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Safo

Ciberfil Literatura Digital
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Índice
A Átis
A uma mulher amada
(fragmentos de um poema)
Para Anactória
O Amor
As Rosas de Piéria
A Lua já se Pôs
Para Mnesídice
Como a Doce Maçã
A amada
...
A Lua
O ciúme
Um jardim
Adeus

A Átis
Não minto: eu me queria morta.
Deixava-me, desfeita em lágrimas:
"Mas, ah, que triste a nossa sina!
Eu vou contra a vontade, juro,
Safo". "Seja feliz", eu disse,
"E lembre-se de quanto a quero.
Ou já esqueceu? Pois vou lembrar-lhe
Os nossos momentos de amor.
Quantas grinaldas, no seu colo,
— Rosas, violetas, açafrão —
Trançamos juntas! Multiflores
Colares atei para o tenro
Pescoço de Átis; os perfumes
Nos cabelos, os óleos raros
Da sua pele em minha pele!
[...]
Cama macia, o amor nascia
De sua beleza, e eu matava
A sua sede" [...}
Cai a lua, caem as plêiades e
É meia-noite, o tempo passa e
Eu só, aqui deitada, desejante.
— Adolescência, adolescência,
Você se vai, aonde vai?
— Não volto mais para você,
Para você volto mais não.

A uma mulher amada
Ditosa que ao teu lado só por ti suspiro!
Quem goza o prazer de te escutar,
quem vê, às vezes, teu doce sorriso.
Nem os deuses felizes o podem igualar.
Sinto um fogo sutil correr de veia em veia
por minha carne, ó suave bem querida,
e no transporte doce que a minha alma enleia
eu sinto asperamente a voz emudecida.
Uma nuvem confusa me enevoa o olhar.
Não ouço mais. Eu caio num langor supremo;
E pálida e perdida e febril e sem ar,
um frêmito me abala... eu quase morro... eu tremo.

(fragmentos de um poema)
"Parece-me igual aos deuses
ser aquele homem que, à sua frente sentado,
de perto, doces palavras, inclinando o rosto,
escuta,
e quando te ris, provocando o desejo; isso, eu juro,
me faz com pavor bater o coração no peito;
eu te vejo um instante apenas e as palavras
todas me abandonam;
a língua se parte; debaixo da minha pele,
no mesmo instante, corre um fogo sutil;
meus olhos me vêem; zumbem
meus ouvidos
um frio suor me recobre, um frêmito me apodera
do corpo todo, mais verde que
as ervas
eu fico
e que já estou morta
parece (...)
Mas (...)".

Para Anactória
A mais bela coisa deste mundo
para alguns são soldados a marchar,
para outros uma frota; para mim
é a minha bem-querida.
Fácil é dá-lo a compreender a todos:
Helena, a sem igual em formosura,
achou que o destruidor da honra de Tróia
era o melhor dos homens,
e assim não se deteve a cogitar
em sua filha nem nos pais queridos:
o Amor a seduziu e longe a fez
ceder o coração.
Dobrar mulher não custa, se ela pensa
por alto no que é próximo e querido.
Oh não me esqueças, Anactória, nem
aquela que partiu:
prefiro o doce ruído de seus passos
e o brilho de seu rosto a ver os carros
e os soldados da Lídia combatendo
cobertos de armadura.

O Amor
O Amor agita meu espírito
como se fosse um vendaval
a desabar sobre os carvalhos.
As Rosas de Piéria
E morta jazerás: de ti
não restará lembrança, em tempo algum,
nem mesmo compaixão jamais despertarás:
nas rosas de Piéria não tiveste parte.
Desconhecida até na casa de Hades,
errante esvoaçarás em meio a obscuros mortos.

A Lua já se Pôs
A lua já se pôs,
as Plêiades também:
meia-noite; foge o tempo,
e estou deitada sozinha.

Para Mnesídice
Com as meigas mãos, ó Dice,
trança ramos de aneto,
e põe essa coroa
em teus cabelos:
fogem as Graças
de quem não tem grinalda,
mas felizes acolhem
quem se enfeita de flores.

Como a Doce Maçã
Como a doce maçã que rubra, muito rubra,
lá em cima, no alto do mais alto ramo
os colhedores esqueceram; não,
não esqueceram, não puderam atingir.

A amada
Ventura, que iguala aos deuses,
Em meu conceito, desfruta
Quem, junto de ti sentada,
As doces falas te escuta,
Goza teu mago sorrir.
Quando imagino em tal gosto
ë minha alma um labirinto;
Expira-me a voz nos lábios;
Nas veias um fogo sinto;
Sinto os ouvidos zunir.
Gelado suor me inunda;
O corpo se me arrepia;
Foge-me as cores do rosto,
Como ao vir da quadra fria
Entra a folha a desmaiar.
Respiro a custo, e já cuido
Que se esvai a doce vida!
Arrisquemo-nos a tudo...
Contra uma angústia insofrida
tudo se deve tentar.

...
Toca, minha amiga,
as cordas puras da tua lira.
Já a idade fez secar meu corpo,
embranquecendo-me os cabelos que eram pretos,
tornando-me os joelhos mais que frouxos.
E agora, ó companheira bem amada,
querem levar-te para longe do meu peito,
como fazem também às jovens corças.
Adoro, mais que tudo, a flor da juventude.
Meu coração apaixonou-se pelo sol,
meu coração apaixonou-se pela beleza.
Igual aos deuses me parece
quem a teu lado vai sentar-se,
quem saboreia a tua voz
mais as delícias desse riso.
quem me derrete o coração
e o faz bater sobre os meus lábios.
Assim que vejo esse teu rosto,
quebra-se logo a minha voz,
seca-me a língua entre os dentes,
corre-me um fogo sob a pele,
ficam-me surdos os ouvidos
e os olhos cegos de repente.
Torna-se líquido o meu corpo:
transpiro e tremo ao mesmo tempo.
Vejo-me verde: mais que a erva.
Só por acaso é que não morro.
Mergulha o teu corpo nesta água clara;
veste-lhe a brancura de açafrão e púrpura;
e o bordado brilho que há na tua túnica
aumente a beleza que me é tão cara...
A morte não é um bem.
Os próprios deuses o sabem.
Eles preferiram viver...

A Lua
Em redor da formosa lua, as estrelas,
escondem de novo o seu rosto brilhante,
quando ela, cheia, brilha em todo o seu fulgor
sobre a terra...

O ciúme
Parece-me igual aos deuses
o homem que, diante de ti e próximo,
escuta a tua doce voz e o teu
riso amorável. Isso faz-me
tumultuar o coração no peito. Na verdade,
basta-me ver-te para que
a voz me falte, a língua
se me fenda e um repentino
fogo subtil alastre
sob a minha pele, os olhos
se me escureçam, os ouvidos
me zumbam, o suor
me inunde, um arrepio
me percorra toda. Fico
mais verde do que a erva. Sinto
que vou morrer.
Mas tudo é suportável, desde que humilde.

Um jardim
Vem de Creta até este templo
sagrado, onde há um gracioso bosque de
macieiras e altares onde arde
o incenso.
Aqui, a água fresca canta através dos ramos
das macieiras, a sombra das roseiras
cobre todo o recinto e das trémulas folhas
escorre um sono pesado.
Aqui, o prado onde pastam os cavalos
já se cobriu de flores primaveris e as brisas
sopram docemente [...]
[...]
Vem, Cípris, coroada de grinaldas,
e, graciosamente, nas douradas taças
o néctar ligado aos festins
derrama

Adeus
Sinceramente, a minha vontade é morrer.
Por entre abundantes lágrimas,
afastou-se de mim e disse-me:
"Que horrível sofrimento,
Safo! É verdadeiramente contrariada que te deixo."
Eu respondi-lhe:
"Vai, não chores, e lembra-te de mim,
bem sabes como te amei.
Se não, quero ao menos
que lembres tudo o que
de belo e doce nós vivemos.
Tantas coroas compostas juntamente
de violetas, de rosas e açafrão
com que, a meu lado, te enfeitavas
e tantas grinaldas tecidas
de belas flores, entrelaçadas
à volta do teu colo tenro
e tantas ricas essências e o
régio perfume com que
tu impregnavas a minha cabeleira
e, deitada, num leito
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Safo

  • 2. Versão para Acrobat Reader por Marcelo C. Barbão Março de 2002 Permitida a distribuição Visite nosso site: www.ciberfil.hpg.ig.com.br ou mande-nos um e-mail: ciberfil@yahoo.com Índice A Átis A uma mulher amada (fragmentos de um poema) Para Anactória O Amor As Rosas de Piéria A Lua já se Pôs Para Mnesídice Como a Doce Maçã A amada
  • 3. ... A Lua O ciúme Um jardim Adeus A Átis Não minto: eu me queria morta. Deixava-me, desfeita em lágrimas: "Mas, ah, que triste a nossa sina! Eu vou contra a vontade, juro, Safo". "Seja feliz", eu disse, "E lembre-se de quanto a quero. Ou já esqueceu? Pois vou lembrar-lhe Os nossos momentos de amor. Quantas grinaldas, no seu colo, — Rosas, violetas, açafrão — Trançamos juntas! Multiflores Colares atei para o tenro Pescoço de Átis; os perfumes Nos cabelos, os óleos raros Da sua pele em minha pele! [...] Cama macia, o amor nascia De sua beleza, e eu matava A sua sede" [...} Cai a lua, caem as plêiades e É meia-noite, o tempo passa e Eu só, aqui deitada, desejante.
  • 4. — Adolescência, adolescência, Você se vai, aonde vai? — Não volto mais para você, Para você volto mais não. A uma mulher amada Ditosa que ao teu lado só por ti suspiro! Quem goza o prazer de te escutar, quem vê, às vezes, teu doce sorriso. Nem os deuses felizes o podem igualar. Sinto um fogo sutil correr de veia em veia por minha carne, ó suave bem querida, e no transporte doce que a minha alma enleia eu sinto asperamente a voz emudecida. Uma nuvem confusa me enevoa o olhar. Não ouço mais. Eu caio num langor supremo; E pálida e perdida e febril e sem ar, um frêmito me abala... eu quase morro... eu tremo. (fragmentos de um poema) "Parece-me igual aos deuses ser aquele homem que, à sua frente sentado, de perto, doces palavras, inclinando o rosto, escuta, e quando te ris, provocando o desejo; isso, eu juro, me faz com pavor bater o coração no peito; eu te vejo um instante apenas e as palavras todas me abandonam; a língua se parte; debaixo da minha pele, no mesmo instante, corre um fogo sutil; meus olhos me vêem; zumbem meus ouvidos um frio suor me recobre, um frêmito me apodera
  • 5. do corpo todo, mais verde que as ervas eu fico e que já estou morta parece (...) Mas (...)". Para Anactória A mais bela coisa deste mundo para alguns são soldados a marchar, para outros uma frota; para mim é a minha bem-querida. Fácil é dá-lo a compreender a todos: Helena, a sem igual em formosura, achou que o destruidor da honra de Tróia era o melhor dos homens, e assim não se deteve a cogitar em sua filha nem nos pais queridos: o Amor a seduziu e longe a fez ceder o coração. Dobrar mulher não custa, se ela pensa por alto no que é próximo e querido. Oh não me esqueças, Anactória, nem aquela que partiu: prefiro o doce ruído de seus passos e o brilho de seu rosto a ver os carros e os soldados da Lídia combatendo cobertos de armadura. O Amor O Amor agita meu espírito como se fosse um vendaval a desabar sobre os carvalhos.
  • 6. As Rosas de Piéria E morta jazerás: de ti não restará lembrança, em tempo algum, nem mesmo compaixão jamais despertarás: nas rosas de Piéria não tiveste parte. Desconhecida até na casa de Hades, errante esvoaçarás em meio a obscuros mortos. A Lua já se Pôs A lua já se pôs, as Plêiades também: meia-noite; foge o tempo, e estou deitada sozinha. Para Mnesídice Com as meigas mãos, ó Dice, trança ramos de aneto, e põe essa coroa em teus cabelos: fogem as Graças de quem não tem grinalda, mas felizes acolhem quem se enfeita de flores. Como a Doce Maçã Como a doce maçã que rubra, muito rubra,
  • 7. lá em cima, no alto do mais alto ramo os colhedores esqueceram; não, não esqueceram, não puderam atingir. A amada Ventura, que iguala aos deuses, Em meu conceito, desfruta Quem, junto de ti sentada, As doces falas te escuta, Goza teu mago sorrir. Quando imagino em tal gosto ë minha alma um labirinto; Expira-me a voz nos lábios; Nas veias um fogo sinto; Sinto os ouvidos zunir. Gelado suor me inunda; O corpo se me arrepia; Foge-me as cores do rosto, Como ao vir da quadra fria Entra a folha a desmaiar. Respiro a custo, e já cuido Que se esvai a doce vida! Arrisquemo-nos a tudo... Contra uma angústia insofrida tudo se deve tentar. ... Toca, minha amiga, as cordas puras da tua lira. Já a idade fez secar meu corpo, embranquecendo-me os cabelos que eram pretos, tornando-me os joelhos mais que frouxos.
  • 8. E agora, ó companheira bem amada, querem levar-te para longe do meu peito, como fazem também às jovens corças. Adoro, mais que tudo, a flor da juventude. Meu coração apaixonou-se pelo sol, meu coração apaixonou-se pela beleza. Igual aos deuses me parece quem a teu lado vai sentar-se, quem saboreia a tua voz mais as delícias desse riso. quem me derrete o coração e o faz bater sobre os meus lábios. Assim que vejo esse teu rosto, quebra-se logo a minha voz, seca-me a língua entre os dentes, corre-me um fogo sob a pele, ficam-me surdos os ouvidos e os olhos cegos de repente. Torna-se líquido o meu corpo: transpiro e tremo ao mesmo tempo. Vejo-me verde: mais que a erva. Só por acaso é que não morro. Mergulha o teu corpo nesta água clara; veste-lhe a brancura de açafrão e púrpura; e o bordado brilho que há na tua túnica aumente a beleza que me é tão cara... A morte não é um bem. Os próprios deuses o sabem. Eles preferiram viver... A Lua Em redor da formosa lua, as estrelas, escondem de novo o seu rosto brilhante,
  • 9. quando ela, cheia, brilha em todo o seu fulgor sobre a terra... O ciúme Parece-me igual aos deuses o homem que, diante de ti e próximo, escuta a tua doce voz e o teu riso amorável. Isso faz-me tumultuar o coração no peito. Na verdade, basta-me ver-te para que a voz me falte, a língua se me fenda e um repentino fogo subtil alastre sob a minha pele, os olhos se me escureçam, os ouvidos me zumbam, o suor me inunde, um arrepio me percorra toda. Fico mais verde do que a erva. Sinto que vou morrer. Mas tudo é suportável, desde que humilde. Um jardim Vem de Creta até este templo sagrado, onde há um gracioso bosque de macieiras e altares onde arde o incenso. Aqui, a água fresca canta através dos ramos das macieiras, a sombra das roseiras cobre todo o recinto e das trémulas folhas escorre um sono pesado.
  • 10. Aqui, o prado onde pastam os cavalos já se cobriu de flores primaveris e as brisas sopram docemente [...] [...] Vem, Cípris, coroada de grinaldas, e, graciosamente, nas douradas taças o néctar ligado aos festins derrama Adeus Sinceramente, a minha vontade é morrer. Por entre abundantes lágrimas, afastou-se de mim e disse-me: "Que horrível sofrimento, Safo! É verdadeiramente contrariada que te deixo." Eu respondi-lhe: "Vai, não chores, e lembra-te de mim, bem sabes como te amei. Se não, quero ao menos que lembres tudo o que de belo e doce nós vivemos. Tantas coroas compostas juntamente de violetas, de rosas e açafrão com que, a meu lado, te enfeitavas e tantas grinaldas tecidas de belas flores, entrelaçadas à volta do teu colo tenro e tantas ricas essências e o régio perfume com que tu impregnavas a minha cabeleira e, deitada, num leito macio, junto a mim, o desejo aplacavas...
  • 11. e nem casamento nem disputa nem sequer correntes de água podiam destruir os laços pelos quais estamos unidas.