1) O artigo apresenta oportunidades de cursos profissionalizantes gratuitos oferecidos por instituições como Senai e Senac para moradores da Vila Brás que não completaram os estudos ou desejam mudar de profissão.
2) Entre os programas destacados estão o Novos Horizontes do Sesi, o Jovem Aprendiz do Senac e o Projovem Trabalhador, que oferecem capacitação técnica e inserção no mercado de trabalho.
3) O texto também cita o Projeto de Vida
1. vila brás | são leopoldo | setembro/2011 | edição 129
Brassificados
Carteira Fé Quer trocar um
brinquedo velho
assinada Um ensaio fotográfico
chama atenção para as
por um novo?
Quer fazer uma
Profissionalização diferentes igrejas da vila declaração de
pode abrir novos Páginas 8 e 9 amor? Quer
caminhos no mandar um
mercado de recado para
trabalho
enfoque
alguém?
MARINA CARDOZO
ANGELO DE ZORZI
Página 3
Páginas 14 e 15
MARINA CARDOZO
Confira histórias
de gente que não
ficou bobeando e
Mãos à obra
se realizou com o
trabalho na
Vila Brás
Páginas 4 e 5
2. 2 Música Enfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Setembro de 2011
Carta ao leitor Gente grande
também tem ídolos
“Mãos à obra”, uma das frases que ouvimos ao chegar
à Brás, também foi o que encontramos, na prática, ao per-
correr a Vila. Afinal, o que as histórias do Seu Dailor, as do
Deoclides e a da Letícia têm em comum? São exemplos dos
muitos moradores que arregaçaram as mangas e foram Enquete revela o que os adultos escutam no dia a dia da Vila Brás
atrás dos seus sonhos. Seja voltando a estudar, iniciando
um novo negócio ou mantendo-o por 18 anos, são pessoas Jaqueline Loreto (Texto) Em pesquisa informal realiza- Alguns até citaram o mais re-
que, acima de tudo, não desistiram do que queriam. Dienifer Ceconello (Fotos) da em um sábado, a maioria das cente ídolo da música sertaneja,
V
Outro assunto de destaque desta edição do Enfoque é pessoas entrevistadas afirmou Luan Santana, mas a predomi-
elhas baladinhas e canti- que escuta o gênero sertanejo. nância foi o arrasta-pé sertanejo
de extrema importância: a formação profissional. Diante gas românticas ainda es- Nos bares, ele também está pre- e algumas gauchescas. Se es-
da informação do baixo número de moradores da Vila que tão vivas, na memória e sente, só é preciso entrar, ouvir cuta tomando um chimarrão e
conseguem continuar os estudos, procuramos quais pro- nos pés dos moradores da Vila e, quem sabe, ir dançando, já conversando com o vizinho, ou
Brás. Para isso, nem é preciso que, devido ao trabalho, o cos- arrumando a casa e – por que
jetos e cursos de capacitação estão acessíveis atualmente.
ser um frequentador dos bailes tume de sair à noite ficou para não? – recordando aqueles mo-
Há oportunidades que podem fazer a diferença para quem e festas para ouvir aquela músi- trás, dando lugar as responsabi- mentos que deixaram uma boa
quer mercado de trabalho ou deseja mudar de profissão. ca que tanto agrada. lidades de criar uma família. lembrança.
Nesta edição do jornal experimental produzido por alu-
nos do curso de Jornalismo da Unisinos, contamos ainda
a história de superação de Leandro, que perdeu a visão e
Maiara, vítima de craniostenose. Apesar das dificuldades, O que toca no seu rádio?
ambos nos mostram como buscar uma vida feliz.
Infelizmente, temos duas histórias tristes para os ado-
radores de animais: Pretinho, o cachorro atropelado, e os
casos de envenenamento de cães na Brás. Também vol-
tamos à Casa Lilás, que foi matéria de capa da edição em
2010, para descobrir porque o local está à venda. Classi-
ficados e Recados complementam essa edição. Será que
“Meu ídolo é o “Eu gosto mais de “Eu gosto de Os “Eu escuto hinos
tem algum recado para você? Amado Batista! música sertaneja, do Federais, as músicas evangélicos. É um
Desde a infância, Amado Batista e de são boas de dançar. Os compromisso que a
eu o escuto, e toda gauchesca também. filhos já estão criados gente tem que ter
a família também Com o trabalho, eu e agora a gente tem com Deus. Ninguém
O Enfoque é um jornal direcionado aos moradores da
Vila Brás, em São Leopoldo/RS. A produção é dos alunos
gosta. Ainda tenho escuto mais quando que aproveitar a vida”. vive sem fé”. José
das disciplinas de Redação Experimental em Jornal e o vinil dele”. Seila estou em casa”. José Natália Novaes, Olmiro de Paula,
Fotojornalismo do Curso de Jornalismo da Unisinos. Camargo, 38 anos Odair, 48 anos 49 anos 58 anos
Fale conosco!
(51) 3590 8463 / 3590 8466
enfoquevilabras@gmail.com
enfoque Av. Unisinos, 950 - Agexcom/Área 3 - São Leopoldo/RS
Confira quando circulam as próximas edições!
129 130 131
17/9 15/10 11/11
[REDAÇÃO] Orientação: professor Eduardo Veras. Monitoria: aluna “Bom é o Trio Parada “Eu sou fã “Eu gosto de sertanejo. “Daniel! Eu gosto de
Lílian Stein. Textos: alunos André Fröhlich Seewald, Dieines Fróis, Dura. Nos bailes tem de Roberto Escuto mais Sérgio Reis, todas as músicas dele
Dierli dos Santos (edição), Eduardo Saueressig, Fernanda Brandt,
que ir com a mulher, Carlos. Gosto é o que eu acompanho. e da Paula Fernandes.
Jaqueline Fernanda Silva de Loreto, Júlia Klein Caldas, Juliana de Brito,
Liliana Egewarth, Lorena de Risse Ferreira, Marcelo Ferreira da Silva,
sozinho não dá. As principalmente das Antes, quando ele Quando era nova eu
Natália Barbosa Gaion, Natália Vitória de Oliveira Silva, Pablo Luis Furlanetto, gurias de hoje já não músicas românticas lançava os discos, eu ia aos bailões, hoje
Priscila Guimarães Corrêa Gomes, Renata Parisotto, Rita de Cassia Trindade, gostam desse tipo de e do jeitão dele os comprava sempre”. em dia escuto em
Thayná Candido de Almeida, Vitor de Arruda Pereira e Viviane Borba Bueno. música”. Setembrino de cantar”. Evanir José Ely Bertisolo, casa”. Mareni Paula
Gonçalves, 66 anos Farias, 61 anos 80 anos da Silva, 50 anos
[FOTOGRAFIA] Orientação: professor Flávio Dutra. Monitoria: aluno André
Ávila. Fotos: alunos Amanda Pereira, Angelo de Zorzi, Bruna Vargas, Bruna
Silva, Daniela Sgrillo, Daniela Fanti, Dienifer Martins, Douglas Bonesso, Eduardo
Meireles, Fernanda Estrella, Gabriela Nunes, Greice Nichele, Joane dos Santos,
João Diego Dias, Lílian Stein, Lisiane Machado, Livia Saggin, Lucas Neto, Marília
Dias, Marina Cardozo, Natacha Oliveira, Rafaela Kley, Renata Strapazzon,
Cante com Amado Batista
Roberto Ferrari, Samantha Gonçalves, Stéfanie Telles e Tamires Fonseca.
Princesa Perdidos nos meus
[ARTE] Projeto gráfico e diagramação realizadas pela equipe de jornalismo Que vontade louca que eu tenho
da Agência Experimental de Comunicação (Agexcom). Supervisão: Ao te ver pela primeira vez De tê-la comigo
professores Eduardo Veras e Thaís Furtado. Projeto gráfico: jornalista
Eu tremi todo Calar sua boca bonita
Marcelo Garcia. Diagramação: estagiário Marcelo Grisa.
Uma coisa tomou conta Com um beijo meu
Do meu coração Princesa, a deusa da minha poesia
Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS Com esse olhar meigo de menina Ternura da minha alegria
Av. Unisinos, 950, Bairro Cristo Rei - São Leopoldo/RS
Telefone: (51) 3591 1122. E-mail: unisinos@unisinos.br Me fez nascer no peito, esta paixão Nos meus sonhos quero te ver
Reitor: Marcelo Fernandes de Aquino. Vice-reitor: José Ivo E agora não durmo direito Princesa, a musa dos meus pensamentos
Follmann. Pró-reitor Acadêmico: Pedro Gilberto Gomes. Pensando em você Enfrento a chuva o mau tempo
Pró-reitor de Administração: João Zani. Diretor da Unidade de Lembrando os seus olhos bonitos Pra poder um pouco te ver.
Graduação: Gustavo Borba. Gerente de Bacharelados: Gustavo
Fischer. Coordenador do Curso de Jornalismo: Edelberto Behs.
3. Enfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Setembro de 2011 Mãos à obra 3
Para trilhar novos caminhos
O estudo poder abrir portas no mercado de trabalho formal. O Enfoque traz dicas de oportunidades de profissionalização
JULIANA DE BRITO (Texto)
MARINA CARDOZO (Foto)
U
m bom emprego pode parecer muito
complicado de encontrar nos dias de
hoje. Quando não se tem o ensino básico
completo, talvez seja mais difícil ainda. Por isso,
o estudo e a profissionalização são tão funda-
mentais para os jovens. Conforme estimativa do
presidente da Associação de Moradores da Vila
Brás, Claudemir Schütze, somente 10% dos habi-
tantes da vila dão continuidade aos estudos de-
pois de completar o ensino básico. A partir disso,
o Enfoque Vila Brás procurou oportunidades que
abrem as portas de quem pensa que entrar no
mercado de trabalho formal é impossível.
Obter uma boa colocação exige esforço e
qualificação. Algumas entidades oferecem cursos
e serviços que ajudam na construção do profis-
sional e nem é preciso pagar. Senai e Senac têm
capacitações em diversas áreas que dão possibi-
lidade ao jovem de prosperar com uma carteira
de trabalho na mão.
Em uma iniciativa do Sistema FIERGS por meio
do Senai e Sesi, a partir de novembro será pos-
sível inscrever-se no Programa Novos Horizontes
para o projeto que se inicia em fevereiro de 2012.
A intenção é oferecer iniciação no exercício de
uma profissão, como mecânica e elétrica, e pro-
mover novas atitudes de cidadania. Conforme a
auxiliar administrativa da unidade São Leopoldo
do Sesi Daniela Janaína de Oliveira, a seleção dos
candidatos se dá através de avaliações da situa- Quero ser
ção socioeconômica dos jovens. Como requisito,
é preciso ter entre 15 e 17 anos e escolaridade
eletricista
mínima de 5ª série do ensino fundamental.
O Senac também estabelece parceria com O mesmo aplica-se a área de
empresas para o programa Jovem Aprendiz. São elétrica. Existem muitas al-
cursos de aprendizagem comercial e de educa- ternativas dentro deste setor.
ção profissional técnica de nível médio, como Mas existem alguns requisitos
habilitações técnicas. O programa é realizado em gerais para trabalhar com isso:
parceria com diversas empresas. Dentre os re- Senac
quisitos, é preciso ter entre 14 e 24 anos e estar • Facilidade para visualiza de- portal.senacrs.com.br
matriculado em rede pública de ensino, sendo senhos de desenhos
ele médio ou técnico. A auxiliar administrativa • Noções básicas de esquemas Rua João Correa, 1350
do Senac Juliana Serdeira explica que o progra- elétricos Centro - São Leopoldo/RS
ma contrata os jovens com vínculo formal de tra-
balho e oferece diversas vantagens para quem
Quero ser • Interpretação de projetos
elétricos.
CEP: 93410-002
senacsleo@senacrs.com.br
estiver associado ao programa, dando todos os mecânico (51) 3590-3060
benefícios trabalhistas, como carteira assinada,
salário e vale-transporte. Atualmente, para trabalhar
Para quem anda cheio de dúvidas sobre a com mecânica não basta habil-
profissão que vai seguir, o Senac também ofere- idade manual e sensibilidade Senai
ce um serviço para quem se questiona sobre os no momento de diagnosticar e www.senairs.org.br
rumos da sua carreira e da sua vida. O Projeto resolver danos. Assim como em
de Vida do Estudante é um método de avaliação todas as áreas a exigência com Rua Theodomiro Porto da
que permite ao aluno conhecer suas potenciali- o profissional cresceu. Além de Fonseca, 706 - Fião
dades e fazer as suas escolhas, na sociedade e uma formação básica, o mer- São Leopoldo/RS
mercado de trabalho no cenário atual. cado de trabalho busca pes- CEP: 93020-080
Aos maiores de 18 anos que não concluíram soas que ambicionam sempre (51) 3592-3811
o ensino básico, uma boa dica é o programa Pro- mais conhecimento e foquem
jovem Trabalhador, que atua em parceria com os também em cursos segmen-
estados e municípios para promover a profissio- tados. São alguns requisitos
nalização dos jovens de famílias beneficiadas pelo prioritários para tornar-se um ProJovem
Programa Bolsa Família. Os cursos têm duração de mecânico: www.projovemurbano.gov.br
seis meses, mas o jovem precisa ser frequente e,
se tiver bons rendimentos, ainda terá uma bolsa • Conhecimento técnico Coordenação Municipal
auxílio de R$ 100 por mês como ajuda de custo. • Noções de informática, física sleopoldo.coordexe@
Não faltam cursos e opções para quem quer e matemática projovemurbano.gov.br
sair do mercado informal. Buscar especialização • Estudo e leitura de manuais e (51) 3592-2180
e qualificação é planejar o futuro. Fique ligado apostilas técnicas
nas oportunidades e busque saber mais sobre os
cursos que lhe interessam.
4. 4 Mãos à obra Enfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Setembro de 2011
Gente que
deu certo
Moradores contam como venceram na vida
PABLO FURLANETTO (Texto) emprego para os filhos. Hoje to-
DOUGLAS BONESSO (Fotos) dos trabalham, estão bem colo-
V
cados”, comenta.
encer na vida. É esse o pen- As histórias se repetem. O
samento de alguém que número de pessoas que vieram
passou por muitas dificul- de outras cidades para morar na
dades até chegar a um momento Vila Brás é grande. Maria Francis-
pessoal e profissional em que se ca Quadra Pereira, a Xica, deixou
considera realizado. Pode ser algo Bom Jesus em 1993, junto com a Dioclides e suas ferramentas Xica trabalha 12 horas por dia Alex assumirá o negócio da família
simples como sair do aluguel, mãe e mais cinco irmãos. Como
comprar seu próprio carro ou ter sempre gostou de estética e tra-
o próprio negócio. Não importa o balhou no ramo, há seis anos e fazer o melhor”. Além disso, é balho, o açougueiro conseguiu Se depender da família, o
tamanho da conquista, e sim, do abriu um salão de beleza. “É um preciso se capacitar. A cabelerei- montar seu negócio. mercado e açougue tende a
orgulho. sonho de infância”, revela. ra já participou de vários cursos, Para ele, batalhar bastante, crescer mais. O filho de Dalmo,
O pedreiro Dioclides Farias Conseguir manter o próprio inclusive em São Paulo. ter fé em Deus e união em famí- Alex Sandro Alves, de 19 anos,
de Mello, 62 anos, pode confir- negócio não é fácil. É preciso tra- Outro caso no qual o esforço lia é o segredo para as coisas da- quer concluir o Ensino Médio
mar isso. Morador da Vila Brás balhar muito. Xica abre o salão de proporcionou uma vida melhor rem certo. Junto com a esposa, para poder cursar Administra-
há 20 anos, Mello precisou cons- segunda à sexta, das 9h às 21h, e é o de Dalmo Alves de Andrade, o filho, a nora e o irmão, Dalmo ção e assumir o negócio. “Quero
truir muitas casas para dar uma diz que, se ficasse mais ou traba- proprietário do Mercado e Açou- acorda todos os dias por volta tocar as coisas por mim mes-
vida melhor para a esposa, Cla- lhasse no domingo, com certeza gue Müller. Natural de Itapejara das 6h e só vai descansar quando mo”, diz Alex.
risse, e os 13 filhos. Por isso, saiu teria clientes para atender. O se- do Oeste, no Paraná, Andrade a lua está bem alta. Foi com essa Esse é o espírito. Para quem
da cidade natal, Santa Rosa. “Lá gredo para o sucesso, segundo veio para o Rio Grande do Sul rotina que conseguiu comprar trabalha honestamente, um dia
era muito pequeno, não tinha ela, é “ter respeito pelo cliente com 18 anos. Após muito tra- uma casa para o pai no Paraná. o sol nasce.
Hora de recomeçar
DIERLI SANTOS (Texto) seu ex-marido, Alexsandro dos
LÍVIA SAGGIN (Foto) Santos, de 35 anos. Alexsandro
acredita que a atitude de sua ex-
“Depois que a gente para esposa é um grande incentivo
de estudar é muito, muito difícil para que os filhos não desistam
voltar”. Essa foi a constatação de da escola futuramente. Atual-
Jaqueline Pietro Batista, 33 anos, mente, todos estudam em um
que cursa o Ensino Fundamental mesmo colégio.
na Escola João Goulart. Jaqueline, No final do ano, Jaqueline pre-
que trabalha como vendedora, tende estar formada no Ensino
resolveu voltar a estudar depois Fundamental. E depois? “Eu que-
de 18 anos afastada. Largou a es- ria muito fazer o Ensino Médio,
cola aos 14 anos porque naquela mas aqui não tem, só no Centro”. Jaqueline: luta
época, para seus pais, isso não A distância, o preço das passagens para terminar
parecia importante. “Importante e o tempo que perderá longe dos todo o Ensino
era fazer o serviço de casa”, re- filhos são os fatores principais que Fundamental e o
lembra. Sobre quem larga a es- a desestimulam a continuar a es- sonho em cursar
cola hoje, ela teoriza. “A pessoa tudar. “Se tivesse aqui na Brás, eu o Ensino Médio
para de estudar hoje em dia por- continuaria direto. E sei que mais na Brás
que tem compromisso. É muito gente também”, afirma.
difícil conciliar filhos, trabalho e o Seu ex-marido também pla-
resto das obrigações.”
Mas por que voltar agora?
neja voltar aos estudos em bre-
ve. Apesar de ter organizado os
Ensino incompleto
“Hoje meus filhos estão grandes, documentos necessários para se Em 2011, 180 alunos estão matriculados so de credenciamento e autorização para a
vão à escola. Eu queria ter volta- matricular esse ano, devido aos no curso de Educação de Jovens e Adultos da implantação do curso completo está na 2ª
do há mais tempo, mas precisava horários de seu trabalho, em uma Escola Municipal de Ensino Fundamental João Coordenadoria Regional de Educação, aguar-
cuidar deles”, explica. Jaqueline fábrica em São Leopoldo, ele não Goulart. Por ser municipal, a escola não tem dando a conclusão das obras do laboratório
acredita que essa é uma das prin- conseguiria chegar no horário das autonomia para obter o Ensino Médio. A Es- de Ciências para realizar a verificação na es-
cipais dificuldades nessa hora. aulas. Alexsandro, que estudou cola Estadual de Ensino Fundamental Firmino cola. A assessoria informa que, depois disso,
Segundo ela, no horário das au- até a 8ª série, afirma que, após a Acauan, localizada próximo à Brás, poderia poderá instruir o processo de credenciamen-
las, há poucas opções para cuidar formatura de Jaqueline, será sua ser a solução para os moradores que desejam to e autorização junto ao Conselho Estadual
das crianças. Quem aceita esse vez de concluir. “Não adianta, sem completar seus estudos, mas também não de Educação do Rio Grande do Sul (CEED/RS),
horário, cobra muito caro. Hoje estudo a gente não é nada. Espero dispõe de turmas além da 8ª série. Segundo que dará o aval para o funcionamento do En-
quem acompanha seus três filhos que meus filhos também pensem a Secretaria Estadual da Educação, o proces- sino Médio na escola.
no turno em que está em aula é assim e não desistam”, finaliza.
5. Enfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Setembro de 2011 Mãos à obra 5
Barba, cabelo e bigode
A barbearia Dailor é a mais antiga da vila. Há 18 anos, atende de segunda a sábado dezenas de clientes
Júlia Klein (Texto)
Marina Cardozo (Foto) Um causo - Barbeiro que
S
se preze tem história. E assim
eu Dailor mora há 20 anos na acontece com seu Dailor. Cer-
Vila Brás. Já teve várias ocu- ta vez um cliente sentou em
pações, mas a profissão de sua cadeira e pediu que fosse
barbeiro, que exerce há 18 anos, feita a barba completa. Em
foi a que sempre lhe deu mais seguida, o senhor, que já apa-
prazer. Além de conhecer muita rentava bastante idade, es-
gente e ouvir várias histórias, Dai- tava com o rosto coberto de
lor Gomes da Rosa se orgulha em espuma. Navalhada aqui e ali
dizer que mantém alguns clientes e em poucos minutos o rosto
que atende desde criança. Hoje estava lisinho. De repente,
eles levam seus filhos para cortar Dailor ouve um grito. O clien-
o cabelo na barbearia. “Atendo te ficou assustado ao se olhar
famílias inteiras e os guris vão no espelho. O problema é
crescendo, viram homens, têm fi- que ele chegou tão distraído,
lhos e os trazem aqui para cortar que esqueceu de pedir para o
comigo”, comenta. barbeiro manter o bigode. Foi
O barbeiro, de 53 anos, é ca- quando o cliente comentou
sado e tem cinco filhos. Um deles com seu Dailor: “Esse bigode
está fazendo curso de cabeleireiro tinha mais de 60 anos e agora
e deve se formar ainda esse ano, fiquei liso feito um guri”!
mas pretende abrir seu próprio Virlei Somavila vem de Dois Irmãos para cortar o cabelo com Dailor na Vila Brás
negócio. Aos domingos, quando
o comércio está fechado, Dailor
gosta de ir à Igreja com a família. Cliente fiel - O estudante Virlei Somavila, 16 anos, Serviço
Um dos planos do profissional é vem de Dois Irmãos especialmente para cortar o cabe- Barbearia Dailor (Avenida Leopoldo Wasun, s/nº)
se aposentar em 2012 e aprovei- lo com Dailor. O jovem aproveita que a namorada mora Atende de segunda a sexta, das 9h às 11h30min e das 14h às 19h. Aos sábados,
tar melhor os finais de semana, em São Leopoldo e, antes de visitá-la, passa na barbe- das 7h30min às 12h e das 13h30min até o último cliente. O atendimento é feito
já que sábado é o dia de maior aria para se preparar. “Venho sempre aqui porque seu por ordem de chegada.
movimento no salão e, na maio- Dailor é o que melhor corta meu cabelo. Apareço mais
ria das vezes, não tem hora para o ou menos uma vez por mês”, conta. Preços: Corte R$7 / Barba R$5 / Criança R$6 / Máquina R$5
expediente acabar.
Do centro para a periferia
Lorena Risse (Texto) mais três profissionais além deles. 19h e das 9h30min às 12h30min,
NATACHA OLIVEIRA (Foto) A partir desse cálculo, feito pelo respectivamente, e a satisfação
computador, eles conseguem é grande. “Me sinto realizada,
A Vila Brás conta com mais identificar as comunidades que, primeiro, porque eu gosto do
de 14 mil habitantes. Essa esti- por algum motivo, não receberam que eu faço, e, segundo, porque
mativa é da Associação de Mo- nenhum serviço jurídico do grupo. a gratidão dessas pessoas, mui-
radores do bairro. Corresponde A partir daí os advogados são es- tas vezes, é muito maior do que
a algo maior do que muita ci- calados e passam a atuar duran- as que recebemos lá no centro.
dade por aí. Em meio a tantas te dois dias da semana no bairro Os problemas são diferentes e o
pessoas, uma se destaca por um mapeado, informando, prestando serviço diferenciado”.
motivo curioso: não faz parte da serviços e ajudando muita gente. Semanalmente chegam a
comunidade, mas optou por tra- “Aqui na Vila nós temos casos de passar até 30 clientes pelo escri-
balhar nela. Esse é o caso de Le- pessoas que não poderiam ir até tório. As causas são, na maioria
tícia. A advogada de 32 anos tem o centro da cidade e nem pagar das vezes, previdenciárias, tra-
um projeto consciente com mais por um advogado. No nosso caso balhistas, indenizatórias e revi-
três colegas de profissão. Trata- estamos aqui dando informação sões bancárias. Os honorários
se de atendimento jurídico aos e ajudando nos casos que encon- são cobrados de acordo com a
moradores da Vila Brás por um tramos”, revela Letícia. tabela dos advogados, mas com
preço “amigo” e com garantias Ela já trabalhou com pes- aquela condição de ser só no fi-
de sucesso. “Nós, na verdade, soas carentes antes mesmo da nal do processo.
só cobramos se obtivermos êxito formação. Na Unisinos, quando Neste espaço modesto, com
no final do processo, caso con- universitária, participava do Nú- apenas duas cadeiras e uma
trário a pessoa não nos paga os cleo de Práticas Jurídicas, que mesa, Letícia descobriu outra Vila
honorários”, informa Letícia. prestava serviços para a comuni- Brás, com pessoas honestas e
O projeto surgiu a partir do dade de baixa renda da região. A que precisam de um pouco mais
mapeamento de dados dos bair- experiência contribuiu para que de atenção: “Não é o que eu pen-
ros que não eram atingidos pelo ela seguisse no caminho e conti- sava. Aqui tem pessoas trabalha-
serviço dos advogados em São Le- nuasse a ação de alguma forma. doras que, muitas vezes, não tem
opoldo. O escritório original fica Hoje, o atendimento é às sextas- condições de conseguir ajuda,
no centro da cidade e conta com feiras e aos sábados, das 15h às Apesar do escritório modesto, Letícia acaba ajudando muita gente por isso a gente está aqui”.
6. 6 Lar, doce lar Enfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Setembro de 2011
Maiara: uma vida de superação
Apesar de possuir uma séria doença no crânio e passar os dias lutando contra o problema, a menina não deixa de lado as brincadeiras
PRISCILA GOMES (Texto) desistindo de estudar no EJA (Educa-
TAMIRES FONSECA (Foto) ção de Jovens e Adultos) para poder
B
cuidar dela. Sorte que Luciano é um
rincar de boneca, correr pelo pá- pai exemplar para ela, está sempre
tio de casa com os cachorros e ajudando”, relata. A expectativa é que
assistir ao desenho da Turma da quando Maiara completar 12 anos,
Mônica são os passatempos favoritos ela coloque pino e platinas na cabeça
de Maiara Stabel Timóteo, de 6 anos. para auxiliar no tratamento.
A menina, que mora com a família na Falar da filha é motivo de emoção
Vila Brás, contagia os vizinhos com sua para Ivonete, que não conseguiu con-
energia. Porém, seu largo sorriso es- ter as lágrimas durante a entrevista
conde a luta contra uma séria doença. com a reportagem do Enfoque. “Ela
Ela nasceu com cranioestenose, que é é uma criança admirável. Passa por
o fechamento prematuro de uma ou muitas dificuldades para uma meni-
mais estruturas cranianas. O proble- na da idade dela, mas, mesmo assim,
ma faz com que o crânio se modifique está sempre sorrindo e nunca reclama
e o cérebro não cresça normalmente. de nada”, ressalta. Maiara ainda não
A mãe, Ivonete Stabel, 32 anos, frequentou a escola. Mas, em 2012,
conta que a filha passa por muitas difi- ela está ansiosa para pegar a mochi-
culdades. “Com 1 ano e 8 meses ela foi la e conhecer os colegas do primeiro
submetida a uma cirurgia na cabeça de ano. A irmã Mariana, de 10 anos, já
seis horas de duração e teve, ainda, que tem planos para os estudos. “Já com-
levar 48 pontos no local”. Após o proce- binamos que vamos passar o recreio
dimento, o crânio de Maiara já aumen- juntas”, conta.
tou seis centímetros para o lado esquer- Maiara é adorada por muitas pes-
do. A dona de casa conta que a rotina soas. A vizinha Júlia dos Santos acom-
não é fácil. É um corre-corre a hospitais. panha a rotina dela e cuida da jovem
“Vivemos em função de exames. Saí- quando necessário. “Ela é uma meni-
mos de madrugada da cama para ir em na muita querida e comportada. E a fa-
busca de consultas”, salienta. mília? Além de serem unidos, eles são
Muitas vezes, o mundo de ima- guerreiros”, destaca. Com olhares ex-
ginação das brincadeiras de Maiara pressivos, a pequena conversa e acha
precisa ser interrompido devido a graça em pequenas coisas. Ela contou
fortes dores de cabeça, que apa- de suas aventuras no pátio e de como
recem constantemente. “Quando gosta dos cachorros de estimação. “A
isso acontece é preciso logo tomar única coisa que me incomoda é a ca-
remédio. Eu não trabalho e acabei Maiara divide a rotina entre consultas em hospitais e momentos divertidos pela casa beça. Fora isso, eu sou feliz.”
Gurizada bem cuidada
MARCELO FERREIRA (Texto) a que horas vamos ir”. Já há dois anos
STÉFANIE TELLES (Foto) deixando a filha aos cuidados da famí-
lia, Regina vê na responsabilidade um
Na sala de estar, dona Vera troca bei- dos principais motivos da confiança.
jos e abraços com Kevin, que a chama Ao mesmo tempo, confessa que, caso
carinhosamente de “vó”. Na rua, Vilson houvesse vaga na creche municipal, te-
brinca com Raica na casinha de madeira ria feito esta opção. “Minha filha já está
que ele mesmo construiu para a gurizada. com quatro anos e na creche se trabalha
E isso só porque é sábado. Se fosse um dia também a alfabetização”, destaca.
de semana, a casa estaria ainda mais viva, Atualmente, a família que mora na
cheia de crianças. Histórias como essa são Rua P, número 100, cuida de cinco crian-
exemplos da arte de lidar com as dificulda- ças. Mas os planos são de expansão.
des que a vida traz. “Quero construir um balanço e aumentar
Com apenas 140 vagas na única cre- algumas coisas por aqui. Pela lei, pode-
che municipal da Vila Brás, muitas famílias mos cuidar de até 10”, conta Vilson. A
encontram em pessoas como Vera Lúcia mãe ou o pai que queira deixar seu filho
da Silva de Leite, 42 anos, e Vilson Ribeiro lá por meio turno, de segunda a sexta,
Leite, 47, uma alternativa para deixar seus paga R$ 120. Dia inteiro sai por R$ 170,
filhos em segurança durante o horário de Dona Vera abraça Kevin na sala de estar que virou creche enquanto os sábados têm preços a com-
trabalho. A creche em casa é um trabalho binar, já que a família também carece de
em família e uma forma de complementar Sempre no meio da criançada, foi tra- não maltratar. Às vezes meus filhos chegam um tempo para si. Para eles o valor não
a renda. Os filhos do casal, Mirian, de 20 balhando na escola bíblica da Assembleia a ter ciúmes, mas tenho que ter responsa- é caro: “cuidar de criança dá trabalho,
anos, e os gêmeos Matheus e Maiara, de de Deus que, há sete anos, dona Vera as- bilidade com as crianças”, diz. Quando um exige responsabilidade. Não é qualquer
13, também ajudam. “Às vezes um deles faz sumiu a responsabilidade de cuidar da pri- deles deixa a creche, é a saudade que fica. um que possui as condições psicológicas,
a comida e o outro brinca”, comenta Vilson, meira criança. Desde então, foram muitas, Regina Toledo Chardosino, de 46 e ainda existem os custos com a refeição
que pega junto na creche fora do horário de algumas por pouco tempo, outras por mais. anos, mãe de Raica, conta que sua filha diária”, avalia Vilson seriamente antes de
trabalho, entre o entardecer e o começo da Para ela, os laços afetivos são naturais. “É gosta muito de ir para a casa de dona sorrir, ao lembrar de como fica a casa no
madrugada, numa metalúrgica. como se fosse um filho, tenho que cuidar e Vera: “Está sempre me perguntando horário de almoço: “uma bagunça!”
7. Enfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Setembro de 2011 Estilo 7
Vestida para uma emergência
Confira as novidades do mundo fashion na Vila Brás
THAYNÁ CANDIDO (Texto) loja Shirlei Dreyer. Lá você tam-
DANIELA SGRILLO (Fotos) bém encontra roupas perfeitas
Q
para a balada: vestidos de onci-
ue a Vila Brás é cheia de lo- nha, blusas em renda, transpa-
jas de moda todo mundo rências e saias incríveis.
já sabe, o que os morado- Você também pode se ins-
res talvez não tenham visto é que pirar em grandes grifes na hora
as tendências de inverno 2011 de montar uma produção. Na
estão super em alta na maioria loja Estilo Chick, marcas como
das lojas da Avenida Leopoldo Lacoste e Dolce & Gabbana di-
Wasun. O Bazar Lolo é daquelas videm as araras com lançamen-
lojas onde a gente encontra de tos de verão, mas sem aqueles
tudo. Sabe uma emergência? preços caríssimos! Aqui na Vila
Pois bem, é lá que você vai en- Brás os preços são bem mais
contrar o que precisa para resol- amigáveis do que as lojas de gri-
ver qualquer problema de última fe em grandes shoppings. A pro-
hora. Além disso, tudo que rola prietária Edicléia Batista aposta
de atual no mundo da moda você nas estampas florais e cores for-
encontra por lá, desde cadarços tes para a próxima estação. Mas
super coloridos (seguindo a ten- para quem ainda está no clima de
dência happy-rock), cintos largos inverno, os descontos são tenta-
trançados que caem bem em dores! “Temos blusas Lacoste a
qualquer produção, sapatilhas R$ 10,00 e toda a coleção está
bacanas no melhor estilo “melis- com desconto. Se for à vista, o
sinha” e, claro, muitos acessórios desconto é ainda maior!”, afir- Os cadarços mais procurados pelos jovens: modelos coloridos seguindo a moda happy-rock
para compor uma produção per- ma Edicléia, que abriu as portas
feita. O melhor de tudo? O Bazar de sua loja há apenas um ano e
Lolo fecha suas portas somente está muito feliz com o resultado
às 21h, ou seja, quebra-galho até das vendas.
depois do expediente! Viu só? Não precisa ir muito
Para os rapazes que preci- longe para aderir ao bom-bonito-
sam ir a uma festa bacana, uma barato. A Vila Brás tem lojas para
gravata é a solução para arre- todos os gostos e bolsos, que é
matar o look arrumadinho. Para para ninguém fazer feio quando
isso, nada além de R$ 4,99 são o assunto é tendência de moda.
necessários na loja Bazar Gaby. Serviço: O Bazar Lolo está pro-
Ali você encontra gravatas bási- curando atendentes com expe-
cas em diversas cores por me- riência. Se você tiver mais de 17
nos de R$ 5 que é para ninguém anos e não estiver estudando, en-
pagar mico naquela formatura tregue seu currículo na loja, que
ou casamento. fica na Avenida Principal, 1181.
Se você não aguenta mais o
frio e os casacões, na loja Mais
e Mais Moda já chegaram os lan-
çamentos da moda Verão 2012. Calças jeans
Uma tendência? “Com certeza os e bonés de
shortinhos jeans, pois no inverno diversas marcas
a peça pode ser usada com meia- dividem as
calça e no verão com as pernocas araras nas lojas
de fora”, afirma a vendedora da da Vila Brás
Arrecada-se, vende-se e doa-se
RITA TRINDADE (Texto) tem 67 anos, mora na Brás des- ponsável pelo Brechó Comunitário, tem muitos brechós na Vila Brás,
de o início da vila e se orgulha arrecada e vende as peças por um mas somente o Brechó Comuni- Fique por dentro
Em uma pequena sala com muito por ter participado de to- valor simbólico de R$ 0,50 ou R$ 1. tário da Igreja Cristo Rei realiza
pouca iluminação, ao lado da das as lutas e conquistas que os Em situações de emergência, ela doações. “Recebemos doações O Brechó Comunitário da
Igreja Cristo Rei, na Avenida Le- moradores do local passaram. também realiza doações. “Todas da própria comunidade da Vila, e Igreja Cristo Rei está aber-
opoldo Wasum, Maria Vilma Viúva há quase 30 anos e, desde as peças têm esse valor, sejam rou- também da Secretaria Municipal to todos os sábados, das 8h
Lesbão, Dona Maria, como é co- então, dedicada ao trabalho so- pas, sapatos, bolsas, e estão todas de Assistência Social de São Leo- 30min às 11h e arrecada do-
nhecida, se diverte e encanta aos cial, ela se divide entre trabalhar em ótimo estado. Normalmente eu poldo”, conta. Além de doar para ações durante todo o ano.
frequentadores do Brechó, con- no Brechó Comunitário da Igreja vendo, mas em situações especiais, a comunidade, o Brechó Comu- As peças são boas e com va-
tando suas histórias, tomando Católica Cristo Rei e atuar como ou quando as pessoas precisam nitário também realiza doações lor super em conta.Qualquer
chimarrão e costurando algumas ministra da palavra na igreja. muito e não têm dinheiro, eu dou para duas entidades assistenciais peça do Brechó sai por ape-
peças de roupas que chegam até Todo sábado de manhã, das com muito carinho”, explica ela. da cidade, a Pastoral da Criança e nas R$0,50 ou R$ 1.
ela em mau estado. Dona Maria 8h30min às 11h, Dona Maria, res- Segundo Dona Maria, exis- o Pensionato São José.
8. 8 Ensaio fotográfico
Toda f
houver ne
Vila Brás concentra dezenas de dife
Eduardo Saueressig (Texto) fazem parte dos adventistas
ANGELO DE ZORZI (Fotos) na vila. Outra instituição que
A
possui o mesmo número de
Vila Brás reúne mais de participantes é a Congregação
40 igrejas, o que talvez Consenista Batista Betel.
seja um número bem Já a Igreja Católica conta
elevado, levando-se em con- com três capelas no bairro. O
ta a população local, em tor- padre vai uma vez por sema-
no de 14 mil pessoas. Dentre na em cada uma para fazer as
essas igrejas, há de diferentes missas e prestar atenção aos
tipos e conceitos. fiéis. Segundo a catequista
rro de Jesus
tal Pronto Soco É voz corrente que as pes- católica Vani Neves Seimetz,
Igreja Pentecos soas se agarram muito na fé hoje em dia a procura pela re-
para continuar tocando a vida, ligião está muito mais forte do
e, com isso, cada vez mais que nos últimos anos: “Temos
igrejas e seitas surgem em em torno de 20 alunos na tur-
tudo quanto é lugar. Na Vila ma de catequese. Antes, eram
Brás, não é diferente. quatro, cinco apenas”.
Um exemplo é a Igreja Ad- A Associação de Morado-
ventista do Sétimo Dia, que res da Vila Brás confirma que
venera o sábado e, por isso, existem mais de 40 igrejas na
faz seus cultos neste dia. Líde- vila. Não é um número tão ab-
res da comunidade adventista surdo: dá uma média de 300
da Vila dizem que as pessoas pessoas por igreja. Claro que
procuram muito a igreja. a maioria das instituições tem
Em torno de 40 pessoas em torno de 40, 50 pessoas,
Congregação Co
nservadora Ba
tista Betel
riana do Brasil
Igreja Presbite
Congregação da
9. Enfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Setembro de 2011
9
fé que
essa vida
erentes igrejas e templos religiosos
mas, mesmo assim, são muito queses e trabalhos feitos aos
importantes de acordo com os finais de semana para divertir
líderes das mesmas. as crianças frequentadoras.
A Igreja Católica está agora Em contrapartida, nem todos
buscando retomar seu espaço os moradores estão em algu-
na localidade, através de cate- ma dessas igrejas.
Assembleia de
Deus
As duas igrejas católicas com atividade na Brás (acima e
abaixo) recebem a visita do padre apenas uma vez por semana
m
Reino Odé e Oxu
Igreja Cristã Pe
ntecostal Missã
o Mundial
10. 10 Onde eu moro Enfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Setembro de 2011
Uma vida menos lilás Após perder o marido,
Marli quer vender a casa e
ir em busca de outras cores
Natália Vitória (Texto)
Bruna Vargas (Foto)
O
Enfoque de outubro/novem-
bro de 2010 trouxe em sua
capa a foto de Marli Kurtz, 56
anos, e de sua casa lilás, localizada na
Rua 12. Naquela edição a colega Da-
niela Fanti contou a história da senho-
ra que tinha orgulho da casa que ela
mesma pintou.
Ao chegarmos à Vila Brás este ano
para realizar nova série de reportagens,
ficamos surpresos com a notícia de que
a casa estava à venda. Imediatamente
fomos tentar descobrir qual era o moti-
vo. Dona Marli explicou que está viúva
e, após a insistência dos filhos, pensou
em se mudar para Osório, onde deve
morar com uma de suas filhas e os ne-
tos. Ao ser questionada sobre sua de-
cisão a voz estremeceu e disse: “Estou http://enfoquev
ilabras.blogspot.
com
com dois corações, me sinto bem nes-
CARINA MERSONI
ta casa, minha vida continua normal,
não vai mudar para preto”. Marli alu- VILABRÁS
gou um quarto no segundo andar da outubro / novem
2010
bro
casa para uma senhora e outra peça,
distribuição
gratuita
edição 124
localizada nos fundo do imóvel, está
Correspondência
Unificação de
embaralha ende rua
reços
locada para um senhor. > PÁGINA 3
Realidade
Vários interessados já procura-
Sem creches,
não podem traba mães
lhar
Marli, que foi capa da
> PÁGINA 6
ram pela aposentada, mas nenhuma ziam festas, era amarelo, reforma- própria vida, a rotina dela não mu- Beleza
Moda e economia
proposta foi fechada. A dona de casa mos tudo juntos”. dou. Canta no coral da igreja, vai à edição 124 do Enfoque,
andam juntas
faz questão de contar que a reforma Enquanto respondia às nossas missa e cuida das plantas. Mesmo pretende desfazer-se de A vida em
lilás
Na casa de Marli
foi feita com a ajuda do companheiro perguntas, Marli já estava pensando estando com a casa à venda, Marli sua residência colorida
Kurtz tudo tem
a mesma cor,
fruto de uma
paixão que já
que viveu quatro anos ao seu lado: no que iria fazer de almoço. Apesar segue cuidando com devoção e cari-
ultrapassa duas
décadas
> PÁGINA 11
> PÁGINA 10
“Isto aqui era um salão onde se fa- das mudanças na casa, e em sua nho de seu lar.
Osmar tem medo de perder a chácara
VITOR PEREIRA (Texto)
GREICE NICHELE (Fotos)
Vila Brás, com seus mais 14
mil habitantes, já é praticamente
uma cidade dentro de São Leopol-
do. “Antes só tinha algumas casas.
Agora eu luto para manter o meu
cantinho”, diz Osmar Silva, que cria
animais e faz disso sua fonte de
renda. Ele se define como “uma
pessoa com pouco estudo” e, que
só sabe lidar com os bichos.
Osmar é natural de São Leo-
poldo e ainda criança passou a Materiais de construção do loteamento estão no terreno de Osmar
morar na Vila Brás, onde conhe-
ceu Silvana Machado, sua espo-
sa. Hoje, com 55 anos, ele tem será de sua filha, Edimara. Mas e eles foram obrigados a mudar
uma chácara na Rua 26, Beco 1. ele não nega que está preocu- de endereço. Na Rua 26, mes-
No lugar, que chama de cantinho, pado em perder o seu espaço. mo tendo vizinhos que também
Osmar cria cavalos, vacas, gali- Teme que as obras alcancem criam animais, se preocupam em
nhas e porcos. Um lugar simples, seu terreno ou que algum futu- manter a limpeza do local. “Lim-
mas ao mesmo tempo diferente, ro vizinho reclame dos animais. pamos as cocheiras todos os dias
passa a sensação de que você “Tudo que eu quero é continuar e colocamos a sujeira nos tonéis
está na área rural da Vila Brás. nesse lugar. Aqui todos me co- que são recolhidos nas segundas,
Atrás da chácara, estão er- nhecem, daí fica fácil de vender quartas e sextas”, explica Osmar.
guendo um loteamento. A cons- leite, ovos e porcos”, diz. A única ajuda que o casal recebe
trutora inclusive aproveitou o Silvana conta que o casal já para alimentar os bichos é a da
terreno de Osmar para deposi- morou na Rua R, da Vila Brás, Trensurb, que leva até a chácara
tar materiais. Ele fica feliz com o mas, por causa do asfalto, o nú- alimentos que sobram das refei-
progresso, aliás, uma das casas mero de moradores aumentou ções dos funcionários. Silvana e Osmar chamam de “cantinho” o imóvel da Rua 26
11. Enfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Setembro de 2011 Gente 11
Fazer o bem sem olhar a quem
Doze anos depois de perder a visão, Leandro supera seus desafios com bom humor e com a ajuda dos familiares e amigos da Vila Brás
LILIANA EGEWARTH (Texto) Leandro participa como locu-
SAMANTHA GONÇALVES (Foto) tor da rádio comunitária Feitoria.
N
Começou a frequentar por incen-
a primeira vez que quis tivo do amigo Bruno, mais conhe-
sair de casa depois de cido como Laranjinha, também
ter perdido totalmente deficiente visual. Leandro passou
a visão, Leandro foi chamado a encarar a vida de uma forma
de louco por sua mãe. Apesar diferente quando se abriu para o
disso, não desistiu da ideia. A mundo e ao conviver diariamen-
mãe, mesmo muito contrariada, te com pessoas que possuem as
acompanhou o filho até a para- mesmas dificuldades encontra-
da de ônibus. A partir de então, das por ele.
Leandro Lemos não se intimidou Essa história de grandeza e
mais em sair de casa apesar de superação não parou por aí. Hoje,
sua deficiência. freqüenta a Associação Brasileira
Um pedaço de serragem atin- dos Deficientes Visuais (Abrade-
gira o olho do jovem rapaz, que vs), onde realizou um curso de
naquela época tinha apenas 17 informática e aprendeu a utilizar
anos. Com o passar dos anos, os diversos programas. Segundo Le-
dois olhos foram afetados e ele andro, usar o computador é um
perdeu completamente a visão. de seus momentos favoritos en-
Durante sete anos, o jovem ficou quanto está em casa.
apenas dentro de casa, revoltado Além de locutor, Leandro
com o mundo por ter perdido um trabalha como autônomo, no
dos sentidos mais importantes centro da cidade de São Leo-
na vida. O resultado foi a chega- poldo, e também é proprietá-
da de uma depressão. Mas, com rio de um minimercado no pró-
a ajuda de amigos e familiares, prio bairro.
agora, aos 29 anos, diz ter dado Muitas coisas mudaram. No
a volta por cima e ter conseguido entanto, Leandro diz que não se
reconstruir a sua vida. É pai de considera cego e complementa:
Cauê Isael de apenas 6 meses de “Há muitas pessoas que pos-
vida. Um garoto lindo e saudável. suem a visão perfeita e que nada
O xodó do pai. veem, ao contrário de mim”. O filho Cauê, de seis meses, é mais um incentivo para a luta diária de Leandro, que perdeu a visão aos 17 anos
Um novo jeito de enxergar a vida
VIVIANE BUENO (Texto) Hoje, só enxergo vultos”, conta. obstáculos que a falta de visão ge- do a ser escrita em sua vida. O pri- de aulas de violão, flauta doce e cozi-
SAMANTHA GONÇALVES (Foto) Foram mais de 12 meses en- rou. “Tive que reaprender a viver. meiro passo foi encarar as ruas. Era nha de solidariedade. “A expectativa
tregues à depressão. Ele conside- Cada pedra no meu caminho eu preciso dominar o medo e ativar os é de que a ONG comece a funcionar
Ele tinha a visão perfeita. Gos- rava essa etapa de sua vida como juntei e construí um novo alicerce’, outros quatro sentidos que estavam de fato no início de outubro. Com
tava de frequentar muitas festas. um verdadeiro terremoto, no qual afirma Laranjinha. intactos. Com a audição aguçada, a a instituição, faremos uma corren-
Mas, aos 21 anos, o dia que tinha precisou contar com a ajuda de Depois de vencer a depressão, autoconfiança voltou aos poucos, e te para resolver os problemas das
tudo para ser lembrado como trá- familiares e amigos para vencer os uma nova história estava começan- o que antes era visto como empeci- pessoas. Precisamos proporcionar
gico, mudou os rumos de sua vida. lho passou a ser uma lição de vida. uma vida digna para os deficientes
Bruno Garcia é o nome verdadeiro “Tive que sair sozinho na rua, cair, físicos”. – enfatiza Laranjinha.
dele, mas é mais conhecido pela me machucar, pra perder o medo”, Hoje, aos 50 anos o pai de fa-
comunidade como Laranjinha. Aos revela. mília com um sorriso cativante
21 anos, teve a visão danificada Presidente por três anos da orgulha-se de relembrar a própria
em uma briga com um adolescen- Abradevs (Associação Brasileira dos história. Com um bom humor de
te que durante uma festa mordeu Deficientes Visuais) viu na solidarie- dar inveja, Laranjinha fala que ado-
seu olho. “Nós rolamos no chão, dade uma forma de ajudar as pes- ra desafios e que se considera uma
e como mecanismo de defesa, ele soas com algum tipo de deficiência pessoa realizada. “Eu gosto de ser
acabou atacando meu olho direito física. Além de participar da associa- cego. Há o lado bom e o ruim disso.
e o mordeu”, lembra. ção, Laranjinha, criou programas de O ruim é que não vejo as mulhe-
As consequências mais graves rádio com a finalidade de angariar res bonitas. O bom é que também
dessa fatídica noite vieram algum recursos, por meio da ajuda de ou- não vejo as feias”, brinca. Como um
tempo depois. Logo após a mordi- tras pessoas para comprar benga- verdadeiro exemplo de superação,
da, cerca de 70% da visão do olho las, cadeiras de roda e andadores. Laranjinha atribui as conquistas
atingido de Laranjinha ficou com- “Descobri que eu também posso ser obtidas ao longo do caminho à sua
prometida. Dezoito anos depois, solidário, que podia contribuir com família, em especial à esposa. “Sou
uma série de complicações, envol- minha história” casado há 29 anos. Se hoje venci
vendo três tipos diferentes de infec- O mais novo projeto agora é a os obstáculos é porque tive minha
ções, fez com que Laranjinha per- ONG Uma Nova Visão Social, que vai mulher para me ajudar. Tenho uma
desse a visão total dos dois olhos. oferecer cursos para a comunidade, riqueza visual. A cegueira não é o
“Tive problemas no nervo ótico, envolvendo os conhecimentos de problema, e, sim, a solução. Evolui
além de dois derrames oculares. Com bom humor, Laranjinha supera as dificuldades do dia a dia braile, grupos de convivência, além como ser humano”, finaliza.
12. 12 Cachorrada Enfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Setembro de 2011
À espera por
atendimento
Atropelado por ônibus, cão sofreu três dias de agonia
sem receber socorro oficial e teve que ser sacrificado
NATÁLIA GAION (Texto) recolher o cão. Outras três ligações
BRUNA VARGAS (Foto) foram feitas e até sábado, quando a
D
reportagem esteve na Vila, Pretinho
e noite Pretinho saiu por uma ainda não havia sido recolhido.
fresta do portão da casa 71 da “Pretinho é um cão bobão, meigo
Rua 4 no Loteamento Brás 3. e está velhinho, tem quase 10 anos.
Perdido, foi parar na Avenida Leopol- Ele está sofrendo, precisamos dei-
do Wasun, onde acabou atropelado xar o pote de comida e água ao lado
por um ônibus da Sinoscap. dele, para que consiga se alimentar”,
Silvane Cavalheiro, 36 anos, cabe- salientou Mariglei Alves Isbarrola, 42
leireira e manicure, presenciou o atro- anos, que é dona do cão.
pelamento e recolheu o cãozinho. Sua Preocupada com o bem-estar
primeira ligação foi para o Canil Muni- do cachorro, que ficava em um pátio
cipal de São Leopoldo, que informou com muita água, Mariglei autorizou Ferido, Pretinho foi transferido de um pátio alagado para um cantinho mais seco e confortável
não ter plantão e que poderia atender Silvane e Adriana a levar Pretinho
ao chamado apenas no dia seguinte. para um abrigo melhor. “Não temos
Pretinho passou a noite de baixo muito tempo para cuidar dele. O ideal O que diz o Canil: Como funciona
do toldo de uma loja ao lado da casa de era que o Canil recolhesse, não temos
Silvane. Ela não o acolheu com receio como cuidar do Pretinho”, relatou. O funcionário municipal André Marinho rece- O Canil Municipal de São Leopoldo é
de que seus cachorros o agredissem. No sábado pela manhã, o pastor beu o chamado do pastor Perci Pereira na noite um órgão gerenciado pela prefeitura do
Mas providenciou remédio, água e Perci Pereira, 48 anos, fez novamente de quinta-feira informando sobre o atropelamen- município. Foi criado em 5 de junho de
comida. “Ele parece ter quebrado três contato com o Canil, que informou to de Pretinho. O motorista reforçou que gosta- 2009. Tem por finalidade atender animais
patinhas, porque não consegue andar que tentariam recolher o cão no sába- ria muito de atender a todos os pedidos, porém em situação de abandono e maus tratos e
e nem se mexer”, ressaltou Adriana de do. Pretinho passou sábado e domin- há muitos trotes e chamados para cães que têm realizar, principalmente, castrações.
Fraga, 40 anos, proprietária do bar em go aguardando atendimento do Canil. dono: “O Canil Municipal funciona para atender
frente ao local do acidente. Precisava de cuidados médicos. Ao fi- cachorros de rua. Acontece muito de chegar ao Endereço: Estrada do Socorro, 1.440,
O segundo contato com o Canil foi nal da tarde de domingo, uma vizinha local e o cachorro ter um dono. Não posso levá- bairro Arroio da Manteiga.
por volta do meio-dia de sexta, quan- de Adriana conseguiu um veterinário lo”. O funcionário do canil ressalta ainda que o Horário: de segunda a sexta das 8h às 12h
do informaram que o motorista es- voluntário que o examinou. Não hou- atendimento é feito por ordem de protocolo e e das 13h30min às 17h30min.
tava saindo para resolver problemas ve alternativa: mais um animal teria confessa que não conseguiu atender ao caso do Telefone: (51) 3572-0320 ou 9739-3491
internos da entidade e que, talvez, que ser sacrificado por falta de aten- Pretinho também por falta de tempo. E-mail: canil@saoleopoldo.rs.gov.br
à tarde, pudessem mandar alguém dimento imediato.
Violência contra animais assusta
RITA TRINDADE (Texto) é grande pois, misteriosamente, vários ciência e façam essas atrocidades com
LISIANE MACHADO (Foto) cães apareceram mortos nos últimos me- os animais. Fiquei muito triste quando
ses. Uma “onda” de envenenamentos está meu cão foi morto, eu o considerava
Dizem que o cão é o melhor amigo assolando a Vila Brás. Só na Rua 13, onde como parte da família”, lamenta.
do homem, que os animais são leais e elas moram, em três meses, 12 cães foram Para Jonas, proprietário da agropecu-
carinhosos com seus donos, então por mortos por veneno. “Não entendo por- ária Cônsul, localizada na Avenida Leopol-
que existem pessoas capazes de maltra- que as pessoas fazem essa maldade, isso do Wasum na Vila Brás, muitas pessoas
tar esses seres que não podem se defen- é um absurdo”, protesta Denise. “Quando envenenam cães e gatos puramente por
der? É com essa pergunta que Denise os animais são novos, todo mundo quer, maldade. “Vários clientes já vieram aqui
dos Santos da Silva, 27 anos, moradora porque acham “bonitinhos”, mas depois para comprar veneno, como estricnina,
dá Vila Brás desde que nasceu, apresen- que eles crescem, seus donos dão um jeito que é conhecido pela sua alta toxicidade,
ta a sua grande paixão: a vira-lata Laika. de se livrarem deles”, relata. mas eu não vendo esse tipo de produto,
A cadelinha foi atropelada por uma moto Outra moradora da Rua 13, a dona pois acho um absurdo envenenar animais
e Denise se sensibilizou com o acidente de casa Arminda de Lurdes Forcos, que de estimação. Vendo apenas venenos de
e resolveu adotá-la. “Hoje ela está bem mora na vila há 15 anos, também de- baixo poder tóxico para matar ratos”,
e saudável, mas há 10 meses quando a nuncia a violência que está ocorrendo explica Jonas. “Tenho a agropecuária há
encontrei atirada no meio da rua, ela es- no local. “Meu cão também foi envene- cinco anos e neste período, quase toda a
tava muito debilitada”, conta Denise que nado. Quando o encontrei, estava sain- semana vem gente aqui querendo com-
tem outras duas paixões, o cão “Negão”, do uma espuma branca pela sua boca, prar venenos fortes”.
um dócil Pit Bull, e a sua gata Cacau, que mas eu consegui salvá-lo fazendo-o vo- O veterinário Breno Felipe Sanchote-
está sempre por perto da família para mitar o veneno”, conta, aliviada por sal- ne Pinto esclarece que é proibida a co-
receber carinho. var seu amigo Spike, que mora com ela mercialização de produtos de alto poder
Denise tem duas filhas, Yasmin e Isa- há oito anos. Dona Arminda não teve a tóxico, como por exemplo, a estricnina.
dora, e às ensinou a desde pequenas res- mesma sorte em outra situação, pois se- “Muitas pessoas não sabem, mas a ven-
peitarem os animais. Hoje elas comparti- gundo ela, seu outro cão, um dálmata, da desses produtos é proibida no Brasil. A
lham do mesmo sentimento de proteção e foi morto por envenenamento. “É uma comercialização da estricnina é conside-
carinho. A preocupação entre mãe e filhas pena que as pessoas não tenham cons- rada crime inafiançável”, explica Breno. Spike salvo por sua dona