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CAPITULO 1 DO LIVRO:
BUENO, L.; LOPES, M.A.T. CRISTOVÃO, VERA. L.L. (ORGS).
GÊNEROS TEXTUAIS E FORMAÇÃO INICIAL: UMA HOMENAGEM À
MALU MATENCIO. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2013.
POR: CLAUDINEI
FERNANDA
Capítulo 1
LETRAMENTO, GÊNERO E DISCURSO:
CENAS DE CONVERSA(S)
COM MALU MATENCIO
Jane Quintiliano G. Silva
Juliana Alves Assis
Maria Angela Paulino Teixeira Lopes
MARIA DE LOURDES M. MATENCIO (1964-2009) - Malu, uma pesquisadora em
linguística
Malu, recém-saída de um pós-doutorado em linguística na França, lia aos
montes. segundo o marido, o professor de química da UFMG Tulio
Matencio, nem só com teoria se distraía a mulher: entre seus livros, havia
também romances. Para a amiga e professora Juliana Alves Assis, Maria
de Lourdes Meirelles Matencio era generosa: todo o conhecimento que
buscava adquirir com os livros, preocupava-se em dividir com os alunos.
"Ela foi uma mentora intelectual", conta a amiga. Formada em 1989, em
Letras, pela Unicamp, onde fez mestrado e doutorado em linguística, Malu
era Professora da pós-graduação da PUC-MG e vice-presidente da
Anpoll (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e
Linguística). Seus estudos focam a formação de professores. Em 1992,
Malu conheceu o segundo marido, Tulio, um francês que veio ao país fazer
pós-doutorado na Unicamp e por aqui ficou. Tiveram um filho. Do primeiro
casamento, Malu deixou uma filha de 28 anos, engenheira mecatrônica e
do segundo um filho de 9 anos. Descobriu um tumor na cabeça. Dias
depois, realizou uma cirurgia para retirá-lo. Não resistiu a complicações de
saúde e morreu poucos dias antes de completar 45 anos - e com inúmeros
projetos em aberto.
Ainda Malu .....
Dedicou-se a pesquisar as práticas de letramento,
na educação básica e no ensino superior,
particularmente, na formação de professores; seus
trabalhos focalizam, sobretudo, os mecanismos,
processos e estratégias do processamento textual,
a partir de abordagens que permitam a interface
entre práticas sociais e processos cognitivos. Tem
vários artigos em periódicos especializados.
Publicou os livros Leitura, produção de textos e a
escola e Estudo da língua falada e aula de língua
materna: uma abordagem processual da
interação professor/alunos, pela Editora Mercado
de Letras.
PARTICIPAÇÃO DAS AUTORAS
• Parte de um convite
das organizadoras
(Cristovão e Bueno)
para uma reflexão
sobre o papel dos
gêneros na formação
inicial dos professores
• Ponto de partida:
retomar reflexões de
Malu sobre seus
modos de ver e viver
concepções de língua,
de linguagem, de texto
e, decorrentemente,
sua visão de ensino e
de aprendizagem.
Construção do capítulo
• A partir de alguns recortes de textos publicados pela
autora.
• tendo como premissas epistemológicas:
• com e a partir de Bakhtin (2000), (i) que o dialogismo é o
princípio constitutivo da linguagem, na medida em que não
nos é possível ter a experiência do dado puro (Bakhtin
2003) e sim a partir dos discursos que dão sentido e nessa
medida semiotizam as coisas do mundo (e, por isso, o
mundo), (ii) que os enunciados, cuja existência somente se
concebe dentro do dialogismo (Fiorin 2006), possuem
sempre uma autoria.
QUESTÕES DA ENTREVISTA
1) A respeito da natureza política da atuação dos pesquisadores e
formadores e os impactos que deveriam ter os projetos de difusão
social dos saberes, quais seriam, sob seu ponto de vista, as tarefas
dos estudos da linguagem?
• R: Considerar a natureza política de nossa atuação e a necessidade de
que ela provoque, em curto prazo, impactos sociais efetivos e amplos;
tarefas voltadas ao (i) processo de aquisição e de desenvolvimento da
língua(gem); (ii) do funcionamento da língua(gem) nos textos e nos
discursos; (iii) das práticas de ensino e de aprendizagem da língua(gem),
integrar o estudo da língua ao estudo dos textos e dos discursos,
assim como a análise de diferentes sistemas e subsistemas
semióticos pelos quais ganham materialidade as ações de
linguagem do sujeito. [...] possibilitam um olhar o suficientemente
abrangente para se compreender, descrever e explicar o quê,
como e por quê os sujeitos fazem o que fazem quando usam a
linguagem. Por isso mesmo, permite que se abordem, sem
rupturas, as relações entre o social e o individual, entre práticas
coletivas e cognição humana, contemplando a centralidade da
linguagem nos processos subjetivos e sociais.”
• 2) Dos efeitos nefastos de polarizações: (alfabetização –
analfabetismo / escolarização – não escolarização / escrita – fala /
letrado – iletrado /...). É possível uma didática da escrita?
R: Processos de ensino e de aprendizagem da escrita devem considerar o
que os sujeitos sabem fazer e o que fazem de fato, assumindo uma
postura descritiva e explicativa, [...] os aprendizes devem ter consciência
de que tais práticas envolvem não apenas um processo de socialização à
escrita, como também a incorporação de certos modos culturais de fazer
e de dizer que se distinguem da oralidade e conduzem a mudanças nos
modos de usar a linguagem, de interagir, de construir conhecimentos e a
própria identidade. privilegiar a percepção, pelo aprendiz, das diversas
rupturas entre práticas orais e escriturais, de modo que ele tenha
condições de identificar suas especificidades; que o aluno fosse levado a
considerar as situações interacionais mediadas pelos objetos que
‘sustentam’ a escrita e seus efeitos tanto nas formas de textualização
quanto de projeção da encenação na interação; necessidade de
flexibilidade no planejamento das atividades.
Abordagens que considerem a complexidade e riqueza do letramento das
práticas cotidianas (postura reflexiva, exploratória, responsiva).
• 3) Inspirados em Vygotsky e pautando-se pela perspectiva da linguística
aplicada, seus textos refletem a preocupação com as interações dos
sujeitos, sendo os gêneros “instrumentos” essenciais no processo de
construção dos artefatos simbólicos necessários para que as interações se
realizem. Discorra um pouco sobre o papel das representações nesse
processo.
• R: [...] linguagem é condição para a existência do humano e da
História, ou seja, do sujeito, do tempo e do espaço, como
fenômenos que estruturam e sustentam as redes conceituais
com as quais o real — tomado em sua realidade possível - é
percebido. Uma noção que parece essencial para compreender
esse raciocínio é a de aparelho psíquico de produção de
linguagem (Schneuwly 1988), porque apresenta condições de
elucidar tanto como se organizariam globalmente as operações
mentais que sustentam as ações de linguagem do sujeito
quanto a direção em que se concretizaria o desenvolvimento de
suas capacidades de linguagem (Bronckart 2009).
• Ou seja, O sujeito realiza ações de linguagem — concebidas
como as ações significantes flagradas em sua dimensão
individual (Leontiév 1978, Bronckart 2005, 2006, 2008) - em
atividades de interação social — situações em que suas ações
realizam-se no contexto de uma coletividade (Leontiév 1978),
é nas interações sociais de que participam que os sujeitos,
fundamentados em sua prévia experiência cultural e intercultural,
selecionam determinadas formas de conceber e de se referir aos objetos,
o que os leva a determinadas ações significantes no processo de
negociação de sentidos. Ação de linguagem: (a) ganha materialidade por
meio de recursos linguageiros; (b) envolve operações de textualização;
(c) pressupõe o compartilhamento de saberes; (d) é essencialmente
classificatória; (e) implica a construção de representações mentais; (f)
relaciona diferentes campos conceituais.”
4) Pensando no processo de formação do leitor e produtor de textos,
tanto na educação básica como no campo da formação do professor,
como promover, de fato, a apropriação de artefatos simbólicos
responsáveis pela interação e socialização dos sujeitos?
R: As práticas em sala de aula devem ter como eixo, como se procurou
discutir, tarefas e atividades de ensino/aprendizagem que orientem o
sujeito-aprendiz a compreender as dinâmicas das interações sociais, à luz
dos possíveis objetivos em jogo e das potenciais estratégias, habilidades e
competências colocadas em cena; pode motivar o aprendiz a (re)
dimensionar suas próprias expectativas e seus projetos de ação, de médio e
longo prazo, bem como motivá-lo a (desejar?) inserir-se nas práticas
sociodiscursivas assumindo posições identitárias responsivoativas. [...] uma
educação linguística (obviamente, crítica!).
5) É consenso entre grande parte dos linguistas que a dimensão
discursiva é que deve alimentar a construção e o tratamento dos
objetos de ensino. Mas qual abordagem discursiva deve ser levada à
escola?
R: Talvez [...] as abordagens do processo de ensino/aprendizagem que se
encontram no âmbito do interacionismo sejam as que maior impacto
têm produzido no discurso acadêmico-científico sobre o ensino, no discurso
de divulgação científica, nos documentos de parametrização e regulação da
Educação Básica, assim como nas próprias práticas didático-pedagógicas no
contexto escolar. Afinal, tais abordagens procuram explicar como o homem
significa e se se significa nas relações com os outros, procurando, ainda,
descrever e explicar como a significação se constrói sempre em processos de
interação, nos quais a ação individual - simbolicamente construída - implica
e é implicada pela/na ação social.”
REFERÊNCIAS
BUENO, L.; LOPES, M.A.T. CRISTOVÃO,
VERA. L.L. (ORGS). GÊNEROS
TEXTUAIS E FORMAÇÃO INICIAL: UMA
HOMENAGEM À MALU MATENCIO.
Campinas, SP: Mercado de Letras, 2013.

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LETRAMENTO, GÊNERO E DISCURSO: CENAS DE CONVERSA(S) COM MALU MATENCIO

  • 1. CAPITULO 1 DO LIVRO: BUENO, L.; LOPES, M.A.T. CRISTOVÃO, VERA. L.L. (ORGS). GÊNEROS TEXTUAIS E FORMAÇÃO INICIAL: UMA HOMENAGEM À MALU MATENCIO. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2013. POR: CLAUDINEI FERNANDA
  • 2. Capítulo 1 LETRAMENTO, GÊNERO E DISCURSO: CENAS DE CONVERSA(S) COM MALU MATENCIO Jane Quintiliano G. Silva Juliana Alves Assis Maria Angela Paulino Teixeira Lopes
  • 3. MARIA DE LOURDES M. MATENCIO (1964-2009) - Malu, uma pesquisadora em linguística Malu, recém-saída de um pós-doutorado em linguística na França, lia aos montes. segundo o marido, o professor de química da UFMG Tulio Matencio, nem só com teoria se distraía a mulher: entre seus livros, havia também romances. Para a amiga e professora Juliana Alves Assis, Maria de Lourdes Meirelles Matencio era generosa: todo o conhecimento que buscava adquirir com os livros, preocupava-se em dividir com os alunos. "Ela foi uma mentora intelectual", conta a amiga. Formada em 1989, em Letras, pela Unicamp, onde fez mestrado e doutorado em linguística, Malu era Professora da pós-graduação da PUC-MG e vice-presidente da Anpoll (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística). Seus estudos focam a formação de professores. Em 1992, Malu conheceu o segundo marido, Tulio, um francês que veio ao país fazer pós-doutorado na Unicamp e por aqui ficou. Tiveram um filho. Do primeiro casamento, Malu deixou uma filha de 28 anos, engenheira mecatrônica e do segundo um filho de 9 anos. Descobriu um tumor na cabeça. Dias depois, realizou uma cirurgia para retirá-lo. Não resistiu a complicações de saúde e morreu poucos dias antes de completar 45 anos - e com inúmeros projetos em aberto.
  • 4. Ainda Malu ..... Dedicou-se a pesquisar as práticas de letramento, na educação básica e no ensino superior, particularmente, na formação de professores; seus trabalhos focalizam, sobretudo, os mecanismos, processos e estratégias do processamento textual, a partir de abordagens que permitam a interface entre práticas sociais e processos cognitivos. Tem vários artigos em periódicos especializados. Publicou os livros Leitura, produção de textos e a escola e Estudo da língua falada e aula de língua materna: uma abordagem processual da interação professor/alunos, pela Editora Mercado de Letras.
  • 5. PARTICIPAÇÃO DAS AUTORAS • Parte de um convite das organizadoras (Cristovão e Bueno) para uma reflexão sobre o papel dos gêneros na formação inicial dos professores • Ponto de partida: retomar reflexões de Malu sobre seus modos de ver e viver concepções de língua, de linguagem, de texto e, decorrentemente, sua visão de ensino e de aprendizagem.
  • 6. Construção do capítulo • A partir de alguns recortes de textos publicados pela autora. • tendo como premissas epistemológicas: • com e a partir de Bakhtin (2000), (i) que o dialogismo é o princípio constitutivo da linguagem, na medida em que não nos é possível ter a experiência do dado puro (Bakhtin 2003) e sim a partir dos discursos que dão sentido e nessa medida semiotizam as coisas do mundo (e, por isso, o mundo), (ii) que os enunciados, cuja existência somente se concebe dentro do dialogismo (Fiorin 2006), possuem sempre uma autoria.
  • 7. QUESTÕES DA ENTREVISTA 1) A respeito da natureza política da atuação dos pesquisadores e formadores e os impactos que deveriam ter os projetos de difusão social dos saberes, quais seriam, sob seu ponto de vista, as tarefas dos estudos da linguagem? • R: Considerar a natureza política de nossa atuação e a necessidade de que ela provoque, em curto prazo, impactos sociais efetivos e amplos; tarefas voltadas ao (i) processo de aquisição e de desenvolvimento da língua(gem); (ii) do funcionamento da língua(gem) nos textos e nos discursos; (iii) das práticas de ensino e de aprendizagem da língua(gem), integrar o estudo da língua ao estudo dos textos e dos discursos, assim como a análise de diferentes sistemas e subsistemas semióticos pelos quais ganham materialidade as ações de linguagem do sujeito. [...] possibilitam um olhar o suficientemente abrangente para se compreender, descrever e explicar o quê, como e por quê os sujeitos fazem o que fazem quando usam a linguagem. Por isso mesmo, permite que se abordem, sem rupturas, as relações entre o social e o individual, entre práticas coletivas e cognição humana, contemplando a centralidade da linguagem nos processos subjetivos e sociais.”
  • 8. • 2) Dos efeitos nefastos de polarizações: (alfabetização – analfabetismo / escolarização – não escolarização / escrita – fala / letrado – iletrado /...). É possível uma didática da escrita? R: Processos de ensino e de aprendizagem da escrita devem considerar o que os sujeitos sabem fazer e o que fazem de fato, assumindo uma postura descritiva e explicativa, [...] os aprendizes devem ter consciência de que tais práticas envolvem não apenas um processo de socialização à escrita, como também a incorporação de certos modos culturais de fazer e de dizer que se distinguem da oralidade e conduzem a mudanças nos modos de usar a linguagem, de interagir, de construir conhecimentos e a própria identidade. privilegiar a percepção, pelo aprendiz, das diversas rupturas entre práticas orais e escriturais, de modo que ele tenha condições de identificar suas especificidades; que o aluno fosse levado a considerar as situações interacionais mediadas pelos objetos que ‘sustentam’ a escrita e seus efeitos tanto nas formas de textualização quanto de projeção da encenação na interação; necessidade de flexibilidade no planejamento das atividades. Abordagens que considerem a complexidade e riqueza do letramento das práticas cotidianas (postura reflexiva, exploratória, responsiva).
  • 9. • 3) Inspirados em Vygotsky e pautando-se pela perspectiva da linguística aplicada, seus textos refletem a preocupação com as interações dos sujeitos, sendo os gêneros “instrumentos” essenciais no processo de construção dos artefatos simbólicos necessários para que as interações se realizem. Discorra um pouco sobre o papel das representações nesse processo. • R: [...] linguagem é condição para a existência do humano e da História, ou seja, do sujeito, do tempo e do espaço, como fenômenos que estruturam e sustentam as redes conceituais com as quais o real — tomado em sua realidade possível - é percebido. Uma noção que parece essencial para compreender esse raciocínio é a de aparelho psíquico de produção de linguagem (Schneuwly 1988), porque apresenta condições de elucidar tanto como se organizariam globalmente as operações mentais que sustentam as ações de linguagem do sujeito quanto a direção em que se concretizaria o desenvolvimento de suas capacidades de linguagem (Bronckart 2009). • Ou seja, O sujeito realiza ações de linguagem — concebidas como as ações significantes flagradas em sua dimensão individual (Leontiév 1978, Bronckart 2005, 2006, 2008) - em atividades de interação social — situações em que suas ações realizam-se no contexto de uma coletividade (Leontiév 1978),
  • 10. é nas interações sociais de que participam que os sujeitos, fundamentados em sua prévia experiência cultural e intercultural, selecionam determinadas formas de conceber e de se referir aos objetos, o que os leva a determinadas ações significantes no processo de negociação de sentidos. Ação de linguagem: (a) ganha materialidade por meio de recursos linguageiros; (b) envolve operações de textualização; (c) pressupõe o compartilhamento de saberes; (d) é essencialmente classificatória; (e) implica a construção de representações mentais; (f) relaciona diferentes campos conceituais.”
  • 11. 4) Pensando no processo de formação do leitor e produtor de textos, tanto na educação básica como no campo da formação do professor, como promover, de fato, a apropriação de artefatos simbólicos responsáveis pela interação e socialização dos sujeitos? R: As práticas em sala de aula devem ter como eixo, como se procurou discutir, tarefas e atividades de ensino/aprendizagem que orientem o sujeito-aprendiz a compreender as dinâmicas das interações sociais, à luz dos possíveis objetivos em jogo e das potenciais estratégias, habilidades e competências colocadas em cena; pode motivar o aprendiz a (re) dimensionar suas próprias expectativas e seus projetos de ação, de médio e longo prazo, bem como motivá-lo a (desejar?) inserir-se nas práticas sociodiscursivas assumindo posições identitárias responsivoativas. [...] uma educação linguística (obviamente, crítica!).
  • 12. 5) É consenso entre grande parte dos linguistas que a dimensão discursiva é que deve alimentar a construção e o tratamento dos objetos de ensino. Mas qual abordagem discursiva deve ser levada à escola? R: Talvez [...] as abordagens do processo de ensino/aprendizagem que se encontram no âmbito do interacionismo sejam as que maior impacto têm produzido no discurso acadêmico-científico sobre o ensino, no discurso de divulgação científica, nos documentos de parametrização e regulação da Educação Básica, assim como nas próprias práticas didático-pedagógicas no contexto escolar. Afinal, tais abordagens procuram explicar como o homem significa e se se significa nas relações com os outros, procurando, ainda, descrever e explicar como a significação se constrói sempre em processos de interação, nos quais a ação individual - simbolicamente construída - implica e é implicada pela/na ação social.”
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  • 14. REFERÊNCIAS BUENO, L.; LOPES, M.A.T. CRISTOVÃO, VERA. L.L. (ORGS). GÊNEROS TEXTUAIS E FORMAÇÃO INICIAL: UMA HOMENAGEM À MALU MATENCIO. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2013.