O documento descreve um estudo sobre os efeitos de um grupo de atendimento psicossociopedagógico para mulheres em situação de violência doméstica oferecido pelo Núcleo de Atendimento Especializado à Mulher (NAEM). O estudo acompanhou uma mulher de 30 anos chamada Márcia que demonstrou sintomas de dependência afetiva e depressão. Após participar do grupo, Márcia mostrou maior conscientização sobre suas dificuldades, mas pouca mudança emocional. Ela foi encaminhada para acompanhamento
Similar a O efeito de um Grupo Temático sobre o repertório comportamental de uma mulher em situação de dependência afetiva e de violência intrafamiliar
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O efeito de um Grupo Temático sobre o repertório comportamental de uma mulher em situação de dependência afetiva e de violência intrafamiliar
1. Ana Paula Sousa
Dra. Silvia Canaan
Ms. Mislene Lima
Universidade Federal do Pará
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Faculdade de Psicologia
2. Violência intrafamiliar consiste na ação ou omissão que derive
em dano físico, sexual, emocional, moral e/ou patrimonial a
uma pessoa com quem se tenha um vínculo familiar e intimo
(Caravantes, 2000 retirado de Silva, Coelho & Capone, 2007).
Lei nº 11.340/06 (Lei Maria da Penha)
Núcleo de Atendimento Especializado à Mulher em situação de
violência doméstica e família (NAEM), criado no Pará em 2008.
Grupo de Atendimento psicossociopedagógico à mulheres em
situação de violência doméstica e familiar realizado pelo NAEM
em conjunto com a UFPA
É comum encontrar comportamentos de dependência afetiva
em mulheres em situação de violência doméstica e familiar.
3. Descrever o efeito de um Grupo Temático de Atendimento
Psicossociopedagógico às Mulheres em Situação de Violência
Doméstica e Familiar sobre o comportamento de uma mulher
de 30 anos que participou do referido grupo, juntamente com
mais 11 mulheres atendidas pelo NAEM.
Verificar uma possível correlação entre dependência afetiva e
violência doméstica e familiar.
4. Participante: (Breve descrição do caso)
Márcia (nome fictício), 30 anos, dois filhos: menina de 13 anos e
menino de 05, somente este filho de João com quem foi casada
durante 10 anos. Nesse período, relata que “(...)vivia para ele, em
função dele” (Encontro 1).
Moraram 08 anos fora do Brasil e ao retornarem passaram a
morar no Pará, terra natal de João.
No último ano de relacionamento, João a agrediu fisicamente e a
deixou em cárcere privado, o que a levou a fazer um Boletim de
Ocorrência e a procurar o NAEM.
Após o ocorrido, retomaram o relacionamento; contudo, poucos
meses antes do inicio de sua participação neste estudo Márcia se
separou novamente.
5. Procedimento:
Divulgação: Ligações telefônicas (a partir de uma lista
com os nomes das assistidas pelo NAEM), cartas,
cartazes e folderes.
Pré-teste: Entrevista individual, nas dependências do
NAEM, com a aplicação de 06 instrumentos:
1. Inventário de Sintomas de Stress para adultos de Lipp;
2. Inventário de Depressão de Beck;
3. Inventário de Ansiedade de Beck;
4. Escala de Desesperança de Beck;
5. Inventário de Habilidades Sociais de Del Prette;
6. Escala de Autoestima de Rosemberg.
6. Grupo temático:
Coordenação: equipe psicossociopedagógica do NAEM
Apoio: equipe da UFPA;
Participantes: 12 mulheres com histórico de violência doméstica e
familiar.
05 sessões de, aproximadamente, 02 horas e 30 minutos, referentes
aos seguintes temas:
1. Relações de gênero e violência doméstica e familiar (VDF);
2. Consequências psicológicas da VDF e autoestima;
3. Estresse e autoconhecimento;
4. Projeto de vida e estratégias de enfrentamento;
5. Lei nº 11.340 (Roda de conversa com uma defensora pública).
Local de atendimento: sala de reuniões do NAEM.
Materiais: Papeis, canetas, Datashow, computador, cartilhas sobre a
Lei Maria da Penha, CD’s, gravador e pastas.
Pós-teste: Mesmo procedimento do pré-teste
7. Márcia compareceu a todas as sessões, mostrando-se
interessada nos assuntos, participando ativamente das
discussões.
Observou-se sintomas sugestivos a depressão, sendo necessária
encaminhá-la para um atendimento psiquiátrico.
Identificou-se sintomas sugestivos de dependência afetiva em
relatos da mesma, como:
1. “(...) ele simplesmente me afastou de todos, eu vivia pra ele e em
função dele (...)” (Encontro 1)
2. “(...) se ele tivesse na minha situação, pode ter certeza eu daria a
minha vida pra salvar ele.” (Encontro 1)
3. “(...) eu não sei exatamente como andar, porque eu sempre andei
à sombra, entendeu, então hoje eu visualizo essa dificuldade – de
se organizar” (Encontro 4)
8. Figura 1. Resultado do Pré e Pós-teste dos inventários e da escala
de Beck de Ansiedade (BAI), Depressão (BDI) e Desesperança
(BHS).
9. Tabela 1
Resultado do Pré e Pós-teste da Escala de Autoestima e dos
Inventários de Stress (ISSL).
Auto
estima ISSL
Pré-teste 27 Quase exaustão
Pós-teste 29 Quase exaustão
Tabela 2
Resultado do Pré e Pós-teste do Inventário de Habilidades Sociais
de Del-Prette.
IHS (%)
F1 F2 F3 F4 F5 TOTAL
Pré-teste 15 95 0 0 15 3%
Pós-teste 10 80 1 1 25 5%
10. Tabela 1
Resultado do Pré e Pós-teste da Escala de Autoestima e dos
Inventários de Stress (ISSL).
Auto
estima ISSL
Pré-teste 27 Quase exaustão
Pós-teste 29 Quase exaustão
Tabela 2
Resultado do Pré e Pós-teste do Inventário de Habilidades Sociais
de Del-Prette.
IHS (%)
F1 F2 F3 F4 F5 TOTAL
Pré-teste 15 95 0 0 15 3%
Pós-teste 10 80 1 1 25 5%
11. O grupo temático proporcionou maior conscientização da
participante acerca de suas dificuldades.
Aumento no seu repertório social.
Estima-se que o número de sessões foi insuficiente para
mudanças significativas no repertório emocional (grau de
depressão, ansiedade, desesperança, estresse e auto-
estima).
Encaminhou-se a cliente para um acompanhamento
psicológico e para o grupo terapêutico na UFPA.
12. Cabral, F., & Díaz, M. (1999). Relações de gênero. Cadernos afetividade e sexualidade
na educação: um novo olhar. Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte;
Fundação Odebrecht. Belo Horizonte: Gráfica Editora Rona Ltda. p. 142-150.
Canaan-Stein, S. (2004). A dependência afetiva (“Amar Demais”) sob a ótica da Terapia
Analítico-Comportamental. Coordenação deste Grupo de Trabalho no XIII Encontro
Brasileiro de Psicoterapia e Medicina Comportamental e do II Congresso Internacional
da Association for Behavior Analysis. Campinas, SP.
Canaan-Stein, S. (2007). Contribuições da Terapia Analítico-Comportamental na
avaliação e tratamento de mulheres consideradas dependentes afetivas. Palestra
proferida no XVI Encontro Brasileiro de Psicoterapia e Medicina Comportamental
(ABPMC). Brasília, DF
Santos, C. M., & Izumino, W. P. (2005). Violência contra as mulheres e violência de
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America Latina y El Caribe, v. 16(1), p. 147-164.
Silva, L.L., Coelho, E.B.S., & Caponi, S.N.C. (2007). Violência silenciosa: violência
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Educ., v.11(21), p.93-103.
Sophia, E. C., Tavares, H., & Zilberman, M. L. (2007). Amor patológico: um novo
tratamento psiquiátrico? Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 29, p. 55-62.
Sophia, E.C. (2008). Amor patológico: aspectos clínicos e de personalidade. Dissertação
de Mestrado, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, São Paulo.