindo na Europa.
Mas Portinari estava em crise. Ele sentia que, ao retornar ao Brasil, precisava
fazer o que havia começado em Baile na roça: pintar a sua gente. Tanto que
escreveu, da França, uma carta em que dizia: "Daqui fiquei vendo melhor a
minha terra. Fiquei vendo Brodósqui como ela é. Quando voltar, vou ver se
consigo fazer a minha terra."
Se ele conseguiu? Sua obra tem a resposta! Assim que retornou ao Brasil -
- acompanhado pela jovem uruguaia Maria Martinelli, com que se casou em
Paris e teve seu único filho, João Candido Portinari, em 1939 --, Portinari
começou a trabalhar a todo vapor. Inspirado, pintou 40 obras em seis meses! E
era só o começo...
Hoje se sabe que Candido Portinari produziu 5000 obras em toda a sua vida.
São retratos -- 600! --, telas, painéis e até murais. Os temas são variados, mas
não há como negar que o artista se dedicou a registrar o seu povo e a cultura
do seu país.
Estão nos trabalhos de Portinari os mestiços, negros, índios e outros tipos
brasileiros; as festas populares, como o bumba-meu-boi e o carnaval; a
infância em Brodósqui, com os meninos brincando de pular carniça sob o
céu estrelado ou soltando papagaio como se fosse agosto; o drama dos
retirantes que o pintor acompanhou na infância em sua terra natal; a vida dos
trabalhadores rurais, com sua rotina e dificuldades.
Tudo isso pintado de uma maneira diferente, pois Portinari não tentou retratar
o Brasil como se suas telas fossem fotografias. Ele buscou distorcer e
exagerar traços das figuras, por exemplo, para expressar emoção e despertar
sentimentos em que via a obra. E, embora tenha dedicado sua carreira a pintar
a gente e a cultura do seu país, Portinari conseguiu passar uma mensagem
14. universal. Tanto é que foi premiado aqui e no exterior.
Esse artista, que tinha muito orgulho do seu trabalho e pintava de terno branco
sem se sujar, morreu no dia 6 de fevereiro de 1962. Ele, que se comparava a
um operário porque adorava suas ferramentas de trabalho, faleceu intoxicado
pelo chumbo que havia nas tintas que usava. Sua obra, porém, permanece.
Afinal, como disse Carlos Drummond de Andrade, o que Portinari criou é sua
vida maior e sem fim: a verdadeira.
Ciência Hoje das Crianças 140, outubro 2003
Mara Figueira,
Ciência Hoje/RJ,
com a colaboração de João Candido P
Projeto Portinari
Obra de Portinari: Jogos Infantis